Transcript
Mulheres Apinayé: Gênero, Memória e Identidade.
Rosimar Locatelli*[1]
[email protected]
Pedagogia - UFT
Introdução
O direito, o reconhecimento e valorização social independente de
opção sexual, de gênero, etnia, cor ou divisão de classe, isso é o que
todos e todas queremos, mas infelizmente o modelo econômico e social do
mundo desfavorece algumas classes, e a luta por esse reconhecimento esta
intrinsicamente ligado principalmente às questões de gênero, tal fato
acontece, tanto no seio de uma sociedade vigente, como no cotidiano de uma
aldeia, que ao longo do tempo foi estabelecida a diferença entre os papeis
de homens e mulheres nas relações sociais. No entanto, sabemos que a luta
para a formação de uma consciência de gênero é desafiada sempre nessas
relações desiguais entre homens e mulheres, que a cada dia vem sendo
desestruturada pelas lutas de mulheres militantes indígenas e não
indígenas.
Este trabalho pretende fazer um estudo sobre a visão critica das
mulheres Apinayé, investigar-se-á se essa realidade de luta e de
consciência é vivenciada por elas na realidade dentro da aldeia São José em
Tocantinópolis. A priori, pretende-se compreender o papel da mulher Apinayé
nesta sociedade. Diante desta perspectiva observar-se-á, seu desempenho
diante das questões de gênero. Será que elas reproduzem as lutas feministas
a favor de liberdade e autonomia, na visão critica dos direitos das
mulheres indígenas brasileiras?
É necessário destacar que esse estudo traz informações sobre a
percepção das atividades do cotidiano das mulheres Apinayé, do casamento,
da menstruação, da divisão do trabalho, da participação política, e a
percepção que as mulheres têm das ideias de autonomias feministas, etc.
Essas informações foram colidas através de observações e entrevistas
semiestruturadas, realizadas durante 20 dias de visitas na aldeia, por meio
de uma pesquisa de campo.
A proposta inicial deste texto é discutir sobre esta questão de
gênero e cultura a partir de algumas ideias a propósito do assunto,
legitimando por alguns autores como, Héritier (1996), que tem estudado o
relacionamento familiar e de casal, reflete sobre as representações de
gênero, de pessoa, de procriação e de partes do corpo na biologia e na
psicologia, identificadas e reconhecidas em todos os tempos e lugares.
Afirma que estas unidades são ajustadas e recompostas segundo diversas
fórmulas lógicas possíveis, mas possíveis também porque pensadas segundo as
culturas.
Aqui, levar-se-á em consideração o aspecto cultural dominante na
sociedade indígena, sem esquecer seus costumes e tradições, e do
significado de liberdade e autonomia feminina a partir de uma ótica
indígena, para isso, contatar-se-á com os discursos e manifestos atuais das
mulheres indígenas, numa concepção contemporânea do tema.
Mulher indígena memoria e identidade: a luta por um espaço de direito
Mulheres Apinayé preparando o Paparuti[2] na aldeia São José
Foto: Rosimar Locatelli
Para as mulheres indígenas brasileiras, essa luta emana
consequentemente da cultura, não se pode descartar essa concepção cultural
que para o povo indígena é o que move suas ações.
No entanto é chegada a hora dessas mulheres serem reconhecidas e
respeitadas como tal, a notar dentro das leis onde encontramos o verdadeiro
reconhecimento aos direitos dessas mulheres?
A Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340, de 7 de agosto de 2006)
dispõe, no seu art. 2º:
Toda mulher, independente de classe, raça, etnia,
orientação sexual, renda, cultura, nível educacional,
idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e
facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e
social.
É claro que a lei Maria da Penha que coíbe a violência doméstica e
familiar contra a mulher também acolhe as vítimas indígenas. Obviamente não
poderia ser diferente. O que se percebe é que a lei não leva em
consideração as especificidades étnicas e culturais dos povos indígenas. O
contato com o machismo da sociedade não indígena tem influenciado as ações
dos homens indígenas, isso recai na fragilidade da mulher indígena, que não
tem sua integridade garantida dentro das aldeias. Na maioria ao menos
conhecem seus direitos.
Percebemos mediante esse estudo que a mulher indígena tem sido
vista como uma mulher comum que inserida numa sociedade tem seus direitos
assegurados, e vista de forma global, onde seus direitos estão mascarados
no papel da mulher branca ou mulher negra e nunca mulher indígena, lhes é
negada a possibilidade de as autoridades municipais e estaduais não poderem
agir dentro das aldeias em caso de alguma agressão, ate mesmo lhe e negado
o fato de não conhecerem da lei, não sabem que agressões verbais e os
abusos domésticos são crimes, e por tanto não se encorajam pela denuncia.
Ainda é mínima ao quase invisível a atenção dada a essas mulheres que
vivem invisíveis as leis aos diretos de existência de forma digna, essa
"invisibilidade" é ainda maior. O dossiê sobre "Mulheres Indígenas",
publicado pela Revista Estudos Feministas[3], aponta para a necessidade da
ampliação de estudos com enfoque de gênero para essa população específica,
e a pouca atenção às especificidades das mulheres indígenas, de outro.
Apesar de tão pouca visibilidade, ao longo dos anos as mulheres
indígenas vem se organizando e pouco a pouco construindo seu espaço e
fortalecendo suas lutas, construindo suas organizações de direito em busca
de uma autonomia.
Segundo SACCH (2003);
As duas primeiras organizações brasileiras exclusivas de
mulheres indígenas surgiram na década de 1980, sendo
consideradas as pioneiras a Associação de Mulheres
Indígenas do Alto Rio Negro (Amarn) e a Associação de
Mulheres Indígenas do Distrito de Taracuá, rios Uaupés e
Tiquié (Amitrut). Em 2000, em Assembleia da Coordenação
das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)
foi reivindicada a criação de um espaço para as demandas
das mulheres indígenas. Em 2002, no decorrer do I Encontro
de Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira, foi criado o
Departamento de Mulheres Indígenas (DMI/Coiab), com o
objetivo de defender os seus direitos e interesses nos
vários âmbitos de representação, nacional e internacional.
Em 2006, pela primeira vez na história das políticas
públicas pós-Constituição Federal de 1988, se incluiu num
Plano Plurianual (PPA) uma ação específica para as
mulheres indígenas: o Programa Identidade Étnica e
Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas, sob a
responsabilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Finalmente, em janeiro de 2007, foi criado, no âmbito da
Funai, um departamento específico de mulheres indígenas.
Como podemos perceber, as mulheres indígenas estão lutando por sua
identidade, buscando seu espaço, na guerra contra a discriminação e falta
de respeito, não se pode mais conceber uma sociedade que não entenda o
verdadeiro papel que cada mulher ocupa dentro de sociedades distintas como
podemos perceber nas palavras da Militante indígena Pataxó Hã-hã-hãe[4] (em
depoimento 2007):
Com o passar do tempo a vida de nós mulheres indígenas vem
mudando muito, pois antigamente nós tínhamos nossos
afazeres limitados a cuidar dos filhos e da manutenção das
roças e das casas. Atualmente nós mulheres entramos na
política e temos voz ativa nas decisões da aldeia. Voz que
antes era restrita aos homens. Hoje temos mulheres
ocupando cargo de cacique que antes era cargo limitado aos
homens, por terem que viajar muito e tomar decisões mais
serias para a vida do nosso povo. Na minha aldeia Pataxó
Hã Hã Hãe, nós mulheres temos um espaço muito grande na
política indígena, já tivemos mulher candidata a vereadora
e temos mulheres ocupando cargo de lideres até de cacica.
Vemos isso como um grande avanço para nossa sociedade.
Isso também é prova que os homens indígenas não são tão
machistas quanto se pensa, pois para nós mulheres
conseguirmos esse tipo de cargo precisamos do apoio dos
homens também e eles reconhecem que temos capacidade de
assumir os cargos que conquistamos.
Queremos continuar crescendo nosso espaço político na
aldeia e fora dela, pois somos capazes e isso é importante
para acabar com o preconceito de que mulher indígena só
serve pra cuidar dos filhos e da casa. Todo dia é dia da
mulher indígena, pois trabalhamos muito duro pelo nosso
povo, porém é importante termos uma data para comemorar
nosso dia e é por isso que temos o dia 30 de outubro como
o nosso dia.
Assim constitui-se a realidade de algumas mulheres indígenas, aqui
retrata uma mulher pataxó que reconhece a necessidade de luta cada vez
maior pela emancipação feminina de sua aldeia.
O próximo item, tratar-se-á da experiência entre os Apinayé, que nos
coloca afrente de uma situação hegemônica sobre as questões de gêneros.
Para entendermos como é dada essa visão ora identitária, vamos conhecer a
vida das mulheres Apinayé da aldeia São José[5]. O que propomos, é também
o estudo sobre a visão critica das mulheres Apinayé, vamos investigar se
essa realidade também faz parte da vida e do cotidiano dessas mulheres
dentro da aldeia São José em Tocantinópolis.
As Mulheres Apinayé.
Neste texto pretende-se decorrer à análise do material etnográfico,
oriundo da observação sistemática e das entrevistas realizadas, as
observações definidas, tais como: a percepção das atividades do cotidiano,
do casamento, da menstruação, da divisão do trabalho, da participação
política, e a percepção que as mulheres têm das ideias de autonomia, etc.
Essas entrevistas, em sua maioria, foram realizadas durante 20 dias de
permanência na aldeia.
Para conhecer a vida dessas mulheres e necessário uma investigação
doravante empírica, para entender a vida cotidiana atual. Minha pesquisa se
restringe a observação e entrevista com cinco mulheres Apinayé entre essas
jovens e idosas que a priori as designarei com nomes fiquiticios,
preservando assim sua identidade.
Embora as mulheres estejam muito presentes no cotidiano da aldeia, há
lugares onde a sua presença é mais marcante no decorrer do dia. Geralmente
elas vão para o rio, para lavar os pratos do almoço, tomar banho e dar
banho nas crianças. Quando há roupas para lavar, elas levam de manhã. Essa
atividade geralmente não e feita sozinha, e feita em companhia de parentes
próximas, mães e filhas, sogras e noras, juntamente com as crianças que
estão sempre por perto, brincando e tomando banho. É realizada quase que
diariamente.
As atividades entre as mulheres começam a partir dos 12 anos de idade
já se trabalha em roça, já cuida da casa, já lava roupa, cuida dos irmãos
mais novos, e participa de todas as responsabilidades domesticas junto com
as mães.
Ao perguntar sobre o que é ser uma mulher Apinayé na sociedade atual,
obteve-se a seguinte resposta de joana, nossa anfitriã, que cedeu sua casa
e traduziu a maioria das respostas e perguntas feitas para as outras
mulheres:
Ser uma mulher Apinayé não é muito fácil, tendo em vista
que para nós tudo surgem muito cedo, casamos cedo, a
responsabilidade com a casa e a cobrança da comunidade que
nós devemos ser boas esposas, que cuidamos bem da casa e
dos filhos. A vida de nos mulheres Apinayé é voltado para
a família. A maioria das mulheres tem muitos filhos, e seu
tempo é preenchido com as coisas de casa. Apesar disso, me
dediquei aos estudos, com muitas dificuldades me formei e
hoje sou professora na escola, primeiro que só tive dois
filhos e também tive apoio do meu marido que também é
professor. ( Joana[6] -2011)
Como podemos perceber nas palavras da Indígena Apinayé, doravante com
vulgo de Joana, as famílias se constituem muito cedo, com isso a
responsabilidade das mulheres também, por tanto a dificuldade de se inserir
no mercado de trabalho, nas discussões externas e no estudo torna-se ainda
mais difícil.
Por tanto essa constituição familiar precoce, ou seja, na
adolescência a mulher Apinayé já tem vida adulta, já começam a participar
das atividades produtivas e reprodutivas, casam-se com idade entre 12 e 16
anos, e já estão produzindo outras crianças.
Apesar da necessidade e consciência de uma aculturação feminista, as
mulheres Apinayé, ainda estão longe dessa realidade. À Exemplo de Joana
não temos outras que conseguirá seguir a vida acadêmica e ter voz ativa
dentro da aldeia São José.
Par entendermos essa realidade vamos conhecer a estrutura familiar
Apinayé como consiste diante das pesquisas de Curt:
"Uma parentela de algum modo organizada, não existe. Ela
se esboça na comunidade de casa que se compõe de diversas
famílias, aparentadas entre sí pela linha feminina. Em
média contam-se dez pessoas para uma casa... não existe
nenhuma casa habitada por uma só família, sendo de seis o
número maior de famílias reunidas sob o mesmo teto".
(Nimuendajú, 1983 : 58).
Na leitura de Curt as parentelas são desorganizadas, de foto sim,
porém mesmo com o tempo, ainda se mantem a linha feminina familiar, onde a
mãe, ou mulher é o eixo da casa e quem distingue-se a parentela familiar,
se sabe a existência de parentes por se tratar da sequência hierárquica
matriarcal.
Em depoimento, Senhora Apinayé[7], diz que: "Apesar dos seus quase
oitenta anos ainda cuida da casa, ajuda os filhos e netos" - e é quem
domina a hierarquia da casa.
O casamento: a tradição e o lugar da mulher
A mistura com a sociedade não índia mudou muita coisa junto aos
Apinayé, muitos rituais e crenças foram esquecidos e substituídos pela
cultura urbana, como ouvimos através do depoimento de um idoso Apinayé[8],
"muitos rituais não existem mais entre o meu povo devido a aproximação do
kupen[9], com o peny[10]. O índio tá cada vez mais se misturando com a
cultura do homem branco, perdendo sua identidade e sua cultura, vivendo a
vida e os costumes dos brancos".
Essa é uma realidade entre os Apinayé, a cultura esta se
transformando a cada dia, no casamento, antigamente, não era permitido o
matrimônio entre primos, hoje, essa tradição já não é respeitada e os
primos casam-se entre si. Mesmo, mantendo as tradições que começa pela
escolha onde - O rapaz escolhe sua noiva livremente, não necessitando mais
que seu pai a escolha, ou que estes tenham dormido juntos desde pequenos,
ou ainda, que se tenha concluído a sua iniciação de guerreiro. Os padrinhos
e madrinhas, marcam a data do casamento e fazem a preparação do mesmo. Cabe
ao cacique, fazer o aconselhamento ao casal, falando de suas
responsabilidades e obrigações .(segundo coletas de dados)
Enquanto o casal não residir em sua própria casa, o casal vai morar
na casa da mulher, onde o pai é a autoridade máxima da família, até que
esta tenha o seu primeiro filho, tornando-se a partir daí, o marido
totalmente responsável pela esposa. Ao mudarem para sua própria casa, esta
pertence ao homem, sendo que no caso de separação a mulher permanece na
casa e o homem retorna à casa dos pais, casando-se novamente vai morar na
casa do sogro.
Na medida em que, vamos conversando e colendo informações junto ao
grupo, encontramos algo curioso sobre o casamento dos Apinayé é que o
homem preguiçoso dificilmente casa, pois a família da mulher e mesmo esta,
não aceita casar-se com tal sujeito. Dada à esta situação a mulher tem
aqui, pode-se perceber certa autonomia na escolha de seus maridos.
Divórcio e Adultério: Quem trai o Homem ou a Mulher?
A separação entre os Apinayé, apesar de não ser comum, pode acontecer
em caso de incompatibilidade familiar[11], adultério, sendo que antigamente
esta só acontecia se houvesse adultério por parte da mulher ou maus tratos
por parte do homem.
O adultério tem maior ocorrência entre os homens, raramente entre as
mulheres. Geralmente o adultério do homem é aceito, mas a família se reúne
com ele, fazendo críticas sobre sua atitude e aconselhamento, pois este não
é um ato bem vindo, a poligamia ou bigamia não é aceita em hipótese alguma
entre os índios, a única punição pra tal ato, além dos conselhos dos mais
velhos é que ele pode ficar sem a mulher, se ela não aceitar a traição pode
largar o marido, no entanto, como existe uma serie de dependência de
sobrevivência elas acabam se sujeitando a aceitar o marido, mesmo sendo
traídas.
A virgindade: condição ou tradição
Percebe-se, que a mulher Apinayé sofre muitas restrições, pois,
entre os índios Apinayé, não é permitido o defloramento pré-marital[12]. A
jovem deve permanecer virgem até o casamento. Caso tal incidente aconteça,
o rapaz será obrigado a casar-se imediatamente, e, caso se recuse, terá que
pagar uma indenização para a família da moça. Antigamente, esse pagamento
era feito através de objetos pessoais do próprio rapaz, hoje, a exigência e
muito maior, a família exige o pagamento em cabeças de gado (isso se a moça
for virgem, se não, será aceito pagamento simples). Caso o rapaz se recuse
a fazer tal pagamento, este ficará sujo na aldeia e poderá ser rejeitado
pelas outras moças.
No período da menstruação diz-se que deve ter resguardo, porque neste
período a mulher está fraca, perdendo muito sangue e nenhum homem deve
copular ou se aproximar destas, pois ficará com o corpo quente.
Neste período a mulher Apinayé não deve comer caças como paca, pois
provocaria a queda dos cabelos, e, principalmente o jabutí ou peixe, pois
pode perder muito sangue. A este pensamento está associado o fato de que há
uma relação muito grande entre o sangue e a água, e estes são animais que
vivem na água. Essas são algumas situações tradicionais que na maioria das
vezes ainda são respeitadas, mesmo com a incorporação da medicina avançada,
as índias na maioria tem isso ate mesmo como superstição.
A mulher Apinayé, segundo as tradições deverá se casar antes da
primeira menstruação, porque após esta, ela já não é mais considerada
virgem, que acontece por volta de 12 anos, hoje no entendo existem muitas
exceções com relação a isso, as mocinhas, algumas já com grau de estudos
elevados não querem se submeter ao casamento e ficam solteiras.
A virgindade entre os índios Apinayé ainda é muito bem preservada.
Caso a moça não siga as regras de preservação, torna-se rapariga pública
até conseguir um marido e isso só acontecerá se tal moça comportar-se muito
bem, caso contrário será uma "rapariga pública" para o resto de sua vida.
Tal situação só afeta as mulher os homens não são submetidos a esses
títulos.
Nimuendajú (1983), "Existem nas aldeias as chamadas
"raparigas públicas" que são uma espécie de prostitutas
muito procuradas nas festas pelos solteiros. São
geralmente as mães solteiras, viúvas ou separadas.
Antigamente havia todo um ritual de iniciação da rapariga
pública que escolhe tal condição por vontade própria ou
por insinuação dos pais. Esta é preparada na casa da
família e deve ter o cabelo cortado rente à nuca, enquanto
isso as outras raparigas públicas reúnem-se em outra casa
onde preparam-se da mesma forma. À noite juntam-se aos
guerreiros (pemb) que vão à casa da moça e levam-na para a
praça. No dia seguinte, os tios procuram-na na praça onde
ela indica os guerreiros com que tivera contato sexual.
Então o cabo kolti dos pemb percorre as casas de tais
guerreiros denunciados recolhendo ofertas que são
embrulhadas numa esteira e levadas para a casa dos pais da
moça.
Esse tipo de ritual não e mais praticado, mas a discriminação por
essas mulheres ainda e visível, porém já não e tão aflorada, a família já
tenta proteger e cuidar da mulher que perde o marido, no entanto essa tem
que ter um bom comportamento para ser respeitada. E com isso poderá se
casar novamente, como há muitos casos de mulheres que separaram e casaram-
se por se manter com uma índole de mulher direita.
O Parto e o resguardo da Mulher Apinayé e o papel do homem.
De acordo com a tradição, o parto é feito de cócoras ou ainda sentada
sobre as pernas de uma banqueta, e, será auxiliado por uma mulher idosa da
família, geralmente a avó ou hoje, a enfermeira branca. Terminado o parto,
a criança é lavada em uma infusão de folhas[13] colocada na esteira que
será dobrada e pendurada pela parteira em uma forquilha de aroeira na
frente da choça. Em seguida, a parteira limpa a parturiente, envolve-a em
lençóis e leva-a acompanhada do esposo para um pequeno quarto previamente
preparado na casa, que tanto pode ser na sua como de sua mãe, isso acontece
quando o parto é feito na aldeia e não no hospital, pois atualmente quase
todas as índias recorrem ao hospital de Tocantinópolis para parirem seus
filhos. Ao voltarem para a aldeia às crianças recebem o banho de folhas que
é preparado pela avó ou a mais velha das mulheres da família.
O resguardo também e cumprido pelo marido seguindo as tradições, no
primeiro dia após o parto, o esposo não deve sair do quarto e também devem
evitar conversar com a mulher.
1 Divisão do Trabalho entre Mulheres e Homens Apinayé.
A divisão do trabalho na comunidade Apinayé da Aldeia São José, não
se pode dizer que privilegia homens ou mulheres, observa-se que os dois
trabalham em proporções mais ou menos iguais.
Essa divisão social do trabalho, esta submetida a duas esferas
publicas e domesticas dentro da comunidade, os homens ficam com a parte
publica, que destina-se ao provento de natureza externa, na obrigação das
roças, onde quase toda família tem a sua na qual a derrubada e queimada é
uma tarefa exclusiva do homem, porém o encoivaramento, plantio e colheita
tem a participação de ambos e também das crianças que ajudam os pais. É
porém, necessário lembrar que a mulher só participa do plantio do feijão,
fava e batata pois o plantio do arroz exige um esforço físico do qual a
mulher não tem condições de empreender.
A mulher por outro lado participa da esfera domestica que tem a
função de cuidar dos afazeres domésticos e dos cuidados com os filhos, na
fabricação de alguns artesanatos, pois outros são produzidos pela mão de
obra masculina. A mulher ainda faz farinha de mandioca que serve de
alimento para a família.
Considerações finais
Como na sociedade majoritária a vida das mulheres indígenas Apinayé
não é nada fácil e ela também sofre muita discriminação e preconceito, esse
tipo de situação vem sendo questionada, a priori passando por alguns abalos
a partir das críticas advindas do movimento feminista indígenas, que vem
trazendo novos questionamentos, originando novas questões, e introduzindo
novos conceitos, dando ênfase no significado do gênero em termos de valores
e estímulos, de forma ainda bem peculiar discutindo esses e papeis e a
relação de poder, do ponto de vista da hegemonia masculina.
Esse conhecimento advindo das praticas feministas de grupos
organizados de mulheres indígenas, vem originando assim alternativas de um
modo de vida diferenciado a essas mulheres no Brasil.
Que segundo (BURR 1995 apud NOGUEIRA, 2001), estas alternativas
voltam-se ao reconhecimento da identidade como fragmentada, plural, em
conflito e o reconhecimento de que os modelos de conhecimento e verdade
dependem de relações sociais estabelecidas num determinado contexto
histórico e dependendo dos interesses individuais.
Infelizmente essa consciência ainda não chegou entre as mulheres
Apinayé que ainda sofrem muitas agressões, o desrespeito por sua
identidade, seu espaço de autonomia, ainda muito restrito aos mecanismos
domésticos que muitas vezes e esquecido pela violência sofrida pelos
maridos.
Hoje as mulheres indígenas Apinayé vêm enfrentando os atropelos do
contato com a sociedade não indígena que esta diretamente ligada ao
resultado que a bebida vem causando, é quase um genocídio contemporâneo
para os povos indígenas, e a mulher é a maior vitima que na maioria das
vezes os homens bêbados acabam maltratando e lesionando as suas
companheiras, que até o momento não é tomada nenhuma atitude de fato com
relação a esse fenômeno a cada dia mais crescente dentro da aldeia.
A situação é bem gritante e se faz urgente um trabalho de
conscientização sobre o direito dessas mulheres, que ainda é muito
invisível, é preciso que seja questionado as ações de proteção às mulheres,
aonde a lei não chega ate as mulheres indígenas, pois estão protegidas das
obrigações e das convenções majoritárias, mas não dos atropelos causadas
por ela.
As mulheres Apinayé precisam ser amparadas de fato na lei, precisam
conhecer seus direitos, entender o conceito de gênero, englobando as
relações entre poder, conhecimento e práticas sociais. Que não seja somente
um mínimo de mulheres indígenas vistas com esse conhecimento, que lute por
seus direitos, que tenha autonomia e dignidade.
Essas mudanças representam relevantes contribuições, apoiando-se em
fortes evidências, de que a mulher indígena pode assegurar este espaço de
autonomia e dignidade que se prolifera além das concepções culturais, que
estão submetidas mediante a tradicional ideia de homens dominantes e
mulheres subordinadas, uma vez que as posições se alternam conforme as
circunstâncias sociais. COMO SE CONFIGURA AS RELAOES DE PDER,,,SER
CACIQUE,,,,SER PAJE,,,,,,,??????.
Com relação às mulheres indígenas Apinayé essas circunstancias
sociais estão extremamente remetidas as questões culturais que predomina a
emancipação masculina, remetendo a mulher a uma submissão hierárquica em
sua posição social, entre os Apinayé apesar da mulher ter voz ativa dentro
de casa, ela ainda não ocupa funções de poder, ela ainda esta a margem do
domínio do homem, mas isso não esta implícito na autoridade, mas esta
inserido nas tradições culturais que ainda são muito vivas.
Posso dizer que a mulher Apinayé segue o tradicionalismo cultural no
que diz respeito às intervenções de poder, pois não e testemunhado uma
mulher Cacique, por exemplo, não há lembrança de nenhuma mulher comandando
as associações ou fazendo parte de chefia nas comissões de lideranças entre
os Apinayé da Aldeia São José. POR ESSA INFORMAÇAO NO INICIO,,,,,,,
Isso deixa claro que as mulheres de alguma forma estão sendo omissas
com os seus direitos e se retraindo a vida familiar com as funções
domesticas, submetidas à vigilância masculina e deixando de lado a sua
cidadania e autonomia em função da herança hora cultural e predominante
dentro da Aldeia São José.
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. (Acessado em 20/10/11 16:34)
SCHADEN, E., (1974), Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani. São
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Conselho Indigenista Missionário. A Violência contra os Povos
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CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Rio de Janeiro, 1ª Edição 1902.
FRANCHETO, Bruna (org) "Dossiê Mulheres Indígenas", in Revista
Estudos Feministas, v. 7, n. 1. Rio de Janeiro/Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais/ Florianópolis/Centro de Filosofia e Ciências Humans/
IFSC, 1999.
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*[1] Aluna da Pós-graduação de Gerontologia pela UFT, graduanda do Curso
de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins-UFT. Artista plástica,
Indigenista e pesquisadora das questões indígena.
*[2] Bolo Grande de mandioca com carne, preparados em dias de festa.
[3] Esse Dossiê foi organizado pela Antropóloga Bruna Franchetto para a
Revista Estudos Feministas, vol.7, n.1. Rio de Janeiro/Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais/ Florianópolis/ Centro de Filosofia e Ciências
Humans/IFSC, 1999.
[4] Índia Pataxó - Depoimento disponível no site
http://www.webbrasilindigena.org.
[5] Aldeia indígena Apinayé, situada no município de Tocantinópolis - TO
[6] Nome fictício para a Índia Apinayé - (Depoimento colido na Aldeia São
José no dia 11/10/2011).
[7] Senhora Apinayé de 85 anos de idade, em depoimento na aldeia
18.10.2011.
[8] Idoso indígena da Aldeia São José. (depoimento 18/10/2011)
[9] (homem branco)
[10] (índio),
[11] Caso de briga, ou desavença familiar.
[12] Sexo antes do casamento.
[13] Folha de infusão, usado pelas mulheres para lavar as crianças que
nascem na aldeia.