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Tratamento E Manejo De Dejetos De Bovinos

Algumas nocões básicas do tratmento de dejetos na produção leiteira

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INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA O PRODUTOR DE LEITE ISSN NO 1518-3254 Sustentabilidade da Atividade Leiteira 52 Tratamento e manejo de dejetos de bovinos Aloísio Torres de Campos Embrapa Gado de Leite INTRODUÇÃO Os prejuízos ambientais causados pela falta de tratamento e manejo adequado dos resíduos da produção animal são incalculáveis. Em muitos países os efluentes oriundos da produção animal já são a principal fonte de poluição dos recursos hídricos, superando os índices das indústrias, consideradas até então as grandes causadoras da degradação ambiental. Esses resíduos orgânicos, quando manejados e reciclados adequadamente no solo, deixam de ser poluentes e passam a constituir valiosos insumos para a produção agrícola sustentável. Na exploração de leite, quando os animais são mantidos em regime de semi ou confinamento total, é preciso planejar os melhores métodos de tratamento e aproveitamento desses dejetos. O conteúdo de umidade do esterco determina parcialmente como ele pode ser manejado e armazenado. O esterco produzido pelos bovinos, em vários tipos de instalações, varia em conteúdo de umidade, dependendo do tipo de alimentação e do tipo e quantidade de cama utilizada para os animais. O esterco pode ser classificado de acordo com três consistências: sólido (16% ou mais de sólidos totais, ST), semi-sólido (12 a 16% de ST), e líquido (12% ou menos de ST). O manejo do esterco pode ser conduzido de várias formas de acordo com a conveniência e o tipo de sistema de produção a ser adotado, tais como: 1) convencional ou manejo de esterco na forma sólida; 2) manejo de esterco líquido; 3) manejo de esterco semi-sólido ou misto; 4) manejo em lagoas de estabilização (aeradas, aeróbias, anaeróbias e facultativas); 5) compostagem; e 6) combinações dos sistemas descritos acima. Cada um desses sistemas é dividido em cinco fases principais: coleta, armazenamento, processamento ou tratamento, transporte e utilização. MANEJO DO ESTERCO SÓLIDO (CONVENCIONAL) O esterco é raspado manual ou mecanicamente (com o auxílio de raspadores acoplados em trator), para sua coleta e transporte. Neste manejo, para facilitar a raspagem, deve-se evitar ao máximo o excesso de água. O esterco retirado diariamente pode ter o seguinte destino: a) ser distribuído em locais cobertos ou não para escoamento do excesso de umidade para depois ser distribuído nas áreas de cultura (distribuidores de esterco seco ou distribuição manual); b) ser levado para esterqueira ou para compostagem; e c) ser distribuído diretamente nas áreas de cultura. Normalmente, não se faz nenhum tipo de processamento ou tratamento prévio do esterco antes de sua utilização como biofertilizante. Mesmo adotando-se o manejo de esterco sólido, torna-se necessária a lavagem periódica dos pisos das instalações com jatos de água sob pressão (maior pressão e menor volume de água). O chorume ou água de limpeza resultante desse processo deve ser depositado em um tanque de esterco líquido ou chorumeira e, posteriormente, utilizado para fertirrigação de áreas de cultura. MANEJO DE ESTERCO LÍQUIDO Neste sistema há necessidade da construção de tanques para coleta, tratamento e homogeneização do esterco líquido proveniente da limpeza das instalações. Os dejetos e os resíduos da alimentação são diluídos em água na proporção de 1:1 ou menos, de modo que a concentração de ST seja £ 12% para que sejam utilizados sistemas de irrigação com equipamentos especiais. Entretanto, uma diluição do esterco com ST < 5% facilita a irrigação. A capacidade de armazenagem dos tanques é função do sistema de tratamento adotado, tamanho do rebanho, sistema de confinamento, diluição dos dejetos, tempo de detenção hidráulica nos reatores biológicos (digestão aeróbia ou anaeróbia), tipo de solo e culturas a serem irrigadas, manejo adotado para o sistema de irrigação (fertirrigação) e quantidade de chuva que o sistema pode suportar. As principais vantagens deste sistema são: a) baixa utilização de mão-de-obra; b) liberação de máquinas e equipamentos caros, como trator e implementos para outras atividades; c) pequenas perdas de nutrientes quando as irrigações são freqüentes; d) economia de fertilizantes e corretivos convencionais; e) conservação e melhoramento da fertilidade do solo; f) possibilidade de reciclagem do esterco líquido tratado para limpeza hidráulica dos galpões de confinamento tipo baias livres (free-stall) ou coletivas (loose housing); g) economia de água, energia e mão-de-obra, com expressivo ganho econômico e ambiental. Trabalho realizado na Embrapa Gado de Leite utilizando tratamento biológico aeróbio mostra que este sistema de tratamento pode proporcionar uma relação benefício/custo de 1,91, indicando uma eficiência de 91% e tempo de recuperação do capital investido menor que 2,5 anos. MANEJO DE ESTERCO SEMI-SÓLIDO (MISTO) Trata-se de um sistema de limpeza em que a mistura dos dejetos com água seja apenas o suficiente para facilitar a remoção do esterco. O resultado desse processo produz um efluente com 12 a 16% de sólidos, considerado muito úmido para o sistema convencional e pouco úmido para o sistema de irrigação. Entretanto, recomenda-se para este sistema uma diluição do esterco superior a 5% de sólidos. O armazenamento normalmente é feito em tanques ou fossas abaixo ou acima do nível do solo. Sempre que a topografia for favorável, deve-se usufruir dos benefícios da gravidade para condução do efluente das instalações para o tanque e deste para a fertirrigação dos solos, com redução significativa dos custos de energia, mão-de-obra, materiais e equipamentos. O volume desses tanques, fossas ou chorumeiras deve ser o suficiente para armazenar o efluente por um período de três a cinco dias, permitir maior flexibilidade ao manejo e não onerar os investimentos. A distribuição do esterco semi-sólido, normalmente, necessita de um distribuidor de esterco líquido tracionado por trator ou montado em chassis de caminhões (caminhão-tanque), equipado com sistema vácuo-compressor para as operações de homogeneização, carregamento e distribuição. A grande vantagem desses equipamentos é que o líquido manuseado não passa pelo vácuo-compressor, evitando os problemas de entupimentos, tão comuns nas bombas convencionais. Normalmente, a capacidade desses distribuidores de esterco líquido varia de 2.000 a 10.000 litros. Existem no mercado, bombas especiais com rotor aberto ou semi-aberto para esse tipo de trabalho, com boa eficiência para pequenas e médias pressões desenvolvidas. Este sistema demanda maior quantidade de mão-de-obra e equipamentos, porém apresenta baixas perdas de nutrientes. MANEJO EM LAGOAS É um dos sistemas mais adotados nos Estados Unidos, principalmente na Flórida. O esterco líquido é conduzido para uma lagoa anaeróbia que, após saturada, transborda para uma segunda lagoa projetada para retenção do esterco líquido. Daí o efluente é distribuído nas culturas por algum sistema de irrigação mais adequado às condições da propriedade. Atualmente tem-se dado ênfase para os sistemas de irrigação por pivô-central, por apresentar melhor distribuição dos nutrientes e melhor eficiência global. Após o enchimento das lagoas anaeróbias, que normalmente varia de dois a cinco anos, conforme a taxa de enchimento e o volume projetado, a lagoa é submetida a uma limpeza para retirada do lodo biológico (biossólido). Este lodo é rico em microrganismos e em nutrientes como fósforo (P), potássio (K) e nitrogênio (N) e deve ser aproveitado para adubação orgânica e/ou preparação de composto orgânico, de alto valor agrícola. As maiores desvantagens das lagoas são: a) requerimento de grandes áreas de terreno, notadamente para médias e grandes propriedades produtoras de leite; b) condição topográfica inadequada (regiões montanhosas); c) a simplicidade operacional pode trazer o descaso na manutenção (crescimento de vegetação); d) desempenho variável com as condições climáticas (temperatura e insolação); e) necessidade de afastamento adequado das instalações e residências; f) proliferação de moscas; g) necessidade de remoção contínua e periódica do lodo (2 a 5 anos); h) possibilidade de mau cheiro na lagoa anaeróbia. COMPOSTAGEM A compostagem é um processo de digestão biológica (aeróbio, anaeróbio ou misto) da matéria orgânica (MO) por microrganismos em condições favoráveis de temperatura, umidade, aeração, pH, qualidade da matéria-prima disponível (teor de MO, relação carbono/nitrogênio, potencial de oxirredução). A eficiência do processo baseia-se na perfeita interação desses fatores e o produto gerado é o húmus, adubo orgânico de alto valor agrícola e comercial. O ambiente aeróbio, com aeração adequada para fornecimento de oxigênio aos microrganismos, é o mais eficiente à compostagem, embora a decomposição da MO possa ser realizada também em ambiente anaeróbio. A compostagem pelo processo aeróbio é mais rápida e melhor conduzida, não produz mau cheiro nem proliferação de moscas. Basicamente, os principais tipos de compostagem utilizados, dependendo da quantidade e da qualidade da matéria-prima disponível, são: em leiras, pilhas aeradas, pilhas estáticas, caixas de alvenaria ou madeira e o sistema Beccari (processo biologicamente misto, em células fechadas). O preparo manual do composto, em pilhas, custa em média o valor de um dia-homem de trabalho por tonelada. Quando preparado mecanicamente, com auxílio de trator equipado com pá carregadeira, ceifadeira do tipo Taarup e carreta, o custo fica reduzido ao valor de 0,34 dia-homem por tonelada. Em média, uma tonelada de composto corresponde a 1,5 m3 de massa. Atualmente os sistemas de compostagem têm recebido muita atenção de técnicos e pecuaristas pela oportunidade de venda do composto (húmus) para produção orgânica ou para uso em jardins, viveiros e floriculturas, podendo gerar uma renda adicional à atividade pecuária. Embrapa Gado de Leite Rua Eugênio do Nascimento, 610 – Dom Bosco Fone: (32)3249-4700 – Fax: (32)3249-4751 36038-330 Juiz de Fora - MG Home page: http://www.cnpgl.embrapa.br e-mail: [email protected] Outubro/2001 – Tiragem: 5.000 exemplares