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Trabalho De Conclusão De Curso - Karina Soares Modes

Trabalho sobre o apodrecimento acelerado da madeira de Eucalyptus grandis

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL RESISTÊNCIA NATURAL DE TRÊS POSIÇÕES MEDULA-CASCA DA MADEIRA DE EUCALYPTUS GRANDIS AO FUNGO APODRECEDOR PYCNOPORUS SANGUINEUS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Karina Soares Modes Santa Maria, RS, Brasil. 2008 2 RESISTÊNCIA NATURAL DE TRÊS POSIÇÕES MEDULACASCA DA MADEIRA DE EUCALYPTUS GRANDIS AO FUNGO APODRECEDOR PYCNOPORUS SANGUINEUS por Karina Soares Modes Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheira Florestal. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marlove Fátima Brião Muniz Santa Maria, RS, Brasil 2008 3 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Curso de Engenharia Florestal A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso RESISTÊNCIA NATURAL DE TRÊS POSIÇÕES MEDULA-CASCA DA MADEIRA DE EUCALYPTUS GRANDIS AO FUNGO APODRECEDOR PYCNOPORUS SANGUINEUS elaborada por Karina Soares Modes Como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheira Florestal COMISSÃO EXAMINADORA: Marlove Fátima Brião Muniz, Prof.ª Dr.ª (Presidente/Orientador) Elio José Santini, Prof. Dr. (UFSM) Dalva Teresinha Pauleski, M.Sc. (UFSM) Santa Maria, Janeiro de 2008 4 RESUMO Trabalho de conclusão de curso Curso de Engenharia Florestal Universidade Federal de Santa Maria RESISTÊNCIA NATURAL DE TRÊS POSIÇÕES MEDULA-CASCA DA MADEIRA DE EUCALYPTUS GRANDIS AO FUNGO APODRECEDOR PYCNOPORUS SANGUINEUS AUTORA: KARINA SOARES MODES ORIENTADORA: MARLOVE FÁTIMA BRIÃO MUNIZ Data e Local da Defesa: Santa Maria, Janeiro de 2008. Este trabalho foi realizado com objetivo de avaliar os potenciais de resistência natural das três posições (cerne interno, cerne externo e alburno), que compõem a madeira de Eucalyptus grandis quando submetidas ao ataque do fungo de podridão branca Pycnoporus sanguineus. O ensaio de apodrecimento acelerado foi montado segundo a norma ASTM-2017 (1994) por meio de câmaras de apodrecimento mantidas a 25°C que consistiram em frascos de vidro de 500 ml preenchidas com 100g de solo e 30,6 ml de água. O estabelecimento inicial da colônia fúngica ocorreu em placas suporte confeccionadas com madeira de alburno de Pinus. Foram utilizadas 8 amostras de dimensões 9,0 x 25,0 x 25,0 mm para cada posição avaliada que foram secas em estufa a 63°C antes do período de exposição ao fungo e após as 16 semanas de incubação, para cálculo das percentagens de perda de massa sofrida. O grau de resistência natural foi efetuado em função das percentagens de perda de massa estabelecidas de acordo com a norma utilizada como guia para as avaliações. Os resultados obtidos de perda de massa foram analisados estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5%. A média de perda de massa sofrida pela madeira de alburno diferiu estatisticamente da ocorrida com a madeira de cerne externo e interno, com valores compreendidos entre 11 e 24% o que permitiu classificá-la como resistente ao fungo utilizado. Já a madeira de cerne interno perdeu a segunda maior porcentagem de massa seguida da madeira de cerne externo, com valores fixados entre 0-10%, portanto ambas classificadas como muito resistentes de acordo com a referida norma. De maneira geral, a espécie apresentou um bom comportamento frente ao ataque do fungo de podridão branca utilizado. Com base nos resultados, pode-se inferir que uma tora ou peça de madeira proveniente desta espécie com maior percentagem de madeira adulta (cerne externo) tende a resistir mais ao ataque do fungo estudado quando exposta à condições que propiciem a instalação e o desenvolvimento deste organismo xilófago. Palavras-chave: resistência natural; Eucalyptus grandis; ASTM. 5 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Análise de variância do efeito do fungo Pycnoporus sanguineus sobre as três posições medula-casca da madeira de Eucalyptus grandis. ................................. ..........22 TABELA 2 – Comparação pelo teste de Tukey das médias de perda de massa das três posições submetidas ao Pycnoporus sanguineus. .......................................................... 22 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Corte transversal destacando as regiões correspondentes à Madeira de lenho juvenil e adulto ............................................................................................................... 11 FIGURA 2 – À esquerda, aspecto do fungo Pycnoporus sanguineus na forma como é encontrada da natureza; à direita, aspecto de uma madeira atacada. .............................. 13 FIGURA 3 – Blocos de madeira utilizados na avaliação da perda de massa em função do ataque do fungo............................................................................................................... 14 FIGURA 4 – Placas suporte utilizadas para estabelecimento da colônia fúngica. ......... 16 FIGURA 5 – Detalhe dos frascos de vidro com o micélios do fungo iniciando o processo de recobrimento dos corpos de prova (2ª semana de incubação). ...................................... 18 FIGURA 6 – Detalhe dos frascos de vidro contendo os corpos de prova já cobertos pelo micélio do fungo (14 ª semana de incubação). ............................................................... 18 FIGURA 7 – Remoção dos micélios do fungo após término do período de .................. 18 QUADRO 1 – Classes de resistência da madeira a fungos xilófagos (ASTM19 D 2017 (1994). ........................................................................................................................................ 19 QUADRO 2 - Valores médios de massa específica, massa perdida e classificação da resistência natural das posições medula-casca submetidas ao ataque do fungo de podridão branca Pycnoporus sanguineus ....................................................................................... 20 7 SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................ 4 LISTA DE TABELAS ......................................................................................... 4 LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................ 6 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8 2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 9 2.1 Durabilidade natural da madeira ........................................................... 9 2.2 Diferenciação entre cerne e alburno ................................................... 10 2.3 Madeira juvenil e adulta ....................................................................... 10 2.4 Fungos apodrecedores da madeira .................................................... 12 2.4.1 Fungos de podridão branca ............................................................. 13 3. METODOLOGIA .......................................................................................... 14 3.1 Preparo do Material .............................................................................. 14 3.2 Inoculação e incubação do fungo Pycnoporus sanguineus ............. 17 3.3 Análise Estatística...................................................................................19 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 19 5. CONCLUSÕES ............................................................................................ 24 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 25 8 1. INTRODUÇÃO A madeira no estado em que é normalmente utilizada já não apresenta vida, constituindo-se na parte morta de um vegetal, sendo assim, está sujeita a deterioração e decomposição acelerada por agentes físicos, químicos e biológicos, que atuam em conjunto ou separadamente (REVISTA DA MADEIRA, 2007). Dentre os causadores dos maiores danos, os agentes biológicos chamados de biodeterioradores são os merecedores de maior atenção, uma vez que têm sido os causadores dos maiores prejuízos à utilização da madeira. Destaque especial deve ser dado aos fungos apodrecedores, que segundo Santini (1988), são considerados os mais prejudiciais à madeira por sintetizarem seus nutrientes a partir das paredes celulares. Este grupo engloba os organismos que possuem a capacidade de mudar as propriedades físicas e químicas das paredes das células ou das cavidades celulares, afetando desta maneira seriamente a resistência da madeira submetida ao seu ataque. A madeira de eucalipto começou a se destacar na indústria de produtos sólidos a partir da última década, como fonte de matéria-prima de usos múltiplos (REVISTA DA MADEIRA, 2007). No Brasil, nos últimos anos, esta espécie vem se mostrado como uma grande alternativa para o abastecimento da indústria madeireira em substituição às espécies tradicionalmente utilizadas. Sendo assim, o conhecimento tecnológico sobre as madeiras com potencial para utilização na indústria, como é o caso do eucalipto, contribui para introduzir esta espécie no mercado. No entanto, a falta de informações técnicas consistentes, sobretudo no que diz respeito a resistência natural da espécie, inviabiliza o emprego racional de sua madeira como também a previsão do seu comportamento nas diversas condições de uso, uma vez que as características anatômicas conferem ao cerne das madeiras deste gênero alta resistência à impregnação por produtos químicos preservativos. O presente trabalho teve como objetivo submeter a madeira de Eucalyptus grandis W. Hill. Ex Maiden ao apodrecimento acelerado em laboratório, a fim de qualificar os níveis de desempenho de três posições medula-casca quando submetidas ao ataque do fungo de podridão branca Pycnoporus sanguineus. 9 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Durabilidade natural da madeira Segundo Oliveira et al. (1986), a madeira é degradada biologicamente porque alguns organismos utilizam os polímeros naturais da sua parede celular como fonte de alimento e possuem sistemas enzimáticos específicos capazes de metabolizá-los em unidades digeríveis. A resistência da madeira à deterioração é a capacidade inerente à espécie de resistir à ação de agentes deterioradores, incluindo os agentes biológicos, físicos e químicos. No entanto, em virtude da freqüência e importância econômica, a resistência natural é normalmente entendida como referente aos agentes biológicos (WILLEITNER, 1984). Já segundo Santini (1988), a durabilidade natural se refere a resistência da madeira ao ataque de organismos externos, principalmente fungos e insetos, sem a necessidade da adição de qualquer substância química protetiva. Segundo Oliveira (1997), na escolha, determinada madeira terá preferência em relação às demais quanto maior for a sua durabilidade natural, pois se evitariam os inconvenientes advindos da utilização de produtos químicos, alguns bastante tóxicos, empregados no tratamento de madeiras de baixa durabilidade, a fim de lhe conferir um desempenho satisfatório em serviço. Segundo Encinas e Mora (2002), as diversas espécies de árvores produzem madeiras química e estruturalmente diferentes, todas são susceptíveis aos processos de biodegradação em maior ou menor grau e o crescimento dos fungos dentro da madeira gera mudanças sobre os componentes da parede celular, alterando suas propriedades de resistência. Embora alguns fatores possam afetar a resistência natural da madeira, há evidências que a durabilidade natural depende principalmente da concentração de extrativos formados durante a transformação de alburno em cerne (SANTINI, 1988). A outra hipótese, embora nem sempre comprovada por outros estudos, indica que a durabilidade natural também é uma característica atribuída à massa específica da madeira. 10 A ocorrência, composição, teor, e função dos extrativos variam substancialmente entre as espécies, de modo que existem consideráveis diferenças entre espécies como folhosas e coníferas em relação à durabilidade natural, fazendo com que algumas madeiras possam ter preferência quando do ataque por organismos xilófagos. 2.2 Diferenciação entre cerne e alburno Em quase todas as espécies o lenho apresenta-se com duas zonas bem contrastadas, sendo elas o cerne e alburno. O alburno apresenta cor mais clara que o cerne e é formado por células vivas e ativas, apresentando além da função de resistência, condução da seiva bruta, por ascensão capilar, desde as raízes até a copa. Já o cerne de cor mais escura é progressivamente formado e ampliado a partir de alterações ocorridas no alburno. Alterações estas decorrentes de processos de crescente engrossamento das paredes celulares, provocados por sucessivas impregnações de lignina, resinas, taninos e corantes. Em conseqüência o cerne tem maior massa específica, resistência mecânica e principalmente, maior durabilidade, pois sendo constituído de tecido morto, sem seiva, amido nem açúcares não atrai insetos nem outros agente de deterioração (COUTINHO, 1999). Segundo Carballeira e Milano, (1986), a resistência do cerne é conferida pelos extrativos que se distribuem homogeneamente pela árvore, sendo maior nas partes externas do cerne e próximo à base da árvore, diminuindo em direção à medula e em direção ao topo. 2.3 Madeira juvenil e adulta Existem várias referências na literatura internacional que ressaltam que as propriedades químicas, físicas, anatômicas e mecânicas da madeira formada nos primeiros anos de vida das árvores são diferentes e muitas vezes inferiores às da madeira formada na fase adulta da árvore (BALLARIN E PALMA, 2003). 11 Segundo Ramsay e Briggs (2001 apud Ballarin e Palma, 2003), a madeira juvenil é o xilema secundário, formado durante a fase jovem do câmbio vascular da árvore (estágios iniciais da vida da árvore). A madeira juvenil (MJ), de modo geral, caracteriza-se por menor densidade, maior ângulo das microfibrilas na camada S2, traqueídes mais curtos, contração transversal menor, maior contração longitudinal, maior proporção de lenho de reação, menor porcentagem de lenho tardio, paredes celulares mais finas, maior conteúdo de lignina e hemicelulose, menor conteúdo de celulose e menor resistência, em relação à madeira mais adulta (BENDTSEN, 1978 apud BALLARIN E PALMA, 2003). Já a madeira adulta (MA) é um tipo de lenho produzido pelo câmbio adulto abrangendo os anéis de crescimento periféricos aos do lenho juvenil. Fisiologicamente, é um lenho formado quando o câmbio deixa de estar tão sujeito às influências diretas da copa, permitindo, então, que as células iniciais do câmbio atinjam as suas dimensões máximas e, assim, a formação de células mais compridas e largas e com paredes mais espessas (Figura 1). Genericamente, este tipo de lenho é caracterizado por uma maior estabilidade da sua estrutura e, consequentemente, por uma maior estabilidade das suas propriedades. Figura 1 – Corte transversal destacando as regiões correspondentes à madeira de lenho juvenil e adulto. Fonte: Ballarin e Palma, 2003. : 12 2.4 Fungos apodrecedores da madeira Dentre os agentes biológicos de degradação se destaca a ação de microorganismos fúngicos, cujo início de ataque pode se dar na árvore ainda antes do abate e nas diversas fases posteriores como corte, transporte, desdobro, armazenamento e utilização final da madeira (LEPAGE, 1986). Segundo Costa (2003), estes agentes biológicos uma vez instalados na madeira, comprometem em muito sua resistência física e mecânica, e de uma maneira geral, sempre foram os principais responsáveis pelas grandes perdas nos produtos e subprodutos de madeira. Uma vez os fungos colonizando a madeira, estes desenvolvem mecanismos próprios de degradação, que vão depender não somente de sua capacidade degradante individual e o tipo de podridão que produza, como também das características anatômicas e da composição química da madeira (ENCINAS E MORA, 2002). Os diversos grupos de fungos xilófagos podem utilizar a celulose, hemicelulose e lignina, que juntos constituem cerca de 95% da madeira. (SANTINI, 1988). Existem dois tipos principais de fungos que causam a destruição das células da madeira; os fungos de podridão-branca, que atacam facilmente a lignina (substância responsável por manter unidas as células da madeira) e os fungos de podridão parda, atacando mais facilmente a celulose do que a lignina. Além disso, a podridão parda provoca uma diminuição nas características mecânicas da madeira mais rapidamente que a podridão branca, no entanto, as quedas na massa específica ao final do processo são maiores na podridão branca. 2.4.1 Fungos de podridão branca Os fungos de podridão branca e marrom constituem 98% de todos os fungos que habitam e degradam a madeira (RYVARDEN apud ENCINAS E MORA, 2002). Este tipo de podridão causada por fungos da classe dos basidiomicetos normalmente ocorre com predominância sobre os demais em madeiras expostas a 13 situações de umidade contínua, a teores de umidade considerados ideais entre 40 e 50%. A madeira atacada por fungos de podridão-branca assume uma aparência “fibrosa”, tende a adquirir uma cor ligeiramente mais clara e torna-se bem menos densa que a madeira sadia (Figura 2). Figura 2 – À esquerda, aspecto do fungo Pycnoporus sanguineus na forma como é encontrado da natureza; à esquerda, aspecto de uma madeira atacada. Fonte: Coleman, 2003. Segundo Silva et al. 2006, o fungo Pycnoporus sanguineus possui como característica a capacidade de degradar enzimaticamente a estrutura da lignina presente na parede celular vegetal, sendo tais enzimas de interesse em muitas atividades industriais e de pesquisa. 14 3. METODOLOGIA 3.1 Preparo do Material O material utilizado no presente trabalho foi obtido de um plantio homogêneo de Eucalyptus grandis com 30 anos de idade, localizado em Santa Maria – RS. A partir de uma árvore com 45 cm de diâmetro à altura do peito (DAP), foi extraída uma prancha central contendo cerne e alburno e desta, confeccionados os corpos de prova que serviram como base para as avaliações. O experimento foi conduzido no laboratório de Fitopatologia do Departamento de Defesa Fitossanitária pertencente à Universidade Federal de Santa Maria. A colônia com fragmentos do fungo de podridão branca Pycnoporus sanguineus foi cedida pelo Setor de Biodegradação e Preservação da Madeira LPF/ IBAMA. O ensaio de apodrecimento acelerado em laboratório e respectivas avaliações foram executadas segundo a norma americana ASTM 2017 (1994). Este método de avaliação fornece um significado inicial da habilidade de espécies de madeira em resistir ao ataque microbiológico severo, qualificando assim, seu o nível de desempenho. As peças contendo cerne e alburno foram então subdivididas em três blocos e designadas conforme sua posição em relação à região medula-casca (cerne interno, cerne externo e alburno), resultando em 3 tratamentos (Figura 3). Cada posição foi então avaliada, utilizando-se 8 repetições representadas por meio de corpos de prova confeccionados nas dimensões de 9,0 x 25,0 x 25,0 mm, sendo a menor dimensão no sentido axial da madeira, perfazendo um total de 24 repetições. 15 Figura 3 – Blocos de madeira utilizados na avaliação da perda de massa devido ao ataque do fungo. Da esquerda para a direita, cerne interno, cerne externo e alburno. Para a montagem do experimento foram utilizados frascos de vidro com capacidade de 500 ml preenchidos com 100 g de solo de pH 5,5, portanto moderadamente ácido, previamente peneirado em peneira de 4,75 mm de abertura. A partir da análise física do solo em laboratório encontrou-se um valor de capacidade de retenção de 29,74%. O teor de umidade inicial foi obtido do método gravimétrico ou de pesagem, pela secagem a 103°C, por meio da percentagem de peso perdido após aproximadamente 72 horas em estufa a 103 ± 2°C, utilizando-se a equação 1: TU %  Pu  Ps .100 Ps Equação 1. Onde: Tu  Teor de umidade do solo, em %; Pu  Peso do solo seco ao ar, em g; Ps  Peso do solo seco em estufa, em g. O teor de umidade encontrado após aproximadamente 72 horas em estufa a 103 ± 2°C ficou fixado em 5,07%. De posse destes dados e da quantidade de solo a ser adicionado em cada frasco de vidro o teor de umidade do solo foi ajustado para 130% de sua capacidade de retenção pela adição de 30,5 g de água destilada ao substrato de cada um dos frascos. O cálculo da quantidade de água a ser adicionada foi determinado por meio da equação 2:   D Qa  1,30.( A  B).   (100  B)  Equação 2. 16 Onde: Qa  Quantidade de água a ser adicionada, g; A  Capacidade de retenção de água do solo, %; B  Conteúdo de umidade do solo seco ao ar, %; D  Quantidade de solo seco a ser adicionado nos frascos, g. Depois de preparados, cada frasco de vidro recebeu uma placa suporte confeccionada com alburno da espécie Pinus elliottii nas dimensões 3,0 x 29,0 x 35,0 mm, sendo a maior dimensão paralela à grã (Figura 4). Esta placa serviu como substrato para o estabelecimento inicial da colônia fúngica. Figura 4 – Placas suporte utilizadas para estabelecimento da colônia fúngica nos três tratamentos. Depois de montados, os frascos de vidro foram submetidos a duas autoclavagens de 40 min à temperatura de 120°C e pressão de 1 atm, sendo posteriormente acondicionados em sala de incubação à temperatura de 25°C, até o recebimento dos fragmentos de meio de cultura contendo micélio do fungo. Durante o período de acondicionamento dos frascos de vidro que serviram como câmara de apodrecimento, foi realizada a repicagem (multiplicação) do fungo Pycnoporus sanguineus. O meio de cultura utilizado para repicagem e posterior desenvolvimento das colônias fúngicas foi o meio BDA (Batata Dextrose Agar), na proporção de 200g de batata, 17g de ágar e 20g de dextrose para 1000ml de água destilada. Depois de preparado, este meio de cultura foi submetido a uma autoclavagem de 30 min à temperatura de 120°C e pressão de 1 atm, sendo posteriormente, em capela de fluxo laminar, transferido para placas de Petri onde, com auxílio de uma pinça esterilizada, foi realizada a transferência de pequenos fragmentos do fungo original. 17 Estas placas de Petri foram mantidas também a temperatura de 25°C até completa colonização pelo fungo. 3.2 Inoculação e incubação do fungo Pycnoporus sanguineus A inoculação de cada frasco de vidro foi efetuada em câmara de fluxo laminar. Com auxílio de um tubo de ensaio, o fungo foi extraído diretamente das placas de Petri na proporção de quatro fragmentos de meio de cultura contendo micélio do fungo, e depositado sobre cada uma das placas suporte. Os frascos de vidro retornaram posteriormente para a sala de incubação, onde permaneceram por um período de, aproximadamente, 30 dias, até que o micélio do fungo cobrisse completamente a placa suporte. Antes de serem postos em contato com o fungo apodrecedor, os corpos de prova correspondentes a cada posição medula-casca foram secos em estufa a uma temperatura de 63°C até peso constante (aproximadamente 24 h) para obtenção da massa inicial, sendo posteriormente identificados, embrulhados em papel filtro e autoclavados por 1 h a 120°C. Depois de autoclavados, estes corpos de prova foram assepticamente introduzidos com auxílio de uma pinça e postos em contato com a placa suporte completamente colonizada pelo fungo, permanecendo nesta condição por um período equivalente a 16 semanas (Figuras 5 e 6). 18 Figura 5 – Detalhe dos frascos de vidro com o micélio do fungo iniciando o processo de recobrimento dos corpos de prova (2ª semana de incubação). Figura 6 – Detalhe dos frascos de vidro contendo os corpos de prova já cobertos pelo micélio do fungo (14 ª semana de incubação). Passado o período destinado ao ataque fúngico, os corpos de prova foram então retirados dos frascos para remoção dos micélios (Figura 7) e novamente postos a secar em estufa a uma temperatura de 63°C para obtenção de suas massas finais. Figura 7 – Remoção dos micélios do fungo após término do período de Incubação. 19 O grau de resistência natural de cada uma das três posições citadas foi efetuado em função da perda de massa (pm). De posse dos dados da média de massa inicial e final dos corpos de prova, a resistência natural ao apodrecimento de cada uma das posições foi determinada em termos da média de percentagem de perda de massa, por meio da equação 3: pm(%)  mi  m f mi .100 Equação 3. pm  Perda de massa, em %; mi  Massa inicial seca a 63°C (antes da exposição ao fungo), em g; mf  Massa final seca a 63°C (após a exposição ao fungo), em g. Após, a classificação das respectivas resistências naturais foi determinada mediante intervalos de média de perda de massa de acordo com a norma ASTM D 2017 (1994), conforme consta no Quadro 1. CLASSES DE RESISTÊNCIA PERDA DE MASSA (%) MASSA RESIDUAL (%) Muito Resistente 0 – 10 90 – 100 Resistente 11 – 24 76 – 89 Resistência Moderada 25 – 44 56 – 75 Não-Resistente ≥ 45 ≤ 55 Quadro 1 – Classes de resistência da madeira a fungos xilófagos (ASTM D 2017 (1994). 3.3 Análise Estatística Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%, utilizando para isso o Sistema de Análise Estatística SANEST (ZONTA e MACHADO, 1986). 20 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Quadro 2 são apresentados os resultados obtidos de massa específica básica a 12% de umidade, perda de massa e respectivas classificações para cada uma das posições avaliadas. Massa Específica a 12% Perda de Massa % Classificação da Posições (g/cm³) -g- Alburno 0,64 0,73 22,06 Cerne externo 0,67 0,17 4,87 Muito Resistente Cerne interno 0,52 0,32 8,75 Muito Resistente Resistência Natural* Resistente *Segundo a norma ASTM D 2017/ 1994 Quadro 2 - Valores médios de massa específica aparente a 12%, massa perdida e classificação da resistência natural das posições medula-casca submetidas ao ataque do fungo de podridão branca Pycnoporus sanguineus. De acordo com Rayner et al. (2006 apud Alonso, 2007), a capacidade de degradação de fungos apodrecedores tem sido correlacionada com a quantidade e tipo de enzimas produzidas, e uma forma direta de avaliar a capacidade de degradação é aferir a perda de peso de matéria seca da madeira por meio da inoculação de corpos de prova com o isolado a ser testado. Segundo Foelkel et al. (1986) o ataque de fungos do tipo podridão branca se estende aos constituintes da madeira como lignina, celulose, hemicelulose e extrativos, servindo como fonte de alimentos para os mesmos. Eles degradam as paredes e reservas celulares em substâncias mais simples, deixando a madeira esbranquiçada, friável, sem resistência e com baixa massa específica. Esta citação foi confirmada mediante análise visual dos blocos de madeira após o período de exposição ao fungo. Houve acentuada alteração de suas colorações naturais, bem como de suas massas específicas aparentes. Avaliando-se os resultados da perda de massa e comparando-os com os limites estabelecidos, pode-se inferir que a maior perda de massa verificada ocorreu com a madeira de alburno, com uma percentagem entre 11 e 24% o que permitiu 21 classificar esta madeira como resistente ao fungo utilizado, de acordo com a norma utilizada para as avaliações. A madeira de cerne interno perdeu a segunda maior porcentagem de massa seguida da madeira de cerne externo, estes valores ficaram fixados entre 0-10% o que permitiu classificá-las como muito resistentes ao fungo de acordo com a norma. Estudos já realizados indicam que, em geral, há variação na resistência natural entre o cerne interno e externo. Segundo Scheffer (1973), em praticamente todas as árvores em que esta diferença ocorre, a região central do cerne se mostra menos resistente à decomposição por organismos xilófagos que a região externa, próxima ao alburno. A diminuição da resistência da região externa do cerne em direção à medula está relacionada a gradual conversão dos extrativos tóxicos em compostos de menos toxidez à medida que a árvore envelhece (SCHEFFER, 1973; OLIVEIRA et al., 1986). Em relação à massa específica, de maneira geral, não foi observada relação entre esta variável e as resistências naturais das posições medula-casca. Quirino et al. (1982) e Alves et al. (2006), estudando a resistência natural com diferentes espécies e fungos, não observaram também relação entre a massa específica e a resistência natural das madeiras, devendo a perda de massa ser reflexo de diferenças na concentração de extrativos nas madeiras. A região mais próxima à medula consiste de uma madeira com características juvenis que geralmente possui massa específica mais baixa, e com menor resistência mecânica que a madeira formada quando o câmbio está mais maduro (FOELKEL, 1986). Esta informação foi confirmada por meio dos resultados, em que a madeira de cerne interno apresentou valores de massa específica inferiores ao do cerne externo. Lima (1995 apud Silva et al., 2004) estudando a madeira de Eucalyptus grandis com vinte e dois anos de idade também verificou que a massa específica aumentou, significativamente, da medula para o cerne periférico, ocorrendo pequeno decréscimo na região do alburno. 22 Tabela 1– Análise de variância do efeito do fungo Pycnoporus sanguineus sobre as três posições medula-casca da madeira de Eucalyptus grandis. Causas da variação G.L. SQ QM F Prob.>F Posição medula-casca 2 2,7362 1,3681 11,0263 0,00078 Resíduo 21 2,6055 0,1240 Total 23 5,3417 Média Geral = 10,54 Coeficiente de variação = 3,34 % A análise de variância apresentada na Tabela 1 mostrou que há diferença significativa a 95% de confiabilidade entre as três posições medula-casca avaliadas em relação a perda de massa sofrida pelo ataque fúngico. A média encontrada para os valores de perda de massa foi de 10,54% com coeficiente de variação de 3,34%. A perda de massa das posições submetidas ao ataque do fungo Pycnoporus sanguineus através do teste de Tukey de comparação múltipla de médias é apresentado na Tabela 2. Tabela 2 – Comparação pelo teste de Tukey das médias de perda de massa das três posições submetidas ao Pycnoporus sanguineus. POSIÇÃO N° DE REPETIÇÕES MÉDIAS* (%) Alburno 8 21,1947 a Cerne externo 8 4,3486 b Cerne interno 8 8,3808 b CV% 3,34 * Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente. Os resultados obtidos mostram que a média de perda de massa sofrida pela madeira de alburno diferiu estatisticamente da ocorrida com a madeira de cerne externo e interno. Já a perda de massa entre as duas últimas não apresentou diferença estatística a um nível de 5% de probabilidade de suas resistências naturais, embora a madeira de cerne interno tenha perdido quase o dobro de massa. 23 Oliveira et al. (2005), estudando o comportamento de sete espécies de eucalipto com 16 anos de idade, em relação ao fungo causador de podridão parda Gloeophyllum trabeum, utilizando para isso a madeira de cerne externo, também encontrou valores de perda média de massa inferior a 10%, classificando o cerne da madeira de Eucalyptus grandis como muito resistente a esta espécie de fungo. Da mesma maneira, Da Costa et al. (1975 apud Oliveira et al., 2005), estudando o comportamento da madeira de Eucalyptus grandis quando submetida a três diferentes espécies de fungos de podridão branca ( Trametes zonatus, Phellinus gilvus e Picnoporus coccineus), encontrou uma média de perda de massa também inferior a 10%, com valores de 5,6, 7,1 e 5,3%, respectivamente. 24 5. CONCLUSÕES Os resultados obtidos permitem as seguintes conclusões: Em comparação com a madeira de cerne interno e externo, a maior perda de massa produzida pelo fungo Pycnoporus sanguineus ocorreu no alburno da madeira de Eucalyptus grandis, que foi classificada como resistente. Toras de Eucalyptus grandis com maior percentagem de madeira adulta (cerne externo) tende a resistir mais ao ataque do fungo de podridão-branca quando exposta a um ambiente favorável à biodeterioração. Embora a madeira de Eucalyptus grandis tenha apresentado boa resistência ao fungo de podridão-branca, recomenda-se a condução de novos estudos com outras espécies do gênero Eucalyptus e de fungos apodrecedores, visando obter mais informações sobre a durabilidade natural desta madeira. Embora o cerne interno tenha apresentado o dobro da resistência natural do cerne externo, não foi detectada diferença estatística entre os dois tipos de lenho. 25 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, S. K; SILVA, A. G; KASUYA, M. 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