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Trab - Prescrição

DIREITO DO TRABALHO\TRAB - PRESCRIÇÃO

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Prescrição - Trabalho Urbano e Rural Após breve relato dos problemas que vêm enfrentando, com respeito à caracterização da prescrição dos direitos trabalhistas de seus empregados, as empresas Consulente "A" e Consulente "B", solicitam nossa manifestação, a propósito das seguintes indagações, ligadas a tal matéria: A) As normas peculiares à prescrição dos direitos trabalhistas dos trabalhadores rurais devem aplicar-se, indistintamente, em relação aos direitos de qualquer de nossos empregados, ou, ao contrário, devem incidir, apenas e tão somente, com referência aos direitos daqueles que se amoldam ao conceito legal de empregado rural? B) Considerada a resposta à indagação anterior, qual o tratamento prescricional a ser dado aos direitos trabalhistas de nossos empregados exercentes de funções como as de gerente de escritório, escriturário, digitador, médico, agrônomo, motorista e mecânico, entre outras também não típicas do meio rural? I - DOS FATOS 1 - Antes de quaisquer considerações, a propósito das indagações supratranscritas, cumpre que se conheça, ainda que em linhas gerais, o quadro fático pertinente, que constituirá, por assim dizer, o "meio ambiente" dessas considerações. É o que se buscará a seguir. 2 - Integrando um mesmo grupo empresarial, são as Consulentes empresas voltadas, primordialmente, à produção de açúcar e álcool, sendo certo que possuem, além das instalações industriais relativas a essa produção, plantações da respectiva matéria-prima, a cana-de-açúcar. 3 - As instalações industriais acima referidas estão localizadas nas mesmas terras onde existem essas plantações, vale dizer, estão localizadas em propriedades rurais da primeira Consulente. E é em tais propriedades que trabalham os empregados das Consulentes, em atividades ligadas à produção agrícola ou em atividades vinculadas à produção industrial de açúcar e álcool. 4 - Trata-se, assim, de empregados com as mais variadas funções, indo desde os mais modestos trabalhadores rurais até profissionais especializados, como digitadores, motoristas e mecânicos de manutenção, além daqueles com qualificação superior, como administradores, agrônomos e médicos, entre outros. 5 - São tais fatos que se deve ter sempre em mente, em conjunto com o Direito a eles aplicável, para que se possam encontrar respostas adequadas às indagações das Consulentes. II - DO DIREITO A) Da Disciplina Constitucional da Prescrição 6 - Conforme é do conhecimento de quantos atuam, sob as mais diversas formas, na área das relações de trabalho, a prescrição do direito de postular reparação judicial de eventuais violações de garantias de natureza trabalhista, que era regulada pelo disposto nos arts. 11 da CLT e 10 da Lei nº 5.889/73, passou, a partir de 05/10/88, data da promulgação da vigente Carta Magna, a ser constitucionalmente disciplinada. Estabelece, de fato, o inciso XXIX do art. 7º da Constituição que, entre os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, figura a "ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de: a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato. b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural". 7 - Tal dispositivo é bastante claro, não implicando sua aplicação, por isso mesmo, qualquer dificuldade maior, agora que já se tornou bastante raro o surgimento de problemas de direito intertemporal, comuns no início de sua vigência. Ou seja: a) o prazo prescricional é de cinco anos, prolongando-se até dois anos após o rompimento do contrato, no caso de postulação de direitos do empregados em geral, exceção feita aos rurais; e b) no tocante à reclamação dos direitos destes últimos, tal prazo é de dois anos, contados, sempre, a partir do rompimento do contrato. Devem ser ressalvados, de qualquer modo, para as hipóteses de contratos anteriores a 05/10/88, os aludidos problemas de aplicação da norma constitucional no tempo, cuja solução, no entanto, acha-se hoje sobremodo facilitada, em face da dicção do Enunciado 308 da Sumula da Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho ("A norma constitucional que ampliou a prescrição da ação trabalhista para 5 anos é de aplicação imediata, não atingindo pretensões já alcançadas pela prescrição bienal, quando da promulgação da Constituição de 1.988"). B) Do Conceito de Empregado Rural 8 - O art. 2º da Lei nº 5.889/73 dispõe, com bastante clareza, que " Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário". 9 - Pois bem: a simples leitura desse conceito de empregado rural é bastante para que se chegue, desde logo, a uma primeira e importante conclusão, a de que, além dos elementos definidores da figura do empregado celetista (personalidade física ou natural, pessoalidade, não eventualidade, subordinação e onerosidade), tal conceito ainda incorpora dois outros elementos específicos, quais sejam os da prestação de serviços para EMPREGADOR RURAL e em PROPRIEDADE RURAL ou PRÉDIO RÚSTICO. E, portanto, para que se possa falar em "empregado rural ", é necessária e imprescindível, sem qualquer sombra de dúvida, a caracterização de todos esses elementos, especialmente os dois últimos. 10 - À primeira vista, seria o caso, então, de analisá-los um a um, com o fim de instrumentalizar a busca das respostas adequadas a que alude o item "5", supra. Não faz sentido, no entanto, que se percam tempo e atenção, aqui, com os elementos comuns aos conceitos legais de "empregado" (celetista) e "empregado rural", quando o que se pretende é exatamente o contrário, ou seja, é evidenciar as diferenças entre essas duas figuras. 11 - Isso faz, pois, com que as presentes ponderações se fixem nos dois elementos específicos da definição legal de "empregado rural", a começar pelo segundo deles, o da prestação de serviços em PRÉDIO RÚSTICO ou PROPRIEDADE RURAL, cuja complexidade é menor. Qual o correto significado de cada uma dessas expressões? Qual sua abrangência? 12 - A resposta a essas questões pode começar com elucidativas visitas às lições de Pedro Paulo Teixeira Manus ("Inicialmente atente-se para o sentido leigo atribuído à expressão prédio, em oposição ao conceito jurídico. Diz-se prédio, comumente, à edificação com mais de dois pavimentos, distinguindo-se de uma casa térrea, ou de um sobrado. Tecnicamente, porém, a expressão prédio, que deriva do latim, significa qualquer porção de terra ou de solo que pode ser objeto de propriedade de alguém, onde exista, ou não, qualquer edificação. Assim, um terreno baldio, como normalmente denominamos, é, juridicamente, um prédio. O conceito, pois, de prédio rústico é propriedade, localizada no campo, ou na cidade, mas cuja destinação é a atividade agrícola de qualquer tipo. Pode ser considerado prédio rústico uma gleba de terra, situada na zona urbana, com edificação ou não, que se destine à plantação. Tal fato não é incomum, pois encontramos várias propriedades nos arredores de cidades grandes destinadas ao cultivo de hortaliças ou de flores" - " Direito do Trabalho", Ed. Atlas, São Paulo, 1993, pág.60, sem grifos no original), João Franzen de Lima ("... o prédio urbano ou rústico caracteriza-se pela destinação, pelo uso ou não de misteres de natureza rústica. Não importa a situação topográfica do prédio, porque o traço definidor entre o urbano e o rústico está no fim a que ele se destina, dentro ou fora do perímetro urbano. O prédio rústico, portanto, é aquele que se destina às atividades rurais, isto é, às atividades agrícolas ou de criação, inclusive as de flores, frutas, hortaliças ou legumes, mesmo que esteja dentro dos limites das cidades, vilas ou povoações" - "Curso de Direito Civil Brasileiro - Dos Contratos", Ed. Revista Forense, Rio de Janeiro, 1958, pág. 545, sem grifos no original) e Wahington de Barros Monteiro, para quem a "conceituação de prédio rústico e de prédio urbano decorre de sua destinação; a respectiva localização é secundária; a nota qualificativa é dada primacialmente por aquela destinação" ("Curso de Direito Civil - Direito das Obrigações", 2º vol., Ed. Saraiva, São Paulo, 2ª ed., 1.959, pág. 174, sem grifos no original). 13 - É evidente, portanto, que prevaleceu, quanto a isso, no Direito brasileiro, entendimento diverso do preconizado por Clóvis Beviláqua, na linha de noção anterior à promulgação do Código Civil, segundo a qual seriam "rústicos" os prédios localizados fora dos limites das vilas ou cidades, merecendo a designação de "urbanos" aqueles situados dentro de tais limites. Realmente: muito mais lógico e racional que essa velha noção, o entendimento prevalecente e que foi acima posto em realce leva em conta, como critério diferenciador, a destinação do prédio, ou, na expressão bem específica de Orlando Gomes, sua "destinação ECONÔMICA" ("Contratos", Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2ª ed., 1.966, pág. 268). Em regra, portanto, para se poder afirmar que determinado prédio é urbano ou rústico, pouco importa que se aponte sua localização, que se saiba se está situado em área urbana ou rural, sendo fundamental, isso sim, que se conheça sua DESTINAÇÃO ECONÔMICA. Esse o critério diferenciador essencial. E, assim, determinado prédio será classificado como rústico, mesmo situando-se dentro de perímetro urbano, se sua destinação econômica for uma atividade agrária qualquer, do mesmo modo que outro se classificará como urbano, não obstante situado no campo, se sua destinação econômica for uma atividade comercial ou industrial. 14 - Por propriedade rural, de outra parte, há de entender-se, sem maiores dificuldades, propriedade localizada fora do perímetro urbano, vale dizer, propriedade situada no campo, que tenha por destinação econômica uma ATIVIDADE AGRÁRIA qualquer. Isso quer dizer que, mesmo se estiver localizada no campo, fora do perímetro urbano, não será rural a propriedade cuja destinação econômica não se possa qualificar como agrária. Seriam os casos, por exemplo, de uma chácara de lazer ou da área de um posto de venda de combustíveis, à margem de uma rodovia. 15 - Mas o legislador, então, foi redundante, repetiu-se desnecessariamente, ao usar, no texto supratranscrito, as expressões "propriedade rural ou prédio rústico"? Não foi não, eis que, embora possa parecer, à primeira vista, que essas expressões possuem o mesmo significado ou encerram uma mesma idéia, isso não corresponde à realidade. Com efeito: se dissesse, apenas e tão somente, que empregado rural é a pessoa física que presta serviços em pro-priedade rural, estaria o legislador excluindo de seu conceito todos quantos executam tarefas de natureza agrária em propriedades situadas em áreas urbanas. Daí o uso alternativo da expressão "prédio rústico", que deve obrigatoriamente ser entendida, no contexto em que foi empregada, como significando "prédio rústico situado em área urbana", em contraposição à "propriedade rural", localizada sempre fora da área urbana. 16 - Para a caracterização da figura legal do "empregado rural" não basta, no entanto, a prestação de serviços em "propriedade rural ou prédio rústico", exigindo-se, também, que tais serviços sejam prestados a "empregador RURAL". E o conceito de "empregador rural", para tal fim, não pode ser outro, que não o constante do art. 3º da Lei nº 5.889/73: "Art. 3º - Considera-se empregador rural, para os efeitos desta Lei, a pessoa física ou jurídica, proprietária ou não, que explore atividade agro- econômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de empregados. §1º - Inclui-se na atividade econômica, referida no caput deste artigo, a exploração industrial em estabelecimento agrário não compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho" 17 - Trata-se, como resulta óbvio de simples leitura, de noção nada simples, que guarda vários pontos em comum com o conceito de "empregador" urbano (celetista), mas que deste se diferencia em outros aspectos importantíssimos, os quais lhe conferem, por assim dizer, a identidade própria. E, entre tais aspectos diferenciadores, há um dos elementos peculiares ao conceito de "empregador rural" que merece especial destaque, qual seja o da exploração de "atividade AGRO-ECONÔMICA", pois sua análise é essencial à compreensão das considerações que estão sendo aqui desenvolvidas. 18 - Pois bem: como chega a ser intuitivo, por "atividade agro-econômica" há de entender-se, sem maiores dificuldades, qualquer atividade econômica de NATUREZA AGRÁRIA, como pecuária, avicultura, agricultura, extração de produtos naturais, reflorestamento etc. Acontece, no entanto, que o legislador, conforme se verifica do texto do §1º do art. 3º da Lei nº 5.889/73, acima transcrito, também considerou como atividade agro-econômica a "EXPLORAÇÃO INDUSTRIAL EM ESBELECIMENTO AGRÁRIO não compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho", introduzindo, com isso, um complicador que demanda um pouco mais de atenção. 19 - Talvez haja sido essa, aliás, a razão que levou o Poder Executivo, quando da regulamentação de tal lei, através do Decreto nº 73.626/74, a conceituar e exemplificar "exploração industrial em estabelecimento agrário", nos seguintes termos: " Art. 2º . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . § 3º - Inclui-se na atividade econômica, referida no caput deste artigo, a exploração industrial em estabelecimento agrário. § 4º - Consideram-se como exploração industrial em estabelecimento agrário, para os fins do parágrafo anterior, as atividades que compreendem o primeiro tratamento dos produtos agrários in natura sem transformá-los em sua natureza, tais como: I - o beneficiamento, a primeira modificação e o preparo dos produtos agropecuários e hortigrangeiros e das matérias-primas de origem animal ou vegetal para posterior venda ou industrialização. II - o aproveitamento dos subprodutos oriundos das operações de preparo e modificação dos produtos in natura, referidas no item anterior. § 5º - Para os fins previstos no §3º, não será considerada indústria rural aquela que, operando a primeira transformação do produto agrário, altere sua natureza, retirando-lhe a condição de matéria-prima." 20 - Do ponto de vista oficial, portanto, só se considera exploração industrial em estabelecimento agrário o PRIMEIRO TRATAMENTO dos produtos agrários "in natura", SEM TRANSFORMÁ-LOS em sua natureza, vale dizer, SEM ELIMINAR SUA CONDIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA. Desse modo, se houver transformação e se, conseqüentemente, se tal condição deixar de existir, não mais se poderá cogitar de exploração industrial em estabelecimento agrário, mas, sim, de exploração industrial pura e simples. 21 - E é nesse mesmo sentido, por outro lado, que se orienta a doutrina, consoante pode constatar-se do magistério de Dirceu Galdino e Aparecido Domingos Errerias Lopes ("...são consideradas como exploração industrial em estabelecimento agrário as atividades que compreendem o primeiro tratamento dos produtos agrários in natura, sem transformá-los em sua natureza. Isto porque a transformação do produto é atividade tipicamente industrial... Observa-se, porém, que ocorrendo a primeira transformação do produto agrário, alterando a sua natureza e retirando-lhe a condição de matéria- prima, já se enquadra como atividade industrial, excluída da Lei nº 5.889/73... Uma indústria é uma indústria, em qualquer local que esteja..... Tanto faz uma indústria situar-se na zona rural quanto no perímetro urbano, é sempre indústria"("Manual do Direito do Trabalho Rural", Ed. LTr, São Paulo, 3ª ed., 1995, pág.31, sem grifos no original), bem como dos ensinamentos de Aurélio Pires ("Aspectos Teóricos e Práticos sobre Trabalho Rural", Ed. LTr, São Paulo, 4ª ed., 1989, págs. 33/34) e Carlos Eduardo Oliveira Dias ("O Empregador Rural", em "Direito do Trabalho Rural - Estudos em Homenagem a Irany Ferrari", Ed. LTr, São Paulo, 1.998, págs.51/52). 22 - A partir dos critérios objetivos acima postos, resulta possível, portanto, em cada caso concreto, com boa margem de segurança, classificar uma empresa situada no campo, como sendo rural ou industrial. Acontece, todavia, que, na prática, os fatos não se verificam com a esquemática simplicidade que seria desejável e, no mais das vezes, convivem, num mesmo empreendimento, atividades industriais e rurais. E, então, para que se mantenha a margem de segurança acima referida, cumpre que se lance mão de outras noções, além das já expostas. 23 - Com a habitual clareza e com a propriedade de sempre, Roberto Barretto Prado aborda essa questão e aponta o caminho a seguir: "Nada impede que uma sociedade, ou mesmo uma só pessoa física, possua uma ou mais empresas. Para os efeitos trabalhistas, empresa vem a ser a organização de trabalho, destinada à produção de riquezas ou utilidades... Exercendo o empregador, concomitantemente, atividades agrícolas e industriais, com organização trabalho distintas, dúvidas não há de que se trata de duas empresas autônomas, reguladas pelos respectivos estatutos trabalhistas... Havendo possibilidade de se separar os dois setores, deverá o intérprete, na medida possível, aplicar as normas legais correspondentes ... Pode haver sociedades de duplo ou até triplo objeto. Uma só pessoa, física ou jurídica, pode dedicar-se a explorações de natureza agrícola, industrial e até comercial. Essa situação ocorre na prática. Como resolver esses casos? Seriam rurícolas seus empregados? Em casos tais certamente haverá departamentos mais ou menos autônomos: agrícola, industrial e comercial. Os respectivos empregados serão considerados como rurais, industriários ou comerciários. Essa solução, que tem apoio na lei, decorre do bom-senso e resulta da realidade das coisas. Sujeitam-se os empregados às normas específicas às atividades que exercem" ("Comentários à Nova Lei do Trabalho Rural", Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1975, págs. 40/42, sem grifos no original). 24 - Tal caminho também é indicado por Carlos Eduardo Oliveira Dias (obra citada, págs. 50/54) e Dirceu Galdino e Aparecido Domingos Errerias Lopes (obra citada, pág.31), além de, acima de tudo, ser majoritariamente seguido pela jurisprudência, inclusive a do Tribunal Superior do Trabalho, conforme demonstram os arestos abaixo transcritos: "Enquadramento Sindical. É trabalhador rural todo aquele que preste serviços NO CAMPO a empresa agroindustrial" (Proc. TST/RR 149.835/94, Ac. 4.086/95, Rel. Min. Valdir Righeto, sem grifos no original). "O empregado que presta serviços NO CAMPO de usina de açúcar é considerado rural, sendo, portanto, a ele aplicada a prescrição disciplinada no art. 10 da Lei 5.889/73" (Proc. TST/RR 150.910/94, Ac. 5.538/95, Rel. Min. Hylo Gurgel, sem grifos no original) "Os trabalhadores DO CAMPO, que prestam serviços a empresa agroindustrial, são rurícolas, sendo-lhes aplicável a regra no artigo dez da lei cinco mil oitocentos e oitenta e nove de setenta e três" (Proc. TST/RR 155.809/95, Ac. 3.499/95, Rel. Min. Euclides Alcides da Rocha, sem grifos no original). 25 - Em suma: quando o empregador, em propriedade localizada fora do perímetro urbano, desenvolve atividades agrárias e atividades industriais, deverá ser havido como empregador rural, com relação aos empregados que prestarem serviços no setor ou vinculados à primeira dessa atividades, bem como terá de ser considerado empregador urbano (celetista), com respeito aos empregados que prestarem serviços no setor industrial. 26 - Desvendados, dessarte, os aspectos mais específicos e característicos do conceito legal de empregado rural, torna-se possível passar, já agora, com bastante segurança, a responder às indagações das Consulentes. III - DAS QUESTÕES FORMULADAS PELAS CONSULENTES 27 - Saliente-se, desde logo, que, evidentemente, diante de tudo quanto foi acima esclarecido, com respeito à legislação pertinente, as instalações industriais da primeira Consulente, destinadas à produção de açúcar e álcool, NÃO PODEM, EM HIPÓTESE ALGUMA, SER CONSIDERADAS COMO PROPRIEDADES RURAIS OU PRÉDIOS RÚSTICOS, do mesmo modo que suas atividades de produção daqueles bens (açúcar e álcool) JAMAIS PODERÃO SER CLASSIFICADAS COMO EXPLORAÇÃO INDUSTRIAL EM ESTABELECIMENTO AGRÁRIO, constituindo, isso sim, EXPLORAÇÃO INDUSTRIAL PURA E SIMPLES, por isso que são concretizadas, sem qualquer sombra de dúvida, mediante CLARA E INEQUÍVOCA TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA DA CANA-DE AÇÚCAR, à qual RETIRAM A CONDIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA. 28 - Há de ficar dito, contudo, que as terras de propriedade das Consulentes, onde é plantada a cana-de-açúcar a ser utilizada RAM A CONDIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA. 28 - Há de ficar dito, contudo, que as terras de propriedade das Consulentes, onde é plantada a cana-de-açúcar a ser utilizada como matéria- prima de sua produção industrial, CONSTITUEM, MANIFESTAMENTE, PROPRIEDADES RURAIS, no sentido técnico-jurídico da expressão, bem como que as atividades de plantio, cultivo e colheita ali levadas a efeito DEVEM SER CLASSIFICADAS, INEGAVELMENTE, COMO ATIVIDADES AGRO-ECONÔMICAS. 29 - Pois bem: a partir das premissas desse modo firmemente colocadas, fica óbvio que SÃO INDUSTRIÁRIOS e, como tais, EMPREGADOS CELETISTAS, os trabalhadores que prestam serviços às Consulentes, em qualquer função, no âmbito das INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS DESTINADAS À PRODUÇÃO DE AÇÚCAR E ÁLCOOL, assim como aqueles que lhes prestam serviços fora dessas instalações, mas em FUNÇÕES VINCULADAS A TAL PRODUÇÃO, exceto as de natureza agrária. 30 - E, de outra parte, óbvio também fica o fato de SEREM RURAIS os trabalhadores vinculados às Consulentes, que prestam serviços nas atividades de PLANTIO, CULTIVO E COLHEITA DA CANA-DE-AÇÚCAR destinada às suas instalações industriais. 31 - Só resta, já agora, ressalvar os casos de trabalhadores cujas funções os coloquem como integrantes de CATEGORIAS DIFERENCIADAS, os quais, como é curial, não poderão jamais ser classificados como industriários ou rurais, mas, sim, como PERTENCENTES ÀQUELAS CATEGORIAS (cf. Ubiacy Torres Cuóco, "Enquadramento Sindical no Direito Brasileiro", Ed. LTr, São Paulo, 1984, pág.57). Exemplificativamente, estão nesse caso, entre outros, os condutores de veículos rodoviários (motoristas), os profissionais de enfermagem, as secretárias, os técnicos de segurança de trabalho e os trabalhadores na movimentação de mercadorias em geral. IV - CONCLUSÃO 32 - Nessa conformidade, são as seguintes as respostas que devo dar às indagações formuladas pelas Consulentes: A) Não! Tais normas absolutamente não devem ser aplicadas em relação aos direitos trabalhistas de todos os seus empregados, devendo incidir, tão somente, com referência àqueles que se amoldem ao conceito legal de empregado rural. B) Salvo se prestarem serviços no campo, em atividade diretamente ligada à produção de cana-de-açucar, empregados como os exemplificativamente apontados classificam-se como industriários ou integrantes de categorias diferenciadas, devendo a prescrição de seus direitos trabalhistas reger-se pelo disposto na alínea "a" do inciso XXIX do art. 7º da Constituição da República. 33 - Este é o meu parecer, s.m.j. (*) - Adilson Bassalho Pereira é Advogado, Consultor Trabalhista , Ex-Juiz do TRT da 15ª Região, Mestre em Direito do Trabalho e Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo, Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho e Membro do Instituto de Direito Social "Cesarino Jr." Consultor: Adilson Bassalho Pereira (*) Atualizado em: 10/10/2002