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CONTRATO DO TRABALHO DE ADVOGADO

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CONTRATO DE TRABALHO DO ADVOGADO 1. Disciplina legal O Estatuto da Advocacia, Lei 8.906, de 4 de julho de 1994, traz em seu Capítulo V, artigos 18 a 21. Acrescem-se os dispositivos a respeito contidos no Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, editado por seu Conselho Federal, e o art. 4º da Lei 9.527/1997, que estabelece a inaplicabilidade das regras gerais quanto aos advogados empregados de órgãos da Administração Pública direta, autarquias, fundações instituídas pelo Poder Público, empresas públicas e sociedades de economia mista. 2. Hipóteses de ocorrência O advogado empregado se encontra vinculado, geralmente, a uma empresa, comercial ou industrial, à qual presta serviços, de consultoria ou assistência jurídica, que atendem aos elementos constitutivos de que trata o art. 3º da CLT: habitualidade, onerosidade, pessoalidade e subordinação. É óbvio que, por ser profissão em que é fortemente preponderante a atividade intelectual e por manterem os advogados, no mais das vezes, ocupações paralelas, o conceito de subordinação há de ser compreendido de forma mitigada, sem que se observe, necessariamente, dependência econômica. Não se exige, assim, para caracterização do liame de emprego, horário determinado, tampouco que a prestação seja contínua. Pelo mesmo motivo, adicionado ao fato de que, logicamente, o empregado detém conhecimentos jurídicos superiores aos dos demais trabalhadores, convém assinalar que também a presunção de hipossuficiência deve ser relativizada. Uma outra hipótese em que haverá a figura do advogado empregado é aquela em que o profissional vincula-se a um escritório, respondendo a outros advogados. 3. Peculiaridades da profissão Por força das particularidades da profissão de advogado, que o sujeitam às normas contidas em seu Estatuto, o poder diretivo do empregador não pode ser exercido com a mesma liberdade aplicada aos trabalhadores comuns, ficando essa restrição explicitada no art. 18 da Lei 8.906/94: Art. 18 A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a independência profissional inerentes à advocacia. Parágrafo único. O advogado empregado não está obrigado à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores, fora da relação de emprego. Completando este dispositivo, o Tribunal de Ética da OAB editou a resolução 3/92, em cujo art. 1º define que o advogado pode, sem infringência ética, recusar o patrocínio de ação judicial ou reinvidicação que envolvam direitos decorrentes de leis ou normas que lhe sejam também aplicáveis ou que contrariem expressa orientação que anteriormente tenha dado. Mais, dispõe que: Art. 2º Incorre em infração disciplinar o advogado que, por força da hierarquia funcional, determinar ao colega subordinado assumir defesa recusada com fundamentação na violação à independência e inviolabilidade profissionais. Conquanto o advogado não esteja listado no quadro a que alude o art. 577 da CLT, é transparente que pertence a categoria profissional diferenciada, atendendo à perfeição à dicção legal (art. 511, § 3º, da CLT): § 3º - Categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em conseqüência de condições de vida singulares. Deste modo, não se aplicam ao advogado empregado as normas relativas à classe predominante no estabelecimento, e sim aquelas específicas de sua categoria profissional. O art. 23 do Código de Ética e Disciplina da OAB veda a acumulação, no mesmo processo, das funções de patrono e preposto do empregador ou cliente. A prática, todavia, é tolerada pelos juízes. 4. Remuneração A lei não estabelece salário mínimo profissional, definindo que sua fixação se dará em sentença normativa, a menos que haja fixação em acordo ou convenção coletiva de trabalho. Além do salário, os advogados empregados têm jus aos honorários de sucumbência (ressalvando-se que, por decisão liminar tomada pelo STF, o dispositivo não se aplica havendo ajuste em contrário). Especificamente no caso de empregado de sociedade de advogados, há partilha entre ele e o empregador, com sistemática estabelecida em acordo. Não obstante a ausência de ressalva, no art. 461 da CLT, à possibilidade de equiparação salarial entre advogados de uma mesma empresa, é extremamente difícil tal reconhecimento, haja vista a dificuldade de comparação da qualidade do trabalho desenvolvido. 5. Jornada A jornada normal de trabalho do advogado é de quatro horas contínuas, totalizando vinte horas semanais, exceto se houver acordo ou convenção coletiva em contrário ou ainda quando o contrato previr dedicação exclusiva. O adicional de horas extras é de pelo menos 100%, não se admitindo fixação de patamar inferior. Não é comum a percepção de horas extras por advogado empregado, em razão de que ele, usualmente, não cumpre jornada fixa, nem no interior do estabelecimento do empregador. Deste modo, embora o art. 20, § 1º, da Lei 8.906/94 disponha que será computado todo o tempo em que o advogado esteja à disposição do tomador, não é simples comprová-lo. O advogado que cumpra funções de comando e gestão não tem direito a horas extras, a ele se destinando, tal como sucede com os demais trabalhadores, a exceção contida no art. 62, II, da CLT. É assegurado o reembolso das despesas de transporte, hospedagem e alimentação. O labor noturno (das 20:00 às 05:00 h) é remunerado com adicional de 25%. MATERIAL COMPLEMENTAR ÀS NOTAS DE AULA 1. Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB (excertos) Art. 3º É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simultaneamente, comopatrono e preposto do empregador ou cliente. Art. 4º A prática de atos privativos de advocacia, por profissionais e sociedades não inscritos na OAB, constitui exercício ilegal da profissão. Seção III Do Advogado Empregado Art. 11. Compete a sindicato de advogados e, na sua falta, a federação ou confederação de advogados, a representação destes nas convenções coletivas celebradas com as entidades sindicais representativas dos empregadores, nos acordos coletivos celebrados com a empresa empregadora e nos dissídios coletivos perante a Justiça do Trabalho, aplicáveis às relações de trabalho. Art. 12. Para os fins do art. 20 da Lei 8.906/94, considera-se dedicação exclusiva o regime de trabalho que for expressamente previsto em contrato individual de trabalho. (NR) Parágrafo único. Em caso de dedicação exclusiva, serão remuneradas como extraordinárias as horas trabalhadas que excederem a jornada normal de oito horas diárias. Art. 13. (revogado) Art. 14. Os honorários de sucumbência, por decorrerem precipuamente do exercício da advocacia e só acidentalmente da relação de emprego, não integram o salário ou a remuneração, não podendo, assim, ser considerados para efeitos trabalhistas ou previdenciários. Parágrafo único. Os honorários de sucumbência dos advogados empregados constituem fundo comum, cuja destinação é decidida pelos profissionais integrantes do serviço jurídico da empresa ou por seus representantes. Art. 44. As finalidades da OAB, previstas no art. 44 do Estatuto, são cumpridas pelos Conselhos Federal e Seccionais e pelas Subseções, de modo integrado, observadas suas competências específicas. Art. 45. A exclusividade da representação dos advogados pela OAB, prevista no art. 44, II, do Estatuto, não afasta a competência própria dos sindicatos e associações sindicais de advogados, quanto à defesa dos direitos peculiares da relação de trabalho do profissional empregado. 2. Lei 9.527/1997 (excerto) Art. 4º As disposições constantes do Capítulo V, Título I, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, não se aplicam à Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como às autarquias, às fundações instituídas pelo Poder Público, às empresas públicas e às sociedades de economia mista. 3. Jurisprudência 3.1. Decisão do TST a respeito do direito adquirido dos advogados empregados ADVOGADO EMPREGADO. ENTE PÚBLICO. JORNADA DE TRABALHO. DIREITO ADQUIRIDO. A Medida Provisória nº 1522-2, de 1996, em seu art. 3º, determinou que as disposições do Capítulo V, Título I, da Lei nº 8906, de 4 de julho de 1994 (jornada de 4 horas diárias), não se aplicam à administração pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como às autarquias, às fundações instituídas pelo Poder Público, às empresas públicas e às sociedades de economia mista. O Supremo Tribunal Federal, quando apreciou a liminar na ADIN 1522-4, decisão plenária do STF em sessão de 17-4-97, relator o Min. Carlos Velloso, fazendo interpretação conforme, asseverou que as empresas públicas e as sociedades de economia mista alcançadas pela excludente são exclusivamente as de caráter monopolista. A Reclamada exerce atividade monopolista na distribuição de energia elétrica. É público e notório que em nosso País não existe a possibilidade de um consumidor de energia elétrica escolher a fornecedora da qual deseja receber esse produto. Em dada área territorial, urbana ou rural, há, sempre, apenas uma fornecedora de energia elétrica. Logo, todas elas atuam monopolisticamente e se assim é, então as normas introduzidas pela Medida Provisória nº 1522/96 aplicam-se aos advogados da reclamada. Acontece que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF/88). Quando editada essa Medida Provisória, já a reclamante, como advogada-empregada da CEMIG, estava sujeita a uma jornada normal de 4 horas diárias ou 20 horas semanais, conforme o Estatuto da OAB (art. 20 da Lei nº 8906/94). Poderia a lei nova alterar a jornada de trabalho dos advogados-empregados de 4 para 8 horas diárias, de 20 para 40 horas semanais; poderia a lei nova excluir da incidência da norma constante do Estatuto da OAB os advogados de órgãos públicos, mas essa alteração só pode ser aplicada àqueles admitidos após o advento da nova norma, porque os que já vinham prestando serviços nas condições da norma anterior, têm o direito de continuar sob o mesmo regime, porque estão acobertados pelo disposto no art. 5º, XXXVI, da CF/88. Têm, pois, direito adquirido a continuar cumprindo a jornada de 4 horas diárias ou 20 horas semanais. Revista não conhecida. (TST, RR n° 639514, Ac 5ª T, Relator Ministro Rider Nogueira de Brito, 3ª Região, DJU, 10.08.2001, página 874). 3.1. Decisão do Supremo Tribunal Federal, publicada no DJ de 17.04.2002 na ADIN 1552/DF (por problema do site onde foi obtido, http://www.stf.gov.br, o despacho se encontra sem a correta acentuação) EMENTA: ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INSTRUMENTO DE AFIRMACAO DA SUPREMACIA DA ORDEM CONSTITUCIONAL. O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO LEGISLADOR NEGATIVO. A NOCAO DE CONSTITUCIONALIDADE/ INCONSTITUCIONALIDADE COMO CONCEITO DE RELACAO. A QUESTAO PERTINENTE AO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE. POSICOES DOUTRINARIAS DIVERGENTES EM TORNO DO SEU CONTEUDO. O SIGNIFICADO DO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE COMO FATOR DETERMINANTE DO CARATER CONSTITUCIONAL, OU NAO, DOS ATOS ESTATAIS. NECESSIDADE DA VIGENCIA ATUAL, EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO, DO PARADIGMA CONSTITUCIONAL ALEGADAMENTE VIOLADO. SUPERVENIENTE MODIFICACAO/SUPRESSAO DO PARAMETRO DE CONFRONTO. PREJUDICIALIDADE DA ACAO DIRETA. - A revogacao superveniente da norma constitucional, invocada como parametro de confronto, torna prejudicada a acao direta de inconstitucionalidade, porque, em nosso sistema juridico, o processo de fiscalizacao normativa abstrata nao se revela viavel - nao podendo instaurar- se, nem prosseguir -, quando a formulacao do juizo de constitucionalidade, subjacente a controversia juridica, depender do exame de paradigmas historicos, consubstanciados em normas constitucionais que ja nao mais se acham em vigor. Doutrina. Precedentes. DECISAO: A douta Procuradoria-Geral da Republica propoe o reconhecimento, na especie, da ocorrencia de situacao caracterizadora de prejudicialidade deste processo de controle normativo abstrato, eis que, apos o ajuizamento da presente acao direta, registrou-se modificacao de paradigma, derivada da superveniencia da EC n. 19/98, que introduziu substancial alteracao na clausula de parametro alegadamente desrespeitada pelo ato normativo ora impugnado (fls. 145/165). Passo a apreciar a questao suscitada pela douta Procuradoria-Geral da Republica, concernente a alegada configuracao de prejudicialidade da presente acao direta, motivada pela superveniente alteracao da norma de parametro, que foi invocada, no caso, como paradigma de confronto < > e de afericao da suposta inconstitucionalidade da norma ora impugnada. O exame dessa questao impoe algumas reflexoes previas - que reputo imprescindiveis - em torno dos fins a que se destina o processo de fiscalizacao normativa abstrata, tal como delineado em nosso sistema juridico. Como se sabe, o controle normativo abstrato qualifica-se como instrumento de preservacao da integridade juridica da ordem constitucional vigente. A acao direta, enquanto instrumento formal viabilizador do controle abstrato, traduz um dos mecanismos mais expressivos de defesa objetiva da Constituicao e de preservacao da ordem normativa nela consubstanciada. A acao direta, por isso mesmo, representa meio de ativacao da jurisdicao constitucional concentrada, que enseja, ao Supremo Tribunal Federal, o desempenho de tipica funcao politica ou de governo, no processo de verificacao, em abstrato, da compatibilidade vertical de normas estatais contestadas em face da Constituicao da Republica. O controle concentrado de constitucionalidade, por isso mesmo, transforma, o Supremo Tribunal Federal, em verdadeiro legislador negativo (RTJ 126/48, Rel. Min. MOREIRA ALVES - RTJ 153/765, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 1.063-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO). E que a decisao emanada desta Corte - ao declarar, in abstracto, a ilegitimidade constitucional de lei ou ato normativo federal ou estadual - importa em eliminacao dos atos estatais eivados de inconstitucionalidade (RTJ 146/461-462, Rel. Min. CELSO DE MELLO), os quais vem a ser excluidos, por efeito desse mesmo pronunciamento jurisdicional, do proprio sistema de direito positivo ao qual se achavam, ate entao, formalmente incorporados (RTJ 161/739-740, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Esse entendimento - que tem suporte em autorizado magisterio doutrinario (CELSO RIBEIRO BASTOS, .Curso de Direito Constitucional., p. 326, item n. 4, 11. ed., 1989, Saraiva; ALEXANDRE DE MORAES, .Direito Constitucional., p. 614, item n. 10.9, 10. ed., 2001, Atlas, v.g.), e que se reflete, por igual, na orientacao jurisprudencial firmada por esta Suprema Corte (RT 631/227) - permite qualificar, o Supremo Tribunal Federal, como orgao de defesa da Constituicao, seja relativamente ao legislador, seja, ainda, em face das demais instituicoes estatais, pois a Corte, ao agir nessa especifica condicao institucional, desempenha o relevantissimo papel de .orgao de garantia da hierarquia normativa da ordem constitucional. (J. J. GOMES CANOTILHO, .Direito Constitucional., p. 809, 4. ed., 1987, Almedina, Coimbra). Torna-se necessario enfatizar, no entanto, que a jurisprudencia firmada pelo Supremo Tribunal Federal - tratando-se de fiscalizacao abstrata de constitucionalidade - apenas admite como objeto idoneo de controle concentrado as leis e os atos normativos, que, emanados da Uniao, dos Estados-membros e do Distrito Federal, tenham sido editados sob a egide de texto constitucional ainda vigente. O controle por via de acao, por isso mesmo, mostra-se indiferente a ordens normativas inscritas em textos constitucionais ja revogados, ou que tenham sofrido alteracoes substanciais por efeito de superveniente promulgacao de emendas a Constituicao. E por essa razao que o magisterio jurisprudencial desta Suprema Corte tem advertido que o controle concentrado de constitucionalidade reveste-se de um so e unico objetivo: o de julgar, em tese, a validade de determinado ato estatal contestado em face do ordenamento constitucional, ainda em regime de vigencia, pois - conforme ja enfatizado pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ 95/980 - RTJ 95/993 - RTJ 99/544 - RTJ 145/339) -, o julgamento da arguicao de inconstitucionalidade, quando deduzida, in abstracto, nao deve considerar, para efeito do contraste que lhe e inerente, a existencia de paradigma revestido de valor meramente historico. Ve-se, desse modo, que, tratando-se de fiscalizacao normativa abstrata, a questao pertinente a nocao conceitual de parametricidade - vale dizer, do atributo que permite outorgar, a clausula constitucional, a qualidade de paradigma de controle - desempenha papel de fundamental importancia na admissibilidade, ou nao, da propria acao direta, consoante ja enfatizado pelo Plenario do Supremo Tribunal Federal (ADI 1.347-DF (Medida Cautelar), Rel. Min. CELSO DE MELLO). Isso significa, portanto, que a ideia de inconstitucionalidade (ou de constitucionalidade), por encerrar um conceito de relacao (JORGE MIRANDA, .Manual de Direito Constitucional., tomo II, p. 273/274, item n. 69, 2. ed., Coimbra Editora Limitada) - que supoe, por isso mesmo, o exame da compatibilidade vertical de um ato, dotado de menor hierarquia, com aquele que se qualifica como fundamento de sua existencia, validade e eficacia - torna essencial, para esse especifico efeito, a identificacao do parametro de confronto, que se destina a possibilitar a verificacao, in abstracto, da legitimidade constitucional de certa regra de direito positivo, a ser necessariamente cotejada em face da clausula invocada como referencia paradigmatica. A busca do paradigma de confronto, portanto, significa, em ultima analise, a procura de um padrao de cotejo, que, ainda em regime de vigencia temporal, permita, ao interprete, o exame da fidelidade hierarquico-normativa de determinado ato estatal, contestado em face da Constituicao. Esse processo de indagacao, no entanto, impoe que se analisem dois (2) elementos essenciais a compreensao da materia ora em exame. De um lado, poe-se em evidencia o elemento conceitual, que consiste na determinacao da propria ideia de Constituicao e na definicao das premissas juridicas, politicas e ideologicas que lhe dao consistencia. De outro, destaca-se o elemento temporal, cuja configuracao torna imprescindivel constatar se o padrao de confronto, alegadamente desrespeitado, ainda vige, pois, sem a sua concomitante existencia, descaracterizar-se-a o fator de contemporaneidade, necessario a verificacao desse requisito. No que concerne ao primeiro desses elementos (elemento conceitual), cabe ter presente que a construcao do significado de Constituicao permite, na elaboracao desse conceito, que sejam considerados nao apenas os preceitos de indole positiva, expressamente proclamados em documento formal (que consubstancia o texto escrito da Constituicao), mas, sobretudo, que sejam havidos, igualmente, por relevantes, em face de sua transcendencia mesma, os valores de carater suprapositivo, os principios cujas raizes mergulham no direito natural e o proprio espirito que informa e da sentido a Lei Fundamental do Estado. Nao foi por outra razao que o Supremo Tribunal Federal, certa vez, e para alem de uma perspectiva meramente reducionista, veio a proclamar - distanciando-se, entao, das exigencias inerentes ao positivismo juridico - que a Constituicao da Republica, muito mais do que o conjunto de normas e principios nela formalmente positivados, ha de ser tambem entendida em funcao do proprio espirito que a anima, afastando-se, desse modo, de uma concepcao impregnada de evidente minimalismo conceitual (RTJ 71/289, 292 - RTJ 77/657). E por tal motivo que os tratadistas - consoante observa JORGE XIFRA HERAS (.Curso de Derecho Constitucional., p. 43) -, em vez de formularem um conceito unico de Constituicao, costumam referir-se a uma pluralidade de acepcoes, dando ensejo a elaboracao teorica do conceito de bloco de constitucionalidade (ou de parametro constitucional), cujo significado - revestido de maior ou de menor abrangencia material - projeta-se, tal seja o sentido que se lhe de, para alem da totalidade das regras constitucionais meramente escritas e dos principios contemplados, explicita ou implicitamente, no corpo normativo da propria Constituicao formal, chegando, ate mesmo, a compreender normas de carater infraconstitucional, desde que vocacionadas a desenvolver, em toda a sua plenitude, a eficacia dos postulados e dos preceitos inscritos na Lei Fundamental, viabilizando, desse modo, e em funcao de perspectivas conceituais mais amplas, a concretizacao da ideia de ordem constitucional global. Sob tal perspectiva, que acolhe conceitos multiplos de Constituicao, pluraliza-se a nocao mesma de constitucionalidade/inconstitucionalidade, em decorrencia de formulacoes teoricas, matizadas por visoes juridicas e ideologicas distintas, que culminam por determinar - quer elastecendo-as, quer restringindo-as - as proprias referencias paradigmaticas conformadoras do significado e do conteudo material inerentes a Carta Politica. Torna-se relevante destacar, neste ponto, por tal razao, o magisterio de J. J. GOMES CANOTILHO (.Direito Constitucional e Teoria da Constituicao., p. 811/812, item n. 1, 1998, Almedina), que bem expos a necessidade de proceder-se a determinacao do parametro de controle da constitucionalidade, consideradas as posicoes doutrinarias que se digladiam em torno do tema: . Todos os actos normativos devem estar em conformidade com a Constituicao (art. 3../3). Significa isto que os actos legislativos e restantes actos normativos devem estar subordinados, formal, procedimental e substancialmente, ao parametro constitucional. Mas qual e o estalao normativo de acordo com o qual se deve controlar a conformidade dos actos normativos. As respostas a este problema oscilam fundamentalmente entre duas posicoes: (1) o parametro constitucional equivale a constituicao escrita ou leis com valor constitucional formal, e dai que a conformidade dos actos normativos so possa ser aferida, sob o ponto de vista da sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade, segundo as normas e principios escritos da constituicao (ou de outras leis formalmente constitucionais); (2) o parametro constitucional e a ordem constitucional global, e, por isso, o juizo de legitimidade constitucional dos actos normativos deve fazer-se nao apenas segundo as normas e principios escritos das leis constitucionais, mas tambem tendo em conta principios nao escritos integrantes da ordem constitucional global. Na perspectiva (1), o parametro da constitucionalidade (=normas de referencia, bloco de constitucionalidade) reduz- se as normas e principios da constituicao e das leis com valor constitucional; para a posicao (2), o parametro constitucional e mais vasto do que as normas e principios constantes das leis constitucionais escritas, devendo alargar-se, pelo menos, aos principios reclamados pelo espirito ou pelos valores que informam a ordem constitucional global.. (grifei) Veja- se, pois, a importancia de compreender-se, com exatidao, o significado que emerge da nocao de bloco de constitucionalidade - tal como este e concebido pela teoria constitucional (BERNARDO LEONCIO MOURA COELHO, .O Bloco de Constitucionalidade e a Protecao a Crianca., in Revista de Informacao Legislativa n. 123/259-266, 263/264, 1994, Senado Federal; MIGUEL MONTORO PUERTO, .Jurisdiccion Constitucional y Procesos Constitucionales., tomo I, p. 193/195, 1991, Colex; FRANCISCO CAAMANO DOMINGUEZ/ANGEL J. GOMEZ MONTORO/MANUEL MEDINA GUERRERO/JUAN LUIS REQUEJO PAGES, .Jurisdiccion y Procesos Constitucionales., p. 33/35, item C, 1997, Berdejo; IGNACIO DE OTTO, .Derecho Constitucional, Sistema de Fuentes., p. 94/95, . 25, 2. ed./2. reimpressao, 1991, Ariel; LOUIS FAVOREU/FRANCISCO RUBIO LLORENTE, Al bloque de la constitucionalidad., p. 95/109, itens ns. I e II, 1991, Civitas; JOSE ALFREDO DE OLIVEIRA BARACHO, .O Principio da Subsidiariedade: Conceito e Evolucao., p. 77/81, 2000, Forense; DOMINIQUE TURPIN, .Contentieux Constitutionnel., p. 55/56, item n. 43, 1986, Presses Universitaires de France, v.g.) -, pois, dessa percepcao, resultara, em ultima analise, a determinacao do que venha a ser o paradigma de confronto, cuja definicao mostra-se essencial, em sede de controle de constitucionalidade, a propria tutela da ordem constitucional. E a razao de tal afirmacao justifica-se por si mesma, eis que a delimitacao conceitual do que representa o parametro de confronto e que determinara a propria nocao do que e constitucional ou inconstitucional, considerada a eficacia subordinante dos elementos referenciais que compoem o bloco de constitucionalidade. Nao obstante essa possibilidade de diferenciada abordagem conceitual, torna-se inequivoco que, no Brasil, o tema da constitucionalidade ou inconstitucionalidade supoe, no plano de sua concepcao teorica, a existencia de um duplo vinculo: o primeiro, de ordem juridica, referente a compatibilidade vertical das normas inferiores em face do modelo constitucional (que consagra o principio da supremacia da Carta Politica), e o segundo, de carater temporal, relativo a contemporaneidade entre a Constituicao e o momento de formacao, elaboracao e edicao dos atos revestidos de menor grau de positividade juridica. Ve-se, pois, ate mesmo em funcao da propria jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal (RTJ 169/763, Rel. Min. PAULO BROSSARD), que, na afericao, em abstrato, da constitucionalidade de determinado ato normativo, assume papel relevante o vinculo de ordem temporal, que supoe a existencia de uma relacao de contemporaneidade entre padroes constitucionais de confronto, em regime de plena e atual vigencia, e os atos estatais hierarquicamente inferiores, questionados em face da Lei Fundamental. Dessa relacao de carater historico-temporal, exsurge a identificacao do parametro de controle, referivel a preceito constitucional, ainda em vigor, sob cujo dominio normativo foram produzidos os atos objeto do processo de fiscalizacao concentrada. Isso significa, portanto, que, em sede de controle abstrato, o juizo de inconstitucionalidade ha de considerar a situacao de incongruencia normativa de determinado ato estatal, contestado em face da Carta Politica (vinculo de ordem juridica), desde que o respectivo parametro de afericao ainda mantenha atualidade de vigencia (vinculo de ordem temporal). Sendo assim, e quaisquer que possam ser os parametros de controle que se adotem - a Constituicao escrita, de um lado, ou a ordem constitucional global, de outro (LOUIS FAVOREU/FRANCISCO RUBIO LLORENTE, Al bloque de la constitucionalidad., p. 95/109, itens ns. I e II, 1991, Civitas; J. J. GOMES CANOTILHO, .Direito Constitucional., p. 712, 4. ed., 1987, Almedina, Coimbra, v.g.) - torna-se essencial, para fins de viabilizacao do processo de controle normativo abstrato, que tais referencias paradigmaticas encontrem-se, ainda, em regime de plena vigencia, pois, como precedentemente assinalado, o controle de constitucionalidade, em sede concentrada, nao se instaura, em nosso sistema juridico, em funcao de paradigmas historicos, consubstanciados em normas que ja nao mais se acham em vigor. E por tal razao que, em havendo a revogacao superveniente da norma de confronto, nao mais se justificara a tramitacao da acao direta, que, anteriormente ajuizada, fundava-se na suposta violacao do parametro constitucional cujo texto veio a ser suprimido ou substancialmente alterado. Bem por isso, a jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal, desde o regime constitucional anterior, tem proclamado que tanto a superveniente revogacao global da Constituicao da Republica (RTJ 128/515 - RTJ 130/68 - RTJ 130/1002 - RTJ 135/515 - RTJ 141/786), quanto a posterior derrogacao da norma constitucional (RTJ 168/436 - RTJ 169/834 - RTJ 169/920 - RTJ 171/114 - RTJ 172/54 - ADI 296-DF - ADI 512-PB - ADI 595-ES - ADI 905-DF - ADI 906-PR - ADI 1.120-PA - ADI 1.137-RS - ADI 1.143-AP - ADI 1.300-AP - ADI 1.510-SC - ADI 1.885-DF- Questao de Ordem - ADI 1.907-DF-Questao de Ordem), por afetarem o paradigma de confronto, invocado no processo de controle concentrado de constitucionalidade, configuram hipoteses caracterizadoras de prejudicialidade da acao direta, em virtude da evidente perda de seu objeto: . II - Controle direto de constitucionalidade: prejuizo. Julga-se prejudicada, total ou parcialmente, a acao direta de inconstitucionalidade no ponto em que, depois de seu ajuizamento, emenda a Constituicao haja abrogado ou derrogado norma de Lei Fundamental que constituisse paradigma necessario a verificacao da procedencia ou improcedencia dela ou de algum de seus fundamentos, respectivamente: orientacao de aplicar-se no caso, no tocante a alegacao de inconstitucionalidade material, dada a revogacao primitiva do art. 39, . 1., CF 88, pela EC 19/98.. (RTJ 172/789-790, Rel. Min. SEPULVEDA PERTENCE - grifei) Cumpre ressaltar, por necessario, que essa orientacao jurisprudencial reflete-se no proprio magisterio da doutrina (CLEMERSON MERLIN CLEVE, .A Fiscalizacao Abstrata da Constitucionalidade no Direito Brasileiro., p. 225, item n. 3.2.6, 2. ed., 2000, RT; OSWALDO LUIZ PALU, .Controle de Constitucionalidade - Conceitos, Sistemas e Efeitos., p. 219, item n. 9.9.17, 2. ed., 2001, RT; GILMAR FERREIRA MENDES, .Jurisdicao Constitucional., p. 176/177, 2. ed., 1998, Saraiva), cuja percepcao do tema ora em exame poe em destaque, em casos como o destes autos, que a superveniente alteracao da norma constitucional, revestida de parametricidade, importa na configuracao de prejudicialidade do processo de controle abstrato de constitucionalidade, eis que, como enfatizado, o objeto da acao direta resume-se, em essencia, a fiscalizacao da ordem constitucional vigente. Todas as consideracoes que vem de ser expostas justificam-se em face da circunstancia de que, posteriormente a instauracao deste processo de controle normativo abstrato, sobreveio a Emenda Constitucional n. 19/98, que suprimiu e/ou alterou, substancialmente, a clausula de parametro, cuja suposta ofensa motivou o ajuizamento da presente acao direta. O argumento de inconstitucionalidade invocado pelo autor da presente acao direta apoia-se na alegacao de que o diploma legislativo ora questionado transgrediria a regra inscrita no art. 173, . 1., da Constituicao Federal (na redacao anterior a promulgacao da EC n. 19/98), porque - devendo submeter-se, as entidades paraestatais que exploram atividade economica, ao regime juridico proprio das empresas privadas, notadamente em materia de direito do trabalho -, revelar-se-ia ilegitima a exclusao, quanto aos empregados das empresas publicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade economica, da incidencia das normas constantes do Capitulo V, Titulo I, do Estatuto da Advocacia (Lei n. 8.906/94), que dispoem sobre a jornada de trabalho, sobre o salario minimo profissional relativo aos advogados empregados e sobre o direito destes aos honorarios de sucumbencia. Ocorre, no entanto, tal como ressaltado pelo eminente Procurador- Geral da Republica, que a superveniencia da EC n. 19/98 importou em sensivel reformulacao da clausula de parametro invocada pelo autor, eis que, agora, e em decorrencia da referida alteracao constitucional, a disciplinacao da materia em causa nao mais emerge, diretamente, do texto da Carta Politica, que, antes do advento da EC n. 19/98, dispunha, sobre o tema, em norma constitucional revestida de eficacia plena e provida de aplicabilidade imediata e integral. Presentemente, e no que concerne ao regime juridico aplicavel as entidades paraestatais exploradoras de atividade economica, cumpre reconhecer que essa nova disciplina resultara da lei, que, editada nos termos do art. 173, . 1., da Constituicao (na redacao dada pela EC n. 19/98), consubstanciara .o estatuto juridico da empresa publica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiarias (...).. Veja-se, pois, que a reforma da Carta Politica, introduzida pela EC n. 19/98, atribuiu, ao legislador comum, a competencia para formular o estatuto de regencia pertinente as entidades paraestatais exploradoras de atividade economica, outorgando, ao Poder Legislativo, a prerrogativa de instituir, em sede meramente legal, o referido estatuto juridico, destinado, este sim, a desenvolver, no plano infraconstitucional, as diretrizes concernentes ao regime normativo disciplinador de tais entes. E por essa razao que MANOEL GONCALVES FERREIRA FILHO (.Comentarios a Constituicao Brasileira de 1988., vol. 2, p. 178, 2. ed., 1999, Saraiva) - tendo a exata percepcao da mudanca operada pela superveniencia da EC n. 19/98 - assinalou, a proposito do novo conteudo material inscrito no art. 173, . 1., da Lei Fundamental, que, a partir dessa reforma constitucional, .a empresa publica, a sociedade de economia mista e suas subsidiarias receberao da lei um estatuto especial, diferente, pois, do comum, que se aplica a tais entes em geral, desde que explorem atividade economica de producao ou comercializacao de bens ou de prestacao de servicos. (grifei). O fato irrecusavel, no caso ora em exame, e um so: houve, na especie, efetiva mudanca no paradigma de confronto, apto, por si so, a gerar a situacao caracterizadora de prejudicialidade a que aludiu, em seu douto parecer, o eminente Procurador-Geral da Republica (fls. 162/164): . Tudo posto, quer parecer, desde logo, que a controversia gira, toda, em torno da aplicacao a ser conferida ao . 1. do art. 173 da Constituicao Federal de 1988, preceito que assim rezava, em sua redacao original: . 1.. A empresa publica, a sociedade de economia mista e outras entidades que explorem atividade economica sujeitam-se ao regime juridico proprio das empresas privadas, inclusive quanto as obrigacoes trabalhistas e tributarias. Ocorre, porem, que, com o advento da Emenda Constitucional n. 19, de 1988, o mesmo dispositivo da Constituicao Federal vigente passou a ter a seguinte redacao: . 1.. A lei estabelecera o estatuto juridico da empresa publica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiarias que explorem atividade economica de producao ou comercializacao de bens ou de prestacao de servicos, dispondo sobre: I - Sua funcao social e formas de fiscalizacao pelo Estado e pela sociedade; II - a sujeicao ao regime juridico proprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigacoes civis, comerciais, trabalhistas e tributarios; III - licitacao e contratacao de obras, servicos, compras e alienacoes, observados os principios da administracao publica; IV - a constituicao e o funcionamento dos conselhos de administracao e fiscal, com a participacao de acionistas minoritarios; V - os mandatos, a avaliacao de desempenho e a responsabilidade dos administradores. O pensamento desse Colendo Supremo Tribunal Federal - externado em casos nos quais, tal como na hipotese destes autos, estava em julgamento a interpretacao a ser conferida a mandamento constitucional objeto de alteracao superveniente -, e o seguinte: EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL. ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 20, DE 10.09.1997, DO ESTADO DE GOIAS, QUE ACRESCENTOU O . 8. AO ART. 92 DA CONSTITUICAO ESTADUAL. TETO DE VENCIMENTOS E PROVENTOS (ART. 37, XI, DA CONSTITUICAO FEDERAL DE 1998). VANTAGENS PESSOAIS (ART. 39, . 1.). SUPERVENIENCIA DA E.C. N. 19, DE 04.06.1998. A.D.I. PREJUDICADA. 1. A medida cautelar, no caso, foi deferida a 24 de setembro de 1997, quando ainda estavam em vigor, em sua redacao originaria, os textos do art. 37, XI, e do art. 39, . 1., da Constituicao Federal de 05.10.1988. 2. Contudo, a 5 de junho de 1998, entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 19, de 4 de junho de 1998, que deu tratamento inteiramente diverso as materias neles reguladas. 3. Em suma, ja nao estao em vigor os textos originarios do art. 37, XI, e do art. 39, . 1., da C.F./88, cuja aparente violacao foi levada em consideracao, para o efeito da concessao da medida cautelar de suspensao da E.C. n. 20, de 10.09.1997, do Estado de Goias, que acrescentou o . 8. ao art. 92 da Constituicao Estadual. 4. Ora, e pacifica a jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que, no controle concentrado de constitucionalidade, realizado no ambito da Acao Direta de Inconstitucionalidade, de que trata o art. 102 da C.F/88, o texto a ser confrontado com a Constituicao e de ato normativo federal ou estadual elaborado durante sua vigencia e desde que aquela (a Constituicao) continue em vigor. 5. No caso, porem, a norma impugnada (. 8. do art. 92 da Constituicao de Goias, acrescentado pela Emenda Constitucional Estadual n. 20, de 10.09.1997) e anterior a nova redacao dos referidos artigos 37, XI, e 39, . 1., da C.F./88. 6. Se esse novo texto das normas constitucionais federais revogou, ou nao, a norma estadual objeto da impugnacao, e questao que so se pode resolver no controle difuso de constitucionalidade, ou seja, na solucao de casos concretos, nas instancias proprias. Nao, assim, no controle concentrado, in abstracto, da Acao Direta de Inconstitucionalidade, na qual o Supremo Tribunal Federal so leva em conta o texto constitucional em vigor, nao, portanto, o revogado ou substancialmente alterado. 7. Em circunstancias assemelhadas, o Plenario do Supremo Tribunal Federal ja julgou prejudicadas algumas Acoes Diretas de Inconstitucionalidade, em face de alteracoes substanciais no texto originario da C.F./88 (Acoes Diretas de Inconstitucionalidade n.s 1.137, 575, 512 e 1.907). 8. Acao Direta de Inconstitucionalidade julgada prejudicada, ficando, em consequencia, cassada a medida cautelar. (ADI- 1674/GO ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator Ministro SYDNEY SANCHES Publicacao DJ DATA-28- 05-99 PP-00004 EMENT VOL-01952-01 PP-00122 Julgamento - Tribunal Pleno, in Internet/STF/Jurisprudencia) Eis porque, preliminarmente, o Ministerio Publico Federal e de parecer que a Acao Direta de Inconstitucionalidade deva ser tida como prejudicada, por superveniente alteracao constitucional, sendo decretada a extincao do processo, sem julgamento do merito.. (grifei) Torna-se importante registrar, neste ponto, que o Supremo Tribunal Federal, na analise de causas em tudo semelhantes a de que ora se cuida (ADI 905-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 906-PR, Rel. Min. CELSO DE MELLO), tem reconhecido que a superveniencia da EC 19/98, por haver introduzido substancial alteracao na clausula inscrita no art. 173, . 1. da Constituicao da Republica, revela- se apta a prejudicar a acao direta de inconstitucionalidade, que, anteriormente ajuizada, fundava-se na suposta violacao a mencionada regra de parametro, tal como ocorre na especie destes autos: . Acao direta de inconstitucionalidade ajuizada, em 17.02.94, pela Confederacao Nacional dos Trabalhadores na Industria, tendo por objeto o art. 1., I, c, da Lei n. 8.852, de 4 de fevereiro de 1994. Alega a requerente, em sintese, que o dispositivo impugnado, ao regular a incidencia dos incisos XI e XII do art. 37 da Carta da Republica as empresas publicas e as sociedades de economia mista, contraria os arts. 5., XXXVI; 7., XXVI; e 173, . 1., do texto constitucional. O pedido de declaracao de inconstitucionalidade veio acompanhado de requerimento de medida cautelar, que foi indeferido na assentada de 08.06.94. Ocorre, entretanto, que o tratamento constitucional da materia dos autos foi substancialmente alterado pelo advento da Emenda Constitucional n. 19, de 04.06.98, como bem destacado pelo parecer da douta Procuradoria-Geral da Republica (fl. 99). Tal situacao implica, na forma da pacifica jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal, a perda de objeto da acao, impossibilitando o controle abstrato da norma impugnada. Isto posto, julgo prejudicada a presente acao direta, na forma do inciso IX do art. 21 do RI/STF, determinando seu arquivamento.. (ADI 1.033-DF, Rel. Min. ILMAR GALVAO - DJU 13/02/2002 - grifei) Cabe assinalar, ainda, neste ponto, que a propria alegacao de ofensa ao principio da isonomia, suscitada, pelo autor, em sua peticao inicial, tem, na especie, por fundamento, a regra inscrita no art. 173, . 1., na redacao anterior a que lhe deu a EC n. 19/98. Isso significa, portanto, que, na realidade, a clausula de parametro subordinante, a ser considerada, na especie, tal como ja o fora, quando da apreciacao do pedido de medida cautelar, reside, precisamente, no que dispunha o art. 173, . 1. da Carta Politica, hoje alterado, no ponto, pela EC n. 19/98. Registre-se, a esse proposito, que o proprio Plenario do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o pedido de medida cautelar, examinou a controversia a luz do art. 173, . 1. da Constituicao, na redacao anterior ao advento da EC n. 19/98 (fls. 119/142). E por tal razao que a douta Procuradoria-Geral da Republica, tendo presente essa nova realidade normativa, fundada em regramento constitucional supervenientemente modificado, veio a suscitar, nos termos ja expostos, e com absoluta procedencia, a questao pertinente a prejudicialidade desta acao direta. A circunstancia caracterizadora da prejudicialidade desta acao direta, em decorrencia da razao mencionada na presente decisao, autoriza uma ultima observacao: no exercicio dos poderes processuais de que dispoe, assiste, ao Ministro-Relator, competencia plena para exercer, monocraticamente, o controle das acoes, pedidos ou recursos dirigidos a esta Corte, legitimando- se, em consequencia, os atos decisorios que, nessa condicao, venha a praticar. Cumpre acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuicoes do Relator, a competencia para negar transito, em decisao monocratica, a recursos, pedidos ou acoes, quando incabiveis, estranhos a competencia desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensao incompativel com a jurisprudencia predominante do Tribunal (RTJ 139/53 - RTJ 168/174- 175). Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressao ao principio da colegialidade, eis que o postulado em questao sempre restara preservado ante a possibilidade de submissao da decisao singular ao controle recursal dos orgaos colegiados no ambito do Supremo Tribunal Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (Ag 159.892-SP (AgRg), Rel. Min. CELSO DE MELLO - RE 222.285-SP (AgRg), Rel. Min. CARLOS VELLOSO). Cabe enfatizar, por necessario, que esse entendimento jurisprudencial e tambem aplicavel aos processos de acao direta de inconstitucionalidade (ADI 563-DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD - ADI 593- GO, Rel. Min. MARCO AURELIO - ADI 2.060-RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.207-AL, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.215-PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que, tal como ja assentou o Plenario do Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro .nao subtrai, ao Relator da causa, o poder de efetuar - enquanto responsavel pela ordenacao e direcao do processo (RISTF, art. 21, I) - o controle previo dos requisitos formais da fiscalizacao normativa abstrata, o que inclui, dentre outras atribuicoes, o exame dos pressupostos processuais e das condicoes da propria acao direta. (RTJ 139/67, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Sendo assim, pelas razoes expostas, e acolhendo, ainda, como razao de decidir, o parecer da douta Procuradoria-Geral da Republica, julgo prejudicada a presente acao direta, por perda superveniente de objeto, fazendo cessar, em consequencia, a eficacia da medida cautelar anteriormente deferida (fls. 119/142). Comunique-se. Arquivem-se os presentes autos. Publique-se. Brasilia, 11 de abril de 2002. Ministro CELSO DE MELLO Relator