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A epidemiologia hospitalar estuda os riscos inerentes ao atendimento e
trabalho nos serviços de saúde, aos quais estão expostos pacientes e
profissionais, a eventos adversos e infecção hospitalar.
Os estudos sobre a infecção hospitalar tiveram início no século XIX, na
Áustria. Mulheres morriam após o parto por terem contraído um mal
desconhecido. Na época pesquisas mostraram que os estudantes de medicina
depois de fazerem autópsias examinavam as parturientes sem lavar as mãos ou
usarem qualquer tipo de proteção, o que levava à infecção. Uma simples
medida preconizada, a lavagem das mãos, reduziu significativamente o índice
de infecção.
*
Com a descoberta dos antibióticos, os médicos achavam que as infecções
estariam extintas, porém o abuso na sua utilização, selecionou germes
resistentes, tornando mais grave o problema. A única maneira de amenizar
esse mal é através do controle e da prevenção coordenados por uma Comissão
de Controle de Infecção Hospitalar,
Conceitos básicos.
1.1. Infecção comunitária (IC):
1.1.1. é aquela constatada ou em incubação no ato de admissão do paciente,
desde que não relacionada com internação anterior no mesmo hospital.
1.1.2. São também comunitárias:
1.1.2.1. a infecção que está associada com complicação ou extensão da
infecção já presente na admissão, a menos que haja troca de microorganismos
com sinais ou sintomas fortemente sugestivos da aquisição de nova infecção;
1.1.2.2. a infecção em recém-nascido, cuja aquisição por via
transplacentária é conhecida ou foi comprovada e que tornou-se evidente
logo após o nascimento (exemplo: herpes simples, toxoplasmose, rubéola,
citomegalovirose, sífilis e AIDS);
1.1.2.3. As infecções de recém-nascidos associadas com bolsa rota superior
a 24 (vinte e quatro) horas.
1.2. Infecção hospitalar (IH):
1.2.1. é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste
durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a
internação ou procedimentos hospitalares.
Os indicadores mais importantes a serem obtidos e analisados periodicamente
no hospital e, especialmente, nos serviços de Berçário de Alto Risco, UTIs
e Queimados, são;
5.1. Taxa de Infecção Hospitalar, calculada tomando como numerador o número
de episódios de infecção hospitalar no período considerado e como
denominador o total de saídas (altas, óbitos e transferências) ou entradas
no mesmo período;
5.2. Taxa de Pacientes com Infecção Hospitalar, calculada tomando como
numerador o número de doentes que apresentaram infecção hospitalar no
período considerado, e como denominador o total de saídas (altas, óbitos e
transferências) ou entradas no período;
5.3. Distribuição Percentual das Infecções Hospitalares por localização
topográfica no paciente, calculada tendo como numerador o número de
episódios de infecção hospitalar em cada topografia, no período considerado
e como denominador o número total de episódios de infecção hospitalar
ocorridos no período;
5.4. Taxa de Infecções Hospitalares por Procedimento, calculada tendo como
numerador o número de pacientes submetidos a um procedimento de risco que
desenvolveram infecção hospitalar e como denominador o total de pacientes
submetidos a este tipo de procedimento.
Exemplos:
Taxa de infecção do sítio cirúrgico, de acordo com o potencial de
contaminação.
Taxa de infecção urinário após cateterismo vesical.
Taxa de penumonia após uso de respirador.
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5.7. Outros procedimentos de risco poderão ser avaliados, sempre que a
ocorrência respectiva o indicar, da mesma forma que é de utilidade o
levantamento das taxas de infecção do sítio cirúrgico, por cirurgião e por
especialidade.
5.8. Freqüência das Infecções Hospitalares por Microorganismos ou por
etiologias, calculada tendo como numerador o número de episódios de
infecção hospitalar por microorganismos e como denominador o número de
episódios de infecções hospitalares que ocorreram no período considerado.
5.9. Coeficiente de Sensibilidade aos Antimicrobianos, calculado tendo como
numerador o número de cepas bacterianas de um determinado microorganismos
sensível a determinado antimicrobiano e como denominador o número total de
cepas testadas do mesmo agento com antibiograma realizado a partir das
espécimes encontradas.
5.10. Indicadores de uso de antimicrobianos.
5.10.1. Percentual de pacientes que usaram antimicrobianos (uso profilático
ou terapêutico) no período considerado. Pode ser especificado por clínica
de internação. É calculado tendo como numerador o total de pacientes em uso
de antimicrobiano e como denominador o número total de pacientes no
período.
5.10.2. Freqüência com que cada antimicrobiano é empregado em relação aos
demais. É calculada tendo como numerador o total de tratamentos iniciados
com determinado antimicrobiano no período, e como denominador o total de
tratamentos com antimicrobianos iniciados no mesmo período.
5.11. Taxa de letalidade associada a infecção hospitalar, é calculada tendo
como numerador o número de pacientes que desenvolveram infecção hospitalar
no período.
5.12. Consideram-se obrigatórias as, informações relativas aos indicadores
epedimiológicos 5.1, 5.2, 5.3 e 5.11., no mínimo com relação aos serviços
de Berçário de alto risco, UTI (adulto/pediátrica/neonatal) e queimados
III. As principais infecções hospitalares
A maioria das infecções hospitalares manifesta-se como complicações
naturais de pacientes gravemente enfermos, decorrente de um desequilíbrio
entre sua flora microbiana normal e seus mecanismos de defesa. Esse
desequilíbrio é provocado por determinadas doenças responsáveis pela
hospitalização e procedimentos invasivos ou imunossupressivos a que o
doente, correta ou incorretamente, foi submetido.
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A transmissão cruzada de infecções, outro fator tbm importante, pode
ocorrer principalmente pelas mãos da equipe ou por artigos. O meio ambiente
tem importância secundária na cadeia epidemiológica destas infecções,
exceto: para as doenças contagiosas por via aérea,
Conseqüentemente, algumas infecções hospitalares são evitáveis outras não..
*
Dentre as principais infecções hospitalares endêmicas, a infecção do trato
urinário (ITU) é a mais comum. A instrumentação do trato urinário
representa o fator de risco mais importante na aquisição de ITU,
especialmente a sondagem vesical precedendo-a em mais de 80% dos casos, e
outras manipulações em 5 a 10%.
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Os fatores associados ao hospedeiro, que resultam em maior incidência de
infecção relacionada ao catéter vesical são: idade avançada, sexo feminino,
gravidez, puerpério, colonização do meato uretral, urina vesical residual,
doenças subjacentes graves e uso indiscriminado de antimicrobianos.
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A segunda topografia de infecção hospitalar é a ferida cirúrgica. O
principal fator predisponente é o potencial de contaminação da cirurgia,
mas a duração do procedimento e as condições pré-operatória do paciente
também têm grande importância. Outros fatores podem influir na ocorrência
de infecção, como preparo da pele, tempo de permanência no Hospital, entre
outros.
A infecção do trato respiratório é geralmente a terceira principal
topografia de infecção hospitalar. Fatores como idade, patologia de base,
instrumentação do trato respiratório, , endoscopia, equipamentos de terapia
respiratória, broncoaspiração e biópsia transbrônquica predispõem ao
aparecimento dessas infecções.
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As bacteremias primárias ocupam o quarto lugar dentre as infecções
hospitalares. O avanço tecnológico, introduziu também o uso de novas
terapias mais invasivas e entre elas destaca-se o acesso vascular,
favorecendo assim ao aumento da incidência de infecções da corrente
sangüínea.
II. O programa de controle de infecções
A Lei Federal 6.431 de 06/01/97 obriga todos os hospitais brasileiros
constituírem Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) que deverá
atuar de acordo com Programa desenvolvido na própria instituição. A
referida lei instituiu a obrigatoriedade da existência da CCIH e de um
Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH), definido como um
conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente, tendo como
objetivo a redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções
nosocomiais. Em 13/05/98, o Ministério da Saúde editou a Portaria 2.616/98,
com diretrizes e normas para a execução destas ações em adequação da antiga
regulamentação da lei federal
Nesta nova Portaria, há melhor especificação da composição da CCIH,
Resumidamente, a equipe que coordena as ações do controle de infecção
hospitalar deve ter entre as suas principais atribuições:
Atualizar-se teoricamente sobre o tema, sendo o respaldo científico-
legal de toda comunidade hospitalar.
Avaliar todos os cuidados prestados direta ou indiretamente ao
paciente a fim de se identificar problemas e apontar soluções.
Medir o risco de aquisição de infecção hospitalar, avaliando
prioridades para seu controle, auxiliando toda comunidade hospitalar
na aplicação de recursos técnicos financeiros.
Verificar a necessidade de programas educativos e colaborar na sua
execução.
Intermediar as relações do hospital com as autoridades sanitárias.
O profissional do controle de infecções deve ser uma fonte permanente de
consultas para toda a equipe hospitalar, por isso deve estar sempre
atualizado tecnicamente e ter um bom relacionamento com todos,
. O espírito do trabalho em grupo deve nortear todas as interseções do
controle de infecção com a equipe de atendimento.
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Estes dados, ao lado do estímulo à integração de todos os profissionais ,
são os principais produtos do controle de infecção.
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Embora a ocorrência de um episódio de infecção hospitalar não signifique
automaticamente falta de qualidade assistencial, existe um intercâmbio
metodológico entre as comissões de controle de infecção e dos grupos
internos de qualidade. Tanto o controle de infecção hospitalar como o de
qualidade fundamentam suas ações em dados epidemiológicos e no estímulo ao
trabalho em equipe*
IV. Porque devemos controlar as infecções hospitalares
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O custo direto das infecções hospitalares é aquele gasto no diagnóstico e
tratamento do paciente que adquiriu esta patologia. Inclui diárias
adicionais, novos exames subsidiários laboratoriais ou de rádio imagem, o
pagamento dos profissionais de saúde, o tempo de trabalho por eles
despendido, inclusive no regime de isolamento as vezes indicado quando
identificamos germes multirresistentes e finalmente, os custos com
medicamentos e insumos.
Concluímos então que um grupo de pessoas com conhecimentos, habilidades e
apoio recíproco, pode conseguir resolver problemas de grande complexidade e
crônicos, agindo em conjunto, desde que preparadas e treinadas para tais
atividades.
http://www.ccih.med.br/ih.html#conceito
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhelinha.jsp?grupo=0337401FR18IT3&se
qlinha=5
http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/2616_98.htm