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Pesquisa Bibliografica

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8 INTRODUÇÃO O primeiro transplante de órgãos no Brasil aconteceu em 1964, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, quando um paciente de 18 anos, recebeu um rim de uma criança de nove meses, portadora de Hidrocefalia. Nos anos seguintes iniciaram os transplantes entre vivos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, onde começaram pesquisas para transplantes de órgãos e tecidos. O processo de doação de órgãos é composto por uma série de ações e procedimentos que podem transformar um potencial doador em um doador efetivo. (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE, 2002) Identifica-se como provável doador aquele que em situação de morte encefálica não represente riscos ao receptor nem contraindicações clínicas para o transplante. Este processo se inicia no diagnóstico clínico e se finaliza com a autorização dos familiares para a doação dos órgãos. (SANTOS; MASSAROLLO, 2005) No Brasil, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o órgão que controla os transplantes em todo território nacional, regulamentado pela lei 10.211 de 23/03/2001 que substituiu a lei 9.434 de 04/02/1997, onde foi criado todo o sistema. Em seu artigo 4º é exigido que, toda retirada de tecido, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outras finalidades terapêuticas, dependerá da autorização do cônjuge ou parente maior de idade obedecida a ordem da linha sucessória, reta ou colateral até o segundo grau inclusive. Tem como objetivo regulamentar e fiscalizar todas as entidades que participam do processo de doação, captação e transplante de órgãos e tecidos em todo território nacional. (BRASIL, 1997, 2001) Relaciona-se a esta concepção os avanços tecnológicos e científicos na saúde, que tem colaborado para o aumento expressivo do número de transplantes, embora insuficiente diante à demanda de receptores em todo território nacional. Vários estudos demonstram que existe uma enorme predisposição de potenciais doadores, porém a realidade mostra um enorme número de recusa de doação por parte dos familiares, que pode estar relacionado diretamente ao processo de captação em uma de suas fases, a entrevista. (SANTOS; MASSAROLLO, 2005) 9 O não entendimento das questões relacionadas à morte encefálica por fatores clínicos e fisiológicos, onde o familiar vê seu parente monitorado e com vida clínica, não admite sua perda; os fatores de ordem religiosa ou até mesmo ordem sentimental contribuem com esta recusa. (SANTOS, 2010) O objetivo desta pesquisa é descrever como o enfermeiro poderá atuar junto à família de prováveis doadores com morte encefálica, e pesquisar junto à literatura nacional como tem sido estudada, dentro do processo de captação de órgãos, a abordagem humanizada do enfermeiro na entrevista junto à família de um provável doador com morte encefálica na atualidade. Tratar-se de um estudo descritivo, o qual será desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica de artigos relacionados ao assunto. A busca será realizada em periódicos eletrônicos e em banco de dados: SCIELO, LILACS e BIREME. Além dos artigos serão consultados livros da área de enfermagem, no acervo da biblioteca da Universidade Bandeirantes e bibliotecas da USP e UNIFESP. Os dados serão coletados com os seguintes descritores: Entrevista; Humanização; Transplante de Órgãos; Captação de Órgãos; Papel do profissional enfermeiro onde utilizará o referencial teórico do período de 2006 a 2012, publicados na literatura nacional. Após a seleção dos artigos, será elaborada a leitura dos mesmos e serão selecionados os artigos que atendem os objetivos do estudo. A apresentação dos dados será realizada pelo método descritivo. Por acreditar que esta fase do processo é fundamental para a concretização da doação, surgiu o interesse em realizar esta pesquisa bibliográfica junto à literatura nacional, na busca de artigos que versem sobre esta temática e como é e em quais situações o enfermeiro interagirá junto aos familiares, proporcionando condições reais para que o processo tenha sucesso. Poucos foram os artigos encontrados relacionados à entrevista dos familiares de um provável doador dentro do processo de captação. A recusa dos familiares na entrevista demonstra inúmeros fatores que podem ser alterados mudando esta realidade; os profissionais enfermeiros e os fatores relacionados à doação podem esclarecer a estes familiares a importância da doação de órgãos. Esta fase deixa evidente a importância da atuação do profissional enfermeiro junto à família do possível doador, estes profissionais devem atuar e desenvolver 10 ações para esclarecer esses familiares, num processo dinâmico, humanizado e contínuo. (MOLINA, 2009) Segundo Santos (2010), quando um transplante é bem sucedido, uma vida é salva e com ele resgata-se também a saúde física e psicológica de toda a família envolvida com o paciente transplantado. Essas vidas dependem da autorização da família do paciente com morte encefálica comprovada para autorizar a doação, um gesto que pode transformar a dor da morte em continuidade da vida. 11 1. DOAÇÃO E CAPTAÇÃO O primeiro transplante no Brasil aconteceu em 1964 no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, quando um paciente de 18 anos recebeu um rim de uma criança de nove meses, portadora de Hidrocefalia. Nos anos seguintes iniciaram-se os transplantes entre vivos no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, onde começaram pesquisas para transplantes de órgãos e tecidos. (SES-RJ, 2012) Desde 1980, o transplante de órgãos deixou de ter caráter experimental, passando a ser umas das opções terapêuticas para pacientes com doenças orgânicas em que o tratamento convencional não foi eficaz, grande parte do sucesso desta alternativa, deve-se a técnicas operatórias e ao avanço tecnológico da área. Cuidados e acompanhamento pós-operatório garantem maior sobrevida ao receptor, desta forma, tornou-se crescente o número de patologias, cujo tratamento inclui-se o transplante, consequentemente aumentou-se o número de cadastros nas filas de espera, porém a oferta de órgãos e tecidos não suprem esta demanda. (SIQUEIRA, 2010) Dentro deste contexto, o Brasil não ocupa um lugar muito favorável, os dados do ano de 2008 mostram que o país alcançou uma taxa de 7,2 doadores efetivos por um milhão de habitantes. (GARCIA et al, 2006; RBT, 2008) Tabela 1 - Dados globais da Captação de Órgãos - 2008 Potenciais Doadores 5992 32,5 pmp Não Doadores 4675 78,0 pmp Doadores Efetivos 1317 7,2 pmp Retirada de Múltiplos Órgãos 1067 81,0 % Não Autorização Familiar 1329 22,2 % Contra Indicação Médica 839 14,0 % Parada Cardiorrespiratória 1416 23,6 % Morte Encefálica não confirmada 389 6,5 % Infraestrutura Inadequada 09 0,2 % Outros 693 11,6 % Fonte: Registro Brasileiro de Transplantes Jan/Dez, 2008. 12 Esses dados trazem uma nova reflexão e evidencia uma problemática de ordem sociocultural, ética e legal: a escassez na oferta de órgãos para o transplante mostra. Essa preocupante situação enfrentada no Brasil em uma realidade em maior ou menor grau, dependendo de como esteja estruturado o programa, mas comum a todos, tem motivado os estudos no intuito de fomentar propostas que visem o aumento do número de captações. Esta dificuldade se dá por vários fatores de ordem cultural e médico-legal associados ao reconhecimento tardio e a abordagem inadequada aos familiares de um provável doador com morte encefálica. (SIQUEIRA, 2010). Quando identificado e confirmado a morte encefálica, o hospital notifica a central de transplantes de sua região, e esta, passa a informação para o OPO (Organização de Procura de Órgãos) da região. (LIMA, 2006) O enfermeiro da OPO se encaminha ao hospital e inicia a avaliação do provável doador com morte encefálica, com base nos dados clínicos e antecedentes médicos mais exame laboratorial. Avaliam-se os órgãos e a sorologia para afastar possíveis doenças infecciosas, testa a compatibilidade com os prováveis receptores que aguardam nas filas de transplantes de todo o Brasil. (LIMA, 2006). Graças à criação do Sistema Nacional de Transplantes, o Brasil figura hoje como um dos países com maior número de transplantes realizados. O país possui, em quantidade e investimento, o maior programa público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. O SUS responde por 92% dos transplantes realizados no Brasil. O processo de captação se inicia com a confirmação da morte cerebral que é a parada completa e irreversível de todas as funções, por trauma ou doença que impeça a circulação sanguínea no cérebro, que leva a morte encefálica permanente e irreversível. (MS; BVS 2008) Como já dito, no Brasil a avaliação da morte encefálica deve ser acompanhada de exames complementares, mesmo no caso de pacientes não doadores. Estes servem para corroborar com o diagnóstico. (SNT – MS 2001) Para confirmação do diagnóstico de morte encefálica, são necessários a confirmação de 03 (Três) médicos diferentes, um especialista, um clínico e um de exames e que não façam parte da equipe de transplantes. Todo este processo é complementado com exames de imagem (Angiografia) e (Eletroencefalograma) que é feito por duas vezes, para confirmação final das funções cerebrais. (ABTO, 2008). 13 Há alguns testes para dar prosseguimento ao diagnóstico de morte encefálica, estes testes podem ajudar ao diagnóstico final são eles:  Foto motor: Pálpebras fechadas, abrir e incidir feixe de luz em cada pupila, as pupilas devem estar fixas, sem resposta foto motora ou consensual, com tamanho médio (4 a 6 cm) ou dilatado (6 a 8 cm).  Córneo-palpebral: Abrem-se as pálpebras e com ajuda de um instrumento fino e delicado (SWAB) é realizado um estimulo direto da córnea, próximo à esclera. Na morte encefálica não ocorrerá o fechamento reflexo das pálpebras.  Óculo-vestibular: Antes do exame deve-se certificar que não há obstrução do canal auditivo por cerúmen ou qualquer outra condição que dificulte ou impeça a correta realização do exame. Com a cabeceira do leito elevada a 30º, é realizada a infusão de 50 ml de líquido frio no conduto auditivo externo. Deve-se observar por um minuto a ausência de movimentos oculares. O teste deve ser realizado bilateralmente e deve-se aguardar ao menos cinco minutos entre um ouvido e outro.  Traqueal: este reflexo pode ser testado através da aspiração da cânula oro traqueal ou traqueostomia, da fricção da traqueia ou da colocação de abaixador de língua na região posterior da língua. Na morte encefálica não ocorrerá o reflexo da tosse ou náusea. Há estudos que contestam a utilização do "teste de apneia" como parte integrante de protocolos para o diagnóstico de morte encefálica, referindo que o mesmo pode induzir ou colaborar para a morte encefálica a qual se pretende constatar. Referem-se como efeitos nocivos determinados pelo teste de apneia a hipóxia (pouca oxigenação), não prevenida em todos os casos apesar de precauções aconselhadas, a hipercapnia (inegável, já que é o próprio objetivo do teste e que provoca piora da hipertensão intracraniana nesses pacientes), acidose respiratória abrupta (inevitável e determinante de graves consequências sobre a 14 função cardiovascular), hipotensão severa (capaz de provocar colapso circulatório intracraniano irreversível induzindo a morte das células neuronais) e parada cardíaca fatal. Obviamente estas constatações estão relacionadas às condições e peculiaridades na realização do teste. (SNT, MS 2001) Teste de apneia – o paciente é submetido à ventilação mecânica com oxigênio a 100% durante 10 minutos (Pré-oxigenação), ao final dos quais se realiza a análise dos gases arteriais. Desconecta-se o ventilador da cânula endotraquial, introduzindo nesta, cateter em posição acima da carina (saliência antero-posterior da traqueia) com fluxo de 6L/Min. de oxigênio, e observam-se movimentos respiratórios torácicos e abdominais. O teste é interrompido a qualquer momento se houver queda na saturação de oxigênio (por oximetria), instabilidade hemodinâmica ou movimentos respiratórios. Caso contrário, o período de observação estende-se por 10 minutos, ao final dos quais se faz nova análise gasométrica arterial e reconectase o ventilador. O teste é considerado positivo – Apneia Absoluta – se o valor final de PaCO² for igual ou superior a 55mmHg, considerado suficiente para estimular os centros respiratórios. (ANDRADE et al, 2007) Uma pessoa com morte encefálica pode salvar a vida de outras dez com a doação de órgãos, incluindo pele, ossos e tendões, e esse número cresce ainda mais. Mesmo depois que o coração para, existe possibilidade de doação: as córneas podem ser retiradas até seis horas após o óbito, e a pele, num prazo de doze horas. (SNT- MS, 2008) O doador com morte encefálica pode doar os seguintes órgãos: coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas e intestinos, córneas, partes da pele não visíveis, ossos, tendões e veias. É imprescindível a assinatura do termo de doação de órgãos e tecidos pelos familiares, mesmo que o doador tenha manifestado em vida a vontade pela doação de seus órgãos. (SILVA, 2009) Os cuidados com os transplantes começam com o doador. Somente uma equipe com alto nível de treinamento e qualificação pode realizar o procedimento do início ao fim. Logística, médicos e enfermeiros atuam contra o tempo no preparo do paciente até a manutenção do transplantado. (SNT-MS, 2001) Todo candidato a um transplante entra na lista única de espera, independentemente do hospital em que esteja internado, com exceção dos que precisam de um rim, porque nestes casos a avaliação da compatibilidade não leva 15 em conta apenas o tipo sanguíneo. Já o doador considerado ideal é o de perfil jovem que tenha sofrido trauma encefálico. Para um transplante bem feito um hospital precisa de um serviço de enfermagem qualificado, que conheça imunossupressão, que é necessária para evitar a rejeição ao novo órgão e facilitar o desenvolvimento de infecções nos pacientes. (SNT- MS, 2008) 1.2. Coren SP A atuação do enfermeiro na captação e transplante de órgãos e tecidos, é normatizada pela Resolução COFEN nº 292/2004, em seu artigo 1º do capitulo I que, quando do doador em morte encefálica, cabe a esse profissional planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os procedimentos de enfermagem, por meio dos seguintes procedimentos: a) Notificar à CNNCDO (Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos), a existência de potencial doador. b) Entrevistar o responsável legal do doador, solicitando consentimento livre e esclarecido por meio de autorização da doação de órgãos e tecidos por escrito. c) Garantir ao responsável legal o direito de discutir com a família sobre a doação, prevalecendo o consenso familiar. d) Durante a entrevista com a família ao representante legal, fornecer as informações sobre o processo de captação que incluí; o esclarecimento sobre o diagnostico da morte encefálica; o anonimato da identidade do doador; os exames a serem realizados; a manutenção do corpo do doador em UTI; a transferência e procedimento cirúrgico para a retirada; auxílio funeral e a interrupção em qualquer fase deste processo por motivo de parada cardíaca; exames sorológicos positivos ou desistência familiar da doação. 16 e) Aplicar a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) no processo de doação de órgãos e tecidos. Todos os profissionais devem ser capacitados para a realização de procedimentos de enfermagem, devendo essa capacitação ser realizada conforme recomendações de protocolo institucional baseado em recomendações científicas atuais, além de ser registrado em documento institucional para este fim. Estes procedimentos devem sempre ter respaldo em fundamentações cientificas para garantir a segurança do paciente e dos próprios profissionais, além de serem realizados mediante a elaboração efetiva do processo de enfermagem, previsto na resolução COFEN nº358/2009. Sendo que esta execução deve obedecer à legislação vigente e ao código de ética dos profissionais de enfermagem. (COFEN, 2004) 17 2. ABORDAGEM E ENTREVISTA Avaliar a maneira de como a abordagem à família de um provável doador pode influenciar todo o relacionamento humano para qualquer pedido, é preciso compreender que a noticia da morte de um ente querido mexe com o lado emocional da família, que estão deprimidos e tristes com sua perda, e nesta situação torna-se mais difícil entrar no assunto de doação de órgãos. (SOUZA; BARRETO, 2006) A entrevista familiar é um momento delicado em todo o processo de doação, pois concretiza para a família a morte definitiva de seu ente querido e o fim de todos os recursos pela vida. Existem orientações sobre qual profissional deva abordar os familiares de um provável doador, ele requer preparo e capacitação para a entrevista, pois esta fase é fundamental para à autorização da doação de órgãos. (RECH, 2007) A entrevista pode ser dividida em quatro fases para ser bem sucedida: A preparação do clima, a introdução do assunto, a sondagem de duvidas e a decisão e resposta da família. É nesse momento em que é oferecida à família a possibilidade da doação, sendo necessário promover acolhimento e esclarecimento à cerca de todo o processo de doação e transplante. Após passada a primeira fase, é feito o primeiro contato com os familiares do provável doador, abordando para a entrevista que autoriza a doação. A equipe após a avaliação e autorização da retirada dos órgãos, é feita a comunicação à central de transplantes passando as informações colhidas. A central de transplantes de posse de todas as informações começa a consulta de receptores compatíveis ao doador e assim se inicia o processo de retirada dos órgãos. (SANTOS, 2010) O profissional envolvido no processo doação-transplante, principalmente o enfermeiro responsável por esta etapa, deve além de capacidade técnica é imprescindível que possua também competência que propicie o melhor relacionamento interpessoal tais como: empatia, afetividade e principalmente já ter conseguido superar todos os seus próprios conflitos a respeito tanto do processo morte morrer como da doação e transplante, ou seja, ele deve acreditar no processo de doação e transplante. (MOLINA, 2009) 18 Para ter sucesso nesta fase do processo, o entrevistador deve se aproximar dos familiares identificando-se por nome e cargo, calmo atencioso e prestativo esclarecendo duvidas e orientando a família em suas necessidades. A importância nesta hora é estar sempre disposto a ajudar os familiares aproveitando o momento para colher informações, opiniões e selecionar o familiar que tem poder decisivo para iniciar a conversa sobre doação. (SOUZA, 2007) Após ter criado este vinculo próximo a este familiar e conquistar sua simpatia, poderá convida-lo a um local calmo e tranquilo, onde iniciará a abordagem sobre o assunto da doação. (SOUZA; BARRETO, 2006) Nenhum profissional que participou da equipe que tratou do paciente durante a internação deve participar da entrevista. A entrevista não pode ser iniciada dentro da UTI ou nos corredores próximos, deverá ser em local apropriado e que se faça de uma maneira que os familiares sintam-se seguros ao serem abordados sobre o assunto. Poderá iniciar perguntando aos familiares o que o paciente pensava sobre doação de órgãos, e se ele alguma vez comentou sobre o assunto com alguém. Dando este primeiro passo, inicia-se o assunto em foco, perguntando ao familiar se ele autoriza a retirada dos órgãos para transplante, vale destacar que esta conversa tende a respeitar as opiniões dos familiares e de seus conceitos culturais e religiosos não interrompendo a continuidade do assunto. (RECH, 2007) Esclarecer todas as etapas do processo à família ajudará, e muito no entendimento da importância e de como se fará todo o processo de doação, tanto na questão de ordem sigilosa, como na de ordem pratica e na liberação do corpo para o funeral. (RECH, 2007) Não é muito comum que todos os membros da família sejam motivados a doarem, dessa forma o momento da entrevista familiar é com certeza permeada por várias discussões que demandam tempo e requer por parte do entrevistador a habilidade de gerenciar conflitos. O profissional ao conduzir uma entrevista jamais deve demonstrar sinais de impaciência, pois caracteriza para a família pressa e insegurança. Um estudo revelou que, quando o entrevistador identifica na família pré-disposição em doar, algumas informações são repassadas de forma mais clara e detalhadas dispensando à família mais tempo, refletindo positivamente nos índices de aceitação (RECH; FILHO, 2007). 19 Apresentando todo o processo de doação e captação, mostra a importância da doação e como esta beneficiará aos receptores, demonstre que o tempo de retirada dos órgãos não interfere no andamento das questões do funeral e da liberação do corpo. O entrevistador deve manter a conversa sondando duvidas por meio de perguntas amistosas, até que o familiar chegue a uma decisão. (SOUZA; BARRETO, 2006) Nos casos em que a família não aceite a doação, o entrevistador deverá manter-se sereno e solidário na decisão, sem tomar qualquer atitude que possa causar constrangimento ou arrependimento para a família. Mas se a resposta não for dada com convicção, o entrevistador de modo sutil, deverá esclarecer as dúvidas pendentes no intuito de que a resposta seja dada com certeza. (SOUZA; BARRETO 2006). 20 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Esta revisão proporcionou maior esclarecimento a cerca da problemática na abordagem e entrevista à família, possibilitando a identificação dos principais fatores que exercem influencia nesta fase do processo de doação de órgãos para transplante. (RECH, 2007) Dentro deste contexto podemos descrever que os maiores fatores na recusa por parte dos familiares de um provável doador, estão relacionados ao profissional enfermeiro, ao conceito de morte encefálica, cultura e religião. (SANTOS, 2010) A recusa familiar é sem duvida um fator importante que contribui para os baixos números de autorizações para doação. No entanto devem-se considerar todas as questões envolvidas que refletem diretamente na posição da família na hora da decisão. Embora a recusa reflita diretamente na obtenção de órgãos para transplante, as evidências apontam que antes de haver a recusa das famílias a uma grande negligencia e despreparo dos profissionais envolvidos neste processo. A entrevista acontece em um momento de fragilidade e dor, de modo que existe a necessidade de se criar um protocolo bem definido para a condição de abordagem e entrevista. (MOLINA, 2009) Diante do que foi pesquisado é possível avaliar que a entrevista no processo de doação deve seguir um roteiro semiestruturado que permita o entrevistador conduzi-la de forma sutil para que não haja divagações, possibilitando ao entrevistado uma melhor compreensão de todo o processo. Devemos lembrar que cada ocasião se faz de forma adequada e diferenciada, por uma dinâmica única segundo o tema abordado, alterando de acordo com a necessidade de cada família. (SOUZA, 2007) 21 4. CONCLUSÃO Este trabalho possibilitou identificar em varias publicações a importância do papel do enfermeiro na abordagem e entrevista aos familiares de um provável doador de órgãos. A grande dificuldade encontrada por estes profissionais no momento da abordagem, o clima de tristeza e pesar dos familiares, as dificuldades e conceitos na aceitação da morte, o desconhecimento dos fatores do que é morte encefálica que contribuem nesta aceitação, tende a influenciar a família na decisão. Por isso, a implementação de um protocolo assistencial e dinâmico por parte do profissional enfermeiro interferirá diretamente na decisão da família em doar os órgãos. Este protocolo dará ao profissional enfermeiro a possibilidade de avaliar e discernir, em que momento pós-morte deva acontecer a abordagem e entrevista com a família. Qual duvida possa ser esclarecida e como este profissional poderá ajudar a desvelar estas questões até mesmo de ordem burocrática, o enfermeiro da captação de órgãos está ligado diretamente ao processo que é fundamental para a decisão da família. 22 REFERÊNCIAS ANDRADE, A. F. de et al. Teste de apneia para morte encefálica. Rev. Med. (São Paulo). jul.- set.; 86(3):138 – 43, 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS (ABTO). Disponível em: Acesso em: 30 de maio de 2011. BRASIL. Lei n° 9.434 de 04/02/1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, e dá outras providências. Disponível em: Acesso em 30 de maio de 2011. ______. Decreto Lei nº 10.211 de 23/03/2001. Altera os dispositivos da Lei 9.434, de quatro de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Disponível em:< http://dtr2001.saude.gov.br/transplantes/portaria/lei10211.htm.> Acesso em 30 de maio de 2011. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Associação Nacional de Transplante. Processos de captação de órgãos. Disponível em: Acesso em 22 de abril. de 2012. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE - COFEN, Conselho Federal de Enfermagem, Resolução 292/2004, Regulamenta: A atuação do Enfermeiro na Captação e Transplante de Órgãos e Tecidos no Brasil (2004). GARCIA, V. D. et al. Transplantes de órgãos e tecidos. 2ªed. São Paulo: Segmento, 2006. LAKATOS, E. A; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2001. LIMA, Adriana Ap. Faria; SILVA, Maria Julia Paes da; PEREIRA, Luciane Lucio Percepção do enfermeiro do OPO. Porto Alegre (RS) Mundo Saúde, p. 409-416 jul-set, 2006. 23 MOLINA, Fabiana R.S. Fatores que interferem na tomada de decisão. Monografia. UNIFESP, 2009. MORAES, Edvaldo Leal; MASSAROLLO, Maria C. C. Braga. Recusa de doação de órgãos e tecidos para transplantes por familiares de potenciais doadores. São Paulo, Acta Paul. Enfermagem, v.22, n.2, p. 131-5, 2009. RECH, Tatiana H.; FILHO, Edson M. Rodrigues. Entrevista Familiar e Consentimento. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, vol.19 jan-mai, 2007. ROTHER, Edna. Revisão sistêmica X revisão narrativa. Acta Paul. Enfermagem. vol. 20, n.2, p. 5-6, 2007. Disponível em: Acesso em 19 fev. de 2011. RBT – Registro Brasileiro de Transplantes. Ano XIV, Nº2, Jan/Dez, 2008. SANTOS, Marcelo José; MASSAROLLO, Maria C. C. Braga. Processo de doação de órgãos: percepção de familiares de doadores cadáveres. Revista Latino Americano de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.13, n.3, maio/jun, p. 382-7, 2005. SANTOS, Marcelo José. A entrevista familiar no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante. 143p. Tese (Doutorado). Faculdade de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Sistema Estadual de Transplantes. Doação de órgãos e tecidos. São Paulo: SES, 2002. Disponível em: SECRETARIA DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO. PET (Programa Estadual de Transplante) Disponível em: Acesso em 09 de agosto de 2012. SILVA, Azi S.; GUIMARÃES, Tatiane S.; NOGUEIRA, Gisele P. A atuação do enfermeiro na captação de órgãos. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano VII, vol. 19, jan./mar. 2009. 24 SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTES (SNT). Acesso em agosto de 2012. Disponível em: SOUZA, Sidney Júlio F.; BARRETO, Stella; Entrevista da família para obtenção de órgãos e tecidos para transplante. Arquivo Brasileiro de Oftalmologia 62(6), Dez. 2006.