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Percepção Ambiental, Educação e Ação
Avaliar o pensamento ambiental
Estudar os aspectos envolvidos na construção da "Percepção Ambiental"
na contemporaneidade, considerando todos os paradigmas que diretamente
interferem na educação ambiental, é um desafio que conjuga muitos esforços,
e muito mais que re-significar (os significados óbvios banais), e
simbolismos, este pensamento novo influi pragmaticamente na dinâmica do
pensamento e ações ambientais, não somente no campo das políticas publicas,
mas também na mudança comportamental de todos.
Percepção Ambiental e Sociedade X Cultura
A construção de valores pessoais e coletivos a cerca de qualquer tema,
é resultado de construções culturais históricas, desenvolvidas ao longo de
gerações com base em variados fatores como: costumes, mudanças naturais
gradativas ou drásticas, experiências bélicas, catástrofes naturais,
catástrofes humanas, descobertas e avanços da tecnologia, descobertas
arqueológicas, desenvolvimento de afetividade com símbolos locais ou
regionais e até mesmo internacionais, que possam de alguma maneira criar
identidade, além de evoluções e mudanças de mentalidade ou "espírito de
época", pois as mudanças são constantes.
Numa visão holística, é possível prever e projetar determinados
comportamentos, manipular informações, criar demandas por produtos ou
imagens, estilos de vida, maneiras diferentes (imediatistas, alienadas) de
se pensar a vida, etc. Com auxilio da indústria cultural, por exemplo, se
criam/reciclam-se demandas absurdas por itens de consumo absurdamente
fúteis e frívolos, só para ficarmos no campo do comportamento do
consumidor.
Definir, portanto o grau de percepção de algum tema é tarefa que deve
considerar todo esse quadro de fatores históricos, regionais, temporais, e
cognitivos. Avaliar isoladamente como um determinado grupo pensa de forma
especifica algum tema, seja ele de relevância local ou não, tem que partir
de sua perspectiva construída, buscar desconstruir esses valores pré-
concebidos é indispensável para se inserir qualquer pensamento critico, que
de alguma forma tenha conflito direto com a mentalidade estabelecida até o
momento. Segundo o antropólogo estruturalista francês Claude Lévi-Strauss:
"cultura é todo sistema simbólico de uma criação que se acumula na mente
humana", sem nos aprofundarmos muito no campo antropológico dos conceitos
de cultura, a cultura subjetiva que nos interessa neste ensaio, cabe
justificar que esse conceito de cultura (subjetiva) pode num sentido mais
amplo ser aplicado quando queremos nos referir ao conjunto de valores que
construímos simbolicamente inclusive para designar a percepção de mundo, ou
visão de mundo, seja numa escala proximal ou global.
Sendo assim é correto afirmar que o estudo do Núcleo de Estudos de
Percepção Ambiental trabalhou nos estudos apresentados no texto "Uso da
Percepção Ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às
áreas educacional, social e ambiental", com um "micro-cosmos" que apresenta
o reflexo direto de seu contexto histórico-cultural, considerando o
perfil/nível de escolaridade do público estudado/entrevistado, acesso a
informações confiáveis sobre os temas relacionados às questões de
sensibilização ambiental, a temática variada dos questionários, sua
complexidade, identificação dos papeis na questão de educação ambiental
abordada no questionario, sua grandeza matemática, e resultados, no entanto
esta amostragem (limitada estatisticamente) da mentalidade deste grupo, não
prejudica a aplicabilidade desta metodologia de analise do nível de
percepção ambiental, pois é ferramenta de diagnostico prévio do publico
alvo da Educação Ambiental, pois sem ter em mãos um embasamento cientifico
para criar estratégias e planos de ação, a EA surtirá menor eficácia no
campo pratico.
Educação Ambiental e Gestão Ambiental
Qualquer processo de gestão ambiental que não leve em consideração as
diversas culturas, tem grande chances de fracasso, pois existem centenas de
fatores que podem concorrer para perturbações de qualquer sistema de
trabalho que vise implementar ações educativas, e de produção com
preocupação ambiental.
No mesmo espectro de alcance um estudo dessa natureza e porte, tem
real importância como instrumentação pragmática de ações que tenham como
publico alvo e objetivos estratégicos atingir a cultura local de forma a
alterar, ou criar "ruídos" que descontinuem comportamentos nocivos ao meio,
consequentemente as ações educativas, e os processos gerenciais que
melhorem a qualidade ambiental terão maior impacto, e podem sim desta forma
bem instrumentada ter um poder transformador que tanto se espera dos
programas de EA e GA.
Exemplos práticos de uso bem feito da metodologia de percepção
ambiental em uma ação educativa/gestão ambiental, seria muito estranho
criar um programa de gestão ambiental local em uma comunidade de
pescadores, por exemplo, que use iscas explosivas, quando não se conhecem
os motivos culturais que levaram o seu uso, quantos usam, quem fornece, o
que os pescadores pensam e como vêem sua metodologia de trabalho frente aos
impactos que causa, ou porque determinado tipo de pesca é mais atrativa em
detrimento de outra atividade de subsistência (por menos impactante que
sejam ao meio) possível na região. Será sempre inócua qualquer tentativa de
ação ambiental que não leve em consideração a cultura local, e os valores
dos patrimônios culturais intangíveis por exemplo.
Por fim conclui-se que sem termos contato com a natureza da percepção
ambiental que se tem em determinado grupo, não teremos grandes avanços no
campo da mudança de comportamento, pois também é sabido que muitos não têm
contato com conceitos científicos reais e confiáveis sobre as condições de
nosso planeta ou mesmo que desdobramentos o consumo consciente e
responsável teriam em nossa sociedade.
A ação ambiental na fala do teólogo Leonardo Boff é uma questão
(humanitária) de tomar contato com o problema (sua percepção), e buscar a
participação no processo de mudança, pois se trata de uma condição comum a
todos, saber-se membro de uma comunidade global, irmãos solidários em
atender as diferenças econômicas e sociais, as negligencias que fazem
possível a miséria, e só a união em torno das necessidades, a visão
comunitária da mudança, cooperação e ação, podem reverter esse quadro. Não
tem mudança segunda Boff, se não houver alianças sinceras, organizadas, em
prol da melhoria, cidadania ativa e busca constante de uma percepção de que
todos estão juntos e que o problema de um é de todos.