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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA UVA/EMBRAPA
DISCIPLINA: FORRAGICULTURA E PASTAGENS
PROFESSOR: FABIANNO CAVALCANTE DE CARVALHO
SOLOS SOB O BIOMA CAATINGA: CLASSIFICAÇÃO E MANEJO
LUIZA ELVIRA VIEIRA OLIVEIRA
SOBRAL-CE, 2010
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO PÁG. 03
1.1 - CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA CAATINGA PÁG. 03
1.2 - CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS SOB O BIOMA CAATINGA PÁG. 04
2 - CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DA CAATINGA PÁG. 05
2.1 – PERFIL DO SOLOS PÁG. 06
2.2 - CLASSES DE SOLOS PÁG. 07
3 – MANEJO DOS SOLOS DA CAATINGA PÁG. 11
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS PÁG. 14
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PÁG. 14
1- INTRODUÇÃO
Solo pode ser bem definido por agrônomos como o material mineral ou
orgânico, inconsolidado, que recobre a superfície do planeta e serve como o
meio natural para o crescimento das plantas terrestres. Entre o solo e o
material de onde ele é derivado, existem diferenças marcantes do ponto de
vista físico, químico, biológico e morfológico (LEPSCH, 2002)
Caatinga (do Tupi: caa (mata) + tinga (branca) = mata branca) é o único
bioma exclusivamente brasileiro, onde grande parte do seu patrimônio
biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta. A
caatinga ocupa uma área de cerca de 750.000 km², cerca de 10% do território
nacional, englobando de forma contínua parte dos estados do Maranhão,
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia (região Nordeste do Brasil) e parte do norte de Minas Gerais (região
Sudeste do Brasil) (SILVA, 2003).
A caracterização das classes de solos sob o bioma caatinga mostra a
diversidade existente na região semi-árida, fornecendo informações precisas
para diagnosticar o estádio atual em que se encontra, após a utilização
desenfreada por centenas de anos pela agropecuária, em face de fragilidade
e áreas severamente em estado de degradação (JACOMINE, 2002).
1.1- CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA CAATINGA
Segundo Sampaio et al. (2000) a caatinga caracteriza-se como:
Apresenta uma vegetação típica de regiões semi-áridas com perda de
folhagem pela vegetação durante a estação seca. A vegetação da caatinga
também não é tão uniforme como se pensa. Tem, pelo menos, três níveis. O
primeiro é arbóreo, com uma altura variada de oito a doze metros, árvores
de ótimo porte; o segundo é arbustivo, com uma altura de dois a cinco
metros; o terceiro é herbáceo, com menos de dois metros. É uma vegetação
que se adaptou ao clima. No tempo da seca, perde as folhas, mas não morre;
adormece, hiberna. Várias plantas armazenam água, como o umbuzeiro, que tem
batatas nas raízes, onde guarda reservas para os tempos secos. Muitas têm
raízes rasas, praticamente captando a água na superfície, no momento da
chuva.
Tem uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos,
em torno de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por exemplo,
embora a média para anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, pode chegar a
apenas 200 mm nos anos secos. A temperatura se situa entre 24 e 26 graus e
varia pouco durante o ano. Além dessas condições climáticas rigorosas, a
região das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem
para a aridez da paisagem nos meses de seca.
O mês do período seco é agosto e a temperatura do solo chega a 60ºC. O
sol forte acelera a evaporação da água das lagoas e rios que, nos trechos
mais estreitos, secam e param de correr. Quando chega o verão, as chuvas
encharcam a terra e o verde toma conta da região.
Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As
árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A
fauna volta a engordar. Através de caminhos diversos, os rios regionais
saem das bordas das chapadas, percorrem extensas depressões entre os
planaltos quentes e secos e acabam chegando ao mar, ou engrossando as águas
do São Francisco e do Parnaíba (rios que cruzam a Caatinga). Porém, o solo
raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura
elevada (médias entre 25oC e 29oC) provoca intensa evaporação. Por isso,
somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é
maior, a agricultura se torna possível.
1.2 - CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DA CAATINGA
Conforme o Sistema Brasileiro de classificação de solos (1999) de forma
geral, o solo é raso, rico em minerais, mas pobre em matéria orgânica, já
que a decomposição desta matéria é prejudicada pelo calor e a luminosidade,
intensos durante todo ano na caatinga.
Fragmentos de rochas são freqüentes na superfície, o que dá ao solo um
aspecto pedregoso. Este solo com muitas pedras dificilmente armazena a água
que cai no período das chuvas.
Há vários tipos diferentes de rochas. Nas áreas de planície as rochas
são cobertas por uma camada de solo bastante profunda, com afloramentos
rochosos ocasionais, principalmente nas áreas com maiores altitudes. Tais
solos (latossolos) são solos argilosos (embora a camada superficial possa
ser arenosa ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em
nutrientes. Afloramentos de rocha calcárea de coloração acinzentada ocorrem
a oeste.
A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado derivado de
rochas sedimentares areníticas e quartzíticas, uma concentração alta de
óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada. Os solos
gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em
nutrientes e altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos
rasos, que se tornam mais profundos onde a topografia permite; afloramentos
rochosos são uma característica comum das áreas mais altas. Estes
afloramentos rochosos e os solos pouco profundos formam as condições ideais
para os cactos, e muitas espécies crescem nas pedras, em fissuras ou
depressões da rocha onde a acumulação de areia, pedregulhos e outros
detritos, juntamente com o húmus gerado pela decomposição de restos
vegetais, sustenta o sistema radicular destas suculentas.
A presença de minerais no solo da caatinga é garantia de fertilidade em
um ambiente que sofre com a falta de chuvas. Por isso, nos poucos meses em
que a chuva cai, algumas regiões secas rapidamente se transformam, dando
espaço a árvores verdes e gramíneas.
A caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embora não tenha
potencial madeireiro, exceto pela extração secular de lenha, a região é
rica em recursos genéticos, dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado,
o aspecto agressivo da vegetação contrasta com o colorido diversificado das
flores emergentes no período das chuvas.
Os grandes açudes atraíram fazendas de criação de gado. Em regiões como
o Vale do São Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de técnica
apropriada e o resultado tem sido desastroso. A salinização do solo é,
hoje, uma realidade. Especialmente na região onde os solos são rasos e a
evaporação da água ocorre rapidamente devido o calor, a agricultura tornou-
se impraticável.
Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxicos. Depois de
aplicado nas lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo, levado
pela irrigação, e daí para as represas, matando os peixes. Nos últimos 15
anos, 40 mil km2 de Caatinga se transformaram em deserto devido à
interferência do homem sobre o meio ambiente da região. As siderúrgicas e
olarias também são responsáveis por este processo, devido ao corte da
vegetação nativa para produção de lenha e carvão vegetal.
2 - CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DA CAATINGA
Em relação aos indivíduos solos, existem vários sistemas de
classificação. O Brasil, através do Sistema Nacional de Classificação dos
Solos (1999), está desenvolvendo um sistema de classificação ao qual tem
sofrido modificações muito rápidas. Dentre as características usadas para
classificação dos solos brasileiros, existem os horizontes diagnósticos,
que são extremamente importantes tanto do ponto de vista da sistematização
dos solos, como também de grande interesse prático. Esta caracterização é
feita por uma pequena porção da superfície da terra que possui horizontes
ou camadas, que nos permite a interpretação, identificação, classificação
do solo. Esses horizontes e camadas são nomeados com letras, nesse caso
podemos dividir proximadamente os horizontes e camadas do perfil. A
natureza e o número de horizontes variam de acordo com os diferentes tipos
de solo. Os solos geralmente não possuem todos esses horizontes bem
caracterizados, entretanto, pelo menos possuem parte deles (OLIVEIRA, 1992)
2.1 - PERFIL DO SOLO:
Oliveira (1992) definiu os perfis do solo em:
Horizonte O: camada orgânica superficial. É constituído por detritos
vegetais e substâncias húmicas acumuladas na superfície, ou seja, em
ambientes onde a água não se acumula (ocorre drenagem). É bem visível em
áreas de floresta e distingui-se pela coloração escura e pelo conteúdo em
matéria orgânica (cerca 20%).
Horizonte A: camada mineral superficial adjacente à camada O ou H. É o
horizonte onde ocorre grande atividade biológica o que lhe confere
coloração escurecida pela presença de matéria orgânica. Existem diferentes
tipos de horizontes A, dependendo de seus ambientes de formação. Esta
camada apresenta maior quantidade de matéria orgânica que os horizontes
subjacentes B e C.
Horizonte E ou B: camada mineral situada mais abaixo do horizonte A.
Apresenta menor quantidade de matéria orgânica, e acúmulo de compostos de
ferro, argila e minerais. Ocorre concentração de minerais resistentes, como
quartzo em pequenas partículas (areia e silte). É o horizonte de máximo
acúmulo, com bom desenvolvimento estrutural.
Horizonte C: camada mineral de material inconsolidado, ou seja, por ser
relativamente pouco afetado por processos pedogenéticos, o solo pode ou não
ter se formado, apresentando-se sem ou com pouca expressão de propriedades
identificadoras de qualquer outro horizonte principal.
Horizonte R: camada mineral de material consolidado, que constitui
substrato rochoso contínuo ou praticamente contínuo, a não ser pelas poucas
e estreitas fendas que pode apresentar (rocha).
A presença dos vários tipos de horizontes mencionados está subordinada
às condições que regulam a formação e evolução do solo. Como as condições
variam de acordo com as circunstâncias do ambientes (material de origem,
vegetação, clima, relevo, tempo) o tipo e número de horizontes de um perfil
de solo são diferentes.
A qualidade do solo de define pela: espessura (quanto mais espesso for,
maior será o tempo a ser explorado) e fertilidade (solos férteis são
aqueles que possuem minerais e matéria orgânica, os solos inférteis
necessitam de adubação).
2.2 - CLASSES DE SOLOS DA CAATINGA
As diferentes características dos solos permitem compará-los e
classificá-los. A classificação dos solos da caatinga conforme Jacomine
(2002) é:
2.2.1 – LATOSSOLOS
Destacam-se os latossolos amarelos e os vermelho-amarelo. Ocupam
grandes extensões no Sul do Piauí, sertão da Bahia e de Pernambuco (156.721
km²). Apresentam relevo suave, grande profundidade, alta permeabilidade e
baixa capacidade de troca catiônica. São solos profundos, drenados,
porosos, friáveis e com baixos teores de matéria orgânica. Ocorre a
predominância de óxidos de ferro, de alumínio e caulinita, que é uma argila
de baixa atividade, sendo predominante na fração argila dos latossolos.
Esta combinação química, juntamente com matéria orgânica e alta
permeabilidade e aeração conferem ao latossolo uma estrutura fina, muito
estável que facilita o cultivo. Em caso de compactação subsuperficial, a
erodibilidade destes solos aumenta, exigindo cuidados redobrados no seu
manejo. Dentro da classificação de latossolos, ainda existe uma subdivisão,
ou seja, eles podem ser classificados de acordo com sua coloração, a qual
reflete maior ou menor riqueza em óxidos de ferro.
2.2.2 - PODZÓLICOS OU ARGISSOLOS
São solos profundos e menos intemperizados do que os Latossolos podendo
apresentar maior fertilidade natural e potencial. Ocupam os estados do
Ceará, Bahia, Pernambuco, rio Grande do Norte e Paraíba (110.00km²). São
solos moderamente profundos a bem drenados. Esses solos são desenvolvidos
basicamente a partir de produtos da intemperização de arenitos, com
seqüência de horizontes A, B e C bem diferenciados e com suas transições
geralmente bem definidas. A principal característica deste solo é a
diferença textural entre os horizontes A e B, visto que no horizonte B
concentra-se teor mais elevado de argila do que no horizonte A, onde,
entretanto, a atividade biológica apresenta-se intensa. O acúmulo de argila
no horizonte B torna os solos podzólicos menos permeáveis, portanto mais
propensos à erosão hídrica;
2.2.3 - BRUNOS NÃO CÁLCICOS
São solos rasos a pouco profundos, bem drenados, com espessura ao redor
de 50cm. Ocupam grandes extensões dos Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco
e Rio Grande do Norte (98.938km²). Solos ricos em bases, B textural de cor
vermelha ou bruno avermelhada. São poucos espesso, maciço ou estrutura
fracamente desenvolvida. Solos minerais, não hidromórficos, com argila em
alta atividade. Moderamente ácidos a praticamente neutros com pH 6,0 a 7,6
e com saturação por bases.
2.2.4 - PLANOSSOLOS
Solos rasos a pouco profundos com horizonte superficial de cores claras
e textura mais leve, contrastando com o horizonte B mais argiloso,
adensado, pouco permeável, com cores de redução, acinzentadas com ou sem
mosqueado em decorrência da lenta permeabilidade e das condições
imperfeitas ou más de drenagem. Ocupam, sobretudo, a zona do Agreste de
Pernambuco e áreas de clima similar ao dos Estados do Ceará, Rio Grande do
Norte, Alagoas, Bahia, Sergipe e Paraíba (68.188k²).
2.2.5- SOLONETZ-SOLONIZADO
Solos pouco desenvolvidos, rasos a muito rasos, possuindo apenas um
horizonte A diretamente sobre a rocha (R), ou sobre materiais desta rocha
em grau mais adiantado de intemperização. Nestes solos pode-se, constatar,
pois, seqüência de horizontes A-C-R ou A-R e, por vezes, o início da
formação de um horizonte (B) incipiente.Estes solos podem ser eutróficos ou
distróficos, quase sempre apresentando bastante pedregosidade e rochosidade
na superfície. Possuem drenagem variando de moderada a acentuada e são,
comumente, bastante susceptíveis à erosão, em decorrência de sua reduzida
espessura.Os de caráter eutrófico possuem, no horizonte A ou AC, reação
moderadamente ácida a praticamente Destacam-se nas margens do rio São
Francisco entre Xique-Xique e Sento Sé, BA; a leste do rio Real no
município de Tobias Barreto, SE; a oeste de Angicos e sudoeste de Açu, RN;
nos municípios de Soledade e Juazeirinho, PB e parte do CE (10.312km²).
Caracterizam-se por uma concentração elevada de sódio e outros sais
solúveis. São comuns nas partes baixas do relevo nas regiões áridas, semi-
áridas e naquelas próximas do mar. São desprovidos de cobertura vegetal
devido à elevada salinidade.
2.2.6 – SOLONCHAKS
São solos salinos que apresentam altas concentrações em sais solúveis,
tendo consequentemente a elevada condutividade elétrica do extrato de
saturação. Durante o período seco é bastante freqüente encontrar crostas de
sais cristalinos à superfície do solo ou na parte das trincheiras. O
horizonte superficial é pouco espesso e apresenta cores desde tonalidades
claras até pretas, o horizonte C de cores acinzentadas, bruno-amareladas e
até pretas, com ou sem mosqueados proeminentes. A textura é variável de
arenosa até argilosa. O pH é moderamente alcalino (7,0 a 8,0). Compreendem
áreas baixas da zona costeira onde há influencia de lençol freático salgado
e em várzeas do interior da zona semi árida, destacando-se o litoral do CE,
próximo à desembocadura dos rios Jaguaribe, Piranji, Aracatiaçu,
Aracatimitim, Acaraú, Coreaú, entre outros. Ocupam áreas litorâneas do Rio
grande do Norte, destacando-se as dos rios Mossoró e Açu. Total de área
ocupada 1.625 km².
2.2.7 - CAMBISSOLOS OU PODZÓLICOS
São solos pouco desenvolvidos em relação aos Latossolos e
Podzólicos. Apresentam horizonte B em formação. São rasos e de elevada
erodibilidade podendo em curto espaço de tempo ocorrer exposição de
subsolo. A fertilidade do horizonte A está condicionada ao tipo de rocha
formadora inicial. São desenvolvidos a partir de diversas rochas,
destacando-se os calcários, granitos e migmatitos, em área de relevo
variando de plano a forte ondulado, sob vegetação do tipo hipo e
heperxerófila. Por serem muito susceptíveis à erosão, normalmente não
permitem um uso intensivo podendo, em condições naturais, ser observada a
ocorrência de erosão laminar moderada, ou severa, bem como em sulcos e
voçorocas. Predominam solos de alta fertilidade natural, com grande
potencial agrícola. Ocupam áreas da Bahia, Rio Grande do Norte e demais
estados do NE (27.500 km²)
2.2.8 – VERTISSOLOS
São solos argilosos que se caracterizam por apresentar pronunciadas
mudanças em volume resultantes da grande movimentação da massa de solo que
se contrai e fendilha quando seco e se expande quando molhado, tornando-se
muito plástico e pegajoso. São solos rasos a profundos, com moderada ou
imperfeitamente drenados, de permeabilidade lenta ou muito lenta, baixa
condutividade hidráulica e horizonte superficial pouco desenvolvido, com
baixos teores de matéria orgânica. Ocupam áreas planas, suavemente
onduladas, depressões e locais de antigas lagoas. Na região da caatinga
destacam-se as áreas de Juazeiro e Baixio do Irecê na Bahia e Souza na
Paraíba, ocupando uma extensão total de 10.187 km² da região das caatingas.
2.2.9 - AREIAS QUARTIZOSAS
Solos arenoquartizosos profundos ou muito profundos, excessivamente
drenados, de cores desde vermelhas até quase brancas, sendo freqüentes as
cores amarelas. São ácidos ou muito ácidos com pH de 4,5 a 5,5 e apresentam
baixa fertilidade natural. São pobres, praticamente sem reservas de
minerais primários pouco resistentes ao intemperismo que possam constituir
fonte de nutrientes para os vegetais. Ocupam maiores extensões nos estados
do Piauí, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, totalizando uma
área de 69.625 km².
2.2.10 – REGOSSOLOS
Solos minerais pouco desenvolvidos, pouco profundos a profundos, tendo
seqüência horizontes A, C, com teores médios a altos de minerais primários
menos resistentes ao intemperismo. São arenosos, cascalhentos ou não, de
cores acinzentadas claras, excessivamente drenados, com horizontes pã. O pH
varia de 5,0 a 6,0, podendo ser encontrado entre 4,0 a 5,0 no agreste
Pernambucano. Presentes em todos os estados, porem ocupam maiores extensões
nos Estados da Bahia, Alagoas e Pernambuco, totalizando 32.750 km² de
extensão.
2.2.11 – LITÓLICOS
São solos minerais muito pouco desenvolvidos, muito rasos (20 a 30cm),
que se caracterizam por apresentarem o horizonte A assentado diretamente
sobre a rocha. Situam-se nas áreas montanhosas. Os locais onde ocorrem este
tipo de solos são, normalmente, destinados às áreas de preservação
permanente. Via de regra são pedregosos e/ou rochosos, moderamente a
excessivamente drenados. O pH varia entre 4,5 a 6,5. Distribuem-se por toda
a zona semi árida, usualmente em áreas mais acidentadas com afloramentos de
rocha, totalizam uma área de 143.374 km² de extensão.
2.2.12 – RENDZINAS
São solos minerais rasos, moderada a imperfeitamente drenados,
derivados de calcários, caracterizados fundamentalmente pela presença de um
horizonte A chernozênico sobrejacente e um horizonte C rico em carbonatos,
possuindo pH neutro variando de 8,0 a 8,5, tendendo a aumentar a
profundidade, com elevada saturação por bases e alta capacidade de troca de
cátions. Ocupam uma área inexpressiva restrita à parte da chapada do Apodi
no Rio Grande do Norte e o oeste de Irecê na Bahia, totalizando uma área de
2.125 km².
2.2.13 - ALUVIAIS
São solos pouco desenvolvidos, provenientes de sedimentos, geralmente
de origem fluvial, apresentando grande heterogeneidade entre si, como
também ao longo do seu perfil. Ocorrem em relevo plano, várzeas e em áreas
próximas aos rios. Suas maiores limitações de uso referem-se aos riscos de
inundações periódicas e elevação do lençol freático (VELLOSO, 1992). Uma
vez que esses solos apresentam horizonte A diretamente assentado sobre o
horizonte C, todos os cuidados devem ser tomados nos trabalhos de
sistematização para uso. Excessivos cortes podem expor o horizonte C,
reduzindo a capacidade produtiva. Ocupam uma área de 15.937 km²
distribuídas por toda a região das caatingas ao longo de cursos d`água,
destacando-se as áreas ribeirinha dos rios São Francisco, Jaguaribe,
Gurguéia, Canindé, Piauí, Acaraú e Açu.
2.2.14 - BRUNIZÉNS AVERMELHADOS
São solos bem drenados, rasos ou de profundidade média, de cores
vermelhas a bruno-avermelhadas, com horizonte superficial de cores escuras,
teores elevadas em matéria orgânica e alta saturação por bases,
correspondendo ao horizonte A chernozênico. A textura do horizonte A é mais
leve que a do B, o qual é argiloso. São pouco expressivos na zona da
caatinga ocorrendo apenas na parte central do Ceará, Piauí e Bahia (1.312
km² de extensão).
3 – MANEJO DOS SOLOS DA CAATINGA
Os diferentes tipos de solos proporcionam diferentes tipos de
substratos, e por este motivo, a cobertura vegetal de uma área modifica-se
de acordo com as características do terreno. As plantas conferem proteção
ao solo, reduzindo o impacto das chuvas, diminuindo a velocidade da água
através da copa das árvores e das raízes. Mesmo as folhas caídas contribuem
para diminuir a ação da água no solo agindo como cobertura. Assim, a
remoção de cobertura vegetal de forma não planejada é um dos principais
fatores que podem desencadear a erosão, ou seja, o processo de desagregação
e remoção de partículas do solo ou fragmentos de rocha, pela ação combinada
da gravidade com a água, vento, gelo ou organismos. Muitas vezes, a quebra
deste equilíbrio natural entre o solo e o ambiente (remoção da vegetação,
desvio de cursos hídricos, etc) promovida e acelerada pelo homem, expõe o
solo a formas menos perceptíveis de erosão, que promovem a remoção da
camada superficial deixando o subsolo (geralmente de menor resistência)
sujeito à intensa remoção de partículas, o que culmina com o surgimento de
voçorocas (DUQUE, 1980).
Segundo Araújo Filho (2002) as atividades de exploração da caatinga
pela agricultura indígena parecem não ter deixado efeitos marcantes sobre
os recursos naturais renováveis do bioma, em virtude de sua baixa
intensidade e de seu caráter errático. A ocupação pela exploração pastoril,
a partir de 1635, do "desertão" (hoje, sertão), assim chamado por causa da
ausência da colonização humana, trouxe a tiracolo a agricultura itinerante
do desmatamento e das queimadas e a extração da lenha, par atender à
demanda por alimentos da crescente população humana. Quando os processos
erosivos não são controlados ou estabilizados, estes podem acarretar um
pesado ônus à sociedade. Além de danos ambientais irreversíveis, produz
também prejuízos econômicos e sociais, como por exemplo: diminuição da
produtividade agrícola, redução da produção de energia elétrica e do volume
de água para abastecimento urbano devido ao assoreamento de reservatórios;
ameaçar obras viárias e áreas urbanas, além de uma série de transtornos aos
demais setores produtivos da economia.
Conforme Jacomine (1996) os solos mais comumente em uso sob esses
sistemas são os das classes dos argissolos, luvissolos e latossolos, que
juntos recobrem cerca de 50% do Semi-Árido Nordestino. São solos de
adequadas características químicas e físicas, com bom potencial para a
agricultura. As culturas tradicionalmente exploradas constam de milho,
feijão, gergelim, mandioca, aipim, fava, melancia, jerimum, pepino, algodão
e várias outras, sempre consorciadas, dependendo da região. As práticas de
preparação da terra têm sido as mesmas nos últimos 350 anos, ou seja,
seguindo o roteiro da agricultura migratória, com desmatamento total e
queimada, exploração por dois a três anos e pousio. A produção de madeira
útil, que é retirada para consumos diversos, de garranchos e da
serapilheira varia de acordo com o estádio sucessional da vegetação. Assim,
em áreas de caatinga arbustiva, que recobre nos dias atuais acima 60% do
território da maioria dos estados nordestinos, normalmente não há madeira a
ser retirada. Todo o material vegetal é queimado. A quantidade de
garranchos consumida pelo fogo nessa situação é de, aproximadamente, 16,0
t/ha, além de cerca de 4,0 t/ha de serapilheira. Quando a vegetação se
encontra na fase sucessional arbustiva-arbórea, que constitui cerca de 30%
da cobertura florística da área de grande parte dos estados nordestinos, de
40,0 a 60,0 estéreos de lenha são retirados por hectare, correspondendo a
cerca de 20,0 a 30,0 toneladas de madeira. Além disso, ficam no solo para
serem consumidos pelo fogo cerca de 10,0 toneladas de garranchos por
hectare, além de até de 6,0 t/ha de serapilheira. No caso das áreas
recobertas com caatinga arbórea, que correspondem a menos de 10% da
superfície da maioria dos estados nordestinos, a produção de madeira útil
acumulada pode alcançar cerca de 100,0 t/ha, permanecendo no solo para a
queima até 18,0 t/ha de garranchos e 12,0 t/ha de serapilheira. Durante o
curto período de cultivo, anualmente as rebrotações dos tocos sobreviventes
são cortadas e, juntamente com os restolhos culturais ainda existentes em
campo, queimados em coivaras. A erosão é o problema mais grave de
insustentabilidade dos sistemas de uso do solo no semi-árido, porque as
perdas de solo são quase que absolutamente irreversíveis. Ele é agravado
pela grande extensão de solos rasos, muitos com baixa permeabilidade, e
pela ocorrência freqüente de chuvas intensas na curta estação chuvosa. As
áreas abertas para cultura antes da época de chuvas muitas vezes recebem
estas precipitações intensas antes de qualquer cobertura de plantas. As
evidências de erosão são as águas barrentas dos cursos de água, as
voçorocas nos declives de solos mais profundos e as pequenas colunas que se
formam sob pedras da superfície, sinalizando a posição anterior da camada
de solo. Um dos aspectos perversos da erosão é que perdas grandes de solo,
se não formam voçorocas e são mais laminares, podem corresponder a uma
lâmina pouco profunda de solo. As perdas de maior dimensão no semi-árido
correspondem a um pouco menos de 1 cm de solo. A erosão depende de vários
fatores, além do regime de chuvas e da cobertura de plantas, sendo o
principal a declividade do solo. Se o solo tiver uma fertilidade natural ou
estrutura fracas, tem de ser continuamente (alimentado) com matérias
orgânicas, tais como as folhas e o estrume, a fim de melhorar a sua
produtividade e a sua capacidade de retenção de água. À medida que as
matérias orgânicas se decompõem, constituem alimento para as plantas.
Também melhoram a estrutura do solo ao amolecerem a argila pesada e ao
ligarem o solo arenoso.
Segundo Araújo Filho (2000) formas de enriquecer o solo com matéria
orgânica é particularmente importante nos primeiros anos do desenvolvimento
da horta. A matéria orgânica (por exemplo, os restos de plantas e de
animais) podem ser recolhidas e enterradas no solo, onde se vai decompor.
Também se pode utilizar a matéria orgânica para fazer composto, que poderá
ser aplicado no solo para o tornar mais fértil. As raízes das leguminosas
contêm bactérias que fixam o azoto. Assim, cultivar leguminosas em
associação ou em rotação com outras culturas ajuda a manter ou a melhorar o
conteúdo do solo em azoto, favorecendo o crescimento de outras plantas. A
aplicação de matérias orgânicas, tais como o composto, o estrume animal, o
adubo verde e o solo das térmitas, melhora a estrutura do solo e adiciona-
lhe nutrientes. O sistema da cultura em diferentes níveis, em que se
cultivam em conjunto árvores e plantas com diferentes tempos de maturação,
permite proteger o solo e reciclar os elementos nutritivos. As leguminosas,
tal como o amendoim e o feijão, são particularmente úteis, porque fornecem
permanentemente elementos nutritivos às culturas. O plantio de bancos de
proteína (áreas plantadas com leguminosas resistentes à seca, cujo material
é rico em proteínas) juntamente com o raleamento seletivo da caatinga e
rebaixamento tem mostrado resultados positivos para boas práticas de manejo
do solo e da caatinga.
Os solos arenosos como os Neossolos Quartzarênicos (antigas Areias
Quartzosas) são caracterizados por terem grande quantidade de poros grandes
(macroporos) que permitem a rápida infiltração e drenagem interna da água
no perfil do solo. Essa condição impõe alguns cuidados que devem ser
tomados no momento da adubação para evitar a perda de dinheiro e tempo
nesta atividade agrícola (BRADY, 2002).
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A grande diversidade dos solos sob o bioma caatinga são demonstrações
patrimoniais únicas que devem ser preservados contra a erosão hídrica, a
perda da matéria orgânica e a elevação do lençol freático (em áreas
irrigadas). O fator antrópico tem interferido nas condições ecológicas da
vegetação através de manejos desordenados com cortes da vegetação,
queimadas, lavouras e pecuária acelerando os processos erosivos. Tem-se
então urgentemente que consorciar boas práticas de manejo, que foram
desenvolvidas ao longo de pesquisas, para preservar esse tesouro que ainda
resta para a humanidade.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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