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Seminário

Trabalho de farmacoterapia sobre hipertensão arterial 2005

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Universidade de São Paulo – USP Faculdade de Ciências Farmacêuticas - FCF Farmácia - Diurno Farmacoterapia da Hipertensão Arterial Disciplina: Farmacoterapia Docente: Silvia Santos Índice Resumo: 4 Palavras-chave: 4 1. Histórico e Evolução 5 a) Histórico da hipertensão 5 b) História da medição da pressão 6 2. Fisiopatologia da doença: 7 a) Hipertensão primária: 7 b) Hipertensão secundária: 9 3. Incidência e Prevalência: 9 a) Negros e miscigenados: 11 b) Idosos: 12 c) Crianças e adolescentes: 13 4. Terapia convencional: 13 4.1. Medidas farmacológicas: 14 a) Diuréticos: 16 b) Agentes simpatolíticos: 20 c) Vasodilatadores: 26 d) Bloqueadores de canais de cálcio: 28 e) Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA): 29 f) Antagonistas do receptor da angiotensina II: 31 4.2. Medidas não-farmacológicas: 33 a) Restrição ao sódio: 33 b) Redução de peso: 33 c) Exercícios físicos: 34 d) Evitar o fumo: 35 e) Restrição de álcool: 35 f) Restrição de cafeína: 36 g) Terapia de relaxamento: 36 h) Terapia com potássio: 36 5. Terapias alternativas: 37 6. Evolução e perspectivas de novos tratamentos: 38 Novos fármacos – Inibidores de vasopeptidase: 39 7. Referências: 39 Resumo: A hipertensão é a mais comum doença cardiovascular. Cerca de 50 milhões de pessoas nos EUA têm pressão sangüínea sistólica e/ou diastólica acima de 140/90. A partir dos anos 50, foi comprovada a estreita relação entre hipertensão e desordens cardiovasculares. A hipertensão pode ser dada por uma causa específica, onde é denominada hipertensão secundária e aflige menos de 5% dos pacientes hipertensos; ou por uma causa inespecífica, denominada de hipertensão essencial ou primária. A hipertensão é uma doença que afeta em maior proporção negros e idosos. O tratamento da hipertensão essencial visa normalizar a pressão arterial, impedir o comprometimento dos órgãos-alvo (cérebro, coração e rins) e aumentar a sobrevida do paciente. O tratamento compreende medidas farmacológicas e não-farmacológicas. Entre as medidas farmacológicas, destacam-se de uma forma geral, o uso de diuréticos, agentes simpatolíticos, vasodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) ou antagonistas do receptor da angiotensina II. Entre as medidas não- farmacológicas, destacam-se: restrição ao sódio, perda de peso, atividades físicas, evitar fumo e bebidas alcoólicas, restrição de cafeína, terapia de relaxamento e terapia com potássio. As terapias alternativas ainda estão em estudos, mas foi comprovado em camundongos hipertensos a ação hipotensora de alguns extratos e óleos essenciais, como o extrato de Berberis vulgaris e óleo essencial de Ocimum gratissimum. Os novos estudos baseiam-se também na comprovação da eficácia dos diferentes tratamentos com os fármacos já existentes e associações e também na produção de novos fármacos, como inibidores da vasopeptidase. Palavras-chave: hipertensão – terapia – incidência – perspectiva 1. Histórico e Evolução: a) Histórico da hipertensão: Baseada na dissecção de antigas múmias egípcias, a pressão arterial alta foi um problema de saúde desde os mais antigos impérios egípcios. A medição da pressão foi realmente inventada em 1896, mas não foi útil até os anos 50, onde ficamos alertas sobre a importância da pressão alta como a causa de muitas complicações atribuídas à idade avançada. Pesquisas recentes mostraram uma relação crítica entre pressão sangüínea alta e derrames, ataques cardíacos, insuficiência cardíaca congestiva, e doenças vasculares, que juntos compõe a principal causa de morte nos Estados Unidos para homens e mulheres. A pressão sangüínea foi medida pela primeira vez por Stephen Hales em 1773. Hales também descreveu a importância do volume sangüíneo na regulação da pressão sangüínea. A contribuição das arteríolas periféricas na manutenção da pressão sangüínea, descrita como "tônus", foi primeiramente descrita por Lower em 1669 e subsequentemente por Senac em 1783. O papel dos nervos vasomotores na regulação da pressão sangüínea foi observado pelos investigadores eminentes como Claude Bernard, Charles E. Edouard, Charles Brown-Séquard, e Augustus Waller. Willian Dayliss avançou neste conceito em sua monografia publicada em 1923. Cannon e Rosenblueth desenvolveram o conceito de controle humoral da pressão sangüínea e investigaram os efeitos farmacológicos da epinefrina. Três contribuidores que avançaram no conhecimento dos mecanismos humorais do controle da pressão arterial foram T. R. Elliott, Sir Henry Dale e Otto Loew. Richard Bright, um médico que praticou na primeira metade do século XIX, observou mudanças de hipertensão no sistema cardiovascular em pacientes com doença renal crônica. George Johnson em 1968 postulou que a causa da hipertrofia do ventrículo esquerdo na doença de Bright era a presença de hipertrofia muscular em artérias menores presentes em todo o corpo. Depois, estudos clínico-patológicos feitos pelo Sr Willian Gull e H. G. Sutton (1872) descreveram de forma mais completa as mudanças cardiovasculares na hipertensão. Frederick Mahomed foi um dos primeiros médicos que sistematicamente incorporou a medida da pressão arterial como parte da avaliação clínica. O reconhecimento de hipertensão primária ou essencial foi creditado pelo trabalho de Hucard, Vonbasch e Albutt. As observações de Janeway e Walhard levaram ao reconhecimento dos danos nos órgãos-alvo, que considerou a hipertensão como uma "assassina silenciosa". Os conceitos de renina, angiotensina e aldosterona foram aprofundados por diversos pesquisadores no final do século XIX e começo do século XX. Os nomes de Irwine, Page, van Slyke, Goldblatt, Laragh e Tuttle apareceram notoriamente na literatura da hipertensão, e seus trabalhos aumentaram nosso conhecimento sobre as bases bioquímicas da hipertensão essencial. Cushman e Ondetti desenvolveram um inibidor de enzima conversora que atua oralmente originado de peptídeos do veneno de cobra e foi concretizado em uma síntese de sucesso para o moderno anti-hipertensivo: o captopril. b) História da medição da pressão: O reverendo inglês Stephen Hales, interessado em saber como a seiva atingia o topo de uma árvore, foi o primeiro a medir a pressão arterial de uma égua doente em 1733, ao introduzir um tubo de vidro em sua artéria crural esquerda. Ao soltar a ligadura da artéria, observou que a força do ventrículo esquerdo elevava a coluna de sangue a 2,5 m de altura, e oscilava de acordo com a sístole e diástole, respiração e movimentos do animal para se desvencilhar das amarras. Posteriormente, em 1828, Poiseulle conectou um tubo em U com mercúrio à artéria de um cão e mostrou que a pressão arterial oscilava dentro de uma faixa estreita e era influenciada por fatores externos, como dor e repouso. Em 1856, o cirurgião Faivre cateterizou a artéria braquial, ligando-a a um manômetro de Hg e detectou 115 a 120 mmHg. Começou, a partir daí, a procura por valores de normalidade e com isso o contínuo aperfeiçoamento de aparelhos que mediam a pressão. O próximo pesquisador a preocupar-se com essa questão foi Riva-Rocci, cujo aparelho compunha-se de duas partes, uma destinada a exercer compressão sobre a artéria (manguito inflável) e outra que permitia medir a pressão exercida (manômetro de coluna de Hg). Sua técnica consistia em inflar o manguito até o total desaparecimento do pulso radial, seguindo-se desinflação, até seu reaparecimento, quando então era medida a pressão sistólica, no manômetro. O "esfigmomanômetro de Riva-Rocci" foi a evolução lógica e progressiva dos trabalhos iniciados por Stephen Hales e, definida a medição sistólica, as pesquisas voltaram-se para a medida da pressão diastólica. A forma de detecção definitiva da pressão arterial diastólica foi feita por Korotkff (1874-1920) que assim a descreveu: "Baseado nas observações de que, sob completa constrição, a artéria não emite sons... O aparelho de Riva-Rocci é colocado no braço e sua pressão é rapidamente aumentada até bloquear completamente a circulação abaixo do manguito, quando não se ouve nenhum som do estetoscópio... Então, deixando a pressão do manômetro da coluna de Hg cair até determinada altura. um som curto e fraco é ouvido, o que indica a passagem de parte de onda de pulso sob o manguito, caracterizando a pressão máxima. Deixando a pressão do manômetro cair progressivamente, ouve-se o sopro da compressão sistólica e que se torna novamente um som. Finalmente, todos os sons desaparecem, o que indica livre passagem do fluxo sangüíneo ou, em outras palavras, a pressão arterial mínima ultrapassou a pressão exercida pelo manguito. Este momento corresponde à pressão arterial mínima." 2. Fisiopatologia da doença: A hipertensão é uma desordem heterogênea que pode ser resultado de uma causa específica (hipertensão secundária) ou por um mecanismo fisiopatológico derivado de uma causa desconhecida (hipertensão primária ou essencial). Menos de 5% dos pacientes hipertensos sofrem de hipertensão secundária. a) Hipertensão primária: A hipertensão arterial essencial apresenta, na maioria das vezes, evolução longa e caráter benigno. Existem alguns fatores, denominados fatores de risco, que influenciam aparecimento ou piora da hipertensão, bem como tratamento e prognóstico da doença, sem apresentar relação de causa e efeito, sendo os mais importantes: idade, sexo, hereditariedade, raça negra, obesidade, presença de estresse e alta ingestão de sal. A hereditariedade é um fator de predisposição à doença, porém os exatos mecanismos não estão suficientemente claros. A hereditariedade da pressão arterial é estimada em cerca de 30%. Mutações em vários genes têm sido associadas a diversas causas raras de hipertensão. As variações funcionais do gene do angiotensinogênio parecem contribuir para alguns casos de hipertensão essencial. Fatores ambientais (ex.: dieta de sódio, obesidade, estresse) parecem que agem somente em pessoas geneticamente suscetíveis. Os mecanismos patogênicos devem levar ao aumento da resistência vascular periférica por indução de vasoconstrição; ao aumento do débito cardíaco ou através dos dois mecanismos, pois a pressão arterial pode ser definida hemodinamicamente como o produto do débito cardíaco e a resistência vascular periférica. Na maioria dos casos, a elevação da pressão arterial está associada a um aumento global da resistência ao fluxo sangüíneo através das arteríolas, enquanto o débito cardíaco está habitualmente normal. A investigação meticulosa da função do sistema nervoso autônomo, dos reflexos barorreceptores, do sistema de renina-angiotensina-aldosterona e do rim não conseguiu identificar anormalidade primária como causa do aumento da resistência vascular periférica na hipertensão essencial. Frequentemente, o único sinal da hipertensão primária é a elevação da pressão sangüínea. O restante dos exames físicos pode estar completamente normal. À medida que a hipertensão progride, sinais de danos em órgãos começam a aparecer. Estes são geralmente relatados como mudanças patológicas nos olhos, cérebro, coração, rins e veias periféricas. Múltiplos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da hipertensão primária, incluindo mecanismos neurais anormais; defeitos na auto-regulação periférica; distúrbios em sódio, cálcio, hormônio natriurético; e más funções tanto em mecanismos humorais quanto em mecanismos vasodepressores. b) Hipertensão secundária: A hipertensão secundária está associada com doença parenquimal renal (ex: glomerulonefrites crônicas ou pielonefrites, doença policística renal, doença do colágeno do rim, uropatia obstrutiva) ou feocromocitoma, síndrome de Cushing, aldosteronismo primário, hipertireoidismo, mixedema, ou doença renovascular. Pode também ser associado com o uso excessivo de álcool, contraceptivos orais, simpatomiméticos, corticosteróides, cocaína ou alcaçuz. A pressão arterial elevada provoca alterações patológicas nos vasos sangüíneos e hipertrofia do ventrículo esquerdo. Como conseqüência, a hipertensão é a principal causa de AVC (acidente vascular cerebral), leva a doenças das artérias coronárias com infarto do miocárdio e morte cardíaca súbita, e é a principal contribuinte para insuficiência cardíaca, insuficiência renal e aneurisma dissecante da aorta. Além disso, os hipertensos apresentam maior incidência do que a população geral de episódios isquêmicos transitórios, angina pectoris, insuficiência vascular periférica e alterações retinianas. Com níveis muito graves de hipertensão (sistólica 210 e/ou diastólica 120), um subgrupo de pacientes desenvolve arteriolopatia fulminante caracterizada por lesão endotelial e proliferação acentuada de células na íntima, levando ao espessamento desta e, finalmente, à oclusão arteriolar. Esta é a base patológica da síndrome de hipertensão maligna, que está associada à doença oclusiva microvascular rapidamente progressiva nos rins (com insuficiência renal), no cérebro (encefalopatia hipertensiva), na retina (hemorragias, exsudatos e discedema) e em outros órgãos. O risco de doença cardiovascular, incapacidade e morte nos pacientes hipertensos também aumenta bastante pelo tabagismo simultâneo e pela elevação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL). A coexistência da hipertensão com esses fatores de risco aumenta a morbidade e a mortalidade cardiovascular a um grau excessivamente cumulativo. 3. Incidência e Prevalência: Como a pressão arterial é continuamente variável, é impossível definir um ponto onde abaixo dele a pressão é normal e acima dele, a pressão é considerada anormal e alta. Apesar disso, evidências de estudos epidemiológicos claramente indicam uma forte correlação entre a pressão sangüínea e a mortalidade e morbidade cardiovasculares. Quanto maior a pressão maior é a probabilidade do paciente sofrer um derrame, infarto do miocárdio, angina, distúrbio cardíaco, falha renal ou morte precoce devido a uma causa cardiovascular. Então, é aconselhável estabelecer o que é considerado pressão alta baseado em estudos clínicos e epidemiológicos. A hipertensão foi definida arbitrariamente, quando a pressão sistólica for maior que 140 mmHg e a pressão diastólica for maior que 90 mmHg. A hipertensão é a mais comum doença cardiovascular. Cerca de 50 milhões de pessoas nos EUA têm pressão sangüínea sistólica e/ou diastólica acima de 140/90. Estudos realizados por companhias de seguro norte- americanas mostraram redução na sobrevida à medida que ocorre elevação da pressão sistólica e/ou diastólica. Por alguma razão, a prevalência da hipertensão parece que está caindo nos Estados Unidos. A hipertensão ocorre mais frequentemente em negros adultos (32%) do que em brancos (23%) ou Americanos Mexicanos adultos (23%); e a morbidade e mortalidade são maiores em negros (Table 199-1). A prevalência da hipertensão aumenta com a idade e é maior em pessoas com baixa escolaridade. Homens e mulheres da mesma raça são afetadas aproximadamente de formas semelhantes. a) Negros e miscigenados: A prevalência da hipertensão arterial na população negra é mais elevada, bem como é maior sua gravidade, particularmente quanto à incidência de hipertensão arterial maligna, acidente vascular encefálico e insuficiência renal crônica. Esse comportamento pode estar relacionado a fatores étnicos e/ou socioeconômicos. Predominam, em nosso país, os miscigenados, uma população que pode diferir dos negros quanto às características da hipertensão. Recomenda-se especial atenção quanto às medidas não-medicamentosas para os negros, principalmente redução do consumo de sal e perda de peso. Com relação ao tratamento medicamentoso, existem evidências de que nesse grupo de indivíduos os diuréticos têm eficácia aumentada e, assim como em brancos, diminuem a morbidade e a mortalidade cardiovasculares. Outras drogas, como os antagonistas dos canais de cálcio e os alfabloqueadores, são boas opções.  A eficácia dos betabloqueadores e dos inibidores da ECA parece ser menor na população negra americana. Para a população brasileira negra e miscigenada, não existem dados disponíveis que permitem avaliar adequadamente a eficácia dessas drogas. b) Idosos: Embora haja tendência de aumento da pressão arterial com a idade, níveis de pressão sistólica acima de 140 mmHg e/ou de pressão diastólica acima de 90 mmHg não devem ser considerados fisiológicos para os idosos. No Brasil, o grupo etário de 60 anos ou mais é o que apresenta maior crescimento na população. Estima-se que, em 2025, haverá mais de 30 milhões de idosos no Brasil. Estudos epidemiológicos brasileiros demonstram que a prevalência de hipertensão arterial entre idosos, à semelhança da observada em todo o mundo, é bastante elevada. Cerca de 65% dos idosos são hipertensos, e entre as mulheres com mais de 75 anos a prevalência de hipertensão pode chegar a 80%.  Entre os idosos, a hipertensão sistólica isolada é a mais prevalente e parece estar mais associada a eventos cardiovasculares que a hipertensão diastólica ou sistólica e diastólica. O objetivo do tratamento deve ser a redução da pressão arterial a níveis abaixo de 140/90 mmHg, como nos indivíduos adultos jovens. Nos pacientes com níveis muito elevados de pressão sistólica, podem ser mantidos níveis intermediários abaixo de 160 mmHg. Nesse grupo, deve-se iniciar o tratamento com metade da menor dose recomendada e aumentar lentamente até atingir a dose terapêutica. A maioria dos estudos clínicos controlados com idosos demonstrou que a redução da pressão arterial com diuréticos e betabloqueadores diminui a incidência de eventos cardiovasculares (acidente vascular encefálico e insuficiência cardíaca em particular) e a mortalidade geral, mesmo em casos de hipertensão sistólica isolada e de pacientes com mais de 80 anos portadores de cardiopatia. Estudo recente, utilizando o antagonista dos canais de cálcio - nitrendipina e o inibidor da enzima conversora da angiotensina - enalapril para tratamento da hipertensão arterial sistólica isolada do idoso, também demonstrou diminuição da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Drogas que exacerbam alterações posturais da pressão arterial (como bloqueadores adrenérgicos periféricos, alfabloqueadores e diuréticos em altas doses), ou que possam causar alterações cognitivas (alfametildopa), devem ser utilizadas com cautela no idoso. O risco de interações medicamentosas deve ser sempre lembrado, devido à alta prevalência de co- morbidade no idoso. c) Crianças e adolescentes: A prevalência de hipertensão arterial em crianças e adolescentes pode variar de 2% a 13%. Estudos epidemiológicos brasileiros têm demonstrado prevalência de hipertensão arterial, nessa faixa etária, entre 6% e 8%. Atualmente, considera-se obrigatória a medida da pressão arterial a partir de 3 anos de idade, anualmente, ou antes dessa idade, quando a criança apresentar antecedentes mórbidos neonatais, doenças renais, ou fatores de risco familiares.  Quanto mais altos os níveis da pressão arterial e quanto mais jovem o paciente, maior a possibilidade de ser hipertensão arterial de causa secundária, com maior prevalência das causas renais. Atenção especial deve ser dada à presença de fatores de riscos, tais como história familiar, obesidade, erros dietéticos, tabagismo e sedentarismo. Cabe ressaltar a importante associação entre excesso de peso e pressão arterial predominantemente no adolescente. A ingestão de álcool, o uso de drogas (particularmente a cocaína) e a utilização de hormônios esteróides, anabolizantes e anticoncepcionais orais devem ser considerados como possíveis causas de hipertensão arterial. Reserva-se o uso de medicamentos aos hipertensos moderados e graves, aos indivíduos sintomáticos, aos não-responsivos ao tratamento não- medicamentoso e aos com evidência de dano em órgãos-alvo. A escolha das drogas obedece aos critérios utilizados para adultos, com ressalva ao uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina e de antagonistas do receptor da angiotensina II em adolescentes do sexo feminino em idade fértil. Os betabloqueadores devem ser evitados em asmáticos, atletas (limitação do desempenho físico) e jovens de ambos os sexos (interferência na atividade sexual). 4. Terapia convencional: O tratamento da hipertensão essencial visa normalizar a pressão arterial, impedir o comprometimento dos órgãos-alvo (cérebro, coração e rins) e aumentar a sobrevida do paciente. Inúmeros estudos têm demonstrado eficácia do tratamento anti-hipertensivo em reduzir a morbidade e a mortalidade pela doença, principalmente nos hipertensos graves. O tratamento compreende medidas farmacológicas e não-farmacológicas. A partir de valores pressóricos de 130/85 mmHg, recomenda-se a introdução de medidas de controle não-farmacológicas. Acima dos valores pressóricos de 140/90 mmHg, deve-se iniciar a terapêutica medicamentosa. Nos estágios I e II da hipertensão, sem fator de risco associado, recomenda- se o tratamento com um fármaco apenas, de uma das principais classes terapêuticas dos fármacos anti-hipertensivos. Nos estágios II e III, recomendam-se as associações. Ao associar fármacos com diferentes locais de ação, objetiva-se agir sobre vários mecanismos hipotensores. Acredita-se que vários fatores, já mencionados, conduzam a distúrbios na regulação da pressão arterial, ocasionando a hipertensão arterial. É difícil determinar qual o mecanismo atuante em determinado paciente e, portanto, o esquema de tratamento é razoavelmente empírico. No entanto, cabe ao médico identificar o melhor esquema terapêutico para o seu paciente. A hipertensão arterial essencial não é curável, e o paciente deverá tomar os medicamentos durante toda a vida. Os hipertensos apresentam baixos índices de aderência ao tratamento, muitas vezes chegando a abandoná-lo, apesar de todos os riscos. Assim, o acompanhamento com retornos freqüentes e as orientações corretas quanto ao uso dos medicamentos são imprescindíveis para a aderência ao tratamento. 4.1. Medidas farmacológicas: Os agentes anti-hipertensivos podem ser classificados de acordo com seus locais ou mecanismos de ação (Quadro 33.1 e Fig. 18.9). Como a pressão arterial é o produto do débito cardíaco pela resistência vascular periférica, ela pode ser reduzida pelas ações dos fármacos na resistência periférica e/ou no débito cardíaco. Os fármacos reduzem o débito cardíaco inibindo a contratilidade miocárdica ou reduzindo a pressão de enchimento ventricular. A redução na pressão de enchimento ventricular é obtida através de ações no tônus venoso ou no volume sangüíneo através de efeitos renais. Os agentes podem reduzir a resistência periférica atuando na musculatura lisa para provocar o relaxamento dos vasos de resistência ou interferindo com a atividade dos sistemas que produzem contração dos vasos de resistência. A utilização simultânea de substâncias com mecanismos de ação e efeitos hemodinâmicos semelhantes em geral fornece pouco efeito adicional. Entretanto, o uso simultâneo de agentes de diferentes classes é uma estratégia comum para se conseguir o controle eficaz da pressão sangüínea, enquanto os efeitos adversos dose-relacionados são reduzidos. a) Diuréticos: Sabe-se, há muitos anos, que a restrição dietética de sódio diminui a pressão arterial em pacientes hipertensos. Com o advento dos diuréticos, a restrição de sódio passou a ser considerada menos importante. Entretanto, hoje em dia, existe um consenso geral de que o controle dietético da pressão arterial constitui uma medida terapêutica relativamente atóxica, que até mesmo pode ser preventiva. Os diuréticos reduzem a pressão arterial, sobretudo ao produzir depleção das reservas corporais de sódio. Inicialmente, reduzem a pressão arterial ao diminuir o volume sangüíneo e o débito cardíaco: pode ocorrer aumento da resistência vascular periférica. Depois de 6-8 semanas, o débito cardíaco normaliza-se, enquanto a resistência vascular periférica cai. Acredita-se que o sódio possa contribuir para a resistência vascular, ao aumentar a rigidez dos vasos e a reatividade neural, o que está possivelmente relacionado a um aumento da troca de sódio-cálcio, com conseqüente aumento do cálcio intracelular. Esses efeitos são revertidos pelos diuréticos ou pela restrição de sódio. Os diuréticos são eficazes para reduzir a pressão arterial em 10-15 mmHg na maioria dos pacientes e, quando utilizados isoladamente, proporcionam frequentemente um tratamento adequado para a hipertensão essencial leve ou moderada. Nos casos mais graves de hipertensão, os diuréticos são utilizados em associação com agentes simpaticoplégicos e vasodilatadores para controlar a tendência à retenção de sódio causada por esses fármacos. A responsividade vascular, isto é, a capacidade de constrição ou dilatação, é diminuída pelas drogas simpaticoplégicas e vasodilatadoras, de modo que, a vasculatura comporta-se como um tubo rígido. Em conseqüência, a pressão torna-se enormemente sensível ao volume sangüíneo. Assim, nos casos de hipertensão grave, quando são utilizadas múltiplas drogas, a pressão arterial pode ser bem controlada quando o volume sangüíneo estiver dentro de 95% do normal, porém torna-se demasiadamente elevada, se o volume sangüíneo atingir 105% do normal. a1) Diuréticos tiazídicos e agentes relacionados: São exemplos: clorotiazida, hidroclorotiazida e clortalidona. Os diuréticos tiazídicos mostram-se apropriados para a maioria dos pacientes com hipertensão leve ou moderada e normalidade da função renal e cardíaco. Seus efeitos parecem resultar da alteração do balanço de sódio. Os tiazídicos bloqueiam o co-transporte de sódio e cloro no túbulo distal, inibindo dessa forma a reabsorção de 5 a 10% do sódio filtrado. O aumento da oferta de sódio para as porções distais do néfron ocasiona aumento da secreção de potássio. Quando um diurético tiazídico é utilizado como único agente anti- hipertensivo, este deve ser administrado em dose baixa. Além disso, cresce o número de evidências de que a administração desses diuréticos no tratamento prolongado da hipertensão deve ser realizado junto com um agente poupador de potássio. A atenuação do efeito caliurético dos diuréticos tiazídicos pode ser obtida através de agentes que bloqueiam os canais de sódio na porção final do túbulo distal e no túbulo coletor (amilorida e triantereno), pela inibição da ação da aldosterona (espironolactona) ou pela inibição da liberação de aldosterona induzida pela angiotensina (inibidores da enzima conversora de angiotensina ou antagonistas do receptor angiotensina). A suplementação com potássio oral nas doses habituais não é tão eficaz quanto à com agentes poupadores de potássio, porém esta medida é utilizada com o uso de suplementos à base de sais de potássio, usualmente cloreto de potássio. Os tiazídicos são rapidamente absorvidos no trato gastrintestinal e exibem ação em aproximadamente uma hora após administração, independente da presença de alimentos. Geralmente apresentam ação longa, variável de composto para composto. A excreção é no túbulo renal proximal. Atravessam a barreira placentária e se distribuem uniformemente, apresentando grande afinidade às proteínas plasmáticas. Os efeitos adversos mais comumente observados com o uso de tiazídicos são: hipopotassemia, hiperglicemia e hiperuricemia. A hipopotassemia deve ser pesquisada e corrigida sempre que o nível plasmático estiver abaixo de 3-3,5 mEq/L, pela possibilidade de arritmias cardíacas graves, notadamente em cardiopatias sob terapia digitálica. A hiperglicemia deve-se, provavelmente, à inibição da secreção de insulina ou ao bloqueio da utilização periférica da glicose. Nos pacientes diabéticos pode haver necessidade de ajuste de dose de insulina ou dos hipoglicemiantes orais. A hiperuricemia decorre da diminuição de excreção de ácido úrico por contração do volume plasmático que diminui o ritmo de filtração glomerular e aumenta a reabsorção proximal de uratos. A hiperuricemia assintomática geralmente não requer tratamento. Os pacientes gotosos ou que desenvolvem gota necessitarão de terapêutica específica. a2) Diuréticos de alça: São exemplos: ácido etacrínico, umetamida, furosemida e xipamida. São diuréticos potentes, com ação rápida e de curta duração que impedem a reabsorção de sódio e cloro no ramo ascendente da alça de Henle, pelo bloqueio do co-transporte de sódio, potássio e cloreto. Esses fármacos chegam a inibir cerca de 15-20% da carga filtrada de sódio. É controversa a presença de ações nos túbulos proximal e distal. Geralmente são utilizados em casos de hipertensão grave, quando são utilizados múltiplos fármacos com propriedades de retenção de sódio; na insuficiência renal, quando a taxa de filtração glomerular é inferior a 30 ou 40 mL/min; e na insuficiência cardíaca ou cirrose, em que a retenção de sódio é acentuada. Os efeitos hemodinâmicos são semelhantes aos dos tiazídicos, embora existam evidências de alterações no fluxo sangüíneo renal. São absorvidos prontamente no trato gastrintestinal e apresentam alta ligação às proteínas plasmáticas. A excreção é predominantemente renal. Quando administrados por via oral, apresentam efeito em cerca de uma hora após a administração e por via intravenosa, após 2-10 minutos. Comparativamente aos tiazídicos, apresentam curta duração de ação. Os efeitos adversos mais importantes são: hipopotassemia, hiperuricemia e hiperglicemia. Podem ocorrer sintomas de hipotensão postural devidos à queda rápida do líquido extracelular. a3) Diuréticos poupadores de potássio: São exemplos: espironolactona, amilorida e triantereno. São diuréticos fracos, frequentemente utilizados no tratamento da hipertensão arterial em associações com tiazídicos ou diuréticos de alça, para minimizar a hipopotassemia. A espironolactona é antagonista da aldosterona e apresenta metabolização hepática e excreção renal. O efeito colateral mais importante é a hiperpotassemia que a contra-indica na insuficiência renal. É útil em situações onde exista hiperaldosteronismo e no edema refratário. O triantereno e a amilorida inibem a secreção de potássio, agindo analogamente no túbulo distal. O efeito adverso mais sério é a hiperpotassemia. Podem-se observar náuseas, vômitos e câimbras. b) Agentes simpatolíticos: Esses anti-hipertensivos reduzem a pressão arterial através do bloqueio do sistema nervoso simpático em vários níveis: a) no centro vasomotor do sistema nervoso central por fármacos de ação central predominante; b) nas terminações nervosas, reduzindo a quantidade de noradrenalina liberada em cada impulso nervoso através da inibição da síntese, armazenamento ou liberação do neurotransmissor por fármacos com ação na terminação nervosa; c) nos receptores adrenérgicos, impedindo a interação entre neurotransmissores e seus receptores por fármacos bloqueadores dos receptores α e/ou β-adrenérgicos. b1) Agentes de ação central: São exemplos: metildopa, clonidina, guanabenz e guanfacina. A metildopa é um dos anti-hipertensivos mais conhecidos e utilizados há mais tempo na terapêutica da hipertensão arterial. Ela é útil no tratamento da hipertensão leve a moderadamente grave. Age no sistema nervoso central através da α-metilnoradrenalina, que estimularia a inibição do centro vasomotor, reduzindo o efluxo simpático com conseqüente queda da resistência periférica e redução da pressão arterial. É provável que a α- metilnoradrenalina atue como agonista do receptor α2- adrenérgico no tronco cerebral, diminuindo o sinal adrenérgico vasoconstrictor para o sistema nervoso simpático periférico. Hemodinamicamente, observam-se redução da resistência periférica e discreta ação sobre o débito cardíaco. É bem absorvida por via oral e a sua excreção é renal. O efeito colateral mais freqüente é a sedação, sobretudo no início do tratamento. Com a terapia a longo prazo, os pacientes podem queixar-se de cansaço mental persistente e comprometimento da concentração mental. Outros efeitos adversos importantes da metildopa consistem na obtenção de um teste de Coombs positivo, o qual pode ocorrer em 20% dos pacientes, que às vezes dificulta a realização de uma reação cruzada para transfusão e raramentee está associada com anemia hemolítica, bem como hepatite e febre medicamentosa. A interrupção da droga geralmente resulta na regressão imediata dessas anormalidades. A clonidina foi empregada inicialmente como descongestionante nasal. Aparentemente seu efeito parece resultar da ativação dos receptores α2 na região mais inferior do tronco cerebral. Também age perifericamente nos receptores α2 pós-sinápticos. Por esta ação, observa-se elevação aguda da pressão arterial após a administração endovenosa. É excretada inalterada, principalmente pelos rins. Os efeitos hemodinâmicos assemelham-se aos da metildopa. Os efeitos adversos mais freqüentes são sedação e secura na boca. A suspensão abrupta do fármaco pode resultar em quadro grave de hipertensão rebote com elevação dos níveis pressóricos, taquicardia e sudorese. b2) Agentes bloqueadores ganglionares: É exemplo: trimetafan. Historicamente, as drogas que bloqueiam a estimulação dos neurônios autônomos pós-ganglionares pela acetilcolina estavam entre os primeiros fármacos utilizados no tratamento da hipertensão. A maioria dessas drogas não está mais disponível clinicamente, devido aos efeitos tóxicos intoleráveis relacionados à sua ação primária. Apenas uma droga dessa classe é ainda disponível, em virtude de sua importância como protótipo. Os bloqueadores ganglionares bloqueiam competitivamente os receptores colinérgicos nicotínicos nos neurônios pós-ganglionares nos gânglios tanto simpáticos quanto parassimpáticos. Além disso, essas drogas podem bloquear diretamente o canal da acetilcolina nicotínico, de maneira idêntica aos bloqueadores nicotínicos neuromusculares. O camsilato de trimetafan é administrado por via intravenosa para aproveitar-se da sua rápida ação no tratamento da crise hipertensiva, da dissecção da aorta e para indução de hipotensão controlada em neurocirurgia. O efeito anti-hipertensivo do trimetafan depende, em grande parte, do acúmulo de sangue nos vasos de capacitância. A cabeceira do paciente deve ser inclinada para uma redução eficaz da pressão arterial. Por outro lado, a hipotensão excessiva pode ser rapidamente tratada pela inclinação da cama em sentido inverso. Os efeitos adversos dos bloqueadores ganglionares consistem nas extensões diretas de seus efeitos farmacológicos. esses efeitos incluem tanto simpatoplegia (hipotensão ortostática excessiva e disfunção sexual) quanto parassimpatoplegia (constipação, retenção urinária, precipitação de glaucoma, visão turva, boca seca, etc). Essas toxicidades graves constituíram o principal motivo para o abandono dos bloqueadores ganglionares na terapia da hipertensão. b3) Agentes bloqueadores dos neurônios adrenérgicos: São exemplos: guanetidina, guanadrel e reserpina. Essas drogas reduzem a pressão arterial, ao impedir a liberação fisiológica normal de noradrenalina dos neurônios simpáticos pós- ganglionares. A guanetidina inibe a liberação de noradrenalina nas terminações nervosas simpáticas. Esse efeito é provavelmente responsável pela maior parte da simpatoplegia que ocorre nos pacientes. A ação hipotensora da guanetidina no início da terapia está associada a uma redução do débito cardíaco, devido à bradicardia e ao relaxamento dos vasos de capacitância, sem alteração consistente na resistência vascular periférica. Com a terapia crônica, a resistência vascular periférica diminui. A retenção de sódio e de água pode ser pronunciada durante a terapia cm guanetidina. A dose diária necessária para obter-se uma resposta anti-hipertensiva satisfatória varia acentuadamente de um paciente para outro. Por essa razão, a terapia é habitualmente iniciada com uma dose baixa, por exemplo 10 mg/dia. Normalmente a dose não deve ser aumentada a intervalos de menos de duas semanas. Devido à longa duração de ação da droga, não é necessário utilizar doses de manutenção mais do que uma vez ao dia. O uso terapêutico da guanetidina está frequentemente associada a hipotensão postural sintomática e hipotensão após exercício, sobretudo quando o fármaco é administrado em altas doses. A guanetidina causa comumente diarréia, em conseqüência do aumento da motilidade gastrintestinal devido ao predomínio parassimpático no controle da atividade do músculo liso intestinal. A reserpina foi uma das primeiras drogas eficazes utilizada em grande escala no tratamento da hipertensão Atualmente, é considerada uma droga eficaz e relativamente segura para tratamento de casos de hipertensão leve a moderada. A reserpina bloqueia a capacidade de captação e armazenamento das aminas biogênicas pelas vesículas transmissoras aminérgicas. Esse efeito é observado em todo o corpo, resultando em depleção de noradrenalina, dopamina e serotonina em neurônios tanto centrais quanto periféricos. A depleção das aminas periféricas é provavelmente responsável por grande parte do efeito anti-hipertensivo benéfico da reserpina, embora não se possa afastar um componente central. Nas doses mais baixas empregadas para o tratamento da hipertensão leve, a reserpina diminui a pressão arterial através de uma redução do débito cardíaco e da resistência vascular periférica. A dose diária habitual é de menos de 1 mg, administrada por via oral em dose única. Nas doses baixas habitualmente administradas, a reserpina produz pouca hipotensão postural. A maior parte dos efeitos indesejáveis da reserpina decorre de suas ações sobre o cérebro e o trato gastrintestinal. Com bastante freqüência, a reserpina provoca diarréia leve e cólicas gastrintestinais, além de aumentar a secreção gástrica de ácido. b4) Antagonistas β-adrenérgicos: São exemplos: propranolol, metoprolol e atenolol. São indicados, principalmente, no tratamento de hipertensão arterial, doenças cardíacas isquêmicas, insuficiência cardíaca e certas arritmias cardíacas. Atuam através do bloqueio dos receptores β-adrenérgicos, impedindo a atuação das catecolaminas nesses receptores. O propranolol é o fármaco mais conhecido do grupo e dos mais utilizados. Apresenta igual afinidade pelos receptores β1 e β2. É um agente muito útil para reduzir a pressão arterial em casos de hipertensão leve a moderada. Na hipertensão grave, o propranolol mostra-se particularmente útil para impedir a taquicardia reflexa que frequentemente ocorre em conseqüência do tratamento com vasodilatadores diretos. O propranolol antagoniza as catecolaminas nos receptores tanto β1 quanto β2-adrenérgicos. Sua eficácia no tratamento da hipertensão, bem como a maioria de seus efeitos tóxicos, resultam do bloqueio β. O propranolol diminui a pressão arterial, principalmente em decorrência de uma redução do débito cardíaco. O bloqueio β no cérebro, no rim e em neurônios adrenérgicos periféricos foi proposto como fator contribuinte para o efeito anti-hipertensivo observado com os bloqueadores dos receptores β. O propranolol inibe a estimulação da produção de renina pelas catecolaminas. É provável que o efeito do propranolol se deva, em parte, à depressão do sistema de renina-angiotensina-aldosterona. Apesar de ser mais eficaz para pacientes com atividade elevada da renina plasmática, o propranolol também reduz a pressão arterial em pacientes hipertensos com atividade da renina normal ou até mesmo baixa. É possível que os β-bloqueadores também atuem sobre os receptores β-adrenérgicos pré-sinápticos periféricos, reduzindo a atividade nervosa simpática vasoconstritora. Em casos de hipertensão leve a moderada, o propranolol produz uma redução significativa da pressão arterial, sem hipotensão postural proeminente. Em geral, inicia-se o tratamento da hipertensão, com 80 mg/dia, em doses fracionadas. A posologia anti-hipertensiva eficaz varia de 80 a 480 mg/dia. A bradicardia em repouso e a redução da freqüência cardíaca durante o exercício constituem indicadores do efeito β-bloqueador do propranolol. As medidas dessas respostas podem ser empregadas como diretrizes para regular a posologia. O propranolol pode ser administrado uma ou duas vezes ao dia. Os principais efeitos tóxicos do propranolol resultam do bloqueio dos receptores β cardíacos, vasculares ou brônquicos. Dessas extensões previsíveis da ação β-bloqueadora, as mais importantes ocorrem em pacientes com redução da reserva miocárdica, asma, insuficiência vascular periférica e diabetes. Quando se suspende o propranolol depois de seu uso regular prolongado, alguns pacientes apresentam uma síndrome de abstinência, que se manifesta por nervosismo, taquicardia, aumento da intensidade da angina ou elevação da pressão arterial. O propranolol também produz uma baixa incidência de efeitos que não são claramente atribuíveis ao bloqueio β, incluindo diarréia, constipação, náusea e vômitos. Não raramente, os pacientes em uso de propranolol queixam-se de efeitos sobre o sistema nervoso central, que lembram aqueles causados pela metildopa e clonidina, incluindo pesadelos, fadiga, depressão mental e insônia. Por fim, o propranolol pode aumentar os níveis plasmáticos de triglicerídeos e diminuir o HDL-colesterol, o que pode, teoricamente, contribuir para a aterogênese. b5) Antagonistas α-adrenérgicos: São exemplos: prazosina, terazosina, doxazosina, fenoxibenzamina e fentolamina. São utilizados no tratamento da hipertensão arterial e da insuficiência cardíaca congestiva. Ao atingir a terminação nervosa, o impulso nervoso determina liberação de noradrenalina. Parte desse mediador atua nos receptores pós-sinápticos, chamados α1, e promove vasoconstrição. De outro lado, o mediador atua nos receptores pré-sinápticos, denominados α2, e bloqueia a liberação de noradrenalina, exercendo retroalimentação negativa. Os antagonistas dos receptores α1 atuam predominantemente nos receptores α1, inibem a vasoconstricção produzida pela noradrenalina e não impedem a retroalimentação negativa. Os antagonistas dos receptores α- adrenérgicos diminuem a resistência arteriolar, causando redução dos níveis pressóricos. Desencadeiam taquicardia reflexa, retenção hídrica e salina que podem levar a perda parcial ou total do efeito anti-hipertensivo do grupo. Também aumentam a capacitância venosa, que pode induzir hipotensão ortostática. Constituem fármacos utilizados no tratamento da hipertensão arterial, geralmente associada a diuréticos. A principal preocupação com relação ao uso dos antagonistas do receptor α1-adrenérgicos na hipertensão é denominado fenômeno de primeira dose, que é uma hipotensão ortostática sintomática que ocorre dentro de 90 minutos após a dose inicial do agente, ou quando a dosagem é rapidamente aumentada. O efeito ocorre em até 50% dos pacientes, aparecendo particularmente naqueles que já estão em uso de um diurético ou de um antagonista do receptor β-adrenérgico. Após as primeiras poucas doses, os pacientes desenvolvem tolerância a esta acentuada resposta hipotensiva. Os antagonistas do receptor α1-adrenérgico podem ser utilizados no tratamento da hipertensão de qualquer grau, mas não costumam ser eficazes por si, exceto nos pacientes com hipertensão branda a moderada. Os diuréticos e os antagonistas do receptor β-adrenérgico aumentam a eficácia dos bloqueadores α1. Prazosina não é o agente de escolha para os pacientes com feocromocitoma, pois uma resposta vasoconstritora à adrenalina ainda pode ocorrer da ativação dos receptores vasculares α2-adrenérgicos não bloqueados. b6) Antagonistas adrenérgicos mistos: É exemplo: labetalol. Este tipo de anti-hipertensivo apresenta a propriedade de bloquear tanto os receptores α como os β-adrenérgicos. A relação entre os efeitos α e β após a administração oral é de aproximadamente 1:3. O labetalol é agente hipotensor potente, útil no tratamento da hipertensão essencial e de outros efeitos cardiovasculares associados ao feocromocitoma e no tratamento da hipertensão rebote que ocorre com a interrupção abrupta da clonidina e de outros anti-hipertensivos. O efeito adverso mais significante do fármaco é a tontura, que algumas vezes está associada a hipotensão postural. Compartilha efeitos adversos e precauções comuns aos α e β-bloqueadores. c) Vasodilatadores: São fármacos estrutural e quimicamente diferentes, cuja similaridade está na ação sobre a musculatura vascular, sem mediação direta do sistema nervoso autônomo ou humoral. De acordo com o local predominante de ação, os vasodilatadores são classificados em: a) arteriais e b) arteriais e venosos. Os vasodilatadores são fármacos potentes utilizados no tratamento da hipertensão arterial, geralmente associados a diuréticos e β-bloqueadores. Os de administração parenteral (diazóxido e nitroprussiato de sódio) são úteis nas emergências hipertensivas. c1) Arteriais: São exemplos: hidralazina, minoxidil e diazóxido. A hidralazina age principalmente sobre vasos de resistência, produzindo queda da resistência vascular sistêmica e paralelamente aumento do débito cardíaco e freqüência cardíaca. Isoladamente produz aumento da atividade de renina e retenção hídrica por aumento do tono simpático, secundário à vasodilatação. O fármaco é bem absorvido por via oral. É metabolizado no fígado, sendo que grande parte é metabolizada na sua primeira passagem pelo fígado através de múltiplos sistemas enzimáticos. A meia-vida biológica varia de 3 a 8 horas. Os efeitos adversos mais comuns e freqüentes são palpitações, cefaléias, sudorese, tremor de extremidades e congestão nasal, que são diminuídos após uso crônico. Pela ação taquicardizante e pelo aumento do débito cardíaco, a hidralazina pode precipitar episódios anginosos em indivíduos com insuficiência coronariana; o uso concomitante de β- bloqueadores pode reduzir este efeito indesejável. O minoxidil é potente vasodilatador de ação predominantemente em território arterial. Comparativamente é mais potente que a hidralazina. Seu uso restringe-se ao tratamento da hipertensão grave e resistente à terapêutica habitual. O fármaco é bem absorvido por via oral e a sua meia- vida biológica é de 4 horas, mas o efeito hipotensor permanece por até 24 horas. A metabolização é hepática e a sua excreção é renal. Produz frequentemente hipertricose, assim como derrame pericárdico, ambos reversíveis com a supressão da terapêutica. c2) Arteriais e venosos: É exemplo: nitroprussiato de sódio. O nitroprussiato de sódio é um poderoso vasodilatador administrado por via parenteral, utilizado no tratamento de emergências hipertensivas, bem como na insuficiência cardíaca grave. O nitroprussiato dilata os vasos tanto arteriais quanto venosos, produzindo uma redução da resistência vascular periférica e do retorno venoso. A ação ocorre em conseqüência da ativação da guanilil ciclase, através da liberação de óxido nítrico ou através da estimulação direta da enzima. Em conseqüência, ocorre aumento do GMPc intracelular, relaxando o músculo liso vascular. Na ausência de insuficiência cardíaca, a pressão arterial diminui, devido à redução da resistência vascular, enquanto o débito cardíaco não é alterado, ou diminui ligeiramente. O nitroprussiato é rapidamente metabolizado pela sua captação nos eritrócitos, com liberação de cianeto. Por sua vez, o cianeto é metabolizado pela enzima mitocondrial rodanase, na presença de doador de enxofre, em tiocianato. O tiocianato é distribuído no líquido extracelular e lentamente eliminado pelo rim. O nitroprussiato reduz rapidamente a pressão arterial, porém seus efeitos desaparecem dentro de 1-10 minutos após a suspensão do fármaco. É administrado por infusão contínua. O nitroprussiato de sódio em solução aquosa é sensível à luz, portanto, deve ser preparado logo antes de cada administração e coberto com papel de alumínio. Tipicamente, a terapia é iniciada com uma dose de 0,5 μg/kg/min, que pode ser aumentada até 10 μg/kg/min, se necessário, para o controle da pressão arterial. As velocidades maiores de infusão, se forem mantidas por mais de uma hora, podem resultar em efeitos tóxicos. Em virtude da sua eficácia e do rápido início de seu efeito, o nitroprussiato deve ser administrado através de uma bomba de infusão, sendo a pressão arterial continuamente monitorizada através de registro intra-arterial. A toxicidade mais grave está relacionada ao acúmulo de cianeto; em conseqüência disso, foi relatada a ocorrência de acidose metabólica, de arritmias, hipotensão excessiva e morte. A administração de tiossulfato de sódio como doador de enxofre facilita o metabolismo do cianeto. A hidroxicobalamina combina-se com cianeto, formando cianocobalamina atóxica. Ambos têm sido indicados para a profilaxia ou o tratamento do envenenamento por cianeto durante a infusa de nitroprussiato. d) Bloqueadores de canais de cálcio: Os bloqueadores dos canais de cálcio atuam através da inibição da entrada de cálcio na célula ligando-se aos canais lentos voltagem- dependentes na membrana celular. Nesses canais existem sítios de ligação específicos, onde se ligam aos fármacos bloquadores de cálcio. Os bloqueadores de cálcio reduzem a pressão arterial pela redução da resistência periférica vascular resultante do relaxamento da musculatura lisa vascular. Esses fármacos apresentam eficácia anti-hipertensiva elevada com controle rápido dos valores pressóricos. Os bloqueadores dos canais de cálcio são compostos de estrutura heterogênea, divididos em quatro classes: d1) Fenilalquilaminas: É exemplo: verapamil. O verapamil tem maior efeito sobre o coração e pode diminuir a freqüência e débito cardíacos. d2) Diidropiridínicos: São exemplos: nifedipina, nicardipina, isradipina, amlodipina, felodipina, nisoldipina e nimodipina. A nifedipina e os outros agentes diidropiridínicos são mais seletivos como vasodilatadores e exercem menos efeito depressor cardíaco do que o verapamil e o diltiazem. A ativação simpática reflexa, com leve taquicardia, mantém ou aumenta o débito cardíaco na maioria dos pacientes que fazem uso de diidropiridinas. Embora exista ainda alguma controvérsia quanto à causa, recomenda-se que a nifedipina de ação curta não seja utilizada para hipertensão, só para casos de emergência de hipertensão grave. Os bloqueadores dos canais de cálcio de liberação prolongada ou aqueles com meias-vidas longas proporcionam um controle mais uniforme da pressão arterial e são mais apropriados para o tratamento da hipertensão crônica. A nifedipina, administrada oralmente, começa a atuar em 30 minutos, persistindo por até 12 horas; por via sublingual, inicia sua ação em 3 minutos. A biotransformação é hepática e a sua excreção, renal. Os principais efeitos adversos são: rubor facial, cefaléia, edema de membros inferiores e distúrbios sexuais, efeitos estes geralmente de pequena monta, que raramente provocam a suspensão do tratamento. A nicardipina intravenosa é disponível para o tratamento da hipertensão quando a terapia oral não é possível, embora o verapamil e o diltiazem por via parenteral possam ser utilizados para a mesma indicação. Tipicamente, a nicardipina é administrada na forma de infusão, numa taxa de 2-15 mg/h. d3) Benzotiazepínicos: É exemplo: diltiazem. O diltiazem possui ações intermediárias. d4) Diarilaminopropilamínico: É exemplo: bepridil. e) Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA): São exemplos: captopril, enalapril, lisinopril, quinapril, ramipril, benazepril, fosinopril. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina constituem uma classe de fármacos utilizados para o tratamento da hipertensão arterial e da insuficiência cardíaca congestiva. Atuam inibindo a enzima conversora (dipeptidil carboxipeptidase), que promove a transformação da angiotensina I em angiotensina II (potente vasoconstritor) e degrada as cininas (substâncias vasodilatadoras). Existe também inibição da produção de aldosterona, pois sua liberação é estimulada pela angiotensina II. Esses fármacos promovem vasodilatação tanto pela diminuição da quantidade de angiotensina II como pelo acúmulo de cininas, além de promoverem natriurese por diminuição da quantidade de aldosterona. Ambos os mecanismos citados contribuem para o efeito anti-hipertensivo do grupo. Além disso, os inibidores da ECA aumentam a eficácia dos fármacos diuréticos. Isto significa que até mesmo quantidades muito pequenas de diuréticos melhoram, de forma substancial, a eficácia anti-hipertensiva dos inibidores da enzima conversora de angiotensina e, por outro lado, o uso de altas doses de diuréticos junto com os inibidores da ECA levam à redução excessiva na pressão sangüínea e à perda de sódio em alguns pacientes. Os inibidores da ECA parecem fornecer uma vantagem especial no tratamento dos pacientes com diabetes, tornando lento o desenvolvimento da glomerulopatia diabética. Além disso, mostraram-se eficazes na redução da progressão de outras formas de doença renal crônica, como glomerulosclerose; e muitos desses pacientes também são hipertensos. Um inibidor da ECA é provavelmente o agente inicial preferido no tratamento dos pacientes hipertensos com hipertrofia ventricular esquerda. Os pacientes com hipertensão e cardiopatia isquêmica que apresentam anormalidades na função sistólica do ventrículo esquerdo são candidatos para o tratamento com inibidores da ECA. O captopril foi o primeiro agente desenvolvido para o tratamento da hipertensão. Desde então, outros agentes já estão disponíveis na terapêutica: enalapril, lisinopril, quinapril, ramipril, fosinopril, trandolapril e perindropil. O captopril e enalapril são dois inibidores conhecidos da enzima conversora que apresentam fórmula estrutural semelhantes, sendo que o enalapril difere do captopril por não apresentar grupo sulfidril terminal. Ambos são bem absorvidos por via oral e são excretados pelo rim. O enalapril após absorção oral sofre hidrólise no fígado, transformando-se no ácido enalaprilato, forma ativa do fármaco. Os portadores de hipertensão renovascular, bem como pacientes com hipertensão grave e hipertensão resistente com concentração plasmática elevada de renina, beneficiam-se substancialmente com a inibição da enzima conversora de angiotensina. Evidências mostraram que tanto o captopril como o enalapril são efetivos no tratamento de hipertensão leve e moderada com ou sem terapêutica diurética associada. Após a dose inicial, os inibidores de ECA podem causar considerável queda na pressão arterial de alguns pacientes. Assim, a terapia deve ser iniciada sempre com doses baixas. O captopril e o enalapril, quando utilizados em dosagens equivalentes, apresentam incidência semelhante dos mesmos efeitos adversos. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina induzem tosse seca em 2 a 20% dos pacientes. É o efeito colateral mais comum. Proteinúria de causa desconhecida costuma aparecer mais frequentemente em pacientes com doença renal prévia, surgindo nos primeiros meses de tratamento; pode regredir espontaneamente e ocasionalmente levar à interrupção do tratamento. Hiperpotassemia pode ocorrer como conseqüência do hipoaldosteronismo induzido pelo fármaco. Também são descritos os seguintes efeitos adversos: perda transitória do paladar, perda de peso, reações alérgicas cutâneas, positividade de anticorpos antinucleares, neutropenia, agranulocitoses, náuseas e irritação gástrica. Pode ocorrer insuficiência renal aguda em pacientes com estenose bilateral da artéria renal. O angioedema é um efeito adverso sério e potencialmente fatal dos inibidores da enzima conversora de angiotensina, de ocorrência rara. Os pacientes devem ser alertados para a suspensão do uso desses fármacos na presença de sinais de angioedema. Os inibidores da enzima conversora não devem ser usados durante a gravidez, portanto, mulheres em idade fértil devem ser alertadas. f) Antagonistas do receptor da angiotensina II: São exemplos: losartan, irbesartan, condesartan, valsartan e telmisartan. A angiotensina II, substância efetora do sistema renina-angiotensina- aldosterona, formada a partir da conversão da angiotensina I pela enzima conversora da angiotensina, desempenha papel importante na regulação da pressão arterial e na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. Este peptídeo interage com dois tipos de receptores denominados AT1 e AT2, que pertencem à grande família dos receptores acoplados à proteína G, amplamente distribuídos no organismo. As múltiplas ações fisiológicas da angiotensina II – vasoconstrição, liberação de aldosterona, reabsorção de sódio pelos túbulos proximais, efeitos tróficos e efeitos cronotrópicos e inotrópicos positivos – parecem dependerem da interação desse peptídeo com os receptores AT1, que são expressos no coração, nos rins e pulmões entre outros tecidos. Os receptores AT2, cuja expressão é bastante significativa no período fetal, são menos abundantes que os receptores AT1 na fase adulta. Alguns estudos sugerem ainda que esses receptores sejam expressos somente em condições de injúria. Os efeitos fisiológicos produzidos pela ativação dos receptores AT2 não são totalmente conhecidos, entretanto alguns autores têm demonstrado que a ativação desses receptores pode promover um efeito contra- regulador sobre os efeitos produzidos pela ativação dos receptores AT1. Os bloqueadores dos receptores de angiotensina II são uma nova classe de anti-hipertensivos que bloqueiam seletivamente os receptores AT1, sem ativação nos receptores AT2. O primeiro antagonista dos receptores AT1 foi o losartan, posteriormente outros compostos foram desenvolvidos como o irbesartan, condesartan, valsartan e, mais recentemente, o telmisartan. O efeito anti-hipertensivo dos antagonistas é comparável a outros agentes anti-hipertensivos. São fármacos seguros e apresentam efeitos adversos comparáveis aos dos inibidores da enzima conversora de angiotensina. O mecanismo de ação desses agentes se deve possivelmente à estimulação dos receptores AT2 pela angiotensina II que se acumula em conseqüência do uso dos antagonistas seletivos. O losartan é ativo por via oral e extensamente metabolizado; seu principal metabólito, o ácido 5-carboxílico, é ativo. A meia-vida do losartan é cerca de 2 horas, enquanto a do metabólito é de 6-9 horas. A dose inicial típica é de 50 mg/dia, com faixa posológica habitual de 25-100 mg/dia. 4.2. Medidas não-farmacológicas: As modificações no estilo de vida para reduzir a pressão sangüínea deveriam ser as medidas iniciais para pacientes jovens com hipertensão moderada e com nenhum outro fator de risco cardiovascular. Estas modificações no estilo de vida do paciente devem ser continuadas na terapia farmacológica também. a) Restrição ao sódio: As dietas ricas em sal estão associadas a alta prevalência de hipertensão. Na maioria dos pacientes hipertensos hospitalizados, a restrição rigorosa de sal reduz a pressão sangüínea; este método de tratamento era realizado antes do desenvolvimento dos agentes anti- hipertensivos. Entretanto, a restrição rigorosa de sal não é prática em termos de aceitação pelo paciente. Vários estudos mostraram que a restrição moderada na ingestão de sal para cerca de 5g/ dia (2 g de sódio) reduz, em média, a pressão sangüínea sistólica em 12 mmHg, e a diastólica em 6 mmHg. Quanto mais alta a press]ao sangüínea inicial, maior a resposta. Além disso, os indivíduos com mais de 40 anos de idade respondem mais ao efeito hipotensivo da restrição moderada de sal. Embora nem todos os pacientes hipertensos respondam à restrição de sal, esta intervenção é benigna e pode ser facilmente tentada como abordagem inicial em todos os pacientes com hipertensão branda. Um benefício adicional da restrição de sal é a melhor resposta a alguns agentes anti-hipertensivos. b) Redução de peso: Fatos: - A hipertensão é de duas a três vezes mais prevalente em pessoas acima do peso comparada com pessoas de peso normal. - 60% das pessoas hipertensivas estão acima do peso. - A perda de peso diminui a pressão sangüínea em 60 a 80% para pessoas acima do peso. - A obesidade está associada com a resistência à insulina e hiperinsulinemia. A hiperinsulinemia pode estar envolvida com a patogênese da hipertensão, assim como a hiperlipidemia. - Dietas com baixa proporção de gordura e com alta proporção poliinsaturados/ saturados mostraram que diminuem a pressão sangüínea em indivíduos hipertensos. Mais do que isso, a diminuição do consumo a gordura saturada e colesterol são importantes como medida inicial para o tratamento da hiperlipidemia. A hiperlipidemia é o maior fator independente de risco para a doença coronariana. Este risco é maior para pessoas hipertensivas. - 30 a 60% dos pacientes hipertensos são sensíveis a sal. Neste grupo, a pressão sangüínea irá cair para uma média de 10 mmHg se o consumo de sal for reduzido de 12 g diárias para 6 g diárias. A obesidade e a hipertensão estão estreitamente relacionadas, e o grau de obesidade está positivamente relacionado com a incidência de hipertensão. Os indivíduos obesos e hipertensos podem reduzir sua pressão sangüínea ao reduzir seu peso corporal independente de alteração no consumo de sal. O mecanismo através do qual a obesidade provoca hipertensão é obscuro, mas a secreção aumentada de insulina na obesidade poderia resultar em aumento insulino-mediado da rabsorção tubular renal de sódio e na expansão do volume extracelular. A obesidade também está associada a aumento da atividade do sistema nervoso simpático, que é revertido pela perda de peso. Para muitos é difícil manter a perda de peso. Uma combinação de exercícios físicos aeróbicos e aconselhamento nutricional aumentam a participação e adesão do paciente ao tratamento. c) Exercícios físicos: O aumento da atividade física reduz a taxa de doença cardiovascular nos homens. Não se sabe se este efeito benéfico é secundário a uma resposta anti-hipertensiva ao exercício. A falta de atividade física está associada a maior incidência de hipertensão. Embora nem sempre sejam observadas alterações consistentes na pressão sangüínea, estudos meticulosamente controlados mostraram que a realização regular de exercícios isotônicos (corrida, caminhada, natação e ciclismo) reduz as pressões sistólica e diastólica em cerca de 100 mmHg. O mecanismo através do qual o exercício pode reduzir a pressão sangüínea não está claro, mas foram documentadas várias alterações hemodinâmicas e humorais. A realização regular de exercícios isotônicos reduz o volume sangüíneo e as catecolaminas plasmáticas e eleva as concentrações plasmáticas do fator natriurético atrial. O efeito benéfico dos exercícios pode ocorrer em indivíduos que não apresentem alterações no peso corporal ou na ingestão de sal durante o período de tratamento. A prática de exercícios físicos também é benéfica para a perda de peso, diminuição de triglicérides plasmáticos e determina sensibilidade à insulina. Uma atividade regular de exercícios físicos diminuem a pressão sangüínea e o colesterol total e o LDL, aumentando também os níveis de HDL. Um programa de atividades físicas deve ser iniciado gradualmente e pode controlar a pressão sangüínea, sem a necessidade de medidas farmacológicas, para pacientes com hipertensão moderada. d) Evitar o fumo: O fumo aumenta o risco de câncer e doenças pulmonares e dobra o risco de doenças cardiovasculares. Embora a pressão sangüínea oficial não difere para os fumantes, 24 horas de monitoramento ambulatorial na pressão sangüínea mostrou que fumantes apresentaram pressão arterial maior no período do dia, particularmente os caucasianos acima de 50 anos. Estudos também mostraram que o fumo interfere na redução da pressão arterial causada pelo uso de propranolol em pessoas negras. e) Restrição de álcool: O consumo de álcool pode elevar a pressão sangüínea, mas não se sabe qual o volume de álcool que precisa ser consumido para a ocorrência deste efeito. O consumo intenso de álcool aumenta o risco de AVC, mas não de coronariopatia. Na realidade, a ingestão de pequenos volumes de álcool protege contra o desenvolvimento de coronariopatia. O mecanismo que eleva a pressão sangüínea é desconhecido, mas envolve o aumento do transporte de cálcio nas células musculares lisas vasculares. A ingestão excessiva de álcool também leva à pouca obediência com os esquemas anti-hipertensivos. Todos os pacientes hipertensos devem ser aconselhados a limitar o consumo de etanol para não mais que 30 mL/dia. f) Restrição de cafeína: A cafeína aumenta a pressão sangüínea em pessoas que não têm o hábito de consumir regularmente metilxantinas, enquanto que, um consumo habitual de cafeína pode estar associado com o desenvolvimento da completa tolerância a este efeito na pressão. Entretanto, o monitoramento ambulatorial da pressão sangüínea para consumidores habituais de café demonstrou um aumento significativo na pressão sangüínea. Devido ao seu potencial no aumento da pressão, pacientes hipertensos devem ser recomendados a tomarem duas xícaras de café, no máximo, por dia e evitarem o consumo de café antes da medição de sua pressão sangüínea. g) Terapia de relaxamento: A constatação de que os estímulos estressantes prolongados podem causar hipertensão contínua nos animais deu credibilidade à possibilidade de que a terapia de relaxamento reduz a pressão sangüínea em alguns pacientes hipertensos. Alguns estudos geraram resultados positivos, mas em geral a terapia de relaxamento tem efeitos inconsistentes e modestos na pressão sangüínea. Além disso, a eficácia prolongada deste tratamento é difícil de se demonstrar, talvez em parte porque os pacientes precisariam ser muito motivados a responder à terapia de relaxamento. Apenas os pacientes com hipertensão branda que desejam tentar este método devem ser encorajados; esses pacientes devem ser acompanhados e devem receber tratamento farmacológico, se necessário. h) Terapia com potássio: Nos pacientes hipertensos, existe uma relação positiva entre sódio corporal total e a pressão sangüínea, e uma relação negativa entre potássio corporal total e pressão sangüínea. Além disso, a ingestão nutricional, as concentrações plasmáticas e a excreção urinária de potássio são reduzidas em várias populações de indivíduos hipertensos. O aumento da ingestão de potássio poderia reduzir a pressão sangüínea aumentando a excreção de sódio, suprimindo a secreção de renina, causando dilatação arteriolar (possivelmente estimulando a atividade Na+, K+-ATPase e reduzindo as concentrações intracelulares de Ca2+) e comprometendo a resposta aos vasocontrictores endógenos. Em ratos hipertensos, a suplementação com potássio reduz a pressão sangüínea e diminui a incidência de AVC, independente da pressão sangüínea. Nos pacientes com hipertensão branda, a administração de suplementos orais de potássio de 48 mmol/dia reduz as pressões sistólica e diastólica. A suplementação com potássio também protege contra ectopia ventricular e AVC. Com base em todos esses dados, parece prudente utilizar uma dieta com alto teor de potássio junto com restrição moderada de sódio no tratamento não-farmacológico da hipertensão. Entretanto, uma dieta hipersódica não deve ser recomendada para os paciente em uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina. 5. Terapias alternativas: Estudos recentes comprovaram o efeito hipotensor de extratos em camundongos hipertensos induzidos por acetato de deoxicorticosterona (DOCA). Pesquisadores da Universidade de Masshad, Irã, comprovaram que a ação hipotensora do extrato aquoso obtido do fruto de Berberis vulgaris em camundongos hipertensos foi devido aos seus efeitos vasodilatadores endotelial-independentes. E, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco estudaram o efeito do óleo essencial obtido de folhas de Ocimum gratissimum e seu principal constituinte, o eugenol, em camundongos hipertensos. Os efeitos observados com este tratamento foram: hipotensão e bradicardia. Os resultados mostraram que os tratamentos intravasculares com o óleo essencial de Ocimum gratissimum ou eugenol diminuíram a pressão arterial em camundongos conscientes hipertensos pelo uso de sal de DOCa. Estes efeitos parecem estar mais relacionados com o aumento do relaxamento vascular do que com o aumento da atividade do sistema nervoso simpático neste modelo hipertensivo. Outro estudo baseou-se em pesquisas de dados sobre os efeitos dos produtos naturais na pressão sangüínea. Casos e mecanismos de ação claramente definidos mostraram fortes evidências da habilidade de Ephedra e alcaçuz aumentarem a pressão sangüínea. A coenzina Q (10) mostrou-se eficaz na diminuição da pressão sistólica e diastólica, mas o mecanismo de ação não está claramente elucidado. Um grupo de estudos da Dinamarca acredita no poder da medicina holística no tratamento de problemas de saúde que não têm uma causa definida, como a hipertensão, por exemplo. As ferramentas da medicina holística baseiam-se na melhoria da qualidade de vida do paciente, onde pode ser trabalhado seu amor, seu propósito de vida, e o modo como ele usa seus talentos, sua mente, seus sentimentos, seu corpo e sua sexualidade. 6. Evolução e perspectivas de novos tratamentos: O desenvolvimento mais esperado na terapia anti-hipertensiva é o novo conhecimento obtido nas pesquisas clínicas comparando a eficácia dos fármacos nos pontos importantes da morbidade e mortalidade. Uma pesquisa clínica visando a esses pontos foi desenvolvida pelo National Heart, Lung and Blood Institute. Este é o Antihypertensive and Lipid Lowering – tratamento para evitar Heart Attack Trial (ALLHAT), e está comparando os resultados do tratamento com um diurético tiazídico (clortalidona), um inibidor da enzima conversora de angiotensina (lisinopril), um bloqueador dos canais de cálcio (anlopidina) e um antagonista do receptor α1- adrenérgico (doxazosina). Esta pesquisa está avaliando os efeitos desses fármacos nos pacientes com mais de 55 anos de idade, com alto risco de eventos oclusivos vasculares. Atualmente, o benefício de um agente para redução do colesterol, a pravastatina, está sendo avaliado na mesma população. Ma Escandinávia, o Captopril Prevention Project (CAPPP) está comparando o inibidor da enzima conversora de angiotensina, captopril, com a terapia anti-hipertensiva convencional com diuréticos ou antagonistas do receptor β-adrenérgico, sendo a mortalidade cardiovascular o objetivo terminal. Um segundo estudo realizado na Escandinávia, o Nordic Diltiazem Study (NORDIL) tem como seu objetivo final a mortalidade cardiovascular; este estudo compara o diltiazem aos diuréticos ou aos antagonistas do receptor β-adrenérgico. Nos pacientes idosos, o segundo Swedish Trial on Old Patients com hipertensão está avaliando a eficácia relativa de um bloqueador dos canais de cálcio nos idosos. Ao avaliar os resultados dessas pesquisas, deve-se considerar a possibilidade de que o fármaco ou classe preferida nos pacientes idosos pode não ter o mesmo benefício relativo que nos indivíduos mais jovens. Esses estudos, se forem bem-sucedidos, influenciarão profundamente a abordagem para o tratamento da hipertensão. Novos fármacos – Inibidores de vasopeptidase: Embora representem uma nova classe de medicamentos que ainda não foi lançada no mercado, os inibidores da vasopeptidase, substâncias que promovem inibição simultânea da enzima conversora, enzima envolvida na transformação da angiotensina I em angiotensina II (vasoconstritor potente), e endopetidase neutra, que degrada a bradicinina, adrenomedulina e os peptídeos natriuréticos (vasodilatadores), enzimas que pertencem à família das metalopeptidases, parecem ser fármacos promissores para o tratamento das doenças cardiovasculares e renais, uma vez que essas enzimas desempenham papel importante na síntese e degradação de peptídeos vasoativos que estão envolvidos na regulação desses sistemas. Além disso, alguns estudos demonstraram que a co-inibição de ambas as metalopeptidases produzem efeitos comparáveis aos de uso isolado de cada inibidor específico. Neste grupo de fármacos, destacamos o omapatrilato, fasidotrilato e o sampatrilato, que apresentam potências inibitórias similares in vitro para as duas enzimas e estão na fase II de estudos clínicos. Nesses estudos, os inibidores da vasopeptidase foram bastante efetivos no tratamento de pacientes com hipertensão leve a moderada e especialmente em pacientes hipertensos da raça negra, que são resistentes à terapia com inibidores da ECA. Esses fármacos promovem seus efeitos benéficos provavelmente por meio da redução da formação da angiotensina II e maior preservação dos peptídeos vasodilatadores. 7. Referências: 1. BEERS, M.H.; BERKOW, R. The merck manual of diagnosis and therapy. 17. ed. Estados Unidos: Centennial edition, 1999, p.1629-1646. 2. DIPIRO, J.T.; TALBERT, R.L.; HAYES, P.E; YEE, G.C.; MATZKE, G.R.; POSEY, L.M. 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