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Sebenta De Psicologia Da Aprendizagem

apontamentos das aulas teóricas de Psicologia da Aprendizagem - Faculdade de Psicologia Lisboa

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Vanessa Dias Sebenta: Psicologia da Aprendizagem 2009/2010 O presente documento não deve ser utilizado em substituição de quaisquer materiais da UC Psicologia da Aprendizagem e NÃO se compromete quanto à presença de erros ou falhas. Caso encontre informações falsas ou erróneas, por favor, reporte para [email protected] OBRIGADO!  Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Aulas teóricas Aprendizagem e a sua história As primeiras abordagens teóricas da aprendizagem têm sido atribuídas a Descartes. Estas abordagem relacionam-se com a concepção Funcionalismo reflexo-máquina, sendo hoje os teóricos do - Foco na função dos processos mentais conscientes comportamento os seus actuais percursores. De acordo com esta concepção, o repertório de comportamentos pré-relacionados (pré-associados) do organismo é suplementado por novas relações contínuas (formação de novas associações), produzidas pela experiência do sujeito. Grande parte do interesse inicial e do debruço sobre este tema (estudo da aprendizagem) deveram-se à mudança de paradigma até então vingente – o funcionalismo - As emoções, a vontade, os valores, as experiências, etc., eram consideradas relevantes para a aprendizagem deu lugar ao Comportamentalismo (ou behaviorismo) - Pretende explicar o comportamento em relação aos estímulos do meio ambiente que o influenciam - Procura identificar mudanças mais ou menos permanentes, como resultado da experiência comportamentalismo. Na primeira metade do século XX, a aprendizagem estava no centro da Psicologia Científica. O interesse dos teóricos do comportamento pela aprendizagem surgiu em especial nos EUA, onde a sociedade norte-americana focava-se no aperfeiçoamento do sujeito, levando-o a esforçar-se cada vez mais na aquisição de novas competências. Acreditava-se nesta época que os seres humanos eram maleáveis, através de modificações adequadas do ambiente e, nomeadamente, através da educação. Realizaram-se inúmeros estudos sobre a forma como os animais aprendiam para se poder inferir sobre a aprendizagem humana. Destes resultados experimentais surgiram novas pedagogias de aprendizagem escolar, novos métodos de intervenção e conceptualização psicológica. Watson deixou esta perspectiva bem patente numa das suas citações: Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre “Dêem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, um ambiente por mim devidamente definido para as educar e garanto-vos que, escolhendo uma ao acaso, a educarei até se tornar no especialista que eu quiser: médico, advogado, artista, comerciante e, decerto, mesmo um miserável ladrão, SEM OLHAR aos seus talentos, inclinações, tendências, aptidões, vocações e raça dos antepassados” J.B. Watson, 1925 Observação: neta citação é, portanto, bem visível, o desprezo e a irrelevância das características internas dos sujeitos nas suas aprendizagens... só o ambiente se constituía como factor determinante para a aprendizagem e “construção” do ser humano Para a maioria dos teóricos comportamentais, há algumas leis básicas da aprendizagem quer se trate de animais, quer se trate de seres humanos. As actividades de aprendizagem complexas, segundo estes, podem ser ser simplificadas, transformando-se em actividades mais simples. Deste modo, os estudos experimentais focaram-se primariamente em actividades simples, desempenhadas por animais. Desde os finais do século XIX até aos anos 60 do século XX, toda a investigação feita (e.g. Thorndike, Pavlov) teve como objectivo explicar todos os processos de aprendizagem do ser humano e, por isso, as teorias desenvolvidas, durante este período de tempo, eram “globais”. Após sensivelmente os anos 50, com a teoria do processamento da informação, surgiram algumas mudanças que conduziram ao abandono do comportamentalismo (behaviorismo) e o estudo da aprendizagem passou a ser feito de forma mais específica. O estudo da aprendizagem desenvolveu-se então segundo áreas distintas (e.g. psicologia cognitiva, do desenvolvimento, educacional), havendo assim uma linha de investigação actualmente mais específica dos processos de aprendizagem (Mower, 2001). No entanto, como cada área de estudo tem a sua linguagem, abordagem, objectos de estudo e funções, o conceito de aprendizagem foi desintegrado e até hoje não têm existido muitas tentativas no sentido de integrar e unificar os diferentes aspectos da aprendizagem (Mower, 2001). Há, no entanto, a esperança de que a Aprendizagem volte a ser um aspecto central da Psicologia e de que seja integrada e reconhecida como o coração da mesma (Nicolson, 1998). Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre ORIGEM HISTÓRICA DO ASSOCIACIONISMO Desde Aristóteles que é possível verificar a abordagem associacionista. Segundo Milhollan e Forissha (1978), a Psicologia Científica do Século XIX-XX derivou de dois grandes movimentos: a) Crítica ao racionalismo cartesiano: oposição às inadequações e inconsistências das tendências mentalistas e à introspecção como método único de investigação b) Teoria positivista da ciência: Augusto Comte (1789-1857) A teoria comportamental baseou-se nos seguintes pressupostos: a) O associacionismo é o aspecto essencial da aprendizagem b) O reducionismo ambientalista é mais ou menos radical conforme o momento ou o investigador c) O ambientalismo está na base de comportamentos considerados passivos no processo de aprendizagem d) A crença de que todo o comportamento, por mais complexo que seja, se pode separar em elementos simples e) A equipotencialidade das leias da aprendizagem, em qualquer ambiente ou referida a qualquer tipo de organismo As posturas comportamentais centraram-se na utilização de três ideias principais (Delclaux, 1978): I) II) III) Reducionismo: decomposição da experiência em partes mais simples para serem estudadas separadamente através do método analítico Causalidade: tudo é explicável em forma de relações simples de causa-efeito Determinismo: sentido mecanicista que se dá à ordem natural das coisas e que leva a afirmar que tudo está predeterminado no mundo De acordo com estes princípios foram desenvolvidos pelos teóricos comportamentalistas dois modelos de aprendizagem: CONDICIONAMENTO CLÁSSICO (RESPONDENTE ou REFLEXIVO) e CONDICIONAMENTO INSTRUMENTAL (ou OPERANTE). Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Estes modelos permitiram verificar que os princípios da aprendizagem não são aplicados a todos os comportamentos humanos. É necessário ter em conta a influência de factores biológicos do comportamento e a predisposição evolutiva para aprender determinadas respostas ou associações de estímulos. Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre O que é a aprendizagem? Existem inúmeras operacionalizações do conceito de aprendizagem. Algumas destas têm sido modificadas e repensadas ao longo dos séculos. Quase todas elas diferem entre si ora devido à linguagem que os seus autores utilizam, ora devido às teorizações que a elas lhes estão subjacentes (e.g. abordagens comportamentais, cognitivas, motivacionais). Partindo de uma definição mais comum e que nos interessa agora abordar, podemos dizer que a aprendizagem é uma mudança no comportamento ou no conhecimento, mais ou menos permanente – mudança esta produzida pela experiência anterior do sujeito que aprende. A aprendizagem pressupõe então a aquisição de informação e conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes e crenças. Mas nem todas as mudanças revelam-se como aprendizagens: as mudanças físicas do amadurecimento, como o crescimento em altura, NÃO SÃO consideradas APRENDIZAGENS. Assim, a aprendizagem é diferente de:  Maturação (e.g. avanço da idade)  Mudanças de curto-prazo e de influência momentânea (e.g. alteração que não se repete)  Desempenho (e.g. fazer bem ou mal um bolo) Note-se que a diferenciação entre APRENDIZAGEM e DESEMPENHO nem sempre é pacífica entre autores. Há alguma controvérsia e Todas as definições de aprendizagem têm em comum as seguintes características: divisão por parte dos teóricos quanto a isto: alguns consideram que só é possível dizer que   HOUVE aprendizagem quando se observam alterações exteriores no desempenho (Druckman & Bjork, 1994); outros afirmam que não é possível   negligenciar os aspectos mentais, cognitivos (não visíveis, quando comparados com o desempenho “visível”). Psicologia da Aprendizagem Há mudança, permanente ou prolongada no tempo Resultado da experiência anterior Aprendizagem é diferente de desempenho Aprendizagem é mediada pelo sistema nervoso (SN) Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Podemos abordar a aprendizagem segundo duas perspectivas: a) Aprendizagem como produto Nesta perspectiva, a aprendizagem tem implícita uma mudança no comportamento. A aprendizagem é então vista como um resultado ou um produto final de um processo observável. b) Aprendizagem como processo Nesta perspectiva, há aprendizagem quando há compreensão. Surge quando se constatou que nem todas as mudanças no comportamento resultantes da experiência envolvem aprendizagem. Há menos centração no comportamento observável e estudo da forma como as pessoas compreendem, experimentam ou conceptualizam o Cognitivismo - estudo da cognição e dos processos mentais que estão por “detrás” do comportamento mundo que as rodeia (Ramsden, 1992). O foco tornou-se então o ganho de conhecimento ou de capacidade através do uso da experiência (cognitivismo). Que tipos de aprendizagem existem? Existem diversos tipos de aprendizagem. Nickolson (1998) refere-nos os seguintes tipos de aprendizagem: por observação, por acção, por imitação, por associação, por comunicação simbólica (e.g. instruções, informação), pelo exemplo, por acomodação, por descoberta, naturalmente... O que se pode aprender? Podem aprender-se diversas coisas: competências comportamentais, conhecimentos, associações, sistemas de crenças, entre outros. Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Para que serve aprender? As mudanças mais ou menos permanentes no comportamento humano como respostas Vantagens de aprender: às experiências são uma forma potente de sobrevivência, permitindo adaptarmo-nos ao ambiente e constituindo - adaptação - evolução - sobrevivência também, por isso, uma vantagem evolutiva. Contudo, o nosso “cérebro” não se adapta só ao contexto, mas também o contexto a si mesmo. O que influencia a aprendizagem? A aprendizagem pode ser influenciada pelos seguintes factores: a) Biológicos – programação inata que restringe e potencia determinadas associações em detrimento de outras, selecção de certas aprendizagens em vez de outras b) Culturais – valores e concepções de aprendizagem que são transmitidos pela socialização c) Idiossincráticos – estilos e capacidades específicas individuais de aprendizagem Aprendemos consciente ou inconscientemente? A aprendizagem pode ocorrer com acesso ao consciente, pelo uso do conhecimento explícito, da linguagem e da atenção intencional, mas também pode ocorrer de forma inconsciente, havendo uso do conhecimento implícito ou processual. Rogers (2003) contrastou duas abordagens a este respeito: a) Consciência da tarefa ou aquisição Ocorre sempre, de forma concreta, imediata e em relação a uma actividade específica. Neste tipo de aprendizagem, não há preocupação com o estabelecimento de princípios gerais. Há acumulação de experiência ou soma de conhecimentos. Este tipo de aprendizagem é por vezes designada por alguns teóricos como “aprendizagem inconsciente ou implícita”, contudo, Rogers (2003) prefere referir que há uma consciência da TAREFA, embora o sujeito possa não estar consciente da APRENDIZAGEM. Exs.: lida de casa, cuidar de um filho Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre b) Consciência da aprendizagem ou aprendizagem formalizada A aprendizagem é educativa. O sujeito está consciente de que está efectivamente a aprender e esse é o seu propósito na actividade. Normalmente, neste tipo de aprendizagem, surgem episódios de aprendizagem guiada (e.g. alguém ensina outro alguém). O aprendizado faz-se então de forma mais formal, generalizada e menos contextualizada. Nota: ambas as aprendizagens podem ocorrer no mesmo contexto, existindo até, por vezes, um continuum entre elas ou uma alternância. Categorias de Aprendizagem Segundo um estudo de Säljö (1979), a aprendizagem pode ser: a) Aumento quantitativo de conhecimento b) Memorização e reprodução c) Aquisição de factos, competências e métodos d) Construção de sentido ou apreensão de significado e) Reinterpretação e compreensão da realidade Onde: - as categorias a) e b) correspondem ao “saber aquilo” - as categorias c), d) e e) correspondem ao “saber como” Nestas categorias existe um sistema hierárquico: para se verificar, por exemplo, a categoria a), pressupõe-se a existência da categoria b) e anteriores. Outro exemplo: para se verificar a categoria c), pressupõe-se a existência de d) e e). Aprender ou melhorar uma competência é diferente de adquirir informação. Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre ABORDAGENS TEÓRICAS DA APRENDIZAGEM a. CONDICIONAMENTO CLÁSSICO Nesta abordagem teórica defende-se que existe uma relação entre um acontecimento e as suas circunstâncias – associação. Embora a importância das associações na aprendizagem e no pensamento humanos tenha sido realçada desde o tempo dos filósofos gregos, o estudo experimental das associações só teve início no final do século XIX. O condicionamento clássico foi demonstrado num grande número de animais, desde os mais simples, aos mais complexos. É um tipo de aprendizagem importante e do tipo adaptivo. PAVLOV Pavlov propôs uma distinção entre reflexos incondicionados e condicionados. Os reflexos incondicionados eram essencialmente inatos e incondicionalmente desencadeados pelo estímulo apropriado, sem ter em conta o historial do animal. Os reflexos condicionados eram adquiridos e, portanto, condicionados à experiência passada do animal – segundo Pavlov, estes reflexos baseavam-se na formação de novas conexões no cérebro. Todos os reflexos incondicionados estão baseados numa conexão entre um estímulo incondicionado (EI) e uma resposta incondicionada (RI). Os termos correspondentes para o reflexo condicionado são o estímulo condicionado (EC) e a resposta condicionada (RC). O estímulo condicionado (EC) é inicialmente neutro, exercendo efeito somente após vários emparelhamentos deste com o estímulo incondicionado (EI). Geralmente, a resposta condicionada é muito semelhante à resposta incondicionada, mas ambas não são necessariamente iguais. Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Principais fenómenos do condicionamento clássico Pavlov notou que a tendência do EC para desencadear a RC aumenta com a frequência de emparelhamento EC-EI. É óbvio que a apresentação do EI em conjunto ou após o EC é uma operação crítica no condicionamento clássico. Tal emparelhamento reforça a conexão – os ensaios em que o EI é apresentado e os ensaios em que é omitido designam-se por ensaios reforçados e não-reforçados, respectivamente. Estímulo Resposta Estímulo condicionado Resposta condicionada incondicionado (EI) incondicionada (RI) (EC) (RC) -produz a RI -resposta não -adquire propriedades -resposta aprendida -não há aprendida de elicitar/provocar -provocada pelo EC emparelhamento -provocada pelo EI -há emparelhamento prévio com outro prévio com outro estímulo estímulo AQUISIÇÃO DE RESPOSTA A aprendizagem é lenta, ao princípio, depois torna-se mais rápida e então estabiliza. A força da resposta aumenta com o número de ensaios reforçados. Quando a relação EC-EI está solidamente estabelecida, o EC pode servir para condicionar outros estímulos. EXTINÇÃO É um fenómeno base da aprendizagem que se verifica quando uma resposta previamente condicionada se torna menos frequente e por fim desaparece. Para que ocorra extinção, é necessário terminar com associação EC-EI, expondo repetidamente o primeiro sem o segundo. Desde modo, após algumas repetições, a resposta deixará de se verificar. RECUPERAÇÃO ESPONTÂNEA Após ocorrer extinção e um momento de descanso, a resposta condicionada regressa sem condicionamento adicional. As respostas tendem no entanto a serem mais fracas que as iniciais e são mais facilmente extintas do que as anteriores. Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre GENERALIZAÇÃO DE ESTÍMULOS Nesta situação, há resposta a um estímulo semelhante mas diferente de um estímulo condicionado – quanto mais parecidos forem os estímulos, maior é a probabilidade de se verificar este fenómeno. A resposta condicionada desencadeada pelo novo estímulo não é normalmente tão forte como a inicial, mas quanto mais os estímulos de assemelham, mais parecida será a resposta. DISCRIMINAÇÃO DE ESTÍMULOS Há discriminação de estímulos quando dois estímulos são suficientemente diferentes entre si, de forma a que só um deles desencandeie uma resposta condicionada. Trata-se assim de um processo através do qual o organismo aprende a diferenciar estímulos distintos e restringe a resposta condicionada a um estímulo face aos demais. HIPÓTESE DE PREPARAÇÃO BIOLÓGICA Segundo Martin Seligman, a evolução fez com que os seres humanos sejam mais facilmente condicionados a estímulos que sejam “potencialmente perigosos”. CONDICIONAMENTO À AVERSÃO DE SABORES No caso de aversão a sabores, não há necessidade de ocorrer múltiplos emparelhamentos ECEI. A aprendizagem ocorre graças a uma ÚNICA associação. CONDICIONAMENTO DE 2ª ORDEM Este fenómeno verifica-se quando um estímulo condicionado que foi estabelecido durante um condicionamento anterior é repetidamente associado com um estímulo neutro. Quando este estímulo neutro passa a desencadear uma resposta condicionada semelhante à do estímulo condicionado inicial, então ocorre uma condicionamento de 2ª ordem. O estímulo condicionado inicial actua então como um estímulo incondicionado. Há quem defenda que este tipo de condicionamento está por detrás dos preconceitos raciais e étnicos (Staats, 1975). Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Factores que afectam o condicionamento  Ordem de apresentação O condicionamento é muito mais eficaz quando o EC antecede o EI  Intervalo entre estímulos (IEE) O mais eficaz é que o intervalo entre os estímulos seja de cerca de meio segundo ou poucos segundos  Número de emparelhamentos EC-EI Geralmente, são necessários vários emparelhamentos, excepto no condicionamento de aversão a sabores ou experiências que ponham em causa a sobrevivência Limitações do condicionamento clássico Pavlov supunha que a aprendizagem não era mais do que uma longa sequência de respostas condicionadas. Esta concepção não foi apoiada pelas investigações que se lhe seguiram: o condicionamento clássico favorece apenas uma explicação parcial sobre a forma como animais e pessoas aprendem (Rizley & Rescorla, 1972; Hollis, 1997). Criticada a perspectiva mecanicista (onde a associação entre estímulos e respostas ocorrem de forma mecânica e sem pensar). Noutra linha, os psicólogos cognitivos defendem que quem aprende desenvolve activamente um entendimento e uma expectativa sobre que estímulos incondicionados em particular são combinados com estímulos condicionados específicos. Pavlov acreditava que um “reflexo condicionado” entre EC-RC era criado pelo condicionamento clássico – contudo a ligação não é de EC-RC mas sim EC-EI, ou seja, uma ligação/associação de estímulos. Investigações recentes mostraram ainda que não é tanto a contiguidade (o EI ocorre logo após ao EC) entre EC e EI que importa mas sim a contingência (o EC indica que um EI é mais provável). Rescorla (1968) começou por provar isto mesmo, através do estudo da variação de probabilidade de apresentação Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre do EI após o EC: quanto maior a probabilidade do EI, maior o condicionamento. Além disso, Rescorla (1968) verificou ainda que não havia condicionamento quando os emparelhamentos entre EC e EI eram aleatórios. b. CONDICIONAMENTO OPERANTE (OU INSTRUMENTAL) Nesta abordagem teórica da aprendizagem, o organismo “opera” sobre o contexto/ambiente para provocar um acontecimento. Um “operante” (resposta do organismo1) é fortalecido pelo reforço ou enfraquecido pela sua extinção. No entanto, não é a resposta que é fortalecida, mas a tendência geral em emitir a resposta. Daí que um operante seja uma classe de respostas da qual uma resposta específica é um exemplo ou membro. O comportamento opera sobre o ambiente e gera consequências. THORNDIKE O estudo da aprendizagem iniciou-se uma ou duas décadas antes de Pavlov. Foi uma consequência indirecta do debate sobre a evolução e a teoria de Darwin que defendia a continuidade das espécies. Tornou-se importante também demonstrar a continuidade mental das espécies. Para tal, era necessário recorrer aos métodos experimentais controlados e estudar o curso da aprendizagem. Thorndike apresentou, em 1898, o método que veio possibilitar isso mesmo, através da “caixa-problema”. Thorndike apresentava então um “problema” a um animal que para ganhar uma recompensa teria que executar uma dada acção estabelecida pelo experimentador. O animal era colocado na “caixa-problema” e 1 Conjunto ou série de actos ou comportamentos que, pelas consequências que geram, são fortalecidos ou enfraquecidos de modo a aumentar ou diminuir a probabilidade de sua ocorrência Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre quando realizava a acção desejada (sair da caixa), ganhava uma recompensa. Este procedimento era repetido as vezes necessárias até que houvesse completo domínio da tarefa. O animal levava cada vez menos tempo a executar a resposta certa. Daqui surgiu então a “lei do efeito” que, de acordo com Thorndike, consiste no facto de que algumas respostas são fortalecidas e outras são esquecidas, à medida que ocorre a aprendizagem. Isto porque o animal ao início realiza um vasto conjunto de respostas que conduzem ao fracasso – estas respostas perdem força (acabam por ser esquecidas), enquanto que outras que conduzem ao sucesso ganham força (são fortalecidas). A resposta “certa” é como que “gravada” para se voltar a repetir. Stamped in Comportamento/resposta que conduz a um resultado positivo/desejado e que fica, por isso, “registado para acontecer” Stamped out Comportamento/resposta que conduz a um resultado negativo/indesejado e que fica, por isso, “registado para não acontecer” Esta “Lei do Efeito de Thorndike” enquadra-se no contexto evolucionista e pode ser equiparada com a lei da sobrevivência do mais apto: a aprendizagem fornece outro mecanismo adaptativo em que a lei do efeito determina que só as respostas mais aptas sobreviverão. Há no entanto um ponto de discórdia entre os pensamentos de Thorndike e os defensores do evolucionismo: Thorndike defendia que a aprendizagem animal ocorre de forma diferente da dos humanos – sem razão e nem compreensão – enquanto que os darwinistas defendiam que os animais aprendem como os humanos. Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre SKINNER Skinner, tal como Thorndike e Watson, considerava que o ser humano é neutro e passivo, sendo o seu comportamento descrito como algo mecânico e sequencial – o comportamento é então o objecto de estudo da Psicologia. Skinner expande os pressupostos de Thorndike e inventa também ele uma “caixa” – a “caixa de Skinner”. Acreditava que todos os comportamentos, pensamentos e palavras eram aprendidos, podendo ser estudados e eventualmente modificados. O condicionamento operante surgiu como alternativa ou complemento ao condicionamento clássico. DIFERENÇAS ENTRE CC E CO Condicionamento clássico Condicionamento operante  O EI é apresentado independentemente da  O reforço (ou recompensa) depende da resposta resposta do organismo  A resposta é forçada, pois o EI desencadeia-  A resposta é escolhida de entre um a incondicionalmente conjunto, às vezes, amplo de alternativas  O organismo tem que aprender algo sobre  O organismo tem que aprender a relação a relação entre os estímulos (EC e EI) entre a resposta e a recompensa/reforço CONCEITOS DO CONDICIONAMENTO OPERANTE (segundo Coutinho e Moreira, 1991) AUMENTA a probabilidade de uma resposta, Reforço positivo por adição de algo positivo Ou seja AUMENTA a força da contingência entre R-E Reforço negativo AUMENTA a probabilidade de uma resposta Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Retiro de um estímulo aversivo DIMINUI a probabilidade de uma resposta Punição positiva Algo negativo é adicionado DIMINUI a probabilidade de uma resposta Punição negativa Algo positivo é removido Reforça NATURALMENTE uma resposta Refere-se a estímulos relacionados com Reforço primário funções de sobrevivência e de importância biológica (e.g. comida, sexo, afecto) Reforça através da sua associação com reforços primários Reforço secundário Refere-se a estímulos condicionados aos primários que sã um meio de se conseguir alimentos e outras satisfações ligadas à sobrevivência (e.g. dinheiro) ...fixa: Fixação do número de vezes que a resposta tem que ser dada para receber o reforço Reforço de razão... Ocorre na sequência de uma resposta desejada ...variável: Aplicação do reforço sem fixação do número de vezes que a resposta tem que ser dada ...fixo: O reforço é dado de acordo com intervalos de Reforço de intervalo... O reforço NÃO é aplicado IMEDIATAMENTE após a resposta desejada, mas depois de um tempo arbitrado pelo experimentador tempo definidos, ou seja, o tempo entre as respostas e o reforço é sempre o mesmo ...variável: O reforço é dado em intervalos de tempo não fixos, ou seja, não é possível prevêr por parte do sujeito o momento do reforço Reforço de um comportamento incompatível Reforço incompatível com o comportamento que se pretende extinguir Reforço por imitação Há observação de alguém que é reforçado devido a uma resposta e, por isso, há Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre tendência para imitar essa mesma resposta. Shaping / aproximações sucessivas Comportamento supersticioso Um comportamento complexo é aprendido em pequenos passos Aprendizagem incorrecta de que uma resposta produz um determinado resultado PRINCÍPIOS CENTRAIS DE SKINER  Os comportamentos (respostas) reforçados tornam a ser repetidos e, para tal, o reforço intermitente é particularmente eficaz.  É possível modelar o comportamento através da gestão de reforços positivos e negativos.  A personalidade é um conjunto de comportamentos objectivamente analisáveis.  A liberdade, a autonomia, a dignidade e a criatividade são ficções sobre o comportamento e não têm valor nem explicação científica, uma vez que apresentam vários tipos de condicionamento. SKINNER E O ENSINO Em Tecnologia do Ensino (1968), Skinner desenvolveu as “máquinas de aprendizagem” que consistiam numa organização de material didáctico de forma a que o aluno pudesse aprender sozinho, recebendo reforços (e.g. satisfação de ter as respostas correctas) à medida que avançava. Esta metodologia nunca chegou a ser aplicada amplamente. Skinner era da opinião que o sistema escolar vingente era um fracasso, porque se baseava na presença obrigatória dos alunos e, portanto, na punição. Era então necessário dar aos alunos razões positivas para estudar, para contrapôr. Os objectivos de aprendizagem serião pré-definidos sem consulta do aluno – cabe ao professor elaborar um sistema de forma a que o DESEMPENHO do aluno seja máximo. Esta visão de qualquer organismo pode ser “conduzido” a agir de determinada forma desejada, através do condicionamento, conferiu a alguns educadores a perspectiva de que para Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre uma boa aprendizagem o necessário é dispôr correctamente os estímulos ambientais para reforçar as respostas adequadas, menosprezando assim quaisquer fenómenos subjectivos (e.g. motivação). A mesma ideia se viria aplicar à construção da sociedade. Proposta psico-pedagógica de Skinner:  apresentação das informações em pequenas etapas (shaping?)  exigência de resposta através de um sistema de avaliação ancorado na reprodução de respostas  reforço imediato à resposta, no sentido de indicar acerto ou erro  ao acertar, o aluno deve saber qual é o próximo passo  auto-controlo por parte do aluno (quando o aluno acerta, pode passar às questões seguintes)  reforçar os pequenos sucessos e aumentar gradualmente os desafios As máquinas de ensinar e os livros escolares poderiam então, segundo Skinner, moldar a aprendizagem em pequenos passos, sendo possibilitado o reforço imediato às respostas correctas. Além disso, os professores teriam igualmente mais tempo para ajudar os alunos com necessidades específicas, através do tempo extra conseguido pelo uso das máquinas e dos livros. Behaviorismo e orientação tecnicista da educação:  planeamento e organização racional da actividade pedagógica  operacionalização dos objectivos (e.g. especialização em funções)  ensino por computador e tele-ensino para tornar a aprendizagem mais objectiva  apresentação da matéria ou conteúdo por etapas Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre  o aluno dá uma resposta de cada vez  o aluno tem o tempo que desejar para responder  o aluno não deve passar para a questão seguinte sem antes responder à questão anterior  as perguntas são simples, para que não haja tantos erros  após responder, o aluno verifica a correcção  o desafio e a dificuldade vão aumentando gradualmente  é feita uma avaliação INICIAL, para que o professor possa “programar” os objectivos; DURANTE a aprendizagem, para controlar e replanear o necessário; e no FINAL, para verificar se os resultados desejados são obtidos CRÍTICAS AO CONDICIONAMENTO (CLÁSSICO E OPERANTE)  promovem a diferença ou a visão igualitária dos sujeitos e repostas comportamentais?  há manipulação comportamental?  o que é um comportamento correcto?  exercício do poder e do controlo  qual o papel do contexto de aprendizagem?  qual a importância do comportamento verificado? ... Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Aulas práticas APRENDIZAGEM – ALARGAR O CONCEITO Segundo Dorot e Parot, em Dicionário de Psicologia, a aprendizagem é: “Alteração do comportamento de um organismo que resulta de uma interacção com o meio que se traduz por um aumento do seu repertório.” Mas... nem todas as alterações comportamentais são aprendizagens e modificações do estado do organismo são aprendizagens, como é o caso dos efeitos de maturação, envelhecimento e estados fisiológicos (e.g. fome, uso de substâncias). Há vários significados possíveis para “o que é aprender”. AUTO-REGULAÇÃO Um aluno auto-regulado é activo durante a sua aprendizagem e controla os seus processos cognitivos, metacognitivos e motivacionais. Segundo Pintrich & Zusho, 2002, a auto-regulação da aprendizagem consiste na: “regulação, por parte dos estudantes, de aspectos do seu pensamento, motivação e comportamento durante a aprendizagem” Segundo Perrenoud, 1999, a auto-regulação é: “as capacidades do sujeito para gerir os seus projectos, os seus progressos e as suas estratégias diante das tarefas e obstáculos” Segundo Heikkila & Lonka, 2006: Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre “... um estudante que está a auto-regular a sua aprendizagem é capaz de definir objectivos razoáveis e relacionados com a tarefa, assumir a responsabilidade pela sua aprendizagem e manter a motivação” Segundo Pintrich & De Groot, 1990: “implica manter e gerir o esforço mesmo perante distracções” A auto-regulação não é um traço de personalidade, isto é, não é uma carcaterística que se tem ou não – pode desenvolver-se. Envolve o uso de processos específicos que têm que ser adaptados pelo indivíduo à tarefa específica de aprendizagem: criar os SEUS objectivos, escolher as SUAS estratégias, etc. É então um processo auto-dirigido que implica que os estudantes sejam capazes de: a) Definir objectivos e criar um plano para os atingir b) Escolher estratégias adequadas para os alcançar c) Rever as estratégias escolhidas em função do feedback Há dois tipos de feedback: a) Feedback externo – ocorre através dos professores, das notas, dos colegas,... b) Feedback interno – ocorre através da auto-avaliação do seu investimento, envolvimento e esforço nas tarefas, no estudo, nas aulas, etc. Fases de desenvolvimento da auto-regulação: I) Antecipação e preparação Envolve: a) a análise da tarefa estabelecimento de objectivos pedagógicos definição de um plano estratégico b) a auto-motivação Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre auto-eficácia crenças sobre a aprendizagem valor atribuído ao conhecimento expectativas dos resultados II) Execução e controlo Envolve: a) o auto-controlo implica a auto-monitorização implica a gestão do tempo, controlo das distracções, etc b) a auto-observação III) Auto-reflexão e auto-reacção Envolve: a) o auto-julgamento auto-avaliação dos desempenhos em relação a um padrão atribuição causal b) a auto-reacção sentir-se satisfeito sentir-se insatisfeito: reacções defensivas ou adaptativas ATRIBUIÇÕES Os processos metacognitivos permitem-nos: a) reflectir sobre a aprendizagem, b) fazer atribuições internas face ao sucesso ou insucesso escolar, c) auto-regular o nosso processo de aprendizagem e d) analisar criticamente os nossos erros. As atribuições (causas atribuídas) que fazemos face ao sucesso ou insucesso são parte fundamental dos elementos dos processos metacognitivos e estas têm três dimensões, segundo Weiner, 1986: a) locus i. atribuição interna: Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre “avaliei mal a quantidade de estudo necessária” “usei um método de estudo pouco eficaz” ii. atribuição externa “chumbei porque tive azar; para a próxima vai correr melhor” b) estabilidade (causa estável/causa instável) c) possibilidade de controlo (causa controlável/causa não controlável) Exemplos de atribuições: a) falta de esforço (causa interna instável mas controlável) b) falta de sorte (causa externa instável, incontrolável) c) inteligência (causa interna estável, incontrolável) DIMENSÕES SOCIAIS E EMOCIONAIS NA APRENDIZAGEM Kezar, 2005, apresenta um conceito restrito de aprendizagem: “Na maior parte das instituições de ensino, aprendizagem define-se como conhecimento ou inteligência obtida através de análise ou cognição...” “... em geral, como pensamento crítico representado pelo conhecimento matemático ou linguístico...” “... o processo de aprendizagem é visto como limitado ao raciocínio abstracto...” “...ficam excluídos aspectos como emoções, criatividade ou intuição...” Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Nesta concepção, os aspectos emocionais, a criatividade ou a intuição impedem ou dificultam a aprendizagem... Segundo Sternberg, 2001, as primeiras investigações sobre cognição e aprendizagem focavam-se na percepção, na observação, no desenvolvimento da linguagem, no raciocínio abstracto e matemático. As emoções eram vistas como factores que dificultavam a aprendizagem. Nas últimas décadas, a noção de “inteligência” tem sido alargada, considerando-se hoje várias áreas de inteligência. Gardner, 1983, fala-nos de oito tipos de inteligência: 1) musical, 2) cinestésica, 3) lógico-matemática, 4) espacial, 5) linguística, 6) interpessoal, 7) intrapessoal, 8) naturalista. Sternberg, 2001, sugere que há vários processos envolvidos na “inteligência”, sendo esta muito complexa: a) processos analíticos a. avaliação b. julgamento c. comparação b) processos criativos a. resolução de problemas c) processos práticos a. adaptação ao meio A inteligência social e emocional encontram-se envolvidas na aprendizagem. De acordo com Bodine & Crawford, 1999, compreender as emoções próprias é um pré-requisito para gerir o auto-controlo e a raiva, sendo ainda que compreender as emoções alheias é essencial se os estudantes quiserem interpretar fielmente situações sociais e responder-lhes apropriadamente. O conceito de inteligência emocional foi introduzido em 1990, por Peter Salovey e John Mayer: a noção de inteligência emocional combina duas Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre ideias – a de que as emoções podem tornar o pensamento mais inteligente e a de que se pode pensar inteligentemente acerca das emoções. A inteligência emocional tem quatro áreas: 1) percepção, apreensão e expressão de emoções 2) utilização das emoções para facilitar o pensamento 3) compreensão e análise das emoções 4) regulação das emoções As emoções podem ser utilizadas com o propósito de promover as condições necessárias ao exercício cognitivo: gerar, utilizar e experimentar emoções tendo em vista a concentração, o raciocínio, a resolução de problemas, a tomada de decisão, a criatividade e a comunicação. Esta gestão deve ter como objectivo a promoção do desenvolvimento próprio, nos planos afectivo e cognitivo, e o desenvolvimento das relações inter-pessoais. Para tal, tem que haver então articulação das emoções com os objectivos do indíviduo, valores, consciência de si e auto-conhecimento e com os condicionantes externos. Competências sociais, de acordo com Elksnin & Elksnin, 1998:  comportamentos interpessoais – como aproximar-se ou cumprimentar as pessoas  competências sociais nas relações com os pares – como partilhar e trabalhar cooperativamente  competências sociais que agradam aos professores – relacionadas com o sucesso académico, e.g., ouvir, respeitar  comportamentos para com o próprio – executar projectos e lidar com o stress  competências de comunicação – como ouvir o orador e falar com ele  assertividade APRENDIZAGEM EM CONTEXTO ACADÉMICO Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Há três linhas ou tradições de investigação sobre aprendizagem: a) auto-regulação da aprendizagem b) abordagens à aprendizagem (SAL – students’ approaches to learning) (motivo [aspect afectivo] + estratégia[aspecto cognitivo]) As respostas resultam de entrevistas a estudantes sobre aprendizagem, motivação e estudo em contexto académico. Meios que os estudantes usam para lidar com as tarefas relacionadas com a aprendizagem. Existem três estratégias básicas: 1) estratégia superficial  foco na memorização e na reprodução da matéria  perspectiva quantitativa da aprendizagem  memorização rotineira dos elementos superficiais (palavras, factos, procedimentos)  tratamento das partes da tarefa como não relacionadas entre si e com outras tarefas 2) estratégia profunda  foco na reflexão e compreensão dos conteúdos  relacionação das partes da tarefa entre si e com o conhecimento anterior  compreensão de significados 3) estratégia de sucesso  gestão organizada do estudo  organização sistemática do estudo, em geral associada ao motivo de realização: tornar máximas as classificações  detecção de exigências e critérios de avaliação e conformidade com eles Nas abordagens de aprendizagem dos estudantes é importante ainda referirmos o papel da motivação envolvida na aprendizagem. Segundo Sá, 1997, há três tipos de objectivos:  causa instrumental: evitamento do trabalho, pretensão de fazer o mínimo para passar Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias  Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre causa intrínseca: aprendizagem, pretensão de aprofundar conhecimentos ou adquirir competências  causa de realização: objectivos de desempenho; pretensão de conseguir boas classificações c) estratégias cognitivas Linha de estudo que se interessa pelas estratégias cognitivas que os estudantes usam no confronto com as tarefas escolares. Há três tipos de estratégias em situação académica, de acordo com Eronen et al., 1998: 1) self-handicapping “Estratégia auto-protectora que é UTILIZADA pelos indivíduos QUANDO ANTECIPAM UM RESULTADO BAIXO NUMA AVALIAÇÃO IMPORTANTE. Trata-se de uma tentativa dos indivíduos de, numa situação de avaliação, influenciarem a opinião que os outros têm das suas competências. (Berglas e Jones, 1978)” “Os alunos CRIAM BARREIRAS AO SEU PRÓPRIO SUCESSO COLOCANDO EM PERIGO A SUA REALIZAÇÃO. Desta forma se não atingirem os seus objectivos atribuem esse facto ao impedimento e não à falta de competência e se os atingirem, apesar do impedimento, receberão reconhecimento suplementar já que conseguiram ultrapassar o obstáculo. (Tice,1991 e Mertin, Marsh e Debus, 2002)” Nota: excertos retirados de um trabalho prático apresentado na UC 2009/2010, por Sílvia Vilas, sobre “Regulação Motivacional e Sucesso Escolar” Há dois tipos de self-handicapping: a) Self-enhancing self- handicapping Colocação de obstáculos à sua performance com o objectivo de realçar a sua capacidade no caso de sucesso b) Self-protective self-handicapping Colocação de obstáculos à sua performance com o objectivo de ter uma justificação/desculpa no caso de fracasso 2) optimismo ilusório O estudante espera um bom resultado/sucesso no seu desempenho, devido ao sentimento de confiança promovido por experiências de sucesso anteriores 3) pessimismo defensivo O estudante espera um mau resultado/fracasso no seu desempenho e, por isso, tem realmente uma pior performance no momento de avaliação Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre APRENDIZAGEM POR OBSERVAÇÃO (OU MODELAGEM) É um processo de aprendizagem com base na oportunidade de observar o comportamento de outras pessoas. Pode ocorrer através de: - observação de comportamentos - observação das consequências de um dado comportamento Neste tipo de aprendizagem faz sentido falar em dois conceitos:  Reforço vicariante – circunstância em que a aprendizagem resulta da observação (consequências positivas)  Punição vicariante – o comportamento aprendido por observação é negativo e, por isso, requer uma punição A modelagem funciona também através da motivação. Segundo A. Bandura, a mudança é dependente do desempenho do sujeito, mas a aprendizagem não se faz só de forma directa. A aprendizagem por observação envolve três componentes: 1) Observação de modelos (e.g. alguém demonstra como se faz) 2) Codificação (representação simbólica) de regras (varia com o estilo e capacidades pessoais) 3) Orientação subsequente da acção pela regras Características dos modelos eficazes: a) Competência (e não perfeição) Quando se vêmos um modelo perfeito tendemos a pensar que não somos capazes de... há uma certa descrepância. O modelo perfeito difere de pessoa para pessoa e condiciona/dificulta a aprendizagem por observação Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre b) Prestígio (social) c) Consistência com esteriótipo do género sexual O modelo tem tanto ou maior impacto quanto mais este estiver próximo do esteriótipo do seu género d) Modelo tem comportamento considerado relevante por parte do observador Tipos/modos de modelagem: - comportamental (observação directa) - simbólica (representação verbal ou icónica) - mista (combinação de ambas) Efeitos da modelagem (para além da aprendizagem): - inibicação e desinibição (e.g. de comportamentos previamente aprendidos) - facilitação - orientação (e.g. para objectos, ambientes favorecidos pelo modelo) - excitabilidade PRODUÇÃO OU ENSAIO (REHARSAL) Definição: Conversão das representações mnésicas em acções (organização das competências em novos padrões) Sub-processos: - Organização cognitiva de novos padrões de resposta (com base numa represetanção) - Iniciação orientada centralmente Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre - Monitorização de respostas - Ajustamento correctos de desempenho (por comparação com a representação) Função: “feedback” informativo (intrínseco ou extrínseco): identificar e corrigir lacunas Factores ambientais: - oportunidade de feedback - explicitação da resposta observada - timing do feedback (não diferido) Quanto menor o intervalo de tempo entre o feedback e o reforço, maior o impacto Quanto maior as oportunidades de ensaio e de feedback, maior as oportunidades de realizar aprendizagem - foco do feedback e correcção Relevantes: “estás a pôr bem os pés nos pedais, mas relaxa os ombros, estás a conduzir muito tempo” (note-se que se inicia com um reforço positivo; ao começar com um reforço negativo, cria-se resistência) Não relevantes: “estás a faer muito bem” - oportunidade de nova observação-produção (repetição do ensaio e da obervação) Factores pessoais: - competências de desempenho - clareza da representação (nitidez) MOTIVAÇÃO Definição: Determinação do uso das competências adquiridas Factores ambientais: Antecipação de consequências directas ou vicariantes sobre o comportamento Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre Factores pessoais: - consequências auto-produzidas (satisfação; auto-administradas) - clareza da representação Motivação para a aprendizagem escolar O que é? É um estado/energia interna que activa, orienta e mantém a aprendizagem Dimensões da motivação - conteúdo - velocidade - intensidade - experiência - causas / objectivos 1ª aula dada por Prof. Nuno Martins A linguagem é o comportamento mais complexo. Análise comportamental e processos cognitivos - não é uma teoria que se aplique só aos seres humanos - Skinner tentou ser coerente em relação ao darwinismo e tentou aplicar as ideias deste na explicação do comportamento humano - nesta corrente, procuram-se e identificam-se as causas - é o ambiente e não a pessoa o iniciador da acção – porquê? Como espécie biológica, somos fruto da selecção natural “orientada” pelo ambiente Variáveis ambientais do comportamento humano 1) Acção selectiva da evolução 2) Forma e manutenção do comportamento (modelação) 3) Situação/contexto em que o comportamento se desenvolve (cultura, sociedade, regras, etc) Psicologia da Aprendizagem Vanessa Dias Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa 1º ano, 2º semestre O condicionamento operante colmata o padrão genético. Para um estímulo ser eficaz é preciso um ambiente interno, ou seja, o estímulo só por si não causa o comportamento. As variáveis emotivas são muito importantes para que o comportamento se verifique. A história da nossa aprendizagem é o que nos faz diferentes uns dos outros. O poder pessoa surge da nossa organização do ambiente e isto permite-nos não ser vítimas do mesmo. Para Skinner, quer o pensamento, quer a imaginação são comportamentos. A análise do comportamento não que esperar pelos avanços científicos. Psicologia da Aprendizagem