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LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO E TRIAGEM FITOQUIMICA DE PLANTAS MEDICINAIS DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA "NAZARÉ DO BRUNO" CAXIAS, MARANHÃO, BRASIL
Orientado: Noé Nonato dos Santos Filho – bolsista FAPEMA/UEMA
Acadêmico do Curso de Química Licenciatura - CESC/UEMA
Orientador: Francisco Alberto Alencar MIRANDA – Prof. M. Sc. Departamento
de QUIMICA e BIOLOGIA/CESC-UEMA.
Nas últimas décadas, houve um ressurgimento do interesse nas plantas como
fontes de novos agentes terapêuticos. Grandes companhias farmacêuticas
aumentaram a pesquisa em extratos de plantas para descobrir novas
substâncias ativas. Existem na terra aproximadamente 350.000 espécies de
plantas, mas apenas uma pequena porcentagem foi investigada do ponto de
vista fitoquímico, e um número ainda menor de frações derivadas dessas
plantas foi analisado do ponto de vista farmacológico. Por outro lado,
sabendo-se que uma planta pode conter uns milhares de diferentes
metabólitos secundários e os estudos fitoquímico podem nos dar apenas uma
pequena idéia desta complexa mistura. As plantas têm enorme reservatório de
moléculas farmacologicamente ativas a serem descobertas. A botânica, a
química e a farmacologia abrangem conhecimentos indispensáveis para a
utilização segura do uso de plantas medicinais. Sendo que a etnobotânica
recolhe dados junto à população sobre a utilização, forma de uso, dose
preconizada, indicação terapêutica, etc. (SIMÕES, et al, 2001). Contudo, a
etnobotânica não se refere apenas ao estudo de plantas medicinais, mas
abrange também o uso de espécies vegetais para diversos outros fins
(PRANCE, 1987). A transmissão desse conhecimento, bem como pesquisas acerca
dos usos terapêuticos de vegetais, vem como reforço contra a ameaça de
extinção de inúmeras espécies, muitas destas ainda desconhecidas pela
ciência (AGRA, 1994). O presente trabalho teve como objetivo realizar
testes qualitativos com avaliação quantitativa aproximada, para as
seguintes classes de metabólicos secundários: Esteróides/ triterpernóides,
flavonóides, alcalóides, saponinas e taninos, nas plantas medicinais da
Comunidade Quilombola "Nazaré do Bruno" Caxias, Maranhão, Brasil. Foram
realizadas entrevistas em forma de questionários (contendo oito questões)
sobre o conhecimento e o uso de plantas encontrada na comunidade quilombola
"Nazaré do Bruno"; Localizada a 67m de altitude, tem sua posição geográfica
determinada pelo paralelo de 4º 51' 32'' de latitude ao Sul, em sua
interseção com o meridiano de 43º 21' 2'' de longitude Oeste (IBGE, 2005).
O levantamento Etnobotânico foi feito nos meses de agosto e setembro de
2010. Coletas de plantas foram realizadas no período de outubro 2010 a
março de 2011. Após a coleta parte do material coletado foi seca à
temperatura ambiente e moída em moinho artesanal, reduzida a pó fino.
Posteriormente, foram pesados 40g suspensos em 200 mL de etanol 92,8%,
levados a extração por 48 horas depois filtradas em um pano fino, logo após
em papel filtro. Os testes para Esteróides/triterpenóides, Flavonóides,
Taninos, Saponinas e Alcalóides foram realizados segundo a metodologia de
Matos (1997), Honda et al.(1990), com modificações(Tabela 2.). Os
resultados etnobotânicos a partir das entrevistas foram, quanto ao grau de
escolaridade dos entrevistados sobre o levantamento etnobotânico na
Comunidade Quilombola "Nazaré do Bruno no município de Caxias, Maranhão.
80% deles não estudam, 20% disseram que sim; Quanto à utilização das
plantas com fins medicinais, 80% dos entrevistados usam as plantas para a
cura de doença e 20% disseram que não; quanto ao uso das plantas, a maioria
deles 63% usavam freqüentemente, 31% esporadicamente e somente 6% estavam
usando associado à homeopatia; foram perguntados quem indicou o uso das
plantas medicinais, 45% disseram que por tradição e afirmam que são
curados, 20% que foram através de vizinhos, 9% os erveiros, 9% foram
indicados pelos os médicos e 17% outras indicações; foram perguntados qual
a parte da plantas eram mais utilizadas pela comunidade Quilombola "Nazaré
do Bruno" Caxias, Maranhão, que 74%, ou seja, a maioria dos moradores da
comunidade utilizam as folhas com fins terapêuticos, 23% usam as cascas e
3% as raízes, queremos afirmar das 14 plantas coletadas com um dos
moradores da comunidade foram 12 cascas e 2 raízes; quando foram
perguntados sobre a existência de substâncias químicas nas plantas, os
entrevistados 91% disseram não conhecer nenhum substância química, somente
9% conhece e muito pouco mas afirmam que as plantas curam; quando
entrevistados o por quê de não saberem a existência de substâncias
químicas 66% responderam não ter informação a respeito de substâncias
químicas, 17% falta de leitura e 17% falta de interesse sobre as
substâncias nas plantas medicinais, os resultados sobre a indicação
terapêutica está representado no gráfico 1. Conforme dados do presente
trabalho, a partir da determinação taxionômica dos espécimes vegetais,
foram coletadas 14 plantas medicinais foram listadas e analisadas, 8
famílias distribuídas em 9 gêneros e 10 espécies. Listam-se algumas
espécies analisadas Tabebuia áurea(Manso) Benth. Hook. F. ex. S. Moore,
Annona Crassiflora Mart. Terminalia fagifolia Mart, e outras(Tabela 1.) No
estudo florístico sobre as famílias estão melhor representados no gráfico
2. Podemos então observar que os metabólitos secundários estão bem
distribuídos nas plantas medicinais nativas na área estudada, utilizados
pela população com fins terapêuticos tais como: antiinflamatória, regulador
de menstruação, gastrite, diabete e antídoto, entre outros.
Figura 1–Preparação de extrato etanólico (92,8%)
Figura 2– Testes fitoquímicos segundo Matos (1997).
Tabela 1- Plantas coletadas na Comunidade Quilombola "Nazaré do Bruno"
Caxias, Maranhão, sua indicação terapêutica, parte utilizada, preparo e
uso.
"Família/Nome científico/Nome "Indicação "Parte "Preparo "
"vulgar "terapêutica "Utiliza"e uso "
" " "da " "
"Caesalpiniaceae / Copaifera "antiinflamatório, "Casca "Garrafada "
"longdorffi Desf. (Podoi) "próstata " " "
"Opiliaceae /Agonandra "coceira "Casca "Garrafada "
"brasiliensis Miers. (Malfim) " " " "
"Bignociaceae /Tabebuia "regulador de "Casca "Garrafada "
"áurea(Manso) Benth. Hook. F. "menstruação "(Leite)" "
"ex. S. Moore(Caroba) " " " "
"Bignociaceae /Tabebuia "antiinflamatório "Casca "Garrafada "
"avellanedae Lorentz & Griseb." " " "
"(Paudarco roxo) " " " "
"Desconhecido / (Pra tudo) "Coceira e "Raiz "Banho "
" "antiinflamatório " " "
"Annocaceae /Annona "Veneno (antídoto) "Casca "Pó (Casca)"
"Crassiflora Mart.(Araticum) " " " "
"Apocynaceae /Hancornia "gastrite "Casca "Garrafada "
"speciosa Gómez.(Mangabeira) " " " "
"Desconhecido / Quarenta- "antiinflamatório e "Raiz "Garrafada "
"Galhas "intoxicação " " "
" "alimentar " " "
"Mimosaceae /Parkia "antiinflamatório "Casca "Pó (Casca)"
"platycephala Benth. " " " "
"(Faveira) " " " "
"Desconhecido (Salva Tudo) "antiinflamatório "Casca "Garrafada "
"Desconhecido (Açoita - "hepatite "Casca "Garrafada "
"Cavalo) " " " "
"Combretaceae /Terminalia "diabete "Casca "Garrafada "
"fagifolia Mart.(Chapada) " " " "
"Olacaceae/Ximenia americana "antiinflamatório "Casca "Garrafada "
"L.(Ameixa) " " " "
"Mimosaceae "antiinflamatório "Casca "Garrafada "
"/Plthymenia reticulada " " " "
"Benth.(Candeia) " " " "
" " " " "
Fonte: Pesquisa de campo realizada na Comunidade Quilombola "Nazaré do
Bruno" Caxias, Maranhão, 2010-2011.
Legenda: Desconhecido: Família/Nome científico
De acordo com os dados etnobotânicos obtidos com os erveiros da
região, os maiores índices de indicação terapêutica foram de
antiinflamatório, regulador de menstruação, antídoto, gastrite,
hepatite, diabete, gráfico 1. Podemos inferir que, os metabólitos
secundários analisados em cascas e raízes coletados na Comunidade
Quilombola "Nazaré do Bruno" Caxias, Maranhão, possuem um número
significativo de indicações terapêuticas.
Tabela 2- Resultados da Triagem Fitoquímica com Plantas da comunidade
Quilombola "Nazaré do Bruno" Caxias, Maranhão.
"PLANTAS ESTUDADAS "CLASSE DE METABÓLITOS "
"Nome "Nome científico "Partes "EST"ALC"FLA"TAN"SAP "
"vulgar " " "/TR" " " " "
" " " "I " " " " "
"Podoi "Copaifera longdorffii Desf. "Casca "FP "P "FP "N "N "
"Malfim "Agonandra Brasiliensis Miers. "Casca "N "FP "N "N "P "
"Caroba "Tabebuia áurea(Manso) Benth "Casca "N "FCP"N "P "FCP "
" "Hook. F. ex. S. Moore " " " " " " "
"Paudarco"Tabebuia avellanedae Lorentz & "Casca "P "FCP"N "P "N "
"roxo "Griseb " " " " " " "
"Pra Tudo"* "Raiz "N "N "N "N "N "
"Araticum"Annona Crassiflora Mart. "Casca "FP "FP "FCP"P "N "
"Mangabei"Hancornia speciosa Gomez "Casca "P "FCP"P "P "FCP "
"ra " " " " " " " "
"Quarenta"* "Raiz "FP "P "N "P "N "
"Galhas " " " " " " " "
"Chapada "Plthymenia reticulada Benth. "Casca "N "FCP"FCP"N "N "
"Salva "* "Casca "N "N "P "P "P "
"Tudo " " " " " " " "
"Faveira "Parkia platycephala Benth. "Casca "FCP"FCP"P "P "P "
"Candeia "Plthymenia reticulada Benth. "Casca "N "FCP"P "N "N "
"Ameixa "Ximenia americana L "Casca "FP "FP "P "N "P "
"Açoita "* "Casca "FCP"FP "P "P "N "
"Cavalo " " " " " " " "
Fonte: Laboratório de Química CESC/UEMA
Legenda: EST/TRI: Esteróides/ triterpenóides; ALC: Alcalóides; FLA:
Flavonóides; TAN: Taninos; SAP: Saponinas; FP: Forte Positivo; FCP:
Fracamente Positivo; P: Positivo; N: Negativo. * Não identificada.
Os resultados das análises fitoquímicas estão representados na tabela 2.
Os esteróides/triterpenóides apresentaram os percentuais: FP de 21,4%,
FCP 21,4%, P 14,2% e N de 43% nas plantas pesquisadas respectivamente. Os
esteróides possuem a função reguladora de hormônio no organismo humano.
Os triterpenóides têm bastantes propriedades medicinais, com grandes
potencialidades em atividades biológicas: são antiinflamatórios,
bacterianos, fungicídicos, antivirais, analgésicos, cardiovasculares,
antitumorais (PATOČKA, 2003). Para os alcalóides os resultados são de
43,1 % FCP, 14,2 % P 28,5 % FP e 14,2% N, respectivamente. Os alcalóides
têm função sedativas, relaxantes, etc. Os flavonóides obtiveram um
rendimento de 14,3% para FCP, 7,1 % para FP , 50 % para P e 28, 6 % para
N respectivamente. Os fármacos produzidos à base de flavonóides tem
efeitos terapêuticos antitumorais, antivirais, antihemorágicos, outros.
Com relação aos taninos podemos observar no gráfico que 57 % dos testes
deram P e 43% deram N. Algumas espécies destacaram-se com a presença de
taninos condensados e taninos hidrolisáveis. Os taninos são utilizados no
combate à hipertensão, feridas, diarréia, problemas renais,
antiinflamatórios, etc. Com relação às saponinas podemos notar que 57%
das plantas não apresentaram este metabolito, 28% apresentaram resultado
P, 1% FP e 14% das plantas apresentaram FCP. As saponinas possuem
atividade antiviral, hemolítica, antiinflamatória e outros.
Palavras-chave: Etnobotânica, Fitoquímica, Plantas Medicinais
REFERÊNCIAS
AGRA, M.F. Contribuição ao estudo das plantas medicinais na Paraíba:
Plantas medicinais dos Cariris Velhos.UFPB; João Pessoa,1994.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e estatística – IBGE, 2005.
HONDA, Neli Kika. el. al. Estudo químico de plantas de Mato Grosso do Sul
I: Triagem fitoquímica. Campo Grande – MS, EUFMS, 1990. MATOS, F.J de
Abreu. Fortaleza, EUFC, 1999. 80 p.
MATOS, F. J. Abreu; Introdução à Fitoquímica Experimental. 2a ed. –
Fortaleza: Edições UFC, 1997.
PRANCE, G. T. Etnobotânica de algumas tribos amazônicas. SUMA Etnológica
Brasileira - Etnobiologia. 2ª.ed. Petrópolis, 1987. p. 119-134.
SIMÕES, C. M. O. et. al. Farmacognosia: da planta ao medicamento.3 ed.Ed.
da UFSC, Porto alegre.2001.