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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Nome: Pedro Rogério Villar Barreto
Número do Cartão: 114236
Disciplina: HUM 04817- Estudos de Sociologia da Educação
Professor: Prof. Dr. Alexandre Silva Virginio
Curso: Licenciatura em Ciências Sociais
Turma: A
Semestre: 01/2011
Obra: Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. SP:
Paz e Terra, 2009.
Autor: FREIRE, Paulo.
Páginas: 148
Resenha:
A obra educacional de Paulo Freire não se destaca pelo tamanho físico
de seus escritos, mas sim pelo contexto e pela densidade de cada obra sua.
No livro Pedagogia da Autonomia não é diferente, que apesar de poucas
páginas, possui uma estrutura e contexto teórico amplo e totalmente
interligado com as outras obras do autor em sua concepção de educação
libertária.
A primeira parte dessa obra tem o titulo de Não há docência sem
discência o autor disserta no inicio sobre a curiosidade epistemológica que
educador deve despertar em seu educando com finalidade de formar um
pensamento critico, pois o processo de educação é objeto de constante
transformação, pois para Freire, assim como Mannheim, o processo educativo
e realizado em várias instituições sociais além da própria escola em um
processo dialético entre vários saberes entre chamados populares (do povo)
e dos eruditos (da escola).
Nesse capitulo, Freire disserta que educar exige rigorosidade
metódica. Isso não significa rigor no sentido de uma educação autoritária
como proposta por Durkheim, mas sim possuir um método didático que possua
uma práxis pedagógica, o educador deve possuir uma prática pedagógica que
instigue o educando a idéia critica em processo dialético entre o concreto
e abstrato. Isso significa que a rigorosidade de método tem a finalidade de
criar uma mentalidade critica no aluno.
Para Freire ensinar necessita pesquisa, isso institui o professor
como reprodutor do conhecimento, mas sim em pesquisador com finalidade de
criar em seus alunos um processo de educação continua além da escola e
dentro da escola.
O autor também defende que o professor deve respeitar o saberes do
educando, não desvalorizando saberes culturais ditos populares ou saberes
da prática da labuta, pois para Freire, todo prática exige conhecimento
prévio, poder imaginativo anterior, ser pensado antes de praticado, onde
todo ato do aluno é carregado de pura práxis no sentido marxista. Isso
significa que o professor deve respeitar os saberes do aluno, pois pode
aprender algo novo que não sabe, pois o conhecimento do aluno faz da
realidade e da cultura do aluno.
A prática educativa exige criticidade do professor em relação ao
mundo ao ato de educar. Isso claro carregado de estética, onde essa deve
ser a superação do positivismo do ensino bancário, em uma boniteza
carregada de ética que institua mentalidade reflexiva no aluno.
Segundo Freire, ensinar exige do professor corporeificação das
palavras pelo exemplo, isto é, dar concretude as palavras que são puramente
objetos abstratos, facilitando assim processo didático. O processo de
leitura do texto deve ser baseado em exemplo prático e concreto do dia a
dia do educando.
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de
discriminação, onde o educador não deve reproduzir a discriminação,
diferenciação e nem exclusão que a sociedade capitalista impõe. Por isso, o
professor não deve ter atitudes discriminatórias, tanto explicitas como
veladas, e deve rejeitar qualquer uma dessas atitudes no ambiente
educacional como também criar em seu aluno uma mentalidade livre dessa
discriminação.
Ensinar exige uma reflexão critica da prática de educar do professor
e do aluno, onde o processo educacional é continuo e deve se adaptar de
acordo com realidade que rodeia a relação professor aluno.
Ensinar exige o reconhecimento e assunção à identidade cultural, pois
o processo de reconhecimento é um processo de reconhecer a particularidade
cultural do educando, e colocar em prática pedagógica em que redistribua o
conhecimento sem deixar de reconhecer a identidade cultural do aluno e
respeitá-la.
Na segunda parte da obra, Freire critica a instrumentação do ensino
tradicional, na qual ele chama de bancário. Para o autor, ensinar exige
consciência de inacabamento, uma concepção de que educar exige do professor
uma flexibilidade pela questão que conhecimento é objeto em constante
transformação.
O educador deve reconhecer que é um ser condicionado às condições
materiais que oprimem sua humanidade e do seu aluno, pois reconhecer as
condições materiais desfavoráveis é a primeira instância para criação de
mentalidade criticada do mundo, uma leitura mais concreta do mundo, fazendo
o aluno pensar certo. Todavia isso não significa ensinar uma forma lógica e
instrumental do mundo, o ensino bancária, pois ato de ensinar é respeitar a
autonomia do aluno e despertar mais autonomia do mesmo a partir do ato de
ensinar. Isso exige um bom senso do professor, no ato de ensinar, tratando
o aluno como ser autônomo e pensante.
Todo educador deve ser humilde, tolerante e lutar pelos seus
direitos. Todavia isso significa que os educadores devem ter posição
política definida, pois não pode o educador fingir não perceber realidade
do mundo; pois ensinar exige apreensão da realidade, pois o ato de educar
não dever ser um ato ingênuo e alienante, mas um de superação da
ingenuidade e alienação do educando.
Todavia o professor deve ensinar com alegria e esperança, onde o
professor deve ter a convicção de que mudança é possível. Essa mudança é
superação do modelo educacional e social vigente.
Ensinar exige curiosidade do professor, pois esse deve ser um
pesquisador no qual aprende e ensina com aluno, pois a relação entre o
concreto e abstrato, é uma relação de leitura reflexiva do mundo em nossa
volta.
Na terceira e última parte desse livro Freire disserta que ensinar é
uma especificidade humana, teoria essa que Durkheim e Mannheim também
instituíram em seus escritos. Mas na teoria de Freire, a uma racionalidade
nessa especificidade humana.
Todavia ensinar exige segurança no ato didático de uma forma reflexiva
e com humildade. Ensinar também do professor competência profissional, pois
o professor tem a missão de ensinar o aluno a pensar certo de uma forma
competente. Além de ser competente o professor deve ser também generoso,
não devendo nada de conhecimento ao aluno e nem se negar a ensinar nada ao
aluno.
Para Freire o professor deve ensinar com comprometimento. Isso
significa que o ato de ensinar deve ser um compromisso social de superação
e transformação do sujeito em ser autônomo e reflexivo. Todavia a educação
é forma de intervenção do mundo, e maneira de como nos comprometemos com
ela certamente irá refletir no futuro e na construção da sociedade. Por
isso, deve se ensinar com liberdade, sem perder a autoridade, onde isto
somente se cria reconhecendo e respeitando a "autonomia do ser" no aluno.
Segundo Paulo Freire ensinar exige tomada consciente de decisões, pois
toda decisão tomada irá influenciar na leitura da vida do aluno. Tomar
decisões significa saber escutar, pois o professor deve respeitar e escutar
a posição do educando, e não decidir e nem proceder na aprendizagem uma
forma autoritária de ensino.
Todavia ensinar é reconhecer que toda educação é ideológica. O ensino
bancário tradicional reproduz a ideologia capitalista burguesa. O ensino
libertário proposto por Paulo Freire é construção de uma nova ideologia que
rompe com hegemonia vigente do capital. Isto significa que educação é
ideologia, por mais imparcial que essa possa parecer.
O professor deve estar disponível ao diálogo, não somente ao diálogo
com aluno, mas sim ao diálogo com a comunidade e a realidade a sua volta.
Pois o ato de educar exige estar aberto a novos horizontes.
Finalizando, Paulo Freire diz que educar é ato de querer bem os
educandos, isto é, educar é um ato de amor. O professor não deve somente
amar os alunos, mas sim libertá-los da inocência no qual vivem respeitando
seus conhecimentos, construindo um pensamento reflexivo perante o mundo ao
seu redor.
Vemos que teoria de Paulo Freire ainda não foi superada em sua
totalidade, pois seu método ainda não foi aplicado em todo seu conteúdo.
Assim como Mannheim, Paulo Freire não teve a oportunidade de aplicar
durantes anos o seu método. Apesar de seu método ter sido aplicado na
alfabetização de adultos em certa época no Brasil e São Tomé e Princípe,
com processo gerador de conhecimentos, mas se percebe que o método Paulo
Freire pode ser aplicado em todos os níveis de educação, desde básica ao
nível superior por toda sua amplitude teórica.
Paulo Freire propõe construir um novo ethos pedagógico no sentido
weberiano, um novo espírito para ensinar e educar os alunos com finalidade
de construir uma ideologia critica que desconstruía a antiga ideologia
burguesa. Assim como os atores anteriores a Freire como Bakhunin e
Mannheim, ou posteriores como Mészaros, o autor acredita na educação como
forma de superação do capitalismo. Pedro Demo critica, de certa forma, que
esse tipo de educação possa ser como a única forma de superação da
sociedade capitalista, pois a educação dita popular corre risco de se
tornar uma forma de dominação como a educação convencional nos processos de
politicas populistas de educação, o que significa que devemos é proteger
esse método de educação com finalidade de manter sua pureza estética.
Percebemos, que como a teoria marxista, a teoria educacional freiriana
foi corrompida várias vezes com a finalidade de manter o status quo
capitalista ou como forma mais refinada da dominação burguesa na sociedade.
Assim, a proposta educacional dita popular (mas na verdade populista) se
torna uma abstração de si mesma.
Todavia devemos respeitar Paulo Freire, por propor um método
educacional altamente social, colaborando também com a sociologia da
educação com sua proposta de educação popular e libertária; proposta essa
que nunca foi colocada em prática em sua totalidade ou foi colocada uma
abstração de seu método, pois isso seria perigoso para dominação
capitalista e sua hegemonia ideológica.
Bibliografia:
Principal:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática
educativa. SP: Paz e Terra, 2009.
Complementar:
BAKUNIN, Mikhail A. A instrução Integral. Coleção Escritos Anarquistas. São
Paulo: Imaginário. 2003.
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. SP. Autores Associados. 2008
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. SP. Editora Melhoramentos. 1973
DURKHEIM, Émile; Sociologia: Textos escolhidos. Coleção Grandes Cientistas
Sociais. 9 Ed; Brasil. Ática, 1995.
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se
completam. SP: Cortez, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. RJ: Paz e Terra, 1994.
MANNHEIM, K. Liberdade, poder e planificação democrática. São Paulo:
Mestre Jou. 1972.
MANNHEIM, K; STEWART, W.A.C. Introdução à Sociologia da Educação. SP:
Cultrix. Sd.
MARX, Karl. Marx: Manuscritos Econômicos- Filosóficos e outros textos
escolhidos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
MESZÁROS, István. Teoria da Alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2010.
pp: 263-272
MESZÁROS, István. A Educação para Além do Capital. São Paulo: Boitempo,
2010.
WEBER, Max. Max Weber: Textos Selecionados. Coleção: Os Economistas. São
Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.