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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
Douglas josé de araújo
A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA
SÃO MATEUS
2011
douglas josé de araújo
A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA
Relatório de Atividades apresentado à
disciplina Ciência da Informação I da
Universidade Federal do Espírito Santo,
como requisito parcial para avaliação no
curso de Engenharia Química.
SÃO MATEUS
2011
Índice
1. Resumo 4
2. Energia e desenvolvimento 5
3. Cenário Atual 6
4. Principais Fontes da Matriz Energética 6
4.1. Petróleo e Derivados 6
4.2. Gás Natural 7
4.3. Geração Hidroelétrica 8
4.4. Geração Nuclear 9
4.5. Cana-de-açúcar 10
5. Conclusões 10
6. Referências Bibiográficas 11
1. Resumo
A matriz energética brasileira apresentou muitas mudanças durante o
século passado. Sejam essas na sua constituição ou na sua quantificação,
foram respostas às necessidades de adequação e atendimento das demandas
oriundas do crescimento econômico, industrial e demográfico do país. A
partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o Brasil passou a sofrer
transformações significativas, que passaram a ditar o desenvolvimento
urbano e rural, mas que a princípio eram alimentadas por recursos
energéticos de simples obtenção e baixa eficiência energética. Com o passar
o tempo e a necessidade de cada vez mais energia, novos processos e
recursos energéticos, mais elaborados e eficientes passaram a assumir a
predominância na matriz energética nacional, mas mesmo assim a demanda
encontra-se muito próxima da capacidade de produção desses produtos,
exigindo que investimentos contínuos sejam feitos na atualidade, ora para
aumentar a disponibilidade dos recursos já utilizados ora para propor novos
recursos, como alternativa de compensar os gargalos existentes.
Nesse relatório serão abordados a perspectiva histórica da produção
energética nacional, a partir de meados do século passado, a análise
detalhada de algumas das principais fontes de energia, e a projeção
superficial para os próximos anos, de uma maneira comparativa com os dias
atuais.
Palavras-chave: matriz energética, energia, produção, demanda, balanço
energético.
2. Energia e desenvolvimento
O consumo de energia no Brasil começou a mostrar mudanças a partir da
2ª Guerra Mundial, devido ao acelerado crescimento demográfico e
urbanização, pelas implantações industriais e pelo desenvolvimento da infra-
estrutura rodoviária de característica energo-intensiva. Entre 1940 e 1950
a população do Brasil era de aproximadamente 41 milhões de habitantes e o
consumo energético primário era de 15 milhões de toneladas equivalenes de
petróleo (tep). Em 2000 a população era maior que 170 milhões de
habitantes, e o consumo se elevara para cerca de 190 milhões de tep. Porém
o consumo energético per capita brasileiro sempre foi muito baixo, e o
crescimento distribuído da renda nacional fará com que esse consumo
aumente. O cenário projetado para 2030 prevê um consumo de cerca de 560
milhões de tep para uma população de mais de 238 milhões de habitantes.
Assim a demanda per capita aumenta de 1,190 para 2,345 tep/hab, mas ainda
seria inferior à de muitos países como Portugal, Grécia, Hong Kong e África
do Sul, com faixas entre 2,400 e 2,800tep/hab. O Gráfico 1 apresenta a
evolução da população frente a demanda per capita brasileira:
Gráfico 1 – Evolução da população e da demanda per capita entre 1970 e 2030
(projeção).
Importante frisar que há uma tendência de diversificação na matriz
energética. Em 1970 essa era predominantemente respondida por petróleo e
lenha, cerca de 78%. Já em 2000, esse valor caiu para 74% de participação,
incluindo-se aí a participação da energia hidroelétrica. Projeta-se para
2030 um cenário em que quatro fontes farão predominância na matriz
energética: além do petróleo e da energia hidroelétrica, aparecerão também
a cana-de-açúcar e o gás natural, com a perda da importância da lenha.
Notável também a reversão da tendência de redução das fontes renováveis na
matriz energética brasileira. Durante o período de maior utilização da
lenha, em 1970, esses recursos respondiam por mais de 58%, mas com o
advento de recursos e processos mais eficientes essa participação reduziu a
44,5% em 2005. Isso pode tender à uma outra reversão a partir de 2010, com
a crescente demanda de álcool, por exemplo. O Gráfico 2 ilustra isso
melhor:
Gráfico 2 – Participação dos recursos energéticos renováveis de 2005 a 2030
(projeção).
3. Cenário Atual
Atualmente o petróleo assume a liderança da matriz energética
nacional, com 41% de participação. A eletricidade (de qualquer forma de
geração) responde por 19%. O etanol, como derivado da cana-de-açúcar,
participa com 12% e encontra-se em terceiro.
4. Principais Fontes da Matriz Energética
1. Petróleo e Derivados
A produção de petróleo em Dezembro de 2010 foi de 2.180.071 milhões
de barris/dia, e com base na política atual de exploração e produção (E&P)
estima-se que a produção diária de petróleo chegará a 3 milhões de barris
em 2020. Paralelo a esse crescimento, cresce vigorosamente a demanda pelo
produto, estimando-se um consumo de cerca de 3 milhões de barris por dia em
2030. No entanto, mesmo com essa previsão apertada, ainda espera-se que o
balanço produção-demanda apresente superávit.
Já a produção de derivados em 2030 é estimada em 3,7 milhões de
barris por dia. O balanço produção-demanda desses deverá apresentar
alterações importantes em relação à situação atual, principalmente no que
trata da expansão da capacidade de refino. Nessa expansão, que privilegia a
obtenção de derivados leves e médios, há a tendência de balanço positivo
para a produção de óleo diesel, gasolina e GLP. No caso da gasolina, que
atualmente está em superávit de produção, mesmo com essas perspectivas há a
probabilidade de inversão da balança até 2030, devido ao crescimento muito
acelerado da demanda. E no caso do GLP, produto atualmente importado em sua
maioria, essa expansão pode equilibrar esse saldo em um nível mais
confortável. O Gráfico 3 projeta a evolução da participação dos derivados
de petróleo em 2005 e 2030:
Gráfico 3 – Participação dos derivados de petróleo em 2005 e 2030
(projeção).
2. Gás Natural
O gás natural somente teve sua participação aumentada na matriz
energética a partir de 1990, pois antes a exploração desse produto perdia
lugar para a energia hidroelétrica, abundante e barata. Com as descobertas
de grandes reservas de gás na bacia de Campos, as privatizações das
companhias Elétricas e o racionamento decorrente da escassez de potencial
hidroelétrico ocorrido no início do séc. XXI, o gás natural passou a ser
visto como importante fonte energética nacional.
A produção de gás natural em 2010 foi de 69,21 m³/dia, mas a
continuidade dos investimentos em E&P de gás natural, da mesma maneira que
o petróleo, poderá fazer com que essa ultrapasse 250 milhões de m³/dia em
2030. Mesmo assim, a demanda crescente ainda vai exigir importação de gás,
em um volume de mais de 70 milhões de m³/dia em 2030 (essa importação foi
de 23,4 milhões de m³/dia em 2009), representando uma ampliação em mais de
40 milhões de m³/dia da capacidade de importação atual via gasoduto Bolívia-
Brasil (Gasbol) ou por importação de gás natural liquefeito (GNL). Quanto à
importação de GNL, planejada em 20 milhões de m³/dia até 2009, a
necessidade de importação adicional em 2030 seria de 20 milhões de m³/dia.
A indústria deverá permanecer como principal consumidora do gás
natural. Na geração de energia elétrica, a demanda de gás, atualmente de 76
milhões de m³/dia, poderá aumentar em 35 a 40 milhões de m³/dia com a
operação plena das termoelétricas. Desse modo, a participação do gás
natural na matriz energética passaria de cerca de 9% em 2005 para mais de
15% em 2030. O Gráfico 4 projeta a evolução do consumo do gás natural em
2005 e 2030:
Gráfico 4 – Consumo do gás natural em 2005 e 2030 (projeção).
3. Geração Hidroelétrica
As usinas hidroelétricas são as fontes mais importantes de energia
produzida no Brasil, proporcionando auto-suficiência na geração de energia
elétrica barata. A potência instalada saltou de 13.724 MW em 1975 para
cerca de 69.000 MW em 2005, mas junto com essa evolução, a demanda também
aumentou e homogeneizou-se devido à expansão econômica em praticamente
todas as regiões do país. É sabido que boa parte do potencial hidroelétrico
já é aproveitada no Brasil. No entanto, de acordo com o Plano Decenal de
Expansão de Energia Elétrica 2006-2015, com o aproveitamento da bacia do
Amazonas e das demais bacias será possível suprir a demanda até 2015. O
consumo atual de energia elétrica nacional está em torno de 405 TWh/ano, e
estima-se que essa demanda aumente para 1250 TWh/ano, o que exigirá
investimentos pesados no fornecimento de eletricidade. O Gráfico 5 mostra a
projeção do balanço produção-demanda de geração hidroelétrica até 2030,
prevendo um déficit que provavelmente só será aliviado com a participação
de outras formas de geração elétrica:
Gráfico 5 – Projeção do balanço energético hidroelétrico 2010-2030.
4. Geração Nuclear
Por questões ideológicas, a questão nuclear no Brasil sempre foi
polêmica. Angra 1, a primeira usina nuclear do Brasil, entrou em operação
em 1982 com potência instalada de 657MW. Angra 2, com 1350MW, apesar de ter
o acordo Brasil-Alemanha fechado em 1975, iniciou plenamente as atividades
no ano de 2000. A energia nuclear é responsável por cerca de 3% da oferta
de energia elétrica em 2005. O Brasil possui uma das maiores reservas
mundiais de Urânio e domina todo o processo de obtenção do combustível
nuclear. Porém a exploração ainda está em seus primórdios e faltam
investimentos adequados na tecnologia de enriquecimento do Urânio. De
acordo com as Indústrias Nucleares do Brasil – INB, os estudos de
prospecção de urânio foram realizados somente em 25% do território
nacional.
O que limita a produção de Urânio é a atual capacidade de
processamento das usinas em operação Angra 1 e 2, em torno de 60% da
demanda. Com a entrada em operação de Angra 3, prevista para 2015 no Plano
Decenal de Expansão de Energia Elétrica 2006-2015, a demanda aumentará em
110%, mas mesmo com a expansão projetada das linhas de enriquecimento do
Urânio, só 60% da demanda será atendida. O Gráfico 6 mostra o balanço
produção-demanda de energia nuclear, prevendo a entrada de angra 3 em 2015:
Gráfico 6 – Projeção do balanço energético nuclear 2010-2030.
5. Cana-de-açúcar
Em um cenário voltado para a sustentabilidade ambiental, a cana-de-
açúcar tornou-se produto expressivo para fins energéticos, a fim de
produzir etanol, inclusive com excedentes exportáveis. Com isso é também
previsível o aumento da produção de outros derivados da cana, como a
própria biomassa destinada para geração de energia elétrica, ou até por
domínio de processos (como a hidrólise) que utilizam o próprio bagaço para
produzir mais etanol. O incentivo ao uso mais intenso do etanol com
combustível automotivo faz com que a demanda por gasolina reduza, reduzindo
também as pressões sobre o refino do petróleo. Devido ao crescimento do
consumo interno de energia pelo setor de transportes, e até mesmo devido
limitações de território para cultivo da cana-de-açúcar, a oferta de etanol
para exportação poderá cair até 2030. Mesmo assim, a cana e derivados
passariam a assumir a segunda colocação na matriz energética brasileira,
com participação de 18,5%, atrás somente do petróleo e derivados.
5. Conclusões
Conclui-se com esse Relatório que a essência da matriz energética
brasileira é o petróleo e a geração hidroelétrica, respondendo por
praticamente a metade de toda a demanda nacional. No entanto, a capacidade
de produção energética é seguida de perto pela demanda, o que pode levar a
uma verdadeira crise energética no futuro, com necessidade de cada vez mais
importações de recursos energéticos, principalmente combustíveis. No
entanto, percebe-se que há projeções otimistas para driblar esse cenário,
com base em investimentos pesados em hidroeletricidade, em energia nuclear
e em cana e derivados, essa que sugere ser boa alternativa tanto por ser um
recurso renovável quanto por ser mais adequada ambientalmente.
6. Referências Bibiográficas
- BRONZATTI, F L; NETO, A I. Matrizes Energéticas no Brasil: Cenário 2010-
2030. Rio de Janeiro, 13 a 16 de Outubro de 2008. Disponível em
http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_077_541_11890.pdf,
acesso em 01/07/2011.
- TOLMASQUIM, M T; GUERREIRO, A; GORINI, R. Matriz Energética Brasileira –
Uma prospectiva. Novos Estudos, 2007. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/nec/n79/03.pdf. Acesso em 02/07/2011.
- Matriz Energética Nacional 2030. Ministério de Minas e Energia, Novembro
de 2007. Disponível em
http://www.mme.gov.br/mme/menu/todas_publicacoes.html. Acesso em
02/07/2011.
- Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural – Dezembro de 2010. ANP –
Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. 31 de Janeiro
de 2011. Disponível em www.anp.gov.br/?dw=41751. Acesso em 03/07/2011.
- Matriz Energética – importação. Disponível em
http://catedradogas.iee.usp.br/gasnatural/importacao.htm. Acesso em
03/07/2011.
- TOLMASQUIM, M T. Destaques do Novo Plano Decenal de Expansão de Energia
2019. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Disponível em
http://www.epe.gov.br/PDEE/20100610_1.pdf. Acesso em 03/07/2011.