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INTRODUÇÃO
Muito se discute atualmente sobre perdas na construção civil. Talvez
a motivação seja a baixa nos lucros, ou mesmo, a preocupação ambiental que
veio a tona recentemente. Mas o desperdício é comumente relacionado às
perdas em materiais de construção, esse conceito precisa ser expandido.
Pois toda e qualquer ineficiência do sistema de produção acarreta em
perdas, como por exemplo o transporte, o uso de tecnologias inadequadas e
assim segue.
1. CONCEITO DE PERDAS
Segundo Koskela – (1992) perdas pode ser definido como tudo aquilo
que consome recursos mas não agrega valor. Ainda conforme Koskela – (1992)
grandes falhas eram a desconsideração das atividades de fluxo inerentes ao
processo e a ausência de uma correta especificação do produto segundo as
necessidades dos clientes, levando a um grande número de retrabalhos. Pois
se considerava somente as atividades de conversão de uma entrada (imput) em
uma saída (output).
Assim surge a divisão de atividades que agregam e que não agregam
valor ao produto, do ponto de vista de satisfação do cliente. As atividades
de fluxo (o material é inspecionado, transportado e armazenado) e de
conversão (processamento do material) consomem tempo e recursos,
entretanto, só a ultima agrega valor ao produto.
Ainda segundo Koskela – (1992), apenas cerca de 20% das atividades do
processo construtivo são de conversão.
De acordo com Alarcon – (1997), seguindo as novas filosofias de
produção, são consideradas perdas todas as atividades que exigem tempo e
dinheiro sem agregar valor ao produto e, estas, devem ser eliminadas ou
reduzidas ao máximo.
Segundo Serpell et al – (1997), na maioria dos casos os engenheiros
responsáveis por gerenciar as obras não conseguem reconhecer nem os fatores
que geram as perdas. Deve-se reconhecer, entretanto, que estes fatores não
são visualizados com facilidade.
As perdas podem ocorrer durante todas as etapas do processo
construtivo, desde a concepção do projeto (superdimensionamento), o
processo construtivo em si e até na manutenção (reformas e patologias).
2. CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS
Para reduzir as perdas na construção de edificações é necessário
conhecer sua natureza e identificar suas principais causas. Shingo –
(1981) classificou as perdas de acordo com a possibilidade de serem
controladas, sua natureza e sua origem.
1. Perdas Segundo seu Controle
Estas perdas estão sub-classificadas da seguinte forma:
Perdas inevitáveis (ou perda natural): correspondem a um nível
aceitável de perdas, que é identificado quando o investimento necessário
para sua redução é maior que a economia gerada. O nível de perdas
inevitáveis varia de obra para obra, dependendo do patamar de
desenvolvimento da mesma.
Perda evitáveis: ocorrem quando os custos da ocorrência são
substancialmente maiores que os custos da prevenção. São conseqüência de um
processo de baixa qualidade, no qual os recursos são aplicados
inadequadamente.
2. Perdas Segundo sua Natureza
Ainda de acordo com Shingo – (1981), nas perdas quanto a natureza,
identifica-se nove subcategorias de perdas.
Perdas por superprodução – refere-se a perdas que ocorrem devido a
produção de quantidades maiores de material do que realmente é necessário.
Exemplo: produção de argamassa a mais do que será usado em um dia de
trabalho.
Perdas por substituição – refere-se a utilização de materiais de
valores superiores ao especificado. Exemplo: utilização de argamassa com
traço de maior resistência que a necessária.
Perda por espera – relacionam a sincronia do fluxo de materiais e
as atividades dos trabalhadores. Exemplo: parada nos serviços por falta de
materiais e/ou equipamentos.
Perdas por transporte – estão associadas ao manuseio excessivo ou
inadequado dos materiais, em função, as vezes, de um layout ineficiente.
Exemplo: tempo excessivo no transporte devido a grandes distâncias entre
estoques e o guincho.
Perdas no processamento em si – tem origem na própria natureza das
atividades do processo ou na execução inadequada dos mesmos. Exemplo:
quebra manual dos blocos devido a falta de meios-blocos.
Perdas nos estoques – estão associados a existência de estoques
excessivos, em função da programação inadequada na entrega dos materiais.
Podem resultar tanto em perdas de material quanto de capital. Exemplo:
deterioração do cimento devido ao armazenamento em pilhas muito altas.
Perdas no movimento – decorrem da realização de movimentos
desnecessários por parte dos trabalhadores, durante a execução de suas
atividades. Exemplo: esforço excessivo do trabalhador em função de
condições ergonômicas desfavoráveis.
Perdas pela elaboração de produtos defeituosos – ocorrem quando são
fabricados produtos que não atendem aos requisitos de qualidade
especificados. Resultam em retrabalhos. Exemplo: falhas nas
impermeabilizações e pinturas, descolamento de azulejos.
Outras – algumas outras perdas são mais inusitadas, porém existem.
Exemplos: roubo, vandalismo, etc.
3. Perdas Segundo sua Origem
As perdas mencionadas em geral ocorrem e podem ser identificadas
durante a etapa de produção. Contudo, sua origem pode estar no próprio
processo de produção quanto nos processos que o antecedem, como fabricação
de materiais, preparação dos recursos humanos, projetos, suprimentos e
planejamento.
3. INDICADORES DE PERDAS
Trata-se do resultado de levantamentos realizados dentro do processo
construtivo, onde são feitas comparações entre situações previstas e
ocorridas.
Os indicadores de perdas podem ser compostos de diversas maneiras. Na
maior parte das vezes se definirá uma situação de referência (prevista), se
quantificará a situação real (ocorrida), e o indicador será constituído por
uma relação percentual da discrepância da situação real com relação à de
referência (SOUZA,1997):
IND(%) = [ (Sreal – Sref) / Sref ] x 100
Onde:
IND = Indicador de perda
SREAL = Situação real
SREF. = Situação de referência
Segundo FORMOSO et al (1996), os índices de perdas cumprem importante
papel de indicadores de desempenho dos processos e, como tais, podem ser
empregados para diferentes finalidades. Principalmente fornecer dados
confiáveis para a discussão da gestão de materiais e planejamento do
canteiro de obras.
Abaixo segue uma tabela de indicadores globais de perdas de materiais
de acordo com o projeto de pesquisa "Alternativas para a redução do
desperdício de materiais no canteiro de obras" do Instituto Brasileiro de
Tecnologia e Qualidade na Construção Civil (ITQC):
INDICADORES GLOBAIS DE PERDAS DE MATERIAIS
"Materiais Básicos "Média "Mediana"Mínimo "Máximo "Nº "
" " " " " "obras "
"Areia "76 "44 "7 "311 "28 "
"Cimento "95 "56 "6 "638 "44 "
"Pedra "75 "38 "9 "294 "6 "
"Cal "97 "36 "6 "638 "12 "
"Estrutura e Alvenaria " " " " " "
"Concreto usinado "9 "9 "2 "23 "35 "
"Concreto produzido em obra "6 "6 "6 "6 "1 "
"Aço "10 "11 "4 "16 "12 "
"Blocos e tijolos "17 "13 "3 "48 "37 "
"Arg. Produzida para alvenaria "116 "116 "26 "205 "2 "
Os indicadores de perdas demonstram as perdas relacionadas às
atividades de conversão, principalmente por superprodução. Vale ressaltar
que não há índices de perdas com relação às atividades de fluxo, ou seja,
as atividades que são feitas mas que não agregam valor. Sendo essas
atividades responsáveis por uma boa parcela de perdas, principalmente
financeiras, de tempo e de energia.
4. DISCUSSÃO DE MEDIDAS PARA REDUZIR PERDAS
Existem muitas causas para as perdas na construção civil. A maior
parte delas são evitáveis, mas não se consegue extingui-las (perdas
inevitáveis). Para reduzir as perdas algumas medidas e cuidados podem
ajudar, como por exemplo um supervisionamento constante do canteiro de
obras.
Uma das medidas para diminuir as perdas, é capacitar melhor a mão de
obra na construção civil, visto que muito se perde por falta de técnica dos
funcionários. O profissional necessita saber como trabalhar com os
diferentes materiais e maneiras de assentamento, revestimento, etc. O
descaso da mão de obra com relação aos materiais também é responsável por
uma parte das perdas de material.
Um supervisionamento constante também é necessário para diminuir as
perdas por descaso e por superprodução. Superprodução no sentido de se
controlar que seja feita a espessura de argamassa correta em assentamento
de alvenaria, revestimento e assim por diante. E também com relação ao
retrabalho. Ainda com relação à mão de obra se faz necessário pensar e
oferecer o máximo de segurança no canteiro de obras, afim de não ocorrer
perdas por acidentes de trabalho.
O canteiro de obras deve ser organizado e planejado com o intuito de
diminuir ao mínimo possível a movimentação de funcionários em áreas de
risco, como canteiro de aço, e portão de cargas, para diminuir o risco de
acidentes. E também de uma maneira que haja controle sobre o uso de
ferramentas, e além disso deve ser organizado de uma forma onde o
transporte seja diminuído ao menor espaço, para que não se perca em
produtividade.
Outra medida importante para reduzir as perdas é o integrar o uso de
tecnologias novas à construção civil. Há estudos conforme Roman que indicam
para a coordenação modular, como uma maneira de diminuir os desperdícios.
Ou seja, uma padronização dos componentes da construção, como blocos,
janelas, portas e entre outros como uma maneira de evitar a falta de
"encaixe" e assim reduzir as perdas. Outro fator importante é a
compatibilização dos projetos para diminuir o re-trabalho.
5. COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS (RE-TRABALHO)
A compatibilização de projetos visa reduzir os custos, evitando erros
devido à interferência entre projetos e, consequentemente, minimizando o re-
trabalho, reduzindo prazos de execução e desperdício de materiais. Um
exemplo seria a analise conjunta do projeto arquitetônico com o projeto
elétrico, para evitar que se quebrem paredes recém feitas para a passagem
de fios.
Na construção de edificações no Brasil, apesar do avanço tecnológico
que esse ramo industrial apresentou nos últimos anos, ainda é pratica comum
em empresas de pequeno porte o desenvolvimento de projetos sem a
compatibilização das disciplinas do projeto, gerando, em conseqüência,
fatores negativos, tais como: má qualidade da edificação, maior índice de
re-trabalhos, acréscimo no custo da obra. (Meseguer, 1991).
Desta forma, de acordo com Melhado – (1994), o projeto deve ser visto
como um processo colaborativo, não somente entre as várias especialidades
mas também com a participação do demais envolvidos na produção.
6. CONCLUSÃO
Os dados são alarmantes quanto às perdas na construção civil. A área
perde em qualidade e eficiência, além de financeiramente com isso. E as
causas são várias, como transporte, espera, mas a principal é a
superprodução. A falta de planejamento no inicio também é um fator
agravante.
Porém estudando com afinco, percebe-se que a maior parte das perdas
são evitáveis, e com algumas medidas pode-se reduzi-las. Como um cuidado e
atenção maior no canteiro de obras, projetos compatibilizados e bem
especificados.
REFERÊNCIAS
MELHADO, S.B. Qualidade do Projeto na Construção de Edifícios: aplicação ao
caso das empresas de incorporação e construção. 1994. 295p. Tese (Doutorado
em Engenharia) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo.
MESEGUER, A. G. Controle e Garantia da Qualidade na Construção. São Paulo:
SINDUSCON – SP, 1991, 179p.
ALARCON, L. F. Tools for the identification and reduction of waste in
construction projects. Rotterdam: A.A. Bolkema, 1997.
KOSKELA, L. Aplication of The New Production Philosophy to Construction.
Austin, Texas: The Construction Industry Institute (CI), 1992.
SHINGO, S. A study of Toyota production system from an industrial
engineering viewpoint. Toquio, Japan Management Association, 1981.
SERPELL, A. et alli. Characterization of waste in building construction
projects. Rotterdam: A. A. Balkema, 1997.
SOUZA, Ubiraci Espinelli. Redução do desperdício de argamassa através do
controle do consumo em obra. In: 2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE
ARGAMASSAS. Anais, Salvador, CEPED, EPUFBA, UCSAL, UEFS, 1997. pp. 460-465.
FORMOSO, Carlos T. Et al. Perdas na construção civil. Revista Techne
Jul/Ago – nº 23 pp 30-32. Ed. Pini.. São Paulo 1996.
AGOPYAN, Vahan et al. Alternativas para redução do desperdício de materiais
no
canteiro de obras. Projeto FINEP. USP. Disponível em
Acesso em: 14 de Setembro de 2009.
ROMAN, Humberto Ramos. Pesquisa olha para padronização de componentes para
cortar desperdício. Revista Sustentabilidade. Disponível em:
. Acesso em: 18 de Setembro de
2009.