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Perdas Na Construção Civil

Discussão sobre perdas na construção civil

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    December 2018
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INTRODUÇÃO Muito se discute atualmente sobre perdas na construção civil. Talvez a motivação seja a baixa nos lucros, ou mesmo, a preocupação ambiental que veio a tona recentemente. Mas o desperdício é comumente relacionado às perdas em materiais de construção, esse conceito precisa ser expandido. Pois toda e qualquer ineficiência do sistema de produção acarreta em perdas, como por exemplo o transporte, o uso de tecnologias inadequadas e assim segue. 1. CONCEITO DE PERDAS Segundo Koskela – (1992) perdas pode ser definido como tudo aquilo que consome recursos mas não agrega valor. Ainda conforme Koskela – (1992) grandes falhas eram a desconsideração das atividades de fluxo inerentes ao processo e a ausência de uma correta especificação do produto segundo as necessidades dos clientes, levando a um grande número de retrabalhos. Pois se considerava somente as atividades de conversão de uma entrada (imput) em uma saída (output). Assim surge a divisão de atividades que agregam e que não agregam valor ao produto, do ponto de vista de satisfação do cliente. As atividades de fluxo (o material é inspecionado, transportado e armazenado) e de conversão (processamento do material) consomem tempo e recursos, entretanto, só a ultima agrega valor ao produto. Ainda segundo Koskela – (1992), apenas cerca de 20% das atividades do processo construtivo são de conversão. De acordo com Alarcon – (1997), seguindo as novas filosofias de produção, são consideradas perdas todas as atividades que exigem tempo e dinheiro sem agregar valor ao produto e, estas, devem ser eliminadas ou reduzidas ao máximo. Segundo Serpell et al – (1997), na maioria dos casos os engenheiros responsáveis por gerenciar as obras não conseguem reconhecer nem os fatores que geram as perdas. Deve-se reconhecer, entretanto, que estes fatores não são visualizados com facilidade. As perdas podem ocorrer durante todas as etapas do processo construtivo, desde a concepção do projeto (superdimensionamento), o processo construtivo em si e até na manutenção (reformas e patologias). 2. CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS Para reduzir as perdas na construção de edificações é necessário conhecer sua natureza e identificar suas principais causas. Shingo – (1981) classificou as perdas de acordo com a possibilidade de serem controladas, sua natureza e sua origem. 1. Perdas Segundo seu Controle Estas perdas estão sub-classificadas da seguinte forma: Perdas inevitáveis (ou perda natural): correspondem a um nível aceitável de perdas, que é identificado quando o investimento necessário para sua redução é maior que a economia gerada. O nível de perdas inevitáveis varia de obra para obra, dependendo do patamar de desenvolvimento da mesma. Perda evitáveis: ocorrem quando os custos da ocorrência são substancialmente maiores que os custos da prevenção. São conseqüência de um processo de baixa qualidade, no qual os recursos são aplicados inadequadamente. 2. Perdas Segundo sua Natureza Ainda de acordo com Shingo – (1981), nas perdas quanto a natureza, identifica-se nove subcategorias de perdas. Perdas por superprodução – refere-se a perdas que ocorrem devido a produção de quantidades maiores de material do que realmente é necessário. Exemplo: produção de argamassa a mais do que será usado em um dia de trabalho. Perdas por substituição – refere-se a utilização de materiais de valores superiores ao especificado. Exemplo: utilização de argamassa com traço de maior resistência que a necessária. Perda por espera – relacionam a sincronia do fluxo de materiais e as atividades dos trabalhadores. Exemplo: parada nos serviços por falta de materiais e/ou equipamentos. Perdas por transporte – estão associadas ao manuseio excessivo ou inadequado dos materiais, em função, as vezes, de um layout ineficiente. Exemplo: tempo excessivo no transporte devido a grandes distâncias entre estoques e o guincho. Perdas no processamento em si – tem origem na própria natureza das atividades do processo ou na execução inadequada dos mesmos. Exemplo: quebra manual dos blocos devido a falta de meios-blocos. Perdas nos estoques – estão associados a existência de estoques excessivos, em função da programação inadequada na entrega dos materiais. Podem resultar tanto em perdas de material quanto de capital. Exemplo: deterioração do cimento devido ao armazenamento em pilhas muito altas. Perdas no movimento – decorrem da realização de movimentos desnecessários por parte dos trabalhadores, durante a execução de suas atividades. Exemplo: esforço excessivo do trabalhador em função de condições ergonômicas desfavoráveis. Perdas pela elaboração de produtos defeituosos – ocorrem quando são fabricados produtos que não atendem aos requisitos de qualidade especificados. Resultam em retrabalhos. Exemplo: falhas nas impermeabilizações e pinturas, descolamento de azulejos. Outras – algumas outras perdas são mais inusitadas, porém existem. Exemplos: roubo, vandalismo, etc. 3. Perdas Segundo sua Origem As perdas mencionadas em geral ocorrem e podem ser identificadas durante a etapa de produção. Contudo, sua origem pode estar no próprio processo de produção quanto nos processos que o antecedem, como fabricação de materiais, preparação dos recursos humanos, projetos, suprimentos e planejamento. 3. INDICADORES DE PERDAS Trata-se do resultado de levantamentos realizados dentro do processo construtivo, onde são feitas comparações entre situações previstas e ocorridas. Os indicadores de perdas podem ser compostos de diversas maneiras. Na maior parte das vezes se definirá uma situação de referência (prevista), se quantificará a situação real (ocorrida), e o indicador será constituído por uma relação percentual da discrepância da situação real com relação à de referência (SOUZA,1997): IND(%) = [ (Sreal – Sref) / Sref ] x 100 Onde: IND = Indicador de perda SREAL = Situação real SREF. = Situação de referência Segundo FORMOSO et al (1996), os índices de perdas cumprem importante papel de indicadores de desempenho dos processos e, como tais, podem ser empregados para diferentes finalidades. Principalmente fornecer dados confiáveis para a discussão da gestão de materiais e planejamento do canteiro de obras. Abaixo segue uma tabela de indicadores globais de perdas de materiais de acordo com o projeto de pesquisa "Alternativas para a redução do desperdício de materiais no canteiro de obras" do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade na Construção Civil (ITQC): INDICADORES GLOBAIS DE PERDAS DE MATERIAIS "Materiais Básicos "Média "Mediana"Mínimo "Máximo "Nº " " " " " " "obras " "Areia "76 "44 "7 "311 "28 " "Cimento "95 "56 "6 "638 "44 " "Pedra "75 "38 "9 "294 "6 " "Cal "97 "36 "6 "638 "12 " "Estrutura e Alvenaria " " " " " " "Concreto usinado "9 "9 "2 "23 "35 " "Concreto produzido em obra "6 "6 "6 "6 "1 " "Aço "10 "11 "4 "16 "12 " "Blocos e tijolos "17 "13 "3 "48 "37 " "Arg. Produzida para alvenaria "116 "116 "26 "205 "2 " Os indicadores de perdas demonstram as perdas relacionadas às atividades de conversão, principalmente por superprodução. Vale ressaltar que não há índices de perdas com relação às atividades de fluxo, ou seja, as atividades que são feitas mas que não agregam valor. Sendo essas atividades responsáveis por uma boa parcela de perdas, principalmente financeiras, de tempo e de energia. 4. DISCUSSÃO DE MEDIDAS PARA REDUZIR PERDAS Existem muitas causas para as perdas na construção civil. A maior parte delas são evitáveis, mas não se consegue extingui-las (perdas inevitáveis). Para reduzir as perdas algumas medidas e cuidados podem ajudar, como por exemplo um supervisionamento constante do canteiro de obras. Uma das medidas para diminuir as perdas, é capacitar melhor a mão de obra na construção civil, visto que muito se perde por falta de técnica dos funcionários. O profissional necessita saber como trabalhar com os diferentes materiais e maneiras de assentamento, revestimento, etc. O descaso da mão de obra com relação aos materiais também é responsável por uma parte das perdas de material. Um supervisionamento constante também é necessário para diminuir as perdas por descaso e por superprodução. Superprodução no sentido de se controlar que seja feita a espessura de argamassa correta em assentamento de alvenaria, revestimento e assim por diante. E também com relação ao retrabalho. Ainda com relação à mão de obra se faz necessário pensar e oferecer o máximo de segurança no canteiro de obras, afim de não ocorrer perdas por acidentes de trabalho. O canteiro de obras deve ser organizado e planejado com o intuito de diminuir ao mínimo possível a movimentação de funcionários em áreas de risco, como canteiro de aço, e portão de cargas, para diminuir o risco de acidentes. E também de uma maneira que haja controle sobre o uso de ferramentas, e além disso deve ser organizado de uma forma onde o transporte seja diminuído ao menor espaço, para que não se perca em produtividade. Outra medida importante para reduzir as perdas é o integrar o uso de tecnologias novas à construção civil. Há estudos conforme Roman que indicam para a coordenação modular, como uma maneira de diminuir os desperdícios. Ou seja, uma padronização dos componentes da construção, como blocos, janelas, portas e entre outros como uma maneira de evitar a falta de "encaixe" e assim reduzir as perdas. Outro fator importante é a compatibilização dos projetos para diminuir o re-trabalho. 5. COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS (RE-TRABALHO) A compatibilização de projetos visa reduzir os custos, evitando erros devido à interferência entre projetos e, consequentemente, minimizando o re- trabalho, reduzindo prazos de execução e desperdício de materiais. Um exemplo seria a analise conjunta do projeto arquitetônico com o projeto elétrico, para evitar que se quebrem paredes recém feitas para a passagem de fios. Na construção de edificações no Brasil, apesar do avanço tecnológico que esse ramo industrial apresentou nos últimos anos, ainda é pratica comum em empresas de pequeno porte o desenvolvimento de projetos sem a compatibilização das disciplinas do projeto, gerando, em conseqüência, fatores negativos, tais como: má qualidade da edificação, maior índice de re-trabalhos, acréscimo no custo da obra. (Meseguer, 1991). Desta forma, de acordo com Melhado – (1994), o projeto deve ser visto como um processo colaborativo, não somente entre as várias especialidades mas também com a participação do demais envolvidos na produção. 6. CONCLUSÃO Os dados são alarmantes quanto às perdas na construção civil. A área perde em qualidade e eficiência, além de financeiramente com isso. E as causas são várias, como transporte, espera, mas a principal é a superprodução. A falta de planejamento no inicio também é um fator agravante. Porém estudando com afinco, percebe-se que a maior parte das perdas são evitáveis, e com algumas medidas pode-se reduzi-las. Como um cuidado e atenção maior no canteiro de obras, projetos compatibilizados e bem especificados. REFERÊNCIAS MELHADO, S.B. Qualidade do Projeto na Construção de Edifícios: aplicação ao caso das empresas de incorporação e construção. 1994. 295p. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo. MESEGUER, A. G. Controle e Garantia da Qualidade na Construção. São Paulo: SINDUSCON – SP, 1991, 179p. ALARCON, L. F. Tools for the identification and reduction of waste in construction projects. Rotterdam: A.A. Bolkema, 1997. KOSKELA, L. Aplication of The New Production Philosophy to Construction. Austin, Texas: The Construction Industry Institute (CI), 1992. SHINGO, S. A study of Toyota production system from an industrial engineering viewpoint. Toquio, Japan Management Association, 1981. SERPELL, A. et alli. Characterization of waste in building construction projects. Rotterdam: A. A. Balkema, 1997. SOUZA, Ubiraci Espinelli. Redução do desperdício de argamassa através do controle do consumo em obra. In: 2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE ARGAMASSAS. Anais, Salvador, CEPED, EPUFBA, UCSAL, UEFS, 1997. pp. 460-465. FORMOSO, Carlos T. Et al. Perdas na construção civil. Revista Techne Jul/Ago – nº 23 pp 30-32. Ed. Pini.. São Paulo 1996. AGOPYAN, Vahan et al. Alternativas para redução do desperdício de materiais no canteiro de obras. Projeto FINEP. USP. Disponível em Acesso em: 14 de Setembro de 2009. ROMAN, Humberto Ramos. Pesquisa olha para padronização de componentes para cortar desperdício. Revista Sustentabilidade. Disponível em: . Acesso em: 18 de Setembro de 2009.