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O Portão Da Escola - Uma Reflexão Em Ergonomia

Este trabalho pretende avaliar uma situação real num local de trabalho e relacioná-la com o conceito de ergonomia e a partir de uma reflexão considerar o impacto que o ambiente de trabalho pode trazer para a atividade de trabalho.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE PSICOLOGIA ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM ERGONOMIA ANDRÉA LILIAM SILVA DA PAIXÃO – DRE: 100121475 "O PORTÃO DA ESCOLA" UMA RELEXÃO EM ERGONOMIA RIO DE JANEIRO, 17 DE JUNHO DE 2008. "O PORTÃO DA ESCOLA" – UMA REFLEXÃO EM ERGONOMIA[1] APRESENTAÇÃO Este trabalho pretende avaliar uma situação real num local de trabalho e relacioná-la com o conceito de ergonomia e a partir de uma reflexão considerar o impacto que o ambiente de trabalho pode trazer para a atividade de trabalho. FUNDAMENTAÇÃO "Ergonomia é a palavra usada para descrever a ciência de conceber uma tarefa que se adapte ao trabalhador, e não forçar o trabalhador a adaptar- se a tarefa[2]", isto é, a ergonomia visa uma "melhor adequação do trabalho ao homem[3]", mais precisamente "a adaptação dos instrumentos, condições e ambiente de trabalho às capacidades psicofisiológicas, antropométricas e biomecânicas do homem[4]". São consideradas em ergonomia questões ambientais, cognitivas e comportamentais no sentido de melhorar aspectos tais como, eficiência, produtividade, segurança, saúde conforto do trabalhador, além de dirimir possíveis fatores de risco no trabalho através de intervenções. A intervenção ergonômica pode ser resumida nas seguintes etapas: Análise ergonômica do trabalho; Projeto de mudança; Implementação de mudanças ou transformação. Somente depois do levantamento das condições de trabalho, e avaliadas as necessidades reais do trabalhador em seu ambiente de trabalho e selecionadas as necessidades mais urgentes, é que se pode fazer um projeto de mudanças e sua conseqüente implementação. SITUAÇÃO Na Escola Municipal Brasil, em Olaria, um pequeno detalhe infernizava a vida dos funcionários responsáveis pela segurança dos alunos: o portão. A escola tem dez turmas de 1º a 9º ano, no 2º andar e mais três turmas no térreo, sendo duas de educação infantil[5]. Por se tratarem de alunos do ensino fundamental, e conseqüentemente menores de idade, durante o período de aulas, o aluno matriculado fica sob total responsabilidade da escola, que deve responder, na pessoa da diretora geral, adjuntas, coordenadora pedagógica, agente educadora, professores, e demais funcionários da educação, pela segurança e integridade física e moral dos mesmos. Por determinação da secretaria de educação, o estudante, deve entrar para a primeira aula e permanecer na escola até o horário da saída. A escola não dispõe de porteiro para receber os aluno, e visitantes, tais como: pais, responsáveis, pessoas interessadas em matrícula, entregadores de mantimentos para merenda, etc. Uma senhora, Dona Marlene, que é a servente da escola e também a caseira, e seu esposo, Seu Cardoso, já aposentado, se revezam no portão para evitar que os estudantes saiam fora de hora e desempenhar as funções que deveriam estar sendo desempenhadas por um porteiro. Na ausência do casal supracitado, os funcionários da escola, desde garis aos diretores, cuidam de abrir e fechar o portão de ferro que mede por volta de 3 metros de largura e 4 de altura, incluindo a tela de segurança. Um dos aspectos a ser avaliado decorrente de não haver na escola uma pessoa que tenha uma função específica de se ocupar com o portão, e tal função ser dividida entre os funcionários da escola, é o desconforto no ambiente de trabalho que acaba sendo gerado, pois muitas vezes o funcionário precisa interromper suas tarefas, se deslocar até o portão para ver quem está batendo, abrir o portão, dar informações, encaminhar o visitante, fechar o portão, voltar para a sua própria tarefa. Um outro aspecto a ser avaliado envolve uma contradição. É comum tanto funcionários e quanto visitantes terem que aguardar algum tempo até que se lhe abram o portão para entrarem na escola assim como o mesmo portão acabar ficando aberto proporcionando o risco de que os alunos saiam da escola durante o período de aula, e recreio, e facilitando que qualquer pessoa entre, sem que ninguém se dê conta disso. O recreio apresenta uma particularidade, pois é a ocasião em que os alunos têm maior acesso ao portão para abri-lo, se não houver funcionário disponível no momento para tomar conta. Há na escola uma agente educadora, cujo trabalho é atuar diretamente com os alunos, e como esta se vê obrigada a se deslocar muito de local dentro da escola, justamente pela falta de mais funcionários, a ocasião para o aluno se dirigir ao portão para abri-lo acaba surgindo. Outra situação que concorre para o mesmo problema é na hora em que alguma visitante deixa a escola, pois o portão não tem como ser trancado por fora, e não possui mola, e acaba sendo deixado aberto. Embora nunca tenha acontecido nada mais grave que alunos da escola saírem para comprar alguma merenda – isto sem conseqüências – e alunos de outras escolas terem entrado e se fazerem passar por alunos da escola Brasil na hora do recreio, tal situação é potencialmente perigosa para a segurança dos alunos e funcionários da escola, pois envolve risco de venda de drogas, agressão aos alunos por elementos alheios ao ambiente escolar, e até oportunidades de responsáveis tentarem resolver por conta própria diferenças entre seus filhos ou pupilos e outra crianças[6]. AVALIAÇÃO Começamos considerando um aspecto prático e até mecânico do problema, mas, na verdade, o deslocamento recorrente dos funcionários devido às suas idas e vindas ao portão e a preocupação com a segurança dos alunos pode trazer conseqüências, tais como: cansaço, devido a acúmulo de funções e sobrecarga, devido aos aspectos emocional e cognitivo que envolvem a preocupação juntamente com a insatisfação que se instala decorrente da situação que se repete dia após dia. Exemplos: Os dois funcionários da parte administrativa que precisam permanecer na secretaria, que trabalham sentados, ao computador, ou à escrivaninha, com trabalhos burocráticos e atendimento ao público em geral, e no máximo se deslocam até o arquivo para procurar documentos; A única agente educadora tem uma mesa no corredor, no 2º andar, onde ficam as salas de aula, sua função é passar valores morais e de conduta aceitos socialmente para os alunos, e descer junto com as turmas durante o recreio. Mas, além disso, ela carimba as cadernetas, muitas vezes precisa gastar algum tempo conversando com os alunos sobre normas e conduta, quando ocorre algum problema de comportamento, desrespeito ou desentendimento entre eles e até mesmo acompanhar o aluno à secretaria quando há necessidade, como quando sentem alguma dor, mal estar, ou apresentam algum tipo de má conduta na escola, como brigar; A coordenadora pedagógica tem sua mesa na sala de professores, onde atende responsáveis, alunos e professores, além de executar as funções pertinentes a uma coordenadora pedagógica; A servente da escola deveria se preocupar só com a limpeza, mas, além disso, ela, carimba cadernetas, na ausência da agente educadora, também conversa com os alunos sobre normas e conduta; Os garis, que não fazem parte da educação, mas que cuidam da limpeza da escola, proporcionando assim um ambiente mais agradável e saudável; A diretora geral tem seu gabinete no segundo andar para poder ter maior contato com os alunos e as adjuntas que ficam na secretaria, no térreo. Cada um dos funcionários listados acima, no desempenho de suas tarefas, em algum momento precisa lembrar-se do portão. Sendo assim, são agentes administrativos saindo da secretaria largando computador e documentos, servente –não iremos mencionar agora, pois já explicitada a sua situação no início do texto, agente educadora interrompendo seu percurso, após descer as escadas, garis, coordenadora pedagógica, e diretores, todos os dias, dia após dia, ao mesmo tempo em que recai sobre cada um a preocupação com algum aluno sair da escola e sofrer um acidente, pois certamente a secretaria não vai entender que o aluno esperou até ter certeza que não havia ninguém olhando para escapulir; sem mencionar as implicações administrativas caso a preocupação se concretize. Certamente tudo isso não só deixa de causar certa inquietação, ou ansiedade, mas também, sem dúvida, gera uma certa cobrança por parte da direção da escola sobre os funcionários. TRANSFORMAÇÃO A questão apresentada encontrou, por incrível que pareça, uma forma extremamente simples, diga-se assim de ser solucionada, ou ao menos amenizada: a instalação de um interfone no portão. A recepção do interfone foi colocada na secretaria, de onde se pode observar o portão. A princípio os funcionários que trabalham na secretaria, ficaram responsáveis por atender o interfone. Na prática o trabalho continua sendo realizado por qualquer funcionário que esteja nas proximidades da secretaria, mas o interfone veio de certo modo facilitar a vida de todos. Algumas vantagens do interfone: Poupar o funcionário de ter de se deslocar até o portão para ter que abri-lo, e interromper, algumas vezes de forma comprometedora, suas atividades; Despachar o visitante do portão quando não houver necessidade de sua entrada na escola, pois uma pequena informação ou dúvida pode ser dada via interfone; Quando o visitante precisa entrar, ele mesmo poderá fechar o portão (o portão não fecha sozinho), mais uma vez poupando o funcionário; Os estudantes não têm como sair da escola, a não ser no final da última aula ou acompanhado pelo responsável; A agente educadora não tendo que se preocupar com o portão, para evitar que algum aluno se ausente da escola sem permissão, pode dar mais atenção aos mesmos. COMENTÁRIOS Embora o problema apresentado tenha encontrado uma solução singela, inconvenientes ainda existem. Na verdade o portão é só a ponta do iceberg do problema, na escola, que é o número inadequado de funcionários para o trabalho, o que, na verdade, é um fator considerado como de risco no trabalho no conceito atual de ergonomia[7]. Não foi feito um levantamento das condições ambientais de trabalho na escola por um profissional em ergonomia. No entanto a intervenção realizada na escola, com a colocação de um porteiro eletrônico, trouxe mudanças na rotina escolar significativas e uma contribuição positiva para o bem estar dos funcionários, embora há quem reclame do som do interfone a todo o momento, na secretaria, por exemplo. Apesar da contribuição do interfone ter sido positiva, um levantamento mais consistente dos fatores de risco na escola, por um profissional em ergonomia, traria muitos benefícios se fossem implementadas as mudanças necessárias. Uma demanda surgiu no ano passado foi com relação à sala de leitura, que tinha seus livros depredados, furtados, durante sua utilização. Como a sala de leitura é usada para passar filmes durante a escola aberta, não se podem limitar as suspeitas à comunidade interna da escola. A coordenadora pedagógica pediu que fossem colocados armários de alvenaria, com portas, para que os livros só pudessem ser retirados da estante por meio de empréstimo autorizado. A sala de leitura foi reformada realmente, ficou muito bonita, mas as estantes de livros limitaram-se a prateleiras de granito e nenhuma porta, em substituição às antigas prateleiras de madeira. Na verdade a sala de leitura tornou-se mais adequada para receber os alunos, pois está mais agradável, mais colorida e, um ambiente agradável, estimula mais alunos que vão ali para fazer pesquisa ou encontrar um entretenimento saudável e estimula também o funcionário que trabalha ali. Mas a demanda original que considerava a segurança do acervo não foi contemplada. Bem, mas ainda pesa uma outra demanda não contemplada: o número inadequado de funcionários. A direção da escola explicou que quando há alguma demanda de obra de reforma na escola, um requerimento é enviado ao DIE — Divisão de Infra- Estrutura, localizada na CRE — Centro regional de Educação. A DIE envia engenheiros à escola para avaliarem a situação, e só depois é liberado o recurso e enviados funcionários para a obra. Da mesma forma são feitos os pedidos de mobília nova. Já a colocação do interfone e porteiro eletrônico se deu através dos recursos que são regularmente direcionados à escola, tratando-se então de uma demanda da escola atendida diretamente pela direção da mesma. Nenhum funcionário da escola ligado ao setor administrativo já ouviu falar no termo ergonomia e desconhece qualquer setor na secretaria de educação ou na prefeitura ligado a alguma função relativa a esse nome. CONSIDERAÇÕES FINAIS O exemplo do portão foi escolhido, pois, é um exemplo simples de como um aspecto no ambiente pode influenciar toda uma equipe de trabalhadores, causando inquietações ou favorecendo-as. Um pequeno desconforto pode no decorrer da atividade de trabalho durante dias, meses e anos, fazer com que a eficiência, a produtividade, a segurança e a saúde decaiam significativamente. REFERÊNCIAS: VIDAL, Mário C. Introdução à ergonomia. RJ: COPPE/UFRJ. www.gente.ufrj.br/ceserg/arquivos/er001.pdf wwww.gente.ufrj.br/ceser/arquivos/er001.pdf www.abergo.org.br/oqueeergonomia.htm www.ergonomia-a-ciencia-do-conforto www.ergonomia.com.br/htm/dicas.htm www.ivogomes.com/blog/o-que-e-a-ergonomia www.sogab.com.br/saudebiosseg.htm ----------------------- [1] Do grego: "ergon" que significa trabalho e "nomos" que significa leis. [2] www.ivogomes.com/blog/o-que-e-a-ergonomia [3] www.sogab.com.br/saudebiosseg.htm [4] Idem índice 2. [5] Por turno. [6] - Embora possa parecer absurdo, é comum acontecer nas escolas. Os funcionários precisam ter cuidado para evitar esse tipo de constrangimento às crianças. Algumas vezes é preciso mesmo haver intervenção para impedir tal constrangimento. [7] www.sogab.com.br/saudebiosseg.htm