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O Conflito Entre O Individuo E A Sociedade

breve parecer da noção de individualidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Luísa Araújo Cardoso dos Santos Marcela Gervásio Guerra Maria Fernanda Alves Bellini de Castro O CONFLITO ENTRE O INDIVIDUO E A SOCIEDADE Trabalho apresentado ao curso de Ciências do Estado da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para aprovação na disciplina de Modernidade e Mudança Social. Belo Horizonte Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG Junho/2010 Tradicionalmente, na sociologia, há o entendimento dos conceitos de homem e sociedade como processos contínuos. Na modernidade, o enfoque individualista ganha força, mas deve-se ter em mente que nem sempre foi assim. Na sociedade grega, berço da civilização ocidental, se pensava a sociedade como um todo maior, e era o interesse público, coletivo, que deveria ser assegurado. No entanto, Louis Dumont defende que o homem é, pelo seu estado de natureza, um indivíduo anterior à sociedade e à política, contrariando o exemplo dos gregos, que no auge da sua história consideravam homem somente o ser incluído e participativo socialmente. Assim, percebe-se que historicamente ocorreu a expansão da importância dada à formação da individualidade, prova disso é que ainda durante a Idade Média a Igreja Católica, representação máxima de poder e sociedade, superando até mesmo o Estado, vivenciou uma crise pelo poder através do acirramento da rivalidade entre o Papa e os Governantes. Posteriormente com o advento da Reforma Luterana, e obviamente com aparecimento de outras religiões, o poder laico se torna mais valorizado. Assim, o poder é transferido para as mãos do Estado. Segundo alguns teóricos da sociologia – especialmente Marx e Weber – foi a emancipação religiosa, conseqüência da Reforma Luterana, que possibilitou a formação da individualidade da forma que conhecemos hoje. Isso porque ao transferir a escolha da religião do campo público para o privado, o homem passou a considerar que outras decisões, antes tomadas pelo Estado ou pela Igreja, poderiam também se tornar escolhas individuais. Então, ao invés de uma exploração velada por ilusões religiosas, a burguesia e seu espírito individualista impuseram uma exploração brutal e direta. Após a emancipação religiosa, observa-se que a preocupação com a capacidade dos indivíduos de se autodeterminarem foi crescentemente incorporada à cultura. De tal maneira que a formação e expressão da individualidade foram se tornando uma prioridade social, o que resultou, na modernidade, na formulação das teorias contratualistas de Hobbes e Locke, que consideram os direitos individuais do homem o que deve ser assegurado pelo Estado através do contrato social. Para Hobbes, o único direito inerente a todos os indivíduos seria o direito à vida. Para garanti-lo, os homens, em comum acordo, instituiriam um ou mais homens responsáveis pelo uso da força e manutenção da paz, que devem assegurar que a humanidade não retorne a um estado de barbárie, onde cada um viveria apenas para si, numa total desagregação social. Se para Hobbes e Locke o objetivo da sociedade é a garantia do homem privado, para Rousseau a associação entre os homens deve superar a manutenção de “um mundo de indivíduos privados”. É nesse sentido que Dumont defende que atualmente o Direito assegura e reconhece o poder individual em detrimento da justiça das relações sociais e do direito coletivo, sendo oposta ao que se observava no passado. Passado este demonstrado em Antígona, quando a personagem evoca o direito coletivo, superior à vontade individual de Creonte, para justificar porque descumpriu a lei e enterrou seu irmão. Marx também critica os contratualistas, afirmando então que tais direitos são na verdade direitos do homem individualista, separado da sociedade, que tem agora através do Estado assegurado a garantia da propriedade privada e acumulação de bens. Se tais direitos não podem ser assegurados a todos, já que o Estado não concede a propriedade apenas vende para aqueles que podem pagar, isso é, na verdade, expressão do individualismo. Da mesma forma, a acumulação de materiais e riquezas como forma de conquistar ou assegurar personalidade, nada mais é do que outra maneira de externalizar a noção de individualidade. Apesar de viver em sociedade, organizado em formas de grupos – a família, os que compartilham a mesma religião, os vizinhos, os colegas de trabalho etc. – ao considerar que o bem individual e o bem coletivo são coisas dissociáveis, permite-se que por várias vezes as escolhas privadas e coletivas sejam diferentes, e até mesmo opostas. Apesar de se tratarem de diferentes âmbitos, o privado e o público, a divergência entre eles resulta na dúvida de qual deles deve prevalecer. No entanto, ao se pensar no modelo cultural e econômico vigente, percebe-se que ocorre, de maneira geral, a sobreposição do desejo individual sobre o coletivo. Vê-se claramente este pensamento, quando Marx afirma que na medida em que os homens produzem agem coletivamente, mas esta cooperação se dá tendo em vista interesses particulares, como o de aumentar a produtividade do trabalho (interesse do proletariado) ou a quantidade de trabalho explorado (interesse burguês) e não o crescimento dos economicamente ativos e, por fim, de toda a sociedade. Facilmente é possível constatar que a noção de individualidade está tão arraigada à de pessoa, dificilmente se vê alguém deixar de fazer algo que lhe beneficie porque prejudica à coletividade, um simples exemplo que elucida bem esse entendimento é o caso da pessoa que ao deixar de furar uma fila, pensa que está se prejudicando e de certa maneira, “facilitando” a vida de outras pessoas que estão na fila, neste caso bem coletivo é visto de maneira pejorativa por negar o bem individual. O homem enquanto individuo, basta a si mesmo de forma que o bem geral não é pensado, por bastar a si o individuo se preocupa apenas com a satisfação das suas necessidades e prazeres. Assim, a busca constante no aprimoramento da própria individualidade, em detrimento das necessidades da sociedade, é claramente uma expressão do caráter pulsional e animalesco do homem descrito por Freud, segundo o qual o homem é fadado a infelicidade, pois o prazer está ligado à raridade e sempre que estamos satisfeitos buscamos uma nova necessidade. O pensamento no bem coletivo subentende que haja uma superação da cultura do indivíduo, deve haver a tomada de consciência de que se faz parte de uma força de homogeneização. Portanto para se estabelecer o bem para a sociedade, deve-se abandonar a preocupação simplesmente com a garantia das liberdades, ou direitos, individuais, e se pensar e agir fraternalmente. E nesse sentido Rousseau já afirmava que há um direito da maioria, assim, o bem individual é, e deve ser, reprimido pelo bem geral. Apenas um indivíduo sozinho não pode definir ou mesmo transformar nada da sua realidade dialeticamente, pois está submetido desde seu nascimento às normas da sociedade. Por fim, percebe-se que há grandes diferenças entre as análises dos pensadores das ciências humanas em relação aos temas indivíduo e sociedade. Por mais que estes dois conceitos e interesses não coincidam, deve haver um equilíbrio para uma melhor convivência social, para que um interesse não se sobreponha ao outro e seja deixando de lado, ignorado. Referencias bibliográficas: DUMONT, Louis. Gênese II. In: O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. [s.l.;s.d.] FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: IMGAO Editora, 1997. GÓES, Maria Cecília Rafael de. A formação do indivíduo nas relações sociais. Disponível em: Acesso em 13/06/2010. MARX, Karl. A questão judaica. Editora Morais, [s.d.] PRIMA, Júlio Leopoldo Silva. Indivíduo e sociedade: escolhas individuais ou vontades coletivas? . Florianópolis, 2005. Disponível em: < http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:4zBXL6DfDCEJ:www.tede.ufsc.br /teses/PGSS0017.pdf+individuo+e+sociedade&hl=ptBR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShpmeIaaBzmVHXpE8iy_pOz5wa20HnPhI8GXjeyf2V7njvoC4qGfTMn5Gjs1Evn0EP1-lyESawcJ2YQGWhHWlyLaxOHfP5scQXdu77Z1mlf5lVGPBfmlImstD5KTEf7FWB Npj&sig=AHIEtbRbU703X5pZsOpQzf2JbrfgAx0ymA > Acesso em: 13/06/2010. SIMMEL, Georg. Indivíduo e sociedade nas concepções de vida dos séculos XVIII E XIX (Exemplo de sociologia filosófica) In: Questões Fundamentais da Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.