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ARTIGO
O BAMBU É A MADEIRA DA VEZ Divulgação
PAULO CARDOSO (PACARD) Designer de móveis e interiores e professor na Escola Técnica Geração, em Florianópolis (SC). Pesquisador, em estudos sobre uso industrial do Bambu para o setor moveleiro, com diversos artigos publicados.
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A frase não é minha, nem a idéia de usar bambu para complementar a madeira que escasseia a olhos vistos.
Sendo assim, ainda é a China o maior produtor mundial de pisos e painéis de bambu, seguida da Indonésia, Nova Zelândia, e bem recentemente, na América, a Guatemala e a Colômbia. Curiosamente, as mesmas espécies de bambu que utilizam para seus produtos, são as que temos em abundância no Brasil, com a diferença que lá, o bambu pode ser extraído em cinco anos, enquanto aqui há lugares que pelo favorecimento do clima e solo, podem ser colhidos em três anos, com maior espessura e maior teor de Sílica e Legnina.
Também não fui o precursor, nem sou o maior pesquisador
E, como o ponteiro das tendências sociológicas, políti-
brasileiro no incansável trabalho de encontrar alternativas
cas, econômicas, e principalmente industriais, apontam,
viáveis para a sustentabilidade econômica a partir do uso
para uma direção: o Oriente, seria ingenuidade pensar
de madeira de boa qualidade, acessível e esteticamente
que os chineses também não estejam preocupados em
aceitável. Mas, como designer, sou uma espécie de Dom
determinar uma identidade a longo prazo aos seus pro-
Quixote que luta contra moinhos de vento ao embalo das
dutos. Estão sim. Tanto estão que, comparativamente
paixões e da loucura, que é esmurrar paredões de inte-
à América do Norte, que lança no mercado anualmente
resses apenas com idéias e um olhar que se volta para o
vinte mil novos designers, a China está preparando cer-
outro lado enquanto a multidão corre absorta sem saber
ca de duzentos mil profissionais de criação, que cairão
pra onde. Porém todos sabem para onde correm os rios
como um Tsunami nos mercados, lado a lado com os
açoreados pelo desmatamento às suas margens.
fabricantes, e proporcionarão um verdadeiro furacão nas
Mas são bem poucos os que sabem que não precisamos derrubar uma única árvore da Amazônia, nem açorear os arroios e as vertentes, nem tampouco destruir o
tendências a partir de então. Atendo-nos apenas ao tema deste estudo, temos já hoje a China produzindo cerca de 70% de todo o piso de bambu que
solo com a monocultura do eucalipto ou o pinus, e
abastece a Europa e América do Norte, sendo a
que temos no quintal de casa uma alternativa
América do Sul ainda insignificante neste cená-
ecológica para milhões de empregos. Uma
rio. Cerca de 600 mil metros quadrados mensais
possibilidade de recuperação das nascentes,
são exportados para a América Latina, e disso
alimentação humana e animal, produção de energia, carvão de elevadíssimo teor caló-
ZERO para o Brasil. Mas temos mais terras livres e cultivá-
rico a baixo custo, e quase perpetuidade
veis do que a China. Temos melhor clima
no plantio: o BAMBU!
que o chinês. Nosso bambu cresce mais
Tudo na China gira em torno de bambu e os chineses dominam mais de
rápido e tem melhor qualidade. A tecnologia para transformação do bambu em placas
mil técnicas de uso desta gramínea, mas
é ridiculamente simples. Então por que não
por mais paradoxal que seja, há pouco
estamos fazendo? Por ignorância completa,
mais de vinte anos é que aplicam uso de
mas também porque nas últimas décadas o
tecnologia ao conhecimento
incentivo ao desmatamento da Amazônia não
antigo, e produzem cha-
deixou nenhuma margem para que se buscas-
pas e pisos de taliscas
sem soluções alternativas e ecológicas. Nem
de bambu, isso falando
precisava: a madeira tropical vem em toras,
para o setor moveleiro,
cuja única necessidade de preparação é cortar e bene-
e de acabamentos finos.
ficiar. O bambu precisa cortar, beneficiar e reconstituir.
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As madeiras têm variedade de matizes, desenhos e cores desenhadas naturalmente. O bambu é uniforme.
Sugerimos algumas formas imediatas de uso do bambu industrial para que sejam aplicadas ao setor
Porém já temos alguns projetos de plantio e industrialização de bambu para fabricação de papel, no Maranhão. No Sul há um ou outro empresário empenhado em fabricar pisos e tacos de bambu, mas a
moveleiro no Brasil: painéis, talis-
A ALTA DECORAÇÃO JÁ VÊ COM BONS OLHOS O USO DO BAMBU EM SUPERFÍCIE DE MÓVEIS E OBJETOS
maioria do que se conhece sobre o
cas moldadas, in natura, laminado ou em fibras para fabricação de MDF e papel. De forma imediata, podem ser usadas as taliscas cujas máquinas já são fabricadas no Brasil (empiricamente, mas com
bambu está nos arquivos acadêmicos e teses de mestrado
bom resultado). Há pequenos ateliers que revestem
e doutorado. Nada mais. Isso significa que conhecimen-
painéis, constroem quiosques e outros objetos a partir
to científico e tecnológico já existem e suficientemente
de espécies variadas de bambu. O mercado brasileiro
capacitação para que se desenhe no Brasil uma planta,
da alta decoração já vê com bons olhos a aplicação bem
um grande projeto, ou núcleos de pequenos projetos de
dosada de desenhos em superfícies de móveis e objetos
beneficiamento do bambu, mas todos estão isolados.
de decoração, bem como painéis e paredes. Há uma di-
Quase não há comunicação, e o mais importante, não há
ferença estrutural na utilização dos painéis importados
um direcionamento mestre, um “quartel general” oficial
da China, cujos fabricantes já nos forneceram ao longo
que oriente as ações paralelas, e sejam transformadas em
de três anos de negociação todas as informações de que
beneficio social.
necessitamos para empreender um trabalho de impor-
O bambu produz, segundo os chineses, que sabem muito de bambu, mas de mil produtos. Repito: MIL PRODUTOS. Inclusive móveis.
tação de painéis e pisos acabados. Seja qual for a opção, o tempo urge e a hora é agora. O trem vai passar, entra nele quem souber aonde quer chegar.
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