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Nas Gaiolas Da Vida

Discute-se a diferença entre o ser e o ter. Entre o necessário e o desnecessário, entre o importante e o superfluo.

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Nas gaiolas da vida Antonio Fernando Navarro Vendo o passarinho na gaiola comecei a refletir sobre como ele deveria ser infeliz. Quando o comprei só queria lhe dar amor. Só queria lhe dar o sustento diário. Só queria lhe dar o conforto de uma gaiola limpa. Refletindo imaginei: Ele não seria mais feliz voando por aí? No mesmo instante veio a minha mente o pequeno pássaro sendo devorado por um gato ou por outro pássaro grande, Quem sempre havia vivido em uma gaiola não saberia como se defender! Não seria melhor para ele deixá-lo onde está? Pensemos em nós. Nos apegamos a tudo pensando só em nós. Não permitimos que nada nos deixe ou nos falte. Não conseguimos nos imaginar sem aquilo que temos. Arranjamos mil e uma desculpas para não nos desfazer daquilo que conseguimos juntar ao nosso redor. Mas será necessário juntar tanto? Pensemos no que está ao nosso redor. Será necessário que tenhamos tudo ao nosso redor? Será que não poderemos viver sem tanta coisa ao nosso redor? Será que não conseguimos viver com um mínimo de coisas? Será que não conseguimos viver sem "coisas"? Será que só "nós" não servimos para nós? Pensemos nos filhos. Quando os geramos, com amor, o colocamos em uma gaiola da vida. Os cercamos de todo o mimo. Deixamos de nos vestir para vesti-los. Deixamos de comer para que comam. Deixamos de nos divertir para que se divirtam. Quando eles estão prontos para a vida nós não o consideramos ainda aptos. Diante de tantas dúvidas os procuramos manter na gaiola em que os criamos. Pensamos em nós. Quantas oportunidades tivemos de sair de nossa gaiola? Será que não poderíamos vencer as incertezas da vida e triunfar? Será que não poderíamos encontrar nossos novos caminhos? De repente, diante de nossas fraquezas em enfrentar novos desafios, vamos ficando em nossas gaiolas. Pensemos em nossos bens materiais. Quantas vezes compramos móveis maiores só para guardar coisas que achamos nos serão úteis no futuro? Não parecemos com o garotinho que cata tudo na rua pensando em um dia fazer uso de tudo o quanto foi catado, e aí se satisfazer dizendo: não disse que um dia isso seria útil? Será que precisamos guardar tudo? Será que não podemos pensar em dividí-los com quem precisa realmente deles, hoje? Pensemos acerca de nossos pensamentos. Será que não guardamos os ódios e os rancores desnecessariamente? Será que não guardamos lembranças demais e não conseguimos viver o presente? Será que não nos preparamos para o futuro, e sim, para o eterno passado? Será que não poderíamos dividir um pouco desses pensamentos? Pensemos nas gaiolas da vida. Elas são realmente necessárias? Precisamos delas ou as poderemos dispensar? Para que tanta proteção se temos Deus nos protegendo? Para que juntarmos tanto se só precisamos do Pão Nosso de Cada Dia? (AFANP/2002)