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Departamento de Ciências Sociais na Educação – DECISE
Faculdade de Educação
Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP
Análise da política pública de ensino superior implementada pela
Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP (2002-2006)
Orientador : Prof. Vicente RODRIGUEZ
Trabalho preparado por Fritznel ALPHONSE
Pela exigência parcial do curso FE 195: Seminário II Sociologia, Relações
de Trabalho e Professores
Apresentado à Profa. APARECIDA NERI DE SOUZA
Campinas, Agosto de 2012
Os movimentos dos trabalhadores que aconteceram na frança
durante a Revolução Industrial na década XIX não ficaram sem efeitos no
mercado de trabalho particulamente no mundo de capitalista. Todos os
artigos que compõem a tese da LINHART, 2007, tratam da evolução do mundo do
trabalho após esta série de acontecimentos ou fenômenos que deixaram marcas
profundas no panorama francês: os conflitos de ''maio de 68'' e as
discussôes sobre o trabalho taylorista, assim como sobre o ideal social
entre sindicatos e patronato; a crise econômica que começa no final da
década de 1970 e que se impõe rapidamente, como uma verdadeira crise de
emprego; as transformações da natureza de trabalho com difusão maciça de
novas estratégias de gerenciamento desenvolvidas a partir do início da
década de 1980 e que buscam instaurar, de maneira voluntarista e
unilateral, a paz social na empresa, sob a forma de um consenso da
mobilização e da utilização da subjetividade dos assalariados, a partir de
então, indispensável. A evolução do trabalho e das relações sociais na
empresa, relacionando-os ao mesmo tempo as transformações que, na
realidade, afetaram esse campo, sem dúvida alguma, é um grande desafio. O
trabalho representa o exercício concreto da atividade profissional e
remete, então, ao conteúdo das tarefas e as condições em que estas são
executadas; o emprego indica principalmente as condições de inserção no
mercado do trabalho e o modo de vida ao qual essa inserção dá acesso. Com o
desenvolvimento da crise econômica e a elevação dramática do desemprego,
pesquisadores cada vez mais numerosos, principalmente sociólogos,
economistas e psicólogos do trabalho, voltaram-se para a análise do emprego
e de desemprego. Eles se interessavam somente pelo trabalho, pelo próprio
ato da fabricação e, portanto, apenas pelo setor produtivo, como corte
imediato. Cada vez mais os pesquisadores franceses foram levados a ampliar
sua área de pesquisa, sob a influência dos acontecimentos sociais,
econômicos e políticos. Os acontecimentos de 1968, a instauração de uma
longa crise econômica e a expansão do fenômeno participativo nas empresas
francesas ajudaram a sociologia e a economia do trabalho a saírem de seu
isolamento e integrarem dimensões anteriormente ocultas. Em suma, o ideal
podia ser resumido nos seguintes termos: os sindicatos obtinham importantes
e constantes aumentos de salários com as condições das empresas que por sua
vez, podiam reorganizar permanentemente o processo de trabalho, de modo a
extrair ganhos de produtividade capazes de compensar esses aumentos.
O relatório de Auroux sobre os direitos dos trabalhadores, foi
publicado no calor da chegada dos socialistas ao poder e preconizou um
direito de expressão direta coletiva dos assalariados, que seria objeto da
lei de 4 de agosto de 1982, ele acrescentou uma dimensão social a essas
considerações operacionais. E as direções das empresas foram obrigadas a
responder em prazos fixados pelos acordos que definiam a aplicação desse
direito, pelos acordos negociados entre organizações sindicais e
diretorias, empresas por empresas. Nesses mesmos acordos eram também
determinados, pela chefia direta na maior parte dos casos ou por um simples
membro do grupo em um número limitado de casos, o número de horas
destinadas aos grupos e as condições de sua dinâmica. Em sua parte mais
original, a que confere aos assalariados um direto individual de expressão
coletiva sobre a organização e suas condições de trabalho, o relatório
Auroux não constituiu os assalariados como interlocutores incondicionais,
ao lado das diretorias de empresas e das organizações sindicais? Portanto,
na verdade, era forte a tentação de reconhecer o mérito da reforma em
curso, da vontade e da capacidade de transformar profundamente a natureza
das relações sociais e profissionais na empresa, de romper com um passado
pesado, que simplesmente negava os assalariados ao não lhe reconhecer
qualquer direito. A crítica pode ser dirigida a certo número de
pesquisadores da sociologia que se deixaram levar pelo encantamento que um
novo objeto de pesquisa sempre exerce e que perderam de vista uma parte
importante da realidade. Embora seja legítimo e até mesmo indispensável
ampliar o campo de pesquisa e dar espaço à empresa como novo objeto
relevante à análise, parece criticável abordá-la independentemente dos
fenômenos que caracterizam as situações de trabalho. A teoria das
convenções tem prolongamentos evidentes nas economias de grandeza de
Boltanski e Thévenot, em que as convenções são entendidas como formas de
coordenação de naturezas diversas (doméstica, industrial, mercantil,
cívica, etc.) que empõem a empresa. O que explicita Laurent Thévenot no
mesmo número da revista econômica dedicado à economia das convenções. O
trabalho pós-taylorista caracteriza como um trabalho mais abstrato, mais
intelectual, com mais responsabilidade e autonomia. Assemelha-se, assim,
as análises de Coriat, que identifica várias figuras operárias, entre elas
a do superoperário com espírito empresarial e de gereciamento. Uma parte da
literatura ''pós-taylorista'' apoia-se também em algumas experiências
piloto realizadas nas indústrias de produção em série, principalmente na
famosa experiência Isoar da Peugeot-Mulhouse, em que uma organização
qualificada do trabalho foi instituida no âmbito de atitudes
participativas, incluido diretamente assalariados e representantes
sindicais. A empresa fordista representada pelas fábricas Ford e
caracterizada como um modelo rígido de produção em massa padronizada, com
equipamentos muito especializados e com uma grande divisão de trabalho, na
verdade teve sua supremacia rapidamente suplantada por outras empresas,
principalmente pela General Motors, cujo diretor, Sloan, inventou uma forma
de administração mais dirigida para a comercialização, mais em contato
direto com o mercado. Se considerarmos que a empresa taylorista-fordista
é a que se impôs da maneira hegemônia nos países industriais do mundo
ocidental pós-guerra, não nos faltam sínteses de trabalhos que permitam
evidenciar o denominador comum de aplicações nacionais tão diversificadas
quanto as da Alemanha, da Grã-Bretanha, da França, dos países escandinavos
etc.? E, ainda mais precisamente, o denominador comum entre as aplicações
setoriais diversificadas em um mesmo país, entre as indútrias de processo
contínuo, ou fluidas, e as indútrias de produção em série, entre o
vestuário, a eletrônica e o automóvel e, mais além, em função do tomando de
cada um? Não temos o suporte conceitual indispensável para enfrentar as
questões, legítimas, que impõem com o aprofundamento da crise econômica e
com a difusão de novos instumentos buscados na informática, e que traduzem
o sentimento geral de que as coisas estão mudando.
A década de 1980 iniciou-se, na França, como a era da mudança. Os
socialistas chegaram ao poder com a eleição de François Mitterrand,
declararam sua intenção de introduzir a cidadania na empresa, estabelecendo
um direito de expressão direta e coletiva dos assalariados; diante deles,
um patronato decidido a realizar mudanças para se adaptar às novas
condições da concorrência econômica e neutralizar os riscos de uma forte
contestação em suas empresas. Iniciava-se a era dos administradores: eles
transformaram as estruturas das empresas, introduziram novos métodos de
gestão com o intuito de instaurar uma individualização sistemática e criar
as condições para o envolvimento dos assalariados por meio de importantes
dispositivos participativos. Dissimularam esses procedimentos em um
discurso sobre a valorização das qualidades, de competência e da capacidade
de iniciativa dos assalariados.
Os operários foram rebatizados de operadores, pilotos de equipamentos,
supervisores de linhas; os faxineiros eram técnicos de superficies; as
equipes de trabalho passaram a ser designadas por diferentes termos, com
zonas, ilhas de produção, modulos, unidades elementares de trabalho. Tudo
evoluiu a uma velocidade vertiginosa, dificultando a inteligibilidade das
organizações. Os assalariados tinham dificuldade para se reconhecerem, e
havia uma espécie de perda de sentido generazada. Eles caíram na armadilha
de injunções contraditórias, em um contexto em que a gravidade do
desemprego fazia qualquer um temer dar o fatal passo em falso.
A ação coletiva que poderia libertar os assalariados do sentimento
de impotência na acentuada dependência em que se encontram, acha-se muito
enfraquecida. As políticas patronais anteriores, que visavam envolver os
assalariados sob diversas formas de acordos tiveram alcance muito limitado
e de pouco impacto. Sem dúvida, depois de maio de 68 e, sobretudo depois
das greves dos operários especializados que a organizaram, tornou-se
dificíl ''desinteressar-se'' dos problemas de organização e condições de
trabalho. E as diretorias das empresas continuavam a exprimentar,
sozinhas, formas de ''humanização'' do trabalho para'' remotivar'' os
assalariados; experiências que os sindicados, na melhor das hipóteses,
desdenhavam e na maioria das vezes, cometiam. Sem dúvida, foi a chegada da
esquerda que facilitou a expressão de um consenso entre patronais e
sindicatos sobre a necessidade de participação dos trabalhodores. Ao
celebrar a introdução da democracia na empresa e ao mesmo tempo o trabalho
pela produtividade, essa esquerda no poder deu legitimidade e garantias
para todos.
No sistema taylorista clássico, é preciso conter o máximo possível
os operários, lutar contra sua '' dispersão '', tão nefasta à
produtividade e que representa o modo de resistência operário a pressão
patronal. A organização científica do trabalho é o meio de obrigar os
trabalhadores a produzirem em um ritmo forte e regular o que é primordial
em um processo de trabalho em que o homem representa a principal fonte de
produtividade. Isso representa uma profunda ruptura das condutas e práticas
normais operárias na fábrica, uma transformação radical dos sistemas de
valores e de atitudes. Não se trata de uma simples mudança. O envolvimento
dos operárioos com seu trabalho, que traduz sua capacidade de se virar
clandestinamente, não significa aderirem aos objetivos da empresa,
aceitarem sua lógica e se identificarem com seus interesses. Embora essa
capacidade de se virar manifeste um consentimento objetivo não pode ser
vista como uma adesão, uma aceitação subjetiva. Quando se considera a
medida da dimensão conflitante do envolvimento dos operários com seu
trabalho, a partir da perspectiva paradoxal de seu ''consentimento'',
constata-se que as novas orientações patronais, que objetivam garantir a
modernização da empresa, levam a importantes mudanças e, principalmente,
faz com que os operários rompam seus laços de solidariedade horizontal ou
seja, na realidade, rejeitem o fato de portanto, ter uma vida ligada a
uma cultura e a uma consciência operária. Além dos próprios conteúdos das
transformações buscadas, a conduta que consiste em modificar,
desestruturar, recompor a organização do trabalho e a gestão da mão-de-
obra leva a uma certa técnica de desorientação e, conseqüentemente, ao
enfraquecimento dos''parceiro de quem se fala''. Os acontecimentos de maio
de 68, assim como pelas greves violentas dos operários especializados antes
e depois de 68, as diretorias das empresas eram povoadas pelo fantasma da
recusa dos assalariados a continuarem a trabalhar nas mesmas condições.
Essa idéia de remotivação era nova, pois todas as táticas anteriores tinham
por objetivo principal controlar, supervisionar e reprimir ao máximo os
assalariados. A idéia de que a organização taylorista do trabalho, que
coíbe totalmente os indivíduos a ponto de transformá-los em verdadeiros
robôs, tem uma lacuna muito importante em relação às aspirações cada vez
maiores. Daí a necessidade de transformar essa organização e a vontade de
'' remotivar '' os trabalhadores que resiste paralelamente na opção de
subtituir, quando possível, indivíduos que se tornaram muito
''caprichosos'' por sistemas de automatização mais confiáveis.
Todas essas experiências baseiam-se, de fato, na ignorância de uma
parte importante da realidade, a face oculta das situações de trabalho em
que os trabalhadores demonstram diariamente que sabem mais, que fazem mais
e melhor do que o que a organização taylorista demanda. Os patrões
lançaram-se, como já me referi, em todos os tipos de experiências '' de
humanização '' do trabalho, conscientes de que o status quo negociado fora
colocado em questão por uma parte dos assalariados e, talvez, prevendo e
tentando evitar uma reviravolta sindical. Por sua vez, os sindicatos
operários iniciaram uma longa reflexão sobre seu papel na organização do
trabalho, na gestão e nas aspirações da classe operária. A influência dessa
mudança na composição socioprofissional afetou outros planos;
principalmente a imagem de que a confederação era formada pelo que ela
defendia, eles não constituíram mais, na linguagem sindical, um todo
homogêneo e indissociável, uma classe operária unida e movida por uma única
vontade, mas sobretudo um agrupamento de assalariados com aspiraçoes
diversificadas. Os problemas da vida no trabalho, a necessidade de lutar
para modificar as condições e organização do trabalho se impunham
principalmente no 40º congresso (1979), em que foram também abordados os
conselhos de fábrica. A década de 1980 presenciou, nos países de
capitalismo avançado, profundas transformações no mundo do trabalho, nas
suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas formas de representação
sindical e política. Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo
afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais aguda crise deste
século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas
repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes
níveis, o que afetou a sua forma de ser. É por esse motivo que começam a
ganhar maior expressão movimentos sindicais alternativos, que questionam a
ação eminentemente defensiva, praticada pelo sindicalismo tradicional, "
que se limita à ação dentro da Ordem. Só a título de exemplo, pode-se citar
os Cobri (Comitati di Base), que começaram a despontar a partir de meados
da década de 1980 na Itália, em setores vinculados ao ensino público, aos
controladores de vôo, aos ferroviários e mesmo em alguns núcleos do
operariado industrial, e que têm questionado fortemente os acordos
realizados pelas centrais sindicais tradicionais, especialmente a CGIL, de
tendência ex-comunista, que em geral têm pautado sua ação dentro de uma
política sindical moderada.
O relatório Auroux (no ano de 1981) sobre os novos direitos dos
trabalhodores, seguido por leis de 1982 que propiciaram que ele fosse
colocado em prática, foi considerado uma das grandes e audaciosas reformas
de novo governo. Com as leis Auroux, o Legislativo constrói, então o
cenário de uma situação que favorece a cooperação entre os sindicatos, os
trabalhodores e as diretorias das empresas; cooperação conjunturalmente
possível se nos referirmos as tendências profundas da evolução das
estratégias de alguns grandes sindicatos e de uma parte do patronato. No
início, o direito de expressão simboliza um ganho em detrimento do poder
hierárquico, um trunfo dado aos assalariados pelo poder socialista para
reforçar suas posições em uma relação fundamentalmente antagônica com os
empregadores. Vê-se que estabelecimento da expressão direta e coletiva em
grupos importantes dá noções que eles têm de seu papel e de sua ação. Na
realidade, percebe-se que nesse debate sobre uma mudança ou não do modelo
socioprodutivo, há uma fala brutal de análises sobre as diferentes
aplicações do modelo taylorista-fordista no tempo e no espaço e, portanto,
sobre uma explicação de seus mecanismos de adaptação e de transformação.
Há cerca de vinte anos, diversas reformas de gerenciamento transformaram as
empresas francesas. Inúmeras pesquisas e estudos sociológicos que o
comprovam estão registrados em inúmeras obras. Todas relecionadas à famosa
questão de modernização, elas relevam análises, observações que esboçam as
múltiplas mudanças e transformações reativas a inúmeras dimensões do mundo
das empresas: suas estruturas, as relações sociais, o trabalho propriamente
dito, as formas de empresas, o tempo de trabalho, a relação com o ambiente
ao seu redor. A hipótese pode se tornar ainda mais precisa: o objetivo do
projeto gerencial é modernizar o comportamento dos assalariados por meio de
uma modernização das estruturas e das modalidades de transformação da
empresas.
Essas transformações, que visam modernizar e conquistar a
confiança desencadeiam uma apreensão e, consequentemente, reações de
autodefesa. Mais do que cooperar lealmente e confiar em seus superiores,
cada um trata de se tornar indispensável, insubstituível, tornando seu
trabalho ainda mais opaco, ainda mais inacessível. A empresa moderna se
pensa como uma empresa que dispõe de indivíduos, muitas vezes enraizados em
coletivos tradicionais dos operários, mas indivíduos capazes de trabalhar,
de refletir, e de se expressar em coletivos operacionais. Ela é aquela que
objetiva produzir indivíduos moldados pela racionalidade dominante da
empresa, de acordo com sua one best way , e capazes, no novo contexto, de
tomar iniciativas e de propor melhorias, até então, interiorizadas.
Portanto, é possível debater em torno da questão de saber se a autonomia
obtida com esses novos limites é superior em quantidade e qualidade à
antiga autonomia clandestina.
HARVEY, 1992, na sua obra Condição Pós-moderna, discutiu alguma
transformação na economia política do capitalismodo final do século XX,
cabe-nos estabelecer quão profunda e fundamental pode ter sido a mudança.
São abundantes os sinais e marcas de modificações radicais em processo de
trabalho, hábito de consumo, configurações geográficas e geopolíticas,
poderes e práticas do Estado etc. O problema, no entanto, é fazer os
comportamentos de todo tipo de indivíduos, capitalistas, trabalhadores,
funcionários públicos, financistas e todas as outras espécies de agentes
político-econômicos, assumirem alguma modalidade de configuração que
mantenha o regime de acumulação funcionando, (Lipietz, 1986, 19). Há duas
amplas áreas de dificuldade num sistema econômico capitalista que têm de
ser negociadas com sucesso para que esse sistema permaneça viável. A
primeira advém das qualidades anárquicas dos mercados de fixação de preços
e a segunda deriva da necessidade de exercer suficiente controle sobre o
emprego da força de trabalho para garantir a edição de valor na produção e,
portanto lucros positivos para o maior número possível de capitalistas. A
segunda arena de dificuldade geral nas sociedades capitalistas concerne à
conversão da capacidade de homens e mulheres de realizarem um trabalho
ativo num processo produtivo cujos frutos passam ser apropriados pelos
capitalistas. Contudo, a produção de mercadorias em condições de trabalho
assalariado põe boa parte do conhecimento, das decisões, bem como do
aparelho disciplinar, fora do controle da pessoa que de fato faz o
trabalho. A socialização do trabalhador nas condições de produção
capitalista envolve o controle social bem amplo das capacidades físicas e
mentais. A educação, o treinamento, a persuasão, a mobilização de certos
sentimentos sociais (ética do trabalho, lealdade aos companheiros, orgulho
local ou nacional) e propensões psicológicas (busca da identidade através
do trabalho, a iniciativa individual ou solidariedade social) desempenham
um papel e estão claramente presentes na formação de ideologias dominantes
cultivadas pelos meios de comunicação de massa, pelas instituições
religiosas e educacionais, pelos vários setores do aparelho do Estado e
afirmadas pela simples articulação e sua experiência por parte dos que
fazem o trabalho.
Também aqui o "modo de regulamentação'' se torna uma maneira útil de
conceituar o tratamento dado aos problemas da organização de trabalho para
propósitos de acumulação do capital em época e lugares particulares. Mas os
contrastes entre as práticas político-econômicas da atualidade e as do
período de expansão do pós-guerra são suficientemente significativos para
tornar a hipótese de uma passagem do fordismo para o que poderia ser
chamado regime de acumulação ''flexível'' uma revelação maneira de
caracterizar a história recente. A separação entre gerência, concepção,
controle e execução também já estava bem avançada em muitas indústrias. O
que havia de especial em Ford que distingue de Taylor era a sua visão, seu
reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo em
massa, um novo sistema de reprodução de força de trabalho, uma nova
política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova
psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada,
modernista e populista. O problema, tal como o via um economista como
Keynes, era chegar a um conjunto de estratégias administrativas cientifícas
e poderes estatais que estabilizassem o capitalismo, ao mesmo tempo que se
evitavam as evidentes repressões e irracionalidades, toda a beligerância e
todo nacionalismo estreito que as soluções nacional-socialistas implicavam.
O período pós-guerra viu a ascensão de uma série de indústrias baseadas em
tecnologias amadurecidas no periodo entre-guerras e levadas a novos
extremos de racionalização na Segunda-Guerra Mundial. Mas o crescimento
fenomenal da expansão do pós-guerra dependeu de uma série de compromissos e
reposicionamentos por parte dos principais atores dos processos de
desenvolvimento capitalista.
O Estado teve de assumir novos papeis e construir novos poderes
institucionais; o capital corporativo teve de ajustar as velas em certos
aspectos para seguir com mais suavidade a trilha da lucratividade segura e
o trabalho organizado teve de assumir novos papeis e funções relativos ao
desempenho nos mercados de trabalho e nos processos de produção. O
problema perpétuo de acostumar o trabalhdor a sistemas de trabalho
rotinizados, inexpressivos e degradados nunca pode ser completamente
superado, como alega vigorosamente Braverman (1974). Sob essa proteção, o
fordismo se desigualmente, à medida que cada Estado procurava seu próprio
modo de administração das relações de trabalho, da política monetária e
fiscal, das estratégias de bem-estar e de investimento público, limitados
internamente apenas pelas situações de classe e, externamente, somente pela
sua posição hierárquica na economia mundial e pela taxa de câmbio fixada
com o dolar. Assim, a expansão internacional do fordismo ocorreu numa
conjuntura particular de regulamentação político-econômica mundial e uma
configuração geopolítica em que os Estados Unidos dominavam por meio de um
sistema bem distinto de alianças militares de poder. O poder exclusivista
dos sindicatos fortalecia sua capacidade de resistir à perda de
habilidades, ao autoritarismo, à hieraquia e à perda de controle de
trabalho.
A inclinação de uso desses poderes dependia de tradição política,
formas de organização e disposição dos trabalhadores em trocar seus
direitos na produção por um maior poder de mercado. As lutas trabalhistas
não desapareceram, pois os sindicatos muitas vezes eram forçados a
responder a instalação das bases. Na Inglaterra, os ''trabalhadores
flexíveis'' aumentaram em 16%, alcançando 8,1 milhões entre 1981 e 1985,
enquanto os empregos permanentes caíram em 6%, ficando em 15,6 milhões
(Financial Times, de 27 de fevereiro de 1987). A transição para acumulação
flexível foi marcada, na verdade, por uma revolução no papel das mulheres
no mercado e processos de trabalho num período em que o movimento de
mulheres lutava tanto por uma maior consciência como por uma melhoria das
condições de um segmento que hoje representa mais de 40% da força de
trabalho em muitos países capitalistas avançados. Como acumulação flexível
ainda é uma forma de capitalismo, podemos esperar que algumas proposições
básicas se mantenham.
Tentei resumir essas proposições em outro trabalho, razão pela qual
vou simplesmente extrair alguns elementos fundamentais da argumentação
feita em The Limits to Capital (Harvey, 1982). Referir-me-ei, em especial,
a três características essenciais do modo capitalista de reprodução.
O capitalismo é orientado para o crescimento. Uma taxa equilibrada de
crescimento é essencial para a saúde de um sistema econômico
capitalista, visto que só através do crescimento os lucros podem ser
garantidos e a acumulação do capital, sustentada. Isso implica que o
capitalismo tem de preparar o terreno para uma expansão do produto e
em crescimento em valores reais, pouco importam as consequências
sociais, geopolíticas ou ecológicas.
O crescimento em valores reais se apoia na exploração do trabalho vivo
na produção. Isso não significa que o trabalho se aproprie de pouco,
mas que o crescimento sempre se baseia na diferença entre o que
trabalho obtém e aquilo que cria. Por isso, o controle do trabalho, na
produção e no mercado, é vital para a perpetuação do capitalismo. O
capitalismo está fundado, em sua relação de classe entre capital e
trabalho. Como o controle do trabalho é essencial para o lucro
capitalista, a dinâmica da luta de classes pelo controle do trabalho e
pelo salário de mercado é fundamental para a trajetória do
desenvolvimento capitalista.
O capitaismo é, por necessidade, tecnológica e organizacionalmente
dinâmico. Isso decorre em parte das leis coercitivas, que impelem os
capitalistas individuais a inovações em sua busca do lucro. Mas a
mudança organizacional e tecnológica também tem papel-chave na
modificação da dinâmica da luta de classes, movida por ambos os lados,
no domínio dos mercados de trabalho é essencial para produção de
lucros e se torna uma questão mais ampla do ponto de vista do modo de
regulamentação, inovação organizacional e tecnológica no sistema
regulatório (como aparelho do Estado, os sistemas políticos de
incorporação e representação etc.) se torna crucial para a perpetuação
do capitalismo.
As mudanças que agiram sobre o mundo de trabalho para criar as
dificuldades que hoje conhecemos, passaram pelos os diferentes caminhos
depois de procurarmos distinguir a amplitude das transformações ocorridas
nas empresas. A expansão do trabalho se compõe em flexíbilidade interna,
baseada na transformação profunda da organização do trabalho e das
tecnologias utilizadas, e flexibilidade externa que supõe uma chamada
organização do trabalho em rede, na qual empresas ''enxutas'' encontram os
recursos de que carecem por meio de abundante subcontratação e de uma mão
de obra maleável em termo de emprego (empregados precários, temporários,
trabalho autônomo), de horários ou de jornada de trabalho, tempo parcial,
horários variáveis), Bué, 1989.
Os efeitos dessas novas práticas de organização do trabalho e de
organização das empresas sobre a condição salarial raramente são estudados.
Os números mais acessíveis, referentes por exemplo aos empregos precários,
são relacionados com o número de empregos. A interpretação da crise do
capitalismo como crise do taylorismo, conforme vimos, provocou já no início
dos anos 70 um certo número de iníciativas patronais de mudança na
organização do trabalho. Essas mudanças prosseguiram e se aceleram durante
os anos 80. Cumpre ressaltar agora, além das mudanças do trabalho dentro
dos estabelecimentos, que acabamos de mencionar, a amplitude dos
deslocamentos referentes ao tecido produtivo. Este foi profundamente
reestruturado sob o impacto das medidas de outsourcing, redução do porte
dos estabelecimentos, filialização, concentração em setores nos quais se
procura obter vantagem sobre a concorrência. O trabalho temporário também
passou por grande crescimento, tornando esse setor um dos maiores em
empregos. A taxa de recurso ao trabalho temporário, ou seja, o número de
postos ocupados por temporário em comparação com o total dos postos em 1997
é de 5,1% na construção e de 4,3% na industria, mas de apenas 0,9% no
setor terciário, que prefere recorrer a contratos de duração determinada ou
de tempo parcial para obter flexíbilidade. Sabendo-se que cerca 85% das
terefas referem-se a empregos de operários, as taxas de recurso a esse tipo
de emprego são, portanto, muito mais elevadas (Jourdian, 1999). Durante
todo o tempo do trabalho precário, o temporário precisa demonstrar empenho
pelo trabalho permanente. Assim, dissimulada por trás dos imperativos de
flexíbilidade, também se observa uma evolução das práticas de contratação,
com clara preferência por contratações precárias. As novas práticas das
empresas conjugam seus efeitos de fragmentação associados ao
desenvolvimento da subcontratação e dos empregos precários foi o artigo
histórico de Jacques Magaud, 1975. De modo mais amplo, visto que as
políticas de flexibilização e intervenção no mercado de trabalho foram
concomitantes a um "fortalecimento contínuo dos direitos associados ao
contrato de trabalho 'típico' (formação, férias especiais, recolocação
etc.)", a evolução do direito do trabalho levou a uma profunda" dualização
do salariato, entre aqueles que têm emprego verdadeiro e aqueles que são
conduzidos ao trabalho-mercadoria e à assistência". Além disso, uma vez
que o número de empregos qualificados não aumentava tão depressa quanto o
número de diplomados, estes tenderam a conformar-se com empregos menos
qualificados que agravavam a situação dos menos munidos em termos de
qualificação, degradando mais sua posição na relação de forças com os
empregadores. Surge então com agudez a questão dos critérios que orientam a
seleção.
A transformação das práticas de remuneração em função da faixa etária
contribuiu para criar entre as gerações uma concorrência que não existia no
período anterior, caracterizada, por um lado, pelo aumento das remunerações
ao longo da carreira, grande no início e menor depois, e, por outro lado,
pela contratação das novas gerações mais escolarizadas com salários
superiores aos das pessoas mais velhas, de tal modo que os assalariados de
40 anos eram mais bem pagos do que os de 50 anos, enquanto estes últimos
recebiam mais do que antes. Hoje, em compensação, embora as remunerações
continuem aumentando ao longo da carreira, os salários iniciais recuaram,
enquanto o nível de escolaridade superior continua progredindo, de tal modo
que o assalariado de 50 anos se torna excessivamente caro, e o jovem, mais
barato do que nunca, onde a tentação de desfazer-se do antigo para não
degradar seu posto prática corrente no Japão, mas não na França. No
trabalho dedicado à reorganização de uma indústria de armamentos, Thomas
Perilleux (1997) faz uma análise muito precisa das formas de seleção que
acompanharam a transição da antiga oficina um salão onde trabalhavam 800
mulheres na operação das máquinas para a nova oficina, composta por um pool
de máquinas polivalentes com comandos digitais. Nesse processo, que se
estendeu por cerca de cinco anos, o efetivo da empresa passou de 10.000
para 1.400 assalariados. As operárias foram demitidas, e os "operadores"
que passaram a trabalhar na nova fábrica são todos ex-ajustadores. Os
níveis hierárquicos foram reduzidos de 9 para 4. A nova organização deve
possibilitar "o envolvimento" e a "responsabilização" dos operadores. Para
o ingresso na nova fábrica criam se provas que personalizam a seleção. No
entanto, parece que os assalariados pagaram caro demais por essas
transformações, pois, simplesmente para manterem seu nível de vída, tudo
parece indicar que eles precisam trabalhar mais; ao mesmo tempo, aqueles
que são considerados "inadaptáveis", incapazes de acompanhar essa
tendência, são relegados a empregos de menor qualidade, até mesmo fora do
mercado do trabalho.
Essas brincas do sindicalismo existem até hoje no mundo de
trabalho particularmente no Brasil e, elas não tenham como efeitos direito
só no mercado de trabalho. Elas contribuíram nas mudanças nas structuras de
trabalho que os trabalhadores são os primeiros benefícios dessas
transformações na França e no mundo. Elas permitaram à eles de responder
mais o menos com as exigências familiais na vida cotidiana na sociedade
mas também se transferem nas concepções das políticas atuais educacionais
para as universidades no mundo e no Brasil no processo da democratização
de ensino superior através os programas universidades para Todos (Pro
Uni) foram criado em 2004, pela Lei nº 11.096/2005, e tem como finalidade a
concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos
de graduação e de cursos seqüenciais de formação específica, em
instituições privadas de educação superior. As instituições que aderem ao
programa recebem isenção de tributos.
Ele é um instrumento de democratização da educação superior no
Brasil ou um mero programa de estímulo à expansão das Instituições de
Ensino Superior (IES) privadas'' e a expansão do ensino superior conta com
o Programa de Apoio os Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni), que busca ampliar o acesso e a permanência
na educação superior. A meta é dobrar o número de alunos nos cursos de
graduação em dez anos, a partir de 2008, e permitir o ingresso de 680 mil
alunos a mais nos cursos de graduação.
Para alcançar o objetivo, todas as universidades federais aderiram ao
programa e apresentaram ao ministério plano de reestruturação, de acordo
com a orientação do Reuni. As ações prevêem, além do aumento de vagas,
medidas como a ampliação ou abertura de cursos noturnos, o aumento do
número de alunos por professor, a redução do custo por aluno, a
flexibilização de currículos e o combate à evasão.
Enfim, a modernização, com seus elementos determinantes a
individualização, o envolvimento dos assalariados, a mobilidade e a
flexibilidade está exposta à análise, assim como um grande número de
respostas ao novo ambiente tecnológico, econômico e cultural. Nem por isso
são radicalmente novos: começaram a surgir na seqüência de 68, período de
contestação violenta das regras do jogo que regia o mundo do trabalho. A
questão da inovação no trabalho é, em muitos aspectos, uma armadilha. De
qualquer maneira, pode-se dizer que é um armadilha para a comunidade de
especialistas do trabalho, desde o início da década de 1980, ao colocar um
campo contra outro. Na verdade, de um lado, encontram-se aqueles que
afirmam que transformações radicais afetam o trabalho e que se sai de um
tipo de lógica para entrar em uma nova era de grande autonomia e de
envolvimento dos assalariados em seu trabalho; de outro, os que negam a
existência de verdadeiras rupturas e vêem apenas uma radicalização das
lógicas utilizadas no passado. A partir de uma das perspectivas, as
inovações seriam suficientemente importantes, suficientemente interligadas
para criar novas coerências e delineariam um novo modelo de organização do
trabalho e da empresa. Do outro ponto de vista, as inovações seriam apenas
reforços ou modos de adaptação do modelo anterior, estruturado por lógicas
tayloristas. Não seriam inovações efetivamente, mas mudanças relacionadas à
necessidade de adaptar o modelo para que ele perdure em seus princípios e
sua lógica. A dificuldade é que uma mesma inovação pode servir a vários
objetivos, pode se revestir de diferentes legitimidades; além disso, os
efeitos que ela produz podem ser de natureza diferente de acordo com as
lógicas das quais se aproxima. Uma inovação que se difunde e se generaliza
em um determinado período deveria ser analisada em relação aos objetivos
que regem sua invenção e seu aparecimento, que podem pertencer a um período
diferente e a um contexto também muito diferente. Antes de sua difusão, uma
inovação é concebida, principalmente, em resposta a um problema, para
superar pressões, obstáculos na realização de uma ação, de um projeto, de
uma atividade. As transformações que mexem profundamente com a economia
promovem cada vez mais atividades de serviços, que se caracterizam também
por um trabalho diferente daquele do setor industrial, identificado com as
formas tradicionais da organização do trabalho e de gestão da mão-de-obra.
Uma boa parte das inovações que nos parecem características dos anos de
crise econômica e da nova situação de concorrência são, portanto,
"invenções" do período anterior para encontrar soluções para uma grave
crise social. A modernização estabelecida nas décadas de 1980 e de 1990, e
que nos foram apresentadas como uma adaptação necessária ao mercado tem sua
origem e uma parte de seu conteúdo nas pressões de ordem social.
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