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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JUIZ DE FORA
MATHEUS GUIMARÃES CARDOSO NOGUEIRA
Bromeliaceae na Reserva Biológica Municipal do Poço D'anta, Juiz de Fora,
MG
Juiz de Fora
2011
MATHEUS GUIMARÃES CARDOSO NOGUEIRA
Bromeliaceae na Reserva Biológica Municipal do Poço D'anta, Juiz de Fora,
MG
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora, como requisito parcial
para a conclusão do Curso de Graduação
em Ciências Biológicas, habilitação
Licenciatura plena.
Orientador: Dr. Luiz Menini Neto
Juiz de Fora
2011
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Esdeva – CES/JF
Bibliotecária: Alessandra C. C. Rother de Souza – CRB6-1944
FOLHA DE APROVAÇÃO
NOGUEIRA, Matheus Guimarães Cardoso.
Bromeliaceae na Reserva Biológica
Municipal do Poço D'anta, Juiz de Fora,
MG. Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial à
conclusão do curso Graduação habilitação
Licenciatura plena, do Centro de Ensino
Superior de Juiz de Fora, realizada no
1° semestre de 2011.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Luiz Menini Neto
Orientador
Profª. Dra. Ana Paula Gelli de Faria
Membro convidado 1
Prof. MSc. Marcos Vinícius Rodrigues
Membro convidado 2
Examinado(a) em: ____/____/______.
Dedico este trabalho com muito orgulho,
à meu pai Hélio e minha mãe Edilene,
pela força e oportunidade, e a Bianca,
por tanto amor e paciência. Amo vocês
AGRADECIMENTOS
É, chegou ao final! Depois da longa caminhada, estou aqui, nessa
última avaliação dos aspirantes a pesquisadores... Nessa jornada,
agradecimentos não faltam! São muitos os responsáveis por nossas
realizações, tanto para abrir caminhos, quanto para passarmos por eles...
Não existe aqui uma organização por ordem de importância, pois todos
são peças únicas que sustentam todo o trabalho. A real importância, pelo
menos para mim, foi toda a disposição, carinho e colaboração essencial de
todos para a realização deste.
Queria agradecer ao amigo de infância, Noraldino Jr., que, com sua
exemplar presteza e vontade, liberou toda a burocracia e nos deixou com
apenas um objetivo: conhecer para preservar. Ao Totonho, que juntamente com
o Nelson, sempre estiveram dispostos a nos ajudar no que fosse preciso no
Horto Florestal, ao meu primo Guilherme, que ajudou a abrir trilhas naquele
ambiente, que quanto mais íamos a frente, mais parecia inexplorado e cheio
de segredos.
Bianca, meu amor, muito obrigado pela paciência, por sempre ir comigo,
me estimulando e tentando bolar algumas hipóteses e variáveis para
extrairmos ao máximo o conhecimento desse belo lugar que é o Poço D'anta,
meu pai e minha mãe, que mesmo morrendo de medo de uma tal cobra que eu
nunca cheguei a ver, me deram todo o apoio para seguir nessa jornada, ao
meu grande amigo Marcos, que sempre me colocou pra cima sendo referência,
sempre com toda aquela energia e palavras sabias. Você faz parte da nossa
vida, grande amigo. Nesse caminho também conheci pessoas especiais como a
Dra. Ana Paula Gelli, que graças a sua ajuda, várias incógnitas nesse
misterioso mundo de bromélias foram solucionadas graças a sua grande
experiência com estas plantas. Muito obrigado!
Para concluir, mas não menos importante, meu grande amigo em toda essa
jornada, sempre ao meu lado com suas palavras sábias e experiência de
campo, Luiz Menini Neto. Meu muito obrigado pela paciência em todo nosso
trabalho, pelas diretrizes que você me passou embarcada nessa sua vasta
experiência no mundo da botânica. Sou seu pupilo, com muito prazer! Espero
que tenhamos sucesso em frear um pouco esse predatismo humano sobre a nossa
maior riqueza, a natureza!
"Estarei em combate, embora muitos não
queiram. Contrario interesses
financeiros, não tenho ambições
materiais, tenho minha luta, minha
missão, meu trabalho!"
RESUMO
NOGUEIRA, Matheus Guimarães Cardoso. Bromeliaceae na Reserva Biológica
Municipal do Poço D'anta, Juiz de Fora, MG. 51 f. Trabalho de Conclusão de
Curso de Graduação em Ciências Biológicas, habilitação Licenciatura plena.
Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011.
As reservas biológicas hoje em dia são uma tentativa de preservação nos
pequenos fragmentos florestais remanescentes, em vista do contínuo avanço
da agropecuária e desmatamento. São ambientes frágeis, cujo conhecimento
florístico se faz cada vez mais necessário, provendo subsídios para
conservação das condições ideais e manutenção das populações de espécies
vegetais. Bromeliaceae apresenta 40% de suas espécies concentradas no
Brasil sendo que 22% são restritas ao país. O presente estudo teve como
objetivo o inventário das espécies de Bromeliaceae na Reserva Biológica
Municipal do Poço D'anta, devido à importância ecológica desta Unidade de
Conservação de Juiz de Fora, que é um dos principais fragmentos de Floresta
Atlântica existentes no município. As coletas foram realizadas através de
caminhadas por trilhas que cobriram aproximadamente 80% de toda a reserva,
que possui 277 hectares. Os espécimes férteis foram coletados e tiveram as
características relevantes anotadas, como localização, hábito, coloração,
dentre outras. Foram encontradas 11 espécies, distribuídas em sete gêneros
(e nas subfamílias Bromelioideae e Tillandsioideae). Este é um número
representativo, quando comparado com os padrões observados para esta
família em outros fragmentos florestais do município. Os resultados obtidos
comprovam que o ambiente em estágio sucessional mais avançado e cursos
d'água possuem as populações mais numerosas. Regiões de vale apresentaram
um maior número de indivíduos, como as espécies Billbergia euphemiae E.
Morren e Quesnelia indecora Mez, que tem suas maiores populações ocorrendo
perto de nascentes em afloramento rochoso, geralmente na forma saxícola.
Algumas espécies apresentaram um grande volume de indivíduos em locais
específicos como cursos d'água e afloramentos rochosos, com pouca
incidência luminosa e elevada umidade. Por outro lado, espécies como Ananas
bracteatus Lindl. ocorrem em enormes populações terrícolas em topos de
morro, com grande luminosidade e baixa umidade. Com isso, conclui-se que a
disposição das espécies está ligada ao ambiente de ocorrência, devido a sua
delimitação por fatores abióticos, como cursos d'agua e elevação do
terreno.
Palavras-chave: Bromeliaceae, levantamento florístico, reserva biológica.
ABSTRACT
The biological reserves today are a guarantee of the preservation in
remaining small forest fragments in front of the continuous advancement of
crops and deforestation. They are fragile environments, which floristic
knowledge is necessary, in order to provide subsidies for conservation of
environment with ideal conditions for maintaining populations of plant
species. Bromeliaceae presents 40% of its species concentrated in Brazil
and 22% are restricted to the country. This study aimed to survey of
Bromeliaceae in the Reserva Biológica Municipal do Poço D'anta, due the
ecological importance of this conservation area of Juiz de Fora, which is
one of the main fragments of Atlantic Forest in the municipality. Samples
were collected by hiking trails that cover approximately 80% of the entire
reserve, which has 277 hectares. The fertile specimens were collected and
had noted the relevant characteristics such as location, habit, color,
among others. There was found 11 species belonging to seven genera. This is
a representative number compared to the patterns observed for this family
in other forest fragments in Juiz de Fora. The results show that the
environment in more advanced stage of succession and water courses have
larger populations. Valley regions showed a larger number of specimens,
such as species Billbergia euphemiae E.Morren and Quesnelia indecora Mez,
which has its largest population occurring near water source in rocky
outcrop, having the highest population and the majority was presenting as
saxicolous. It is suggested that the intraspecific competition for places
has caused a great variation in the large volume of such plants as the
large populations occur in specific locations as water bodies, low
irradiance and high humidity. On the other hand, species such as Ananas
bracteatus Lindl. occur in big populations in inland hilltops with good
light and low humidity. Thus, was concluded that the arrangement of species
is linked to the environment of occurrence, due to its delimitation by
abiotic factors such as surface waterways and terrain elevation.
Keywords: Bromeliaceae, floristic, Biological Reserve.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
"ILUSTRAÇÃO 1 "Distribuição da família Bromeliaceae "21 "
" "......................................... " "
"ILUSTRAÇÃO 2 "Afloramento rochoso com espécimes de Billbergia "24 "
" "euphemiae.. " "
"ILUSTRAÇÃO 3 "Aspecto geral da "25 "
" "RBMPD..............................................." "
" "............. " "
"ILUSTRAÇÃO 4 "Trilhas e limites da "26 "
" "RBMPD..............................................." "
" ".......... " "
"ILUSTRAÇÃO 5 "Perturbações no Interior da "29 "
" "reserva............................................ " "
"ILUSTRAÇÃO 6 "Detalhe dos frutos de Aechmea "31 "
" "ramosa..................................... " "
"ILUSTRAÇÃO 7 "Visão geral de Ananas "32 "
" "bracteatus.........................................." "
" "..... " "
"ILUSTRAÇÃO 8 "Detalhe da inflorescência de Billbergia "33 "
" "euphemiae.................... " "
"ILUSTRAÇÃO 9 "Formas cromáticas de Billbergia "34 "
" "horrida..................................... " "
"ILUSTRAÇÃO 10 "Visão geral de Billbergia "35 "
" "zebrina............................................." "
" ".... " "
"ILUSTRAÇÃO 11 "Aspecto geral de Portea "36 "
" "petropolitana......................................." "
" ". " "
"ILUSTRAÇÃO 12 "Detalhe dos frutos de Quesnelia "37 "
" "indecora.................................. " "
"ILUSTRAÇÃO 13 "Vista geral de Tillandsia "38 "
" "recurvata..........................................." "
" "... " "
"ILUSTRAÇÃO 14 "Visão geral de Tillandsia "39 "
" "stricta............................................." "
" "..... " "
"ILUSTRAÇÃO 15 "Aspecto geral de Tillandsia "40 "
" "usneoides....................................... " "
LISTA DE SIGLAS
"CES - Centro de Ensino Superior " "
"CESAMA – Companhia de Saneamento Municipal " "
"EMPAV – Empresa Municipal de Pavimentação e Urbanização " "
"PJF - Prefeitura de Juiz de Fora " "
"RBMPD - Reserva Biológica Municipal do Poço D'anta " "
"UC - Unidade de Conservação " "
SUMÁRIO
"1 "INTRODUÇÃO "12 "
" "............................................................." "
" ".............................. " "
"2 "A FAMÍLIA "14 "
" "BROMELIACEAE................................................." "
" "................... " "
"2.1 "HISTÓRICO "14 "
" "............................................................." "
" ".................................. " "
"2.2 "FILOGENIA E CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA BROMELIACEAE......... "14 "
"2.3 "SUBFAMÍLIAS.................................................."17 "
" "........................................... " "
"2.3.1"Bromelioideae "17 "
" "............................................................." "
" "................................ " "
"2.3.2"Tillandsioideae.............................................."18 "
" "............................................... " "
"2.3.3"Pitcairnioideae "18 "
" "............................................................." "
" "............................... " "
"2.4 "ASPECTOS ECOLÓGICOS "18 "
" "............................................................." "
" ".......... " "
"2.5 "IMPORTANCIA ECONÔMICA "20 "
" "............................................................." "
" "...... " "
"2.6 "DISTRIBUIÇÃO "20 "
" "GEOGRÁFICA..................................................." "
" "............... " "
"2.7 "BROMELIACEAE NO BRASIL E MINAS "22 "
" "GERAIS...................................... " "
"3 "MATERIAL E MÉTODOS "23 "
" "............................................................." "
" "............. " "
"3.1 "ÁREA DE TRABALHO E CARACTERIZAÇÃO DA "23 "
" "RESERVA................... " "
"3.2 "LEVANTAMENTO "25 "
" "TAXONÔMICO..................................................." "
" "........... " "
"4 "RESULTADOS E "28 "
" "DISCUSSÃO...................................................." "
" ".............. " "
"5 "CONCLUSÃO...................................................."41 "
" "......................................... " "
"REFERÊNCIAS "42 "
"..................................................................." "
".................................. " "
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de reconhecida flora megadiversa, abrigando entre
16-20% da flora mundial (BORGES et al., 2005; LIMA, 2005). Apesar disso, o
modo insustentável com que os recursos naturais são utilizados é refletido
na perda dessa grande riqueza, sem nem mesmo conhecermos o potencial dos
biomas brasileiros.
A Floresta Atlântica é um dos biomas de maior biodiversidade do
planeta e cobria originalmente área de aproximadamente 1.315.460 km²,
equivalente a cerca de 15% do território brasileiro, estando atualmente
severamente reduzida a 102.012 km², algo em torno de 7% de sua área
original (MYERS et al., 2000).
A família Bromeliaceae Juss. apresenta grande diversidade no Brasil,
onde ocorrem aproximadamente 80% dos gêneros e 40% das espécies, das quais
22% são endêmicas (LEME, 2003; FORZZA, 2005). Atualmente, as bromélias
estão distribuídas por todos os ecossistemas que compreendem desde o sul
dos Estados Unidos, passando pelo leste do Brasil, até a região central da
Argentina e Chile (LEME; MARIGO, 1993).
A fragmentação de habitats e a redução de áreas florestais reduzem a
diversidade e desequilibram o sistema ecológico em que as bromélias estão
inseridas. Consideradas o berço de alguns invertebrados e até mesmo de
sementes, a redução de suas populações pode levar a perda de diversas
formas de vida que possuem o ciclo "dependente" das Bromeliaceae,
refletindo em danos ao ciclo ecológico de um fragmento (BENZING, 1990;
ROCHA et al., 2004).
Áreas de Proteção Ambiental (APA´s), Parques Nacionais (Parna),
Parques Estaduais (PE), Reservas Biológicas (ReBio) entre outros, são
categorias de unidades de conservação que tem como objetivo a preservação
integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites,
executando medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e ações de
manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a
diversidade biológica e os processos ecológicos naturais (MILANO, 1989).
Este estudo foi realizado na Reserva Biológica Municipal do Poço
D'anta (RBMPD), um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual de Juiz de
Fora, sendo um dos principais remanescentes florestais do município, com
área de 277 hectares (PJF, 2011). Tendo em vista a importância ecológica
deste fragmento para o município e também das bromélias como peças
importantes para promover a vida no interior das florestas, este estudo
buscou conhecer um pouco mais sobre a RBMPD e fazer um levantamento das
espécies de Bromeliaceae que ocorrem na reserva, tendo como objetivo
subsidiar a conservação de fragmentos remanescentes de Floresta Atlântica
frente aos crescentes impactos provocados pela ação antrópica.
2 A FAMÍLIA BROMELIACEAE
2.1 HISTÓRICO
Os representantes da família Bromeliaceae já eram conhecidos e
utilizados pelos índios das Américas há séculos e o primeiro registro feito
pelos europeus de sua utilização se deu quando Cristóvão Colombo
desembarcou em 1493, na ilha de Guadalupe, pois os índios que ali viviam já
cultivavam o abacaxi. O seu nome indígena era "Iinana", que significa
fragrante, cheiroso, dando origem ao seu nome científico Ananas comosus
(L.) Merrill. No território americano eram conhecidas como pine apple
(pinhão (pine) devido a coroa e com a suculência de uma maçã (apple)). O
nome bromélia foi proposto no fim do século XVII por Charles Plumier, um
explorador e botânico francês, como uma homenagem ao médico e botânico
sueco Olaf Bromel, devido às diversas coletas que havia feito em conjunto
com Charles Plumier no Paraguai (BROMELIADS SOCIETY INTERNATIONAL, 2011).
A circunscrição inicial e o nome da família, Bromeliaceae, foram
estabelecidos por Jussieu (1789), no entanto, a primeira monografia para a
família foi proposta por Beer (1857), obra que antecedeu clássicas
monografias, realizadas também no século XIX nas quais ocorreram várias
mudanças taxonômicas (WITTMACK, 1888; BAKER, 1889).
2.2 FILOGENIA E CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA BROMELIACEAE
Bromeliaceae constitui uma das maiores famílias de monocotiledôneas da
flora neotropical, sendo classificada segundo Cronquist (1981); Brown;
Gilmartin (1984), Dahlgren et al. (1985) e Judd et al. (1999) como única
representante da ordem Bromeliales. Recentemente, estudos filogenéticos
empregando dados moleculares e morfológicos combinados (GIVNISH et al.,
2006), posicionaram Bromeliaceae atualmente na ordem Poales (APG III,
2009), como uma família monofilética e grupo-irmão de Typhaceae e
Sparganiaceae (GIVNISH et al., 1990; 2006; GRAHAM et al., 2006).
Apresenta 58 gêneros e ca. de 3086 espécies classificadas nas
subfamílias Bromelioideae, Pitcairnioideae e Tillandsioideae, baseando-se
os autores nas características dos frutos, sementes e hábito (SMITH; DOWNS,
1979; LUTHER, 2006), porém, somente Bromelioideae e Tillandsioideae são
monofiléticas (TERRY et al., 1997; HORRES et al., 2000; GIVNISH, 2004;
2007). Análises filogenéticas recentes têm proposto que essa delimitação
não é natural, gerando uma grande discussão sobre o posicionamento dos
gêneros e subfamílias, onde os clados se tornariam monofiléticos e a
subfamília Pitcirnioideae seria desmembrada, o que resultaria em um total
de oito subfamílias para Bromeliaceae (GIVNISH et al., 2007).
Bromeliaceae é composta por plantas geralmente herbáceas e
xerofíticas, que podem ser encontradas na natureza em formas terrícolas,
epífitas, saxícolas ou rupícolas, com o caule reduzido ou ausente e raízes
geralmente pouco desenvolvidas (LIMA, 1996). Variam desde plantas de
pequeno porte, com alguns centímetros de comprimento, até plantas de grande
porte, como Puya raimondii Harms encontrada nos Andes, que alcança mais de
10 metros de altura. As espécies epífitas são comumente confundidas com
parasitas, cuja real função de suas raízes é a de fixação nos forófitos,
sem, no entanto, extrair deles nutrientes (REITZ, 1983; LEME; MARIGO 1993).
As bromélias habitam desde o nível do mar até acima de 4000 metros de
altitude, nos mais diversos ecossistemas e habitats, em regiões bastante
úmidas, semi-áridas ou até desérticas (LIMA, 2008). No entanto, os
principais centros de diversidade estão na América do Sul: os Andes, o
Planalto das Guianas e o Brasil. No Brasil, os locais que compõem a maior
diversidade e que possuem as maiores populações de Bromeliaceae são: a
Floresta Atlântica, que apresenta um índice pluviométrico elevado durante o
ano; os manguezais, que compõe a transição entre o ambiente terrestre e
marinho sujeito a alagamentos devido às marés; as restingas, que são
terrenos arenosos com maior salinidade e os campos rupestres e caatingas
com suas secas regulares (SMITH; DOWNS 1974).
As folhas apresentam na superfície um indumento formado pelos tricomas
absorventes, sendo que em algumas espécies este indumento é muito conspícuo
e de cor argêntea, especialmente em espécies de Tillandsia L. e Dyckia
Schult. & Schult.f. A filotaxia é alterna, espiralada, frequententemente
formando densas rosetas, com folhas paralelinérveas e acúleos na subfamília
Bromelioideae, em algumas espécies da subfamília Pitcairnioideae, mas nunca
na subfamília Tillandsioideae (HOLST, 1997; WANDERLEY, 2003).
Frequentemente há formação de um imbricamento das bainhas formando um
tanque chamado fitotelmo, utilizado pela planta para reserva de água, e
como uma área de captura de matéria orgânica, cujo líquido armazenado
funciona como um solvente, compilando e dissolvendo nutrientes que estarão
disponíveis para a absorção do próprio vegetal através dos tricomas. Essa
estrutura faz com que a família tenha uma grande adaptação a uma enorme
diversidade de ambientes. Ocorrem também representantes com folhas
dísticas, comuns no gênero Tillandsia, onde não há formação de roseta e
tanque (BENZING, 1990; ROCHA et al., 1997).
As inflorescências das bromélias podem ser terminais ou laterais,
simples ou compostas, dispostas em panícula, racemo ou capítulo e em geral
com brácteas muito vistosas; flores geralmente vistosas e bissexuadas,
actinomorfas, raro ligeiramente zigomorfas, diclamídeas e heteroclamídeas,
cálice trímero, dialissépalo ou gamossépalo, prefloração imbricada; estames
6 (3+3), livres ou unidos entre si ou à corola, anteras rimosas; nectários
septais geralmente presentes; gineceu gamocarpelar, ovário súpero ou
ínfero, trilocular, placentação axial, pluriovulado (LORENZI; SOUZA, 2008).
Fruto cápsula ou baga às vezes formando um sincarpo, As sementes podem
apresentar ou não apêndices, plumosos ou aliformes; na subfamília
Pitcairnioideae ocorrem sementes aladas; em Tillandsioideae as sementes são
plumosas e nas Bromelioideae as sementes não possuem apêndices (SMITH;
DOWNS, 1974; 1977; 1979).
Diversos estudos demonstram a utilização de bromélias como fonte de
recursos pelos animais (SAZIMA et al., 1989; 1995; BERNADELLO, 1991;
ARAÚJO, 1996). A grande maioria das espécies é polinizada por beija-flores,
devido a atração das brácteas vistosas e coloridas e pela presença de
néctar abundante (FISCHER, 1994; 1995). Os morcegos também são importantes
agentes polinizadores, pela presença de odor forte em muitas flores de
antese noturna. Além da ornitofilia e quiropterofilia são referidos outros
tipos de polinizadores, como borboletas, abelhas e besouros (REITZ, 1983;
LEME; MARIGO, 1993). A dispersão está diretamente relacionada aos
diferentes tipos de frutos presentes na família. A dispersão das sementes
aladas ou plumosas presentes no fruto cápsula é auxiliada pelo vento,
enquanto as bagas suculentas, cujas sementes não possuem apêndices, são
dispersas por animais (MARTINELLI, 1997; BUZATO et al., 2000; VARASSIN et
al., 2000).
A propagação pode ser assexuada ou sexuada. Na reprodução assexuada,
ou vegetativa, formam-se brotos a partir da planta mãe, que podem sair da
base da planta por estolhos, rizomas, ou do interior da própria roseta. A
formação de estolhos é característica para algumas espécies. A reprodução
sexuada ocorre em sementes que podem ser carregadas, ingeridas por animais
ou como na maioria dos representantes da subfamília Tillandsioideae, onde
as sementes podem germinar na própria planta-mãe ou serem dispersas a longa
distância (SMITH; DOWNS, 1979).
2.3 SUBFAMÍLIAS
Bromeliaceae apresenta a divisão clássica em 3 subfamílias que
apresentam muitas controvérsias filogenéticas, devido às análises
moleculares. Estudos filogenéticos recentes, no entanto, propõem nova
divisão em oito subfamílias, resultado do desmembramento de Pitcairnioideae
em seis subfamílias: Brocchinioideae, Bromelioideae, Hechtioideae,
Lindmanioideae, Navioideae, Pitacairnioideae, Puyoideae e Tillandsioideae
(GIVNISH et al., 2004; 2007).
2.3.1 Bromelioideae
Possui ca. de 29 gêneros e 760 espécies concentradas principalmente na
Floresta Atlântica (LEME, 1997; BENZING, 2000; MARTINELLI, 2006). Composta
por espécies epífitas, terrícolas ou rupícolas, caracterizadas pelo fruto
baga, ovário ínfero e sementes sem apêndices. O gênero Bromelia L. ocorre
na América do Sul e suas espécies apresentam folhas fortemente
espinescentes e sépalas adnatas às pétalas. Nidularium Lem. é um gênero
endêmico do Brasil, cujas espécies, em geral, possuem folhas formadoras de
"tanque" e inflorescência nidular. Aechmea Ruiz & Pav. apresenta apêndices
petalíneos. Ananas possui como característica distintiva uma coroa de
brácteas no ápice da infrutescência. Outros gêneros representativos da
subfamília são Billbergia Thunb., Orthophytum Beer, Quesnelia Gaudich.,
entre outros (SMITH; DOWNS, 1974; GIVNISH et al., 2007).
2.3.2 Tillandsioideae
Possui espécies essencialmente epífitas, com folhas de margens
inteiras, ovário súpero ou raramente semi-ínfero (Glomeroptcairnia Mez),
sementes com tufos de apêndices plumosos nas extremidades. Apresenta nove
gêneros e ca. 675 espécies. Tillandsia é o maior gênero (400 spp.), seguido
por Vriesea Lindl. (220 spp.). Alguns subgêneros foram elevados a categoria
de gênero, como Racinaea M.A.Spencer & L.B.Sm. anteriormente integrante de
Pseudo-catopsis e Alcantarea (E.Morren ex Mez) Harms extraído de Vriesea
(LEME, 1993).
2.3.3 Pitcairnioideae
Possui ca. 13 gêneros e 420 espécies. Suas espécies são terrícolas,
saxícolas ou rupícolas, geralmente com folhas de margem aculeada, flores
hipóginas e fruto cápsula com sementes geralmente providas de alas ou
outros apêndices. O maior gênero é Pitcairnia L'Hér. (185 spp.), possuindo
táxons primariamente andinos, mas com representantes no Brasil. Apresentam
flores levemente zigomorfas e cápsula septicida. Muitas espécies ocorrem
sobre rochas e poucas são epífitas. Algumas espécies são mais robustas, com
base lenhosa e inflorescência muito ramificada, outras apresentam pequeno
porte e possuem folhas sem acúleos. Puya (90 spp.), Dyckia (75 spp.) e
vários outros gêneros têm cápsula septicida ou loculicida e flores
actinomorfas (FORZZA et al., 1998)
2.4 ASPECTOS ECOLÓGICOS
De acordo com Kevan et al. (1990) a estrutura e o funcionamento dos
ecossistemas estão relacionados devido a diversas interações. A polinização
é um processo fundamental nas comunidades terrestres, pois constitui o
primeiro passo na reprodução sexuada das plantas e um pré-requisito
essencial para o desenvolvimento de frutos e sementes.
Heinrich (1975) propôs que um dos fatores determinantes para a
dependência do recurso floral é a relação entre sua demanda de nutrientes e
a quantidade de alimento que é oferecido pelas flores. Essa relação pode
influenciar a tendência das visitas, os deslocamentos entre as flores e as
plantas, pois se a oferta de recursos é a maneira pela qual as plantas
atraem e mantém os polinizadores, é esperado que a visitação destes varie
com a disponibilidade de recursos (FEINSINGER, 1976; ROUBIK, 1989).
Em uma floresta no domínio Atlântico, as bromélias congregam cerca de
30% a 36% dos recursos alimentares usados por animais, como morcegos e
beija-flores, respectivamente (SAZIMA et al., 1995; 1996; 1999), sendo
considerada uma das principais fontes de néctar para esses animais. Além
disso, a capacidade das bromélias de armazenar água em seu tanque a torna
um elemento essencial para a manutenção da diversidade do habitat (LOPEZ,
1997; ROCHA et al., 1997), criando microhabitats com alto grau de
complexidade e criando classificações como a de Benzing (1990), que leva em
consideração categorias de relação com o suporte, hábito de crescimento e
formas de obtenção de água e nutrientes. Esta capacidade singular a torna
um elemento importante para a ampliação da diversidade do habitat.
Diversas espécies animais utilizam as bromélias para forrageamento,
reprodução e refúgio contra predadores (PEREIRA et al., 1988; RIVEIRO,
1989; OLIVEIRA et al., 1994 a; b; ROCHA, 1997). A germinação de algumas
espécies vegetais também pode ocorrer nas bromélias (FIALHO; FURTADO,
1993).
Outro aspecto de importância ecológica para a colonização das
bromélias, e epífitos em geral, diz respeito à forma de obtenção de
nutrientes em meio a um ambiente que se caracteriza por grande pobreza -
seja a copa das árvores ou os solos que as sustentam. A forma de nutrição
mineral de muitas espécies epífitas pela retirada direta da água disposta
como um filme na superfície do vegetal faz com que estas reduzam
significativamente o conteúdo mineral da água de chuva que atravessa o
dossel das árvores (LANG et al., 1976). Carrol (1980) quantificou a entrada
de nitrogênio no sistema via material epifítico, constatando que, apesar de
ser muito reduzida a sua biomassa, este apresenta desproporcional papel
"fertilizador" na floresta.
No território brasileiro, a família é reconhecidamente importante em
termos de diversidade e abundância (ARAÚJO et al., 2004), com alto
endemismo e ocorrendo aproximadamente 80% dos gêneros (WANDERLEY; MARTINS,
2007) e 40% das espécies conhecidas (SMITH; DOWNS, 1974; 1977; 1979).
2.5 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
A principal importância econômica na família é representada pela
espécie Ananas comosus (abacaxi) que possui grande aceitação em todo mundo,
tanto na forma natural quanto industrializada. Além dessa, destacam-se
também várias espécies com potencial ornamental, como aquelas dos gêneros
Aechmea, Alcantarea, Billbergia, Guzmania, Quesnelia, Vriesea, Tillandsia,
dentre muitos outros, o que pode causar grande impacto nas populações de
bromélias, devido à extração indiscriminada.
Outras espécies como Ananas lucidus Miller (Pereira, 2007), Ananas
comosus var. erectifolius (L.B. Sm.) (FUJIHASHI; BARBOSA, 2002) e
Neoglaziovia variegata Mez, são respectivamente, conhecidas como produtoras
de fibras para a indústria automobilística e têxtil e Bromelia antiacantha
Bertoloni, na produção de fármacos (REITZ, 1983; CUNHA et al., 1994).
Um importante composto com grande importância econômica é a bromelina,
que é um conjunto de isoenzimas proteolíticas encontradas na família
Bromeliaceae. Esta enzima é utilizada em diferentes setores, todos baseados
em sua atividade proteolítica, dentre as quais se destacam a propriedade de
facilitar a digestão de proteínas, sendo por isso adicionada em
medicamentos digestivos, e a capacidade de amaciamento de carnes
(Borracini, 2006).
2.6 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
As Bromeliaceae são um exemplo notável de radiação adaptativa das
plantas vasculares (GIVNISH et al., 1997; BENZING, 2000). Elas englobam os
extremos da disponibilidade de umidade (distribuídas desde florestas
tropicais a áreas áridas das areias do litoral), elevação (desde o nível do
mar a até 4.000 m de altitude), e a exposição de luz (totalmente exposta à
sub-bosques sombreados das florestas).
A distribuição ocorre exclusivamente na Região Neotropical, em
latitudes tropicais e subtropicais das Américas entre os paralelos 37º N e
44º S (WENDT, 1994), com exceção de uma única espécie, Pitcarnia feliciana
(A. Chevalier) Harms & Mildbrae, que ocorre no Golfo da Guiné, oeste do
continente africano (Ilustração 1), provavelmente devido à dispersão a
longa distância (SMITH; DOWNS, 1974; 1977; 1979).
Ilustração 1: Distribuição da família Bromeliaceae. Fonte: Benzing
(2000).
Bromeliaceae possui três grandes centros de desenvolvimento (SMITH;
DOWNS, 1974) sendo na região Andina com extensões para o México; no escudo
das Guianas e outro no leste do Brasil, considerado o centro de diversidade
de Bromelioideae (SMITH; DOWNS, 1977; 1979; BENZING, 2000), possui também o
gênero Dyckia (Pitcairnioideae) e o gênero Vriesea (Tillandsioideae), com
predomínio de grupos associados a ambientes florestais (FORZZA, 2005). No
planalto Andino e no escudo das Guianas, predominam grupos relacionados à
vegetação aberta (FORZZA, 2001), já no Brasil ocorrem grupos associados a
ambientes florestais.
Dados moleculares suportam a hipótese de que as Bromeliaceae se
originaram no Escudo das Guianas, aparecendo há 84 milhões de anos atrás
(Ma). O ápice da radiação teria acontecido há ca. 9,4 Ma. A família
Bromeliaceae chegou ao Brasil, independentemente, em três diferentes fases
e locais: Cottendorfia Schult. & Schult.f. do Escudo das Guianas há ca. 12
Ma., Dyckia e Encholirium, da região central dos Andes há ca. 9 Ma. e por
representantes de Bromelioideae há ca. 7 Ma. (GIVNISH et al., 2004)
2.7 BROMELIACEAE NO BRASIL E MINAS GERAIS
O Brasil apresenta uma expressiva riqueza vegetal, abrigando cerca de
19% das 250.000 espécies de angiospermas conhecidas (GIULIETTI et al.,
2005). Estima-se que a família Bromeliaceae tenha 40% de suas espécies
encontradas no território brasileiro, colocando o nosso país entre os mais
importantes e representativos em termos de diversidade e endemismos da
família (LEME, 1997). Dentre os 57 gêneros catalogados, cerca de 80%
ocorrem no Brasil e aproximadamente 22% são restritos ao nosso país
(FORZZA, 2005; NUNES-FREITAS, 2005).
O estado de Minas Gerais ocupa cerca de 7% do território brasileiro e
possui uma flora muito diversa devido ao seu grande mosaico vegetal, que
compreende desde vegetações secas em climas áridos da Caatinga a florestas
úmidas da Floresta Atlântica, graças a sua grande dimensão e geomorfologia
que, juntos, são responsáveis por essa grande variedade de vegetação
(GIULIETTI, 1987; 2000; COSTA et al., 1998; MYERS et al., 2000; IBGE,
2011). A subfamília Bromelioideae tem o leste e o sul de Minas Gerais como
seu centro de diversidade no Brasil conforme relatado por alguns autores
(BENZING, 2000; VERSIEUX et al. 2006; SMITH; DOWNS, 1979). Ainda há muito a
ser descoberto apesar de a vegetação estar extremamente reduzida devido à
agricultura e pecuária, tendo como exemplo 22 novas espécies da subfamília
Bromelioideae que foram descritas nos últimos anos por Luther; Sieff (1991;
1995b; 1997; 2001; 2004; 2006), proporcionando média de uma espécie por
ano. As reservas biológicas, áreas de proteção ambiental, parques
nacionais, entre outros, tem um grande papel nessa conservação de espécies
que estão ameaçadas devido à grande redução de cobertura vegetal.
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 ÁREA DE TRABALHO E CARACTERIZAÇÃO DA RESERVA
O trabalho foi realizado na Reserva Biológica Municipal do Poço D´anta
(RBMPD), situada entre as coordenadas 21°44'58.79"S e 43°19'7.09"O. É uma
área protegida de 277 ha, que faz divisa com uma propriedade particular
denominada Fazenda Floresta que através de um corredor natural somam um
total de 344 Ha. A RBMPD foi elevada a categoria de Reserva Biológica em
1982 pelo decreto nº 2794, em que o então prefeito, Francisco Antônio de
Mello Reis, considerou-a como uma área de preservação integral e proteção
permanente, cujos recursos naturais como reserva genética da flora e fauna
são importantes para fins educacionais, culturais e científicos;
considerando ainda, a necessidade de se estabelecer espaços livres,
arborizados e preservados, no contexto urbano, para o equilíbrio da massa
natural e edificada. Os fragmentos da RMBPD e da Fazenda Floresta, através
de um longo período de regeneração, estabeleceram um corredor ecológico
anteriormente inexistente, tornando-se um único ecossistema (PJF, 2011).
A vegetação original de Juiz de Fora, assim como da Zona da Mata
mineira, integra o grande complexo da Floresta Atlântica, embora hoje
predominem as capoeiras (RIZZINI, 1992). Ao longo da reserva existem várias
manchas em graus variáveis de degradação inclusive com árvores cortadas,
embora influências antrópicas mais extensas se encontrem ao longo dos
limites da Reserva.
Até o momento da criação da reserva, fortes perturbações antrópicas
ocorriam em seu interior, que tem como início o ciclo do ouro, quando Juiz
de Fora era apenas uma pequena localidade que dava apoio para o caminho
entre as Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Com o ciclo do café, Juiz de Fora
se tornou um grande pólo e como consequência disto os processos de perda e
fragmentação de habitat se aceleraram de modo avassalador. Esse processo
resultou em grande degradação, embora os fragmentos remanescentes tenham se
regenerado ao longo do tempo (SANTIAGO et al., 2005; 2006).
A RBMPD apresenta cobertura florestal composta por floresta
secundária, localizada na zona leste do município de Juiz de Fora, entre
altitudes de 793 a 1049 metros, sendo classificada como Floresta Estacional
Semidecidual devido a dupla estacionalidade climática. Ocorre uma época
caracteristicamente tropical, com intensas chuvas de verão e temperaturas
elevadas seguidas de estiagens acentuadas com quedas na temperatura, e uma
subtropical, com um intenso frio de inverno causando seca fisiológica, e
média de temperatura inferior a 15ºC e média de precipitação inferior a 5%
do total anual. De 20 a 50% das árvores são decíduas e perdem todas as
folhas, e este é o motivo da denominação semidecidual (AMBIENTE BRASIL,
2004). A altitude varia de 467 a 1.104 m. Segundo a classificação de
Köppen, possui clima tropical de altitude com verões quentes. A temperatura
média anual fica em torno de 22,5ºC e média pluviométrica de 1.470 mm
(Borges 2006).
A mata apresenta um grande mosaico vegetacional devido a fatores
ambientais e sucessionais, sendo que sua maior parte consiste em Floresta
Estacional Semidecidual, ocorrendo ainda uma porção com predomínio de
espécies exóticas, uma parte ocupada por Floresta Aluvial nos trechos de
baixadas, ao longo de cursos d´agua e nascentes e também uma pequena parte
composta por afloramentos rochosos (ILUSTRAÇÃO 2).
ILUSTRAÇÃO 2: Afloramento rochoso com espécimes de
Billbergia euphemiae. FONTE: Arquivo pessoal.
De acordo com Marques (1998) a reserva possui 18 nascentes mapeadas,
que contribuem para a formação do córrego D´antas, tendo sua orientação de
drenagem no sentido leste-oeste em seu interior, com a formação de 3
principais microbacias que alimentam dois lagos, sendo uma garantia de
abastecimento futuro da comunidade.
3.2 LEVANTAMENTO TAXONÔMICO
A fim de se obter um conhecimento prévio do relevo, lagos, cursos
d'agua e possíveis nascentes para nortear o caminho da abertura de trilhas,
a área de estudo foi analisada visualmente através dos programas Google
Earth e ArcGIS Explorer. As visitas a reserva tiveram a duração de 12
meses, entre abril de 2010 e abril de 2011, feitas por cerca de 5 dias na
semana para abertura das trilhas, devido a dificuldade de acesso a certas
partes e a grande densidade de árvores (ILUSTRAÇÃO 3). Após a abertura das
trilhas as visitas passaram a ser de 2 dias na semana.
Ilustração 3: Vista do interior da floresta no RBMPD. Fonte: Arquivo
pessoal.
Além das trilhas já existentes na CESAMA e na fábrica de manilhas da
EMPAV, foram abertos três outros caminhos (ILUSTRAÇÃO 4) no sentido da
borda ao interior da mata com o intuito de abranger a maior área possível e
com as maiores chances de ocorrência da família Bromeliaceae. Cada trilha
foi marcada com aparelho GPS e as respectivas coordenadas das plantas
anotadas, a fim de se obter também uma distribuição da família de acordo
com cada região estudada da mata. As trilhas 1 e 2 foram abertas a partir
do Horto Florestal de produção de mudas, com dois sentidos diferentes,
norte e leste, respectivamente. A trilha 3 foi aberta de dentro da fábrica
de manilhas da EMPAV no sentido nordeste, para se ter acesso a trilha
existente que margeia toda a reserva. Já pela CESAMA não houve abertura de
trilhas devido a existência da mesma que já é utilizada para a fiscalização
dos arredores. As trilhas 1, 2 e 3 foram abertas seguindo os pontos já
previamente marcados com aparelho GPS, com facão e tesoura de poda.
Ilustração 4: Trilhas e limites da RBMPD. Fonte: Google Earth, arquivo
pessoal e PJF.
Os indivíduos férteis observados foram coletados e o respectivo hábito
descrito, além de outras características relevantes, como cores da planta,
sendo concluído com um registro fotográfico. Para as plantas de grande
porte foram coletadas a inflorescência e duas folhas, sendo uma interna e
outra externa. O material foi desidratado em estufa a 70ºC por cerca de 72
horas no Laboratório de Botânica do Centro de Ensino Superior de Juiz de
Fora para em sequência, a produção da exsicata e o tombamento no herbário
CESJ da Universidade Federal de Juiz de Fora. Os espécimes foram
identificados através de literatura especializada, consultas ao herbário
CESJ, e sítios especializados como o da Sociedade de Bromélias da Flórida
(www.fcbs.org), além de consultas a especialistas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontradas na RBMPD 11 espécies de Bromeliaceae distribuídas em
sete gêneros, sendo o gênero Billbergia e Tillandsia os mais
representativos com três espécies cada. As espécies encontradas foram:
Aechmea ramosa Mart. ex Schult. & Schult, Ananas bracteatus (Lindl.)
Schult., Billbergia euphemiae E. Morren, Billbergia horrida Regel,
Billbergia zebrina (Herb) Lindl., Portea petropolitana (Wawra Mez,
Quesnelia indecora Mez, Tillandsia recurvata (L.) L., Tillandsia stricta
Sol. e Tillandsia usneoides (L.) L. A subfamília Bromelioideae foi a que
apresentou o maior número de espécies, com um total de sete táxons
registrados (63,6%), seguida pela subfamília Tillandsioideae, com apenas
três espécies (36,4%). Um exemplar não foi identificado em nível
específico, pois foi observado apenas em estado vegetativo, mas pertence ao
gênero Vriesea. Os espécimes foram marcados para posterior identificação.
A subfamília Bromelioideae, que resultou em 63,6% das ocorrências na
reserva, apresentou todos os hábitos da família, tendo espécies iguais com
hábitos diferentes, dependendo da localização. A grande maioria de táxons
correspondentes a subfamília Bromelioideae corrobora grandes levantamentos
de Bromeliaceae realizados em Minas Gerais (BENZING 2000; VERSIEUX et al.,
2005; 2008; LIMA, 2008), que citam Minas Gerais como centro de diversidade
da subfamília.
Por outro lado, Tillandsioideae se restringiu ao gênero Tillandsia,
cujas espécies encontradas têm maior ocorrência em áreas degradadas,
apresentando alto alcance de dispersão de sementes e adaptação nos mais
diversos ambientes. A única exceção de gênero para Tillandsioideae foi o
táxon não identificado do gênero Vriesea. Não foi localizada nenhuma
espécie da subfamília Pitcairnioideae.
Pode-se dizer que a RBMPD apresenta uma razoável diversidade de
bromélias, considerando-se o tamanho e nível de conservação desta Unidade,
em virtude da reduzida fiscalização que permite atos de vandalismo e
entrada de pessoas não autorizadas na reserva para fins não relacionados à
pesquisa. Os principais problemas da reserva se resumem em falta de
fiscalização, queimadas florestais, exploração clandestina de madeira,
ausência de projetos educativos e ambientais, sobretudo junto à população
do entorno.
Há no interior da reserva uma pedreira e uma saibreira (Ilustração
4), inativas desde que a UC foi criada há 29 anos. No entanto, apesar de
estarem desativadas, elas representam um grande passivo ambiental visto que
na área que era o centro das atividades supracitadas houve a remoção da
mata, gerando um processo de erosão, carreando sedimentos à jusante do
córrego.
Ilustração 5: Perturbações no interior da reserva. Fonte: arcGIS Explorer,
arquivo pessoal.
A construção da via pavimentada denominada estrada Athos Branco da
Rosa e que é uma perturbação que ainda se faz presente, foi construída em
1974, causando fragmentação da mata e contribuindo para o aumento do efeito
de borda. Além dessas perturbações, está instalada dentro da reserva uma
fábrica de manilhas e outros artefatos de concreto da EMPAV, pertencente à
Prefeitura de Juiz de Fora. Esta fábrica representa agressões ao ambiente
da reserva, tais como a abertura de uma grande clareira em seu interior,
poluição sonora e contribuição para a degradação vegetal devido à
eliminação de partículas que se depositam sobre as plantas,
consequentemente diminuindo sua taxa fotossintética (MARQUES, 1998). Ainda
no interior da reserva se encontra um horto florestal de produção de mudas
para a cidade, tanto para venda como para herborização municipal. A
presença de mudas de plantas exóticas também se caracteriza como um
perturbador ambiental.
Devido ao seu relevo acidentado, alguns pontos do interior não recebem
diretamente as influências causadas pela fábrica. Como observado nas
expedições a campo, as grandes populações de Bromeliaceae se encontram
afastadas da borda, distribuídas predominantemente ao longo dos cursos
d'água, preferencialmente próximas às nascentes. A única exceção é Ananas
bracteatus que forma uma grande população desde o interior da mata,
passando pela borda e com indivíduos distribuídos também na área desmatada
além dos limites da reserva, porém se concentrando apenas neste ponto da
área.
De acordo com Pifano et al. (2007), que executaram um inventário
florístico no Morro do Imperador, região central da cidade, ocorrem cinco
espécies de Bromeliaceae no local: Ananas bracteatus, Bromelia antiacantha
Bertol., Pitcairnia flammea Lindl., Portea petropolitana (Wawra) Mez. e
Tillandsia gardneri Lindl. sendo três delas não encontradas na RBMPD (B.
antiacantha, P. flammea e T. gardneri). Porém, a reserva possui maior
riqueza específica, provavelmente devido à diferença de extensão, que é de
277 ha para a RBMPD e 78 ha para o Morro do Imperador. Ainda, a diferença
da vegetação, que no Morro do Imperador apresenta elementos de afloramentos
rochosos de natureza granítica e/ou gnáissicos, além de fragmentos
florestais, enquanto a RBMPD possui uma maior extensão florestal, com
diferenças entre ambientes alagados e secos em seu interior, conjugado a
pequenos afloramentos rochosos.
Cada táxon encontrado na área da RBMPD é tratado individualmente a
seguir:
1) Aechmea ramosa Mart. ex Schult. & Schult. f., Syst. Veg. 7(2): 1272.
1830.
Aechmea ramosa (ILUSTRAÇÃO 6) é restrita ao sudeste brasileiro sendo
principalmente encontrada nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Caracteriza-se pelo porte robusto e inflorescência laxiflora e
tripinada. Habita ambientes variados e apresenta resistência a ambientes
perturbados e urbanizados, crescendo como epífita, terrícola ou rupícola em
áreas de Floresta Atlântica, entre 300 e 1200 m de altitude com o período
de floração de março a setembro (LIMA, 2008).
Na reserva foram encontrados apenas alguns poucos indivíduos esparsos
na porção sudeste da área, a cerca de 800m de altitude, distribuídos
próximo a borda da UC em ambiente levemente seco e somente na forma
epífita. A planta foi coletada em frutificação em setembro de 2010.
Localização na reserva: 21°45'12.32"S 43°18'38.57"O
Distribuição geográfica: ES, MG, RJ (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 6: Detalhe dos frutos de Aechmea ramosa. Foto: Luiz Menini Neto.
2) Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. f., Syst. Veg. 7(2): 1286. 1830.
Ananas bracteatus (ILUSTRAÇÃO 7) ocorre desde o norte da Argentina e
Paraguai até o sudeste do Brasil (VERSIEUX et al., 2008).
Caracteriza-se pelas folhas estreitas e ocasionalmente variegadas,
espinulosas, fruto globoso a cilíndrico e sustentado por um longo escapo.
Cresce essencialmente como terrícola, formando grandes populações, em áreas
de Floresta Atlântica, entre 300 e 900 m de altitude com o período de
floração entre agosto e novembro (LIMA, 2008).
Na reserva foi encontrada entre 840 e 870 m de altitude, no sudeste da
RBMPD com extensa população de ca. 1000 espécimes, contínua desde a parte
externa bem seca e com alta intensidade luminosa, passando pela borda e se
estendendo a aproximadamente 300 metros para o interior da mata com pouca
luminosidade e umidade mais elevada. Coletada em flor na reserva no mês de
agosto.
Localização na reserva: 21°45'7.36"S 43°18'35.63"O
Distribuição geográfica: ES, MG, PR, RJ, RS, SC, SP (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 7: Visão geral de Ananas bracteatus. Foto: Luiz Menini Neto.
3) Billbergia euphemiae E. Morren, Belgique Hort. 22: 11. 1872.
Billbergia euphemiae (ILUSTRAÇÃO 8) ocorre na Floresta Atlântica em
florestas montanas e altomontanas (Fontoura et al., 1991), nas restingas
(Moura et al., 2007) e nos campos rupestres de Minas Gerias (Versieux;
Wendt, 2006).
Caracteriza-se pela presença de indumento alvo flocoso no escapo, na
raque, nas sépalas e no ovário, brácteas florais da base da inflorescência
semelhantes às brácteas do escapo. Cresce preferencialmente como epífita,
mais raramente como rupícola ou terrícola, em ambientes florestais ou mesmo
áreas perturbadas, entre 350 e 1400 m de altitude, florescendo nos meses de
setembro e outubro (LIMA, 2008).
Na reserva foi encontrada como epífita associada a praticamente todos
os cursos d'água, na porção sul e principalmente na parte leste, ocorrendo
entre 800 e 860m de altitude, formando populações numerosas. No entanto,
destaca-se uma grande população rupícola em afloramento rochoso no interior
da mata, com estimativa de mais de 2000 indivíduos. Foi observada em flor
no mês de setembro de 2010.
Localização na reserva: 21°45'15.84"S 43°18'55.97"O
Distribuição geográfica BA, ES, MG, RJ (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 8: Detalhe da inflorescência de Billbergia euphemiae. Foto:
Arquivo pessoal.
4) Billbergia horrida Regel, Index Sem. 1856: 17. 1857.
Billbergia horrida (ILUSTRAÇÃO 9) ocorre no leste do Brasil, desde a
Bahia até o Rio de Janeiro (VERSIEUX et al., 2008). Caracteriza-se por
apresentar as lâminas foliares totalmente verdes, coriáceas, base marcada
com uma ruga, faixas transversais de tricomas e com o ápice agudo a obtuso
arredondado. Populações expostas ao sol com baixa umidade no solo
apresentam folhas na cor purpúrea. Cresce em áreas de Floresta Atlântica
como epífita, rupícola ou saxícola, entre 300 e 1300 m de altitude,
florescendo de julho a setembro (LIMA, 2008).
Na reserva foi encontrada apenas na região central da floresta,
apresentando população formada por poucos espécimes esparsos, ocorrendo
entre 810 a 880 m de altitude, somente na forma epífita. Observada em flor
no mês de agosto de 2010.
Localização na reserva: 21°45'14.93"S 43°19'12.64"O
Distribuição geográfica BA, ES, MG, RJ (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 9: Formas cromáticas de Billbergia horrida. Fonte:
http://fcbs.org/pictures.htm
5) Billbergia zebrina (Herb.) Lindl., Bot. Reg. 13: t. 1068. 1827.
Billbergia zebrina (ILUSTRAÇÃO 10) tem ocorrência registrada para o
Paraguai, Uruguai, Noroeste da Argentina, sudeste e sul do Brasil (VERSIEUX
et al., 2008).
Caracteriza-se pelas folhas coriáceas, verdes e com a face abaxial
com faixas de tricomas transversais alvo-lepidotas, ápice obtuso-
arredondado, brácteas do escapo róseas e com o colorido persistente,
sépalas apiculadas, bainha estreita, com margem castanho hialina,
inflorescência com 10-30 flores, pétalas espiraladas ovário branco
externamente devido a densa cobertura de tricomas e obovóide. Cresce
essencialmente como epífita, habitando áreas de Floresta Atlântica e campos
rupestres entre 350 e 1000 m de altitude e floresce de agosto a março
(LIMA, 2008).
Pode ser encontrada por toda a reserva, formando grandes touceiras
epífitas, distribuídas de forma esparsa, frequentemente nas bordas da mata,
em ambientes mais secos. Foi observada em flor em agosto de 2010.
Localização na reserva: 21°44'57.12"S 43°18'46.15"O
Distribuição geográfica MG, PR, RJ, RS, SC, SP (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 10: Visão geral de Billbergia zebrina.
Fonte:http://www.saltodasaguas.com.br/Billbergia
_zebrina_XXIII.JPG.
6) Portea petropolitana (Wawra) Mez, Fl. Bras. 3(3): 296. 1892.
Portea petropolitana (ILUSTRAÇÃO 11) é a espécie do gênero com
distribuição geográfica mais ampla, sendo encontrada nos estados da Bahia,
Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (VERSIEUX et al., 2008).
Caracteriza-se pela inflorescência laxa a congesta, com brácteas
primárias suberetas a patentes, paracládios e pedicelos curtos ou longos.
Atualmente são aceitas duas variedades além da variedade típica. Cresce
como epífita em áreas de Floresta Atlântica geralmente de 300 a 700 m de
altitude. A floração ocorre entre julho e outubro (LIMA, 2008).
Na reserva foi encontrada de forma bem distribuída, sem variação entre
os espécimes e não dependendo diretamente de umidade, na forma epifítica em
altitudes variando de 800 a 910 m de altitude. Observada em flor em
novembro.
Localização na reserva: 21°45'9.02"S 43°19'6.88"O
Distribuição geográfica BA, ES, MG, RJ (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 11: Aspecto geral de Portea petropolitana. Foto: Luiz Menini
Neto.
7) Quesnelia indecora Mez, Fl. Bras. 3(3): 384. 1892.
Quesnelia indecora (ILUSTRAÇÃO 12) é uma espécie típica da Zona da
Mata e Serra da Mantiqueira, no estado de Minas Gerais (VERSIEUX, 2005).
Caracteriza-se por apresentar poucas folhas, sendo as externas
menores, escapo delgado recurvado e poucas flores concentradas na porção
apical. Há forte semelhança entre Quesnelia indecora, Q. kautskyi C. M.
Vieira e Q. strobilispica Wawra, onde a diferenciação ocorre apenas pelas
pétalas obtusas e corola purpúrea na primeira espécie, pétalas purpúreas e
flores curvadas em Quesnelia kautskyi e inflorescência simples, densa
elíptica ou turbinada, com muitas flores e brácteas florais vermelhas e
escamosas em Quesnelia strobilispica. Cresce como rupícola, terrícola e
epífita, principalmente em áreas de Floresta Atlântica, em florestas úmidas
e a partir de 700 m de altitude, florescendo entre abril e agosto (LIMA,
2008).
Na reserva, ocorre somente na parte sudeste da área, como rupícola
e/ou saxícola formando grande população estimada em mais de 2000 espécimes
em afloramentos rochosos, próximos a cursos d'água, no interior da mata, em
altitudes entre 820 e 850m de altitude. Observada em frutos em maio de
2011.
Localização na reserva: 21°45'20.48"S 43°18'54.28"O
Distribuição geográfica: ES, MG (FORZZA et al., 2010).
Ilustração 12: Detalhe dos botões florais de Quesnelia indecora. Foto:
Arquivo pessoal.
8) Tillandsia recurvata (L.) L., Sp. Pl. (2 ed.) 1: 410. 1762.
Tillandsia recurvata (ILUSTRAÇÃO 13) ocorre praticamente em toda área
de distribuição da família, desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina.
No Brasil apenas a região centro-oeste não possui registros desta espécie
(LIMA, 2008).
Caracteriza-se pelo pequeno porte, formando normalmente touceiras com
diversos indivíduos procedentes da mesma planta-mãe, escapo delicado e
inflorescência comumente com uma única flor, com pétalas diminutas,
lilases. Adapta-se aos mais variados ambientes e às vezes são confundidas
com parasitas por formar grandes populações sobre uma mesma árvore. Cresce
como epífita e raramente rupícola. É encontrada em áreas de Floresta
Atlântica e campos rupestres, especialmente em locais de alta luminosidade,
porém pode habitar o interior da floresta sob luz difusa, entre 400 e 1250
m de altitude. Floresce e frutifica durante todo o ano (LIMA, 2008).
Apresenta ampla distribuição por toda a área da reserva,
principalmente em áreas desmatadas que já passaram ou passam por alguma
perturbação, entre 800 e 910m de altitude.
Localização na reserva: 21°45'15.99"S 43°19'8.70"O
Distribuição geográfica AL, BA, CE, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RS, SC, SP
(FORZZA et al., 2010).
Ilustração 13: Vista geral de Tillandsia recurvata. Fonte:
http://www.sbs.utexas.edu/bio406d/
images/pics/brm/tillandsia.recurvata.frt.jpg
9) Tillandsia stricta Sol., Bot. Mag. 37: t. 1529. 1813.
Tillandsia stricta (ILUSTRAÇÃO 14) ocorre na Venezuela, Trinidad,
Guiana, Suriname, Paraguai, Uruguai, norte da Argentina e no leste
brasileiro (VERSIEUX, 2008).
Apresenta grande variação morfológica, principalmente em relação ao
porte e conformação da roseta, mas caracteriza-se pela inflorescência
dística, brácteas escapais superiores grandes (cerca de metade do
comprimento da inflorescência) e brácteas florais róseas, elípticas e
aristadas com pétalas azuis. Cresce preferencialmente como epífita,
raramente como rupícola ou saxicola, entre 300 e 1700 m de altitude, nos
mais variados ambientes como florestas da Floresta Atlântica, campos
rupestres e campos de altitude. É comumente encontrada em matas ciliares,
como também em paredões rochosos em formações areníticas. Floresce todo o
ano com uma concentração maior entre agosto e dezembro (LIMA, 2008).
Na reserva ocorre desde 800 a 900 metros, com grandes populações em
palmeiras e ipês, mas somente em bordas de mata e clareiras.
Localização na reserva: 21°44'58.79"S 43°18'43.03"O
Distribuição geográfica: BA, ES, MG, PE, PR, RJ, RS, SC, SP (FORZZA et al.,
2010).
Ilustração 14: Visão geral de Tillandsia stricta. Fonte:
http://www.plantcare.com/oldSite/httpdocs/
images/MM/IMG0650090.jpg
10) Tillandsia usneoides (L.) L., Sp. Pl. (2. ed) 1: 411. 1762.
Tillandsia usneoides (ILUSTRAÇÃO 15) é amplamente distribuída por
toda área de ocorrência da família, desde o sul dos Estados Unidos até a
região central da Argentina e do Chile, inclusive o Brasil (VERSIEUX,
2008).
Apresenta morfologia bastante singular dentre as espécies da família,
constituindo-se de ramificações filiformes que se desenvolvem formando
"cortinas" pendentes sobre os ramos, raramente florescendo e/ou
frutificando. Cresce como epífita em áreas da Floresta Atlântica, como
matas ciliares, bordas de florestas ou em grandes árvores do interior das
matas, além de campos rupestres. Inflorescência concentrada se maio a
novembro (LIMA, 2008).
Na reserva ocorre nas bordas de mata na parte nordeste, leste e
sudeste, nos locais onde são feitos os "aceiros" de proteção da mata em
queimadas.
Localização na reserva: 21°44'22.79"S 43°19'4.96"O
Distribuição geográfica BA, CE, ES, MA, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RS, SC, SP
(FORZZA et al., 2010).
Ilustração 15: Aspecto geral de Tillandsia usneoides. Fonte:
http://www.indoor-plant-care.com/
Plant-list/tillandsia-usneoides/
5 CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos, conclui-se que a disposição das
espécies está intimamente ligada ao fator do habitat em que ocorre, e
grandes populações se encontrarem em locais delimitados por fatores
abióticos, como cursos d'água e a elevação do terreno.
Pode-se observar que a mata apresenta considerável grau de regeneração
em alguns pontos, permitindo o desenvolvimento de número maior de espécies
quando comparado com inventário realizado em outro fragmento do município
realizado no Morro do Cristo. No entanto, é um fragmento extremamente
ameaçado por fatores como a caça ilegal, extração de produtos florestais
clandestinos, poluição, isolamento das espécies de uma porção a outra do
fragmento e a borda irregular, o que aumenta a suscetibilidade a efeitos
externos, que não é compensado pelo tamanho do fragmento.
A criação e manutenção de áreas efetivas que visem à preservação
ambiental são extremamente necessárias como forma de proteger o que ainda
resta da vegetação no país, principalmente em se tratando de Floresta
Atlântica.
Também é necessário um maior empenho de órgãos de segurança e
governamentais, para melhor acompanhamento das áreas não só de risco, mas
de todos os biomas que ocorrem no Brasil, tentando suprimir atividades
ilegais que ocorram devido a ausência de fiscalização.
Mudanças no tipo de UC em que a Reserva Biológica do Poço D'anta está
enquadrada poderia sanar parte dos problemas, como, por exemplo, um plano
de manejo mais flexível e menos burocrático. A própria população do entorno
teria certa "responsabilidade" diferenciada com o local, tendo a
conservação como parte de seu modo de vida.
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