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Máquinas Térmicas
Prof. Carlos Gurgel
Dep. Engenharia Mecânica – FT
Universidade de Brasília
Capítulo IX – Introdução à Combustão.
Relações termodinâmicas para mistura de gases perfeitos.
Mistura de Gás Ideal ( Podemos realizar uma mistura de gases ideais
através de um simples procedimento conforme indicado na Fig. IX-1.
Figura IX-1: Experimento para definição de mistura de gases.
O que acontece se retiramos a membrana que separa os gases A e B?
Intuitivamente, podemos esperar que o único efeito observável é o da
interdifusão das diferentes espécies para, finalmente, formarem uma
mistura homogênea em uma condição que, a princípio, não podemos definir.
Isto é, qual será a temperatura Tmis da mistura e a pressão pmis da
mistura. Contudo, sabemos, com precisão, a massa, ou o número de moles
final desta mistura uma vez que o sistema está isolado (paredes
impermeáveis). É importante se observar que uma mistura de gases perfeitos
se comportará como tal, tendo algumas propriedades ponderadas para a mesma.
Estamos em condições, portanto, de investigar alguns casos mais simples
para os quais podemos relacionar propriedades dos gases originais com as
propriedades finais da mistura. Para tal, introduzimos algumas variáveis.
Em base molar:
xi (fração molar) ( [%]
onde ni é o número de moles da espécie i, e nt é o número total de moles da
mistura.
Em base mássica:
Yi (fração molar) ( [%]
onde mi é o massa (kg) da espécie i, e mt é a massa total da mistura.
Tanto nt quanto mt são obtidos pelo somatório do número de moles dos
constituintes da mistura ou do somatório das massas individuais da mistura,
respectivamente.
Por definição, a soma de todas estas frações, molares ou mássicas, deve ser
unitária.
e .
Vamos agora estudar uma situação proposta por Dalton:
A Figura IX-2 apresenta o modelo proposto por Dalton para o estudo de
mistura de gases perfeitos.
Estabelecidas as seguintes premissas.
e .
Recordando da lei dos gases perfeitos, na forma molar, escrevemos
Sistema A (
Sistema B (
Em comum, tais sistemas possuem V e T, assim obtemos
Figura IX-2: Modelo de Dalton.
Agora, colocamos estes dois gases num terceiro reservatório com o mesmo
volume V dos sistemas A e B e nos certificamos que a temperatura será a
mesma temperatura dos gases antes da mistura.
Qual a consequência disto?
Sendo os volumes iguais, , e mantidas as temperaturas também iguais,
, podemos supor que para tais condições, a pressão do terceiro
reservatório deva ser maior que as originais, mas exatamente quanto? É
natural que a pressão aumente pois para um mesmo volume, mantida a
temperatura constante, estamos aumentando a massa (número de moles) que
deve ser introduzida no reservatório.
Sabemos que para a mistura,
Como a mistura tem comportamento de gás perfeito, podemos escrever
Desta forma,
Com o somatório do número de moles da mistura (conservação de massa)
extraímos a seguinte relação
Simplificando obtemos,
Isto é, a pressão total da mistura é a soma das pressões originais
(parciais) dos componentes.
Agora passemos ao modelo proposto por Amagat.
Neste modelo, tanto a pressão dos gases como as temperaturas são as mesmas.
Porém, os gases ocupam diferentes volumes. Portanto,
e .
Figura IX-3: Modelo de Amagat.
Sabemos que para a mistura,
Como a mistura tem comportamento de gás perfeito, podemos escrever
Desta forma,
Com o somatório do número de moles da mistura (conservação de massa)
extraímos a seguinte relação
Simplificando obtemos,
Podemos isolar o termo nas equações acima obtendo .
As seguintes relações úteis são obtidas
.
Isto é, a fração em volume, a fração molar e a relação entre a pressão
parcial do gás e a pressão total da mistura de gases perfeitos são
numericamente iguais.
Valem, então, as seguintes relações:
Para uma mistura de gases ideais, as propriedades específicas da mistura,
em base molar ou mássica, podem ser obtidas da soma das frações em peso das
propriedades individuais das espécies na mistura.
Por exemplo, para a entalpia dos constituintes em base mássica podemos
escrever que a energia interna e a entalpia de uma mistura são,
A entropia da mistura (base mássica, kJ / kg) é também uma média ponderada
dos constituintes
.
No caso de gases, a entropia de uma espécie está associada a um dado nível
de referência com relação à temperatura e a pressão, portanto,
.
Esta relação é obtida após integração entre dois estados de
.
Logo,
.
Por exemplo, para a entalpia dos constituintes em base volumétrica [ kJ /
kmol] podemos escrever que a energia interna e a entalpia de uma mistura
são,
A entropia da mistura (base mássica) é também uma média ponderada dos
constituintes
.
Exemplo IX-1:
Um vaso de volume 0.4 m3 contém 0.45 kg de monóxido de carbono e 1 kg de
ar, a 15 (C. Calcule a pressão parcial de cada constituinte e pressão total
no vaso. Assuma a composição do ar (análise gravimétrica) como
simplificada, isto é, 23.3% O2 e 76.7% N2.
Pressão parcial dos componentes da mistura.
.
Como, . Logo,
.
Para o O2,
kN / m2.
bar.
Para o N2,
kN / m2.
bar.
Para o CO,
kN / m2.
bar.
A pressão total no vaso é dada por
bar.
Entalpia Absoluta e Entalpia de Formação
Para situações em que o sistema termodinâmico não conserva as espécies
químicas de entrada e/ou iniciais precisamos averiguar se este processo de
criação/destruição de espécies ocorre as custas de energia. Em caso
positivo, precisamos explicitar esta "energia" de reação na primeira lei da
termodinâmica.
Este processo de criação/destruição de espécies é conhecido como reação
química. Porém, é importante destacar que a massa total do sistema deve ser
conservada. Portanto, neste processo, o que se conserva é o número total de
átomos das diferentes espécies químicas (espécies atômicas, como, N, C,
O,…) ao invés das espécies químicas combinadas (CO, CO2, NO, H2O, …).
Por exemplo: Na reação abaixo,
2H2 + O2 ( 2H2O
Podemos contar quatro átomos de hidrogênio e dois átomos de oxigênio no
lado esquerdo em duas espécies químicas diferentes ao passo que no lado
direito da reação identificamos todos estes átomos mas agrupados em um
única espécie.
Basta multiplicarmos as diferentes espécies pela massa molecular que
verificaremos que a massa total do sistema se conserva. Isto é,
2(2.02 + 1(32 = 2(18.02 = 36.04
Com estas observações preliminares podemos agora estudar as
particularidades de sistemas com reação química.
Em certas condições de temperatura e pressão, espécies químicas tendem a
reagir, a diferentes taxas, para formarem outras, digamos, mais "estáveis".
Conforme mencionamos anteriormente, este processo se dá as custas de
energia, ou absorvida ou liberada por uma particular reação. Isto posto,
vamos analisar um caso bem simples, a luz da primeira lei da termodinâmica.
Vamos supor que de posse de uma molécula de oxigênio desejamos obter dois
átomos de oxigênio. Sabemos que existe uma ligação química (força de
atração) entre este dois átomos. Precisamos então quebrar esta ligação
química para obtermos os produtos desejados.
Para isto precisamos realizar trabalho, conforme a ilustração a seguir
indica.
Figura IX-4: Quebra de ligação química.
O trabalho necessário, em base molar, para promover a dissociação molecular
do oxigênio é de 498390 kJ / kmolO2. Como são formados dois átomos de O,
temos então que o trabalho necessário para formarmos 1 átomo de O é
equivalente a 249195 kJ / kmolO. Esta idéia pode ser aplicada para diversas
espécies e teremos então uma base de dados relativa ao trabalho necessário
para formarmos outras espécies de interesse.
A este trabalho, daremos o nome de entalpia de formação. Por convenção,
adotaremos que esta entalpia é nula para os elementos no seu estado
natural, numa dada referência (temperatura e pressão).
Por exemplo, a 1 atm e 25 (C, o oxigênio é encontrado, na forma mais
estável, como uma molécula diatômica (O2). Logo, pela convenção, sua
entalpia de formação será nula.
Conforme apresentado em aulas anteriores, nós aprendemos a calcular a
entalpia sensível de gases por intermédio do calor específico ().
Então, podemos definir uma entalpia absoluta num dado estado de referência
como a soma da entalpia de formação mais a parcela de entalpia sensível, em
base molar, na forma
[kJ / kmol]
A entalpia de formação das espécies químicas mais comuns, bem como a
parcela de entalpia sensível, podem ser encontradas em tabelas de vários
livros textos.
Entalpia de Mistura
Verificamos como obter a entalpia absoluta de uma dada espécie química. Em
sistemas reagentes (combustão) nos deparamos, invariavelmente, com mistura
de gases. É primordial, então, o cálculo da entalpia dos reagentes e dos
produtos, que são, muitas vezes, uma mistura de gases perfeitos.
Sabemos que a entalpia de uma mistura pode ser calculada tanto em base
molar (volumétrica) como em base mássica através de, respectivamente
Exemplo:
Um fluxo de gás a 1 atmosfera, é uma mistura de CO, CO2 e N2 em que a
fração molar do CO é 0,10 e a de CO2 é de 0,20. A temperatura do gás é de
1200 K. Determine a entalpia absoluta em base molar (kJ / kmolm) e em base
mássica (kJ / kgm) e a fração mássica da mistura.
Solução:
Dados
xCO = 0.10 T = 1200 K
xCO2 = 0.20 P = 1 atm.
Precisamos, primeiro, determinar a fração molar do nitrogênio. Lembrando
que
(xi = 1
xN2 = 1 – (xCO2 + xCO ) = 1 – (0.10 + 0.20) = 0,70
.
De posse de uma tabela apropriada, retiramos os valores da variação de
entalpia sensível. Também, retiramos os valores das entalpias de formação
para cada uma das espécies.
.
kJ / kmolm
Para encontrarmos este valor em base mássica precisamos ponderar a mistura
com relação ao seu peso molecular.
kg / kmolm
kJ / kgm
Para o cálculo das frações mássicas a partir das frações molares,
utilizamos a formulação,
Devemos providenciar sempre um conferência destes resultados
, conforme esperávamos.
Vamos agora estender nosso estudo aos casos em que efetivamente
identificamos transformação dos constituintes (reações químicas).
Reações Químicas - Estequiometria
Definimos estequiometria como a condição em que se encontra a mistura
reativa para o qual, a quantidade de oxidante é tal que nos produtos não
encontramos o próprio oxidante nem traços do combustível. Por exemplo: na
queima estequiométrica de um hidrocarboneto (CxHy) qualquer, todo o carbono
deve ser convertido em CO2 e todo o hidrogênio dever ser convertido em H2O
para qualificarmos esta queima como estequiométrica.
Se a mistura reagente contém mais oxidante do que o valor sugerido pelo
estequiometria, dizemos que a mistura é pobre em combustível, ou
simplesmente mistura pobre. Por outro lado, se a mistura contém mais
oxidante do que a quantidade sugerida pela estequiometria, dizemos que a
mistura é rica em combustível, ou simplesmente mistura rica. Isto, em
alguns casos, pode causar certa confusão. Portanto, devemos seguir
rigorosamente a seguinte análise. Verifica-se a quantidade de oxidante na
mistura. Calcula-se a quantidade estequiométrica e compara-se as duas.
Sendo a quantidade real menor que a estequiométrica, significa que não
queimaremos todo o combustível, portanto a mistura está com excesso deste
último, que na nossa nomenclatura significa que a mistura é rica em
combustível. Em caso contrário, quando a quantidade de oxidante for maior
que a quantidade estequiométrica, concluímos que todo o combustível será
queimado mas ainda dispomos de oxidante nos produtos. Para este caso
dizemos que a mistura está pobre em combustível.
Vamos considerar a seguinte reação:
CxHy + a(O2 + 3,76N2) ( xCO2 + (y/2)H2O + 3,76aN2
Em primeiro lugar, verificamos que o oxidante empregado na queima deste
hidrocarboneto genérico é o ar atmosférico. Este é constituído, em base
volumétrica, de 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio para efeitos práticos.
Se estabelecermos que a mistura do ar contem 1 mol de oxigênio,
consequentemente, esta deverá possuir 3,76 moles de nitrogênio.
Da reação acima, podemos concluir que a = x + y/4.
Definimos agora uma razão estequiométrica ar-combustível como
Podemos ainda utilizar esta razão para definirmos se uma mistura é rica ou
pobre. Basta compararmos a razão estequiométrica com a aquela que foi
empregada na queima. Para isto, introduzimos um novo parâmetro conhecido
como razão de equivalência.
Assim, pela nossa definição de mistura rica (oxidante em falta) verificamos
que a razão de equivalência será maior que a unidade ((>1), e para misturas
pobres ((<1). Obviamente (( = 1 ) para misturas estequiométrica.
Outro parâmetro frequentemente utilizado é a porcentagem de ar
estequiométrica
ou ainda porcentagem de excesso de ar
Exemplo IX-2:
Uma pequena turbina a gás de baixa emissão (poluentes) opera em carga
máxima (3850 kW) com uma razão de equivalência de 0,286. O fluxo mássico de
ar é de 15,9 kg/s.
A turbina queima gás natural cuja forma molecular equivaleria a C1.16H4.32.
Determine o fluxo mássico de combustível e a razão de ar combustível de
operação (real) da turbina.
Dados:
( = 0.286
kg/s
Determine: , (A / F)
Primeiro determinamos (A / F) utilizando o conceito de estequiometria, da
seguinte forma
O coeficiente estequiométrico a pode ser obtido com a fórmula apropriada
Como o valor de (A / F) relaciona os fluxos reais de operação da turbina,
podemos obter a taxa de consumo de combustível.
kg / s
É importante notar-se que mesmo quando a turbina opera em regime de carga
máxima, uma grande quantidade de excesso de ar é utilizado na queima.
Exemplo IX-3:
Uma caldeira industrial opera com uma concentração de oxigênio nos gases da
chaminé de 3% (volume). Determine a razão ar combustível e a razão de
equivalência de operação desta unidade. Trate o gás natural como sendo
unicamente metano.
Dados:
xO2 = 0.03
Determine:
(A / F), (
Como oxigênio está presente nos gases de chaminé (pós queima), precisamos
rescrever a reação de queima.
CH4 + a(O2 + 3,76N2) ( CO2 + 2H2O + 3,76aN2 + bO2
Os coeficientes do CO2 e do H2O estão definidos pelo balanço do carbono e
do hidrogênio, respectivamente. Precisamos determinar os coeficientes a e b
pela conservação de oxigênio atômico.
Assim,
ou
Sabemos que a fração molar do oxigênio nos produtos da combustão é dada por
Como conhecemos o valor da fração molar do oxigênio () obtemos
O que nos fornece a = 2.368.
Desta forma,
Para encontrarmos ( precisamos de (A / F)est .
Para a queima estequiométrica b precisa ser nulo (b = 0). Então, a = 2.
Portanto,
Consequentemente,
Entalpia de Reação, de Combustão e Energia Interna de Combustão
Verificamos como obter a entalpia absoluta de uma dada mistura de gases. Em
sistemas reagentes podemos definir entalpia de reação ou de combustão
quando estas reações são de combustão. Para isto vamos nos reportar ao
esquema abaixo.
Figura IX-5: Reator operando em regime permanente.
Vamos considerar um reator operando em regime permanente (Fig. IX-5). A
condição de entrada da mistura é a um certo estado especificado. Assumindo-
se que as reações no volume de controle são exotérmicas, a igualdade na
temperatura e pressão entre os reagentes será obtida semente se calor for
retirado ( - Qvc) do volume de controle. Obviamente, no caso reações
endotérmicas teríamos que adicionar calor para manter esta igualdade. Vamos
estabelecer, por agora, que os reagentes e os produtos estão no estado
padrão (25 (C, 1 atm). Sabemos ainda que a entalpia absoluta de um gás é
determinada pela somada entalpia de formação com a entalpia sensível entre
o estado padrão e a temperatura em que se encontra o gás. No caso
particular em que a temperatura dos gases coincide com a temperatura
padrão, nós concluímos, prontamente, que a parcela de calor sensível que
contribui para a entalpia absoluta será nula. Portanto, o calor que é
liberado numa reação deve estar intimamente relacionado com as entalpias de
formação dos reagentes e dos produtos. Matematicamente, podemos
quantificar este calor liberado com o emprego da primeira lei em processos
cujo regime é permanente.
Como o trabalho é nulo,
.
Desta forma,
.
Este calor será definido como entalpia de reação ou combustão ().
Logo,
Figura IX-6: Entalpia de reação.
Este processo, onde surge a entalpia de combustão, pode ser visualizado num
gráfico de entalpias absolutas, conforme ilustrado a Fig. IX-6.
Consistente com a premissa de que se a reação for exotérmica calor deve ser
liberado para o ambiente, verificamos que a curva de entalpia dos produtos
situa-se abaixo da dos reagentes.
Exemplo IX-4:
Calcule a entalpia de combustão (kJ) num processo onde 1 kmol de metano
reage estequiometricamente com ar. Assuma que tanto os reagente como os
produtos estão no estado padrão.
Sabemos que numa reação estequiométrica,
. Para o metano, x = 1 e y = 4. Portanto, a = 2.
kJ / kmol.
Para os produtos,
kJ/kmol.
As parcelas de entalpia sensível são nulas pois estamos no estado padrão.
Para 1 kmol de metano,
kJ.
No exercício anterior, poderíamos estar interessados na entalpia de
combustão por cada kg de metano.
.
Portanto,
kJ / kgCH4.
Podemos ainda, converter este valor onde a base mássica é a mistura
reagente.
.
.
Sabemos que a razão ar combustível estequiométrica na queima do metano é
17.11, temos
.
A entalpia de combustão é largamente utilizada em processos de queima onde
a pressão é constante, por exemplo, em caldeiras. Em turbinas a gás e de
aviação, o nível de pressão é mais elevado mas o processo de queima também
ocorre isobaricamente. No caso de motores a combustão interna, a
propriedade que se conserva é o volume específico, uma vez que a queima
ocorre a volume constante. Portanto, não podemos utilizar o mesmo esquema
apresentado na Fig. IX-5, contudo, estamos possibilitados de introduzir uma
variável correspondente chamada de energia interna de combustão. Esta, é
definida como a variação de energia interna entre os estados finais e
iniciais num processo a volume constante. Matematicamente,
.
.
.
Poder Calorífico ou Calor de Combustão.
Freqüentemente precisamos comparar diferentes combustíveis com relação à
taxa de calor que estes podem nos fornecer num processo reativo. Isto
implica num interesse específico num processo de adição de calor para um
dado fluido de trabalho. Em outras palavras, estamos interessados em
quantificar o calor liberado por massa de combustível (1 kg) num processo
reativo exotérmico. Desta forma, sendo, por convenção, positivo o calor que
é adicionado ao sistema (fluido de trabalho) significa que o calor de
combustão será numericamente igual à entalpia de reação com o sinal
contrário. Este enfoque reflete o nosso sistema de interesse que, agora,
não é onde está ocorrendo a queima e sim, para onde o calor desta queima
está fluindo.
Poder Calorífico Superior e Inferior
Sabemos que a água necessita de grandes quantidades de calor na mudança de
fase líquido ( gás. Também sabemos que o hidrogênio contido num
hidrocarboneto é transformado em água num processo de queima com oxigênio.
Este vapor de água, em função das altas temperaturas dos produtos da
combustão encontra-se superaquecido. Na medida em que calor é transferido
para o fluido de trabalho, a temperatura dos gases de combustão diminui
podendo chegar ao valor correspondente ao ponto de orvalho na pressão em
que estes se encontram. Devemos lembrar que qualquer retirada de calor
deste sistema ocorrerá a pressão e temperatura constantes até que toda a
mistura vapor de água, gases e líquido alcance a linha de líquido saturado
(água). Se a quantidade de vapor de água ao final da queima do
hidrocarboneto é substancial, maior será a parcela de calor contida neste
processo de condensação (calor latente). Desta forma, num processo de
queima, precisamos informar em que estado se encontrará a água nos
produtos. Obviamente maior será o calor disponível quanto mais
aproveitarmos este calor latente. Por outro lado, na maioria dos
equipamentos, evita-se condensação interna para que as partes metálicas em
contato com os produtos não sofram corrosão.
O poder calorífico de um combustível será, portanto, diferente se a água ao
final do processo de transferência de calor se encontra na fase de vapor ou
líquido. O poder calorífico é dito superior se a água deve ser considerada
como líquido no final do processo. Com menor transferência de calor será o
caso em que a água estará no estado de vapor, acarretando a utilização
apenas do poder calorífico inferior do combustível. Por exemplo, a
diferença entre o poder calorífico inferior e superior do metano é da ordem
de 11%.
Exemplo IX-5:
Para a reação abaixo, determine o poder calorífico superior e inferior do
combustível. Assuma reagentes e produtos no estado padrão.
C10H22 + 15,5(O2 + 3.76N2) ( 10CO2 + 11H2O (l ou g) + 15.5 (3.76)N2
Para ambos, poder calorífico inferior e superior, vale, em base molar
Devemos focar atenção à entalpia dos produtos onde a água pode estar na
forma de vapor ou líquido.
kJ / kmol
Empregando-se estes valores e de posse das entalpias de formação das outras
espécies temos,
kJ / kmol
Com a massa molecular do C10H22 (142.284 kg / kmol), podemos converter este
valor para a base mássica.
kJ / kgC10H22
Para o caso inferior,
kJ / kmol.
Isto nos forneceria,
kJ / kgC10H22
Temperatura da Chama Adiabática
Duas temperaturas de chama adiabática são definidas, uma para processos a
pressão constante e outra a volume constante. Sendo a chama adiabática,
nenhum calor é transferido para a vizinhança. Portanto, a entalpia absoluta
dos produtos deve se igualar a entalpia dos reagentes, num dado estado
inicial, por exemplo, 1 atm 25 (C.
Sendo o processo a pressão constante tem-se
A Figura IX-7 ilustra a temperatura de chama adiabática num processo a
pressão constante.
Figura IX-7: Temperatura de Chama Adiabática.