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Lectorium Rosicrucianum

A Rosacruz está ligada à corrente gnóstica. A Gnosis (do grego gnosis) é o conhecimento superior que incita o homem a descobrir em si mesmo a centelha de Espírito pela qual ele pode se voltar para o absoluto. Marcada pelo pensamento hermético que deu origem a tantas filosofias libertadoras, escolas de pensamento e movimentos espirituais, a corrente gnóstica é a base de toda a vida espiritual do Ocidente e do Oriente Médio. Ela ilumina todas as grandes civilizações. Essênios, cristãos gnósticos, cultos dos mistérios,...

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Escola Internacional da Rosacruz Áurea Uma Introdução LECTORIUM ROSICRUCIANUM 1 Conteúdo PARTE 1 A busca do sentido da vida A dupla natureza do ser humano As duas ordens de natureza A ponte entre o tempo e a eternidade PARTE 2 A essência da religião O caminho universal O Santo Graal PARTE 3 As duas ordens de natureza A nossa ordem de natureza – o mundo da “dialética” A ordem de natureza divina original Por que existe a ordem de natureza dialética? A queda A tarefa da humanidade O despertar da centelha divina PARTE 4 O ser humano como microcosmo O firmamento microcósmico O campo de respiração Os corpos sutis A semente divina O caminho da experiência PARTE 5 O “santo anelo” O processo de transfiguração A escolha diante de nós A cruz áurea da ressurreição Isto pode mesmo ser realizado? 2 PRIMEIRA PARTE A busca do sentido da vida Por que e para que existem os seres humanos? Qual é a verdadeira finalidade da existência humana? Talvez você não esteja satisfeito com as respostas convencionais a essas perguntas e se sinta impulsionado por um anelo interior muito profundo a encontrar esse “algo” indefinível que lhe faz falta. Talvez você possa lhe dar um nome. Você diz que quer descobrir o que é realmente experimentar a união consciente com Deus ou quer se tornar uma pessoa mais humana e mais compreensiva. Talvez queira ajudar a mudar o mundo ou apenas encontrar a paz interior e a felicidade duradoura. Talvez nem consiga dar um nome ao que anda buscando, mas sabe que é algo, e que tem de encontrá-lo. Esse impulso para encontrar esse “algo” pode ser bastante forte, o suficiente para fazê-lo sair da vida habitual que muitas outras pessoas parecem desfrutar e levá-lo a uma busca que já pode tê-lo conduzido a bibliotecas, cursos, trabalhos, grupos e todo o tipo de experiências. Às vezes você se sente como se estivesse se aproximando de sua meta, porém, justamente quando parece que esse algo está quase ao seu alcance, escapa outra vez de suas mãos. E, assim, você segue adiante e continua tentando. Se você também está envolvido nessa busca, então os ensinamentos da Rosacruz Áurea podem lhe servir de ajuda. Porém, é preciso ressaltar que o que se ensina na Escola Internacional da Rosacruz Áurea não deve ser aceito “baseando-se em uma autoridade”. Ao contrário, o propósito é despertar a consciência de algo que, interiormente, você já conhece, apesar de, pelo menos temporariamente, tê-lo esquecido. Quando essa fonte de sabedoria despertar em seu interior e você aprender a escutá-la e a seguir suas indicações, o caminho da libertação estará amplamente aberto. Desse modo, poderemos nos tornar mananciais de água viva em beneficio do próximo. Deixe-nos explicar o que queremos dizer. A dupla natureza do ser humano Em primeiro lugar, existe um ensinamento fundamental da Rosacruz que, à primeira vista, pode parecer elementar, mas que, na realidade, é decisivo em nossa busca do sentido da existência. Essa noção, se compreendida e trabalhada diariamente, pode ajudar-nos enormemente a purificar e a dinamizar o impulso de busca que vai nos conduzir à meta. A Rosacruz ensina-nos que a razão de nossa busca, ou seja, o anelo por verdade, perfeição, cura e amor absoluto, não nasce em nós naquilo que costumamos chamar de “eu”, ainda que assim possa 3 nos parecer. Nossa sede do absoluto origina-se de um princípio eterno latente em nós. Esse princípio eterno é completamente distinto do “eu” ou “ego” e permanece em um estado mais ou menos intacto na maioria das pessoas. Os rosacruzes chamam a esse princípio de eternidade de “rosa”, que também é conhecido por “centelha divina”, “átomo centelha do espírito”, “o Cristo”, “a pérola de grande valor”, “a jóia preciosa do lótus”, e outros nomes. As duas ordens de existência Esse primeiro fundamento dos rosacruzes leva-nos ao segundo: a rosa - o princípio eterno latente no coração – está sujeita a um conjunto de leis, enquanto que o restante de nosso ser está sujeito a outro. Chamamos a esses dois conjuntos de leis de “duas ordens de natureza”. À exceção da rosa, todo nosso ser é um produto desta natureza, sujeito totalmente às leis do tempo e do espaço. Por essa razão, nós mesmos nunca podemos conseguir nada de absoluto e duradouro, pois nossas criações sempre estão sujeitas a um fim e à temporalidade. A rosa, ao contrário, como princípio de eternidade latente em nós, está sujeita às leis da eternidade. Por essa razão, se quisermos transcender ao espaço e ao tempo, se quisermos alcançar o Absoluto, o Eterno, devemos reconhecer que nunca poderemos fazê-lo com a parte temporal de nosso ser, tal como é neste momento. Se quisermos satisfazer nossa sede do Absoluto, teremos de começar por “deixar-nos de lado” no que se refere a nossa consciência egocêntrica corrente e permitir que se desenvolva o princípio eterno latente em nós, para que ele, pouco a pouco, predomine em nosso sistema. Uma ponte entre o tempo e a eternidade Na qualidade de escola gnóstica, a Escola Internacional da Rosacruz Áurea ajuda e apóia os alunos em seus esforços para modificar sua consciência egocêntrica, estabelecida como um rei em seu interior, e por colocá-la em seu devido lugar: o de “servidora” do verdadeiro Eu interior em crescimento, o Cristo interior, a rosa. Essa rosa interior recebe na Escola, todo o sustento de que necessita para crescer. Se o aluno coopera e persevera no processo, a rosa desabrocha e floresce cada vez mais: torna-se uma fonte interior de luz e amor que irradia seu perfume e esplendor em benefício de tudo e de todos. A seguir, abordaremos aspectos fundamentais da compreensão Rosacruz de como se pode abrir essa fonte do eterno em nós. 4 SEGUNDA PARTE A essência da religião Os ensinamentos ministrados pela Escola Internacional da Rosacruz Áurea não são novos. O método para revivificar a rosa – o ser divino original – pode ser encontrado na essência de todas as grandes religiões do mundo. Não obstante, nós, seres humanos, em quem predomina o eu egocêntrico, somos propensos a mal-entendidos, porque tendemos a interpretar os ensinamentos da religião como se estivessem destinados à comum consciência-eu. Desse modo, desvirtuam-se as mensagens relativas ao caminho espiritual, e a verdade original é esquecida com o passar do tempo. O caminho universal Em todas as grandes religiões mundiais encontramos a idéia de que, no começo, os seres humanos tinham uma união perfeita com sua origem, com o Absoluto, com Deus. Quando perderam essa união, tornaram-se criaturas duais em um mundo separado de Deus, sendo então incapazes de viver no Mundo da Luz original. Os ensinamentos originais que estão por trás de todas as religiões, descrevem um caminho de retorno a esse Mundo da Luz, um método para restabelecer nossa união com a Divindade. Compreendamos aqui a palavra “religião”, que provém do latim religare, como, re-ligar, voltar a unir. Essa possibilidade de restabelecer nossa união com a Divindade está belamente descrita, por exemplo, no antigo texto egípcio denominado Corpus Hermeticum: Foi da vontade Dele que a ligação com o Espírito estivesse ao alcance de todas as almas, como prêmio da corrida. Ele enviou para baixo uma grande Cratera cheia de forças do Espírito e um mensageiro com a ordem de proclamar aos corações dos homens: “Imergi-vos nesta Cratera, vós almas que podeis fazê-lo; vós que acreditais e confiais que ascendereis até Ele que mandou este Vaso de Mistura; vós que sabeis para que objetivo fostes criados”.* O Santo Graal O prêmio é a imersão, a purificação, o batismo pela Água e pelo Espírito no Vaso de Mistura, a Cratera, o Santo Graal. Este Vaso, este Santo Graal, pleno de todas as forças e possibilidades necessárias para nosso retorno ao Mundo da Luz, existe realmente. Sempre existiu e continuará existindo enquanto houver um ser humano que não tenha encontrado ainda o caminho de volta à sua Pátria. Todavia, ele não existe tanto como forma, mas principalmente como vibração e, por causa de sua pureza, não pode ser tocado nem maculado pelo eu inferior egocêntrico. * Rijckenborgh, J.v., A arquignosis egípcia, t.2, São Paulo, Lectorium Rosicrucianum, 1986, cap. 19. 5 Essa é a razão pela qual os rosacruzes clássicos disseram, em seu manifesto, a Fama Fraternitatis R.C., publicado no ano 1614: Por isso nosso Edifício, ainda que tenha sido visto de perto por milhares de pessoas, permanecerá sempre intacto, indestrutível, invisível e totalmente oculto para o mundo ímpio. Assim, pois, há um poder divino, com cuja ajuda o ser espiritual latente em nós pode ser devolvido à vida. Desse modo é restabelecida a união do homem com o Absoluto. Esse poder divino – o poder do Espírito, o “Tao”, como o denomina a Gnosis Chinesa, está disponível abundantemente para todos. Não obstante, o acesso a ele é um dos mais profundos mistérios da vida, porque não é possível aproximar-se dele com nenhuma das faculdades ou qualidades do eu egocêntrico, por mais elevadas que elas sejam ou possam parecer. A ciência que possibilita a atuação desse poder em nós, a fim de que o Ser original verdadeiro possa crescer, e o eu da ilusão – o eu egocêntrico – possa ser purificado até tornar-se silencioso, é ensinada na Escola Internacional da Rosacruz Áurea. 6 TERCEIRA PARTE As duas ordens de natureza Após fazermos uma breve descrição de alguns dos fundamentos da Filosofia Rosacruz nas cartas anteriores, gostaríamos de detalhar certas idéias. A primeira é o conceito de duas ordens de existência, dois sistemas distintos de leis e condições a que chamamos de “as duas ordens de natureza”. Se pudermos compreender como funcionam esses dois sistemas, certamente se nos tornará clara a razão pela qual nossa busca por valores absolutos – verdade, amor puro, sabedoria absoluta – até agora não teve êxito. Nossa ordem de natureza – o mundo da “dialética” Comprovamos pelos nossos sentidos que tudo o que vem à existência no nosso mundo se converterá, um dia, em seu contrário. Esse constante intercâmbio de contrários é a essência fundamental do mundo. Em nosso anelo por valores absolutos – paz duradoura, amor e verdade – tendemos, com freqüência, a nos esquecer desse fato irrefutável. Todavia, uma observação cuidadosa é suficiente para nos dizer: tudo o que passa a existir vai um dia desaparecer; tudo é transitório, nada é absoluto. Pensemos nisso por um momento: nada do que somos, fazemos ou acreditamos vai perdurar. Cedo ou tarde tudo se deteriorará e voltará a seu lugar de procedência. Somos criaturas transitórias num mundo em constante transformação. Já começamos a envelhecer mal abandonamos o ventre materno. Nada é perfeito em nosso mundo. Nada é perene. Mudança e morte são as únicas leis com as quais podemos contar de modo absoluto. Elas nos governam implacavelmente, como as paredes de uma prisão. Este fato foi confirmado por Lao Tsé, Buda e todos os grandes mestres religiosos. Nunca lhe pareceu estranho que, apesar da inexorabilidade da imperfeição, da mudança e da deterioração, continuemos ansiando por uma vida perfeita? Você nunca se perguntou como é possível, em vista de todos os fatos da vida, os seres humanos terem noção de valores absolutos? Como entrou em nossos pensamentos a idéia do absoluto, da perfeição? De onde ela veio? Podemos ter certeza de que essa idéia não procede do mundo que vemos ao nosso redor. Sem dúvida, um dia cada um de nós morrerá, não obstante mantenhamos com relação a isso uma conspiração de silêncio, uma fantasia compartilhada, na qual vivemos nossas vidas como se não existisse a morte! E se você já experimentou alguma vez a perda de um ente próximo, talvez tenha observado que existe uma parte sua que nunca aceitará que essa pessoa tenha ido, independentemente das crenças que possa ou não ter em uma vida futura. De onde recebemos esse constante e veemente anelo pelo duradouro, pelo 7 absoluto, quando toda a evidência dos nossos sentidos nos indica que eles não existem? Pois bem, o conceito de “duas ordens de natureza” oferece uma resposta a essa pergunta. Na Escola Internacional da Rosacruz Áurea, chamamos a ordem de natureza em que vivemos de mundo da “dialética”. Utilizamos a palavra “dialética” porque a característica dessa natureza é a de que os opostos se encontram em constante alternância. Esse “mundo dialético” compreende não somente o aspecto material visível ao nosso redor, mas também o aspecto material, porém invisível, no qual habitam nossos corpos sutis durante o sono e também após a morte. A ordem divina original Além deste mundo dialético, porém ocupando o mesmo espaço, existe outra ordem de natureza completamente diferente e vibratoriamente apartada dele. Essa segunda ordem de natureza é caracterizada pela perfeição, pelo absoluto, pela eternidade. Os rosacruzes chamam essa segunda ordem de natureza de “reino imutável”, porque nele não existe a dualidade nem a alternância dos opostos. Existem somente crescimento e desenvolvimento eternos, de força em força e de glória em glória. Assim, pois, os valores eternos, a verdade absoluta, a liberdade e o amor pelos quais anelamos existem realmente, porém não em nosso mundo, não no mundo ao qual pertencemos, não no mundo dialético. Por que existe a ordem natural dialética? Para compreender por que existe este mundo dialético, serve-nos de ajuda recordar que a Criação se realiza de acordo com um Plano. A Escola Internacional da Rosacruz Áurea chama-o de Plano Divino. Podemos imaginar o plano divino fluindo como uma corrente de água que segue uma determinada direção, em um determinado momento, com um destino concreto. Quando uma criação inicia seu período de maturidade é dotada de livre arbítrio e, portanto, é capacitada a entrar ou a sair da corrente de acordo com sua própria vontade, reunindo experiências ao longo do caminho. Enquanto a criação continuar voltando à corrente, permanecer e colaborar em harmonia com ela, haverá correspondência dinâmica entre criação e corrente, e tudo irá bem. Porém, o que ocorre se, por meio do livre arbítrio, uma criação deseja manter-se a si mesma permanentemente em desarmonia com a corrente da idéia divina? Procuremos responder de maneira lógica a essa pergunta: Imaginemos o que sucede, usando ainda a analogia da corrente de água. Se uma criação tenta excluir-se do fluxo da corrente divina, porque quer reter algum aspecto dela e mantê-lo permanentemente em lugar de deixar que flua, somente pode fazê-lo cristalizando-se, tornando-se uma pesada pedra na água. Assim, depois de estar cristalizada e de ter-se condensado fazendo-se mais pesada, já não pode mais experimentar os efeitos transportadores e auxiliadores da corrente. Ao contrário, experimentará seu fluxo como uma série de sacudidas, como o experimenta uma obstrução colocada no fluxo da água. 8 Essa é uma imagem muito sucinta de como passaram a existir duas ordens de natureza: a ordem de natureza divina, onde são experimentados, em contínuo desenvolvimento, os efeitos auxiliadores, transportadores da corrente divina, e o mundo que conhecemos, onde são experimentados os efeitos corretivos da corrente divina para que nada possa durar e tudo seja devolvido constantemente a seu ponto de partida. A queda Podeis ver, agora, que a criatura que está sujeita ao segundo sistema de leis, o sistema corretivo, isola-se do mundo em que opera o primeiro sistema de leis, o mundo divino? E podeis compreender que tal criatura que se tenha desviado de seu plano subjacente, permanecerá isolada da ordem de natureza a que pertencia originalmente até que, por sua própria vontade, decida regressar ao plano divino? A filosofia universal ensina que, em passado remoto, um grupo de entidades que pertencia à onda de vida humana decidiu, por livre-arbítrio, desviar-se do plano que conduzia sua existência. Desse modo, isolaram-se da ordem de natureza divina e ficaram confinados na ordem de existência dialética. O resultado foi que, com o passar do tempo, atrofiaram-se todas as faculdades que utilizavam enquanto ainda estavam unidos ao primeiro sistema de leis, o divino. Caíram em um estado inativo, latente, de sono, mas não de morte, porque eram criaturas eternas. A tarefa da humanidade Se nos acompanhastes até aqui, podereis ver, com vosso olho da mente, as centelhas adormecidas da humanidade divina decaída como sementes incapazes de viver, porém incapazes também de morrer. Que poderia ser feito para resgatar essas criaturas dormentes? Que poderia ser feito para devolvê-las de novo ao estado de verdadeira vida? Para essa tarefa é necessário consciência e vontade, porém as criaturas divinas decaídas não tinham mais, em seu estado de dormência, nem consciência nem vontade. Como readquiri-las, então? Pois bem, os rosacruzes ensinam que a raça humana, tal como a conhecemos, foi criada precisamente para tal finalidade, para que atuasse, consciente e voluntariamente, como servidora do trabalho de restabelecimento da criatura divina original. Esta é a tarefa, a vocação de todo ser humano. E, se o conseguirmos, também nós poderemos participar da vida eterna. Como seres mortais, não somos essa criatura divina, mas a trazemos dentro de nós como uma centelha adormecida. E depende de nós permitir que esse princípio inativo volte de novo à vida e regresse de seu estado de exílio ao mundo divino, ao seu lar, à “casa do Pai”. 9 O despertar da centelha divina A razão pela qual anelamos pelo absoluto, pela verdade, pelo divino, se nos mostra agora claramente. Como dissemos na Primeira Parte, esse anelo não tem origem em nós mesmos, criaturas sujeitas ao espaço-tempo, mas sim em nossa centelha divina latente. É esse princípio santo que anela por seu lar perdido, pela ordem de existência divina que um dia conheceu e habitou. Esse anelo, que, como talvez você já tenha experimentado, pode converter-se em fome e sede avassaladora, representa os primeiros indícios de atividade da centelha divina adormecida dentro de nós. Assim, essa inquietação interior, esse desejo que talvez o motive a ler esta introdução, é de fato, a faculdade mais importante que um pesquisador do caminho espiritual pode possuir: é o “fio de Ariadne”. Se você reagir a ele de forma correta, ele o conduzirá para fora do labirinto. É possível que a centelha divina, a “bela adormecida”, não esteja totalmente desperta, porém se agita em seu sono e isso é um sinal de vida! E, onde há vida, há esperança! 10 QUARTA PARTE “O ser humano como microcosmo” Agora, gostaríamos de descrever brevemente o sistema de veículos humanos segundo a Filosofia Rosacruz, para que tornar claro o papel da centelha divina no conjunto do sistema corporal. Na Escola Internacional da Rosacruz Áurea, o ser humano não é visto somente como um corpo físico. Na realidade, o ser humano é um “microcosmo”, ou seja, um cosmo em miniatura. O firmamento microcósmico A parte mais externa do microcosmo humano, que nos rodeia como uma casca de ovo, consiste em um campo magnético que chamamos de “lípika” (esta palavra significa, em grego, escriba, o que escreve). A lípika pode ser compreendida como o lugar onde estão inscritas todas as vicissitudes do passado microcósmico em forma de pontos magnéticos, como se fossem estrelas. É o “céu” de nosso próprio cosmo em miniatura, nosso próprio zodíaco pessoal. Esses pontos magnéticos atuam como filtros que deixam entrar do cosmo para o microcosmo somente aquelas energias que se sintonizam com ele. Na maioria das pessoas, esses pontos magnéticos estão sintonizados apenas com a ordem de existência dialética, o universo da separação e da morte. O campo de respiração Dentro da esfera magnética há um espaço chamado “campo de respiração”. Esse espaço é preenchido por linhas de força magnéticas que ligam os pontos magnéticos da lípika ao corpo material da personalidade mortal e temporal, que somos nós. Os corpos sutis Como é amplamente reconhecido atualmente, o conjunto da corporeidade material não somente consta do corpo físico que podemos ver e tocar, mas também de corpos sutis. No ser humano atual existem, ao todo, quatro corpos materiais que se interpenetram, sendo, porém, que eles têm diferentes graus de sutileza. Desse modo, nosso corpo material visível está penetrado e rodeado, em primeiro lugar, pelo corpo vital ou etérico que guia e controla os processos vitais que se desenvolvem no corpo material. Interpenetrando os corpos etérico e material, e estendendo-se a certa distância além deles, está o corpo astral. Nesse corpo, nossos desejos e emoções e nossos sentimentos de atração e repulsão se manifestam e são irradiados para o exterior. Em seguida, encontramos o corpo mental, que se concentra principalmente em torno da cabeça e participa na atração e na repulsão de todas as forças que têm 11 a ver com nossos processos de pensamento. Entretanto, esse corpo não está realmente maduro na maioria dos seres humanos, de modo que, no que se refere a eles, não é ainda possível falar de um “corpo” mental. A centelha divina Por último, existe um aspecto do microcosmo a que nos referimos anteriormente: a rosa do coração, ou centelha do espírito. Essa rosa do coração está situada exatamente no centro do microcosmo, em um ponto que coincide com a parte superior do ventrículo direito do coração. A rosa do coração – último vestígio no microcosmo de seu estado divino original – não é afetada pelas forças que atuam na ordem de natureza dialética, o mundo do tempo e do espaço. Ela só pode reagir às forças da ordem de natureza divina original. Assim, pois, até que possa ser tocada pelas forças divinas, permanece adormecida, latente como uma semente. E, como uma semente, a rosa do coração contém todo o projeto, toda a matriz do microcosmo divino original. Apenas espera que o Sol divino chegue a ela, e então, com a cooperação da personalidade humana, será capaz de desabrochar, e o microcosmo poderá ser restituído gradualmente a seu estado divino original. Mas muita coisa deverá acontecer antes que a personalidade queira esse processo e assim permita que a luz divina alcance a rosa do coração. O caminho da experiência Em nossas vidas, acumulamos experiências, muitas delas dolorosas, e depois morremos. Quando morre o corpo físico, também os corpos sutis se dissolvem gradualmente após um certo período de tempo, ficando somente a síntese das experiências vividas, gravadas na lípika. Então, o microcosmo adota um novo sistema de veículos materiais mediante o processo do nascimento. Esse é o ciclo do nascimento e morte, que segue continuamente, existência após existência, até que, pouco a pouco – através de inúmeras experiências – nossa consciência e nossos desejos sejam purificados. Finalmente começa a nascer em nós o reconhecimento de que o anelo mais profundo de nossa alma não se aliviará nem com o maior tesouro que possamos encontrar neste mundo. Também pode nascer em nós a suspeita de que nossos mais profundos momentos de alegria não pertencem em absoluto ao que estamos acostumados a chamar de “eu”, mas sim a algo muito superior, e aí, por fim, estamos ante o desconhecido, com as mãos abertas e vazias. Nada mais esperamos do “eu” egocêntrico nem de seu mundo. A partir desse ponto é que nos dispomos realmente a ser ajudados. 12 QUINTA PARTE O “santo anelo” Quando a alma chega a esse ponto de abertura, é muito importante compreender que nossos anelos por perfeição, amor, bondade, etc., não surgem, definitivamente, da consciência egocêntrica, mas sim do último vestígio do divino em nós, a rosa do coração. Por isso, quando o coração envia ao exterior seu puro grito por auxílio, quando expressa seu santo anelo, sua sede divina, não tentemos apaziguá-lo com vinagre, ou seja, com todas as técnicas e paliativos do mundo. Nosso eu egocêntrico deve permanecer silencioso, e nesse silêncio ouvem-se somente três simples palavras: “Seja feita a Tua vontade”. Estas são as palavras libertadoras. Quando, havendo esgotado todas as possibilidades que acreditávamos ter, deixamos finalmente de lutar e nos rendemos ao Ser Divino em nós; quando estamos plenos de um só desejo, expressado pelas palavras: “Seja feita a Tua vontade”, é como se aparecesse uma porta onde antes havia somente uma parede de rocha nua. Assim, agora se abre novamente o caminho que nos leva adiante. Os rosacruzes chamam esse caminho de “transfiguração”. O processo de transfiguração O processo de transfiguração é muito mais que um processo metafísico ou místico. É um processo muito real e estrutural. Com freqüência tem sido chamado de processo alquímico. Para termos uma idéia de como se produz esse processo tão radical no sistema humano, é preciso recordar que o corpo humano – com seus corpos material, etérico, astral e mental – mantém-se vivo, introduzindo e assimilando em seu sistema substâncias que têm também seus componentes material, etérico, astral e mental. Esses alimentos entram em nosso corpo, como já sabemos, pelos sistemas respiratório e digestivo. Porém, as substâncias mais sutis e tênues penetram diretamente no corpo pelo nosso sistema de chakras. A qualidade do alimento absorvido e o modo pelo qual é assimilado é que determinam nossa consciência. A consciência, com seus pensamentos e desejos, condiciona o sistema de chakras de modo a atrair o que está em harmonia com ele e a repelir o que não está. Imagine que a rosa do coração, a causa da pureza de seu santo desejo, está começando a abrir-se em você. A rosa do coração é a única partícula em seu sistema capaz de atrair e absorver substâncias astrais, etéricas e mentais da ordem divina. Esses são os poderes do Espírito, os poderes do Santo Graal a que nos referimos na Primeira Parte. 13 Agora você pode entender como o desabrochar da rosa do coração se converte em uma fonte de água viva, conforme mencionamos na Primeira Parte. Quanto menos estamos centrados no eu, mais centrados estaremos na rosa, e a rosa do coração poderá se converter em um ponto pelo qual as forças divinas serão atraídas, metabolizadas e irradiadas. Essa transmutação e radiação de energias divinas pode ser de grande valia para todos aqueles que dela necessitam. Graças às energias divinas, a rosa do coração é capacitada a libertar-se e a crescer cada vez mais. Gradualmente, ela projeta ao redor de si mesma uma nova forma, construída a partir das puras substâncias etéricas, astrais e mentais do Espírito. Essa nova assimilação é a base da transfiguração e, por meio dela, a morte é vencida. A oração “Seja feita a Tua Vontade” se cumpre no microcosmo que, então, se une à corrente divina, começando a viagem de regresso à verdadeira Pátria. Obviamente há muitas outras coisas que a Escola Internacional da Rosacruz Áurea pode dizer a respeito da transfiguração, porém, dar início ao processo aqui e agora é o mais importante. Se dermos o passo inicial, todo o restante virá por si mesmo. E o começo é a decisão de render nosso ser à rosa do coração. A escolha diante do pesquisador Para terminar esta introdução, gostaríamos de relembrar a escolha ante a qual se encontra uma pessoa que começa a sentir o santo desejo. Quando o santo desejo – também chamado de anseio por salvação – se faz sentir; quando nossa consciência-eu pensa: “eu quero ser perfeito, eu quero ser libertado, eu quero experimentar o Nirvana”; quando começamos a trabalhar com nossas próprias forças, sem que nenhuma mudança fundamental na orientação de nossa consciência se faça presente, então, na verdade, não importa quais exercícios ou técnicas de autodesenvolvimento usemos, a rosa do coração não receberá nenhum alimento, pois a consciência-eu só é capaz de atrair para o sistema as forças da ordem de natureza dialética. De modo que, ao invés de auxiliar no crescimento do desejo de salvação e, com isso, no desabrochar da rosa do coração, todas essas técnicas concebidas e praticadas pela consciência-eu servirão apenas para fortalecer e potencializar o sistema da personalidade e sua ilusão. Se, ao contrário, compreendermos claramente que nosso desejo de salvação não nos pertence, a nós seres-eu, finitos e mortais, mas sim à rosa divina em nós, teremos dado o primeiro e revolucionário passo no caminho que nos levará a satisfazer o desejo de nosso coração. Se compreendemos que a rosa não pode ser alimentada pelas energias atraídas por nós, como mortais, mas unicamente pelas energias do reino divino original, então estaremos dispostos a render-lhe todo o nosso ser, para que ela tenha liberdade de atrair para o microcosmo as energias de que necessita para crescer. 14 A cruz áurea da ressurreição Que significa “render todo o nosso ser à rosa”? Não é somente uma devoção mística. Os alunos da Rosacruz tornam-se livres construtores, franco-maçons no sentido original da palavra. Com toda sua fé, amor, perseverança e inteligência esforçam-se para cooperar com o magnífico poder liberado neles pela rosa, permitindo-lhes levar a cabo o trabalho de demolição do velho e de construção do novo. Que é o “velho” e que é o “novo”? O velho é a cruz da matéria, o eu egocêntrico e todas as suas conseqüências no microcosmo. O processo de autorendição possibilita que se estabeleça uma união viva entre a rosa e o centro da cruz. Então, à medida que o velho é demolido, o novo pode ser edificado. O novo é a cruz áurea da ressurreição, a cruz flamejante cuja haste vertical é a energia da natureza divina superior que flui pelo microcosmo renovado e se estende horizontalmente por meio da rosa aberta sobre todo o mundo. Esse processo pode ser realmente realizado? Talvez, você pense que a chave para esse caminho de salvação – o santo desejo ou anelo de salvação – está muito longe de você, mas pedimos que observe a si mesmo outra vez. Talvez o anelo de salvação de seu coração não esteja tão longe como você supõe. Talvez, de fato, seja algo que o tenha acompanhado tão intimamente durante anos, que você não mais o percebe, como uma jóia preciosa que você tem carregado no bolso de cá para lá, crendo que seja somente uma pedra. Pois bem, o que o fez ler esta introdução? É uma percepção interna que foi crescendo com os anos de que as coisas não são como deveriam ser; uma consciência de que há algo basicamente enfermo em nós que necessita ser curado; um anelo por valores absolutos, por um amor incondicional, por uma bondade que não seja parcial, mas sim total, por uma verdade que não seja válida somente hoje, mas para sempre. Existem várias maneiras de expressá-lo. Olhando para dentro de si mesmo você pode reconhecer esse anelo? Pois bem, ainda que esse anelo não seja puro, ainda que esteja tomado por concepções mentais errôneas e pelo impulso natural do eu de apoderar-se de tudo, ainda assim esse anelo é algo concreto. É um começo! Esse anelo é uma realidade e constitui uma base para um novo começo. Como? Uma imagem poderá ajudar a compreender. Imagine um cavaleiro medieval. Está vestido com uma armadura e, apesar de saber muito bem como lutar, não o faz. Ao invés disso, no lugar onde está seu coração, ele mantém uma vela acesa. Toda a sua atenção está concentrada em mantê-la resplandecente, em proteger sua luz de tudo o que poderia perturbá-la ou apagá-la. Ele mantém sua frágil luz ardendo em meio ao tumulto do mundo. Essa vela é nosso anelo de salvação, nosso santo desejo, o primeiro débil pulsar de luz e de vida na rosa do coração. E, como o cavaleiro, nós podemos, se o desejarmos, colocar essa frágil luz em primeiro lugar, não apenas para nós mesmos, mas também para os demais. O que exatamente queremos dizer com 15 isso? J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri, fundadores da Escola Internacional da Rosacruz Moderna, o expressaram da seguinte maneira: Trata-se de um estado de ser comparável ao amor. Se verdadeiramente amais um filho dos homens, ou ainda se conhecestes semelhante amor, sabeis então que o coração todo se sublima através desse amor e que dele provém uma emanação, uma corrente que estabelece a ligação. Pois bem, é com semelhante amor que o coração deve se elevar até a rosa espiritual que está nele, no centro de vós. E é porque essa rosa, que está tão próxima, vos procura já há muito tempo e aguarda vossa chegada que a ligação se estabelece com força. Este é o fundamento do renascimento, do renascimento da alma. É por essas razões que é dito na Bíblia que somente o amor liberta.* Quando em nossas vidas a prioridade máxima é o esforço por nos dedicarmos em pensamento, palavra e ação à rosa e ao nosso anelo, o domínio que o eu egocêntrico exerce sobre o microcosmo seguramente diminuirá. E, ainda que haja um caminho longo a percorrer para atingir a transfiguração, o machado terá sido “colocado na raiz da árvore”. Ao dar esse passo, o Caminho se abrirá. E, sem dúvida, esse é só o começo. Será preciso dar muitos outros passos, aprender muitas outras lições. Se você quiser se aprofundar mais sobre este caminho de transfiguração, a Escola Espiritual da Rosacruz Áurea está à sua inteira disposição e terá muito prazer em ajudá-lo. Não hesite em enviar suas perguntas para: Lectorium Rosicrucianum Rua Sebastião Carneiro, 215 – Aclimação 01543-020 – São Paulo, SP Ou via internet: [email protected] Website: http://www.lectoriumrosicrucianum.org.br * RIJCKENBORGH, J.V. E PETRI, C. DE, A Gnosis chinesa. 16