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INTERFERÊNCIAS DO HOMEM NO MEIO AMBIENTE
1. INTRODUÇÃO
O Brasil tem acompanhado recentes e tristes cenas de
deslizamentos, soterramentos e enchentes em diversas cidades. Estes
fenômenos naturais têm causado prejuízos materiais e humanos, haja vista o
número de mortos em cada ocorrência, e tem origem, na maioria das vezes, na
ação do homem sobre o meio ambiente.
A cena é repetitiva: a cada chuva, as mesmas áreas são alagadas,
resultado, na maioria das vezes, do acúmulo de lixo nas galerias pluviais.
A força da água somada à sujeira fez transbordar as lagoas de captação
inundando ruas e casas.
2. O FENÔMENO CRESCE
A inundação urbana é uma ocorrência tão antiga quanto qualquer
aglomeramento urbano. Ocorre quando as águas dos rios, riachos, galerias
pluviais saem do leito de escoamento devido a falta de capacidade de
transporte de um destes sistemas e ocupa áreas onde a população utiliza
para moradia, transporte, recreação, comércio, industria, entre outros.
Estes eventos podem ocorrer devido ao comportamento natural dos
rios ou ampliados pelo efeito de alteração produzida pelo homem na
urbanização, pela impermeabilização das superfícies e a canalização dos
rios.
Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de
infiltrar, grande parte do volume escoa para o sistema de drenagem,
superando sua capacidade natural de escoamento.
O excesso do volume que não consegue ser drenado ocupa a várzea
inundando de acordo com a topografia das áreas próximas aos rios.
Na medida em que a população impermeabiliza o solo e acelera o
escoamento através de condutos e canais a quantidade de água que chega ao
mesmo tempo no sistema de drenagem aumenta, produzindo inundações mais
freqüentes do que aquelas existentes quando a superfície era permeável e o
escoamento se dava pelo ravinamento (*) natural.
As inundações ribeirinhas têm sido registradas junto com a
história do desenvolvimento humano. As inundações devido a urbanização tem
sido mais freqüente neste século, com o aumento significativo da
urbanização das cidades e a tendência dos engenheiros de drenarem o
escoamento pluvial o mais rápido possível das áreas urbanizadas.
O Rio de Janeiro é um bom exemplo de estado onde as tragédias
naturais se repetem. O ano de 2010 foi marcado por duas grandes tragédias
provocadas pelas chuvas. Na madrugada do dia 1º de janeiro, logo após as
festas de réveillon, parte da pousada Sankay, na Praia do Bananal, além de
sete casas vizinhas foram soterradas em Angra dos Reis. No Morro da
Carioca, pelo menos 20 casas foram atingidas, totalizando 53 mortos na
cidade do sul fluminense.
No dia 7 de abril o acúmulo de água provocou um grande
deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói e em toda a região
metropolitana da capital. Dezenas de casas construídas em cima de um antigo
lixão foram soterradas em uma tragédia anunciada. As 47 vítimas, além de
centenas de desabrigados pagaram um preço alto pelas construções feitas em
áreas de risco.
No total, mais de 250 mortos foram contabilizados no Rio e em
municípios vizinhos.
A cena não parece ter fim: os municípios atingidos pelas
enchentes e deslizamentos de terra na Região Serrana do Estado do Rio de
Janeiro (Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, Cantagalo, São
José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim) em 2011, contabilizam 844 mortes em
decorrência da tragédia, segundo dados de 28/01/2011.
O número de desabrigados (aqueles que perderam tudo e necessitam
de abrigos públicos) na Região Serrana chega a 8.777, enquanto o de
desalojados (aqueles que estão na casa de vizinhos ou familiares) é de
20.790, segundo balanço da Defesa Civil Estadual na mesma data.
3. DESCOMPASSOS DO DESENVOLVIMENTO
As graves conseqüências da interferência do homem no meio
ambiente atingem – em maior ou menor escala – toda a humanidade.
Como mencionamos anteriormente, os problemas ambientais
resultantes de tais efeitos são a ocupação desordenada do solo e formação
de grandes núcleos populacionais, produzindo o caos urbano com problemas de
habitação, trânsito, destinação de esgotos e de resíduos.
A demanda global dos recursos naturais deriva de uma formação
econômica cuja base é a produção e o consumo em larga escala. A lógica,
associada a essa formação, que rege o processo de exploração da natureza
hoje, é responsável por boa parte da destruição dos recursos naturais e é
criadora de necessidades que exigem, para a sua própria manutenção, um
crescimento sem fim das demandas quantitativas e qualitativas desses
recursos.
A construção descontrolada é uma das várias conseqüências do
crescimento demográfico verificado nas últimas décadas. Este crescimento
populacional gerou uma forte pressão urbanística, não acompanhada
convenientemente pelas instituições e normas urbanísticas.
A falta de planejamento em relação aos recursos pedológicos e
hidrológicos apenas acentua o conflito existente entre o ambiente natural e
o desenvolvimento físico–urbanístico.
Com o aumento do processo de urbanização assiste-se ao
desmatamento, ocupação de áreas inadequadas para a construção de
infra–estruturas e à proliferação da atividade industrial em meio urbano,
fatores que têm conseqüências graves ao nível da degradação do solo.
O processo de urbanização consiste na compactação do solo, que
tem como conseqüência direta a diminuição da infiltração e aumento do
escoamento superficial, acarretando em inundações nas áreas circunvizinhas.
Assim, a impermeabilização, a ocupação inadequada do solo, o
desmatamento e a construção de condutos de escoamento pluvial de forma
empírica e, portanto, sem condições técnicas adequadas, geram um incremento
da magnitude e freqüência de inundações.
A atividade industrial em meio urbano tem graves seqüelas, tanto
nas águas, como no solo, devido à contaminação provocada pela descarga de
resíduos e efluentes, que vão ser transportados para os campos agrícolas,
promovendo a contaminação. As ações não se resumem a isso.
O lixo, por exemplo, é um grave problema urbano dos tempos
modernos. A sociedade industrializada cria, consome e descarta materiais de
difícil decomposição, seja pela ação física (luz, temperatura, chuva), ou
pela ação biológica, como plástico, borracha, vidros, latas e papéis, que
se acumulam no ambiente, provocando desperdício de matéria prima, produto
acabado e energia.
O aquecimento global[1] é provocado com a introdução de
quantidades excessivas de gases na atmosfera, pela atividade industrial e
veículos. Esses gases são capazes de absorver a radiação infravermelha,
decorrente do aquecimento da superfície terrestre, provocado pela absorção
da radiação solar.
Como conseqüência, pode haver um aquecimento excessivo do ar
além de problemas causados pela natureza tóxica desses gases.
Além desses impactos locais e regionais da devastação das
florestas, há também um perigoso impacto em escala global: as queimadas. Em
pleno século 21, o homem ainda se utiliza do fogo, responsável pela
extinção das diversas formas de vida. Grandes áreas de matas e florestas
vêm sendo devastadas através das queimadas causando à poluição e, pode
contribuir, de maneira indireta, para o desaparecimento das nascentes, com
a destruição da vegetação.
Além disso, a queimada torna o solo improdutivo destruindo os
elementos que o compõe e os animais e microorganismos que nele habitam.
E que tal mencionar a poluição da água e do ar? Lançamento de
substâncias orgânicas e inorgânicas, resultantes principalmente do esgoto
doméstico, efluentes industriais, venenos utilizados na agricultura, tem
comprometido sua qualidade para utilização pelas plantas, animais e para o
uso humano.
As chaminés das fábricas, torres de refinação de petróleo,
pulverizações aéreas e, principalmente, escapamentos de veículos tornam o
ar poluído e quase irrespirável, como nos pólos industriais nas grandes
cidades.
Assim no campo, como na cidade, o uso indiscriminado de biocidas
na agricultura (herbicidas, inseticidas, fungicidas etc.) tem provocado
inúmeros desequilíbrios ambientais com a intoxicação e morte de animais,
plantas, microrganismos do solo, e até do próprio homem, pelo contato
direto com os venenos ou através da contaminação das plantas, animais,
solo, água e ar.
A prática da agricultura sem preocupação com a aptidão agrícola
e a capacidade produtiva dos solos, ao longo dos anos, sem reposição de
nutrientes e matéria orgânica, e favorecendo os processos de erosão, levam
o solo à exaustão em curto espaço de tempo.
Por falar em água, o seu uso irracional vem se transformando num
dos maiores problemas ambientais a ser enfrentado pela humanidade no
próximo milênio.
O desperdício, os lançamentos de esgotos, resíduos industriais,
métodos de irrigação inadequados, intensa utilização de agrotóxicos, o
crescimento das cidades, entre outros, têm contribuído para o
comprometimento, diminuição e esgotamento das reservas hídricas.
4. DEVER DE CASA
A humanidade vem recebendo constantes avisos da natureza, mas
parece seguir adiante sem se importar ou dar atenção, sem se preocupar com
o "dever de casa".
Apesar de ciente da importância da água, o homem pouco tem
contribuído para a solução dos problemas resultantes de sua má utilização.
Desde os primórdios da humanidade, o uso da água é feito de maneira
extensiva, sem a mínima preocupação com suas limitações e o acúmulo dos
resíduos domésticos e industriais verifica-se, justamente, ao longo dos
rios.
Mesmo sabendo da incomensurável importância para nossas vidas e
do risco eminente da falta da água, muitos ainda continuam poluindo rios e
reservatórios com esgotos domésticos e industriais, retirando vegetação
protetora das margens e mananciais, o que apressa seu assoreamento,
envenenando com metais pesados e agrotóxicos, construindo em suas margens e
modificando seus cursos, além de muitas outras agressões.
Os impactos ambientais são "democratizados", ou seja, passam a
atingir todas as pessoas, sem distinção de cunho econômico, social ou
cultural: atingem indistintamente homens e mulheres, ricos e pobres,
operários e patrões, negros e amarelos, desenvolvidos e subdesenvolvidos,
capitalistas e socialistas, liberais e conservadores. Não há mais refúgio
seguro. Todos finalmente passam a ter plena consciência do óbvio: a Terra é
finita e a tecnologia não pode resolver todos os seus problemas.
Os elevados índices de natalidade nos países em desenvolvimento
provocam grande pressão sobre o meio ambiente, necessitando de mais terra
para o aumento da produção agrícola, consumindo água, energia e recursos
naturais de forma desenfreada e produzindo lixo e esgotos, fazendo com que
o círculo vicioso nunca chegue a um fim, a não ser o fim da própria
humanidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.unicastelo.br/2007/site/noticias/?id_categoria=23&id_noticia=1389
http://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/boletim/article/viewFile/243
/226
http://www.diariodenatal.com.br/2011/01/25/cidades1_0.php
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/chuvas+causam+maior+tragedia+natura
l+do+pais+em+numero+de+mortos/n1237948590611.html
www.redeambiente.org.br
www.vidagua.org.br
http://bioterra.blogspot.com/2004_05_01_archive.html
Glossário
(*) Ravinamento: "Sulcos produzidos nos terrenos, devido ao trabalho
erosivo das águas de escoamento. Pequenas incisões feitas na superfície do
solo quando a água de escoamento superficial passa a se concentrar e a
fazer pequenos regos" (Guerra, 1978).
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[1] É necessário distinguir aquecimento global do efeito estufa. O efeito
estufa é um fenômeno atmosférico natural, causado principalmente pelo vapor
de água e gás carbônico (CO2), que são transparentes à luz solar, mas são
capazes de absorver a radiação terrestre. Esse efeito dificulta o
resfriamento imediato da atmosfera, após o por-do-sol, evitando grandes
variações diárias de temperatura.