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História Da Eletricidade

- hISTÓRIA DA ELETRICIDADE.

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As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas Apoio Volume 2 Apoio Apoio Circulação Emerson Cardoso [email protected] Marina Marques [email protected] Jornalista responsável Flávia Lima MTB 40.703 [email protected] 8 10 Direção de arte e produção Leonardo Piva [email protected] Colaboradores Bruno Moreira, Leonardo Faria, Mauro Júnior, Sergio Bogomoltz e Thais Mirotti Revisão Gisele Folha Mós Publicidade Diretor comercial Adolfo vaiser [email protected] Contatos Publicitários Ana Maria rancoleta [email protected] Vanessa Marquiori [email protected] Capa Kanji Design 16 Hilton Moreno Apoio Evolução dos fios e cabos elétricos, hoje aparatos biografia É de Eurico de Freitas Marques a primeira tabela de honorários para os engenheiros. Profissional, aos 81 anos, continua contribuindo para as engenharias civil e elétrica. 22 dentro da lei 26 conformidade As normas técnicas são obrigatórias ou voluntárias? O cumprimento das normas é verificado por mecanismos de avaliação de conformidade. Conheça os métodos utilizados no Brasil e saiba como isso tudo começou. 34 formação profissional Depois da universidade, cursos de menor duração surgiram para atender a uma demanda interna: a origem dos ensinos técnico e tecnólogo e sua contribuição para o Distribuição ACF Alfonso Bovero Boa leitura e abraços! história comunicação. Impressão Gráfica Ipsis Atitude Editorial Ltda. Rua Piracuama, 280 cj. 72 / Pompéia CEP 05017-040 / São Paulo - SP Fone/Fax - (11) 3872-4404 www.atitudeeditorial.com.br [email protected] ABNT NBR 5410 – eficaz também contra incêndios? indispensáveis à transmissão de infra-estrutura, tecnologia e Coordenador técnico Hilton Moreno Primeiro, agradeço a todos aqueles que se manifestaram em relação ao conteúdo e ao formato da primeira edição da Coleção Elétrica. O nível de satisfação e de compreensão da filosofia que marca este projeto excedeu nossas expectativas e confirmou que estamos no caminho certo ao oferecer aos profissionais um conjunto de informações históricas, técnicas, normativas, educacionais, biográficas e de exercício profissional, entre outras, focadas no setor de instalações elétricas. Foi particularmente tocante a reação de todos à reportagem que homenageou nosso inesquecível professor Cotrim. Como era esperado, ao ler o texto publicado na Coleção Elétrica, cada um, imediatamente, lembrou-se de pelo menos uma história vivida pessoalmente com nosso querido mestre ou contada por outra pessoa. Com isso, atingimos plenamente nosso objetivo, que não era outro, senão, fazer as pessoas lembrarem e homenagearem esta figura tão querida. Estimulados pelas avaliações positivas do primeiro número e buscando sempre melhorar o que ainda pode ser melhorado, preparamos para esta segunda edição algumas matérias que vão ao encontro do objetivo do projeto, na medida em que abordarão questões relativas à segurança contra incêndio abordadas ou não na ABNT NBR 5410, a história da evolução dos fios e cabos elétricos, a obrigatoriedade das normas técnicas brasileiras, o processo de avaliação da conformidade e os rumos que tomaram o ensino da eletricidade no País. Findamos este número com um diagrama composto por termos de eletricidade para o leitor se divertir. Mesmo considerando todos os assuntos de relevante importância, destaco a seção “Biografia”, na qual prestamos um tributo ao engenheiro e eterno professor Eurico de Freitas Marques, uma pessoa e um profissional muito especial. Com esta homenagem, reafirmamos nossa admiração por alguém que, ao longo de décadas, vem trabalhando arduamente para que a profissão e os profissionais do setor sejam devidamente valorizados. Simultaneamente a esta luta, Marques elaborou importantes projetos de instalações elétricas, que são referências no mercado até hoje. Espero que você, amigo leitor, aprecie este segundo volume da Coleção Elétrica e aguardamos, com todo interesse, seus comentários. grandes questões índice expediente carta ao leitor Gerência de planejamento Sergio Bogomoltz [email protected] Administração Paulo Martins Oliveira Sobrinho [email protected] Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultor e presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos - Nema Brasil Caro amigo (a) do setor de instalações elétricas, 06-07 Diretores Adolfo Vaiser José Guilherme Leibel Aranha desenvolvimento industrial. 40 descontração Um diagrama com termos de eletricidade para o leitor pensar e se divertir. Divulgação/Nexans por Thais Mirotti grandes questões Instalações precárias: um incêndio difícil de apagar 08-09 Fogo, muito fogo. Essa foi a imagem que marcou, há dez anos, milhares de pessoas no País, quando um grave incêndio atingiu o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Na madrugada do dia 13 de fevereiro de 1998, cerca de 70% dos 35 mil metros quadrados do prédio de cinco andares foram atingidos pelas chamas. O fogo, que só foi controlado dez horas depois, chegou a atingir quase 700 metros de altura e destruiu o terminal de passageiros. O prejuízo na época foi calculado em R$ 40 milhões. A provável causa dessa tragédia teria sido um curto-circuito nas instalações elétricas. Outro acidente sério, que também apontou como principal culpada a precariedade das instalações elétricas, foi o incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo. O prédio, localizado no Vale do Anhangabaú, teve 14 de seus 25 andares completamente destruídos pelo fogo. Seis pavimentos de garagem queimaram por inteiro e a estatística final dessa tragédia revelou mais de 170 mortos e cerca de 300 feridos. Exemplos de tristes episódios como estes apontam como são perigosas e, muitas vezes, fatais, instalações elétricas ruins, irresponsáveis e mal projetadas. Mas, será que incêndios causados por falhas como essas não têm normas e cuidados a seguir? A resposta é simples: existem sim regras e precauções que deveriam ser cumpridas, mas isso nem sempre acontece e não há fiscalização e inspeção que verifique se a regra é cumprida. A 66 anos, foi criada uma das mais importantes normas do setor elétrico, a antiga NB-3, depois transformada em NBR 5410. Ela estabelece “as condições a que devem satisfazer as instalações elétricas de baixa tensão, a fim de garantir a segurança de pessoas e animais, o funcionamento adequado da instalação e a conservação dos bens. Aplicase principalmente às instalações elétricas de edificações, qualquer que seja seu uso (residencial, comercial, público, industrial, de serviços, agropecuário, hortigranjeiro, etc.), incluindo as pré-fabricadas”. Desde que foi publicada em 1980, a NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão –, considerada a normamãe do setor, passou por quatro revisões, sofrendo algumas modificações e adaptações em cada uma delas. Embora a sua última atualização de 2004 tenha sido considerada positiva por alguns especialistas, ainda existem detalhes a melhorar. E são esses pontos que muitas vezes fazem a diferença para evitar a ocorrência de grandes transtornos quando o assunto é segurança nas instalações elétricas de baixa tensão. A norma por si só aponta uma série de importantes prescrições, mas somente ela não garante a proteção e a segurança adequada. O processo de elaboração e de revisão das normas técnicas é aberto à participação de qualquer indivíduo. Entretanto, o que se tem observado, não só na última edição, mas como em todas as outras atualizações da NBR 5410, é somente a participação de pessoas gabaritadas do setor elétrico, em sua maioria, engenheiros eletricistas. No entanto, será que exclusivamente esses profissionais são suficientes para estabelecer todas as normas de segurança exigidas e cabíveis para instalações elétricas seguras?Algumas estatísticas apontam que não. Segundo um levantamento do Corpo de Bombeiros de São Paulo, a segunda maior causa de incêndios no Estado deve-se a instalações elétricas de baixa tensão precárias e inadequadas. Em 2006, foram 10.223 ocorrências de incêndios em todo o Estado. Desse total, 3.677 foram causados por problemas elétricos. Só na Capital foram 943 ocorrências por esse motivo. Se existe uma norma considerada moderna e atual para assegurar a qualidade e a segurança nas instalações elétricas, por que os números ainda são tão alarmantes? Na opinião do Capitão do Corpo de Bombeiros, Adilson Silva, seria muito importante que pessoas que entendem de segurança participassem da elaboração da norma. “São profissionais que regulamentam, por exemplo, as características de segurança que as construções deveriam ter. A norma está bem escrita, porém ficaria mais rica com a participação dessas pessoas”, analisa. Por ser uma norma importante e ao mesmo tempo muito complexa, é preciso dispor de tempo para participar de sua elaboração. O que ocorre muitas vezes é que os profissionais que não estão ligados diretamente ao setor elétrico, como é o caso dos engenheiros de segurança, acabam não tendo tempo necessário e disponível para contribuir com a atualização da norma. E quando o assunto é segurança, a norma, em alguns pontos, não é tão clara como deveria. Para o engenheiro eletricista e presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos NEMA Brasil, Hilton Moreno, a NBR 5410 é eficaz quando prescreve sobre aspectos elétricos. Entretanto, ela não é clara, por exemplo, quanto à classificação dos locais de instalação. “Não se trata de uma falha da norma, mas um ponto importante a melhorar. Todas as recomendações relativas a incêndio implicam que antes se classifique os locais adequados de instalação, mas a definição dessas classificações está em aberto na norma”, aponta. O problema é que, genericamente, a norma diz que autoridades deveriam classificar esses locais, mas não especifica qual profissional é mais indicado para esse trabalho. De acordo com a NBR 5410, “os códigos locais de segurança contra incêndio podem conter parâmetros mais estritos”, ou seja, esses códigos locais especificados não possuem exigências mais severas. Isso obriga o profissional a buscar outras informações e orientações de diferentes documentos e autoridades, isto é, a norma não oferece toda a informação necessária para a construção da instalação. “Ela deveria ser mais clara nesse ponto, fornecendo diretrizes sobre como fazer a classificação dos locais contra incêndios. Isso é algo que deve ser melhorado”, avalia Moreno. Normalmente, o profissional que classifica os locais mais ou menos seguros é o projetista. Ficam em suas mãos as decisões quanto à segurança contra incêndios e a classificação dos locais que demandam segurança adequada contra fogo. “O que se percebe é que a norma explicita uma preocupação, mas não é muito clara quanto à sua aplicação”, completa. É válido lembrar, porém, que a NBR 5410 é uma norma que cobre as prescrições elétricas e que seria mais eficaz se fosse efetivamente atendida e as instalações inspecionadas, mas este é outro grande problema. A norma técnica é, a princípio, um documento voluntário e se fosse cuidadosamente obedecida, certamente o número de incêndios causados por problemas nas instalações elétricas seria consideravelmente menor. Para Moreno, existem três elementos importantes que fazem parte da verificação: inspeção visual, ensaios e averiguação da documentação de acordo com o que a norma propõe. “É muito difícil no Brasil reunirmos essas três verificações, mas fazer a inspeção visual já seria um grande passo para as obras onde geralmente não se faz nada. É o que a norma prevê”, alerta. Na opinião do engenheiro de segurança, João Barrico, manter as características da instalação é manter também as condições de projeto e atender Apoio às exigências normativas. Entretanto, para ele, a NBR 5410 cumpre bem seu papel na medida em que traz recomendações e orientações para o planejamento e execução de um bom projeto elétrico: seguro e com qualidade. A observação visual deve ser realizada por um especialista, o qual, como profissional qualificado, é capaz de perceber precisamente eventuais desvios nas instalações. O mito da madeira Madeira em instalações elétricas não é uma boa combinação. Quem nunca ouviu essa frase ou algo parecido? Mas esta afirmação realmente tem fundamento? Segundo a NBR 5410, a combinação é permitida. Vejamos. A norma diz que “a instalação elétrica deve ser concebida e construída de maneira a excluir qualquer risco de incêndio de materiais inflamáveis, devido a temperaturas elevadas ou arcos elétricos”. A madeira é sim um material que pega fogo, mas se colocarmos um componente elétrico com ela poderemos causar um incêndio? Estamos indo contra as normas de segurança? Para quem acha que o sim seja a resposta mais óbvia, está enganado. A madeira é um material sólido e tem resistência à ignição muito alta. Logo, seria necessária uma temperatura elevada demais para causar um incêndio. Para se ter idéia, seu ponto de fulgor é 150º C, ao passo que um material considerado inflamável possui ponto de fulgor menor ou igual a 70ºC. Um componente elétrico bem projetado não será aquecido a tal ponto de queimar a madeira, já que sua combustão ocorre quando o calor atinge 300ºC. Essa situação é difícil de acontecer, pois os circuitos são interrompidos em questão de segundos em temperaturas menores que essas, anulando dessa maneira a fonte de calor para incendiar a madeira. É importante lembrar também que a madeira não é um bom condutor de calor, com baixa condutividade térmica. O que se pode observar, depois de anos após seu uso com algum componente elétrico, é que a madeira fica com uma coloração preta. A temperatura vai carbonizando a madeira, porém, se rasparmos o local afetado, o que se perde da madeira é mínimo. Bom senso e qualidade É possível bom senso e qualidade andarem juntos em uma instalação elétrica? Sim, mas, para que isso ocorra, é necessário e prudente adotar quatro pontos básicos: atender às normas de produtos, estar em conformidade com a norma de instalação, utilizar materiais de qualidade e inspecionar a instalação antes de ser colocada em serviço. Essas ações já são rotineiras em diversos países, como Estados Unidos, Japão e quase toda a Europa, mas aqui no Brasil a realidade é diferente. A maioria dos bons profissionais segue as três primeiras recomendações e uma das mais importantes e que garante efetivamente a segurança não é levada em conta: a verificação da instalação antes de seu uso. “Não adianta nada você ter um excelente produto, seguir as normas de instalação e não se importar em verificar o serviço antes de colocá-lo em prática. É como fabricar um carro e não testar sua qualidade antes de vendê-lo. O resultado pode ser um defeito, por vezes grave, no seu produto”, avalia Moreno. Se a inspeção e a manutenção adequada existissem, não teríamos hoje cerca de três mil ocorrências ao ano, só no Estado de São Paulo, advindas de instalações elétricas precárias. Seguramente nos lembraríamos de grandes e tristes incêndios, cuja causa foi a eletricidade apenas como fatos isolados e não como possibilidades ainda reais. Por Bruno Moreira história Divulgação/Nexans Primeiros fios e cabos elétricos eram recobertos com fios de juta, fibra têxtil vegetal. Instalação de cabos próxima ao Opera de Lyon, na França, em 1906. Pelo céu, pela terra ou pelo mar A história dos fios e cabos, produtos que acompanharam o sucesso e o declínio dos telégrafos e evoluíram para atender à necessidade do mercado de energia elétrica 10-11 Normalmente, eles passam despercebidos pelos nossos olhos já acostumados com sua presença. Quando avistados, porém, não são muito queridos, acusados que são de causadores da poluição visual. Enterrá-los tem sido a solução. Estamos falando dos fios e cabos elétricos, cuja baixa popularidade no quesito estética é completamente anulada por sua incomensurável utilidade. Sob o asfalto, ligados entre postes, escondidos dentro de paredes em residências, estabelecimentos comerciais e indústrias, foi e ainda é inegável a importância de tais componentes para o progresso econômico mundial, porque, afinal de contas, sem fios e cabos, para que fosse conduzida a eletricidade, como haveriam de funcionar as grandes cidades do mundo, como São Paulo, Nova Iorque, Tokio e outras? Na atualidade, os condutores apresentam alta tecnologia. São comuns os cabos mistos formados por condutores elétricos e fibras óticas que transmitem dados e sinais, atividade perfeitamente compatível com o mundo da era digital. Entretanto, nem sempre foi assim. Quando surgiram, no início do século XVIII, restringiam-se à realização de funções hoje quase esquecidas, tais como: transmitir mensagens de telégrafos eletrostáticos, equipamentos que precederam o telégrafo eletrodinâmico, cuja lembrança é menos remota que o outro, considerando uma sociedade que se comunica, quase que em sua totalidade, por e-mails. Neste período, pode-se destacar algumas experiências que foram realizadas e obtiveram êxito no intuito de desenvolver a tecnologia telegráfica. Em 1747, por exemplo, o inglês Sir William Watson construiu uma linha de 3.200 metros confeccionada com fios de juta, fibra têxtil vegetal. O objetivo era transmitir informações de uma margem a outra do rio Tâmisa, em Londres. Para demonstrar a eficiência do circuito, Watson colocou, em uma das extremidades da linha, um assistente, que prendia em uma mão a ponta de um fio e com a outra segurava uma haste metálica mergulhada no Tâmisa. Sabe-se que a inusitada experiência foi muito bem-sucedida (e o assistente não morreu eletrocutado!). Anos mais tarde, em 1795, o espanhol Dom Francisco Salva realizou as primeiras experiências usando papel como isolante de condutores metálicos para transmitir sinais telegráficos. Contudo, o emprego do primeiro condutor isolado da história é colocado na conta do engenheiro russo Barão Von Schilling entre 1812 e 1815. Apoio Como estratégia durante as guerras napoleônicas, foi desenvolvido um cabo submarino para detonar minas cruzando o rio Sena. O condutor era formado por fios de cobre isolados com uma solução de borracha da Índia, seca e envernizada. Finda a guerra, o engenheiro russo continuou dedicando-se à telegrafia e, em 1836, conseguiu que o imperador Nicolau, da Rússia, ordenasse a construção de uma linha telegráfica a título de experimento entre as cidades de São Petesburgo e Peterhoff. A linha era feita com cabos aéreos nus e cabos subterrâneos, isolados individualmente por seda envernizada, reunidos e amarrados por juta e impregnados por asfalto. O experimento russo obteve sucesso, o que estimulou os inventores da época a pesquisarem novos produtos para isolação de cabos para telegrafia. Chegou-se, então, à planta gutta percha da Ásia, ótimo isolante que foi utilizado pelos engenheiros alemães Carl William Siemens e Johann Georg Halske, em 1848, na implantação de uma linha subterrânea telegráfica, com um cabo isolado de cinco mil metros, interligando as cidades alemãs de Berlim e Gross Berem. Apenas dois anos depois da linha subterrânea de Siemens e Halske, em 1850, uma obra de proporções gigantescas foi anunciada: a primeira grande linha telegráfica de cabo submarino Divulgação/Nexans Divulgação/Nexans Divulgação/Nexans Máquina trançadeira de cabos para elevadores em Clichy, na França (1962). Implantação de cabo de alta tensão no leito do lago Zurich (1957). Manuseio de cabo de 50 kV para eletrificação da linha de bondes de Lyon, na França, em 1906. que ligaria França e Inglaterra pelo Canal da Mancha. O cabo, isolado com gutta pecha, teve sua instalação finalizada na noite de 28 de agosto, mas a transmissão não foi muito bem-sucedida e algumas horas depois não havia mais sinal. Dias se passaram até que se descobriu o que havia acontecido: um pescador francês havia cortado um pedaço do cabo acreditando ter pescado um tipo desconhecido de alga marinha. Apenas no ano seguinte o cabo entre os dois países foi refeito, dessa vez, para que não houvesse outro pescador francês, isolaram-no com duas camadas de gutta percha, várias camadas de juta e uma armação em fios e de aço galvanizado, pesando 5.000 Kg/Km. elétrica. Os primeiros cabos utilizados por Edison, em 1882, para a alimentação das lâmpadas, eram dois grossos segmentos de cobre separados por espaçadores de papel amarrados por juta que ficavam dentro de um tubo de ferro preenchido com betume. Estes tubos mediam, no máximo, seis metros de comprimento para serem transportados com mais facilidade em carroças. A eles eram acopladas emendas especiais criadas justamente com o objetivo de aumentar seu tamanho somente no local de instalação. Utilizando essa tecnologia de fios e cabos, Edson implantou, em 22 de abril de 1882, o primeiro sistema de iluminação pública incandescente da história; com 1600 lâmpadas de 50 W na tensão de 100 V. O sistema deu certo, mas um ano depois o cientista norte-americano resolveu modificá-lo. Isto porque no mesmo ano em que Edson colocou seu projeto em funcionamento, o professor inglês de engenharia elétrica, John Hopkinson, patenteou o sistema de cabo trefilado para distribuição de corrente contínua, que poupava mais de 50% em cobre. Dessa forma, o projeto do cientista norte-americano passou também a ter três condutores de cobre, sólidos, redondos, isolados individualmente por gutta percha, reunidos em triângulo sobre um quarto condutor, todo colocados dentro do tubo de ferro preenchido com betume. O número de lâmpadas alimentadas aumentou para 400 e o sistema funcionou satisfatoriamente até 1950. A curiosidade dessa história fica por conta da explicação do surgimento da lâmpada de 110 V. Certo dia, Thomas Edison observou, durante a alimentação de suas lâmpadas em baixa tensão, Transmissão de energia elétrica 12-13 No que diz respeito a fios e cabos voltados para a transmissão de energia elétrica, duas invenções tiveram grande importância para que isso acontecesse. A descoberta das células voltaicas, em 1800, pelo físico italiano Alessandro Volta, que possibilitou a reprodução repetitiva e contínua de eletricidade e, anos mais tarde, em 1871, a criação do dínamo em anel, por parte do mecânico belga Zénobe Gramme que tornou possível o uso prático de um gerador de corrente contínua em alta tensão. A partir daí, sistemas elétricos de luz e força viraram uma realidade, assim como fios e cabos para transmissão e distribuição de energia. Aqui, não se pode deixar de mencionar a participação do cientista Thomas Alva Edison, inventor da lâmpada incandescente, no desenvolvimento da tecnologia dos fios condutores de energia perdas consideráveis de energia nos fios condutores de cobre, o que acarretava uma redução de tensão na extremidade do circuito. Como as perdas eram parte irremediável do processo, o cientista resolveu aumentar a tensão de entrada para que a tensão de saída fosse a que ele havia estipulado. Por ser um número redondo, a tensão escolhida pelo cientista foi a de 100 V, e para que isso ocorresse, a tensão de entrada era um pouco maior, ou seja, 110 V. Dos primórdios dos fios e cabos até os dias de hoje, muita coisa aconteceu. Com o avanço econômico e a democratização da energia elétrica, muitos lugares foram iluminados e, conseqüentemente, muitas linhas de transmissão e distribuição tiveram de ser construídas e muitos condutores elétricos foram utilizados. Desse modo, o condutor utilizado para transporte de eletricidade difundiu-se e consolidou-se. O avanço tecnológico desses equipamentos tornou-se uma constante. Segundo o gerente de marketing da Prysmian, Rubens Campos, a busca por mais segurança, facilidade de instalação e menos perda de energia foram os propulsores destes avanços. Usando cabos de baixa tensão como modelo, Campos destaca alguns pontos desta evolução: o condutor flexível, por exemplo, foi criado, principalmente, para facilitar a instalação do equipamento; a isolação não propagante de chama e a isolação livre de halogênios foram desenvolvidas para aumentar a segurança dos usuários das instalações. Conforme o gerente da Prysmian, tanto em condutores isolados como em cabos unipolares e multipolares, o que existe de mais avançado no mercado são os fabricados com materiais Apoio livres de halogênios, com baixa emissão de fumaça escura e gases tóxicos. No que há de mais avançado em relação à tecnologia de transporte de energia elétrica por meio de fios e cabos, Campos cita a supercondutividade; um fenômeno físico, por meio do qual, o condutor apresenta uma resistência elétrica próxima de zero. No passado, esta característica já foi verificada em materiais a temperaturas próximas do zero absoluto (-247 ºC). Hoje, já existem materiais com estas características em temperaturas próximas à ambiente. No entanto, de acordo com o gerente da Prysmian, ainda existem poucas aplicações comerciais para a supercondutividade no mundo. Os isolantes A evolução dos condutores de eletricidade é também a evolução de seus materiais isolantes. Como foi visto, a planta asiática gutta percha funcionou muito bem, o que não impediu a busca por novos produtos. Entre as décadas de 1880 e 1890, diversas substâncias foram testadas como isoladores de fios e cabos: gomas, resinas, graxas, compostos betuminosos, fibras de vidro, areias e até polpa fibrosa com sangue. Um material até hoje empregado, mas que durante algum tempo ficou esquecido, é o papel. Utilizado pela primeira vez, em 1795, pelo espanhol Francisco Salva, o papel só voltou a figurar como material isolante de cabos, no ano 1836, em uma apresentação realizada pelo cientista inglês Michael Faraday na Academia Real de n rysmia ação/P Divulgação/Prysmian Divulg A indústria de fios e cabos passou a usar o revestimento de PVC a partir dos anos de 1950. Sua evolução, entretanto, já apresentou compostos de juta, papel, betume e outros elementos. Transporte de uma bobina de cabo elétrico no início do século XX. 14-15 Londres, na qual ele demonstrou as ótimas propriedades isolantes do material. As primeiras grandes aplicações de cabos isolados com papel, no entanto, aconteceram algum tempo depois, mais especificamente, em 1890, na cidade de Londres, utilizando cabos com tensão de 10.000 V. Para que houvesse redução do efeito de perda de isolação em função da umidade, o papel era impregnado com betume. A difusão do uso do papel como material isolante estimulou o aumento das tensões utilizadas nos cabos e isto, por sua vez, teve como conseqüência os primeiros problemas de descargas internas e ionizaçôes nos cabos, provocando perfurações. A situação só foi resolvida pelo engenheiro e chefe de engenharia da Pirelli Company de Milão, Luigi Emanuelli, que inventou e patenteou, em 1917, um novo tipo de cabo denominado “oilfilled”, cabo a óleo também conhecido como “cabo Emanuelli”. O equipamento era preenchido com líquido ou massa de material isolante tanto no condutor quanto nos interstícios da isolação, mantido sob pressão por vasos de compensação conectados a caixas de junção. O primeiro cabo a óleo, no entanto, só foi fabricado em 1920 pela própria Pirelli para operar com uma tensão de 80 kV, fato inédito, pois até aquele momento, o máximo que um cabo tinha chegado em tensão era 66 kV. Foram quatro quilômetros de cabos produzidos que, contudo, não foram utilizados porque sua encomenda acabou sendo cancelada. Os cabos foram selados e ligados a reservatórios de óleo. Permaneceram guardados até 1924, quando foram empregados em uma linha protótipo na Itália, mas já operando com uma tensão de 132 kV, sem desenvolverem problemas técnicos. Dois anos mais tarde, impulsionados pela bem-sucedida experiência italiana, a Pirelli recebeu dois pedidos dos Estados Unidos: um da Commonwealth Edson Company de Chicago, que encomendou 30 Km de cabos e outro da New York Edson Company, que encomendou 58 Km. Posteriormente, os cabos a óleo foram instalados em outros lugares do mundo, como França, Itália, Japão, Brasil e Argentina. O produto começou a ser produzido também por outras empresas, com licença da companhia italiana. Os níveis de tensão, por sua vez, tornaram-se maiores, chegando até a 220 kV, em 1936, em um sistema implantado em Paris. Simultaneamente ao papel e ao óleo, outros materiais isolantes, como borracha natural, borracha vulcanizada da Índia e a própria gutta percha também foram largamente utilizados. Entretanto, com o avanço das pesquisas no âmbito da química orgânica, estes materiais começaram a dividir o espaço com outros polímeros, que até então não existiam. Um desses novos produtos foi o esmalte, que, por volta de 1850, começou a ser utilizado sobre os fios para enrolamentos de motores e transformadores. Seu uso também foi bastante difundido em linhas aéreas de telégrafos, mas não com o intuito de isolar os condutores e sim para evitar a sua corrosão e com o intuito de facilitar aplicação de outros materiais isolantes no condutor de cobre. A fabricação em série de fios esmaltados começou efetivamente em 1910 e continua até hoje, contudo sua composição química mudou bastante. De produto basicamente formado por óleo vegetal ou sintético, o fio esmaltado agora apresenta uma formulação muito mais complexa, conseqüência das novas descobertas nas áreas da química de polímeros, termoplásticos sintéticos e resinas termofixas. Com essa complexa composição química, os fios começaram a ser utilizados para enrolamento de máquinas com classe térmica de até 220ºC. As isolações de cabos com polímeros cada vez mais sofisticados acabaram por se tornar preponderantes em relação às isolações de papel e óleo. Dentre esses novos produtos químicos, destaca-se para a borracha etileno-propileno (EPR) o polietileno reticulado (XLPE) e o silicone, comumente denominados borracha e para o cloreto de polivinila, o famoso PVC, plástico fabricado a partir do petróleo. Este, segundo o engenheiro eletricista, consultor e presidente da Associação Nema Brasil, Hilton Moreno, por conta de seu custo mais atraente em relação aos demais produtos, acabou tornando-se, para fabricantes e consumidores, a opção mais popular de material de isolação de fios e cabos elétricos. Dessa maneira, o PVC é utilizado em uma ampla gama de aplicações, sendo que os cabos isolados em borracha tornaram-se a escolha mais utilizada nas indústrias e grandes obras comerciais. Os condutores De acordo com o gerente de marketing da Prysmian, Rubens Campos, quando se refere, de maneira técnica, a condutor elétrico não está se falando do cabo ou do fio em sua totalidade e sim ao seu miolo somente: a parte metálica. O cobre apareceu como um dos primeiros condutores industrializados, posteriormente, o alumínio. Desde o início da fabricação em larga escala de fios e cabos elétricos, a situação não se modificou e estes dois materiais permaneceram como os mais utilizados pelo mercado. Segundo Moreno, cada metal (cobre e alumínio), atualmente, é utilizado em uma área específica. O cobre, por exemplo, na maioria das vezes, é empregado em instalações internas, pois, de acordo com a norma de instalações elétricas de baixa tensão NBR 5410, é proibido o uso de alumínio em fios e cabos dentro de residências Apoio e há grandes restrições ao seu uso em instalações comerciais e industriais. Dessa forma, este metal, comumente, constitui as linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica. Os condutores são utilizados em diferentes áreas devido às suas características de condutividade elétrica, secção e peso. Um fio de cobre mole, por exemplo, de 1 metro de comprimento com 1 mm² de seção, apresenta uma condutividade relativa de 100%, conforme a norma International Annealed Copper Standard (IACS). Por sua vez, a condutividade relativa de um fio de alumínio com as mesmas medidas é de 60,6%. De acordo com Moreno, isto significa que o alumínio conduz 39,4% menos corrente elétrica que o cobre, considerando-se a mesma seção e, caso quisesse conduzir a mesma corrente, deveria possuir uma seção entre 40% e 60% maior. No entanto, apesar de demandar uma secção maior para conduzir a mesma corrente, o alumínio compensa esse déficit com uma densidade menor em relação ao cobre: 2,7 g/cm³ ante 8,9 g/cm³. Desse modo, segundo o engenheiro eletricista, se calcularmos a relação entre o peso de um condutor de cobre e o peso de um condutor de alumínio, ambos transportando a mesma corrente elétrica, verificamos que o peso do condutor de alumínio é quase metade do peso do de cobre. Ou seja, a partir dessas características físicas que os definem, estabeleceu-se uma divisão clássica (porém não obrigatória) quanto ao uso dos dois metais nas redes elétricas. Em linhas aéreas, por exemplo, em que as dimensões de torres e postes e os vãos entre eles dependem diretamente do peso dos cabos sustentados, utiliza-se o alumínio. Já em residências, cuja preocupação maior é com o espaço e não com o peso dos fios e cabos, o cobre é a opção mais inteligente. Pesquisa: Revista Pirelli Club, edições de 1 a 5 - artigos de autoria do engenheiro eletricista Hilton Moreno Por Bruno Moreira Fotos: Sérgio Kanazawa biografia Engenheiro “dois em um” A engenharia civil foi sua primeira opção, posteriormente, percebeu que a elétrica poderia ser um desafio e, hoje, aos 81 anos, Eurico Freitas Marques já fez muito pelas duas áreas e ainda quer fazer mais 16-17 O homenageado desta edição não entrou na faculdade de engenharia pensando em trabalhar na área elétrica, mas acabou tornando-se um dos grandes nomes do setor. Ministrando aulas, realizando projetos, lutando pelos honorários da classe e atuando em reuniões da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Eurico Freitas Marques, pouco a pouco, ganhou a confiança e a admiração de seus colegas e por isso, segundo eles, merece ter sua história contada na páginas que se seguirão. Pode-se dizer que a carreira de Eurico Freitas Marques começou em 1952, quando ele se formou em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Amigo de Marini Barros, um arquiteto renomado da época, o recém-formado engenheiro tornou-se responsável pelos projetos de instalações hidráulicas de todos os trabalhos realizado por Barros. “Ele me dava todas as causas de hidráulica, mas em contrapartida me desafiava a realizar os projetos na área de instalação elétrica”, lembra Marques. Contudo, havia um obstáculo para que Eurico ficasse responsável também pela parte elétrica dos projetos realizados por Barros: a formação recebida por ele na faculdade de engenharia civil só o habilitava a trabalhar com instalações que funcionassem com potência de até 75 kW. Diante disso, o engenheiro resolveu enfrentar, em meados da década de 1960, mais três anos Eurico ainda desenvolve projetos de instalações elétricas e hidráulicas em escritório localizado na zona sul de São Paulo. de engenharia elétrica no Instituto Presbiteriano Mackenzie. “Eram para ser seis anos, mas, como eu já havia feito a Poli antes, consegui eliminar grande parte das matérias”, conta. Segundo Eurico, essa foi uma fase difícil em sua vida, pois a volta para a faculdade, mais de dez anos após terminada a primeira, acarretou algumas mudanças em sua rotina. O engenheiro civil havia casado em 1957 e já tinha duas filhas na época e possuía outras responsabilidades além daquelas de quando jovem. Tanto tempo assim também foi chocante para Eurico no que se referia às roupas e ao comportamento de seus colegas de classe. “A mudança foi radical; os alunos já assistiam à aula usando bermudas e chinelos. Para você ter uma idéia, na época da Poli, eu usava terno e gravata e levantava quando o professor chegava, como sinal de respeito”, relembra. Em 1968, já formado pela segunda vez, o engenheiro civil, agora também engenheiro eletricista, foi chamado para ser professor no próprio Mackenzie, lecionando a respeito de instalações hidráulicas e elétricas. Lá, em pleno regime ditatorial, acompanhou de perto a briga entre o Comando de Caça aos Comunistas (CCC), organização direitista formada por alguns estudantes do Mackenzie que entrou em conflito, em plena Rua Maria Antônia, com os estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que na época estava localizada no prédio em frente da universidade presbiteriana. Junto com as aulas ministradas no Mackenzie, Eurico também lecionava na Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), mais especificamente, na área de eletrotécnica aplicada. E foi lá que participou de algumas situações no Apoio mínimo inusitadas. Depois de um período de adaptação como professor no Mackenzie, o engenheiro ficou mais seguro diante de seus alunos e pôde colocar isso em prática na Faap. Segundo Eurico, ele sempre foi um professor muito liberal e deixava os estudantes à vontade para saírem da sala se não quisessem prestar atenção em suas aulas. “Certo dia, no entanto, um aluno começou a ler jornal no meio da minha aula. Eu não pensei duas vezes e com o cigarro que fumava coloquei fogo no jornal”, relembra. Não era apenas Eurico que pregava peças em seu alunos. Eles, também, aprontavam das suas. Certa feita, o engenheiro, que costumava levar à suas classes uma caixa de sapatos cheia de equipamentos para montar um interruptor em paralelo, esqueceu uma lâmpada. “Eu fui pegar a lâmpada e quando voltei a abrir a caixa havia um gato lá dentro. Tomei um susto e tanto”, conta. Dessa forma, Eurico levou suas aulas na Faap e quando saiu de lá deixou grandes amigos. De acordo com o engenheiro, a tarefa dobrada, de dar aulas na Faap e no Mackenzie, porém, ficava menos árdua, porque tomava somente dois dias de sua semana; segunda-feira ele trabalhava como professor na Faap e quarta-feira no Mackenzie. O restante da semana era passado em seu escritório, no qual o engenheiro trabalhava projetando instalações hidráulicas e elétricas de edifícios em construção. O engenheiro eletricista e civil abriu o seu escritório em 1966 e, desde então, realizou importantes projetos no Estado de São Paulo. “Fizemos toda a infra-estrutura de Alphaville, Aldeia da Serra e Tamboré, além de implantarmos o sistema “A mudança foi radical: os alunos já assistiam à aula usando bermudas e chinelos. Para você ter uma idéia, na época da Poli, eu usava terno e gravata e levantava quando o professor chegava, como sinal de respeito.” 18-19 de iluminação do primeiro trecho da rodovia Castelo Branco”, diz. Eurico prestava serviço para a empresa Albuquerque Takaoka, construtora de renome da época e que construiu grandes edifícios no País. Foi nesse período que o atual proprietário da consultoria LFM Engenharia, Luis Fernando Navarro, conheceu Eurico. Navarro estagiava na construtora Fioravante Junqueira, empresa para qual o engenheiro realizava os projetos de instalação elétrica e hidráulica e pôde acompanhar de perto o crescimento profissional de Eurico e de sua empresa. “Foi o primeiro boom do setor imobiliário, época do Banco Nacional de Habitação (BNH) e de grandes construtoras como Guarantã e Albuquerque Takaoka. O Eurico fez muitos trabalhos com essas empresas”, conta. Segundo Navarro, a firma de Eurico Freitas Marques foi uma das maiores no setor de instalações elétricas e hidráulicas. “Foi uma época interessante, na qual se construiram muitos prédios, como agora, guardadas as devidas proporções, e pelo que sei o Eurico foi o grande projetista daquele momento”, lembra. O importante para o consultor, entretanto, é que, durante os mais de 30 anos que eles se conhecem, o engenheiro civil manteve-se atualizado e por isso ainda está na ativa. “Isto demonstra que ele é um profissional de qualidadde e com grande capacidade de criar projetos”, diz. Outro amigo de Eurico que o conheceu no início de sua carreira foi o engenheiro e atualmente proprietário da consultoria Engenharia SC Ltda., Carlos Vieira, que tem em comum com Eurico o fato de ter feito também o curso de engenharia civil e elétrica. “A diferença é que eu fiz as duas faculdades em simultâneo”, comenta. De acordo com Vieira, por ser mais antigo na profissão, Eurico já era conhecido quando ele começou a atuar na década de 1960. Este foi o primeiro contato que Vieira teve com Eurico. Posteriormente, por realizar trabalhos em conjunto e assistir suas palestras, o proprietário da SC acabou se tornando um grande amigo de Eurico. “Pessoalmente nos conhecemos há cerca de 20 anos e hoje conversamos muito sobre serviços, pois ele é um profissional de muito respeito e que tem um profundo conhecimento da parte técnica”, conta. O engenheiro eletricista e civil só tem elogios ao companheiro de profissão. “Costumo dizer que Eurico é ‘gente’. Ele é inteligente e formidável”, diz. Vieira já conheceu muitos engenheiros na sua trajetória e, segundo ele, encontrar alguém como Eurico, que une a competência profissional com o jeito agradável de tratar companheiros de profissão e clientes, é uma tarefa muito difícil. Ainda na ativa Com 81 anos completados em janeiro, Eurico, como disse Navarro, continua trabalhando no seu escritório na rua Tabapuã. Sua carreira de professor ficou para trás. Em 1982, deixou de dar aulas. “Praticamente ao mesmo tempo parei de lecionar nas duas universidades”, diz. Em 2002, porém, voltou, mesmo que momentaneamente, a lecionar a matéria de Patologia das Instalações Hidráulicas e Elétricas em um curso de pós-graduação. Fez isso até 2003, mas já há muito havia diminuído seu ritmo. “Tenho me poupado um pouco”, comenta o engenheiro que, além de realizar seu projetos, continua participando Apoio “Deveria ser obrigatório constar o nome da firma de engenharia responsável pelo projeto nos lançamentos publicitários dos edifícios.” O projetista foi um dos responsáveis pela criação da tabela de honorários utilizados pelos engenheiros. 20-21 de reuniões que ajudam a decidir os rumos do setor de construção civil no País. De acordo com Eurico, sua história como militante da área começou no início de sua carreira no campo docente . “Como professor eu tinha que me atualizar e uma maneira de fazer isso era fazendo parte das reuniões da ABNT”, relata. De acordo com Eurico, na época de juventude, sua participação nessas reuniões era mais assídua, contudo, até hoje, ele freqüenta as assembléias do Comitê Brasileiro 24 -CB- 24, realizadas no Corpo de Bombeiros e que discutem as normas de hidrantes e mangotinhos. E o engenheiro salienta a importância dos encontros. “Nessa reuniões aparecem fabricantes, consumidores e interessados de todas as regiões do País”, afirma. Entretanto, Eurico comenta que há situações relativas a esses encontros que o deixam chateado. “Ouvi de alguns colegas engenheiros que as reuniões da ABNT deixaram de se pautar pelo aspecto técnico e se transformaram em um fórum econômico”, conta. “É óbvio que há diversos interesses em jogo, mas a discussão é importante e deve ser prestigiada”. A relevância desses eventos é tão grande para Eurico que ele também faz questão de participar dos grupos de trabalho do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi). São reuniões comandadas pelo diretor engenheiro Paulo Rewald e ligadas ao setor imobiliário e versam sobre sistemas prediais. “Contribuem para a atualização na parte técnica”, explica. Tabela de honorários Quando soube que o homenageado desta edição seria o seu amigo Eurico Freitas Marques, o renomado engenheiro eletricista Paulo Barreto elogiou a escolha. Segundo ele, Eurico fez muito pelo setor da construção civil, principalmente na área hidráulica. Barreto falou dos pontos mais importantes que para ele tornariam justa a homenagem ao engenheiro civil; falou de sua carreira como professor universitário; da sua atuação na ABNT; seu profundo conhecimento da parte hidráulica; e frisou o trabalho de Eurico na realização da primeira tabela de honorários para os engenheiros. Eurico conta que o desenvolvimento da tabela foi uma verdadeira guerra. Isto porque, segundo ele, a classe não era muito unida e até hoje não é. “Cada um cobrava o que queria e ainda é assim. Eu sigo a tabela”, afirma. Contudo, a responsabilidade de sua criação não pode ser somente creditada na conta de Eurico. “Foi um trabalho em equipe”, explica. “Foram várias reuniões que começarm na minha casa e depois se transferiram para o Instituto de Engenharia da USP”. Esse trabalho, aliás, culminou na criação de uma divisão de Instalações Prediais para as áreas hidráulica e elétrica dentro do Instituto, que, posteriormente, recebeu o nome de Associação Brasileira de Engenharia e Sistemas Prediais (Abrasip). De acordo com Eurico, a tabela de honorários era imprescindível para a classe, já que, além da falta de critérios definidos, o que acarretava em uma salada de cobranças por serviços prestados, já havia uma orientanção por parte do Conselho Regional e Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), mas que, segundo Eurico, era abrangente e não muito clara. “Ela não acompanhou o desenvolvimento tecnológico das instalações elétricas, por exemplo”, afirma. Segundo Eurico, antigamente a parte elétrica possuía apenas dois circuitos: de iluminação (110 V) e de chuveiro (220 V). Agora, há a parte de telefonia e de dados, o que torna o serviço do engenheiro mais complexo e, conseqüentemente, os honorários a serem pagos precisam ser atualizados. Apoio O que ainda falta fazer Depois de todas suas realizações na parte profissional, poderia se pensar que Eurico não desejaria realizar mais nada para o setor, mas não é bem isso. Aos 81 anos, o engenheiro ainda tem suas expectativas e anseios. Um deles refere-se ao reconhecimento de sua classe nos projetos da construção civil. “Deveria ser obrigatório constar o nome da firma de engenharia responsável pelo projeto nos lançamentos publicitários dos edifícios”, conta. “Isso já acontece, atualmente, com os arquitetos e não com os engenheiros porque a classe é desunida”. Outra questão que ainda instiga Eurico refere-se ao Interruptor Diferencial Residual (IDR). Segundo ele, já foi difícil aprovar a obrigatoriedade do uso de tal dispositivo e agora está sendo mais difícil ainda fazer os responsáveis pela construção dos edifícios utilizá-lo em seus projetos. “É um dispositivo que detecta a corrente de fuga que se passar de 50 mA torna-se muito perigosa”, explica. Por isso, de acordo com o engenheiro, deveria ter uma fiscalização para que o dispositvo fosse usado.“Em São Paulo, por exemplo, a distribuidora de energia elétrica AES Eletropaulo deveria ver isso, já que está especificado o uso obrigatório do aparelho”, argumenta. dentro da lei Penalidades Por Leonardo Faria e Flávia Lima  Possíveis penalidades decorrentes de decisões judiciais ou de atos administrativos para aqueles que descumprirem as exigências de portarias, decretos e outras legislações envolvendo normas técnicas. I – multa; II – apreensão do produto; III – inutilização do produto; IV – cassação do registro do produto junto ao órgão competente; V – proibição de fabricação do produto; VI – suspensão do fornecimento de produtos e serviços; VII – suspensão temporária de atividade; VIII – revogação de concessão ou permissão de uso; IX – cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; X – interdição, total ou parcial, de estabelecimento, obra ou de atividade; XI – intervenção administrativa; XII – imposição de propaganda. Qualidade e segurança são opcionais? Normas técnicas asseguram o mínimo de qualidade e segurança a serviços e produtos, especialmente os elétricos. Mas, afinal de contas, o seu cumprimento é obrigatório ou voluntário? 22-23 O papel de uma norma técnica é, fundamentalmente, fornecer os critérios mínimos de segurança e qualidade de produtos e serviços. Tratando-se de produtos elétricos, a atenção com os procedimentos normativos é ainda maior, considerando que a eletricidade mal utilizada pode trazer riscos de acidentes aos usuários. Entretanto, a grande questão que envolve o assunto e o polemiza é: o cumprimento de uma norma técnica é obrigatório ou facultativo? Responsável pela publicação de todas as normas técnicas brasileiras, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) afirma que a norma é voluntária e a define como “documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto”. Denomina ainda aquelas normas chamadas de “mandatórias” como documento com aplicação obrigatória em virtude de uma lei geral, ou de referência exclusiva em um regulamento. A lei e o regulamento mencionados referem-se a Portarias, Resoluções e Leis que determinam o uso obrigatório de determinada norma. É o caso, por exemplo, das Resoluções do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que exigem a certificação compulsória de determinados produtos. Por alguns destes regulamentos, os fabricantes devem, obrigatoriamente, obedecer à norma específica e caracterizada nos procedimentos do Inmetro para que a comercialização do produto seja permitida. O mesmo acontece com resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outros regulamentos de âmbito federal, estadual ou municipal, que possuem força de lei e exigem o cumprimento de normas. Nesses casos, a norma técnica deixa de ser voluntária para ser obrigatória. Vale lembrar que não é obrigatório que uma resolução, portaria ou lei faça referência às normas da ABNT, podendo a própria regulamentação conter os requisitos técnicos desejados. No entanto, há uma discussão controversa que ronda debates da própria comunidade técnica. A causa da polêmica é a Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, que instaura o Código de Defesa do Consumidor (CDC). O parágrafo VIII do seu artigo 39 determina que é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços “colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro)”. Dessa forma, pelo CDC, o respeito às normas da ABNT é obrigatório e sua desobediência corresponde a uma infração legal e sujeita às sanções prescritas. Isso significa que, sob o ponto de vista legal, a norma técnica é imprescindível e problemas comprovadamente gerados pelo não atendimento à regulamentação podem implicar graves conseqüências jurídicas para o responsável pelo produto ou serviço prestado. Algumas jurisprudências dos tribunais nacionais são categóricas e determinam penalidades pelo não cumprimento Apoio das normas técnicas. Em uma apelação cível, de 2001, por exemplo, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais conferiu à distribuidora de energia local a responsabilidade por uma morte ocasionada por choque elétrico em rede de distribuição de energia elétrica residencial que estava em desconformidade com as normas da ABNT. A concessionária teve de pagar uma indenização. Em outro caso, o contrato de uma construtora foi anulado devido à execução de obras e serviços em desacordo com as normas técnicas. (Veja quadro das penalidades) A ABNT defende que a norma é inteiramente voluntária, pois é impossível identificar o seu conteúdo com a mesma relevância de um regulamento técnico ou de uma Lei pública. De acordo com o diretor de normalização da ABNT, Eugênio Tolstoy, a norma não é obrigatória, pois não é formulada no âmbito legislativo do Estado. “A norma é elaborada pela sociedade, por isso é voluntária. Já a Lei ou regulamento técnico é totalmente diferente, pois é produzido e regulamentado por meio de uma legislação e é imposta à sociedade”, esclarece. Outro ponto destacado pelo diretor e que, no seu entender, exime o caráter de obrigatoriedade de uma norma é o seu aparecimento, como menção e recomendação, em procedimentos legais. “Em diversas leis e regulamentos técnicos, os legisladores indicam a norma para identificar como deve ser realizado um procedimento específico. Nesse caso, podemos dizer que a norma se torna obrigatória, pois ela faz parte de um requisito legal. Entretanto, o conteúdo da norma unicamente não possui atividade compulsória”, explica Tolstoy. Os pareceres jurídicos que atestam o caráter obrigatório das normas técnicas e a afirmação da ABNT em considerá-las como voluntárias causam certa confusão e descontentamento no mercado. Para o presidente do Instituto Tecnológico de Estudos para a Normalização e Avaliação de Conformidade A elaboração de uma norma A estrutura normativa brasileira passa por algumas etapas até chegar à sociedade como um todo. A ABNT, composta por 60 comitês responsáveis pela criação, manutenção e fiscalização de uma norma técnica, administra e publica todas as normas técnicas brasileiras. Os grupos normalizadores estão divididos por áreas em Comitês Brasileiros (CB). O CB-3, por exemplo, é o comitê responsável pela elaboração e revisão de normas relacionadas ao setor de eletricidade. Existem, atualmente, cerca de 10 mil normas técnicas brasileiras, envolvendo os mais diversos setores industriais e econômicos do País. Para a criação de uma nova norma técnica, os fabricantes, os consumidores e as chamadas instituições neutras (universidades, ONGs, associações filantrópicas, etc.) formam comissões que trabalham em conjunto com o seu CB respectivo. Dentro dessas comissões, cada categoria da sociedade participante – consumidor, fabricante e instituição neutra – possui um voto dentro da discussão. Por uma determinação da ABNT, uma norma brasileira deve ser criada, preferencialmente, por consenso entre todas as partes. Após a conclusão do primeiro texto da nova norma, ele é disponibilizado no site oficial da ABNT (www.abnt.org.br) para consulta da sociedade e para que sejam feitas eventuais críticas e sugestões para o seu conteúdo. Terminado o prazo de consulta pública, que varia de 30 a 120 dias, a comissão reúne-se para analisar os comentários recebidos, concluir o texto e enviá-lo para a ABNT. Passado todo este processo, a associação chancela o novo texto, publica em formato eletrônico ou papel e comercializa a norma para os setores interessados. (Itenac), o engenheiro eletricista Mauricio Ferraz de Paiva, um dos argumentos usados para definir a voluntariedade da norma é a existência de documentos com caráter de orientação. “A única brecha para aqueles que dizem que a norma não é obrigatória é que 1% de todo o conteúdo não possui caráter de norma e sim de diretrizes ou guias. Exemplo disso é a norma para monografia acadêmica”, analisa. O contraponto é o assunto “segurança”, crucial para aqueles que defendem a obrigatoriedade da norma. Paiva explica que um produto fabricado fora dos preceitos de uma regulamentação normativa pode oferecer risco de acidentes e não garantir qualidade. “Um fabricante, caso a norma técnica não seja obrigatória, pode disponibilizar no mercado um produto totalmente inadequado ao consumidor”, afirma Paiva. Ele cita o exemplo de uma lâmpada, que pode ter durabilidade menor que a exigida pela norma e oferecer riscos à segurança pessoal, caso os materiais utilizados não estejam em conformidade com o conteúdo técnico preestabelecido. Comércio de normas 24-25 A observância da norma associada ao atual sistema de comercialização dos conteúdos técnicos é outro tema de discussão. A principal reclamação refere-se aos preços de normas ultimamente cobrados pelo órgão competente. Em 2008, para se ter uma idéia, o preço de uma norma variou entre R$ 90 e R$ 200, mas chegou a custar R$ 30 em um passado mais distante. O diretor do Itenac, Mauricio Ferraz de Paiva, considera que o valor de aquisição de uma norma técnica deveria incorporar apenas os efetivos gastos (papel, impressão e distribuição). Enquanto alguns profissionais alegam que o custo de uma norma é abusivo, tornando a distribuição de conteúdo técnico em negócio, a ABNT contesta. O diretor da entidade, Eugenio Tolstoy, compara a comercialização das normas aos métodos de certificação de produtos: “Para conseguir certificar um produto, o Inmetro exige que o produtor procure um laboratório cadastrado e pague para este estabelecimento realizar testes e ensaios, almejando obter o laudo favorável para a certificação”. O mercado se apóia na argumentação de que, como as normas são produzidas pela sociedade – especialistas, empresas, consumidores e neutros, todos voluntários – e a ABNT é um órgão sem fins lucrativos, as normas deveriam ter um valor mínimo apenas para cobrir os gastos com as reproduções, pois são documentos produzidos e direcionados para a utilidade pública. Na opinião de Paiva, não se pode cobrar pelo conteúdo da norma, pois não é uma propriedade privada. Para entender melhor, sob o ponto de vista jurídico, a Justiça se baseia na seguinte ordem de importância: lei; regulamento técnico (que atua como complemento da Lei); e normas, caso os dois mecanismos anteriores não sejam suficientes para uma decisão judicial. Segundo a ex-procuradora-geral do Estado de São Paulo e professora associada de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Anna Cândida da Cunha Ferraz, na maioria dos casos, os juízes dão o veredicto baseados na legalidade das normas técnicas, pois elas são citadas no texto do Código do Consumidor. A professora completa afirmando que o argumento principal utilizado por aqueles que defendem a voluntariedade das normas é errado pela diferença entre os termos: regulamento e norma. “O regulamento técnico é um dispositivo criado pelo Estado com o intuito de complementar a informação de alguma Lei. Já a norma técnica é um conteúdo criado por um grupo de técnicos especializados no respectivo assunto e atestado por um órgão selecionado pelo Estado (no caso do Brasil, a ABNT). Essa diferença não tira a observância da norma técnica”, explica Anna Cândida. Em outros países A normalização e o seu caráter de cumprimento, assim como os valores comercializados, variam de país para país. Mas, de qualquer forma, existem organizações nacionais que concentram as atividades de normalização e as internacionais International Organization for Standardization (ISO) e a International Electrotechnical Commission (IEC) são bem aceitas em parte do mundo. A IEC, chamada de “braço elétrico” da ISO, atua nos setores de eletrotécnica, eletrônica, iluminação e telecomunicações e, com mais de 60 países membros, exerce grande influência sobre a normalização brasileira. Observando a obrigatoriedade da norma em outros países, percebemos que a situação não é muito diferente da vivida no Brasil. O Instituto Português da Qualidade (IPQ), órgão normalizador de Portugal, especifica a venda de normas como uma de suas atribuições e esclarece que, de forma geral, as normas são voluntárias, tornando-se obrigatórias apenas quando houver legislação que determine o seu cumprimento. Este é, basicamente, o princípio que rege a questão normativa na maioria dos países. O site oficial da Canadian Standards Apoio Association (CSA), por exemplo, traz a mesma informação que o organismo português, mas acrescenta: “este conteúdo técnico (norma), só possui poder de lei quando é citada dentro dos recursos legislativos”. No caso brasileiro, o caso pode ser um pouco mais agravante, por conta do Código de Defesa do Consumidor, como já abordado. Os valores cobrados pelas normas também variam conforme a nação. No Canadá, o documento técnico pode ser encontrado desde a US$ 50 até US$ 195; no Japão, os preços variam entre 945 e 15 mil ienes (US$ 9 a US$ 138). Já nos Estados Unidos e na Austrália, muitas normas podem ser baixadas gratuitamente da internet, inclusive a norma australiana de instalações elétricas. O formato impresso é cobrado. Na Austrália, é possível comprar normas por preços que variam entre US$ 18 e US$ 111, enquanto, nos Estados Unidos, os valores podem ir de US$ 30 a US$ 2.000. Apenas para efeito comparativo, o NEC, código norteamericano para instalações elétricas de baixa e média tensão, custa US$ 75, ao passo que, no Brasil, a NBR 5410 (apenas para instalações elétricas de baixa tensão) é comercializada por R$ 165, aproximadamente US$ 100. Outra diferença é que, enquanto a primeira possui cerca de 700 páginas e envolve baixa e média tensão, além de especificações para alarmes, interfones e outros, a brasileira tem 210 páginas e trata apenas de baixa tensão. Esses dados comprovam que a discussão sobre a obrigato­ riedade das normas técnicas atravessa fronteiras e chega a outros países, assim como os valores cobrados para adquirir uma norma técnica são discutíveis e apresentam-se em diferentes formatos pelo mundo afora. Fotos: Inmetro Por Flávia Lima conformidade Laser de hélio-neônio com câmara de iodo do Laboratório Nacional de Metrologia. É utilizado para a realização da unidade de comprimento, o metro (m). Sob controle Mecanismos de avaliação da conformidade tiveram impulso com a globalização e com os avanços industriais e tecnológicos, que passaram a exigir padrões, além de mais qualidade e segurança, dos produtos comercializados 26-27 Pesos e medidas, como os consolidados quilograma e metro, além de outras convenções adotadas pelo mundo inteiro – com algumas exceções –, podem ser considerados como o start up para o avanço e para a solidificação da metrologia, a ciência das medições. Com o desenvolvimento da indústria, a necessidade de padronizações e de critérios de qualidade foi ainda mais determinante para o seu progresso. A partir da década de 1960, a difusão das técnicas de controle da qualidade nos Estados Unidos e na Europa representou uma transformação nas atividades comerciais, especialmente as transnacionais. Todos os setores econômicos – do varejo às compras governamentais – passaram a exigir a obediência não apenas às normas, mas também aos procedimentos e requisitos de qualidade. Até então, a qualidade de determinados processos, serviços ou produtos era atestada por consultores, quando havia algum método de avaliação. A partir de então, começou-se a implantar efetivamente técnicas de qualidade e surgiram entidades nacionais e internacionais de certificação, organizações capazes de averiguar as condições de qualidade e de segurança, muitas vezes, em conformidade com padronizações internacionais. José Luciano de Mattos Dias diz no livro de sua autoria, Medida, normalização e qualidade industrial, que “em menos de uma década, a utilização dos conceitos e técnicas da qualidade transformou-se em elemento decisivo na competição comercial internacional e na própria organização da atividade industrial”. A difusão das técnicas de qualidade conferiu nova relevância à exatidão das medidas, as quais passaram a ser cruciais para a redução do desperdício nos processos produtivos e necessárias para a padronização de insumos e equipamentos, especialmente com a globalização, com a tecnologia e com a crescente relação comercial entre países. Desse modo, laboratórios, instituições de metrologia e organismos de certificações foram nascendo para atender com idoneidade à demanda da indústria e da sociedade de modo geral, como veremos adiante. O início A história da metrologia advém da pesquisa científica, que abandona os gabinetes privados para unir-se às universidades, fato que acontece, principalmente, a partir das décadas de 1830 e 1840. Mattos Dias conta que, entre 1873 e 1913, foram criados 23 laboratórios de física experimental na Alemanha. Estes laboratórios começaram a oferecer insumos cada vez mais decisivos para o fortalecimento da indústria e para o surgimento de novos segmentos industriais, principalmente com o desenvolvimento da energia elétrica. Inúmeras convenções de pesos e medidas foram estabelecidas ao longo da história. Um ponto final na definição do sistema métrico foi a criação do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), em 1877, que conferiu 30 padrões do metro e do quilograma, repassados aos países signatários da Convenção do Metro (incluindo o Brasil), entre 1875 e 1889. Segundo o autor, a história da metrologia pode ser escrita como a história do impacto da ciência sobre o conceito de medida. A afinidade entre a ciência e o mundo dos negócios ficou evidenciada com o Congresso Internacional de Eletricidade de 1893, em Chicago, e confirmada pela Conferência Internacional de Londres, de 1908. Por ocasião desta Apoio conferência, foram definidas as unidades de corrente e de resistência elétricas. “O significado industrial das novas medidas já era então muito claro e sua utilização concreta não passava mais simplesmente pela calibração de padrões internacionais, mas também pela sua adequação e difusão”, relata Dias. Nos Estados Unidos, a história da metrologia foi estimulada muito mais pelo desenvolvimento industrial que pela ciência. As primeiras atividades de cunho metrológico remontam ao Coastal Survey, que, a princípio, disseminou padrões de pesagem ingleses. Anos depois, a necessidade de oferecer produtos com mais qualidade para o mercado internacional, a força da defesa do consumidor e a expansão da indústria de eletricidade promoveram diversas discussões, que culminaram na criação, em 1901, do Bureau of Standards. Mais tarde, as técnicas de qualidade romperam com o modelo fordista de produção. Ao contrário deste, que não exigia muita qualificação do operário, as novas técnicas de qualidade requeriam maior envolvimento do trabalhador com o processo produtivo e uso cada vez mais intenso da tecnologia. Somam-se a isso o advento de computadores, controles numéricos, robotização, técnicas de gerenciamento, bancos de dados, desenvolvimento da infra-estrutura, enfim, características que geraram, cada vez mais, processos de aperfeiçoamento da produção. Tal propriedade também contribuiu para o aperfeiçoamento dos procedimentos e dos requisitos de qualidade. Avaliação da conformidade no Brasil Os primeiros sinais de preocupação com a padronização técnica no Brasil foram dados pelo setor elétrico. Prova disso é a constituição do Comitê Eletrotécnico Brasileiro em 1908, criado para acompanhar os passos da evolução da normalização técnica internacional, dados pela Comissão Internacional de Eletrotécnica (International Eletrotechnical Comission – IEC), instituída apenas dois anos antes. Embora essa preocupação tenha sido contemporânea aos principais acontecimentos mundiais nesse sentido, o estabelecimento “A história da metrologia pode ser escrita como a história do impacto da ciência sobre o conceito de medida” 28-29 registro das normas brasileiras, e como órgão executivo do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). Em 1978, o Conmetro credencia o primeiro laboratório de ensaios: o Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) para certificação de conformidade à primeira norma compulsória, a NBR 5929, relativa a motores a álcool. Para entender, o Conmetro era o responsável pela classificação das normas, as quais poderiam ser registradas/voluntárias, compulsórias, referendadas ou probatórias. A Secretaria de Tecnologia Industrial (STI), do Ministério da Indústria e Comércio, passou a cooperar com as atividades vinculadas às áreas de metrologia e qualidade industrial. A partir de 1984, apesar da conjuntura econômica e política não favorável, a ampliação das exportações e a busca pela redução dos custos industriais e pela satisfação do consumidor levaram a STI, segundo Mattos Dias, às seguintes ações: • Ampliação do acervo de normas técnicas por meio do fortalecimento da ABNT; • Incorporação da rede de centros tecnológicos nacionais e regionais, incluindo laboratórios especializados em ensaios de verificação da qualidade de produtos; • Estruturação de um sistema de certificação de qualidade com os procedimentos adotados internacionalmente; • Incorporação apenas de máquinas ou equipamentos que utilizassem o Sistema Internacional de Unidades (SI). O fato é que, com a definitiva implantação e reconhecimento do Inmetro, em 1980, adotaram-se medidas para acelerar a criação dos sistemas de normas e de certificação de qualidade. No mesmo ano, cria-se a Rede Nacional de Calibração (RNC), constituída por laboratórios credenciados pelo Inmetro, segundo normas internacionais, para a calibração de padrões de instrumentos de medição não usados em transações comerciais ou incluídos no âmbito da metrologia legal. Um ano depois, novas resoluções do Conmetro publicam procedimentos para o credenciamento de laboratórios de ensaios pelo Inmetro, no âmbito da Rede Nacional de Laboratórios de Ensaios (RNLE), mais tarde alterada para Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios (RBLE). Sem contar ainda com um sistema efetivo de certificação de qualidade, foi formado pelo Instituto Brasileiro de Qualidade Nuclear (IBQN), em 1985, o primeiro grupo de auditores da qualidade do Inmetro. laboratórios acreditados de critérios de qualidade e a avaliação da conformidade evoluíram muito lentamente no País. De acordo com Pedro Carlos da Silva Telles, em História da engenharia no Brasil – século XX, a Estação Experimental de Combustíveis e Minérios (EECM), criada em 1922, foi a primeira instituição oficial no Brasil com a finalidade específica de realizar pesquisas tecnológicas e ensaios de materiais. Até então, havia algumas pesquisas e ensaios realizados, como o “Manual de resistência dos materiais”, de 1905, considerada a primeira publicação brasileira sobre o assunto. Em 1934, foi fundado o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), sob a estrutura da Escola Politécnica de São Paulo. Tais instituições nasceram para suprir a necessidade de “estabelecimento de padrões técnicos, apoio à indústria e aos órgãos técnicos e empresas governamentais”, cita o autor. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos os programas de qualidade já estavam bem difundidos, no Brasil, havia pouco interesse, principalmente pela falta de capacitação e de coordenação de atividades de normalização e certificação de qualidade, os quais partiam de níveis bastante baixos. Além disso, o Brasil não possuía um histórico de avaliação da conformidade. Teria de partir do zero. Dessa forma, seria necessário construir e capacitar laboratórios, adquirir equipamentos e encontrar profissionais qualificados, além de angariar recursos de empresas públicas e privadas. José Luciano Mattos Dias diz que o sistema de metrologia industrial deveria ser instalado por meio da articulação com laboratórios no exterior e as atividades de normalização deveriam adquirir novo ritmo com a reestruturação da ABNT. Assim, o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro), instalado em 1974, determinou que até que fosse criado o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), o existente Instituto Nacional de Pesos e Medidas ficaria credenciado como organismo nacional de certificação de qualidade, responsável pela classificação, bem como pelo A rede de acreditação do Inmetro conta, em 2008, com 293 laboratórios de ensaios (RBLE) e 212 laboratórios de calibração (RBC). O governo Collor trouxe algumas mudanças significativas no âmbito da normalização/certificação. A principal delas foi o lançamento do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP), que responsabilizou o Inmetro pelas atividades: divulgar a qualidade e a produtividade para o grande público, consolidar os laboratórios metrológicos, capacitar as redes brasileiras de calibração e laboratórios de ensaios, implantar sistemas de qualidade, integrar as entidades de defesa do consumidor e estimular a criação de entidades certificadores, o desenvolvimento da normalização e a difusão da informação tecnológica. Essa medida foi promulgada a fim de incentivar o envolvimento de empresas privadas e órgãos governamentais com os processos normativos e certificadores. E funcionou. Apoio “A demanda do setor produtivo pelos serviços do Instituto tornou-se finalmente uma realidade, uma vez que a adoção das técnicas de gestão da qualidade não só se mostraram fonte de ganhos de produtividade em mercados competitivos internamente, mas a certificação de qualidade tornou-se o passaporte de acesso aos mercados internacionais”, relata o livro Medida, normalização e qualidade. A continuidade dos trabalhos culminou na criação, em 1992, do Comitê Brasileiro de Certificação (CBC), com a função de aprovar procedimentos, critérios e regulamentos para o credenciamento de organismos de certificação. Com estes procedimentos, o Instituto passava a credenciar e auditar os organismos de certificação públicos e privados. A certificação compulsória ficou restrita à saúde, segurança e meio ambiente, devendo ser realizada por organismo acreditado (credenciado), sob a coordenação do Inmetro. Até meados de julho de 2008, havia 15 produtos destinados especificamente para a área elétrica com programas compulsórios de certificação (veja tabela). O chefe substituto da Divisão de Programas de Avaliação da Conformidade da Diretoria de Qualidade do Inmetro, Leonardo Machado Rocha, esclarece que o Inmetro desenvolve as regras dos regulamentos com base nos processos internacionais, como os da ISO e os da IEC. Da mesma maneira, as políticas de acreditação de laboratórios e organismos certificadores são embasadas nos critérios internacionais. A Resolução nº 01, publicada pelo Conmetro em maio de 2008, lista 111 produtos e serviços que devem ter programas compulsórios de Avaliação da Conformidade desenvolvidos no próximo quadriênio (2008 – 2011). Da lista publicada, os seguintes itens são relativos ao setor elétrico: cabos elétricos isolados livres de halogênio e com baixa emissão de fumaça e gases tóxicos, 750 V e 1 kV; central de alarme; detector de fumaça; detector de temperatura contra incêndio; filtro de linha/protetor de rede elétrica; cabos e cordões flexíveis, para tensões de 450 V a 750 V (IEC 60245-4); cordões flexíveis para tensões de Geradores para a padronização primária de força, por meio de massas suspensas sob ação da gravidade. À esquerda, para a força de 10 kN e, à direita, para 100 kN. Laboratório Nacional de Metrologia. Protótipo do quilograma padrão de 1889, marcado com a letra K, mantido em cofre no prédio do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), em Sèvres, na França. 450 V a 750 V, com isolação e cobertura externa de PVC (IEC 60227-5); instalações elétricas de casas populares; lâmpadas incandescentes; nobreak até 10 kVA; e reator para lâmpadas de alta intensidade. A certificação voluntária, até o ano de 2006, era possível no âmbito do Inmetro, mas, com a publicação da Portaria 73/2006, os produtos com conformidade avaliada voluntariamente por organismos acreditados pelo Inmetro, e não decorrente de Programas de Avaliação da Conformidade do Instituto, devem conter unicamente a marca do organismo avaliador para demonstrar que a conformidade foi atestada. Tipos de avaliação da conformidade - Inmetro Define-se avaliação da conformidade como um processo sistematizado, com regras predefinidas, devidamente acompanhado e avaliado, de forma a propiciar adequado grau de confiança de que um produto, processo ou serviço, ou ainda um profissional, atende a requisitos preestabelecidos em normas ou regulamentos. Apresenta-se nos seguintes mecanismos: 30-31 • Certificação Realizada por uma organização independente acreditada, a certificação consiste em avaliar o atendimento de determinado produto ou processo à norma ou ao regulamento técnico específico. Essa análise pode ser executada por meio de ensaios, inspeções, coletas de amostras no fornecedor e/ou no comércio e auditorias. Trata-se de um modelo de avaliação de conformidade de terceira parte. • Declaração de fornecedor Processo pelo qual um fornecedor, sob condições preestabelecidas, dá garantia escrita de que um produto, processo ou serviço está em conformidade com requisitos especificados. Trata-se de um modelo de avaliação de conformidade de 1ª parte. • Inspeção Observação e julgamento acompanhados, conforme apropriado, por medições, ensaios ou uso de calibres. As inspeções visam à determinação da conformidade aos regulamentos, normas ou especificações. É importante esclarecer que os resultados das inspeções podem apoiar a Certificação e a Etiquetagem, e o Ensaio pode integrar as atividades de Inspeção. • Etiquetagem Trata-se de etiqueta informativa que indica seu desempenho de acordo com os critérios estabelecidos. Esta etiqueta pode ser comparativa entre produtos de um mesmo tipo ou somente indicar que o produto atende a um determinado desempenho especificado, podendo ser, ainda, de caráter compulsório ou voluntário. • Ensaios Operação técnica que consiste na determinação de uma ou mais características de um dado produto, processo ou serviço, de acordo com um procedimento especificado. É o mecanismo mais utilizado, podendo atuar com a inspeção. - Internacionais A conformidade de um produto a uma norma ou regulamento pode ser verificada de forma voluntária por outros organismos ligados ou não ao Inmetro, conforme desejo ou necessidade do fabricante. A americana UL, por exemplo, começou suas operações no Brasil em julho de 1999, com o objetivo de auxiliar a indústria local a exportar os seus produtos. O gerente de marketing e vendas da UL do Brasil, Péricles Arilho, conta que foi feita uma pesquisa de mercado para identificar as áreas de maior demanda e que o primeiro segmento a ser trabalhado foi o de equipamentos para atmosferas explosivas. Além de certificar produtos destinados principalmente à exportação, de acordo com as normas UL e com os requisitos normativos norte-americanos (NEC), a UL foi acreditada pelo Inmetro, em 2002, e passou também a avaliar a conformidade de produtos com as normas da ABNT. Ademais, as empresas que objetivam comercializar seus produtos em mercados estrangeiros devem atender a diferentes requisitos. Na América Latina, nem todos os países exigem certificações de produtos elétricos. Dentre os que exigem, estão, além do Brasil, a Argentina, e o México, observando as variações locais: marca Inmetro no Brasil; S na Argentina; NOM no México. Sobre isso, Arilho afirma que as normas brasileiras são bem respeitadas aqui Apoio e no exterior, mas ainda há muito que fazer: “o Brasil evoluiu bastante, entretanto, o mercado cresceu mais do que a fiscalização pode dar conta”. Segundo ele, o sistema poderia ser mais rápido e um pouco mais descentralizado. “Há muitos produtos que poderiam ter avaliação da conformidade compulsória, mas ainda não são, tais como equipamentos eletrônicos, de iluminação e de Tecnologia da Informação (TI)”, analisa. Na União Européia, os produtos elétricos devem estar harmonizados com as normas européias da Cenelec. Já na América do Norte, para serem mais facilmente aceitos, os produtos precisam atender às especificações das normas Ansi, UL, Nema, IEEE, NFPA, entre outras, nos Estados Unidos, ou CSA, no Canadá. Além disso, existem algumas normas harmonizadas pela Canena para o comércio de produtos elétricos no âmbito do Nafta (área de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá). Em diversos países, como Japão e Austrália, os produtos devem estar em conformidade com as normas da IEC. Embora não haja certificação compulsória de produtos nos Estados Unidos, o NEC – norma de instalação elétrica mais aceita no País – diz que “todos os produtos utilizados nas instalações devem ser aprovados pelas autoridades competentes”. Essa responsabilidade está a cargo das prefeituras ou do Corpo de Bombeiros, que elaboram a sua relação de produtos (com especificações técnicas e fabricantes) ou incorporam listas de entidades normativas reconhecidas, como a da própria UL. Produtos destinados à área elétrica com certificação compulsória Equipamento para a realização do metro, utilizando um laser estabilizado, em laboratório do BIPM. Cronologia Algumas datas importantes na história da metrologia 32-33 1830 - Início da história da metrologia brasileira. Projeto de adoção do sistema métrico decimal. 1875 - Dezessete países, incluindo o Brasil, assinam, em Paris, a Convenção do Metro. 1877 - Criado o Bureau Internacional de Pesos e Medidas. 1930 - Regulamentação para calibração de pesos e medidas sem alterações nas tabelas de taxas. 1933 - Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) incorpora o Instituto Nacional de Tecnologia (INT). 1938 - INT assume a gestão de um sistema de metrologia legal no âmbito nacional. 1940 - Criação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 1954 - Foram escolhidas seis unidades fundamentais: metro (extensão, definição desde 1889); quilograma (padrão de massa, desde 1889); segundo (tempo); ampère (corrente elétrica, desde 1948). Apenas a unidade de tempo não tinha definição aprovada pelo CGPM. 1956 - Criação da Organização Internacional de Metrologia Legal/OIML. 1960 - Institucionalização do Sistema Internacional de Unidades – SI. 1961 - Reestruturação do Ministério da Indústria e Comércio, determinada pela Lei nº 4.048/61, criando o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), transferindo as atividades de cunho metrológico do INT para este novo órgão. 1971 - Instalação do prédio inaugural do Centro Nacional de Metrologia e transferência do INPM para Xerém – Duque de Caxias – RJ. 1973 - Nasce o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). 1973 - Criação do Inmetro, autarquia federal vinculada ao MIC, com personalidade jurídica e patrimônio próprios. 1974 - Instalação do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro). 1978 - Conmetro define os critérios para a certificação de conformidade às normas brasileiras e cria o Comitê Nacional de Metrificação. 1978 - Aprovada a primeira norma brasileira na vigência da nossa legislação, a norma compulsória NBR 5929 relativa a motores a álcool. 1980 - Definitiva implantação do Inmetro com a transferência das atribuições do INPM. 1980 - Criação da Rede Nacional de Calibração (RNC), mais tarde chamada de Rede Brasileira de Calibração (RBC). 1981 - Resoluções do Conmetro detalhando os procedimentos para o credenciamento de laboratórios de ensaios pelo Inmetro, no âmbito da Rede Nacional de Laboratórios de Ensaios (RNLE). 1990 - Lançamento do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP). 1992 - Criação do Comitê Brasileiro de Certificação, com a função de aprovar procedimentos, critérios e regulamentos para o credenciamento de organismos de certificação. 1995 - Criação do International Accreditation Forum (IAF). 1996 - Criação do Interamerican Accreditaion Cooperation (Iaac), organização que elegeu o Brasil (Inmetro) como seu primeiro representante. 2000 - Assinatura do Acordo de Reconhecimento Mútuo para Credenciamento de Laboratórios entre o Inmetro e o International Accreditattion Cooperation (Ilac). Produtos Órgão regulamentador Documento legal Data Disjuntores Inmetro nº 35 de 14/02/2005 17/02/2005 Equipamentos elétricos para atmosferas potencialmente explosivas, nas condições de gases e vapores inflamáveis Inmetro Portaria do Inmetro nº 083 de 03/04/2006 06/04/2006 Inmetro Portaria Inmetro nº 262 de 12/07/2007 18/07/2007 NBR 14373:2006 Inmetro Portaria do Inmetro nº 086 de 26/05/2003 27/05/2003 NBR 7288 Inmetro Portaria do Inmetro nº 085 de 26/05/2003 27/05/2003 NBR 13249 Portarias Inmetro nº 087 de 20/05/2003, 184 de 04/12/2003 e 175 de 19/10/2004 Portaria Inmetro nº 101 de 16/07/2001 e Resolução Conmetro nº 15 de 12/10/1988 Portaria Inmetro nº 234 de 30/06/2008 Resolução Conmetro nº 08 de 26/07/1988, Portarias do Inmetro nº 136 de 04/10/2001 e nº 134 de 15/07/2002 Portaria Inmetro nº 188 de 09/11/2004 27/05/2003, 08/12/2003 e 21/10/2004 NBR NM 247-3 19/07/2001 e 21/10/1988 NBR 5113, NBR 5157, NBR 6523, NBR 6280, NBR 6254 e NBR 6996 Inmetro Portaria Inmetro nº 20 de 29/01/2002 05/02/2002 NBR 5114/1998 NBR 5172/1998 Inmetro Portaria Inmetro n° 281 de 19/07/2007 23/07/2007 NBR 14898:2002 Inmetro Portaria Inmetro n° 282 de 19/07/2007 23/08/2007 NBR 14897:2002 23/08/2007 NBR 14633:2000 23/08/2007 NBR 14.936:2006 Estabilizadores de tensão monofásicos, com saída de tensão alternada, com tensão nominal de até 250 V em potências de até 3 kVA/3 KW Fios e cabos elétricos - cabo de potência com isolação sólida extrudada, de PVC, para tensões de 0,6/1,0 kV Fios e cabos elétricos - cabos e cordões flexíveis para tensão até 750 V, com isolação/cobertura extrudada de cloreto de polivinila (PVC) Fios e cabos elétricos - condutores isolados com policloreto de vinila (PVC), para tensões de 450/750 V, sem cobertura, para instalações fixas Fusíveis tipo rolha e tipo cartucho Interruptores para instalação elétrica fixa doméstica, análoga, para tensões de até 440 V Plugues e tomadas para uso doméstico e análogo Inmetro Inmetro Inmetro Inmetro Reatores eletrônicos alimentados em corrente alternada para lâmpadas fluorescentes Reatores para lâmpadas fluorescentes tubulares Cabos flexíveis isolados com borracha etilenopropileno (EPR), para aplicações especiais em cordões conectores de aparelhos eletrodomésticos, em tensões até 500 V Cabos e cordões flexíveis isolados com policloreto de vinila (PVC) para aplicações especiais em cordões conectores de aparelhos eletrodomésticos, em tensões até 500 V Cordões flexíveis com isolação extrudada de polietileno de clorossulfonato (CSP) para tensões até 300 V Adaptadores de plugues e tomadas Inmetro Inmetro Inmetro Portaria Inmetro n° 286 de 19/07/2007 Portaria do Inmetro nº 324 de 21/08/2007 03/07/2008 A BNT NBR NM 60.669-1:2004 11/08/1988, 18/10/2001 e 17/07/2002 NBR 6147 e IEC 60884-1 11/11/2004 NBR 14417/1999 NBR 14418/1999 Pesquisa: Medida, normalização e qualidade, de José Luciano de Mattos Dias / História da engenharia no Brasil – século XX, de Pedro Carlos da Silva Telles Confederação Nacional da Indústria (CNI) / Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) Apoio Documento normativo NBR 5361, NBR IEC 60947-2 NBR IEC 60898 ou NBR NM IEC 60898 NBR 9518, NBR 5363, NBR 8447 e NBR 9883 Por Flávia Lima Fotos: Centro Paula Souza formação Fachada do edifício que abrigava o Instituto Profissional Feminino, atual ETE Carlos de Campos. Alunos da Escola Profissional Masculina aguardando o sinal de início das aulas no pátio da escola. Foto da década de 1910. Educação profissional Indústria é a grande fomentadora do desenvolvimento dos ensinos técnico e tecnológico 34-35 Cerca de 200 jovens, com idade entre 8 e 12 anos, aprendiam diversos ofícios, ao mesmo tempo em que recebiam técnicas de desenho e lições de escrita. Órfãos, indigentes ou filhos de pais reconhecidamente pobres, aos 21 anos, obtinham o certificado de mestre em uma especialidade e eram contratados como operários efetivos, passando a ser remunerados. O ano era 1884 e os aprendizes eram escalados para trabalhar no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. Podemos dizer que este foi o início do ensino profissionalizante no Brasil. Mas, de lá para cá, muita coisa mudou: escolas técnicas e de tecnologia foram instituídas e os cursos oferecidos ganharam reconhecimento como legítimos formadores de profissionais, especialmente, para a indústria. Vejamos alguns passos dessa evolução. Uma data importante para a educação profissional foi 1909, ano em que foi publicado o Decreto nº 7.566, assinado pelo então presidente Nilo Peçanha, que criou as Escolas de Aprendizes e Artífices que tinham como objetivo a formação de mão-de-obra especializada para atender ao crescente desenvolvimento industrial brasileiro. Essas escolas começaram a se espalhar por todo o País, mas ainda eram direcionadas aos “filhos dos desfavorecidos da fortuna”, conforme denominava a lei. As escolas existentes no fim do Império e início do século XX eram raras, mantidas e dirigidas por ordens religiosas ou por alguns grupos de imigrantes e dedicava-se, majoritariamente, à educação de crianças das classes mais privilegiadas. Quanto ao ensino profissional, as primeiras escolas oficiais do Estado foram criadas em 1910, como parte do projeto de constituição de um mercado interno de mão-de-obra qualificada. O objetivo dessas escolas era atingir uma parcela da população específica, os filhos de trabalhadores que iriam “seguir a profissão de seus pais” e constituíam “uma fonte de inesgotável atividade e energia, alimentando as forças vivas de nosso Estado”, conforme consta do relatório apresentado ao presidente do Estado em 1912. Em 1911, começam a funcionar em São Paulo, a Escola Profissional Masculina (atual ETE Getúlio Vargas) e a Escola Profissional Feminina (ETE Carlos de Campos), destinadas ao ensino das artes industriais para os meninos e economia doméstica e prendas manuais para as meninas. Ao final da década de 1920, o ensino profissional funcionava regularmente em diversas regiões do País. A partir da década de 1940, as principais transformações ocorreram no ensino secundário e o ensino profissional preocupou-se em formar trabalhadores. Dessa maneira, foi dada maior autonomia para as escolas e para os Estados, na tentativa de romper a tradição de que o ensino “técnico” era destinado às classes subalternas e o “acadêmico” para a elite e para as classes dirigentes. Antes, porém, uma escola americana lançava as bases do ensino técnico propriamente dito no Brasil. O Mackenzie College, que foi fundado com o intuito de expandir o protestantismo, dava início, em 1896, à Escola de Engenharia Mackenzie. Em 1932, o Mackenzie lançava um curso técnico Apoio de eletricidade e, dois anos depois, outro curso técnico, de química. Celso Suckow da Fonseca explica, em seu livro História do ensino industrial no Brasil, que os cursos técnicos visavam atender aos que não podiam fazer estudos mais extensos, de seis ou sete anos, depois de completadas as cinco séries ginasiais, até por falta de preparação exigida por Lei para se matricular nos cursos superiores oficiais. O fato é que a Escola Técnica Mackenzie antecipava-se às escolas que surgiriam em 1942 com a Lei Orgânica do Ensino Industrial. “Na data em que foi fundada, ainda não existiam escolas técnicas com a finalidade de preparo de pessoal que ficasse em nível de cultura intermediário entre o dos engenheiros e o dos operários”, afirma Fonseca. Segundo ele, o Mackenzie pode ser considerado um precursor do ensino técnico no País. Com o Decreto-Lei n. 4.048/1942, assinado pelo então Presidente da República, Getúlio Vargas, a educação destinada à qualificação profissional de trabalhadores industriais passaram a ser geridas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). “Era um momento histórico marcante, em que a indústria brasileira enfrentava as circunstâncias da Segunda Guerra Mundial, que agravava a questão da demanda de mão-de-obra qualificada”, explica o professor e gerente de Tecnologia Industrial do Senai São Paulo, Osvaldo Lahoz Maia. O ensino técnico A definição do termo técnico aplica-se a “toda pessoa que trabalha em uma profissão que exige conhecimentos científicos e técnicos intermediários entre as do trabalhador qualificado e as do engenheiro ou dos quadros superiores. O técnico pode desempenhar tarefas de inspeção e manutenção, Bandeirantes técnicos, na cidade de Franca (SP), em 1935. 36-37 de aparelhamento de processos de execução, de controle da produção. A colaboração com o engenheiro constitui parte essencial de seu trabalho”. Esta é a designação adotada pela Conferência Geral da Unesco, realizada em 1962. Os níveis profissionais podem ser assim definidos: nível técnico, nível técnico superior e nível superior (engenheiro). O ensino técnico foi conquistando espaço na medida em que as necessidades das indústrias cresciam e não havia profissionais o suficiente para suprir essa demanda. Particularmente, nos países em desenvolvimento, o número dos que se formam não era suficiente para corresponder à procura. Todos os países passaram por isso, inclusive o Brasil. “Esta penúria de técnicos manifestou-se com agudeza nos Estados Unidos, mas o mesmo aconteceu na Europa Ocidental”, afirma o autor do livro O ensino técnico e profissional, Hugh Warren. Ele explica ainda que certos países, levados pelo entusiasmo de ter criado uma universidade, quase sempre custosa, mas formando apenas poucos especialistas, tendiam a negligenciarem a formação de nível técnico e de técnico superior. Mas, segundo ele, a formação no nível intermediário é menos cara e corresponde às necessidades da indústria tão bem ou ainda melhor que a formação de engenheiros diplomados. Tanto que hoje o ensino técnico é um dos que mais se desenvolve. Maia concorda: “no passado havia realmente um certo preconceito injustificado quanto à formação técnica em detrimento do diploma de graduação, mas, hoje, a procura Alunos e professores na aula de mecânica. Década de 1930. por técnicos e outros profissionais qualificados é bastante intensa”, avalia. Para se ter idéia, em 1947, havia em São Paulo 26.430 indústrias, com 579.228 funcionários, o que significava um vasto campo de trabalho. Os segmentos de fiação e tecelagem (27%), mecânica e material elétrico (15,3%), construção e mobiliário (15,2%) e alimentação (10,8%) representavam juntos 68,3% do total de empregados na indústria. Dessa forma, para atender às necessidades de pessoal especializado para as fábricas de tecidos, o Senai inaugurou, em 1945, a primeira Escola Têxtil de São Paulo, ensinando o ofício de fiandeiro e tecelão de algodão, de lã e de seda. Mais tarde, em Jundiaí, no lugar da Escola Municipal e do Núcleo de Ensino Ferroviário, passa a funcionar a Escola Industrial Dr. Antenor Soares Gandra, oferecendo os cursos industriais de mecânica de máquinas, aparelhos elétricos e telecomunicações, fundição, cerâmica, tecelagem, motores a explosão, alvenaria e construções, além de corte e costura. Na década de 1990, o Senai contou com apoio técnico e financeiro de instituições de diversos países, como Alemanha, Canadá, Japão e Estados Unidos. A média de 15 mil alunos anuais, nos primeiros anos da entidade, passou para 2 milhões. As primeiras escolas deram origem a uma rede de 696 unidades operacionais, distribuídas por todo o País, onde são oferecidos cerca de 2.200 cursos de formação profissional, além de programas de qualificação e aperfeiçoamento específicos. Ensino superior de tecnologia A expansão automobilística, vivida principalmente nos anos de 1970, foi outra grande fomentadora do ensino técnico. “Naquele momento, vivíamos o milagre econômico e a idéia do governo era oferecer um profissional que não precisasse cursar uma faculdade por cinco anos para atender à demanda da indústria, que era urgente”, explica o tecnólogo Décio Moreira. Assim, os cursos de tecnologia surgem no Brasil em 1969, com um Decreto-lei assinado pelo então governador de São Paulo, Abreu Sodré, que criava uma entidade autárquica destinada a desenvolver a educação tecnológica nos graus de ensino médio e superior. Assim, o Centro Paula Souza iniciava suas atividades em 6 de outubro daquele ano, ainda chamado de Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo. A princípio, os cursos eram basicamente voltados para os ensinos mecânico e civil voltados para o setor produtivo. Só depois de alguns anos, esses cursos passaram a ser chamados de “ensino superior de tecnologia”. A Faculdade de Tecnologia de Sorocaba foi a primeira das “Fatecs”, criada em 20 de maio de 1970. Seu primeiro dia letivo contou com 66 alunos, que começavam seus estudos no curso técnico superior de Oficinas, atual Processos de Produção. No ano seguinte, a Fatec de Sorocaba passou a ser subordinada ao Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo, atualmente Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”. Apoio Em 1978, o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet) foi criado, no Rio de Janeiro, como autarquia de regime especial, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. O Cefet integrou a rede de ensino tecnológico, passando a ofertar cursos de graduação e pósgraduação, atividades de extensão e realização de pesquisas na área tecnológica. Professor da Fatec São Paulo há 30 anos, Décio Moreira conta que, mesmo com o surgimento de diversas instituições de ensino tecnológico, esses cursos eram enxergados com certo preconceito. “As empresas não entendiam um curso de tecnologia como graduação, mesmo as universidades públicas demoraram a aceitar os tecnólogos em seus cursos de pósgraduação stricto sensus”, conta. A partir de 1996, entretanto, com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a situação mudou. A nova lei passou a contemplar os cursos de tecnologia como educação superior e, assim como a procura aumentou, a oferta também. Os cursos oferecidos pelas escolas de tecnologia, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), devem ter de 1.600 horas a 2.400 horas, dependendo da formação. Essa carga horária equivale a dois ou três anos de graduação. Para se ter idéia, o Centro Paula Souza, atualmente, a maior rede estadual de ensino profissional do País, é responsável pela formação de cerca de 140 mil estudantes nas 141 Escolas Técnicas (Etecs) e nas 39 Faculdades de Tecnologia (Fatecs). Senai-SP/Acervo Projeto Memória Oficina de carpintaria da Escola Senai “Félix Guisard”, de Taubaté (SP), ano de 1943. Aula de desenho, em 1940. As carteiras, de madeira, possuíam forma de pranchetas. Integração com a indústria A mulher e a eletricidade na favela “Uma senhora que mora em uma favela vizinha à escola foi nos procurar para fazer o curso de eletricidade. Ela ganha a vida lavando e passando roupa para os outros. Num belo dia, inventou de comprar um super ferro industrial, para facilitar a vida no trabalho. E não é que o ferro da mulher pôs fogo no barraco? Parece que ele tinha 2.600 W e, em toda tomada que ela colocava, a tomada derretia. Ela então nos procurou para saber: “por que será que, logo agora que o ferro novo ia resolver o meu problema, o danado está pondo fogo no barraco?”. Eu sei que, conversa vai, conversa vem, ela decidiu fazer o curso conosco. E fez: subiu escada, instalou lâmpada fluorescente, não teve problema que não enfrentasse. Na hora de subir na escada, prendia a saia entre as pernas e ia em frente; do jeito que os outros faziam ela fazia também. Depois que terminou o curso, não conseguiu emprego nenhum em firma. Ficou dentro da favela mesmo. Agora, ela passou a ser uma referência lá dentro: tem resolvido os problemas de eletricidade das vizinhas e de outros moradores. Possivelmente, essa mulher já evitou alguns desastres dentro daquela favela! Para mim, foi muito gratificante ter aquela senhora na sala de aula.” Depoimento de um professor de eletricidade de uma escola técnica de São 38-39 Paulo (in A eletricidade em educação, 2001). As escolas de ensino técnico e superior de tecnologia nasceram, fundamentalmente, estimuladas por uma necessidade da indústria. Dessa forma, durante quase toda a história do ensino profissional, as instituições mantinham – e continuam mantendo – parcerias com empresas, que recorrem às escolas em busca de corpo técnico e de pesquisas. A Fatec São Paulo, por exemplo, conta com uma fundação de apoio, que incorpora professores e alunos da faculdade, desenvolvendo pesquisas e prestando serviços técnicos e tecnológicos. “Por meio desses trabalhos, os alunos aprendem mais e podem ser contratados pelas empresas para as quais executaram algum serviço”, afirma Moreira. O professor Maia, do Senai, explica que os técnicos têm sua própria identidade profissional, bem como seu espaço de atuação, não havendo a necessidade de superposição com as atividades de engenheiros ou outros graduados. “Muitos jovens estão preferindo investir na carreira de técnico especializado, em detrimento de uma formação acadêmica generalista, que nem sempre oferece uma colocação no mercado de trabalho”, conta. Quanto à posição no mercado, os técnicos ocupam normalmente a posição de chefia média nas empresas. “Eles têm autonomia para responder por projetos até onde as suas atribuições legais permitem. Normalmente, além de trabalhos técnicos, eles também podem chefiar equipes e desenvolver Apoio projetos de novos produtos ou ainda atuar fortemente em departamentos de manutenção”, explica Maia. No entanto, uma preocupação ainda não foi superada pelos tecnólogos. Algumas restrições do sistema Crea/Confea impedem que tecnólogos sejam responsáveis por projetos técnicos ou pela direção de obras ou processos nas áreas de arquitetura, engenharia e agronomia. De qualquer forma, o curso técnico não substitui o curso de graduação, mas o professor Osvaldo Maia esclarece que há uma grande necessidade de técnicos de nível médio na indústria e sempre haverá necessidade de profissionais desse nível, desempenhando atividades especializadas. Estatísticas do Senai revelam que 80% dos alunos formados estão empregados em até dois anos após a conclusão do curso. Um indicador da competência da instituição é a empregabilidade. Uma pesquisa realizada pelo Sistema de Avaliação Institucional (SAI), do Centro Paula Souza, concluiu que, em 2007, os tecnólogos atingiram um índice de empregabilidade de 92% e os técnicos, de 77%. Pesquisa: O ensino técnico e profissional: um estudo comparativo da situação atual e tendências em 10 países, FGV – Hugh Warren História do ensino industrial no Brasil, volumes 1 e 2, 1961/1962 - Celso Suckow da Fonseca Egressos do ensino técnico industrial no Brasil: um estudo de caso, 1990 – Maria Laura P. Barbosa Franco e Annete Serber A eletricidade em educação – Memória de oficinas, 2001 Contribuição para a racionalização do ensino industrial, tese, 1961 – Moysés Brejon Escolas profissionais públicas do Estado de São Paulo – uma história em imagens, Centro Paula Souza, 2002 – Organização de Carmen Sylvia Vidigal Moraes e Júlia Falivene Alves descontração E E S C diagrama as palavras da relação abaixo, respeitando os cruzamentos. Divirta-se! O I S D F U S J O T E I C U I N O T E J L E V N T L T S U E R S A O N S E U A T R L H T O O D E L O L O E T T E C C U T O U T O E R A O L T I R E O N T E T E P I R N R I N A E C I M E T R O I O A H C T L M O B E A I D Z A K H M A E D E S S I N T T E O P I T R A R R F A S I C S M R T P O O R O N R S R E R I C S T N C P E R P R M M D D A I E C 40-41 Diagrama elétrico Este jogo consiste em escrever no R T E N C I R C E A O A Ampére Amperímetro Arco elétrico Aterramento Condutor Curto Dicróica Disjuntor Eletrodo Elétron Epi Esco Fusível Haste Hertz Hidrelétrica Iec Joule Motriz Neutro Nobreak Ohm Potencia instalada Potência Resistência Resistor Surto Tensão Timer Trifásico Usina Apoio Apoio