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Guia Executivo Para Decisões Estratégicas

ARTIGO DA REVISTA COMPUTERWORLD MOSTRANDO COMO A TI VERDE É IMPORTANTE PARA A PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS.

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EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 1 EXECUTIVE BRIEFING GUIA EXECUTIVO PARA DECISÕES ESTRATÉGICAS O QUE É PRECISO SABER PARA ADOTAR A TI VERDE CAPÍTULO 1 O QUE É A ISO 14.001? CAPÍTULO 2 AQUECIMENTO GLOBAL: É PROBLEMA DA TI? CAPÍTULO 3 TI TAMBÉM COMEÇA A FICAR VERDE CAPÍTULO 4 TI VERDE: COMO REDUZIR GASTO DE ENERGIA E RESÍDUOS EM PCS? CAPÍTULO 5 TI VERDE: QUANDO O CAIXA É A MOTIVAÇÃO CAPÍTULO 6 OS SEIS PASSOS PARA UM DATA CENTER VERDE CAPÍTULO 7 O LADO VERDE DA TECNOLOGIA CAPÍTULO 8 POR QUE OS GRUPOS AMBIENTALISTAS ESTÃO ERRADOS SOBRE O ‘E-DESPERDÍCIO’ V I S Õ E S E A N Á L I S E S D O S 2 3 5 6 8 9 12 16 Em 2006 foram vendidos cerca de 6 milhões de PCs no Brasil. O País ocupa, hoje, a terceira posição no mundo em unidades vendidas. Mas qual será o custo desta corrida à tecnologia para o meio ambiente daqui a 10 anos? Se nada mudar, uma parte significativa desses equipamentos vai acabar em aterros, dividindo espaço com monitores, teclados e periféricos descartados. Da mesma forma, outro tema que também começa a chamar atenção é o consumo crescente de energia nos data centers. Cada vez mais, diretores e gerentes de infra-estrutura de todos os setores se preocupam com o caminho dado aos resíduos de suas áreas despejados no meio ambiente. É a chamada TI Verde, uma nova postura de gerenciamento que engloba, entre outros, o cumprimento da legislação ambiental, diagnóstico atualizado dos aspectos e impactos ambientais de suas atividades, procedimentos-pa drão e planos de ação para eliminar ou diminuir impactos ambientais. Conheça neste documento preparado pelos editores do Computerworld o que é preciso saber para você também entender e começar a adotar a TI Verde. E D I T O R E S D O C O M P U T E R W O R L D EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 2 CAPÍTULO 1 O que é a ISO 14.001? A série de normas ISO 14.001 especifica os elementos de um sistema de gestão ambiental (também chamado de SGA). Além disso, oferece ajuda prática para sua implantação ou aprimoramento. Conheça detalhes: C ada vez mais, diretores e gerentes de infra-estrutura de indústrias de todos os setores preocupam-se com o caminho dado aos resíduos de suas áreas despejados no meio ambiente. E nesse contexto, a norma ISO 14.001 pode ser um apoio. Saiba de onde veio e qual é a função desta norma. • A ISO (sigla em inglês para International Standardization for Organization) é uma organização não-governamental sediada em Genebra, fundada na década de 40. O objetivo é ser o fórum mundial de normalização. • A série de normas ISO 14000 especifica os elementos de um sistema de gestão ambiental (também chamado de SGA). Além disso, oferece ajuda 2 prática para sua implantação ou aprimoramento. • A norma ISO 14001 inclui os elementos centrais do sistema de gestão ambiental para a certificação. A empresa que possui este certificado é capaz de atestar responsabilidade ambiental no desenvolvimento das atividades de uma companhia. • Entre os pré-requisitos para uma empresa se certificar estão: cumprimento da legislação ambiental, diagnóstico atualizado dos aspectos e impactos ambientais de suas atividades, procedimentos-padrão e planos de ação para eliminar ou diminuir impactos ambientais, além de pessoal devidamente treinado e qualificado e campanhas internas constantes. EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 3 CAPÍTULO 2 Aquecimento global: é problema da TI? Cada vez mais, diretores e gerentes de infra-estrutura de indústrias de todos os setores preocupam-se com o caminho dado aos resíduos de suas áreas despejados no meio ambiente. A 3 O questão relacionada ao aquecimento global saiu do meio acadêmico e começa a figurar em conversas entre pessoas de todas as profissões e idades. Embora alguns cientistas, como o polêmico James Lovelock, acreditem que o problema é irreversível, chefes de Estado do mundo inteiro começam a dar sinais de que se preocupam com esta questão. De acordo com o inglês Lovelock, o aquecimento global já chegou a um ponto sem volta. Em sua opinião, antes da metade deste século a situação se tornará insuportável aos seres humanos. Embora o ambientalista seja bastante criticado no meio acadêmico mundial, o fato é que foi ele o responsável pela detecção do acúmulo do DDT (pesticida) nos seres vivos, além de ter descoberto que o gás utilizado em aerossóis (CFC) é o grande destruidor da camada de ozônio. Deixando as divergências dos especialistas no assunto, o fato é que é preciso pensar em atitudes concretas para reverter ou pelo menos tentar adiar esta situação. O mínimo que empresas podem fazer atualmente é adequar-se a uma norma chamada de ISO 14001, relativa a gestão ambiental. Ela especifica os requisitos mais importantes para identificar, controlar e monitorar aspectos do meio ambiente de qualquer organização, como administrar e adequar o processo de gestão ambiental. Para garantir o certificado, todas as áreas da companhia são envolvidas. Neste caso, o CIO ou o gerente de infra-estrutura de TI acaba sendo o responsável pelos resíduos gerados pela sua área. A fabricante de automóveis General Motors recebeu seu certificado mundial em 2001. Desde então, vem mantendo sua gestão ambiental por meio de iniciativas básicas, como instalação de coleta seletiva de lixo. Neste processo, a área de tecnologia tem enorme impacto. “Esta política de tratamento de resíduos está no DNA de uma empresa como a nossa, que tem processos sofisticados de manufatura”, ressalta Hélio Silva, diretor de TI da General Motors do Brasil. O responsável pela manutenção da ISO 14001 em seu departamento é Douglas Barul, gerente de infra-estrutura. MÃO NA MASSA De acordo com Barul, o departamento se desfaz, em média, de 1,4 mil computadores, 25 servidores e 400 celulares ao ano. Cada tipo de equipamento tem um tratamento diferente. Celulares e aparelhos blackberry são devolvidos à Siemens, que trata de redistribuir aos fabricantes, como Motorola ou Nokia. Os notebooks e no-breaks são entregues ao terceirizador (integrador que já é responsável pela área de TI) e que faz todo o processo de desmantelamento e distribuição de sucata e matéria prima. Computadores desktop, impressoras e servidores são comprados no sistema de leasing e devolvidos aos fabricantes HP, IBM e Dell. “A responsabilidade que os terceiros têm conosco é contratual. Eles precisam garantir que estão tratando os resíduos de forma que o impacto no ambiente seja mínimo”, ressalta Barul. Outro ponto importante ressaltado pelo executivo é a educação ambiental, feita por meio de campanhas para funcionários. Por meio de cartazes, intranet e e-mails internos, a companhia mantém os empregados atentos ao baixo consumo de energia. “Mas não basta fazer a campanha, é preciso ter um líder forte que convença as pessoas de fato”, explica Silva. Por conta disto, a ini- EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 4 CAPÍTULO 2 ciativa tem um líder considerado um executivo influente na empresa. Trata-se de José Eugênio Pinheiro, diretor executivo de manufatura para América Latina, África e Oriente Médio. Outras atitudes para reduzir o consumo de energia são programar as impressoras para imprimir em frente e verso (padrão da rede) e ainda imprimir duas páginas em uma, se for possível. Os faxes que precisam ser enviados são feitos via computador e sem a utilização de papel. “Todos os modelos de equipamentos que gastam menos energia acabam sendo a primeira escolha, na hora de comprar algo novo”, acrescenta Barul. Atualmente, o executivo está fazendo a análise do retorno para investimento em monitores do tipo LCD. Atualmente, este equipamento é mais caro do que o equipamento convencional, mas a redução do custo com energia pode compensar a compra. 4 NA ONDA DO MERCADO De fato, fabricantes de servidores, computadores, no-breaks e equipamentos de infra-estrutura em geral têm se preocupado em lançar sua linha “verde”. Deixando de lado o fato de que é uma sacada de marketing aproveitar que a preocupação ambiental é tema da moda, fabricantes como Dell, IBM ou APC vêm batendo na tecla da economia de energia. Redução de custos é por si só um tema que atrai compradores corporativos. Mas o apelo ambiental tem contado pontos na hora da escolha. A própria GM é prova disto. A APC tem investido em equipamentos de infra-estrutura com sistema de refrigeração sofisticado, o que acaba reduzindo o aquecimento geral provocado pelas máquinas e, conseqüentemente, economizando energia gasta pelo ar condicionado. Monitores LCD também são menos agressivos ao ambiente do que os convencionais. A forte tendência em computação móvel acaba levando mais pessoas a substituírem PCs convencionais por notebooks. O grande desafio na indústria de notebooks é a bateria, que está cada vez mais sofisticada. Por outro lado, fabricantes trabalham na direção de fazer a máquina ser econômica, de forma que gaste pouca bateria. Tudo isto traz vantagens ao meio ambiente. CIDADANIA EM TI Há empresas que estão buscando a certificação ISO 14001. Conscientes do impacto ambiental dos resíduos eletroeletrônicos, CIOs mudam sua postura em relação à implementação desta norma. Reinaldo Lorenzato, gerente de TI da Sonopress (um dos maiores fabricantes de mídia digital do mundo), não faz parte formalmente da equipe que está atuando na ISO 14001. No entanto, decidiu envolver-se no projeto por perceber que sua área é uma grande produtora de resíduos com grande impacto ambiental. “Hoje, é muito comum fazermos a disposição de equipamentos antigos para quem compra, desmantela e revende peças. Mas esta não é a melhor solução”, admite Lorenzato. De fato, para conquistar o certificado oficial, a empresa precisa garantir que a sucata está indo para o lugar certo, onde será reciclada, e não está sendo jogada em um terreno baldio qualquer. Na área de tecnologia da Sonopress, são dispensados cerca de 125 computadores obsoletos ao ano. “Temos uma empresa que cuida de pilhas, baterias e metais pesados. Isto está garantido. Mas quero buscar empresas sérias que cuidem de outras coisas, como carcaça de impressora e nobreaks”, exemplifica o executivo. “O cobre, metal presente em placas de circuito impresso, é um material nobre e pode ser reciclado”, enfatiza. Anualmente, a Sonopress produz 900 quilos de papel, cerca de 45 monitores, 180 tonners, entre outros materiais – não entram nesta conta os valores gerados pela produção (fábrica). Uma das exigências da ISO é que as empresas contratadas para retirar os resíduos comprovem e atestem sua responsabilidade com relação ao destino dos materiais por até cinco anos. Se a empresa não garantir isto, não conseguirá ser homologada. Entre os objetivos da Sonopress para adequação à norma ISO 14001 está a redução da impressão e disposição de resíduos – diminuindo custos diretos. Vale lembrar que a Sonopress tem uma fábrica em Manaus. “A preservação da Amazônia é hoje foco de atenção mundial e uma empresa socialmente responsável não pode ser indiferente ou insensível ao tema”, finaliza o executivo. EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 5 CAPÍTULO 3 TI também começa a ficar verde A tecnologia da informação está hoje como a indústria automotiva estava há 20 anos, o que significa que ainda há um longo caminho até que se alcance eficiência energética. U m tema que começa a chamar atenção é o consumo de energia nos data centers. Antes relegada a segundo ou terceiros planos, uma série de estudos mostrando uma situação no mínimo preocupante, está colocando o tema na tela do radar dos CIOs. É verdade que ainda está no cantinho, mas em breve deverá se deslocar para o centro da tela. Um recente estudo (fevereiro de 2007) produzido pelo Lawrence Berkeley National Laboratory mostrou que à medida que os servidores tornamse mais poderosos, demandam mais energia e que este consumo já representa cerca de 1,2% de todo o consumo de eletricidade dos EUA. O Gartner Group cita que em 2010, cerca de metade das empresas listadas na relação Forbes 2000 estarão gastando mais dinheiro com energia que com os seus computadores. O gasto com energia, segundo o Gartner, que corresponde hoje em média a 10% dos orçamentos de TI, chegarão a 50% em alguns anos. Outro estudo, este de uma empresa de energia americana, a Pacific Gas & Electric (PG&E) diz que os data centers demandam 50 vezes mais energia por metro quadrado que um escritório. O Gartner vai além e diz que, em média, de 30% a 60% da energia demandada em um data center é desperdiçada. E lembra que TI está hoje como a indústria automotiva estava há 20 anos: começando a ser pressionada por maior eficiência energética. Diante deste quadro os analistas começam a chamar atenção para o gasto com energia (dos servidores e dos equipamentos de refrigeração) e dizem que em breve os CFOs estarão bem mais preocupados com o assunto e consequentemente os CIOs serão pressionados para tomar medidas efetivas para reduzir este gasto. Alguns países estão começando a estudar legislações que visem incentivar e em alguns casos mesmo a obrigar os data centers a serem mais eficientes em consumo de energia. O que pode ser feito? Bem, o primeiro passo é aproveitar melhor os servidores já instalados. De maneira geral com o paradigma do modelo distribuído, que muitas vezes chegou ao excesso de termos uma aplicação por servidor, o uso médio de uma máquina destas situa-se apenas em torno dos 5% a 15%! O IDC estima que o excesso de capacidade instalada na base mundial de servidores equivale a um valor de 140 bilhões de dólares. O IDC também calcula que globalmente, as empresas estarão gastando cerca de 29 bilhões de dólares com energia relacionada com TI e que este gasto deve aumentar a uma taxa de pelo menos 54% ao ano. Por que este valor tão alto? Basta imaginar que o IDC estima que haverá cerca de 35 milhões de servidores em 2009... E não estamos contando com o impacto da emissão de gases efeito estufa no aquecimento global. Entre as tecnologias que vão ganhar muito impulso neste contexto citamos virtualização, consolidação de servidores e data centers, e blades. Também a discussão thin clients versus Full PCs começará a ter outro apelo. Uma máquina thin client é bem mais eficiente no consumo de energia e muitas vezes pode substituir PCs com vantagens. Multiplicando esta eficiência por 2 mil ou 5 mil máquinas tem-se aí um belo número. Cezar Taurion é gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM Brasil. 5 EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 6 CAPÍTULO 4 TI Verde: como reduzir gasto de energia e resíduos em PCs? Para alertar companhias e gerentes de TI para a questão ambiental, o COMPUTERWORLD publica esta reportagem sobre equipamentos 'verdes': desktops e notebooks E 6 m 2006 foram vendidos cerca de 6 milhões de desktops no Brasil, segundo a IDC. O País ocupa, hoje, a terceira posição no mundo em unidades vendidas. Grandes corporações, pequenas empresas e usuários domésticos começaram a comprar máquinas ultramodernas, com processadores e placas de última geração. Mas qual será o custo desta corrida à tecnologia para o meio ambiente daqui a 10 anos? Se nada mudar, uma parte significativa desses equipamentos vai estar em aterros, dividindo espaço com monitores aposentados, tocadores de MP3 ou celulares. Eles farão companhia aos produtos eletrônicos produzido no início da década de noventa, formando toneladas do chamado ‘ewaste’, o lixo eletrônico. Não é segredo para ninguém: a TI tem um passivo ambiental grave. Se jogado sem controle de volta ao ambiente, o lixo eletrônico não só leva milhares de anos para se decompor, como também é um problema ambiental e de saúde pública por conta das substâncias tóxicas utilizadas em sua fabricação, como chumbo e mercúrio, que podem contaminar o solo ou os lençóis freáticos e causar doenças como câncer, por exemplo, ou mutações em pessoas cujas moradias são próximas aos lixões onde as máquinas foram jogadas sem cuidado. A alternativa mais rápida para eliminar esses produtos, a incineração, também não é sustentável. Além de colocar diversos gases poluentes na atmosfera, como os altamente tóxicos e cancerígenos PAH (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), a prática também culmina com problemas relacionados ao combustível gasto para a realização da queima. O passivo ambiental em TI envolve mais do que a disposição dos produtos. A fabricação é um problema. Para se ter uma idéia, a produção de uma estação de trabalho com monitor CRT de 17 polegadas demandou, em 2004, 240 quilos em combustíveis fósseis, utilizou 22 quilos de produtos químicos e cerca de 1,4 mil litros de água. As informações são do livro Computers and the Environment: Understanding and Managing their impacts (Computadores e o Meio-ambiente: entendendo e gerenciando seus impactos), lançado em 2004 pela Universidade da Organização das Nações Unidas (ONU). POR UM MUNDO MAIS VERDE A ONU, aliás, é uma das entidades que tem debatido bastante a questão do lixo eletrônico. A organização lançou, no início de março, o StEP, projeto que une entidades como o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), a Academia Chinesa de Ciências e empresas privadas de TI, como Dell, Microsoft, Phillips e Cisco, com objetivo de encontrar novas formas para diminuir a quantidade de e-waste e tratá-lo melhor. Os governos também começaram a se movimentar. Regulamentações foram criadas para atacar o problema, demandando a proibição do uso de substâncias tóxicas. A União Européia, uma das administrações mais avançadas neste sentido, criou, ano passado, duas diretrizes chamadas WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment, que significa Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos) e RoHS (Restriction of Hazardous Substances, que significa Restrição a EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 7 CAPÍTULO 4 7 substâncias perigosas). Ambas buscam garantir que lançamento dos resíduos químicos oriundos de eletrônicos, especialmente o chumbo e mercúrio, sejam menos agressivos ao meio ambiente. Já para o consumo de energia elétrica, demandas como a Energy Star 4.0, da agência de proteção do meio ambiente dos EUA, cobra dos fabricantes maior eficiência energética nos produtos. Na outra ponta, as certificações internacionais – especialmente a família ISO 14000 – seguem indicando caminhos para a produção ambientalmente responsável, obrigando empresas certificadas a controlar seus resíduos e sua disposição no ambiente. “Dentro de 4 a 5 anos, ninguém vai ser competitivo se não estiver apoiado no tripé: responsabilidade econômica, social e ambiental”, projeta João Carlos Redondo, gerente de administração patrimonial da Itautec. O gerente afirma que a empresa criou projetos de reciclagem de placas e do vidro de monitores por meio de contratos com terceiros, além de ter desenvolvido um programa interno para redução do gasto de energia na fábrica. “No ano passado, reduzimos o uso de eletricidade em 1,4%. Esse valor é equivalente ao consumo mensal de 800 residências de quatro pessoas”, comemora. Gleverton Munno, gerente de Assuntos Corporativos da subsidiária brasileira da Dell, destaca o projeto de disposição de produtos da empresa, que coleta as máquinas antigas de clientes corporativos localizados no Rio Grande do Sul e em São Paulo. “Depois de passar pelas centrais de reciclagem, as máquinas vão para projetos sociais selecionados pela ONG Fundação Pensamento Digital”, conta. O gerente ressalta que as organizações recebem treinamento para usar a máquina e aplicar na educação de pessoas carentes. “Se não tiver treino, acaba virando depósito de lixo”, alerta. Para Maurício Amaro, gerente do time de soluções da Bearing Point, o momento marca o início das preocupações de fabricantes com a questão ambiental. Ele destaca, contudo, que o tema não é dos mais agradáveis para as empresas. “Os fornecedores guardam as questões ambientais a sete chaves, não gostam de revelar. Ainda que instituições como a Bolsa de Valores demandem ações ambientais e sociais, a prática está a cargo das empresas”, comenta. O especialista destaca, contudo, que as iniciativas do setor privado não são suficientes para resolver o problema. “Norma sem fiscalização cai no esquecimento. O governo deve verificar constantemente a eficiência dos processos”, arremata o analista. PROBLEMA CULTURAL? Mas as corporações clientes estão dispostas a pagar um valor maior para equipamentos “verdes”? Maurício Amaro nota o aumento da conscientização ambiental, mas para ele a decisão da compra por determinado produto está muito mais relacionada com o lado financeiro do que qualquer outro tópico. “É utópico achar que os clientes vão pagar mais por que a fabricante recicla seus equipamentos, o maior motivador é o financeiro”, defende. Munno, da subsidiária brasileira da Dell, concorda. O gerente não vê que a conscientização ambiental dos usuários os leve a pagar um valor 10% maior por um aparelho produzido de forma sustentável. “Hoje, o cliente não valoriza tanto quanto deveria, não vai pagar a mais. Mas é a iniciação para uma nova realidade”, destaca Gleverson. Já João Carlos Redondo, da Itautec, argumenta que a visão de que a ecologia encarece o produto é míope. Para ele, o foco do investimento ambiental é outro, com objetivos para médio e longo prazos. A economia gerada, no entanto, pode ser imediata. “Por exemplo, a produção sem chumbo custa mais no início, mas depois tenho um produto no final do seu ciclo de vida muito mais simples e menos oneroso para reciclar”, conta. Assim, destaca, os investimentos não precisam ser repassados para o cliente, já que o produto acaba desonerado e capaz de competir em concorrências internacionais na União Européia, por exemplo. “Para eliminar o chumbo, a alta estimada foi de 1,7%. Não é um valor absurdo e nossos concorrentes estão fazendo isso”, conta. Os investimentos para a produção sem chumbo na Itautec, iniciados neste ano, ficaram em 1 milhão de reais e a produção completamente lead-free vai acontecer até o final de 2008. Já a Dell afirma que produz todos os seus produtos sem chumbo desde o ano passado. EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 8 CAPÍTULO 5 TI Verde: quando o caixa é a motivação m Painel conclui que, mais do que benefícios à imagem ou um apelo social, as empresas devem se lembrar de que a adoção do TI Verde contribui para os seus lucros. S 8 e a chance de salvar o mundo dos desastres climáticos não é uma razão com apelo suficiente para as empresas de tecnologia, há um incentivo que as grandes corporações não podem ignorar - dinheiro. O objetivo de economizar recursos ou reduzir gastos de energia, além da imagem aos consumidores que desejam adquirir produtos ‘verdes’, sem mencionar a necessidade de se adequar à regulamentação governamental, estão causando uma mudança de foco para fornecedores e departamentos de TI das companhias. “Há um retorno ao acionista a ser ganho”, diz Pat Tirnan, vice-presidente da HP para as áreas corporativa, de meio ambiente e responsabilidade social, que participou de um painel sobre tendência verdes na área de TI em Las Vegas. “Sinceramente, simplesmente vemos isso como uma demanda do consumidor que temos de atender agora e teremos de continuar a atender no futuro”, completou. Outros executivos concordaram com Tiernan, de empresas como Yahoo, Google, Sun e Intel. Os representantes do Yahoo e do Google discutiram os objetivos verdes para o futuro. A Yahoo tem um programa ambiental mais agressivo, segundo o que foi apresentado no painel. Ela anunciou recentemente um plano para se tornar neutra em carbono até o final deste ano, através da adoção de processos mais eficientes, o que vai contribuir para a redução de emissão de carbono ao redor do mundo. O Yahoo fez a sua operação mais eficiente em uma série de maneiras. Ela constrói seus próprios data centers e produz partes e peças de acordo com as suas próprias especificações. Ela também usa virtualização para elevar a eficiência e pede aos fornecedores que enviem todo o material em embalagens recicláveis. A empresa de internet também adotou a prática de não usar ar condicionado para refrigerar o data center em dois terços do ano. Segundo ela, todas as medidas foram motivadas pelos usuários, que se mostram bastante interessados nas formas de ajudar o meio ambiente a partir de buscas no site da companhia. Já o Google não tem planos de ser neutro em carbono, pelo menos por enquanto. Com um crescimento entre 60% e 70% ao ano, “não podemos fazer com que nosso consumo de energia fique estável por enquanto”, afirmou Bill Weihl, chefe da estratégia de energia do Google. A companhia mediu seu completo uso de carbono, incluindo as relacionadas à sua cadeia de fornecedores. O próximo passo será escolher produtos baseados em quanta energia eles gastam. “A motivação para nós realmente é a sustentabilidade, do ponto de vista de uma ambiente econômico daqui a 50 anos onde ainda possamos fazer negócios”, Weihl afirma. O departamento de TI pode atuar como uma central de comunicação para construir uma mudança cultural na companhia, afirma John Hengeveld, diretor da Intel para servidores. “Um dos desafios é que esses ‘eco-projetos’ são raramente feitos estritamente por causa dos seus méritos”, diz Mark Monroe, diretor de computação sustentável na Sun. As companhias que não aceitam a necessidade de reduzir as emissões de poluentes terão de responder por essa decisão aos seus acionistas, parceiros e reguladores, assim como consumidores e a mídia, dizem os executivos presentes ao painel. Mas há dinheiro envolvido na redução de consumo energético e no uso de produtos mais inovadores do ponto de vista do dano ao meio ambiente. Se as companhias só irão adotar essas medidas quando houver apelo no lucro ele, na verdade, já existe. EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 9 CAPÍTULO 6 Os seis passos para um data center verde Servidores de alta densidade estão criando pontos muito quentes. Conheça as dicas e estratégias para garantir que o seu data center seja ambientalmente responsável. Q uão verde é o seu data center? Se você não se importa agora, isso mudar rapidamente. Os gerentes de data center não notaram os freqüentes aumentos na conta de eletricidade, já que eles normalmente não vêm as contas. Mas eles verão, com certeza, os sintomas de demanda cada vez maior por energia. Servidores de alta densidade estão criando pontos muito quentes que puxam mais de 30 kilowatts por rack em alguns sistemas de alto desempenho. Assim, alguns gestores estão descobrindo que eles não conseguem alimentar de energia estes racks. Outros, ainda, descobriram que eles não podem puxar mais energia para todo o prédio: eles levaram ao limite a capacidade do local de receber eletricidade. O problema já chamou a atenção de Mallory Forbes. “Todo ano, quando revisamos as nossas metas, há exigência de energia”, diz Forbes, vicepresidente sênior da Regions Financial, de Alabama, EUA. “Existe um grande desafio na gestão de um data center por que é preciso adicionar, continuamente, energia”. Economias com consumo mais eficiente pode ajudar. Um watt economizado nos servidores equivale a salvar outro em resfriamento. Gestores de TI com visão de longo prazo já notaram o retorno de investimento associado a se adquirir equipamentos mais eficientes em consumo. “Energia se torna importante para criar um caso de sucesso por uns cinco anos”, diz Robert Yale, responsável pela equipe técnica do The Vanguard Group de Pensilvânia, EUA. O seu data center com 5,4 mil metros quadrados opera transações de web. Ainda que segurança e disponibilidade venham antes, ele garante que “o foco em energia é maior do que foi no passado”. 9 Data centers mais verdes não só economizam energia, mas também reduzem a necessidade de expansões na infra-estrutura para lidar com as demandas de mais energia, mais resfriamento. Algumas empresas estão prontas para o próximo passo ao olhar todo o data center por um prisma ambiental. Ao seguir os passos abaixo, o gestor do data center vai estar à frente das tendências. CONSOLIDE SEUS SERVIDORES. CONSOLIDE MAIS. Os data centers podem garantir economias substanciais fazendo apenas algumas mudanças básicas e consolidação dos servidores é um bom lugar para começar, diz Ken Brill, diretor executivo do Uptime Institute, consultoria do Novo México, EUA. Em diversos data centers, garante, “entre 10% a 30% dos servidores estão ‘mortos’ e podem ser desligados”. A redução de custos com a eliminação de servidores físicos pode ser sentida rapidamente: mais de 1,2 mil de economia com eletricidade por servidor em um ano. “Para um servidor, você vai economizar de 300 dólares a 600 dólares diretamente em eletricidade. Esse valor será o dobro em sistemas de refrigeração”, defende Mark Bramfitt, gerente sênior em gestão de energia da PG&E. A empresa oferece um ‘incentivo à virtualização’ que paga de 150 dólares a 300 dólares para servidor removido como resultado da consolidação. Quando os inativos forem removidos, os gestores precisarão considerar aplicações baseadas em servidores para máquinas virtuais. Isso ajuda a reduzir o número de servidores físicos necessários, além de melhorar a eficiência daqueles em uso. A maior parte dos servidores roda, hoje, com 10% a 15% de utilização. Como um servidor em inativi- EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:37 Page 10 CAPÍTULO 6 dade pode consumir até 30% do que consome em seu pico de utilização, a economia é sensível, defende Balkansky. Para este fim, a VMware está trabalhando em uma nova funcionalidade que vai alocar dinamicamente cargas de trabalho entre servidores físicos, tratando-os como uma única região de processamento. Chamada Distributed Power Management, a função vai “alocar o máximo de máquinas virtuais no mínimo de servidores possíveis”, afirma Balkansky. Assim, as cargas de processamento serão consolidadas nos períodos fracos da tarde e, então, realocadas em mais máquinas físicas na manhã, acompanhando o aumento de atividade. 10 ATIVE A GESTÃO Mesmo com ferramentas de gestão de energia disponíveis, os administradores nem sempre as usam. “No data center típico, a quantidade de eletricidade não muda durante o dia, mas a carga de processamento muda em até três vezes. Não há uma gestão de energia efetiva”, sintetiza Amory Lovins, chairman do Rocky Mountain Institute, empresa de pesquisas em energia. De acordo com Christian Belady, pesquisador da HP, isso não acontece porque os gestores se focam apenas na disponibilidade e desempenho e os funcionários da TI não estão confortáveis com as ferramentas de gestão de energia. Ele destaca que usar as ferramentas podem aumentar a confiabilidade e a disponibilidade ao se reduzir os “estresses” na alimentação do data center e do sistema de resfriamento. Os fornecedores também podem facilitar o uso destas ferramentas. Para Brent Kerby, gerente da linha Opteron da AMD, ainda que as empresas de processadores tenham colocado novas funções de energia, os outros fornecedores não colocam as tecnologias por padrão. “A tecnologia de gestão de energia não é discutida tanto quanto deveria”, acrescenta. Em alguns casos, a gestão de energia pode causar mais problemas do que soluções, defende Jason Williams, CTO da DigiTar de Idaho, EUA. Ele usa Linux em servidores Sun T2000 com processadores UltraSparc multicore. “Como usamos muito Linux, as ferramentas [de gestão de energia] podem causar comportamentos muito estranhos no sistema operacional”, conta. “Alguns sistemas rodam tranquilamente com ACPI ligado, outros não. É muito difícil de prever, então optamos por desligar as ferramentas”. ACPI é a Advanced Configuration and Power Interface, especificação desenvolvida por empresas como HP, Intel, Microsoft, entre outros. O CALCANHAR-DE-AQUILES As fontes de energia são o maior exemplo da falta de foco no custo total de propriedade no setor de servidores. Hoje, diversos servidores estão sendo vendidos com fontes ineficientes que gastam mais energia do que qualquer outro componente do data center, diz John Koomey, professor da Stanford University. Koomey falou com exclusividade ao COMPUTERWORLD Brasil sobre a questão do consumo de energia dos servidores. Os progressos são lentos, com as expectativas apontando que a eficiência das fontes sobe em meio ponto percentual por ano. Ainda que os novos modelos sejam mais eficientes, eles não são comprados por serem mais caros. As fontes comuns nos servidores podem ser responsáveis por metade da energia consumida pelo equipamento. Soma-se a isso que cada watt perdido com a fonte equivale a mais um gasto com o sistema de refrigeração. Mesmo mais caras, a mudança para fontes mais eficientes pode reduzir tanto o custo operacional quanto o financeiro. “Se você gastar 20 dólares a mais em uma fonte eficiente, você vai economizar 100 dólares apenas com refrigeração e equipamentos de infra-estrutura”, diz Lovins, da RMI. Para piorar, destaca Hetherington da Sun, os fornecedores de servidores trabalham tradicionalmente com fontes com mais capacidade do que seria necessário. “Quando você está desenhando um servidor, você não quer correr o risco de parada por que a fonte não suportou a demanda de processamento. Então, você coloca uma fonte maior para ficar em sua zona de conforto”, diz. “Assim, você pode estar consumindo apenas 300W, mas tem uma fonte de 650W trabalhando pela metade. A perda nesta conversão EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 11 CAPÍTULO 6 é enorme, trata-se do maior pecado em desperdício de energia”, acredita. Todos os maiores fornecedores de servidores afirmam que já estão ou começaram a oferecer fontes mais eficientes. A HP está padronizando suas fontes em um único modelo para toda a sua linha de servidores. Paul Perez, vice-presidente de storage, rede e infra-estrutura, disse na conferência do Uptime Institute. “As fontes vão ser entregues com mais eficiência nesse verão”, diz. Uma gestão inteligente de energia pode também melhorar os níveis de utilização de eletricidade. Por exemplo, a tecnologia PowerSaver da HP pode desligar algumas das seis fontes de um servidor C-class podem ser encerradas quando a carga de processamento não está no máximo, isso economiza energia e aumenta eficiência. Uma referência que pode ser usada é o 80Plus.org. Este programa de certificação agracia fontes de energia que mantêm 80% de eficiência mesmo quando a carga está em 20%, 50% e mesmo 100%. Professor Koomey afirma que o Google tentou uma estratégia inovadora em melhorar a eficiência das fontes em suas fazendas de servidores. “Ao especificar uma saída única de 12 volts, o Google está economizando dinheiro ao ter fontes mais eficientes”, diz. QUEBRANDO BARREIRAS INTERNAS Ainda que a TI tenha visto com atenção desempenho e disponibilidade, a eficiência do uso de energia não foi analisada porque as contas estão separadas entre o setor de tecnologia e financeiro. Enquanto o primeiro gera a conta de eletricidade, o segundo paga, sem nenhuma interação entre os dois. Quebrar essas barreiras é fator crítico para entender o desafio e fornecer o incentivo financeiro para a mudança. Melhor comunicação entre os grupos também é essencial para a mudança entre um sistema de refrigeração para o andar inteiro para uma nova estratégia mais focada nos pontos quentes do data center. A linha entre a responsabilidade dos ativos e da TI num data center é nebulosa. “As soluções 11 não vão acontecer sem coordenação entre pessoas que raramente falam entre si, pois estão em tribos e áreas diferentes”, diz Lovins da Rocky Mountain. O problema também está nos fornecedores de TI, acrescenta. Os engenheiros estão especializados agora em desenhar componentes apenas no vácuo, sem olhar o sistema todo – neste caso, o data center. O que era um processo de desenho holístico que otimizava o sistema inteiro foi cortado em pequenos pedaços no qual um especialista desenha apenas um único componente e busca benefícios internos. SIGA OS PADRÕES Diversas iniciativas estão sendo desenvolvidas e podem ajudar aos usuários a identificar e comprar equipamentos mais eficientes de energia. Entre esses, estão o programa 80 Plus para fontes, assim como a certificação Energy Star para servidores. Sob a demanda do congresso, a agência de proteção ambiental dos EUA está trabalhando com os laboratórios Lawrence Berkeley em um estudo em busca de servidores mais eficientes, com expectativa de divulgação ainda neste ano. Já a Standard Performance Evaluation Corp. (SPEC) também trabalha com a definição de um padrão de desempenho-por-watt para servidores que pode ajudar a comparações sobre uso de energia. A especificação tem programação para ser divulgada ainda esse ano. TRABALHANDO PELA MUDANÇA Fabricantes de equipamentos de TI não vão mudar seus equipamentos senão houver demanda. Joseph Hedgecock, vice-presidente sênior da Lehman Brothers Holdings, afirma que está fazendo lobby por desenhos mais eficientes. “Estamos tentando forçar mais eficiência nas fontes de energia e nos sistemas inteiros”, diz. Yale, do Vanguard Group, afirma que sua empresa está envolvida no projeto The Green Grid, entre outras iniciativas para maior eficiência. “Este é um tema que toda a indústria está discutindo e nós estamos tentando trabalhar com os fabricantes”, completa. EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 12 CAPÍTULO 7 O lado verde da tecnologia Conforme cresce a preocupação com a proteção ambiental, aumenta também a pressão por áreas de TI ecologicamente responsáveis H 12 á pouco mais de um mês, o presidente e CEO global da Royal Philips Electronics, Gerard Kleisterlee, participou de um evento em São Paulo no qual falou para cerca de cem líderes de grandes empresas brasileiras. Durante as quase duas horas de apresentação, o discurso teve um só tema: a importância de empresas e indivíduos tomarem consciência do impacto de seus atos no meio ambiente. Com o gancho da visita de George W. Bush, no início de março, para discutir a questão dos biocombustíveis com o governo brasileiro, Kleisterlee falou sobre a supremacia local quando o assunto refere-se às fontes alternativas de energia e elogiou a população brasileira por seu espírito de colaboração e consciência em situações de crise, como o “apagão” do início da década. “Um estudo realizado pela Philips mostra que 43% dos consumidores brasileiros estão comprometidos e conscientes sobre a questão da economia de energia”, destacou o executivo. Ao colocar de lado os interesses comerciais e de marketing que uma fabricante de lâmpadas possa ter em fortalecer a discussão sobre a importância da consciência ecológica e da redução do consumo de energia elétrica, a apresentação de Kleisterlee para uma platéia formada por alguns dos principais empresários do Brasil pode ser vista tanto como um empurrão quanto como um reflexo de uma tendência clara do mercado mundial. Os negócios estão tornando-se cada vez mais “verdes”. No mundo da tecnologia da informação, a tendência se repete, aparentemente, com ainda mais força que nas demais áreas. E não é para menos. Em seu estudo “Questões-chave para uma TI ecologicamente sustentável”, o Gartner toma como base informações como número de PCs e servidores em operação, consumo médio por unidade, emissão média de dióxido de carbono por quilowatt-hora, entre outras, para lançar a estimativa de que servidores e PCs sejam responsáveis, hoje, por cerca de 0,75% da emissões globais de dióxi- do de carbono. O número cresce rapidamente e surpreende quando comparado ao fato de as companhias aéreas serem responsáveis por aproximadamente 2% das emissões anuais em todo o mundo. Já um estudo da Universidade de Stanford (EUA) aponta que a energia consumida por data centers em todo o mundo dobrou entre 2000 e 2005. Há dois anos, 1,2% da energia consumida nos Estados Unidos foi destinada a manter servidores e equipamentos de rede funcionando. A indústria de TI vem respondendo a números como esses com uma avalanche de produtos “ecologicamente corretos” ou que, ao menos, prometem reduzir os danos que causam ao meio ambiente. Também na onda da “TI Verde”, foi criado no fim de fevereiro o “The Green Grid”, consórcio sem fins lucrativos formado por grandes fornecedores de TI (APC, Dell, HP, IBM, Intel, Microsoft, Sun Microsystems e VMWare, entre outras), que tem como objetivo desenvolver e ampliar a eficiência energética em data centers e ambientes computacionais corporativos. DE OLHO NAS VERDINHAS É inegável a necessidade de se abrir os olhos para a situação do planeta, mas dificilmente um acionista irá concordar em fazer grandes investimentos apenas com o objetivo de garantir qualidade de vida para as próximas gerações. O que está por trás da conscientização coletiva repentina é a oportunidade de, além de proteger o meio ambiente, utilizar o ‘selo verde’ como um reforço de marketing – capaz não só de impulsionar as vendas, como de melhorar a imagem da companhia. Os mesmo objetivos que levaram as fabricantes de tecnologia a partir para uma postura ecologicamente sustentável vêm sendo usados para convencer os CIOs – e, especialmente, seus superiores – a adotar práticas de TI com preocupação ambiental. O argumento pode funcionar. Independente do impacto ambiental, a eficiência dos data cen- EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 13 CAPÍTULO 7 13 ters é um dos principais assuntos na agenda dos CIOs há algum tempo, especialmente por concentrarem grande parte dos custos de manutenção de tecnologia. O Gartner avalia que grandes corporações, com departamentos de TI também grandes, gastam, em média, 5% de seu orçamento de TI com energia – e prevê que esse número pode duplicar ou triplicar nos próximos cinco anos. Para aumentar a eficiência operacional dos data centers, os executivos de TI podem partir para uma série de iniciativas, como troca do parque de equipamentos (normalmente, dispositivos antigos e/ou de baixo custo consomem mais energia), melhorar a distribuição espacial para reduzir a necessidade de arcondicionado, investir em virtualização ou adotar softwares para gestão de energia. O desafio ainda consiste em conseguir o budget necessário para tais projetos – já que, na maior parte das empresas, iniciativas cujos resultados têm impacto direto em TI, e não nos negócios, vão para o fim da lista de prioridades. Na Califórnia (EUA), os CIOs interessados em partir para consolidação e virtualização de seus data centers têm uma aliada na própria empresa de distribuição de energia. A Pacific Gas and Electric Company anunciou no fim do ano passado um programa em parceria com a fornecedora de soluções de virtualização VMWare e a fabricante de processadores Intel por meio do qual as empresas que consolidam seus data centers conseguem reembolso do capital investido. Os interessados devem se inscrever no programa antes de começar o projeto e o reembolso varia de acordo com volume de economia de energia gerado – não podendo ultrapassar quatro milhões de dólares. A PGE pode até estar realmente preocupada com o futuro do planeta, mas, certamente, o que levou a empresa a unir-se à Intel e à VMWare neste programa foi o risco que o desperdício de energia pode causar para o seu negócio. Proibida de criar novas formar de produzir energia na região, a empresa viu-se a ponto de não conseguir atender à demanda de seus clientes. Para não faltar, melhor economizar, certo? Assim surgiu o programa de reembolso. O PODER DE TI No Brasil, os CIOs parecem não estar tão atentos aos gastos com energia quanto norte-americanos e europeus. Talvez pela oferta excessiva e pelo custo ainda não tão alto deste ativo, executivos de TI e negócios concentram esforços em outras áreas antes de começar a pensar em como consumir menos energia. E, quando têm esta preocupação, dificilmente conseguem aprovar o orçamento para tais projetos com o discurso ecológico – a chave é a redução de gastos que a iniciativa (talvez) irá trazer. Exceções acontecem em empresas em que a cultura da proteção ambiental já está arraigada e que a ordem para redução do impacto no meio ambiente vem de cima – seja por consciência da alta-diretoria ou por regras legislativas impostas a determinados segmentos. Ou ainda pela mesma razão que vem mudando o discurso de dezenas de fornecedores de tecnologia em todo o mundo: marketing. Afinal, em tempos de Novo Mercado, no qual questões como responsabilidade social e sustentabilidade contam pontos com investidores e podem mudar o valor dos papéis de uma companhia, a preocupação ecológica ‘pega bem’. Com a discussão sobre o aquecimento global cada vez mais acalorada, as crescentes cobranças da opinião pública por empresas mais comprometidas e o bombardeio de informações sobre a responsabilidade de TI no impacto ao meio ambiente (não se esqueça que os data centers emitem quase tanto dióxido de carbono quanto os aviões e, apenas nos Estados Unidos, consumiram 1,2% da energia gasta no país), mais cedo ou mais tarde os CIOs serão cobrados por seus chefes por uma mudança de postura. Antecipar-se a isto e levantar o tema pode não apenas evitar estresse futuro, como melhorar a imagem de TI perante a companhia. Não que realmente seja verdade que está apenas nas mãos dos CIOs o futuro do planeta – ou sequer a mudança da visão corporativa sobre o assunto. Longe da prepotência, cabe à TI identificar de que forma pode ajudar a companhia a ser mais verde – com a utilização de ferramentas de BI para gestão dos impactos ambientais, sistemas de controle de consumo de energia nos prédios corporativos e sistemas de gestão de ati- EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 14 CAPÍTULO 7 vos para gerenciar o descarte e a reciclagem de equipamentos. Ou ainda, mostrar ao board como a postura ecologicamente correta pode trazer benefícios financeiros para a empresa, com a redução de gastos com energia e papel. 14 CABEÇAS VERDES Entretanto, hoje, poucas empresas vêem partir do departamento de tecnologia qualquer iniciativa de proteção ambiental. “Quando parte do board é sempre melhor, você consegue comprometimento maior quando [a decisão] vem do presidente”, garante Teresa Sacchetta, diretora de tecnologia da informação do Fleury Medicina e Saúde. Ela sabe do que está falando. Na instituição, a preocupação ambiental vem de cima e permeia toda a companhia, que é, inclusive, certificada com ISO 14000 (série de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas). “Existe uma preocupação muito grande com isso. Por conseqüência, o assunto faz parte das metas de todos os profissionais da empresa”, explica. A executiva conta que, em 2006, o objetivo foi a redução do consumo de papel, iniciativa que contou com forte apoio de TI. “Avaliaram alguns processos e perceberam que a informatização reduziria o uso de papel. Conseguimos uma bela economia com isto”, garante Teresa. A gestão eletrônica de documentos, especialmente dos exames de diagnostico por imagem, é outra iniciativa com a meta de diminuir o consumo de papel. “Há, ainda, resistência dos médicos na leitura dos exames, porque eles não estão acostumados a receber em CD. Para incentivar, passamos a oferecer mais imagens em mídia digital que nos filmes.” Finalmente, o Fleury acaba de firmar um contrato com a Simpress/Ricoh para terceirização de impressão, medida que, segundo Teresa, visa a melhorar a gestão do uso de papel. “Poderia ser feito internamente, mas o terceiro é um facilitador”, explica. Satisfeito com os resultados alcançados no ano passado – de maio a dezembro de 2006, o consumo de papel foi 10,66% em toneladas e 10,62% em valor, proporcionalmente ao tamanho da ope- ração –, o laboratório foca, agora, a redução do consumo de energia. A área de TI vem colaborando por meio da criação de um manual para os usuários (sobre em que situações deixar o computador e o monitor ligados, por exemplo), utilização de melhores práticas de programação para reduzir o uso de CPU e revisão no data center para controle do uso de ar-condicionado. Com a meta de reduzir custos operacionais, ganhar agilidade, flexibilidade e aumentar a disponibilidade dos aplicativos – e o benefício secundário da redução do consumo de energia –, o projeto de consolidação e virtualização de servidores reduziu o número de máquinas de 84 para 66. “A meta é chegar a 57”, garante Fadi Hanna, gerente de infra-estrutura de TI do Fleury. Mesmo na instituição com alto nível de preocupação ambiental, o projeto, cujo retorno do investimento deve acontecer em um ano, teve motivações muito mais operacionais que ecológicas. “O principal resultado foi o significativo ganho de agilidade para atender às crescentes demandas de um negócio em constante crescimento. A partir de um padrão pré-determinado, um novo servidor virtual é “criado” em poucos minutos. Antes, a tarefa levava, em média, 30 dias”, comemora. Negócios muito relacionados ao meio ambiente também impulsionam posturas corporativas mais engajadas e, conseqüentemente, ações de suporte do pessoal de tecnologia da informação. Na Faber Castell, as questões ambientais fazem parte do DNA da empresa, pioneira a plantar suas próprias árvores para fabricação de lápis, na década de 50. A postura responsável reflete nas operações de tecnologia desde a aquisição de produtos até o processo de descarte de hardware obsoletos e resíduos seguindo normas e princípios de nãoagressão. “No contexto de TI, existem projetos para consolidação de servidores, sistemas de proteção e recuperação de desastres, racionalização de impressão, o que gera economia de energia elétrica e papel”, detalha José Rodrigues, gerente de informática da Faber Castell. Ele destaca ainda o uso de produtos ecologicamente corretos e utilização de tecnologias “limpas” ou menos poluentes. “Não existe uma iniciativa formalizada de TI em relação ao assunto. Mas há uma estratégia da EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 15 CAPÍTULO 7 empresa em direção ao desenvolvimento sustentável, porque o nosso negócio está calcado nisso”, afirma Mario Dobal, CIO da Aracruz Celulose. Com 3,1 milhões de toneladas de celulose produzida em 2006 e receita líquida de 3,7 bilhões dólares, a Aracruz intitula-se a única empresa no mundo do setor de produtos florestais e papel que integra o Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI World) 2007, o qual destaca as melhores práticas em sustentabilidade corporativa, além de ser uma das 34 empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa. Apesar da imagem muito ligada à questão ambiental, Dobal garante que, na Aracruz, as ações de TI têm a preocupação com o planeta como pano de fundo. O projeto de consolidação de servidores, por exemplo – que reduziu o número de equipamentos em 30% para chegar a cerca de cem máquinas –, nada teve de “verde”. “O projeto não foi motivado pela questão ambiental, mas pela redução de custos e ganho de desempenho”, confessa. O que não significa que a preocupação seja apenas fachada. O executivo explica que não poluir, não gastar energia em excesso, não agredir o meio ambiente e escolher fornecedores de TI que sigam as mesmas práticas faz parte da visão da companhia há mais de dez anos. “É um assunto da moda, mas, na maioria das empresas, vejo muito pouco no dia-a-dia e dificilmente TI vai resolver esse problema. Quem disser que está fazendo isso só em TI está 15 fazendo jogo de cena. Lógico que tudo ajuda, mas TI é uma gota d’água”, conclui o executivo. USE O MARKETING A SEU FAVOR Na onda do ecologicamente correto, os executivos de TI podem sentir-se afogados com as promessas de redução do impacto ambiental nos mais impensáveis projetos de tecnologia. Que tal pensar em adotar ferramentas de colaboração não para ganhar produtividade ou reduzir os custos com viagens, mas para não contribuir para o aumento da emissão de dióxido de carbono pelos meios de transporte? A mesma razão poderia motivar, também, a implementação de soluções de gestão de supply chain, certo? Não se deixe abalar pelos exageros de marketing que podem ser cometidos por alguns fornecedores mais afoitos. A preocupação com o futuro do planeta vale muito e o departamento de TI deve fazer o que estiver ao seu alcance para colaborar com a corporação nesta cruzada por um mundo melhor. Mais que isso, os argumentos “verdes” podem ser grandes aliados dos CIOs no processo de aprovação de projetos que até então não conseguiam emplacar por trazerem resultados focados em tecnologia. Está difícil convencer o board a liberar o budget para consolidar e virtualizar servidores? Quem sabe mostrando que, além de redução de custos e da complexidade de gestão, um projeto como esse pode reduzir significativamente a conta de luz e, de quebra, colocar um “selo verde” na imagem da companhia o seu orçamento acaba sendo aprovado. EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 16 CAPÍTULO 8 Por que os grupos ambientalistas estão errados sobre o ‘e-desperdício’ Autor americano analisa os efeitos que a reciclagem de eletrônicos traz ao meio ambiente, muito mais danosos do que muita gente imagina. G rupos de ambientalistas como Silicon Valley Toxics Coalition, Friends of the Earth e Greenpeace têm freqüentado o noticiário ultimamente reprovando os fabricantes de eletroeletrônicos em geral – e a Apple em particular – por políticas de preservação do meio ambiente consideradas equivocadas. Eles chamam atenção para a crescente montanha de lixo tóxico entre os PCs, celulares, iPods e outros eletrônicos e incitam o governo a criar uma regulamentação “verde”. O problema é real e eu aplaudo estas e outras dúzias de organizações que trabalham para fazer a diferença. Mas o que elas prescrevem para o consumidor – coisas que elas querem que você e eu façamos sobre o ‘e-desperdício’ – é, na verdade, ruim para o meio ambiente. Eu lhe direi o porquê disso em um minuto. Também vou descrever uma alternativa superior para a reciclagem que elas estimulam. Mas antes disso, vamos revisar o problema. O PROBLEMA DO LIXO ELETRÔNICO A pesquisa Consumer Reports afirma que os americanos jogaram fora cerca de 3 milhões de toneladas de eletrônicos em 2003. Cerca de 700 milhões de celulares já haviam sido jogados fora em todo o mundo, dos quais 130 milhões somente em 2005. Pior que isso, trata-se de lixo tóxico. Os antigos monitores CRT e os aparelhos televisores têm em média 6 libras de chumbo venenoso, que é a maior fonte de substâncias tóxica. A maior parte dos PCs e eletrônicos de consumo contém circuitos 16 envoltos em metais tóxicos como cromo, zinco e níquel. Mesmo os plásticos contêm retardantes de chama tóxicos. Um relatório recente feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia analisou a mistura química que é depositada no meio ambiente a partir dos telefones celulares e encontrou chumbo tóxico, cobre, níquel, antimônio e zinco, todos criando sérios danos ao meio ambiente. A Consumer Reports afirma que somente 10% dos PCs descartados são reciclados “de forma responsável”. Algo como 80% dos eletrônicos descartados é atualmente enviado a uma série de países em desenvolvimento como China, Índia e Quênia, onde a população (inclusive crianças) desmonta os eletrônicos em partes e peças. O trabalho é perigoso e mal pago, além de ampliar em grandes proporções as ameaças à água e à poluição do solo nesses países, além da poluição do ar globalmente. Futuras leis na maior parte dos países industrializados irão efetivamente banir essa prática. Teremos que lidar com nosso próprio problema de lixo tóxico no futuro e não simplesmente exportar o problema. MAS O QUE DEVEMOS FAZER SOBRE ISSO? Organizações como The Silicon Valley Toxics Coalition, Friends of the Earth e Greenpeace impulsionam fortemente a reciclagem. Elas querem que você participe de programas de devolução de baterias ou aparelhos antigos oferecidos pela EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 17 CAPÍTULO 8 Dell, HP e Apple ou encontre uma empresa de reciclagem a quem entregar o seu lixo eletrônico. Essa ênfase exagerada, entretanto, na reciclagem falha ao tirar vantagem da natureza específica dos equipamentos eletrônicos. Os aparelhos são completamente diferentes de outros produtos que reciclamos. Pior que isso, forçar a reciclagem é, na verdade, prejudicial ao meio ambiente, e eu convocaria todos esses grupos a repensar sua obsessão com a reciclagem, pelo menos neste item particular. Aqui estão cinco razões pelas quais a reciclagem de aparelhos eletrônicos é ruim para o meio ambiente: 1) A RECICLAGEM POLUI. Diferentemente de outros produtos comumente recicláveis, como latas de alumínio de papel, o processo de reciclagem de eletrônicos é monstruosamente consumidor de tempo, intensivo em mão-de-obra e esbanjador. Reciclar esses aparelhos envolve testar, consertar e reutilizar, desmontar o equipamento e extrair as matérias-primas (como os metais). Cada aparelho deve ser cuidadosamente manuseado nesses processos, que quase sempre resultam em reciclagens incompletas. 2) A RECICLAGEM NÃO REDUZ A PRODUÇÃO DOS DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS. Pode dar uma sensação agradável remeter todo esse material a um centro de reciclagem, mas ao fazer isso, na verdade, está se incentivando os fabricantes a manter a produção de outros milhões de eletrônicos. Os ambientalistas deveriam estimular os consumidores a exigir que os fabricantes produzam menos, e não mais. 17 3) RECICLAR TAMBÉM PODE NÃO FUNCIONAR. O processo requer sacrifício individual para o bem coletivo. Quando foi a última vez que isso funcionou? As pessoas reduzem o consumo de gás e compram carros bicombustível porque isso é mais barato, não porque eles queiram ajudar o ambiente (com algumas exceções). Se os ambientalistas esperam que todos se tornem bons cidadãos, terão de esperar por um longo tempo. Eles devem educar os consumidores pa- ra que façam suas escolhas de forma a beneficiar tanto a si mesmos quanto o meio ambiente. 4) A RECICLAGEM NÃO MELHORA OS PRODUTOS. Uma das grandes contribuições para o edesperdício é evitar os produtos de má qualidade, que as pessoas descartam porque não funcionam ou elas se cansam deles. Produtos excelentes são mais desejáveis e ficam mais tempo com seus donos. 5) A RECICLAGEM ALIMENTA UM DOS MAIORES PROBLEMAS AMBIENTAIS: O ARMAZENAMENTO. Grupos ambientalistas estimulam a reciclagem de eletrônicos através da deposição desses dispositivos no lixo. Mas muitos compradores não o fazem. Eu penso que reciclar contribui para isso. As pessoas se sentem estranhas em jogar um celular fora e sabem que devem tentar reciclá-lo. Mas são ocupadas e adiam a iniciativa. Reciclar agora ou daqui a 10 anos, qual a diferença? Os grupos ambientalistas deveriam estimular que esses eletrônicos saiam das garagens e cheguem às mãos de pessoas que possam usá-los antes que se tornem obsoletos. AQUI ESTÁ A SOLUÇÃO Estamos no momento dos ambientalistas pararem de estimular a panacéia de reciclagem e começarem a defender a prática que chamo de ‘reupgrading’ – reciclagem através do upgrade. Essa tática envolve vender os dispositivos quando eles ainda estão praticamente novos e usar o dinheiro para adquirir um aparelho melhor (usado, se possível). A tecnologia cria o problema do lixo eletrônico e a própria tecnologia fornece a solução. Sites na web como eBay e Craigslist são ideais para comprar e vender eletrônicos usados. Aqui estão seis razões que mostram que ‘reupgrade’ é melhor que reciclar: 1) ELE RECICLA OS DISPOSITIVOS DE FORMA MAIS EFICIENTE. Nesse processo, a energia e o trabalho são mais eficientes. Nada tem de ser processado, nem testado ou desmontado. E o reupgrade tem a vantagem da miniaturização. Celulares, câ- EB_CW_TI_VERDE 8/28/07 17:38 Page 18 CAPÍTULO 8 meras digitais e media players são menores e mais baratos para transportar (do que o lixo eletrônico). 2) ELE FORÇA OS FABRICANTES A FAZER MENOS APARELHOS. Ao comprar eletrônicos usados em massa, os consumidores vão fazer com que menos unidades de novos dispositivos sejam produzidos. Essa é a melhor coisa que podemos fazer pelo ambiente. 3) HÁ A VANTAGEM DO INTERESSE PRÓPRIO. Cada usuário vende seus eletrônicos para financiar sua próxima compra. Eles poderão trocar o aparelho por um mais novo com mais freqüência. Se o seu orçamento para um novo laptop é de 800 dólares, você vai preferir um modelo mais potente por um preço menor, mas usado, ou um novo com menos recursos? 4) ISSO PUNE OS FABRICANTES DE PRODUTOS DE MÁ QUALIDADE. Na medida em que as pessoas encontrarem mais produtos usados de melhor qualidade que alguns novos à venda, isso vai fazer com que as empresas trabalhem mais ardua- 18 mente para atender o mercado. Desta forma, vai aumentar a qualidade média dos itens de cada categoria, assim como sua vida útil. 5) O PROCESSO ENDEREÇA O PRINCIPAL PROBLEMA: ARMAZENAMENTO. Ao vender esses dispositivos para comprar novos, você está motivado por um interesse próprio para que aquele aparelho saia de sua casa enquanto ele ainda é usável. 6) ELE PRESSIONA OS CENTROS DE RECICLAGEM. Muitos dos dispositivos levados aos centros de reciclagem passarão a ser usados por outras pessoas em outro lugar, mas somente depois de um custoso e pouco amigável processo. Mas o principal efeito do processo é psicológico. As pessoas têm sido condicionadas pelo marketing de que querem produtos novos. Mas parte deles está iludido – nós já estamos usando produtos usados. Operadoras já vendem celulares “recauchutados”. Freqüentemente, quando um fabricante substitui uma unidade danificada, ela lhe envia um telefone usado. Ajudaria se os ambientalistas estimulassem essa noção na população.