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Geomorfologia Goias E Df

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SÉRIE GEOLOGIA E MINERAÇÃO 2 Geomorfologia Goiás e Distrito Federal Geomorfologia - Goiás e Distrito Federal 2006 Superfícies Regionais de Aplainamento I e IV Serra do Tombador - Município de Cavalcante - GO Superfície Regional de Aplainamento II, Zona de Erosão Recuante e Superfície Regional de Aplainamento IVA Serra Geral do Paranã - Municípios de Formosa e Planaltina - GO Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal  Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS Alcides Rodrigues Filho Governador SECRETARIA DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO Ridoval Darci Chiareloto Secretário SUPERINTENDÊNCIA DE GEOLOGIA E MINERAÇÃO Luiz Fernando Magalhães Superintendente GERÊNCIA DE GEOLOGIA Antônio Passos Rodrigues Gerente GERÊNCIA DE GEOINFORMAÇÃO Maria Luiza Osório Moreira Gerente  Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS SECRETARIA DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO SUPERINTENDÊNCIA DE GEOLOGIA E MINERAÇÃO Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Série Geologia e Mineração Número 2 Autores Dr. Edgardo Manuel Latrubesse Coordenador Técnico - Científico MSc. Thiago Morato de Carvalho Goiânia – Goiás 2006 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal  Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Equipe Técnica Dr. Edgardo M. Latrubesse Coordenação MSc. Thiago Morato de Carvalho Dr. José Candido Stevaux Colaboração Gerência de Geoinformação Maria Luiza Osório Moreira - Geóloga Heitor Faria da Costa – Geólogo Cláudio Rodrigues da Silva – Geólogo Jeovah Quintino da Silva – Técnico de Mineração Levindo Cardoso Medeiros – Tecnólogo em Geoprocessamento Sabrina de Morais Guimarães – Estagiária Vladimir Chaves de Pina de Barros – Estagiário Ilza Mara da Silva Gomes – Estagiária Ivanilson Dantas da Fonseca Segundo - Estagiário Gerência de Geologia Antônio Passos Rodrigues - Geólogo Leonardo de Almeida - Geólogo Leonardo Resende - Geólogo GOIÁS (Estado). Secretaria de Indústria de Comércio. Superintendência de Geologia e Mineração. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal. Por Edgardo M. Latrubesse, Thiago Morato de Carvalho. Goiânia, 2006. 128 p.:il. (Série Geologia e Mineração, n.2) Geomorfologia – Goiás. 2. Relevo. 3. Superfície de Aplainamento. 4. Zona de Erosão Recuante. I. LATRUBESSE, E.M. II. CARVALHO, T.M. de III. IV. Título. CDU: 551.4 (817.3 + 817.4)  Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal APRESENTAÇÃO A “Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal”, apresentado em texto e mapa, na escala de 1:500.000, e disponibilizada como a segunda publicação da Série Geologia e Mineração, constitui um trabalho inédito realizado pela Secretaria de Estado da Indústria e Comércio através da Superintendência de Geologia e Mineração, dentro do Programa de Geologia e Mineração do Estado de Goiás. Ao se olhar ou intervir numa paisagem ou relevo não se pode deixar de refletir sobre o modo pelo qual ela se constituiu, suas formas, potencialidades e vulnerabilidades. A Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal é isto, a busca do conhecimento e entendimento da paisagem, com o devido suporte científico e um viés de sustentabilidade. Desse modo são disponibilizados importantes dados, informações e interpretações atuais da geomorfologia do estado. Por sua estrutura, conteúdo e elaboração em bases e conceituações científicas esta publicação alcança à área científica e acadêmica relacionadas às Ciências da Terra como uma importante contribuição. O território goiano tem, portanto, neste trabalho e de acordo com sua escala, um diagnóstico e interpretação atualizados desse importante componente do meio físico, que é o relevo. Esse conhecimento torna-se, a partir de então, uma referência de consulta e conduta, tanto no planejamento, ordenamento, ocupação territorial, ações e intervenções no meio físico, como em estudos e trabalhos científicos. Assim, políticas públicas, empreendimentos privados em seus mais diversos segmentos e cujos objetos alcançam o meio físico em qualquer ponto do território goiano, como infra-estrutura (rodovias, ferrovias, saneamento, energia, etc.), ocupação urbana, indústrias, agricultura, pecuária, mineração, e instituições e comunidades acadêmicas e científicas, mais especificamente àquelas relacionadas a Ciências da Terra, passam a contar com uma importante contribuição para os seus compromissos e responsabilidades quanto à sustentabilidade do desenvolvimento e do meio ambiente de Goiás. Ridoval Darci Chiareloto Secretário de Indústria e Comércio Luiz Fernando Magalhães Superintendente de Geologia e Mineração Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal  APRESENTAÇÃO DOS AUTORES Os antecedentes de estudos geomorfológicos no Estado de Goiás, especialmente no que se refere a mapeamentos regionais, são escassos. Sem dúvida, até o presente, as cartografias mais utilizadas são aquelas do Projeto RADAMBRASIL. Produtos posteriores seguiram a mesma base metodológica do Projeto RADAMBRASIL (Nascimento, 1991; Mamede,1998); mais recentemente dados parciais foram apresentados no Projeto Geologia e Recursos Minerais do Estado de Goiás e Distrito Federal (1999), resultado de uma releitura dos mapas de Mamede 1981a, 1981b, 1983 e 1998. Embora esses mapeamentos sejam de grande importância e tenham auxiliado muitas pesquisas em Goiás, pode-se dizer que, ao longo do tempo, pouco se tem avançado nos mapeamentos geomorfológicos desde àqueles gerados conceitualmente no Brasil nas décadas de 70 e 80. Isto não tem acontecido com outras áreas das Geociências, como é o caso particular da Geologia, onde foram geradas atualizações utilizando um grande número de novas informações técnicas e acadêmicas, como a realização do Mapa Geológico e de Recursos Minerais do Estado de Goiás e Distrito Federal – 1:500.000 (1999) pela CPRM/UnB/METAGO/SMET e posteriormente com novas informações geradas na Superintendência de Geologia e Mineração (SGM) da Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás (SIC). A falta de uma metodologia única de mapeamento geomorfológico, aliada a pouca quantidade de conhecimento geomorfológico sobre a região, gerada nas universidades federais e estaduais, num sentido geral, têm contribuído para que, o Projeto RADAMBRASIL, tenha sido praticamente a única fonte de informação regional disponível no nível estadual por três décadas. Neste livro, são sintetizados e discutidos os resultados obtidos no Mapeamento Geomorfológico do Estado de Goiás executado no ano de 2005, abordando a metodologia empregada e suas bases conceituais e os resultados “sensu stricto”. A classificação utilizada é do tipo genético, cuja hierarquia não contempla, de forma de terminante, variáveis de estado atual. Para explicar a formação das grandes unidades do relevo é proposto pelo autores um novo modelo, mais integral, para a geração das grandes superfícies regionais de aplainamento nos trópicos, denominado preliminarmente de Aplainamento Poligênico. Dr. Edgardo Manuel Latrubesse Coordenador Técnico – Científico MSc. Thiago Morato de Carvalho  Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 6 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS 1.1. INTRODUÇÃO 1.2. METODOLOGIA E BASES CONCEITUAIS: SISTEMAS GEOMORFOLÓGICOS COMO SISTEMAS ABERTOS 1.3. SISTEMA CLASSIFICATÓRIO GEOMORFOLÓGICO 1.3.1 SISTEMAS DENUDACIONAIS 1.3.2 SISTEMAS AGRADACIONAIS 1.4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO SISTEMA DE MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO 1.5. REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA E INFORMAÇÕES ADICIONAIS CODIFICAÇÃO/REPRESENTAÇÃO 1.6. PADRÕES DE DISSECAÇÃO 1.7. TÉCNICAS E ETAPAS PARA REALIZAÇÃO DO MAPEAMENTO 1.7.1. GEOLOGIA, TOPOGRAFIA E HIPSOMETRIA 1.7.2. ANÁLISE DA REDE DE DRENAGEM 1.7.3. USO DE IMAGENS DE SATÉLITE 1.7.4. TRABALHOS DE CAMPO 9 16 17 17 18 18 19 2.1. INTRODUÇÃO 2.2 SUPERFÍCIES REGIONAIS DE APLAINAMENTO (SRA) 2.2.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO I - SRAI 2.2.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II - SRAII 2.2.2.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II A – SRAIIA 2.2.2.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II-B-RT - SRAIIB - RT 2.2.2.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II C 2.2.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO III – SRAIII 2.2.3.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IIIA – SRAIIIA 2.2.3.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO III-B-RT – SRAIIIB-RT 2.2.3.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IIIC - SRAIIIC 2.2.4. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IV – SRAIV 2.2.4.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IVA- SRAIVA 2.2.4.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IV-B – SRAIVB 2.2.4.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IVC –SRAIVC 2.3. ZONAS DE EROSÃO RECUANTE – ZER 2.4. MORROS E COLINAS – MC 2.5. ESTRUTURAS DOBRADAS – ED 2.6. ESTRUTURAS DE BLOCOS FALHADOS - BF 2.7. ESTRUTURAS EM ESTRATOS HORIZONTAIS E SUBORIZONTAIS – EH 2.8. PSEUDO-DOMOS – PSD 2.9. OUTRAS FORMAS DÔMICAS NÃO-DIFERENCIADAS 2.10. SISTEMAS CÁRSTICOS 21 21 23 27 27 31 33 33 34 36 37 37 37 44 44 45 48 49 52 53 54 55 55 3.1. INTRODUÇÃO 3.2. SISTEMAS LACUSTRES (LA) 3.2.1. Modelo de formação de lagos 3.2.2. Covoais 3.3. REDE DE DRENAGEM E PLANÍCIES FLUVIAIS (PF) 3.3.1. Bacia Hidrográfica do Rio Araguaia 3.3.1.1. Rio Araguaia 3.3.1.2. Afluentes do Rio Araguaia em Goiás 3.3.2. Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins 3.3.3. Bacia Hidrográfica do Rio Paraná 3.3.4. Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco 59 59 60 61 61 61 62 63 64 65 65 4.1. INTRODUÇÃO 4.2. MANTOS DE INTEMPERISMO E LATERITAS 4.3. LATERITAS 4.3.1. POTENCIAL ECONÔMICO DAS LATERITAS 4.4. INSELBERGS E TORS 4.5. LINHAS DE PEDRAS (STONELINES) 4.6. PLACERS E PLANÍCIES FLUVIAIS 4.7. GEOMORFOLOGIA REGIONAL E CORRELAÇÕES COM O USO DO SOLO 4.8. PROCESSOS EROSIVOS INDUZIDOS OU ACELERADOS POR AÇÃO ANTRÓPICA 4.9. PROCESSOS DE SEDIMENTAÇÃO E MUDANÇAS GEOMORFOLÓGICAS NO RIO ARAGUAIA 4.10. CORRELAÇÃO ENTRE GEOMORFOLOGIA E HIDROGEOLOGIA 4.10.1. Superfície Regional de Aplainamento II - SRA II 4.10.2 Superfície Regional de Aplainamento III - SRA III 4.10.3. Superfície Regional de Aplainamento IV - SRAIV 4.10.4. Zonas de Erosão Recuantes - ZER e Morros E Colinas - MC 4.10.5. Estruturas Dobradas - ED 4.10.6. Estruturas de Blocos Falhados - BF 4.10.7. Sistemas Cársticos 4.11. SÍTIOS GEOMORFOLÓGICOS – PATRIMÔNIO NATURAL 4.11.1. Rio Araguaia 69 69 70 71 72 76 77 80 82 10 12 14 14 14 16 CAPÍTULO 2 – SISTEMAS DENUDACIONAIS CAPÍTULO 3 – SISTEMAS AGRADACIONAIS CAPÍTULO 4 – GEOMORFOLOGIA APLICADA Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 85 86 87 87 88 88 88 88 88 88 88  SUMÁRIO 4.11.2. Chapada dos Veadeiros 4.11.3. Cidade de Pedra de Pirenópolis 4.11.4. Cachoeiras e Corredeiras 4.11.5. Águas Termais de Caldas Novas 4.11.6. Outras Áreas de Interesse 4.12. QUATERNÁRIO 4.13. ENCHENTES DA CIDADE DE GOIÁS CAPÍTULO 5 - MODELOS 5.1. MODELOS DE EVOLUÇÃO DA PAISAGEM: ALTERNATIVAS PARA AS GRANDES UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS DO ESTADO DE GOIÁS E DISTRITO FEDERAL 5.2. CONCEITO DE PEDIPLANO DE KING 5.3. MODELO DE PENEPLANAÇÃO DE DAVIS 5.4. MODELO DE ETCHPLANAÇÃO DE BUDEL 5.5. PROCURA DE UM MODELO MAIS INTEGRAL PARA A GERAÇÃO DAS GRANDES SUPERFÍCIES DE APLAINAMENTO NOS TRÓPICOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS  Continuação 91 92 92 94 94 94 95 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 97 97 98 99 100 105 113 CAPÍTULO 1 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS 1.1. INTRODUÇÃO Diversas técnicas e métodos foram utilizados na confecção do Mapa Geomorfológico do Estado de Goiás e Distrito Federal. Na primeira etapa a geomorfologia foi interpretada sobre produtos gerados pela equipe do Laboratório de Geoprocessamento da Superintendência de Geologia e Mineração - SGM da Secretaria de Indústria e Comércio - SIC, através da aplicação de várias metodologias sobre produtos de imageamentos e produtos vetoriais digitais que constituem o Sistema de Informações Geográficas do Estado de Goiás/SIG-Goiás. Este processo resultou em produtos analógicos: mapa geológico na escala 1:500.000, mapas da rede de drenagem e da altimetria na escala 1:250.000 plotados em 1:500.000, imagens LANDSAT 7 ETM+, nas bandas 5,4,3 e SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) sombreadas e plotadas na escala 1:250.000. Os dados de campo que alimentaram as descrições e discussões resultaram de várias campanhas e mapeamentos realizados pelos autores e alunos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Goiás, em particular na região da bacia hidrográfica do rio Araguaia, entre eles: Maximiliano Bayer, Pedro Alves Vieira e Roberto Prado de Morais. Os dados sobre as erosões do alto curso do rio Araguaia foram cedidos pela Profª. Dra. Selma Simões de Castro e sobre as linhas de pedra na região de Brasília pela Profª. Dra. Cláudia Valéria de Lima. Valiosas discussões foram mantidas no campo com os geólogos da SGM, Antonio Passos Rodrigues, Leonardo de Almeida, Leonardo Resende e Marco Antonio Pires Paixão, das gerências de Geologia e de Desenvolvimento Mineral, durante a realização de perfis distribuídos pelas diversas unidades geomorfológicas que constituem a paisagem de Goiás e do Distrito Federal. Posteriormente para a consolidação final das informações foram realizadas reuniões de trabalho entre a equipe técnica da SGM e os autores. Ressalta-se ainda, a participação do Prof. Dr. José Candido Stevaux, que se constituiu peça fundamental na equipe, durante a elaboração do Mapa Geomorfológico. A equipe do Laboratório de Geoprocessamento da SGM utilizando o aplicativo SPRING executou a digitalização do mapa geomorfológico a partir das 34 folhas 1:250.000 interpretadas (figura 1). Posteriormente o mapa foi migrado para o ambiente ArcView 3.2, ajustado em função do Modelo Digital de Terreno (SRTM) e associado a um banco de dados cuja modelagem maximiza as informações com o objetivo de disponibilização à sociedade por intermédio do Programa SIG-Goiás. Os profissionais da SGM envolvidos nesta etapa coordenados pela geóloga Maria Luiza Osório Moreira foram: geólogos Heitor Faria da Costa e Cláudio Rodrigues da Silva; Técnico em Mineração: Jeovah Quintino da Silva; Tecnólogo em Geoprocessamento: Levindo Cardoso Medeiros; Estagiários: Vladimir Chaves Pina de Barros, Sabrina de Morais Guimarães, Ilza Mara da Silva Gomes e Ivanilson Dantas da Fonseca Segundo. Sâmia Aquino da Silva auxiliou na formatação e correção do texto. O Mapa Geomorfológico do Estado de Goiás e Distrito Federal na forma de SIG e de arquivos para impressão encontra-se em CD-ROM anexo. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal  Figura 1 – Corte cartográfico 1:250.000 - Goiás e Distrito Federal. 1.2. METODOLOGIA E BASES CONCEITUAIS: SISTEMAS GEOMORFOLÓGICOS COMO SISTEMAS ABERTOS Considerados os pressupostos da Teoria Geral de Sistemas1, podem-se descrever os fatores responsáveis pela gênese, evolução e desenvolvimento de um sistema natural2, assim como, compreender seus mecanismos internos. Sob este enfoque, um Sistema Geomorfológico é um conjunto de geoformas interligadas geneticamente, e com uma estrutura interna definida caracterizada por suas variáveis de estado, tais como litologia, pendente regional, estruturas, entre outras, (figura 2). Estas variáveis de estado se relacionam e se modificam por processos climáticos e geomorfológicos considerados variáveis de transformação. Estas são numerosas: erosão, transporte, sedimentação, intemperismo/pedogênese, oscilação do nível freático, entre outras. As variáveis de transformação (processos) se mobilizam por aportes externos de energia e matéria (por exemplo, energia solar, ventos, chuvas). 1 Teoria Geral dos Sistemas – lançada por Ludwig Von Bertalanffy em 1937, tem por objetivo uma análise da natureza dos sistemas e da inter-relação entre eles em diferentes espaços, assim como a inter-relação de suas partes. 2 10 Sistema natural – Pode-se categorizar os sistemas, em criados pelo ser humano (artificiais) e os de origem não-humana (naturais). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal SISTEMA GEOMORFOLÓGICO O Sistema Geomorfológico é um conjunto de geoformas interligadas geneticamente, com estrutura interna definida. É caracterizada por variáveis de: Definição ESTADO TRANSFORMAÇÃO Litologia Pendente Regional Estruturas.... Erosão Transporte Sedimentação Intemperismo/pedogênese Oscilação de nível freático... Figura 2 - Sistema Geomorfológico: definição e variáveis de estado e transformação. A estrutura do Sistema e seus processos determinam um comportamento típico para cada sistema, (figura 3). O comportamento típico de boa parte de sistemas inundáveis, por exemplo, é devido à ocorrência de prolongadas inundações em função da interação de suas variáveis de estado e de transformação, como relevos rebaixados, solos encharcados, sistemas de paleocanais com uma rede de drenagem pouco integrada e em parte herdada geomorfologicamente. Estrutura do sistema A estrutura do sistema e seus processos determina um Comportamento Típico para cada tipo de sistema. O Comportamento Típico caracteriza-se em função da interação de suas variáveis de ESTADO e de TRANSFORMAÇÃO. Figura 3 - Estrutura e comportamento típico dos sistemas geomorfológicos. A mudança de uma única variável externa3 provoca reajustes em todos os parâmetros de um sistema. Os sistemas geomorfológicos podem ser caracterizados por seu grau de estabilidade que varia entre limites amplos. Por exemplo, as áreas inundáveis da planície do Bananal, podem ser modificadas drasticamente durante um período de estiagem; já nas superfícies de aplainamentos regionais não ocorrerão modificações importantes para o mesmo evento, mantendo-se relativamente estáveis e parcialmente conservadas, ao longo, de pelo menos alguns milhões de anos. Sistemas estáveis absorvem bem os impactos das perturbações (regulação) enquanto sistemas instáveis reagem rapidamente, se modificando em função da nova situação (adaptação). Neste caso, entram em jogo a inércia do sistema e a memória, (figura 4). 3 Variável externa - não intrínseca ao sistema, como por exemplo, tectônica, mudanças climáticas ou efeitos antrópicos. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 11 Grau de Estabilidade A mudança de uma variável externa provoca reajustes em todos os parâmetros dos Sistemas Estáveis Tem a capacidade de absorverem bem os impactos das perturbações (regulação) Instáveis Reagem rapidamente às perturbações modificando-se rapidamente (adaptação) INÉRCIA MEMÓRIA É a persistência das formas ao longo do tempo após o clima que as originou haver se modificado É a informação geomorfológica que persiste no sistema como informação acumulada e permitindo reconstruir o ambiente Figura 4 - Estabilidade, inércia e memória de um sistema geomorfológico. Memória é a informação geomorfológica que persiste no sistema como informação acumulada permitindo reconstruir o ambiente e os processos do passado. Inércia é a persistência das formas ao longo do tempo após o clima que as originou haver mudado, como por exemplo, as grandes superfícies de aplainamento regional do Brasil Central. Finalmente, pode-se considerar que um Sistema Geomorfológico é um sistema físico aberto com contínuo intercâmbio de massa e energia. 1.3. SISTEMA CLASSIFICATÓRIO GEOMORFOLÓGICO A classificação utilizada é do tipo genético, organizada em vários níveis, sendo as categorias dominantes no nível 1, os Sistemas Agradacionais e os Denudacionais, tabela 1. Cada um destes Sistemas pode envolver tanto processos de agradação como de denudação, mas o critério de classificação é determinado pela dominância de geoformas identificadas no mapeamento: erosivas (denudacionais) ou de deposição (agradacionais). Na classificação proposta, hierarquias geomorfológicas não contemplam em forma determinante as variáveis de estado atuais como vegetação, clima e solos, nem, de forma particular, as variáveis de transformação como processos morfogenéticos atuantes no presente, embora, as mesmas possam ser contempladas parcialmente para diferentes ambientes de acordo com a dominância nos processos de erosão ou agradação. Uma vez que relevos policíclicos e/ou poligênicos são dominantes na superfície da Terra, em uma determinada região, as geoformas representativas de uma paisagem podem estar em desarmonia com as características climáticas, biogeográficas e morfogenéticas atuais. Assim, a unidade cartografada, poderá pertencer a um Sistema Geomorfológico ativo4 ou inativo5. Para definição e representação cartográfica é considerada a predominância das formas numa determinada região, (figura 5). 4 5 12 Sistema geomorfológico ativo – funcional no tempo presente. Sistema geomorfológico inativo – não-funcional no tempo presente. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Tabela 1 – Sistema Classificatório utilizado no mapeamento geomorfológico do Estado de Goiás. Nível 1 Agradacionais Nível 2 Sistemas Fluviais Nível 3 Faixa Aluvial Denudacionais Forte Controle Estrutural Meandriformes Escoamento Impedido Bancos Acrescidos Espiras de Meandros Planície Fluvial Lacustres Fraco ou sem Controle Estrutural Nível 4 Dissecação Aplainamento Estruturas Dobradas Estruturas Dômicas e Pseudo - Dômicas Morros e Colinas Morros e Colinas Zonas de Erosão Recuante Superfícies Regionais de Aplainamento Sistema Classificatório do tipo genético, organizado em níveis inseridos em Sistemas Agradacionais e Denudacionais. Agradação Classificação Genética Processos Denudação As distintas hierarquias geomorfológicas não contemplam como elemento decisivo as variáveis de estado atuais como tipos de vegetação, clima e solos, nem as variáveis de transformação, como processos morfogenéticos atuantes no presente. A unidade cartografada poderá ser um Sistema Geomorfológico ATIVO ou INATIVO. O importante ao definir e representar cartograficamente uma região é a predominância das formas do Sistema [ATIVO ou INATIVO] Figura 5: Sistemas Agradacionais e Denudacionais. Entretanto a classificação permite que certas variáveis do presente sejam incluídas como anexo ao sistema classificatório. Para incrementar a informação de dados morfogenéticos atuais, pode-se, seguir a metodologia similar à utilizada pelo ITC6, que aplicada no Zoneamento de fronteiras Brasil-Bolívia, que engloba estes tipos de variáveis dentro da categoria de Características do Terreno (relevo, pendente regional, processos, solos, condições hidrológicas, vegetação, etc). O fator escala, freqüentemente utilizado para determinação de categorias por diversos autores, é considerado aqui uma variável de ajuste, determinada pela interpretação dos distintos elementos geomorfológicos nas diferentes hierarquias, e, portanto, totalmente dinâmico, (figura 6). 6 ITC – International Institute for Geo-Information Science and Earth Observation. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 13 Tratamento de Escala Escala é uma variável de ajuste determinada pela interpretação de elementos geomorfológicos em diferentes hierarquias, sendo totalmente dinâmica. As hierarquias propostas não têm relação com uma geoforma analisada em diferentes escalas; sempre será classificada em uma mesma hierarquia. Figura 6 - Escala e hierarquias no sistema de mapeamento geomorfológico. 1.3.1 SISTEMAS DENUDACIONAIS Os Sistemas Denudacionais se subdividem no nível 2 em Sistemas Denudacionais com fraco (ou imperceptível) controle estrutural e com forte (marcante) controle estrutural. No nível 3 dos Sistemas Denudacionais com forte controle estrutural, o elemento determinante é o estilo estrutural, como por exemplo, blocos falhados e basculados, estratos dobrados gerados por corpos intrusivos, entre outros. Como elementos do nível 4 são consideradas as geoformas associadas ao estilo estrutural do nível 3, como por exemplo, hogbacks, cuestas e facetas triangulares. Os Sistemas Denudacionais com fraco ou imperceptível controle estrutural, são divididos no nível 3 em dois grandes grupos: Sistemas Denudacionais de Dissecação e Sistemas Denudacionais de Aplainamento. Os Sistemas Denudacionais de Dissecação são aqueles onde predomina a erosão linear. No nível 4 foram diferenciados dois tipos de associações de formas: de Colinas e Morros (terminologia popular no Brasil) e Badlands7. Os Sistemas Denudacionais de Aplainamento apresentam grande importância nos territórios de Rondônia, Mato Grosso e Goiás devido sua representatividade em área. As grandes superfícies de aplainamento caracterizadas nesses estados receberam a denominação de Superfícies Regionais de Aplainamento. Em função da caracterização genética de grandes superfícies de aplainamento, particularmente nas regiões tropicais, permanecer em discussão, não são utilizados na legenda termos como pediplanos, etchplanos ou peneplanícies. Embora mais descritivo, o termo Superfície de Aplainamento tem conotações genética, mas indica somente área aplainada por processos geomorfológicos. A discussão sobre a origem das grandes superfícies de aplainamento do Estado de Goiás é abordada aqui sobre a óptica dos autores (capítulo 5). Para os padrões de aplainamento localizados se recomenda utilizar o termo pedimento, quando associado a frentes montanhosas. 1.3.2 SISTEMAS AGRADACIONAIS A classificação dos Sistemas Agradacionais é praticamente a mesma proposta por Iriondo (1986), com algumas modificações (Latrubesse, 1998). Essa classificação foi testada em diferentes escalas, em projetos nos quais participou o autor tais como: Zoneamento Socioeconômico dos Estados de Mato Grosso e Rondônia, Zoneamento Socioeconômico-Ecológico da Região de Fronteiras Brasil - Bolívia e ao Projeto Mapa das Planícies da América do Sul – CONICET8 – National Geographic Society. Esta classificação, elaborada para o estudo de planícies, contempla duas principais categorias: Planícies Estruturais e Planícies de Agradação. No caso do Estado de Goiás e Distrito Federal não foram consideradas essas subdivisões. No nível 2 os Sistemas Agradacionais podem ser subdivididos em eólicos, glaciais, lacustres/palustres, fluviais, litorâneos e flúvio-gravitacionais, sendo que cada um desses pode ser compartimentado. Os Sistemas Agradacionais, em Goiás, foram subdivididos em lacustres/palustres e fluviais sendo que os Sistemas Glaciais e Litorâneos não serão discutidos uma vez que não ocorrem. 1.4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO SISTEMA DE MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO Sendo uma classificação de tipo aberta, significa que, novas categorias podem ser incluídas, caso seja necessário em função das características de determinada região. Alguns princípios fundamentais do Sistema de Mapeamento Geomorfológico são apresentados a seguir, figura 7: 7 8 14 Badlands – terras impróprias para agricultura, muito erodidas pela erosão pluvial, com sulcos ou valetas. CONICET - Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas y Tecnicas, Argentina Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Sistemas: em cada um dos sistemas, pode se produzir agradação ou denudação, mas o critério de classificação e mapeamento da unidade ocorre pela prevalência das geoformas agradacionais ou denudacionais caracterizando unidades mapeáveis. Unidades: como foi exposto existem duas grandes categorias de unidades, consideradas como de Denudação e de Agradação. Escala: a magnitude das formas atua como uma variável de ajuste determinada pela interpretação dos elementos geomorfológicos nas diferentes hierarquias, constituindo-se, portanto, em um parâmetro totalmente dinâmico, não atrelado a valores de escala pré-definidos. Uma planície aluvial pode ter diferentes dimensões em função do rio que a gerou, porém a sua classificação continuará a ser a mesma em qualquer escala. Uma geoforma pode apresentar uma grande variabilidade de tamanhos, podendo ser mapeável em diferentes escalas (por exemplo, as espiras de um grande meandro do rio Madeira ou Amazonas podem facilmente ser identificadas na escala 1:250.000 e pertencerão a mesma categoria que as espiras de meandro de um rio pequeno que não podem ser mapeadas nesta escala). Concluindo, o observador mapeia aquilo que consegue identificar segundo a escala de trabalho, mas não segundo as limitações artificiais de escala impostas nas categorias de classificação, como erroneamente acontece na maioria dos métodos de mapeamento. Classificação: um fato fundamental é que as unidades mapeadas podem ou não ser ativas. O que define a classificação é o que domina a cena e, portanto, o que se impõe ao observador na interpretação. Variabilidade interna: alguns sistemas podem ser subdivididos, enquanto outros mostram pouca variabilidade interna. Sendo um sistema de classificação aberto, podem ser agregados sucessivos níveis. Por exemplo, um sistema de deposição lacustre poderá ter uma variabilidade interna menor que um de deposição fluvial, podendo ser subdividido em outros subníveis. Por exemplo, um Sistema de Aplainamento por Pedimentos terá uma variabilidade menor que um Sistema de Deposição, como encontrado na planície aluvial do Araguaia. Unidades Associadas: tendo em vista que alguns sistemas são compostos por vários elementos interatuantes, constituindo áreas complexas com agrupamentos de geoformas de diferentes origens, utilizou-se o conceito de Unidades Associadas para resolver o problema do mapeamento geomorfológico. Considerando que os Sistemas são compostos por vários elementos interatuantes, diferentes classes podem se apresentar associadas no sistema que as engloba. Por exemplo, alguns Sistemas de Aplainamento Regional apresentam Sistemas Lacustres associados. Estas áreas subordinadas são cartografadas separadamente, sempre que a escala o permitir, e quando não puderam ser individualizadas serão consideradas Unidades Associadas ao Sistema dominante. Outro exemplo são alguns setores dos Sistemas Fluviais, como terraços, ocorrendo associados a Sistemas de Áreas Pantanosas ou Alagadiças. Dominância do sistema Variabilidade interna Unidades Associadas O critério de classificação e mapeamento da unidade é determinado pela prevalência das geoformas agradacionais ou denudacionais Alguns sistemas podem ser subdivididos enquanto outros mostram uma pequena variabilidade interna. Sendo um sistema aberto, podem ser agregados sucessivos níveis e classes. Designa vários elementos interatuantes, constituindo áreas complexas (agrupamentos de geoformas de várias origens). Diferentes classes podem ocorrer associadas a um sistema que as engloba, e serão mapeadas individualmente quando a escala o permitir. Figura 7 - Conceitos de dominância, variabilidade e unidades associadas. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 15 1.5. REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA E INFORMAÇÕES ADICIONAIS CODIFICAÇÃO/REPRESENTAÇÃO Para a codificação das Unidades Geomorfológicas foi utilizado um código de letras. Por exemplo, SRA (fr), onde SRA (Superfície Regional de Aplainamento), fr (dissecação fraca); PFm (Planície Fluvial), m (padrão meandriforme). Para as representações cartográficas foram utilizados cores e tons. Para o nível 1 foram utilizadas cores. Para os níveis 2, 3 e sucessivos, foram utilizadas cores ou tons, conforme o grau de complexidade geomorfológica interna da unidade e as possibilidades de mapeamento. Embora não utilizado neste trabalho, na representação cartográfica de elementos lineares (e.g. escarpas) podem ser aplicadas as simbologias correntemente utilizadas em geomorfologia. Ainda no âmbito da representação cartográfica, codificação e legenda, as características do terreno indicativas de estado e de transformação são apresentadas em perfis geomorfológicos auxiliares que incluem dados topográficos e geológicos. 1.6. PADRÕES DE DISSECAÇÃO A fim de caracterizar o grau de dissecação/preservação das unidades mapeadas, determinou-se padrões semiquantitativos de dissecação, considerando densidade de drenagem, grau de incisão e amplitude dos vales. Os padrões foram calibrados em áreas definidas como “tipo” e sua posterior aplicação em uma determinada unidade é realizada por comparação visual direta, como tradicionalmente é utilizado no Brasil e tipicamente por RADAMBRASIL, (figura 8). Figura 8 - Textura nas imagens SRTM sombreadas (shade-relief), indicando o grau de dissecação. A) Dissecação Muito Fraca (mfr); B) Dissecação Fraca (fr); C) Dissecação Média (m); D) Dissecação Forte (fo) e E) Dissecação Muito Forte (mfo). 16 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 1.7. TÉCNICAS E ETAPAS PARA REALIZAÇÃO DO MAPEAMENTO A elaboração do Mapa Geomorfológico do Estado de Goiás e Distrito Federal consistiu de várias etapas e procedimentos, apresentados no fluxograma abaixo, (figura 9): Figura 9 - Fluxograma metodológico 1.7.1. GEOLOGIA, TOPOGRAFIA E HIPSOMETRIA No mapeamento geomorfológico foram primeiramente utilizados arquivos vetoriais digitais do SIGGoiás referentes às bases cartográficas do IBGE na escala 1:250.000, com curvas de nível com eqüidistância de 100 metros, plotadas na escala 1:500.000. Foram também analisados os produtos de hipsometria MDT9 gerados a partir de imagens de radar SRTM10. Em termos gerais, observou-se uma boa correlação entre as bases e o modelo hipsométrico. O mapa hipsométrico gerado a partir da SRTM indicou boa correlação com as principais unidades de relevo, embora, em alguns casos, os limites de classes escolhidos para o MDT não se ajustem exatamente com a distribuição de unidades geomorfológicas. Foram plotados na escala 1:250.000, mosaicos em tons de cinza (shaded relief) com exagero vertical de 3 vezes, com o objetivo de ajustar o relevo gerado pela introdução estatística de classes hipsométricas (fatiamento) à distribuição hipsométrica natural da paisagem. O MDT e o mapa geológico em formatos digital e impresso auxiliaram significativamente na identificação de unidades geomorfológicas. Seguindo a metodologia tradicional, o mapa altimétrico por curvas de nível, pontos cotados e referências de nível impresso na escala 1:500.000 foi associado a mapas de hipsometria gerados a partir de imagens de radar SRTM. Os mosaicos em tons de cinza (shaded relief) na escala 1:250.000 se mostraram uma ferramenta fundamental, utilizada no cruzamento com a interpretação das imagens LANDSAT 7 ETM+ e com o próprio mapa geomorfológico, já na fase final do trabalho para fins de ajustes nos limites das unidades. 9 MDT – Modelo Digital de Terreno. SRTM – Shuttle Radar Topographic Mission é um projeto comum entre as agências Nacional de Inteligência Geoespacial (NGA) e de Administração Espacial e Aeronáutica (NASA) com o objetivo de produzir dados topográficos digitais para 80% da superfície de terra da Terra (todas as áreas de terra entre 60° norte e 56° latitude sul). 10 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 17 1.7.2. ANÁLISE DA REDE DE DRENAGEM Para analisar a rede de drenagem foram utilizados arquivos do SIG-Goiás das folhas 1:250.000 do IBGE, mosaicados e plotados na escala 1:500.000, para identificar os tipos de padrões da rede, anomalias e variações na densidade drenagem. A integração das informações obtidas a partir da rede de drenagem, geologia e da hipsometria (MDT) permitiu a identificação das unidades macrogeomorfológicas. Os mapas preliminares gerados foram discutidos e analisados com os geólogos da Superintendência de Geologia e Mineração. 1.7.3. USO DE IMAGENS DE SATÉLITE Foram utilizados dois sistemas orbitais de sensoriamento remoto para identificar e mapear as unidades morfológicas do relevo, sendo um sensor ativo e outro passivo. O sistema passivo utilizado foi LANDSAT 7 ETM+ (Enhanced Thematic Mapper Plus) e o sistema ativo SIR-C/X-SAR (Spaceborn Imaging Radar C-band/X-band Synthetic Aperture Radar). O LANDSAT 7 era o satélite mais moderno em operação do programa da NASA (National Aeronautics and Space Administration). Foi lançado em 15 de abril de 1999 e permaneceu ativo em condições normais até 31 de maio de 2003 e depois desta data em modo SLC - OFF, com a qualidade das imagens muito prejudicadas. Possuía um sensor a bordo denominado ETM+ (Enhanced Thematic Mapper Plus). Uma imagem LANDSAT 7 ETM+ é composta por 8 bandas espectrais que podem ser combinadas em inúmeras possibilidades de composições coloridas e opções de processamento. Entre as principais melhorias técnicas, se comparado ao seu antecessor, o satélite LANDSAT 5 TM, destacam-se a adição de uma banda espectral (banda pancromática) com resolução de 15 m, perfeitamente registrada com as demais bandas, melhorias nas características geométricas e radiométricas, e o aumento da resolução espacial da banda termal para 60 m. O uso das imagens SRTM tem se tornado cada vez mais freqüente, destacando-se seu uso para estudos geológicos, hidrológicos, geomorfológicos e ecológicos, entre outros, seja para análises quantitativas ou qualitativas do relevo e seus agentes modificadores (Carvalho & Latrubesse, 2004). Por se tratarem de imagens Interferometric Synthetic Aperture Radar - IFSAR, obtidas no ano de 2000 através da Shuttle Radar Topography Mission – SRTM, permitem a geração de modelos digitais do terreno por interferometria (duas cenas de radar da mesma área, formando interferograma), através dos sensores Spaceborn Imaging Radar C-band/X-band Synthetic Aperture Radar (SIR-C/X-SAR, comprimentos de onda 5,6 cm e 3 cm respectivamente), modificados e acoplados ao Space Shuttle. O sistema SIR-C imageia uma faixa de 225 km de largura e o SAR-X uma faixa de 50 km, cuja órbita é determinada por um sistema GPS (formado por dois receptores e duas antenas), referenciado ao sistema World Geodetic Survey 1984 - WGS84. Os produtos disponibilizados possuem resolução horizontal global de 90 m (SRTM-3 arc-seconds) e 30 m para os Estados Unidos (SRTM-1 arc-second e uma acuidade vertical absoluta de 16 m) - Carvalho, 2003. Os produtos nos formatos HGT (Height), TIFF (Tag Image File Format), ARCGRID (Arc/Info), BILL (Band Interleaved by Line) e GRIDFLOAT (Floating Point Data) são disponibilizados gratuitamente através do Eros Data Center (Serviço Geológico dos Estados Unidos – USGS). O formato utilizado neste estudo foi o HGT e ArcGRID, por ter maior fidelidade às informações de altimetria e coordenadas geográficas, utilizando-se para tanto o programa de processamento de imagens ENVI 4.0 e ERDAS 8.7. Estes softwares, para análises de sensoriamento remoto, com o uso de suas ferramentas topográficas, permitiram a montagem das cenas de imagens SRTM, gerando-se uma imagem para todo o Estado de Goiás. Para analisar feições topográficas/geomorfológicas utilizou-se diversas rotinas no ENVI 4.0: a) sombreamento do relevo (shaded-relief); b) fatiamento altimétrico (density slice); c) perfis topográficos (topographic profile); d) cruzamento de dados geológicos, drenagem e estradas. a) Relevo Sombreado (shaded-relief): importante para definir contatos litológicos e feições estruturais. O realce do relevo através da simulação de diferentes geometrias de iluminação proporcionou o sombreamento do relevo, dando a impressão de concavidade e convexidade. Isso permitiu a identificação de feições estruturais, contatos litológicos, Zonas de Erosão Recuante, Morros e Colinas, além de possibilitar a identificação de padrões diferenciados de dissecação, feições planares, lineares positivonegativas e tabulares do relevo, que não são identificadas com detalhe em MDTs derivados de cartas topográficas. Essa falta de precisão é devido à escala da carta topográfica, número de pontos cotados no terreno, eqüidistância das cotas altimétricas, e também no tipo de interpolação utilizada para gerar o modelo do terreno. 18 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal b) Fatiamento Altimétrico (density-slice): importante para identificar patamares diferenciados. Esta rotina permite identificar na imagem a altimetria, picos mais altos e baixos bem como patamares do relevo diferenciados. Esses são as Superfícies Regionais de Aplainamento, obtidas pelo fatiamento das cotas altimétricas, resultando no mapa hipsométrico, onde podem ser estabelecidos intervalos de cotas na imagem com diferentes cores. Este procedimento permite mapear as Superfícies Regionais de Aplainamento e Zonas de Erosão Recuante. O critério estabelecido para os intervalos de cotas altimétricas não foi o mesmo para todos os quadrantes das imagens. Os intervalos foram definidos com base nos dados de campo, da literatura e interpretações em imagens sombreadas. c) Perfis Topográficos (topographic profile): importantes para identificar variações topográficas. Esta técnica é útil para diversos estudos, desde uma rápida descrição das geoformas do terreno, identificadas pelas irregularidades do relevo; estudos estratigráficos e pedológicos, nos quais são acrescentadas informações estratigráficas e/ou pedológicas obtidas em campo e indicadas no perfil topográfico; de biogeografia, em especial da vegetação e sua relação com o relevo; para implementação de diversas obras como estradas de rodagem; implementação para construção de linhas de transmissão de energia elétrica e outras. d) Cruzamento de dados geológicos, drenagem e de estradas: é importante para interpretar junto com o modelo digital do terreno, o mapa geológico, a rede de drenagem e o mapa viário para identificação de áreas de acesso. Para melhor compreensão do sistema morfológico, muitas vezes é preciso agrupar informações de seus componentes litológicos e agentes modificadores; neste caso, foram agrupados o modelo digital do terreno (imagens SRTM), geologia e rede de drenagem, extraída do SIG-Goiás. A rede de drenagem indica o sentido de dissecação do relevo, ou seja, por onde as Superfícies Regionais de Aplainamento estão sendo erodidas. 1.7.4. TRABALHOS DE CAMPO Os trabalhos de campo foram realizados em diversas etapas, sendo a principal, um percurso de mais de 3.000 km ao longo do estado (perfis de 1 a 12) com participação dos técnicos da SGM. Trabalhos nas regiões dos municípios de Morrinhos e Goiás permitiram a obtenção de dados adicionais. Além disso, informações geradas pelos autores em diversos projetos de pesquisa auxiliaram na realização do mapa, relatório e deste livro. Os dados geológicos foram agrupados nos perfis topográficos/geomorfológicos, seguindo as estradas de rodagem. Estes dados também foram utilizados durante as interpretações em escritório, com a finalidade de conhecer o embasamento geológico de cada unidade geomorfológica e, assim, poder classificá-las de acordo com as litologias e estruturas tectônicas englobadas. Os perfis foram escolhidos com base em dois critérios principais: a) representatividade geomorfológica, ao seccionar diversas unidades; b) possibilidade de serem encontrados ao longo das principais vias de acesso. Estes perfis foram gerados a partir do MDT, portanto, foram automaticamente georreferenciados. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 19 20 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal CAPÍTULO 2 – SISTEMAS DENUDACIONAIS 2.1. INTRODUÇÃO No Estado de Goiás e Distrito Federal há uma expressiva predominância de formas denudacionais que ocupam 98,30 % de suas superfícies (346.882 km2), tendo sido identificadas as seguintes categorias: Superfícies Regionais de Aplainamento (SRA); Zonas de Erosão Recuante (ZER); Morros e Colinas (MC) com ou sem marcante controle estrutural; Hogbacks (HB) geradas por processos de dobramentos formando colinas e morros; Braquianticlinais (BQ) geradas por dobramentos associados a corpos intrusivos plutônicos; Formas dômicas (DM) geradas por blocos falhados; Pseudo-domos (PSD) gerados por estruturas tectônicas complexas sobre rochas précambrianas; Relevos tabulares (RT) gerados sobre rochas sedimentares horizontais a suborizontais geralmente relacionados com a formação de algumas Superfícies Regionais de Aplainamento; Relevos cársticos não-cartografáveis na escala do mapeamento, mas indicadas nas unidades correspondentes como unidade associada. 2.2. SUPERFÍCIES REGIONAIS DE APLAINAMENTO (SRA) As Superfícies Regionais de Aplainamento são as unidades mais representativas da geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal. Uma SRA é uma unidade denudacional, gerada pelo arrasamento/aplainamento de uma superfície de terreno dentro de um determinado intervalo de cotas e este aplainamento se dá de forma relativamente independente dos controles geológicos regionais (litologias e estruturas). Uma SRA, na sua distribuição espacial, pode seccionar/aplainar sobre limites litológicos e estilos estruturais erodindo diversas unidades geológicas. Diversos mecanismos podem levar à formação de uma SRA. No Brasil, desde a década de 70 se utiliza, fundamentalmente, o modelo de pediplanação proposto por King (1956) baseado em estudos realizados essencialmente no Brasil e na África (capítulo 5). Trabalhos realizados em outras regiões tropicais têm levado à geração de novos modelos sobre a interpretação evolutiva das grandes superfícies de aplainamento, tanto no que se refere aos processos geradores, como à idade de geração. No caso específico do Estado de Goiás, as Superfícies Regionais de Aplainamento tem sido interpretadas como geradas fundamentalmente por processos de Etchplanação (Etchplains) ou por uma mistura de processos (relevos poligênicos, incluindo pediplanação) e não exclusivamente por pediplanação típica (pediplanos), como sugerido pelo Projeto RADAMBRASIL. No capitulo 5 é discutido com maior detalhe a gênese destas formas. Neste mapeamento foram identificadas quatro superfícies de aplainamento escalonadas em distintas cotas. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 21 A tabela 2 apresenta as características gerais das superfícies regionais de aplainamento: Tabela 2 – Características gerais das Superfícies Regionais de Aplainamento - SRAs SRA SubCotas (m) unidade SRAI SRAII SRAII 22 A B RT - Característica Geral Unidades Associadas 12501600 Superfície mais antiga, mesozóica, desenvolvida sobre metassedimentos. Antigos níveis de laterita quase totalmente desmantelados ~9001250 Muito bem desenvolvida e em alguns setores bem preservada. Espalha-se sobre diversas unidades de embasamento e se apresenta com diversos graus de dissecação. Nível de laterita presente. 9001000 Desenvolvida nas rochas da Bacia do Paraná. 7501000 Desenvolvida nas rochas da Bacia do Paraná Relevos tabulares gerados sobre rochas horizontais a suborizontais SRAII C SRAIII A 550850 Desenvolvida sobre diversas unidades do embasamento cristalino. Em alguns pontos mostra certa transição para a SRA-IV-A. Menos desenvolvida que a SRAII-A e com relevo mais irregular. SRAIII BRT 550750 Formada principalmente (não exclusivamente) sobre os basaltos da Formação Serra Geral. SRAIII C 550750 Desenvolvida sobre rochas paleozóicas na Bacia do Paraná Sistemas lacustres e cársticos quando desenvolvidos sobre rochas do Bambuí. Sistemas lacustres SRAIV A 500400 Desenvolvida sobre grande variedade de rochas do embasamento com geração de relevos muito aplanados. Níveis de lateritas, bem desenvolvidos. SRAIV B 500550 Rochas do embasamento e basaltos da Formação Serra Geral, geração de relevos muito aplainados. SRAIV C1 250400 Rochas pré-cambrianas desenvolvidos SRAIV C2 250400 Rochas do pré-cambriano com geração de relevos muito aplainados. Níveis de lateritas bem desenvolvidos. com níveis de lateritas bem Relevos tabuliformes associados a derrames basálticos e rochas sedimentares Morros e Colinas Morros e Colinas Sistemas lacustres Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Localização mais Representativa Chapada dos Veadeiros. Folha SD.23-V-C Setor central e centro-sul Folhas SD.23-Y-A SD.23-Y-C SE.22-X-B Bacia do Paraná, sudeste do estado. Folhas SE.22-Z-B SE.22-Y-A SE.22–V-C SE.22-V-D Bacia do Paraná sudoeste do estado. Folhas SE 22-V-A SE 22-V-B Centro do estado. Folhas SD.22-Z-B SD.22-Z-C Sudeste do Estado, Bacia do Paraná. Folhas SE.22-Y-B SE.22-Y-D SE.22-Z-C Bacia do Paraná sudoeste do estado Folhas SE 22-V-C SE 22-V-D SE 22-V-B Vão do Paranã e norte do estado. Folhas SD.23-Y-A SD.23-V-A SE.22-X-B Centro-sul do estado (bacia fluvial do Paraná). Folhas SE.22-Z-A SE.22-X-C Oeste do estado(bacia fluvial do Araguaia) SD.22-Z-A SD.22-Z-C SE.22-V-A SD.22-Y-B SD.22-Y-D Oeste do estado (bacia fluvial do Araguaia). Folhas SD.22-Z-A SD.22-Z-C SE.22-V-A SD.22-Y-B SD.22-Y-D 2.2.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO I - SRAI A SRAI situa-se no nordeste do Estado de Goiás na bacia hidrográfica do rio Tocantins, ao longo dos municípios de Água Fria de Goiás, São João da Aliança, Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante, ocupando uma área de 3.018 km2 (figuras 10 e 11). Desenvolve-se acima das cotas de 1.250 até 1.600 m com agrupamentos de morros (inselbergs) sobre esta, que atingem até 1.600m de altura e é representada tipicamente na Chapada dos Veadeiros. Desenvolve-se principalmente sobre as litologias pertencentes aos metassedimentos do Grupo Araí e embasamento granítico-gnaíssico da Faixa Brasília. Esta superfície corresponde à Superfície de Aplainamento Pré-Gondwanica (pré-Cretáceo) de King, já que é anterior às formações mesozóicas, e não está seccionando litologias do Cretáceo. Nesta unidade são observados espessos mantos de intemperismo químico sobre as rochas metamórficas, a exemplo do que ocorre ao longo das estradas GO-118 (BR-010) e GO-239, onde o saprolito aflora numa cota aproximada de 1.500 m (figuras 13 e 12). Nestas superfícies as rochas graníticas mais resistentes ao intemperismo químico originam colinas inselbergs, campos de matacões e tors no topo da chapada (figura 14). Pelo fato de conter as cotas mais elevadas do Estado de Goiás esta unidade apresenta um padrão climático particular com média anual de 21o C e precipitação anual de 1.675 mm. A vegetação é caracterizada por pequenos arbustos e plantas herbáceas em campos abertos, rupestre nos campos limpos e apresentando um porte mais arbóreo nas encostas. Localmente esta unidade exibe falésias imponentes e abruptas nas bordas dos chapadões, de marcada beleza paisagística pelo fato de ter contato direto com a superfície SRAIVA, que se encontra numa cota muito mais baixa. Devido à conjunção de beleza paisagística e presença de ecossistemas particulares de altitude foi delimitado nesta unidade o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que ocupa uma área de 60.000 ha. Na figura 10 mostra-se as características do relevo em um perfil ao longo da GO-239, no interior da Chapada dos Veadeiros. Indica-se neste perfil a posição das figuras 11, 12, 13 e 14. Informações adicionais sobre a articulação desta unidade com outras, podem ser visualizadas no perfil 5 – anexos. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 23 24 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 10 – Perfil topográfico da SRAI no trecho de Nova Roma a Alto Paraíso de Goiás. Figura 11 – Chapada dos Veadeiros, superfície bem conservada da SRAI, GO-118/BR-010, coordenadas 13º54.05’ S e 47º23.23’ W, cota aproximada 1.250 m (perfil 5). Figura 12 - Espesso manto de intemperismo exposto na SRAI na Chapada dos Veadeiros, GO-239. O saprolito aflorante representa uma parte do manto de intemperismo original, já que os níveis superiores foram erodidos pela SRAI (perfil 5). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 25 Figura 13 - Espesso afloramento de saprolito desenvolvido sobre a SRAI, GO-118/BR-010, coordenadas 14º02.50’ S e 47º31.57’ W, cota 1.509 m (perfil 5). Figura 14 –– Campo de Tors e matacões aflorando sobre a SRAI, GO-118/BR-010. Coordenadas 13º58.25’ S e 47º29.22’ W, cota 1.500 m (perfil 5). Tors, originalmente, seriam torres de pedras delicadamente equilibradas encontradas no sudoeste da Inglaterra. Atualmente, o termo é usado para descrever tais formas de relevo em diferentes locais de mundo. 26 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 2.2.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II - SRAII Esta superfície se desenvolve entre as cotas 900 - 1.250 m, abrangendo predominantemente a porção sudoeste e sudeste do Estado de Goiás, com uma pequena faixa no nordeste do Estado. Esta unidade é subdividida em três subunidades possivelmente correlacionáveis embora estudos mais detalhados sejam necessários para confirmar a contemporaneidade das mesmas. As subunidades são SRAIIA, desenvolvida com maior abrangência sobre rochas pré-cambrianas e SRAIIB-RT e SRAIIC sobre as rochas sedimentares da Bacia do Paraná. De forma geral, a SRAII caracteriza-se por ser uma unidade entre a SRAI e SRAIII, com uma Zona de Erosão Recuante intermediária e localizada acima da SRAIV. Os padrões de dissecação apresentados nas três subunidades variam, sendo geralmente fraco, médio ou forte, com pequena incidência de padrões muito fracos e muito fortes. 2.2.2.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II A – SRAIIA Esta subunidade se desenvolve sobre nas formações proterozóicas menos resistentes, compostas por ardósias, calcários, dolomitos entre outras e se estende de forma geral desde Nova Roma até proximidades de Caldas Novas, totalizando uma área de 39.783 km2. Ocorre como uma faixa na borda leste do Estado e no Distrito Federal, sendo melhor representada na porção sudeste. Por ser uma unidade com grande extensão areal secciona diversas litologias e unidades estruturais do relevo, possuindo variados padrões de dissecação. A SRAIIA se desenvolve sobre diversas unidades da Faixa Brasília, Rift Intracontinental e do Grupo Canastra, nas folhas SD-23-Y-C (centro, sul e leste, abrangendo Brasília e Planaltina) e SE-22X-B (centro, nordeste e sudeste, abrangendo Goiânia, Novo Gama e Nova Veneza). Ao longo da estrada Goiânia – Brasília – BR-060, (figura 15), na região de Anápolis – Goianápolis ocorre o contato com a unidade de Morros e Colinas com forte controle estrutural (dissecação muito forte), figura 16. A SRAIIA passa de um padrão de dissecação forte no município de Goianápolis para médio em Anápolis (figuras 16 e 18). Neste local observa-se um espesso manto de intemperismo sobre rochas metamórficas na cota de 1.165 m, de coloração cinza-avermelhada capeando a SRAIIA (figura 17). Destaca-se nesta unidade, a leste do rio Tocantinzinho, a Serra Geral do Paranã formada por metassedimentos dobrados (anticlinais e sinclinais), posteriormente afetados por um sistema de falhamentos inversos, como no flanco leste. As unidades do Grupo Paranoá comportam-se como residuais erosivos (figuras 19 e 20). Na GO - 118/BR-010, Brasília - Nova Roma, a SRAIIA apresenta-se com padrão de dissecação fraco no entorno de Brasília, com crostas lateríticas pouco maduras (sem chegar a formar couraças) na cota de 1.050 m desenvolvida sobre rochas do Grupo Paranoá (figura 19). Ainda pela mesma estrada, o padrão de dissecação muda para forte em Planaltina, onde a superfície corta os metarritmitos do Grupo Paranoá (figura 20) próximo ao rio Pipiripau. O mesmo segue até Nova Roma, onde se observa, à direita da BR-118, a SRAIIA isolada entre a SRAI e a SRAIVA, sendo que o lado oeste da unidade isolada é formado por uma Zona de Erosão Recuante da SRAIVA com dissecação forte e o flanco leste em contato direto com a SRAIVA, região do Vão do Paranã (dois patamares abaixo da SRAII). As lateritas que se encontram sobre a SRAIIA são maciça, nodulares, pisolíticas, brechoidais, vermiformes e colunares e formam crostas de vários metros de espessura (Martins et al., 2005a). As crostas lateríticas mais antigas (protolito) desenvolvidas sobre esta subunidade se encontram em processo de desmantelamento e são formadas por hematita impregnando uma matriz caolinitica (Martins et al., 2005a). Os solos característicos sobre esta subunidade são Oxisolos que constituem solos residuais desenvolvidos nos processos de alteração das duricrostas originais, mais antigas (Martins et al., 2005b). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 27 28 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 15 – Perfil geomorfológico na SRAII no trecho de Goiânia - Brasília. Figura 16 – BR-060, Goiânia-Brasília. SRAIIA cota de 953 m (ao fundo) em transição com a SRAIIIA (em primeiro plano). Figura 17 – BR-060, Goiânia-Brasília, altitude de 1165 m. Espesso saprolito aflorante desenvolvido sobre rochas metamórficas formando a superfície da SRAIIA, com escassa cobertura vegetal. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 29 Figura 18 – BR-060, próximo a Teresópolis de Goiás. SRAIIA fortemente dissecada, representada pelos topos dos morros e desenvolvidas sobre rochas gnáissicas (16º26.97’ S e 49º 01.86’ W; altitude 960 m). Figura 19 –– Laterita imatura (plíntica em blocos irregulares e angulosos), sem formar couraça sobre a SRAIIA capeando metassedimentos do Grupo Paranoá, na cota 1050 m. Coordenadas 15º34.82’ S e 47º31’ W (perfil 2). 30 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 20 – BR-060 próximo ao rio Pipiripau. Metarritmitos do Grupo Paranoá, detalhe da atitude estrutural dos metarritmitos que foram arrasados pela SRAIIA. Coordenadas 15º34.82’ S e 47º31’ W. 2.2.2.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II-B-RT - SRAIIB - RT Esta subunidade situa-se principalmente no setor sudoeste do Estado de Goiás ocupando área de 22.760 km2. Desenvolve-se sobre rochas da Bacia do Paraná sendo que sua maior expressão areal está contida na bacia hidrográfica do rio Paraná. A SRAIIB-RT é representada por chapadões tabuliformes gerados sobre rochas sedimentares, principalmente mesozóicas com acamamento suborizontal e derrames de basalto (figuras 21 e 22). Entretanto, esta superfície secciona (erode) mais de uma unidade litoestratigráfica. Os relevos estruturais dos estratos suborizontais ressaltam o caráter tabuliforme dos residuais erosivos da SRAIIB; o estilo estrutural é considerado um atributo desta subunidade: associação Relevos Tabuliformes – RT em Estratos Horizontais - Suborizontais - EH. Esta superfície está bem representada nas folhas SE-2-VD (Montivídiu e Perolândia) e SE-22-Y-A (leste, Chapadão do Céu). Os padrões de dissecação variam entre muito fraco, fraco, médio e forte, sendo que, a proporção de áreas com relevo de dissecação fraco, médio e forte são equivalentes, com apenas uma ocorrência de relevo muito fraco. No município de Aurilândia a SRAIIB apresenta um padrão de dissecação forte, que muda para médio e fraco no município de Paraúna. Nos municípios de Montividiu e Rio Verde apresenta padrões de dissecação fraco e médio. Em Jataí, Mineiros e Perolândia o padrão de dissecação é fraco enquanto que em Chapadão do Céu e ao sul de Mineiros apresenta um padrão de dissecação muito fraco. Em Joviana o padrão de dissecação é forte e ao sul de Morrinhos, Buriti Alegre e Itumbiara é fraco. Nos municípios de Quirinópolis, ao sul de Rio Verde, Cachoeira Alta, Itajá, Itarumã e Caçu ocorrem testemunhos isolados da SRAIIB com formas tabuliformes perfeitas, restando somente ao redor a SRAIIIB com caimento para sudeste. Estas áreas isoladas, de forma geral, apresentam padrões de dissecação médio e forte, destacando-se um morro isolado ao sul de Rio Verde com padrão fraco. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 31 32 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 21 – Perfil Geomorfológico no trecho entre Jataí e Rio Verde. Figura 22 – BR-158 - km 18 entre Piranhas e Jataí. ZER e relevos tabuliformes em rochas suborizontais da estrutura monoclinal da Bacia do Paraná, que sofreram processos de aplainamento e formam parte da SRAIIB-RT, perfil 11. 2.2.2.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II C A SRAIIC localiza-se no sudoeste de Goiás, na bacia hidrográfica do rio Araguaia, sobre rochas na Bacia do Paraná, com padrões de dissecação fraco, médio e forte. Ocupa uma área de 3.499 km2 entre as cotas 750 a 1.000 m. Esta subunidade é identificada nos municípios de Baliza e Caiapônia onde apresenta padrões fraco e médio, enquanto que nos municípios de Piranhas, Nova Palestina e Bom Jardim de Goiás é fraco. A SRAIIC no município de Baliza apresenta-se associada a Morros e Colinas inseridos em sua estrutura entre a SRAIIIA e a SRAIVC1. Nesta região não há uma área significativa de contato direto com SRAIV, sendo intermediado sempre por uma Zona de Erosão Recuante ou contato com a SRAIIIC. Devido ao seu caráter residual, sem articulação direta com a SRAIIA e SRAIIB foi cartografada como uma subunidade independente. Estudos mais detalhados são necessários para o entendimento das relações espaço - temporal entre esta subunidade e as outras superfícies de erosão. 2.2.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO III – SRAIII A Superfície Regional de Aplainamento III na porção central do Estado estendendo-se do norte até o sul do Estado e com ocorrência mais restrita no sudoeste de Goiás. Apresenta variados padrões de dissecação: fraco, médio, forte e muito forte, predominado padrões fraco e médio. Esta unidade encontra-se entre as cotas de 550 – 850 m, subdividida em duas subunidades: SRAIIIA e SRAIIIB-RT. A SRAIIIA desenvolve-se sobre rochas pré-cambrianas e situa-se no centro-norte de Goiás, fazendo contato com unidades de Morros e Colinas com forte controle estrutural. A SRAIIIB-RT ocorre sobre rochas da Bacia do Paraná, principalmente rochas basálticas da Formação Serra Geral. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 33 2.2.3.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IIIA – SRAIIIA Ocorre em uma faixa de direção SO-NE na porção central do Estado de Goiás e borda sudoeste da Bacia do Paraná, ocupando uma área de 27.059 km2 entre as cotas de 550 a 850 m. Avança como reentrâncias erosivas dentro da Superfície Regional de Aplainamento II da qual é localmente separada por escarpas que atingem várias centenas de metros de altura. Desenvolve-se principalmente sobre metacalcários e quartzitos dos Grupos Araxá e Serra da Mesa (Faixa Brasília) e granito-gnáisses e migmatitos (Complexos Indiferenciados - Rift Intracontinental). Esta subunidade recebe aporte de material das SRAI e II e das Zonas de Erosão Recuante da SRAII e se articula com SRAIV numa cota inferior. Na SRAIIIA ocorrem crostas lateríticas, colúvios nas vertentes dos vales e áreas de sedimentação restrita onde se acumularam sedimentos aluviais (figuras 23 a 25). A maior parte desta unidade encontra-se no centro-norte de Goiás e em uma área isolada no sudoeste de Goiás e é drenada pela bacia hidrográfica dos rios Araguaia e Tocantins e pela bacia hidrográfica do rio Paraná numa pequena extensão. No sudoeste de Goiás, nos municípios de Caiapônia e Doverlândia, é drenada para a bacia hidrográfica do rio Araguaia no sentido leste-oeste e, em geral, exibe um padrão de dissecação médio. A partir de Goiânia, a SRAIIIA, com padrão de dissecação média, é drenada para sul pela bacia hidrográfica do rio Paraná. Numa pequena área no norte e noroeste se apresenta com dissecação fraca e média e é drenada para leste (rio Araguaia) e norte (rio Tocantins). Feições positivas na forma de serras, colinas e domos, se elevam sobre o nível geral da SRAIIA devido a sua resistência à erosão. Esses relevos são formados por granitos paleoproterozóicos da SubProvíncia Paraná, rochas dobradas paleoproterozóicas do Grupo Araí e metassedimentares da Formação Traíras, da unidade geotectônica Rift Intracontinental. Figura 23 – Sedimentos superficiais arenosos com lentes de seixos em grandes vales em forma de anfiteatros desenvolvidos sobre a SRAIIIA. Coordenadas: 14º29.53’ S e 48º38.97’ W, cota 645 m, perfil 6. 34 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 24 – Laterita imatura sobre saprolito, associada a cascalho conglomerático com blocos de quartzo. No topo ocorre laterita mais antiga em processo de desmantelamento. Saprolito, com espessura de aproximadamente 7 m, desenvolvido sobre xistos. O manto de intemperismo está sofrendo processos de piping1. Figura 25 –– Laterita em forma de couraça com aproximadamente 6 a 8 m de espessura capeando a SRAIIIA. Coordenadas: 14º31’38’’ S e 49º06’15’’ W, cota 521 m. (Perfil 6 – Anexo) 1 Piping – erosão por percolação de água no subsolo, formando cavidades em forma de tubos ou condutos estreitos, por onde material solúvel ou granulado é removido. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 35 2.2.3.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO III-B-RT – SRAIIIB-RT Está inserida na Bacia Hidrográfica do rio Paraná com padrão de drenagem geral subparalelo, na forma de amplos vales. Coberturas detrito-lateríticas na forma de mantos se estendem ao longo dos interflúvios (figura 26). Crostas lateríticas formadas por seepage afloram no terço inferior das vertentes ou barrancos dos vales fluviais. Esta subunidade ocorre no sudoeste de Goiás na região da bacia sedimentar do Paraná, abrangendo 30.634 km2, entre as cotas 550 e 750 m. A SRAIIIB-RT apresenta um caráter relativamente irregular e erode principalmente os basaltos da Formação Serra Geral (Grupo São Bento) e Formação Adamantina (Grupo Bauru). Articula-se com as unidades das Zonas de Erosão Recuante (ZERs) que erodem a SRAIIB. Esta unidade possui caimento no sentido geral noroeste-sul até o encontro com a SRAIVB. Os padrões de dissecação são moderados em relação às unidades anteriores, com mais da metade de sua área apresentando relevo com ondulações suaves e dissecação fraca, alternando para o padrão médio, e mais raramente forte. Figura 26 – Cobertura arenosa na cidade de Rio Verde, contendo pequenos restos de carvão, grânulos e seixos. Este tipo de cobertura detrito-laterítica cobre uma ampla vertente até o córrego do Sapo, onde aflora saprolito desenvolvido sobre os basaltos da Formação Serra Geral. O perfil tem uma espessura de 3,5 m. Coordenadas: 17º48’54.8’’ S e 50º56’03.9’’ W. 36 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 2.2.3.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IIIC - SRAIIIC Localiza no sudoeste com pequena expressão areal entre as cotas 550 e 700 m. Desenvolve-se sobre os arenitos das Formações Ponta Grossa e Furnas, articulando-se com a SRAIIC e a SRAIVC. 2.2.4. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IV – SRAIV Entre todas as Superfícies Regionais de Aplainamento a SRAIV é a mais extensa, ocupando uma área de 100.079 km2, com cotas entre 250 - 550 m. Localiza-se principalmente no noroeste e oeste, nordeste e centro sul do estado. Em função da sua grande diversidade foi dividida em 5 subunidades: IVA; IVA-LA; IVB; IVC1 e IVC2. A SRAIV abrange áreas de depressões formadas pelas bacias hidrográficas do rio AraguaiaTocantins e Paraná, com sistema de drenagens no sentido norte-oeste e sul respectivamente. Os padrões de dissecação variam de muito fraco a médio, com a predominância de dissecação fraca. 2.2.4.1. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IVA- SRAIVA Esta subunidade, (figura 27) ocupa 29.554 km2 entre as cotas 400-500 m e divide-se em dois compartimentos: um ao norte e outro a nordeste. A SRAIVA associa-se a morros e colinas com hogbacks. Entre estes compartimentos ocorrem Morros e Colinas com Braquianticlinais com forte controle estrutural. O compartimento norte localiza-se no eixo Porangatu-Crixas e se desenvolve sobre rochas do Arco Magmático de Mara Rosa e porção norte do Greenstone Belt de Crixás. Esta superfície faz parte da Bacia Hidrogáfica dos rios Araguaia-Tocantins abrangendo os municípios de Campos Verdes, Crixás e Amaralina (sub-bacia do rio Araguaia); e os municípios de Santa Tereza de Goiás, Porangatu, Estrela do Norte, Tromba e Montividiu do Norte (sub-bacia do rio Tocantins). Apresenta dois sistemas de drenagem: sentido norte para a sub-bacia do rio Tocantins e oeste para a sub-bacia do rio Araguaia, onde exibe um padrão de dissecação médio e presença de pequenas faixas aluviais e mantos laterizados. No compartimento a nordeste, denominado de vale do Vão do Paranã (municípios de Monte Alegre de Goiás, Divinópolis de Goiás, São Domingos e Iaciara), esta superfície possui uma característica peculiar que é a existência de Sistemas Lacustres associados, sendo, portanto denominada de SRAIVA-LA (figura 28a). O relevo se desenvolve sobre rochas parametamórficas neoproterozóicas do Grupo Bambuí, em geral pouco resistentes à erosão como siltitos, argilitos e calcários, apresenta padrão de dissecação fraco e ocorrência de faixas aluviais. Ainda exibe extensa cobertura detrito-laterítica, com presença de crostas ferruginosas e sedimentos friáveis na forma de manto de lavagem da superfície de etchplanação formado por silte-argilas e silte-argila-areia, freqüentemente incluindo pequenos fragmentos de lateritas desmanteladas (figura 29). A paisagem aplainada é interrompida por colinas alongadas, com rochas fortemente dobradas, mais resistentes (calcários, dolomitos e folhelhos) pertencentes à Unidade Rítmica Pelito-Carbonatada, Formação Três Marias, Formação Sete Lagoas, do Grupo Bambuí. Algumas colinas chegam a atingir cerca de 1.000 m de altura, embora a maior parte do relevo oscile entre as cotas 700-800 m (perfis 3 e 4). Associadas a esta subunidade ocorrem lagoas e formas cársticas que podem ser observadas no trecho da BR-020 entre Formosa e Posse. A SRAIVA a nordeste desenvolve-se relacionada ao escarpamento de grandes serras, como a da Pedra Branca, do Boqueirão, da Chapada dos Veadeiros entre outras, com a presença de espetaculares superfícies de pedimentação que se articulam com o relevo plano da SRAII já evoluída com dissecação fraca (figura 27 - perfil 5 e figuras 30 a 32). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 37 38 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 27 – Perfil Geomorfológico - Topográfico próximo a Posse em direção a Nova Roma. Figura 28 – Sistemas Lacustres associados às Superfícies Regionais de Aplainamento. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 39 Figura 29 – BR-112 - entre Iaciara e Nova Roma - Laterita bem desenvolvida e relativamente madura, no topo da SRAIVA desenvolvida sobre rochas intemperizadas quimicamente (saprolito). Coordenadas: 14º 06’ S e 46º44’’ W, cota 532 m. Figura 30 – perfil 5 – Superfície de pedimentação associada ao pedimonte da Serra da Pedra Branca que coalesce e se integra à SRAIVA. Os pedimentos cortam rochas metamórficas e apresentam um delgado manto de aluvião em trânsito de alguns centímetros de espessura. Coordenadas: 13o43.46’ S e 46º57.32’ W. Cota: 525 m. 40 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 31 – perfil 5 –Superfície de pedimentação no pedimonte da Serra de Pedra Branca. Marcado knick point2 entre a escarpa da serra e a superfície quase horizontal do pedimento e caráter tipicamente erosivo com rocha exposta e alguns detritos em trânsito. 2 Knick point - qualquer interrupção ou quebra de declive. Um ponto de mudança abrupta ou inflexão no perfil longitudinal. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 41 Figura 32 - Rochas metamórficas e veios de quartzo cortados pela superfície horizontal de pedimentação, demonstrando o caráter erosivo do pedimento e da SRAIVA. Figura 33 – Perfil 8 – Couraça ferruginosa parcialmente desmantelada sobre a SRAIVA. Coordenadas 14º17’14’’ S e 49º21’49’’ W, cota 371 m. 42 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 34 – Colúvio com concreções de plintita e seixos de laterita desmantelada em vertente de vale fluvial. Lateralmente a couraça ferruginosa encontra-se no topo da vertente capeando a SRAIVA. Coordenadas: 14º23’05’’ S e 49º34’20’’ W, cota 388 m. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 43 2.2.4.2. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IV-B – SRAIVB Esta superfície ocupa uma área de 16.507 km2 entre as cotas 400 e 550 m aproximadamente, faz contato principalmente com a unidade SRAIIIB-RT. Localiza-se no centro-sul do Estado, se estendendo nos municípios de Adelândia, Firminópolis, Palmeiras de Goiás, Santa Bárbara de Goiás, Palminópolis, Indiara, Acreúna, Turvelândia, Edéia, Porteirão, Gouvelândia, Castelândia, Maurilândia, Itumbiara, Inaciolândia, São Simão e a porção sul dos municípios de Itarumã, Caçu e Itajá. Está cortando os basaltos e arenitos da Formação Serra Geral na Bacia do Paraná e rochas do embasamento cristalino no setor central do Estado. Esta subunidade é drenada pela bacia hidrográfica do rio Paraná, destacando-se a subacia do rio dos Bois. A SRAIVB apresenta um relevo pouco dissecado, com padrão de dissecação fraco e médio somente ao sul do município de Itumbiara e parte central de Goiatuba. A principal particularidade desta superfície é a associação com potentes crostas lateríticas e a presença de Sistemas Lacustres (figura 28b). Lagos de formas arredondadas e de coberturas lateríticas bem conservadas e com até dois metros de espessura são observadas no entorno dos municípios de Turvelândia, Edéia, Porteirão e Gouvelândia (figura 35). Figura 35 – Detalhe das couraças lateríticas que capeiam a SRAIVB. Espessos perfis de couraças muito maduras com espessuras de 2 a 3 m são freqüentemente encontrados nesta unidade. Coordenadas: 17º38’31.6” S e 50º05’57.9” W. 2.2.4.3. SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IVC – SRAIVC Esta superfície ocupa uma área de 54.015 km2 área drenada pela Bacia Hidrográfica do rio Araguaia. Localiza-se nas cotas mais baixas quando comparada a SRAIVA e B situando-se entre 250 – 450 m. Apresenta relevo suave e subdividido em dois compartimentos – SRACIV1 e IVC2. O SRAIVC1 possui uma morfologia mais acidentada e encontra-se numa posição mais proximal em relação às superfícies que erode 44 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal (SRAII, Morros e Colinas, SRAIII). O SRAIVC2 é mais distal e apresenta-se menos dissecado, ocorrendo associado com lagos da Planície Fluvial do rio Araguaia. Em algumas regiões verifica-se que as rochas do embasamento cristalino estão cobertas por sedimentos detrito-lateríticos, com menos de um metro de espessura. Estes são, na realidade, uma aluvião em trânsito erodido da superfície que sofreu forte laterização, na forma de uma duricrosta ferruginosa cujo desmantelamento gerou, sobre esta subunidade, um mosaico de lagos arredondados (Sistema Lacustre), figura 28c. Dependendo da composição das rochas do embasamento é possível achar na superfície rochas não alteradas e outras muito intemperizadas quimicamente. A SRAIVC mergulha suavemente em direção à planície do Bananal onde aflora a Formação Araguaia, formada por sedimentos areno-conglomeráticos e silto-argilosos do Terciário Superior Quaternário. A articulação entre os dois compartimentos é muito sutil em alguns locais, o que gera dificuldades na identificação precisa dos seus limites. Cobrindo a SRAIVC foram identificados sedimentos lateritizados entre o rio Araguaia e o rio do Peixe, na fazenda Planície Verde. Neste local, encontra-se uma faixa estreita de sedimentos laterizados (conglomerados) da SRA IVC, com direção dominante leste-oeste e cotas ligeiramentes superiores, e os sedimentos arenosos lixiviados da formação Araguaia que representam uma antiga superfície fluvial associada à unidade da planície do Bananal. Os conglomerados são oligomícticos, com seixos angulosos de quartzo e quartzito de diâmetro médio de 4 cm, mas, que freqüentemente atingem até 11cm e tamanhos máximos de 30cm. O registro de seixos imbricados indica direção geral leste-oeste para as paleocorrentes. Coberturas sobre a SRAIVC também foram descritas na base do IBAMA, no rio Crixás, onde este mesmo tipo de cobertura detrito-lateríticas pode ser encontrada sobre rochas quartzíticas do embasamento. Os sedimentos fluviais laterizados estão sendo desmantelados no clima atual e se encontram freqüentemente formando campos disseminados de blocos sobre as superfícies de aplainamento (figura 33). 2.3. ZONAS DE EROSÃO RECUANTE – ZER As Superfícies Regionais de Aplainamento encontram-se escalonadas em diferentes cotas geralmente delimitadas por escarpas de erosão. Grandes reentrâncias marcam a erosão das superfícies de aplainamento antigas a partir de um nível de base inferior (local ou regional), associado à rede de drenagem que evolui por erosão recuante, dissecando as superfícies de aplainamento e gerando outras SRAs (figura 36). Estas áreas identificadas como Zonas de Erosão Recuante (ZER) freqüentemente passam transicionalmente para a SRA, que atua como nível de base local. Na nomenclatura utilizada os códigos ZER-SRAIVCI/IIB-RT indica a ZER seguido do nome da unidade de aplainamento que esta sendo gerada (SRAIVCI) e seguido do nome da unidade que está sendo erodida (IIB-RT). Em função do exposto, os contatos não são exatos, mas considera-se que as Zonas de Erosão Recuante são um artifício útil para a articulação de forma concreta e dinâmica, do ponto de vista genético, das distintas superfícies de aplainamento identificadas. Em algumas zonas onde o contato entre superfícies é muito abrupto, embora exista uma Zona de Erosão Recuante, ela não foi catografada em função da escala, sendo simplesmente indicado o contato entre as superfícies. Em locais onde o processo de recuo de taludes e o rebaixamento produzido pela erosão fluvial entre duas superfícies de aplainamento são mais claramente observados, as Zonas de Erosão Recuante podem ser cartografadas de forma mais precisa. O grau de desenvolvimento das ZER varia em função das características da superfície que está sendo erodida. Quando uma ZER está associada a grandes bacias de drenagem pode se estender por amplas áreas, com recuos significativos e vales com vertentes apresentando depósitos coluviais, freqüentemente com fragmentos de lateritas erodidas como acontece na dissecação apresentada pelas superfícies de aplainamento (Figura 37). Enquanto que em outras oportunidades está limitada às abruptas frentes/escarpamentos de chapadões, inclusive com presença de taludes formados por processos de queda de blocos. À medida que uma ZER evolui, uma paisagem de morros e colinas pode se encontrar associada na sua frente, iniciando um novo estágio evolutivo, embora incipiente, para a geração de uma SRA situada numa cota inferior, figura 38. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 45 Figura 36 – Perfil topográfico da ZER-SRAIVA/IIA 46 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 37 – ZER-SRAIVA/IIA, colúvio com blocos transportados de laterita desmantelada em vertente de 3 a 4º de inclinação, encontrado em vales que dissecam as superfícies regionais de aplainamento, desenvolvidas sobre xistos. Coordenadas: 13º51.04’ S e 47º16.36’ W, cota 844 m. Figura 38 – Modelo Digital do Terreno (SRTM) mostrando a Zona de Erosão Recuante (ZER) que disseca a SRAIIB-RT e gera a SRAIVC1 na região das nascentes do rio Diamantino. À medida que a frente recua por erosão consumindo a SRAIIB-RT, restam morros e colinas residuais dissociados, afastados da atual posição do escarpamento/frente erosiva. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 47 2.4. MORROS E COLINAS – MC À medida que a ZER avança e o recuo das vertentes evolui, morros e colinas podem ser identificados isolados da frente das escarpas (ZER). Os morros e as colinas se destacam sobre uma superfície de extensão regional situada em uma cota inferior. Grandes áreas constituídas de morros e colinas são remanescentes de litologias mais resistentes à erosão, que foram preservados à medida que uma SRA evolui com tendência recuante, muitas vezes, com um forte controle estrutural (paisagens dobradas, rochas metamórficas com estruturas bem marcadas). Embora esta unidade se encontre largamente distribuída por toda a área de trabalho, foram ser identificadas concentrações de morros e colinas (serranias), no eixo Minaçu – Goiás (figura 39). Em outras situações, associações menores de morros e colinas formam típicos inselbergs que se destacam sobre as superfícies aplainadas circundantes. Figura 39 – Modelo Digital do Terreno (SRTM). Associação de Morros e Colinas no eixo Minaçu – Goiás (AC). A) morros e colinas se elevando até 500 m sobre a superfície SRAIVA no município de Monte Alegre de Goiás. B) morros e colinas se elevando até 400 m sobre o nível médio da SRAIIIA entre Niquelândia e Uruaçu. C) morros e colinas elevadas até 300 m sobre a cota média da SRAIV-CI próximo a Jussara. 48 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 2.5. ESTRUTURAS DOBRADAS – ED Esta categoria de geoformas engloba uma série de morros, colinas e estruturas dômicas relacionados à tectônica de dobramento em rochas pré-cambrianas. As formas mais características são hogbacks e domos. Hogbacks e cristas são definidas como colinas formadas por rochas apresentando mergulhos fortes, maior que 20º. O mais característico destas geoformas são as associações de morros, colinas e cristas estruturais sobre rochas do Arco Magmático de Mara Rosa no norte, do Grupo Araxá no centro-sul do estado e do Grupo Bambuí na região do Vão do Paranã, onde as colinas na forma de hogbacks podem se elevar 400 a 500m sobre o nível da SRAIVA circundante (figuras 40 e 41). Hogbacks são também típicos no Grupo Araí, no norte do estado entre Nova Roma e Ourominas (figuras 42 e 43). As cristas de quartzito da Serra Dourada de Goiás, desenvolvidas sobre o Grupo Araxá, também se comportam como um sistema de hogbacks, mergulho geral entre 30 e 40º ao sul com variações para S-SW e S-SE. As braquianticlinais (BQ) são outras estruturas de destaque que formam as serras da Mesa, Dourada, Branca e do Encosto já descritos por Mamede et al.,1981, (figuras 44 e 45). Embora a feição aparente seja a de uma estrutura braquianticlinal com rochas dobradas, os domos foram gerados pela ação de rochas intrusivas plutônicas que formam o núcleo destas estruturas. Por isso, as braquianticlinais foram conjuntamente classificadas com a categoria associada Corpos Intrusivos (CI). As mais espetaculares formas em estruturas dobradas são as registradas no norte do estado no limite com o Tocantins. Tratam-se de geoformas relacionadas à estruturas sinclinais e anticlinais da Seqüência Palmeirópolis. (folha SD-22-X-B). Figura 40 – Modelo Digital do Terreno (SRTM) da Superfície SRAIVA, localizada no Vão do Paranã, destacando-se Hogbacks desenvolvidos sobre as rochas do Grupo Bambuí. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 49 Figura 41 – Modelo Digital do Terreno (SRTM) e perfil topográfico de um Hogback na superfície do Vão do Paranã (SRAIVA) desenvolvido sobre rochas do Grupo Bambuí. Figura 42 (perfil 5) – Hogbacks, destacando-se como colinas, desenvolvidos sobre metassedimentos dobrados do Grupo Araí, com mergulho aproximado de 30º W. 50 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 43 (perfil 5) – GO-241, Nova Roma – Ourominas - Hogback desenvolvido sobre metassedimentos do Grupo Araí. Figura 44 – Modelo Digital do Terreno (SRTM) das Braquianticlinais das serras do Encosto (A) e Dourada (B). Os núcleos das estruturas são compostos por granitos da subprovíncia Tocantins e os flancos por rochas do Grupo Serra da Mesa (calcixistos, calcários e quartzitos). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 51 Figura 45 – Braquianticlinal da Serra da Mesa. O núcleo da estrutura é composto por granitos da subprovíncia Tocantins e os flancos por rochas do Grupo Serra da Mesa (calcixistos, calcáreos e quartzitos). 2.6. ESTRUTURAS DE BLOCOS FALHADOS - BF Na geologia da área estudada predominam as rochas de idade pré-cambriana, onde fenômenos de deformação rígida, como fraturas e falhas são característicos. Grande parte das estruturas são antigas e não apresentam um estilo estrutural próprio, caracterizando uma unidade morfoestrutural típica de Blocos Falhados (BF), como ocorre em locais onde ocorreu intensa reativação, como, por exemplo, as “Basin and Ranges” nos Estados Unidos e as “Serras Pampeanas” na Argentina. A única estrutura englobada nesta categoria é o Domo de Cristalina que se caracteriza pela presença de uma rede de drenagem radial, figura 46. Estudos mais aprofundados de neotectônica na região poderão caracterizar melhor a influência da deformação em blocos falhados na geomorfologia regional. 52 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 46 – Modelo Digital do Terreno (SRTM). Blocos Falhados - Domo de Cristalina. Drenagem com padrão radial. 2.7. ESTRUTURAS EM ESTRATOS HORIZONTAIS E SUBORIZONTAIS – EH Relevos Tabulares (RT) são representados por chapadões com dissecação fraca a média e grandes interflúvios responsáveis por um relevo relativamente monótono, onde baixos mergulhos favorecem o desenvolvimento de formas tabuliformes (figura 47). São gerados em derrames basálticos da Formação Serra Geral e rochas sedimentares da Bacia do Paraná, associados às estruturas suborizontais. As rochas da Bacia do Paraná sofreram processos de aplainamento regional, sendo as unidades dominantes as SRAs e Relevos Tabulares (RT) considerada uma unidade associada. Figura 47 - Relevos tabuliformes em estratos suborizontais da Bacia do Paraná, Grupo Aquidauana. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 53 2.8. PSEUDO-DOMOS – PSD As estruturas tectônicas complexas sobre rochas pré-cambrianas, cuja morfologia possui aspecto de domos, são denominadas de pseudo-domos (PSD). A Serra de Caldas Novas apresenta uma morfologia elíptica de aproximadamente 20 x 12 km com o eixo mais longo em direção norte/noroeste. Sob o ponto de vista geomorfológico é o principal exemplo de PSD constituindo-se numa mesa relíctica/residual da SRAII, sendo seu núcleo formado por rochas meso/neo-proterozóicas do Grupo Paranoá, cobertas por uma “nappe” de rochas do Grupo Araxá - Silva et al., 2004 -, (figura 48). O Complexo Básico–Ultrabásico de Niquelândia é outro exemplo caracterizado por uma seqüência de intrusões acamadadas, com cerca de 40 x 15 km de extensão, localizada no município de Niquelândia, (figura 49). Figura 48 – Modelos Digitais do Terreno (SRTM) do pseudo-domo de Caldas Novas e perfil topográfico transversal. 54 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 49 – Modelo Digital do Terreno (SRTM) de pseudo-domo desenvolvido no Complexo MáficoUltramáfico de Niquelândia e rochas associadas. 2.9. OUTRAS FORMAS DÔMICAS NÃO-DIFERENCIADAS Os corpos intrusivos graníticos e básicos de rochas pré-cambrianas podem gerar formas dômicas. Trata-se de corpos exumados associados à evolução de alguma das Superfícies Regionais de Aplainamento. Geomorfologicamente podem ser classificados como inselbergs e foram englobados na categoria Morros e Colinas (MC). 2.10. SISTEMAS CÁRSTICOS Karst é uma palavra germânica originada do Esloveno que significa “solo pedregoso desnudo”. Descreve terrenos calcários onde ocorre falta ou baixa representatividade de drenagem superficial, presença de cobertura de solos delgada e/ou descontínua, depressões fechadas abundantes e drenagem subterrânea, geralmente bem desenvolvida, com formação de cavernas e de outras feições geradas pela dissolução de rochas carbonáticas. As rochas carbonáticas são formadas principalmente por CaCO3 e MgCO3, geralmente na forma de calcita, aragonita e dolomita. A formação do relevo cárstico pode ser exemplificada através do típico processo de dissolução de calcários produzido por carbonatação, que consiste na dissolução e dissociação de dióxido de carbono na água numa reação reversível. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 55 O dióxido de carbono é abundante na atmosfera e nos solos onde a atividade orgânica enriquece as águas de chuva gerando íons carbonatos. A formação de ácido carbônico, ácido fraco, desencadeia a reação de dissolução dos carbonatos das rochas calcárias, em particular do mineral calcita. As feições cársticas são bem desenvolvidas e possuem interesse científico e turístico, embora não possam ser representados cartograficamente na escala deste trabalho. Resultam do processo de dissolução química de rochas carbonáticas dos Grupos Bambuí e Paranoá e associam-se as ZER, SRAIVA e SRAIIIA. Os sistemas cársticos destacam-se nos municípios de Campinorte, Campinaçu, Campos Belos, Colinas do Sul, Corumbá de Goiás, Divinópolis, Formosa, Guarani de Goiás, Luziânia, Minaçu, Monte Alegre, Nova Roma, Niquelândia, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina de Goiás, Posse, São Domingos, Sítio d'Abadia e Uruaçu (figuras 50 e 51). Figura 50 - Parque Estadual de Terra Ronca, município de São Domingos - Entrada principal da Gruta de Terra Ronca. Esta feição resulta da dissolução química de calcários dolomíticos do Grupo Bambuí. 56 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figuras 51 – Parque Estadual de Terra Ronca, município de São Domingos. Entrada da Gruta Angélica. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 57 58 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal CAPÍTULO 3 – SISTEMAS GRADACIONAIS 3.1. INTRODUÇÃO Os Sistemas de Agradação ou Agradacionais ocupam aproximadamente 1,70% da área de Goiás e Distrito Federal. No estado são absolutamente dominantes os Sistemas de Agradação Fluvial (PF) sendo as planícies aluviais do Rio Araguaia e de seus principais afluentes as unidades mais expressivas. Subordinadamente destacam-se os Sistemas Lacustres (LA). 3.2. SISTEMAS LACUSTRES (LA) Os Sistemas Lacustres possuem distribuição espacial relativamente restrita, ocorrendo associados às SRAIVA, SRAIVB (municípios de Acreúna e Turvelândia) e SRAIVC2 (sul de Aruanã) que são superfícies de aplainamento com níveis lateríticos bem desenvolvidos (figura 52). Embora ocorram processos do tipo cárstico associados à SRAIVA, a formação de lagos em Goiás está principalmente ligada a processos de desmantelamento da laterita e ao comportamento hidrológico diferenciado entre o manto de intemperismo do saprolito e da rocha não-alterada, o que favorece a ocorrência de fenômenos de dissolução e mobilização subsuperficial de detritos de granulometria fina. Em alguns locais, também é possível relacionar os sistemas de fraturas das rochas ígneas e metamórficas à disposição espacial e evolução dos lagos. Os lagos apresentam, em geral, formas arredondadas e dimensões reduzidas (dezenas de metros), podendo ocasionalmente atingir centenas de metros ou quilômetros de comprimento. Figura 52 – perfil 12 - Lago arredondado sobre superfície fracamente dissecada - SRAIVB. Exemplo de lago gerado por desmantelamento de laterita associado à drenagem/fluxo subsuperficial entre a laterita/saprolito e o substrato rochoso. Estrada GO-410, coordenadas: 18º01’05,1’’ S e 50º10’0,3’’ W, cota 502 m. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 59 3.2.1. Modelo de formação de lagos Na superfície SRAIV estão presentes coberturas detríticas e couraças lateríticas espessas sobre saprolito e rochas do pré-cambriano ígneas e metamórficas. As águas subsuperficiais atingem no perfil de intemperismo pH entre 4,5 e 5,7. Devido aos contrastes no comportamento do fluxo hídrico no perfil e ao aumento da impermeabilidade das rochas não-alteradas ou dos saprolitos extremamente compactos e argilosos, fluxos subsuperficiais sob do nível da laterita são responsáveis pelo transporte mecânico de particulados finos e/ou em dissolução. O fluxo é preferencialmente concentrado em áreas onde há interferência de sistemas de fraturas conjugadas podendo ser ainda transmitido na direção da declividade geral da unidade litológica ou geomorfológica. Em um primeiro estágio são gerados pequenos lagos arredondados que podem evoluir para um estágio mais avançado, onde ocorre a coalescência desses lagos formando lagos de maior porte. Estes podem ter suas formas originais alteradas pela coalescência adquirindo formas alongadas no sentido do gradiente hidrológico subsuperficial regional (figura 53). O alinhamento dos lagos em arranjos lineares ou ortogonais reflete o controle estrutural das rochas sobre as quais desenvolveram as lateritas. Figura 53 – Modelo de formação de lagos sobre a Superfície Regional de Aplainamento IV (SRAIV). 60 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 3.2.2. Covoais Embora não sejam feições totalmente lacustres, os Covoais caracterizam áreas deprimidas, encharcadas e brejos que podem estar relacionadas, na sua origem, a processos semelhantes aos descritos para formação de lagos. São feições em forma de microrrelevo, com morrotes de 1 a 2 metros (estruturas arredondadas ou elípticas) em áreas planas inundáveis durante os meses chuvosos e onde o lençol freático situa-se próximo à superfície (solos hidromórficos). Nestas áreas a vegetação é tipo campo savana gramíneo-lenhosa (predominância de gramíneas e de vegetação lenhosa do Cerrado), constituindose em um nicho ecológico de reprodução de aves e mamíferos. Os Covoais também são conhecidos por murundus, monchões, cocorutos, ilhas e capãozinhos (Castro Junior, 2002; Rezende et al., 2004; PRODEAGRO, 2004;). No Vão do Paranã no município de Iaciara foram descritos exemplos de Covoais, cujas feições de relevo são caracterizadas por montículos ou morrotes associados a nascentes. Possuem formas semielípticas com dimensões variando de 1 a 10 km2 (Weis, 1999). 3.3. REDE DE DRENAGEM E PLANÍCIES FLUVIAIS (PF) O Estado de Goiás é drenado por três das grandes bacias hidrográficas brasileiras: Araguaia/Tocantins, Paraná e uma pequena área da São Francisco. O território goiano é constituído predominantemente por unidades geológicas do Pré-Cambriano, onde o controle estrutural (litológico e tectônico) da rede de drenagem é marcante. Padrões anômalos com forte controle estrutural, tais como subparalelos, retangulares, radiais e outros, são observados. Uma planície aluvial ou planície de inundação é aquela formada pelo rio ao depositar as aluviões. Quando esta planície foi gerada por processos recentes e ainda é ocasional ou freqüentemente inundada, recebe o nome de planície de inundação (vulgarmente conhecida como “várzea”). Porém, em muitos rios, as áreas “inundáveis” não foram necessariamente geradas por processos fluviais atuais do sistema. Isso porque que um sistema fluvial além de poder ser considerado um sistema físico aberto, também envolve um componente temporal, ou seja, tem registradas as condições paleohidrológicas que dominaram no sistema ao longo do tempo até atingir a sua conformação atual. Além das áreas mais baixas que compõem a planície de inundação, outras unidades de origem fluvial podem ser detectadas ao longo de um rio. As unidades geomorfológicas mais típicas identificadas são os terraços fluviais, que são registros do comportamento do sistema fluvial pretérito. Devido a mudanças no sistema, sejam estas de nível de base por mudanças climáticas ou efeitos da tectônica, ou ajustes autigênicos do próprio sistema, o rio pode se encaixar, abandonando as antigas aluviões e formando uma nova planície aluvial a níveis inferiores. Desta forma os antigos depósitos aluviais constituem um terraço fluvial. A unidade Planície Fluvial engloba não apenas os terraços, mas também a planície de inundação. As principais categorias que foram identificadas em função das escalas de trabalho foram: Planície Fluvial no sentido amplo (PF) incluindo unidades funcionais e/ou não-funcionais e Faixa Aluvial (FA) atual. Em Goiás dentre as Planícies Fluviais funcionais se destacam as meandriformes (PFm), onde os meandros são os elementos geomorfológicos dominantes. Sistemas complexos e de grande porte podem ter sua Planície Fluvial (PF) subdividida em diversas unidades. Onde dominam as espiras de meandros e paleomeandros, dá-se o nome de Planície Fluvial de Espiras de Meandro (PFem), enquanto locais onde domina a acreção de bancos de areia são denominados Planície Fluvial de Bancos Acrescidos (PFba) ou de Bancos de Areia (BA) quando a acreção dá-se no canal. No caso de dificuldade de escoamento na faixa aluvial, onde não há formas definidas, a unidade recebe o nome de Planície de Escoamento Impedido (PFei). No Estado de Goiás a extensão das áreas de sedimentação fluvial é muito baixa, o que pode ser utilizado como um indicador de vulnerabilidade e valoração ambiental destas unidades para planejamento ambiental. 3.3.1. Bacia hidrográfica do Rio Araguaia A bacia hidrográfica do rio Araguaia ocupa uma área total de 377.000 km2 com escoamento no sentido nordeste/norte. Os principais afluentes do rio Araguaia no Estado de Goiás são de sul para norte: os rios do Peixe, Caiapó, Claro, Vermelho e Crixás-Açú. As principais litologias que constituem esta bacia na porção sul são as rochas paleozóicas e mesozóicas da bacia sedimentar do Paraná. Na borda leste, no limite com a bacia hidrográfica do rio Tocantins, as litologias dominantes pertencem ao Complexo GraníticoGnáissico que se estende até o norte do Estado, onde faz contato com xistos e quartzitos do Grupo Xambioá. Nas zonas mais baixas, em direção à Planície do Bananal, afloram areias, siltes e cascalhos da Formação Araguaia. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 61 As principais unidades geomorfológicas drenadas por esta bacia são: SRAIVC1 e SRAIVC2-LA as quais apresentam dissecação predominantemente média, seguida de muito fraca e fraca. Na área sul da bacia, apresentando dissecação média, desenvolvem-se as ZER-SRAIIIA, SRAIVC1, SRAIII-MC, SRAIIC e com dissecação fraca SRAIIIC. Na borda leste, no limite com a bacia do rio Tocantins ocorrem unidades de Morros e Colinas com dissecação muito forte e forte e, forte controle estrutural. Os rios do Peixe, Claro, Vermelho, Crixás-Açu entre outros, possuem planícies fluviais, predominando as do tipo meandriforme. 3.3.1.1. Rio Araguaia O rio Araguaia possui uma descarga líquida média anual na sua foz de 6.100 m3/s e é o principal sistema fluvial da bacia Araguaia/Tocantins. Nasce na serra do Caiapó, numa altitude de 850 m, na divisa dos Estados de Goiás e Mato Grosso e, depois de percorrer 720 km, divide-se em dois braços: o Araguaia e o Javaés, formando o que se considera como a maior ilha fluvial do mundo, do Bananal, com extensão aproximada de 300 km. O Araguaia percorre mais de 2.100 km até a confluência com o rio Tocantins no Estado do Tocantins e seu principal afluente é o rio das Mortes (MT) com aproximadamente 60.000 km2 de área de drenagem. Segundo Latrubesse e Stevaux (2002), o curso do rio Araguaia pode ser dividido do ponto de vista geomorfológico em três segmentos: alto, médio e baixo. O alto Araguaia drena uma área de 36.400 km2 e se desenvolve das nascentes até a localidade de Registro do Araguaia. O médio curso se estende por 1.600 m desde Registro do Araguaia até Conceição do Araguaia e a área de drenagem aumenta drasticamente, alcançando mais do que 300.000km2, onde está presente uma planície aluvial bem desenvolvida. O baixo Araguaia situa-se a jusante de Conceição do Araguaia até a confluência com o rio Tocantins. No alto curso, o rio corre encaixado em rochas pré-cambrianas e sobre sedimentos paleozóicos e mesozóicos da Bacia do Paraná que constituem a Superfície Regional de Aplainamento SRAIIB-RT. Geomorfologicamente esta área é formada por paisagens com elevações de até 1.000 m. No médio curso, ao longo do território goiano, o rio atravessa uma planície aluvial bem desenvolvida. Entretanto, na área superior do médio Araguaia, o rio secciona blocos tectônicos de rochas pré-cambrianas. Mais adiante o rio corta sedimentos das terras baixas da planície do Bananal - uma importante unidade geomorfológica. Em termos gerais o seu médio curso pode ser considerado como um rio de baixa sinuosidade, com ilhas e braços e tendência ao entrelaçamento (padrão “anabranching”), sendo que em alguns trechos mostra uma tendência a possuir um único canal, ocasionalmente formando meandros. O índice de entrelaçamento é baixo com um canal principal e não mais do que um ou dois braços (canais secundários). Ilhas e bancos de areia são as principais feições aluviais ao longo do canal. A planície aluvial do médio Araguaia é um complexo mosaico de unidades morfo-sedimentares formadas por sedimentos do Holoceno e provavelmente do Pleistoceno tardio, onde se reconhecem três unidades geomorfológicas dominantes: a) Planície de Inundação de Escoamento Impedido b) Planície Fluvial com Espiras de Meandro - unidade dominada por paleomeandros e c) Planícies fluvial de barras e ilhas acrescidas (figura 54). Figura 54: Unidades geomorfológicas da planície aluvial do Rio Araguaia. Exemplo da região de Aruanã. (Pfei – Planície fluvial de escoamento impedido; PFem - Planicie Fluvial com Espiras de Meandro; Pfba - Planícies fluvial de barras e ilhas acrescidas). 62 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 3.3.1.2. Afluentes do Rio Araguaia em Goiás Os principais afluentes do rio Araguaia no médio curso são predominantemente da sua margem direita, ou seja, do Estado de Goiás; são eles os rios do Peixe, Claro, Vermelho e Crixás-Açu (figura 55). Estes rios têm planícies muito desenvolvidas, representando as maiores planícies fluviais do Estado, excetuando a do próprio Rio Araguaia. Devido a sua vulnerabilidade potencial o uso, ocupação e manejo destas bacias fluviais deve ser realizado com maior precaução possível e sustentado em estudos prévios. Esses quatro rios drenam principalmente a SRAIVC, com áreas de sedimentação onde desenvolvem importantes planícies fluviais complexas, alternando segmentos onde a planície aluvial é muito estreita devido ao controle estrutural de seus canais onde estão cortando rochas pré-cambrianas. Possuem um estilo geomorfológico em comum, caracterizado por planícies de meandros onde se identificam meandros abandonados colmatados, lagos “oxbows” e espiras de meandros configurando uma Planície fluvial meandriforme (PFme). Figura 55 – Afluentes do rio Araguaia. A) rio Crixás-Açú; B) rio do Peixe; C) rio Vermelho e D) rio Claro. Apresentando planície fluvial bem desenvolvida com diversas unidades, dominadas por formas associadas ao padrão meandriforme, tais como, espiras de meandros e meandros abandonados formando lagos “oxbow”. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 63 3.3.2. Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins A bacia hidrográfica do rio Tocantins ocupa, no Estado de Goiás, uma área de 103.849 km2, abrangendo as regiões norte e nordeste. O sentido geral do escoamento é sul-norte, exceto quando é determinado pelo marcante controle estrutural, direcionando o escoamento de algumas sub-bacias para noroeste e leste. Os principais afluentes do rio Tocantins em Goiás são os rios das Almas, Maranhão, Paranã e Santa Teresa. As principais litologias aflorantes no sul e borda oeste são: calcixistos, metacalcários e quartzitos do Grupo Araxá; metarenitos, xistos e filitos do Grupo Canastra; seqüências metavulcano-sedimentares representadas por anfibolitos, xistos e metatufos; calcixistos, calcários e quartzitos do Grupo Serra da Mesa; e granitos sintectônicos. No norte e na borda leste afloram: rochas do Grupo Araí constituído por metaconglomerados, quartzitos e andesitos; metassiltitos, dolomitos, calcifilitos, siltitos e argilitos do Grupo Paranoá; calcários do Grupo Bambuí; e, rochas sedimentares do Grupo Urucuia. Esta bacia tem grande diversidade geomorfológica, inserida em um contexto com forte controle estruturai e áreas com potencial cárstico. As principais unidades geomorfológicas drenadas são: a SRAIVA, que se estende pelo norte e parte da borda leste, apresentando dissecação fraca; e SRAIVA-LA com dissecação muito fraca, situada na borda leste do Vão do Paranã, com Morros e Colinas e Estruturas Dobradas formando Hogbacks. Ocorrem ainda em grande extensão unidades da Zona de Erosão Recuante: ZER-SRAIVA com dissecação forte e muito forte a leste e ZER-SRAIIIA com dissecação muito forte no eixo sul-norte na porção central da bacia. Neste mesmo eixo situa-se a SRAIIA com fraca e forte dissecação e ao norte a SRAI com dissecação média e forte (Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros). Ainda, nas bordas oeste e sul desenvolvem-se a SRAIIIA com dissecação fraca e média, intercalada por Morros e Colinas com dissecação forte e muito forte, apresentando em alguns trechos forte controle estrutural. Ao norte, estão algumas estruturas de marcado controle estrutural como o pseudo-domo de Niquelândia com dissecação forte e as braquianticlinais da Serra Dourada, Serra do Encosto com dissecação forte e o da Serra da Mesa com dissecação média. A drenagem no Vão do Paranã apresenta um padrão muito complexo, (figura 56), com os rios Paranã e Manso se unindo num padrão quase centrípeto dentro da depressão, para depois escoar por uma série de estruturas e relevos elevados em direção noroeste. A drenagem dentro do Vão mostra também um conjunto de padrões com forte controle estrutural como, por exemplo, subparalelos onde os afluentes chegam ao receptor somente ao longo de uma das margens e padrões anômalos retangulares. Figura 56 - Drenagens do Vão do Paraná. 64 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 3.3.3. Bacia Hidrográfica do Rio Paraná Abrangendo de leste a oeste do Estado de Goiás, esta bacia é a que apresenta maior área de ocorrência, cobrindo 145.049 km2. É constituída exclusivamente pelos afluentes da margem direita do Rio Paranaíba. A rede de drenagem é pouco diversificada, sendo no geral de padrão dendrítico, no sentido norte-sul. Em alguns trechos, devido a controles estruturais, a drenagem apresenta padrões: paralelo no sul da borda oeste da bacia (municípios de Caçu, Itarumã e Itajá); subparalelo (municípios de Rio Verde e Montivídiu); e radial (município de Cristalina, figura 46). Os principais afluentes do rio Paranaíba no Estado de Goiás são os rios dos Bois, Claro, Verde, Corrente, Aporé, Corumbá e Meia Ponte. As litologias que formam o substrato desta bacia são na borda leste: filitos carbonosos, quartzitos e metassiltitos do Grupo Canastra; ortognaisses e migmatitos dos Complexos Indiferenciados; filitos e calcixistos de Grupo Ibiá; e, xistos e quartzitos do Grupo Araxá. No centro, em todo o eixo norte-sul ocorrem: ortognaisses e granitos-gnaisse do Complexo Granito-Gnáissico; arenitos do Grupo Paraná; e basaltos da Formação Serra Geral. No sul da borda oeste o substrato é formado por rochas areníticas, conglomerados e siltitos do Grupo Bauru; basaltos e arenitos do Grupo Paraná. Ao norte da borda oeste ocorrem areias fina e grossa da Cobertura Quaternária, sedimentos areno-argilosos das Coberturas Terciárias e, rochas sedimentares dos Grupos Paraná e Aquidauana. As duas grandes unidades geomorfológicas desta bacia são a SRAIIIB-RT no centro e sul da borda oeste, apresentando dissecação fraca e média, e, a Zona de Erosão Recuante (ZER) na borda leste, capturando a SRAIIA, com dissecação forte, intercalada por Morros e Colinas e Hogbacks com forte controle estrutural. No centro ao norte e sul desenvolve-se a SRAIVB-LA com dissecação fraca. Na borda oeste ao norte ocorre a SRAIIB-RT, separada em dois flancos pela zona erosiva ZER-SRAIIIB-RT com dissecação forte, o flanco ocidental da SRAIIB-RT com dissecação muito fraca e o oriental com dissecação fraca. O padrão subparalelo é muito destacado pelos afluentes da margem direita do rio Paranaíba, no sudoeste do estado (figura 57). Esse padrão é gerado pelo mergulho constante e uniforme de estratos suborizontais das rochas sedimentares e basaltos da Bacia do Paraná que mergulham numa estrutura monoclinal e pela declividade regional, no mesmo sentido da SRAIIB-RT. Os condicionamentos estrutural e litológico dos rios de Goiás podem ser vistos também em outras situações, como é o caso do rio Corumbá. Este rio vem atuando como gerador da ZER que erode principalmente a superfície SRAIIA. Neste setor (figura 58A) o rio apresenta um padrão de meandros encaixados em rochas do embasamento, alternando curvas e trechos retilíneos, com pouco ou quase nulo desenvolvimento da planície aluvial. Porém, ao longo do seu percurso, corta Morros e Colinas com forte controle estrutural (figura 58B), cartografados como HB-ED, onde se encaixa formando um trecho de meandros distorcidos e compactos ganhando sinuosidade, retomando depois a um padrão similar ao que apresentava à montante. 3.3.4. Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco Ocupa uma área de 4.452 km2 no leste do Estado de Goiás, e possui uma rede de drenagem de padrão dendrítico escoando para sudeste. Os principais afluentes são os rios Preto, Urucuia e Bezerra. O substrato litológico drenado por esta bacia é formado por coberturas terciárias e quaternárias e rochas dos grupos Bambuí, Paranoá e Canastra. As principais unidades geomorfológicas drenadas são a SRAIIA com dissecação fraca e a ZER-SRAIVA com dissecação média intercalada por Morros e Colinas com dissecação forte. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 65 Figura 57 - Padrão de drenagem subparalelo na porção sudoeste do estado - margem direita do rio Paranaíba. 66 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 58 - Rio Corumbá – em (A) meandros encaixados em rochas do embasamento, em (B) meandros comprimidos ao cruzar relevos elevados das colinas em forma de hogbacks (HB-ED) onde o rio se encaixa aumentando a sinuosidade. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 67 68 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal CAPÍTULO 4 – GEOMORFOLOGIA APLICADA 4.1. INTRODUÇÃO A Geomorfologia pode ser considerada uma disciplina básica nos estudos ambientais e, a espacialização das geoformas, a partir da elaboração do mapa geomorfológico, do entendimento da evolução da paisagem e da atuação dos processos morfogenéticos atuais, auxilia no conhecimento de diversas de disciplinas. As relações entre geomorfologia e unidades de vegetação, uso e ocupação do solo, recursos minerais, recursos hídricos superficiais e subterrâneos, ecologia, geotecnia, dentre outras, são inequívocas, assim como a utilização da informação geomorfológica para a elaboração de planos de ordenamento territorial, planejamento urbano, rural, de recursos hídricos e minerais além de planos de gestão ambiental/ territorial de uma forma geral. 4.2. MANTOS DE INTEMPERISMO E LATERITAS O intemperismo é definido como a resposta ou ajuste das propriedades químicas ou físicas das rochas às condições ambientais que atuaram sobre a superfície terrestre; ocorre através de uma complexa interação entre litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera originando três tipos de mecanismos: físicos, químicos e biológicos. Os processos químicos levam à decomposição e alteração de rochas pré-existentes com a formação de neominerais, enquanto os processos físicos provocam a desagregação das rochas em fragmentos menores sem alterar sua composição mineralógica original. Estes processos atuam in situ, ou seja, sem a participação de agentes de erosão e transporte. Os processos de intemperismo químico nas regiões tropicais como oxidação, hidrólise, hidratação, dissolução, carbonatação e processos orgânicos podem formar espessos mantos de intemperismo com mais de 100 m de espessura. Estes processos são favorecidos pelo alto índice de precipitação pluviométrica em regiões tropicais e pelas altas temperaturas; a velocidade de desenvolvimento destes mantos decresce com a profundidade. As características físico-mineralógicas do saprolito dependem da composição, estrutura e do grau de fraturamento da rocha original. Nos horizontes de um perfil ideal de alteração em área tropical (figura 59), e os principais processos envolvidos se distinguem: um nível área mais superficial com oxidação (ver figuras 13 e 17); abaixo deste nível, a zona pálida, a transição de rochas alteradas e não-alteradas (figura 60); presença de blocos imersos no manto de alteração (corestones); e, presença definitiva de rocha não-alterada onde fica delineada a frente de intemperismo. Em termos gerais os produtos do manto de intemperismo recebem o nome de regolito e em particular, quando as rochas são alteradas pelo intemperismo químico, de saprolito. Figura 59 - Perfil ideal de intemperismo químico. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 69 Figura 60 - GO-239 - Chapada dos Veadeiros – Potente manto de intemperismo (zona pálida) exposto na SRAIA. O saprolito aflorante representa só uma parte do manto de intemperismo original, onde os níveis superiores foram erodidos pela SRAI. Os feldspatos da rocha original foram transformados em caulim (de coloração branca). Perfil 5. 4.3. LATERITAS As lateritas são formadas por intenso intemperismo químico de rochas pré-existentes que se tornam enriquecidas em Fe e Al e empobrecidas em Si, K e Mg. O produto da laterização pode ser compacto, maciço, coeso, friável, argiloso ou terroso, com coloração variando desde vermelho, marrom, amarelo, violeta até branco (Costa, 1991). A denominação das lateritas pode variar de acordo com a abundância do mineral que a compõem, podendo ser: laterita ferruginosa, rica em ferro; laterita fosfática, rica em fosfato; e até mesmo, denominada de acordo com o potencial econômico, como lateritas diamantíferas, depósitos de lateritas ricas em diamante (Costa, 1991, Chaves e Benitez, 2004). Depósitos lateríticos podem conter mineralizações de valor econômico como ouro, diamante, alumínio, manganês, níquel, entre outros. É utilizado também como material de uso imediato na construção civil. As lateritas podem ser duras na forma de couraça ou crosta ferruginosa (duricrust, ferricretes ou duricrostas), resultado de repetidos ciclos de umedecimento e dessecação dos horizontes, favorecendo a oxidação do ferro e a formação de goethita e hematita cristalina. As lateritas, portanto, podem também estar sendo geradas no perfil de intemperismo, associadas à zona de oscilação do nível freático e à circulação de água nas vertentes, podendo originar crostas na parte inferior das mesmas (figura 61), como é registrado em diversas situações nas SRAIV (figura 62). Ocorrem ainda, capeando superfícies relativamente planas ou se formam nas bordas de vertentes. As crostas lateríticas podem alcançar em casos extremos até 30 m de espessura e apresentam-se mais como se fosse uma rocha do que como um sedimento friável ou horizonte de solo. As lateritas nem sempre estão associadas a profundos mantos de intemperismo, e podem se formar diretamente pela alteração das rochas parentais. As crostas ferruginosas desenvolvem-se também em materiais transportados (como por exemplo, colúvios ou sedimentos fluviais). Isto pode ser observado em sedimentos fluviais da Formação Araguaia que afloram ao longo dos barrancos do rio Araguaia, que quando endurecidos por óxidos e hidróxidos de ferro, são denominados popularmente de “canga”. 70 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 61 - Modelos característicos de formação de crostas lateríticas em vales amplos e superfícies aplainadas, freqüentes nas SRA, em especial na SRAIV. Adaptado de Faniran e Jeje (1983). 4.3.1. POTENCIAL ECONÔMICO DAS LATERITAS Ocorrem nove locais com formações lateríticas que se apresentam associadas a mineral de interesse econômico e que se distribuem na porção central do estado, tabela 3. Tabela 3 – Ocorrência de lateritas de valor econômico descritas no SIG-GOIÁS e as respectivas unidades geomorfológicas. Ouro Ouro Geologia sobre as que se desenvolveu a laterita Granitos Sintectônicos Complexo Granito-Gnáissico Unidade Geomorfológica SRAIVC1 SRAIVC1 Ouro Goiás Velho SRAIVC1 Manganês Manganês Manganês Níquel Níquel Níquel Níquel Níquel Níquel Diamante Suíte-Gabro Diorítica Suite-Gabro Diorítica Grupo Paranoá Complexo Barro Alto Complexo Alcalino de Iporá Complexo Alcalino de Iporá Complexo Alcalino de Iporá Complexo Alcalino de Iporá Complexo de Niquelândia - SRAIIIA SRAIIIA SRAIIA SRAIIA SRAIVC1 SRAIVC1 SRAIVC1 SRAIVC1 SRAIIIA MC-FCE Alumínio Complexo Barro Alto SRAIIA Fosfato Fosfato Complexo Alcalino de Catalão Complexo Alcalino de Catalão SRAIIA SRAIIA Local Minério Médio rio Claro Médio rio Vermelho Baixo médio rio Araguaia Alto Tocantins Alto Tocantins São João da Aliança Barro Alto Diorama Iporá Santa Fé Montes Claros Niquelândia Alto rio Tocantins Barro Alto (Souzalândia) Catalão Ouvidor Quando as lateritas se desenvolvem em um perfil de intemperismo químico sobre rochas máficas e ultramáficas podem gerar importantes jazidas de níquel. O níquel liberado pelas transformações de minerais primários como olivina, ou secundários como a serpentina, pode ser absorvido pelos minerais de alteração como goethita e óxidos de manganês ou substituir o magnésio na estrutura da serpentina formando garnierita em condições de pH neutro ou alcalino fixando-se na parte superior do perfil de intemperismo. Na região de Niquelândia a mineralização de níquel é proveniente da alteração de piroxênios (Carvalho Junior et al, 2004). Segundo Melfi et al., (1988) as lateritas niquelíferas teriam se desenvolvido sobre uma antiga superfície de erosão que associam à superfície Sul-Americana de King. De acordo com o Mapa Geomorfológico do Estado de Goiás e Distrito Federal (2004), estes processos teriam atuado a sobre a SRAIIA, que no estágio de conhecimento atual considera-se difícil correlacionar às unidades descritas por King no Brasil Oriental devido à descontinuidade cartográfica. Os depósitos de ouro associados a coberturas lateríticas se encontram sobre perfis de intemperismo desenvolvidos sobre a SRAIIA, como na jazida de Lavrinha em Fazenda Nova num perfil de até 50 m de profundidade e ocorrências no Município de Luziânia desenvolvidas sobre rochas metassedimentares. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 71 Os depósitos de manganês se encontram distribuídos em dezenas de pequenos jazimentos supergênicos na forma de óxidos de manganês gerados por processos de lateritização (Lacerda Filho et al, 1999) em Itaberaí, Luziânia, Cavalcante, Niquelândia, Palmeiras de Goiás e em São João da Aliança. Em termos gerais estes depósitos se encontram principalmente sobre a SRAIIA. As couraças lateríticas encontram-se amplamente distribuídas na área do Estado de Goiás e Distrito Federal e foram um indicativo de grande utilidade para a identificação das Superfícies Regionais de Aplainamento. Nos trabalhos de campo, foram identificadas diversas formações lateríticas, maduras e imaturas, descritas na tabela 4: Tabela 4 – Descrição de couraças e perfis lateriticos característicos identificados. Local Rodovia NiquelândiaUruaçu Rodovia CampinorteNova Iguaçu Rodovia Nova Iguaçu do Norte - Crixás Santa Terezinha de Goiás GO-164 Goiás - Mossâmedes GO-060 Israelândia Iporá BR-158 km 61,2 Piranhas e Jataí, Córrego do Sapo município de Rio Verde Localidade de Porteirão Em direção ao município de Edéia 72 Descrição Afloramento de 7 m de espessura na cota de 528 m (figura 24). Afloramento na cota 390 m Superfície na cota de 396 m formada por laterita, corte com plintita e cascalhos (blocos e seixos de quartzo subarrendondados e subangulares) Superfície a 357m, sendo a mesma superfície desde Campinorte. Após o rio Crixás-Açú a superfície econtra-se mais arrasada Afloramento de laterita na cota de 770 m na Serra Dourada Afloramento de laterita acompanhando o contato entre o embasamento e rochas de Bacia do Paraná. A couraça tem espessura de aproximadamente 2 m com ampla extensão lateral, ocorrendo até a cota de 545 m. Afloramento de laterita desmantelada na cota 741 m Perfil na estrada paralela ao córrego com seqüência de latossolos vermelho no topo (746 m); após 1 km ocorre laterita sotoposta a material colúvio/aluvionar (cota 707 m) e na cota 681 m uma capa de laterita sobre o basalto alterado Capa de laterita de 1,5 m de espessura e ligeiramente encouraçada (527 m – º º 17 36’59,4” S e 50 06’26” W). 5 km ao norte (cota 536m) ocorrência de formação lacustre associada ao manto laterítico com espessura de 2,0-2,5 m º º (550 m - 17 31’43,7” S e 50 03’03,5” W) Afloramento de laterita desmantelada desenvolvida sobre embasamento cristalino (cota 621 metros) Coordenadas º 14 31’38’’ S º 49 06’15’’ W º 14 20’49” S º 49 29’56” W Superfície SRAIIIA(fr) SRAIVA(m) º SRAIVA(m) contato com MC-FCE (fo) º SRAIVA(m) 14 23’05” S º 49 20’01” W 14 27’37” S º 49 43’50” W º 16 03’05” S º 50 04’43” W º 16 24’50” S º 51 05’26” W º 16 55’02” S 51º47’56.4” W º 17 48’42.9” S º 50 55’42.3” W º 17 38’36” S º 50 05’57,5” W º 17 22’46,1” S º 49 59’18,7” W Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal SRAIIIA(m) ZER-SRAIIIBRT/IIB(fo) junto SRAIIIA(fr) SRAIIIA(m) SRAIIIB-RT(fr) SRAIIIB-RT SRAIIIB-RT Figura 62 -– Laterita em forma de couraça, entre 6 a 8 m de espessura capeando a SRAIIIA. Coordenadas: 14º31’38’’S e 49º06’15’ W’, cota 521 m. Perfil 6 4.4. INSELBERGS E TORS Entre as morfologias tropicais mais características ocorrem os inselbergs e tors. Os inselbergs são descritos como colinas isoladas que se elevam abruptamente sobre a planície circundante e podem ser constituídos de rochas graníticas, gnáissicas ou outras rochas metamórficas resistentes à erosão, apresentando em planta, formas circular, alongada, elíptica ou complexa. Quando assumem formas dômicas monolíticas e arredondadas são referidas como bornhardts e quando constituídos por vários blocos de rochas na forma de um castelo são denominados “kopjes”. Os tors são definidos como um conjunto de blocos de rochas freqüentemente esferoidais expostos à medida que o saprólito ou manto de intemperismo é erodido. Na realidade as diferenças referem-se principalmente a escala de observação de fenômenos similares: enquanto um inselberg é uma colina ou morro formado por uma rocha residual em relação a um saprólito eliminado pela erosão, um tor é um conjunto de blocos, geralmente arredondados que possui expressão topográfica inferior àquela de um morro ou colina (figura 63). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 73 Figura 63 - GO-118/BR-010 - Campo de Tors e matacões aflorando sobre a SRAI. Coordenadas 13º58.25’ S e 47º29.22’ W, cota 1500 m. Perfil 5. Os modelos mais tradicionais utilizados para explicar a geração de tors e inselbergs nas regiões tropicais estão representados nas figuras 64 e 65. A geração de Superfícies Poligênicas de Aplainamento contempla os dois modelos para a formação de inselbergs e tors. Porém, devido ao recuo das Zonas de Erosão Recuante (back wearing) são encontrados campos ou áreas de colinas e morros que na sua essência foram originados segundo os processos típicos da geração de inselbergs, que, entretanto foram ficando desconexos da frente do escarpamento que continuou a retroceder à medida que a SRA evolui. 74 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 64 – Esquema da geração de inselbergs em regiões tropicais, modelo de Thomas (1976, 1986). Figura 65 – Esquema de formação de tors graníticos e matacões, modelo de Linton (1955) e Thomas, (1965, 1994). Os números 1, 2, 3, 4 e 5 indicam a posição da superfície em relação ao saprolito que está sendo erodido e os níveis profundos que estão sendo exumados. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 75 4.5. LINHAS DE PEDRAS (STONELINES) As linhas de pedras ou “stonelines” são horizontes subsuperficiais de uma vertente onde existe uma concentração linear de cascalhos. Observado no afloramento de uma vertente em forma bidimensional tais feições se encontram soterradas por uma cobertura de sedimentos superficiais (figura 66). A espessura pode variar de alguns centímetros a mais de meio metro e ser contínua ou descontínua. Geralmente as linhas de pedras são formadas por uma proporção variável de cascalhos semi-angulosos e angulosos de quartzo, fragmentos de lateritas e/ou concreções ferruginosas. A composição destas linhas varia em função da litologia original da vertente na qual se desenvolveram. Em geral, são interpretadas como um depósito de “lag” na base de um horizonte superficial que migra ou sob um colúvio, ao longo de uma vertente. Figura 66 - Esquema geral dos elementos que compõem uma linha de pedra (stoneline). Adaptado de Faniran e Jeje (1983). Lima (2002) e Braucher et al., (2004) realizaram estudo detalhado sobre a evolução das amplas vertentes da paisagem fracamente dissecada na bacia do rio Jardim, próximo ao Distrito Federal, na SRAIIA. Foram identificadas linhas de pedras quartzosas geradas a partir da evolução das vertentes e desmantelamento de veios de quartzo de rochas do embasamento, que se deslocam em direção ao sopé das vertentes por rastejamento da cobertura superficial. Utilizando isótopos cosmogênicos (10Be), estimaram a idade de deslocamento dos fragmentos de quartzo da linha de pedra, obtendo informações sobre a velocidade evolutiva das vertentes. Nestas áreas pouco dissecadas estimaram que o deslocamento lateral nas vertentes é da ordem de 37 ± 5 a 68 ± 6 metros por milhão de anos (Ma) e o rebaixamento vertical geral por erosão de aproximadamente 4,5 m/Ma, (figura 67). 76 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 67 – Bacia do rio Jardim - Linhas de pedras desenvolvidas sobre vertentes amplas dos vales que cortam a SRAIIA, segundo Lima (2002). 4.6. PLACERS E PLANÍCIES FLUVIAIS Concentrações formadas por processos mecânicos em um ambiente de sedimentação são denominadas de placers, e ocasionalmente podem ter interesse econômico. Os placers são encontrados em ambientes de sedimentação eólica, costeira ou glacial, sendo mais freqüentes os de origem fluvial. Nestes, os minerais metálicos (ouro, estanho, titanita, entre outros) e não-metálicos (diamante, safira e outras gemas) são depositados e concentrados por transporte diferenciado relacionado aos processos do canal. Os minerais originalmente provêm de rochas pré-existentes que sofreram processos de intemperismo, erosão e transporte. A colonização de Goiás ocorreu através da atividade extrativista de ouro, dando origem a cidades históricas, como Goiás, Pilar de Goiás, Crixás, Jaraguá, Pirenópolis, Silvânia, Santa Cruz de Goiás, Cavalcante, entre outras. A forma inadequada de extração pode acarretar danos ao meio ambiente, devido Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 77 ao desmatamento de matas ciliares, assoreamento de canais com material remobilizado das margens e leitos dos rios e córregos e com o lançamento de resíduos, como por exemplo, mercúrio. No Brasil, os principais depósitos de placers fluviais são comumente relacionados à extração de ouro e diamante (Amazônia e Centro-Oeste), em segundo de cassiterita, titanita e zircão (Amazônia). No litoral da Bahia, Espírito Santo, Paraíba e Paraná são comuns os depósitos de zircão, monazita e titanita (Biondi, 1991). Depósitos de placers eólicos explotáveis são raros, sendo descrito por Suguio, (2003), explotação de areias monazíticas no interior da planície litorânea do Rio Grande do Sul e no Nordeste do Brasil. Em Goiás, a principal explotação1 em placers recentes é de ouro nos ambientes fluviais que drenam os terrenos ”Greenstone Belts” e seqüências metavulcano-sedimentares; estão associados a níveis de cascalho lenticulares, em camadas pelíticas e psamíticas. Os principais rios onde ocorrem estes depósitos são: Vermelho, Ferreira, das Almas, Jaraguá, Corumbá, do Peixe, Veríssimo e os córregos Guarinos, da Serra de Jaraguá, Vermelho e Boa Esperança (Lacerda Filho et al., 1999). Os placers aluviais de Goiás se encontram na unidade geomorfológica identificada como Planícies Fluviais (PF) e suas subunidades (figura 70). De acordo com o SIG-GOIÁS estão cadastradas 289 ocorrências minerais de interesse em placers, exploradas na forma de garimpos. A maior concentração ocorre na Bacia Hidrográfica dos rios Araguaia/Tocantins, tabela 5. Na sub-bacia do rio Araguaia predominam ocorrências no médio e nos rios Claro, Caiapó e Vermelho, sendo escassas no alto curso dos rios Crixas-Açú e dos Bois. Na sub-bacia hidrográfica do rio Tocantins localizam-se no alto curso dos rios Tocantins e Maranhão e no baixo/médio curso do rio Paranã. Na Bacia Hidrográfica do rio Paraná apresentam-se dispersos, com as maiores concentrações nos rios Corumbá, dos Bois e Meia Ponte. Na bacia hidrográfica do rio São Francisco, em Goiás, ocorre um dépósito de placers no alto curso do rio Preto. Em função da escala deste trabalho, nem todos os depósitos de placers cadastrados no SIG-Goiás estão plotados sobre a unidade Planícies Fluviais, (figura 68). Tabela 5 – Distribuição dos placers por Bacias/sub-bacias Hidrográficas e unidades geomorfológicas. 1 78 Bacia/sub-bacia Hidrográfica Número de depósitos (Garimpos) Araguaia 131 Tocantins 92 Paraná São Francisco 65 1 Unidades geomorfológicas as quais os depósitos estão associados SRAIVC1(fr,m); ZERIIIB(fo); SRAIIIA(fr,mfo); MC(fr,fo,mfo); SRAIIA(fo) ;ED(mfo) SRAIVA(fr); ZER-SRAIVA(fo); BQ(mfo); MC(fo,mfo); SRAIIIA(fr,m); ZER-SRAIVA(mfo) SRAIIA(fr,m); ZER(fo); SRAIIIA(m); SRAIVB(fr,m); SRAIIIB(fr) SRAIIA(fr) Explotação: é a retirada do recurso mineral de forma adequada, para fins de beneficiamento, transformação e utilização. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Tabela 6 - Distribuição dos placers por Bacias/sub-bacias Hidrográficas e rios Bacia Hidrográfica Araguaia Tocantins Paraná São Francisco Rio Claro Caiapó Crixás-Açú Araguaia Vermelho dos Bois Tocantins Maranhão Cana Brava Paranã Tocantinzinho Corrente Meia Ponte Verde São Mateus Ribeira Córrego Cabeça Verdão Turvo dos Bois dos Patos Córrego de Pedra Ribeira das Pedras Piracanjuba Araguari-Veríssimo João Leite São Bartolomeu Capivari das Almas do Peixe Veríssimo São Bartolomeu São Marcos Preto Número de depósitos (Garimpos) 55 32 1 26 23 1 47 10 8 8 1 2 2 3 2 5 2 1 1 7 1 1 1 8 1 2 4 7 1 1 4 7 1 1 Figura 68 - Distribuição de placers. (fonte: SIG-Goiás, 2005). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 79 4.7. GEOMORFOLOGIA REGIONAL E CORRELAÇÕES COM O USO DO SOLO A partir do início da década de 70 a fronteira agrícola no Centro-Oeste avançou sobre o Bioma Cerrado, promovendo uma profunda mudança no uso e ocupação do solo, convertendo áreas de vegetação natural de Cerrado em um sistema produtivo de lavouras e pastagens cultivadas. Utilizando imagens MODIS, Machado et al. (2004) estimaram que até o ano de 2002, a área desmatada de Cerrado era de 54,9%, sendo que o Estado de Goiás aparecia como uma das principais áreas de desmatamentos deste bioma. As áreas de culturas anuais se concentram no sudoeste do estado predominantemente sobre a SRAIIB-RT com dissecação fraca e relevos tabuliformes. Ocorrem também na SRAIIIB com grau de dissecação muito fraca e fraca, na SRAIVB no centro-sul do estado e nas SRAIIIA e SRAIIA com grau de dissecação média, num arco de Uruaçu – Ceres – Jaraguá -Anápolis - Pires do Rio seguindo de forma geral a BR-153, (figura 69). As pastagens ocorrem principalmente na SRAIVC e parte da SRAIIIC na sub-bacia hidrográfica do rio Araguaia. Também estão presentes sobre a SRAIIIB-RT, no extremo sudoeste do estado, na região dos rios Aporé, Corrente, Verde e Claro. As áreas do bioma cerrado mais preservadas se localizam no norte e nordeste, onde o relevo acidentado é um fator limitante para a ocupação, contribuindo para a conservação da vegetação nativa. No Vão do Paranã são identificadas fisionomias de savanas naturais, embora ocorram também áreas com pastagens. As fisionomias de floresta estão restritas a áreas não indicadas a uma agricultura mecanizada, com relevo de Morros e Colinas. As ZERs são utilizadas em função do grau de dissecação da paisagem: agricultura em áreas de dissecação fraca, pastagens em áreas de dissecação média e vegetação original preservada nas de dissecação forte e muito forte. 80 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal A B Figura 69 – (A) Unidades Geomorfológicas e Uso do Solo (B). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 81 4.8. PROCESSOS EROSIVOS INDUZIDOS OU ACELERADOS POR AÇÃO ANTRÓPICA O estudo e mapeamento de processos erosivos são de grande importância para o manejo e gerenciamento ambiental. Compreende-se por processo erosivo a ação de remoção de material sólido e/ou solúvel intemperizado (fragmentos de rochas, solo ou componentes químicos) e deposição em outro local. A erosão hídrica é um processo relacionado diretamente à ação da água sobre o terreno. No que se refere a precipitação pluviométrica parte da água é evapotranspirada, infiltrada e o restante escoa diretamente pela superfície do terrreno. A água infiltrada pode retornar à superfície por fluxo hipodérmico ou subterrâneo, enquanto que a parte que escoa pode gerar dois processos erosivos principais: laminar e linear. A erosão laminar é causada pelo escoamento superficial de fluxos de água espalhados e não canalizados (não concentrados), que são controlados pelas características da superfície que inclui gradiente de declividade, tamanho dos grãos, grau de coesão das partículas, cobertura e vegetação. O fluxo laminar promove o desenvolvimento e/ou atua sobre vertentes amplas, pedimentos e rampas suaves; dependendo do gradiente topográfico, pode se tornar mais concentrado e canalizar passando fluxo linear formando pequenos sulcos, que podem evoluir gerando outras feições erosivas lineares de maior porte, como ravinas e voçorocas. Os processos erosivos lineares (formação de sulcos, ravinas e voçorocas) são afetados pela composição litológica do substrato e das unidades superficiais, morfologia e comprimento das vertentes e intensidade dos agentes antrópicos modificadores Os efeitos da erosão hídrica podem ainda ser desencadeados ou potencializados por atividades antrópicas que geram condicionantes para a concentração do fluxo de água tais como: remoção da cobertura vegetal, mudanças no uso e ocupação do solo, trilhas de gado, caminhos, estradas, bueiros mal dimensionados, entre outros. Estes fatores podem desencadear o desenvolvimento de processos erosivos lineares que se expressam na forma de voçorocas afetando tanto áreas urbanas como rurais. Estudos em áreas urbanas mostram que os processos erosivos têm se intensificado pelo uso inapropriado do solo causado por uma expansão urbana acelerada e falta de plano diretor para ordenamento territorial adequado. As voçorocas podem ser geradas e/ou alimentadas pelo escoamento superficial e subterrâneo, desenvolvendo-se sobre material inconsolidado. Caracterizam-se por ser fendas de grande porte nas vertentes do relevo, que evoluem lateralmente e a montante da vertente, com fluxo de água intermitente. As mais conhecidas, em áreas rurais, são as grandes voçorocas da sub-bacia do rio Araguaia, no seu alto curso, que ocorrem na ZER-SRAIIIB que erode a SRAII-RT no sudoeste goiano, divisa com o Estado do Mato Grosso (figura 70). Castro et al., (1999 e Barbalho et al., 2003 analisaram os processos erosivos lineares na sub-bacia do rio Araguaia que estão sintetizados e compilados Castro et al., (2004). Segundo estes autores os voçorocamentos originaram-se pelo uso inadequado do solo, NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS, desenvolvido sobre espessos mantos de intemperismo de rochas arenosas (formações Cachoeirinha e Botucatu). O desmatamento e as atividades agropastoris tornaram o solo mais frágil e suscetível à geração de feições lineares como voçorocas (Relatório IPT, 1998). No alto curso do rio Araguaia foram catalogadas um total de 91 erosões, cujas dimensões variam de 240 m a 4.8 km de extensão (figura 71). Os principais municípios afetados são Santa Rita do Araguaia e Mineiros (Oliveira, 1999; Martins, 2000; Rezende, 2003). Segundo Barbalho et al., (2003), a maioria das voçorocas está ligada à rede de drenagem, sobretudo de primeira e segunda ordem (80%). 82 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 70 – Alto curso do rio Araguaia - Voçoroca Chitolina. (Foto cedida pela Prof. Dra. Selma Simões de Castro) Figura 71 - Distribuição das erosões na sub-bacia do rio Araguaia – alto curso. (Fonte: Barbalho et al., 2003 e Castro et al., 2005). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 83 Na SRAIIA(m), sudeste goiano - município de Orizona, ocorrem voçorocas no córrego Pontinhas, sendo que a de maior porte possui 35 m de profundidade, 100 m de largura e 550 m de extensão; sua evolução é controlada por enxurradas que atingem as bordas e intensificada pelo uso indevido do solo (Souza, 2000). Na bacia hidrográfica do ribeirão João Leite foram ocorrem processos erosivos lineares, sendo que as áreas mais suscetíveis à formação de voçorocas e ravinas apresentam relevos dissecados (cabeceiras em anfiteatros e escarpas erosivas) em solo de elevado gradiente hidráulico subterrâneo e superficial. Na SRAIIA(m) foram descritas duas erosões na área urbana de Goianápolis e quatro em Anápolis (Borges, 2004). Outros trabalhos sobre erosões que se desenvolvem sobre a SRAII são: Palocci, 2001, Francisco et al., 2001e Campos et al., 2001 sobre as erosões em Alexânia; Lima et al., 2001 a cerca da voçoroca Ceilândia-DF; Na SRAIIIA, em Goiânia, Nascimento (1994) realizou o cadastro de erosões, sendo a voçoroca do Jardim Botânico um caso ilustrativo, onde o fluxo concentrado de águas pluviais causado pela pavimentação asfáltica, provocou seu surgimento, sendo que chegou a atingir 200 m de comprimento, 13 m de largura e 4 m de profundidade (Nascimento et al., 2001). Outro exemplo é a voçoroca do Autódromo de Goiânia, causada pela má distribuição do escoamento pluvial, causando fluxos concentrados, que erodem uma camada de latossolo com 10 a 15 m de espessura (Campos e Lima, 2001). Borges (2004) estudou uma voçoroca no município de Campo Limpo (ZER-SRAIIIA (fo)) e duas na área urbana de Goiânia. Lopes (2001) em Aparecida de Goiânia (SRAIIIA (m)), na bacia do córrego Carapina e do Lajes a erodibilidade dos solos é intensificada pelo processo de urbanização. A bacia do córrego Carapina possui no compartimento superior LATOSSOLOS VERMELHO de textura média e argilosa, que apesar de estáveis, são suscetíveis à erosão em sulcos devido ao manejo inadequado, assim como nas bordas, vertentes de até 12% de declive, são áreas de risco ao desenvolvimento de voçorocas. Na bacia do córrego Lajes Segundo Lopes (2001) os LATOSSOLOS VERMELHO de cimeira são mais vulneráveis a erosão devido à textura média; são profundos, macroporosos e ocorrem em vertentes longas, o que aliado a expansão urbana e a mineração de areia tornam esta área sujeita ao desenvolvimento de voçorocas. A crença generalizada de que nos ambientes tropicais não acontece erosão eólica tem sido um dos motivos do descaso em avaliá-la. A baixa densidade e viscosidade do ar fazem com que o vento possa transportar somente partículas de pequeno tamanho. A rugosidade da cobertura vegetal e a umidade do solo causam efeito protetor contra a erosão, ou seja, a ação do vento é eficiente nas zonas com escassa ou nula cobertura vegetal. A erosão eólica é registrada principalmente na região sudoeste nas SRAIIB e SRAIIIB onde solos de composição predominantemente argilo-siltosa, sem cobertura vegetal e com atividade agrícola intensiva associado a favorecem a atuação da erosão eólica A estação com baixos índices de precipitação pluviométrica (abril a setembro/outubro) coincide com a época de preparação dos plantios que se estende até novembro. Expressivas tormentas de poeiras geradas por deflação dos solos podem ser usadas como parâmetro da gravidade deste processo que afeta parte das zonas agrícolas mais produtivas, figura 72 (a e b). Os processos erosivos quando deflagrados e intensificados pelo antropismo causam assoreamento nos sistemas fluviais. Em Goiânia, no ribeirão Anicuns ocorrem taxas elevadas de deposição devido à incapacidade do sistema fluvial redistribuir eficientemente a grande quantidade de sedimentos, lixo e entulhos introduzidoww.ufgs pelo homem no sistema (Cunha, 2000). 84 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 72 – BR-452 - Rio Verde – Itumbiara, novembro de 1997. Imensa nuvem de poeira gerada por deflação dos LATOSSOLOS VERMELHOS na SRAIIIB, (Foto cedida pelo Prof. Dr. Manoel Calaça). 4.9. PROCESSOS DE SEDIMENTAÇÃO E MUDANÇAS GEOMORFOLÓGICAS NO RIO ARAGUAIA A região do médio curso do rio Araguaia apresenta altos índices de desmatamento e mudanças no uso do solo. Franco (2003) estimou que a influência antrópica na vegetação passou de cerca de 1% na década de 60 para mais de 70% em 2001. Latrubesse et al., (2006) e Prado, (2006) constataram que à medida que aumentavam as áreas de Cerrado convertidas para agricultura e pastagens cultivadas, o PIB dos municípios cresciam na mesma proporção, assim como, a quantidade de sedimentos arenosos transportados pelo rio Araguaia. O aumento da sedimentação do canal do médio curso do rio Araguaia foi evidenciado pelo incremento do número de barras arenosas (bancos de areia), quantidade de sedimentos armazenados no sistema e quantidade de sedimentos arenosos transportados no canal. Latrubesse et al., (2006) estimaram que de 1965 a 1997 foram armazenadas 242 milhões de toneladas de sedimentos, principalmente arenosos (barras, ilhas e zonas proximais da planície de inundação), na zona geomorfologicamente dominada pela dinâmica do canal do rio Araguaia, no trecho Barra do Garças - Rio Cristalino (570 km de extensão). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 85 Latrubesse et al., (2006) e Morais (2006) observaram que entre 1965 e 1975 ocorreram poucas mudanças morfológicas no canal fluvial. A partir deste período até 1998, houve uma tendência de diminuição no número de ilhas associadas aos processos de erosão, anexação à planície aluvial e de ilhas a outras ilhas. A quantidade de ilhas no canal do Médio Araguaia no ano de 1965 era de 209, e em 1998 foram identificadas 137. As barras laterais passaram de 164 a 209, embora a área total ocupada não tenha sofrido alteração significativa, mostrando somente um ligeiro incremento e diminuição do tamanho médio das barras; ocorrendo aumento significativo na quantidade de barras centrais, que variou de 44 a 124. 4.10. CORRELAÇÃO ENTRE GEOMORFOLOGIA E HIDROGEOLOGIA Para diagnosticar a situação dos recursos hidrogeológicos do Estado de Goiás, foi elaborado o livro Hidrogeologia do Estado de Goiás (Goiás, 2006), onde é realizada uma correlação entre as unidades geomorfológicas identificadas por Latrubesse et al., (2005) e os sistemas aqüíferos (Figura 73). O mapeamento e compartimentação geomorfológicos são notáveis ferramentas auxiliares aplicados em outros estudos. Na hidrogeologia, as unidades geomorfológicas identificadas podem ser relacionadas com o funcionamento de recarga e descarga dos aqüíferos sotopostos. Para diagnosticar e identificar o controle dos compartimentos do relevo como possíveis condicionantes do potencial dos aqüíferos foram consideradas as unidades geomorfológicas identificadas por Latrubesse et al. (2005), o padrão de relevo, densidade de drenagem, comprimento das rampas, hipsometria dos vales, tipos de coberturas de regolito e outros aspectos nitidamente geomorfológicos. A sistematização da informação geomorfológica aplicada ao estudo hidrogeológico foi de fundamental importância para definição das principais áreas de recarga, dos exutórios e das condições gerais de circulação dos aqüíferos regionais. A integração destes dados possibilitou definir dois grupos de reservatórios: Aqüíferos Rasos ou Freáticos e Aqüíferos Profundos. Estes grupos são classificados, em função dos tipos de porosidade predominante, nos seguintes Domínios: Intergranular (poroso), Fraturado, Dupla Porosidade, Físsuro-Cárstico e Cárstico. O Grupo dos Aqüíferos Rasos ou Freáticos é constituído exclusivamente por coberturas regolíticas (solo + saprólito) e o Grupo dos Aqüíferos Profundos pelas unidades litológicas litificadas que ocorrem com espessuras de dezenas a centenas de metros, podendo ser livres ou confinados. identificou 25 sistemas aqüíferos, sendo 03 (três) freáticos ou rasos e 22 (vinte e dois) profundos. Os sistemas freáticos são fundamentais na perenização e regularização das vazões dos cursos de drenagens superficiais. As elevadas vazões dos rios tributários da Bacia Hidrográfica do rio Paraná são, sem dúvida, devidas a presença dos Sistemas Freáticos I e II. Em termos gerais, conclui-se que as áreas com menor dissecação apresentam boas condições de infiltração e recarga. Relevos acidentados e muito dissecados condicionam a existência de fluxos locais e intermediários e uma recarga ineficiente. Entretanto, Sistemas Agradacionais representam áreas de exutórios ou de recarga local. As principais áreas de recarga estão localizadas sobre as SRAII e SRAIII, que apresentam relevos pouco dissecados com espessos solos e perfis de alteração. 86 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 73 – Sistemas Aqüíferos em Goiás. Fonte: Goiás, 2006 4.10.1. Superfície Regional de Aplainamento II - SRA II Esta unidade formada por amplas superfícies com cotas relativamente altas, padrão de relevo suavemente dissecado com baixa densidade de drenagem e presença de latossolos é subdividida nas subunidades SRA-IIA, desenvolvida principalmente sobre rochas pré-cambrianas, SRA-IIB-RT sobre as rochas sedimentares da Bacia do Paraná e SRAIIC sobre rochas da Bacia do Paraná na Bacia Hidrográfica do rio Araguaia. A recarga da SRA-IIA é razoavelmente eficiente, em particular onde se têm sistemas aqüíferos fraturados, apresentando vazões médias na ordem de 8 m3/h. A SRA-IIB-RT e a SRAIIC oferecem as melhores condições regionais de recarga de aqüíferos tendo em vista que seu substrato rochoso é constituído por rochas com grau de permeabilidade médio (primária e/ou secundária). 4.10.2. Superfície Regional de Aplainamento III - SRA III Esta unidade é subdividida em: SRA-IIIA desenvolvida sobre rochas pré-cambrianas; SRA-IIIB-RT sobre as rochas sedimentares da Bacia do Paraná e SRAIIIC sobre principalmente rochas da Bacia do Paraná na Bacia Hidrográfica do rio Araguaia. A recarga da SRA-IIIA é caracterizada por fluxos locais em ambiente de rift continental, representado pelo Grupo Araí, onde a recarga é pouco eficiente. Na SRA-IIIB-RT, no sudoeste de Goiás, desenvolvida principalmente sobre os basaltos da Formação Serra Geral, a recarga e circulação das águas de infiltração são medianamente eficientes. Áreas residuais do Grupo Bauru ampliam a condutividade hidráulica e a porosidade efetiva sobre esta unidade geomorfológica, melhorado as condições de recarga. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 87 4.10.3. Superfície Regional de aplainamento IV - SRAIV Esta superfície de aplainamento compreende as regiões de cotas mais baixas (entre 250 e 550 m) e foi subdivida em SRAIVA; SRAIVB e SRAIVC. A SRAIVA localiza-se no Vão do Paranã sobre rochas do Grupo Bambuí, pouco resistentes à erosão e no eixo Porangatu-Crixás sobre rochas do Arco Magmático de Mara Rosa. Situam-se em cotas baixas e as condições de recarga são desfavoráveis, devido à predominância de solos rasos a pouco profundos e à restrita condutividade hidráulica das coberturas presentes. O substrato pouco fraturado também atua como limitante da recarga A SRAIVB localiza-se no centro-sul de Goiás entre as cotas 400 e 550 metros cortando basaltos da Formação Serra Geral e rochas do embasamento cristalino. Do ponto de vista hidrogeológico foi considerada uma área pouco favorável à recarga. A SRAIVC encontra-se no noroeste de Goiás capeada parcialmente por uma cobertura detritolaterítica. Do ponto de vista hidrogeológico esta unidade foi considerada pouco eficiente para a recarga de aqüíferos. 4.10.4. Zonas de Erosão Recuantes - ZER e Morros e Colinas - MC As Zonas de Erosão Recuante interligam as diferentes SRAs, podendo se estender por amplas áreas e com recuos significativos ou limitados a frente de escarpamento de chapadões. Durante sua evolução podem deixar um conjunto isolado de Morros e Colinas entre duas SRAs. Do ponto de vista pedológico estas unidades estão cobertas parcialmente por CAMBISSOLOS e NEOSSOLOS LITÓLICOS, os quais, junto com seu relevo acidentado fazem que tenham baixo potencial de recarga. 4.10.5. Estruturas Dobradas - ED Geomorfologicamente são representadas por colinas formando hogbacks e cristas como, por exemplo, no Vão do Paranã, Arco Magmático de Mara Rosa, Grupo Araxá ou formando grandes estruturas braquianticlinais (BQ) como a Serra da Mesa, a Serra Dourada, a Serra Branca e a Serra do Encosto. O padrão de relevo irregular e abrupto, com presença de solos pouco espessos fazem com que esta unidade não tenha bom potencial de recarga. 4.10.6. Estruturas de Blocos Falhados - BF O Domo de Cristalina é o melhor exemplo desta unidade; apresenta relevo relativamente elevado e plano, solos profundos e infiltração potencializada por falhas e fraturas favorecendo uma eficiente recarga. 4.10.7. Sistemas Cársticos Encontram-se no setor nordeste associados aos sistemas SRAIVA, ZER e SRAIIA. Os Sistemas Cársticos caracterizam-se por alta velocidade de fluxo e vulnerabilidade à contaminação sendo muito sensíveis às variações sazonais de pluviometria. 4.11. SÍTIOS GEOMORFOLÓGICOS - PATRIMÔNIO NATURAL Sítios Geomorfológicos (geomorphosites) são geoformas que têm por si mesmas ou adquiriram valor científico, cultural/histórico, estético, social ou econômico (Panizza e Piacente, 2003). Devido ao variado patrimônio geomorfológico existente na área de estudo é necessária a implementação de programas para identificar, catalogar e desenvolver planos de manejo. Embora não existam estudos sistemáticos com esta finalidade e que considerem técnicas e metodologias, como as implementadas em outros países, é necessário a implementação de uma política específica de geomorphosites em relação às atividades turísticas regionais e às políticas de conservação, considerando o grande apelo que o bioma Cerrado exerce na sociedade. Destacam-se a seguir áreas ou conjuntos de geoformas que caracterizam a paisagem e cumprem a definição de sítios geomorfológicos: rio Araguaia, Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis, cachoeiras e corredeiras, Caldas Novas, entre outras. 4.11.1. Rio Araguaia O rio Araguaia é um rio emblemático para a sociedade, sendo suas águas utilizadas com fins recreativos (praias fluviais) e pesca esportiva (figura 74). 88 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Os locais mais visitados são as cidades de Aruanã e Luis Alves. Aruanã recebe milhares de turistas, durante a temporada das águas baixas, que se distribuem ocupando as praias (figuras 75 e 76). O Araguaia é um rio anabranching de baixa sinuosidade com grande quantidade de areias transportadas que formam barras fluviais - as populares “praias” - atração turística do rio durante a estação seca. O rio gera dois tipos principais de barras que geomorfologicamente são classificadas como centrais e laterais. As praias preferidas pelos turistas são as barras laterais por serem as mais amplas e com morfologia mais plana e suave, sem a presença de barrancos abruptos e de canais profundos no seu entorno. As barras centrais freqüentemente possuem margens mais íngremes e às vezes, em algum dos seus flancos, se articulam com os canais relativamente profundos gerando bruscos desníveis. São formadas por areias mais grossas e menos selecionadas do que as das barras laterais. As praias vêm sofrendo uma paulatina perda de qualidade com decréscimo no tamanho médio das suas barras laterais e um aumento na quantidade de barras centrais, menos atrativas turisticamente. Os sítios geomorfológicos são considerados em geral feições “estáticas”. No rio Araguaia as barras fluviais são feições que mudam de forma e localização anualmente. Este tipo de sítios geomorfológicos “móveis” necessita de programas especiais de monitoramento conjuntamente com um modelamento hidrológico/geomorfológico. Figura 74 - Estação Aruanã - Vazões médias mensais. Períodos em que se concentram as temporadas turísticas de pesca esportiva e recreação (uso de praias). Dados Hidrológicos: Agência Nacional de Águas ANA. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 89 Figura 75 – Praias ocupadas por turistas no rio Araguaia, proximidades da cidade de Aruanã, GO. 90 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Aruanã População: 8.000 habitantes Altitude: 215 m Distância de Goiânia: 310 Km Distância de Brasília: 505 Km Principais estradas: GO-530/GO-070 e GO-060. 03 20 19 96 95 19 94 19 93 19 92 19 19 19 90 500 400 300 200 100 0 89 Nº de Acampamentos Acampamentos - Área de Aruanã 03 20 96 19 95 19 94 19 93 19 92 19 19 19 90 25000 20000 15000 10000 5000 0 89 Nº de Turistas Turistas - Área de Aruanã Figura 76 – Relação do número de turistas e acampamentos entre os anos de 1989 a 2003. 4.11.2. Chapada dos Veadeiros A Chapada dos Veadeiros constitui parte da SRAI. A norte, as serras são sustentadas por quartzitos do Grupo Araí e a sul estão associadas principalmente aos quartzitos basais do Grupo Paranoá. Nesta área localizam-se as maiores altitudes do Centro-Oeste, atingindo pouco mais de 1700 m na região da Serra da Boa Vista. O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros ocupa uma área de 60.000 ha no nordeste goiano, sendo Alto Paraíso de Goiás, o principal centro urbano. Estende-se a oeste de Alto Paraíso de Goiás, sendo limitado, a leste, pela GO-118, Alto Paraíso - Teresina de Goiás e, a sul pela GO-239, Alto Paraíso - Colinas do Sul. As principais atrações turísticas da região são as grandes cachoeiras com 80 a 120 m de altura, tais como Salto São Domingos, Salto do Raizama, Cachoeira do Cordovil, Cachoeira das Carioquinhas, corredeiras da Pedreira, Carrossel, Vale da Lua, os Canyons I e II, produtos da erosão diferencial das rochas aflorantes. Os circuitos turístico-ecológicos se complementam com uma grande quantidade de trilhas Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 91 de valor cênico/paisagístico. Dardenne e Campos (2000) apresentam um resumo dos principais atrativos geológico-geomorfológicos desta região. 4.11.3. Cidade de Pedra de Pirenópolis Assim foi denominada uma espetacular “pedriza” (termo geomorfológico do espanhol para descrever relevo ruiniforme) na serra de São Gonçalo, localizada a cerca de 15 km ao norte de Pirenópolis, no topo de colinas, na unidade Morros e Colinas com forte controle estrutural e dissecação muito forte (MC-FCE - mfo). A forte erosão exercida no topo das colinas, associada ao marcante controle estrutural de dobras fechadas e tectônica rígida afetou os metassedimentos do Grupo Araxá e mecanismos de intemperismo, originaram esta belíssima paisagem, de grande valor geomorfológico/cênico. (figura 77). Figura 77 - Cidade de Pedra de Pirenópolis - Morfologias ruiniformes de alto valor paisagístico. 4.11.4.Cachoeiras e Corredeiras Um dos maiores potenciais geomorfológicos do estado de Goiás é a existência de cachoeiras e corredeiras de grande beleza cênica que favorecem o turismo convencional e ecológico. A quantidade e a diversidade de cachoeiras são significativas em função da abundância de recursos hídricos superficiais que configuram uma complexa rede de drenagem, que se desenvolve sobre rochas antigas (pré-cretáceas) com forte controle estrutural seccionando diferentes patamares das superfícies regionais de aplainamento. As cachoeiras e corredeiras são geradas por descontinuidades (knickpoints) ao longo do perfil longitudinal de uma corrente fluvial. Em termos gerais, um rio aluvial, pode ajustar seu perfil longitudinal em função do aumento de vazão em direção a jusante e do tipo de carga de sedimentos transportados, de tal forma que a declividade do perfil diminui a jusante adquirindo uma forma ideal côncava. Porém muitos sistemas fluviais cortam litologias mais resistentes ao longo do seu curso, afetando o desenvolvimento ideal do perfil longitudinal, podendo levar a ajustes por sedimentação ou descontinuidades por erosão. O perfil longitudinal de um sistema fluvial também pode ser modificado por alterações do nível de base de um rio 92 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal por questões climáticas ou tectônicas. As cachoeiras e corredeiras são formas erosivas típicas que ocorrem em rios de leito rochoso ou em setores de rios aluviais onde aflora alguma litologia resistente. O termo cachoeira é utilizado quando existe uma queda de água na vertical gerada pelo comportamento diferencial das rochas à erosão. Uma feição característica na área da queda é a presença de uma depressão ou “piscina” (plunge pool) gerada no sopé da mesma causada pela força da própria queda d’água, em particular por processos de cavitação que atuam sobre rochas menos resistentes (Figura 78). Corredeiras referem-se a áreas de menor irregularidade e queda vertical, geralmente em seqüência, se estendendo ao longo de um pequeno trecho do canal. As irregularidades geradas por uma corredeira podem ser anuladas durante as cheias onde as mesmas podem desaparecer cobertas pelo fluxo de água. As regiões da Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis, Caiapônia e Formosa se caracterizam por belas e imponentes cachoeiras (Figura 79). Na cidade de Goiás e na região de Nova Fátima (próxima à Goiânia) existem uma série de córregos com pequenas corredeiras de menor impacto paisagístico, mas freqüentemente utilizadas pelos “turistas de fim de semana”. Figura 78 – Esquema do perfil de uma cachoeira. Figura 79 - Salto do Itiquira - município de Formosa. Queda d’água de 176m. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 93 4.11.5. Águas Termais de Caldas Novas Embora este não seja um fenômeno especificamente geomorfológico está associado a uma geoforma particular, o Pseudo-Domo de Caldas Novas (Figura 48). Tem especial interesse por ser um destacado pólo turístico. O mecanismo de aquecimento das águas é a circulação ao longo de falhas e fraturas. (Anjos et al., 1994; Lugão et al., 2002; Goiás, 2006). 4.11.6.Outras Áreas de Interesse Ocorre ainda uma ampla variedade de áreas com interesse do ponto de vista dos geomorphosites que devem ser estudadas com detalhe. Cavernas e morfologias desenvolvidas sobre rochas calcárias, em relevos cársticos, como no Parque Estadual de Terra Ronca, no nordeste goiano, possuem importância fundamental não só paisagística, mas também científica, tanto do ponto de vista das geociências como das ciências biológicas. Sistemas fluviais de importância como os rios Crixás-Açu, Claro, Vermelho e do Peixe, por exemplo, não foram estudados em detalhe e são pouco explorados do ponto de vista turístico e científico. Destacam-se na região de Paraúna feições erosivas de grande beleza cênica como a Serra das Galés com formas como o cálice, a tartaruga, a ponte de pedra, entre outras, esculpidas pelo vento e pela ação da água. Na serra da Torre em Caiapônia destaca-se a escultura rosto exótico. Embora sem grande beleza e imponência, algumas áreas com morros em forma de mesas da Bacia do Paraná possuem potencial turístico. Os lagos na região centro-sul de Goiás, sobre a SRAIV, também necessitam de estudos. Pouco se conhece sobre o funcionamento deste sistema ecológico, a relação com os sistemas fluviais, capacidade produtiva de peixes e de outros organismos, atuação como sumidouros de dejetos e poluentes e capacidade turística local. 4.12. QUATERNÁRIO O Quaternário é o período mais recente da escala temporal geológica. Estende-se ao longo dos últimos 1,6 milhões de anos e se divide em Pleistoceno (1.600.000 a 10.000 anos antes do presente) e Holoceno (10.000 - atualidade). O Quaternário tem sido caracterizado por uma intensa variabilidade climática cujos máximos expoentes foram os complexos períodos glaciais, de esfriamentos globais, intercalados com momentos de esquentamento generalizado nos períodos “interglaciais”. Porém, as glaciações foram de considerável longitude temporal e por isso, é um erro freqüente imaginar que durante uma glaciação o clima foi homogeneamente mais frio que o atual. Na realidade, as glaciações são definidas por longos períodos de esfriamento generalizado, mas na forma de um trend formado por inúmeras oscilações climáticas menores. Os pulsos de esquentamento e esfriamento que podem ser detectados durante uma glaciação recebem o nome de “estadiais” e “interestadiais”. Geralmente se faz menção as glaciações como a primeira (a mais antiga) e a última (a mais recente). Um erro freqüente na literatura é confundir a Última Glaciação com o Último Máximo Glacial. A Última Glaciação se estendeu entre ~125.000 e 10.000 anos Antes do Presente (A.P.) e é composta de uma série de “estadiais” e “interestadiais”. O último grande avanço glacial (estadial) da Última Glaciação recebe o nome de Último Máximo Glacial (UMG) e se estendeu entre 28.000 e 14.000 anos A.P. Os estudos de Quaternário são essencialmente multidisciplinares. Para poder reconstruir com certa exatidão condições ambientais do passado, é necessária a obtenção de dados geológicos, geomorfológicos, geoquímicos, paleontológicos, arqueológicos entre outros que auxiliam na reconstrução dos cenários do passado. No caso do Estado de Goiás e do Distrito Federal, os estudos do Quaternário são escassos e fundamentalmente restritos a Palinologia e registros arqueológicos. Embora excelentes trabalhos de palinologia foram realizados em alguns pontos da região, principalmente no entorno do Distrito Federal sobre a SRAIIA (o que nos da um marco de entendimento das mudanças climáticas em parte do Pleistoceno tardio – Holoceno) mais estudos que incluam a resposta geomorfológica e o registro de outros dados proxy (morfo-sedimentares e paleoecológicos, como, por exemplo, vertebrados fosseis), são necessários para poder entender melhor a resposta do Cerrado de uma forma mais regional e integral as mudanças climáticas do Quaternário. Os dados mais antigos remontam ao Pleniglacial Médio da Última Glaciação do Pleistoceno tardío (entre 60.000 - 32.000 anos antes do presente). Segundo estudos palinológicos, teria existido uma fase relativamente úmida em parte de Goiás e Distrito Federal e a vegetação teria sido similar á atual. Estudos desenvolvidos na Lagoa Bonita (DF) e Águas Emendadas (Barberi, 2001, Barberi et al, 2000; Salgado-Laboriau, 1997), que se encontram sobre a Superfície Regional de Aplainamento II e em 94 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Cromínia (Salgado-Laboriau et al, 1997), indicam que teria existido um clima frio e úmido na área por volta dos 26.000 anos que se estendeu até ~22.000 anos. O clima se torna mais seco a partir dessa data e a falta de sedimentação nos lagos ficaria registrada aproximadamente entre 21.000 e 19.000 anos atrás. A instalação de um clima provavelmente semi-árido se estende durante parte do Último Máximo Glacial, desde ~20.000 até 13.000 anos a partir do momento em que se registra um retorno a condições mais úmidas embora um pouco mais frias que o atual durante o tardiglacial. Durante o Holoceno se registra um novo período mais seco que o atual em torno dos 7.900 anos onde Lagoa Bonita adquiriu a característica de um pântano, seguramente pela existência de secas mais prolongadas e posteriormente as típicas veredas do Cerrado se instalaram na área por volta dos 6.300 anos chegando a alcançar condições similares as atuais em ~3.200 anos com pequenas flutuações menores entre esses períodos e o atual. Do ponto de vista da arqueologia, os registros mais antigos remontam a 12.000 anos quando o homem ocupou abrigos rochosos na região de Serranópolis (Schmitz et al., 1989). A primeira fase de ocupação conhecida por Paranaíba teria se estendido entre 1.1000 e 8.000 anos atrás e é atribuída a tradição Itaparica. A segunda fase recebe o nome de Serranópolis e se situa entre 8.000 e 5.000 anos A.P. Finalmente a fase Jataí da tradição Umamarca a fase anterior a Tupi Guarani, a mais recente de todas. Até o momento somente foram analisados lagoas e brejos localizados sobre a SRAIIA. Existe um grande potencial para analisar lagoas numa forma integrada entre palinólogos e geólogos do Quaternário (com domínio em Geomorfologia e Sedimentologia) particularmente nas Superfícies Regionais de Aplainamento IV. Outras áreas fundamentais para o estudo do Quaternário são os sistemas fluviais. O Estado de Goiás oferece limitações para estudos de mudanças climáticas quaternárias já que além dos lagos e lagoas, a distribuição dos seus sistemas deposicionais é muito restrita. As planícies fluviais estão pouco desenvolvidas e as mais expressivas se encontram nos principais afluentes goianos do Araguaia. Os estudos dos depósitos fluviais poderiam trazer dados sobre a paleohidrologia do Cerrado já que embora de grande porte, tratam-se de bacias mono-zonais, ou seja sujeitas a somente um regime climático que favorece o entendimento dos sinais paleohidrológicos. Estudos integrados de paleohidrologia e paleocologia (paleontologia de vertebrados, invertebrados e pólen) deveriam ser um desafio multi-institucional para as universidades e organismos de Goiás e Distrito Federal. 4.13. ENCHENTES NA CIDADE DE GOIAS O município de Goiás situa-se em uma área acidentada de transição geológica, entre a Serra Dourada e a Serra do Faina. Localiza-se a 134 km de Goiânia e é banhado pelo rio Vermelho, afluente do rio Araguaia, principal rio da rede hidrográfica que atravessa a cidade de Goiás e tem como afluentes, no perímetro urbano, os córregos Manoel Gomes e Prata. A área histórica da cidade foi declarada Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO e possui uma importância econômica, cultural e turística para o estado. Em dezembro de 2001, uma enchente catastrófica danificou o centro histórico da cidade, afetando mais de 100 edifícios históricos e causando comoção nacional. Foi analisado o comportamento do sistema utilizando dados de geomorfologia fluvial e hidrológicos de cota e vazão disponíveis para a estação Balneário Cachoeira Grande, localizada aproximadamente a 3 km à jusante da área urbana avaliando-se também, sua periculosidade. A cidade limita-se ao sul com a Serra Dourada, a leste e norte com os morros Dom Francisco e Cantagalo respectivamente, e a oeste, direção que o rio Vermelho segue, o terreno é acidentado, mas não apresenta morros. Nesta região, o sistema fluvial se caracteriza pela baixa hierarquização com uma área de drenagem aproximada de 127,6 km² (estação Balneário Cachoeira Grande). O rio corre encaixado sobre rochas pré-cambrianas do embasamento cristalino e apresenta eventuais áreas com planície aluvial pouco desenvolvida. O regime hidrológico do rio Vermelho está caracterizado por picos definidos de enchentes e vazantes acompanhando em parte as precipitações da região. Os picos de cheias, nesta estação hidrológica, ocorrem entre os meses de dezembro e março e o período de estiagem entre julho e setembro, se constituindo em um regime relativamente simples com uma temporada de cheias e outra de seca que está em conformidade com o clima da bacia. As cotas de margens plenas do canal (Q1,5) – a ponto de transbordamento - possui valor teórico de aproximadamente 2,38 m, enquanto a enchente média anual (Q2,33) possui valor aproximado de cota de 2,74 m. A grande enchente de 2001, atingiu um valor de 4,86 m. Foi elaborada também, a curva de duração de fluxo de determinadas descargas do rio Vermelho, na estação Balneário Cachoeira Grande. A percentagem de duração do fluxo da vazão média da série com valor aproximado de 6,18 m³/s e cota correspondente de 1,10 m, está em torno de 84,4% sendo que essas vazões ou fluxos menores acontecem no canal por mais de 300 dias, e em torno de 50 dias os fluxos são superiores a descarga média anual. As vazões de margens plenas, com valor de aproximadamente 38 m³/s tem uma permanência de 1,73% do tempo, o equivalente a 6 dias por ano onde o canal está totalmente Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 95 cheio ou com vazões maiores, sendo que em 98,3% do tempo, as vazões são menores, não ultrapassando o limite do canal. Enchentes foram registradas em diversas ocasiões, sendo de importância a de 1981, embora existam registros de cheias na cidade desde 1782. As enchentes no município de Goiás não são geradas por um processo antropicamente induzido por desmatamento ou uso inadequado da terra, mas sim, um processo natural do sistema e vão continuar afetando a cidade caso não seja elaborado um estudo integrado de manejo da bacia e de minimização sustentada do risco de enchentes. Obras de engenharia realizadas diretamente sobre o canal, na forma que foram construidas recentemente, não oferecem nenhuma solução concreta ao risco de cheias, ficando o município, sujeito a novos eventos críticos. 96 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal CAPÍTULO 5 - MODELOS 5.1. MODELOS DE EVOLUÇÃO DA PAISAGEM: ALTERNATIVAS PARA AS GRANDES UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS DO ESTADO DE GOIÁS E DISTRITO FEDERAL Desde os pioneiros trabalhos de King no Brasil (1956), a teoria dominante na evolução de modelado de longo prazo do ponto de vista temporal, tem sido a de pediplanação (RADAMBRASIL). Ao contrário das discussões geradas em outras regiões tropicais como África e Ásia, o papel dos processos de Etchplanação como contraste ao modelo de King, nunca foi discutido profundamente no Brasil. O papel do intemperismo químico no Brasil, paradoxalmente, esteve associado a estudos de pedologia da escola francesa, que foi seguida por geógrafos brasileiros, predominando uma visão extrema de paisagem estática, gerada sob condições climáticas constantes onde a morfogênese e as mudanças climáticas ocorridas durante o Cenozóico não são levadas em consideração. Enquanto os modelos de pediplanação e a existência de coberturas detrito-lateríticas sobre as grandes superfícies são defendidos por alguns, outros autores propõem que o aplainamento se insere dentro de um modelo de paisagem “estática” onde tudo é gerado por intemperismo químico ao longo de milhões de anos e os elementos modeladores da paisagem como as mudanças climáticas e os efeitos tectônicos não são considerados. Bigarella (2003) e Melo et al., (2005) apresentam uma revisão dos trabalhos desenvolvidos na porção leste do Brasil enfocando a formação das grandes superfícies de aplainamento. 5.2. CONCEITO DE PEDIPLANO DE KING As teorias de planação de Lester King foram desenvolvidas principalmente sobre evidências que este autor obteve na África e que posteriormente veio a aplicar no Brasil (King, 1953, 1957 e 1967). Este modelo baseia-se na existência de movimentos de reativação tectônica rápidos em relação a longos períodos intermediários de denudação e também no tipo de retrocesso que sofrem as vertentes, por retrocesso paralelo, na forma de falésia ou face livre (“free face”) articulando-se no sopé com um pedimento côncavo que cujo ângulo máximo aproximado é de 6º a 7º (figura 80). Com o passar do tempo, os pedimentos coalescem levando à formação de uma extensa superfície aplainada denominada Pediplano, através do processo de Pediplanação. Formas erosivas residuais podem ser encontradas sobre o pediplano na forma de inselbergs. No modelo de King, uma vez que uma superfície de pediplanação começa a se formar, ela evolui e recuando constantemente com poucas modificações até que uma nova fase de levantamento promova o desenvolvimento de uma nova superfície com cota inferior, a qual começa a consumir a superfície pré-existente (figura 81). Desta forma a superfície superior é originalmente mais antiga que a inferior, embora possam as duas continuar a evoluir contemporaneamente. Para King, os períodos de levantamento acontecem fundamentalmente ao longo das margens continentais como resposta isostática aos efeitos de eliminação de carga por erosão. Porém, este efeito não leva em conta os avanços no conhecimento tectônico que se tem sobre o comportamento da crosta à perda de massa por erosão. Embora, críticas possam ser feitas sobre os mecanismos de deformação crustal que iniciariam a geração dos níveis de pediplanação, o modelo de geração de superfícies, por si só, continua sendo utilizado particularmente em áreas associadas a margens continentais passivas. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 97 Figura 80 – Esquema comparativo de Davis e King da evolução de uma vertente. Adaptado de Summerfield (1991). Figura 81 - Formação de um pediplano segundo King. 5.3. MODELO DE PENEPLANAÇÃO DE DAVIS O modelo de ciclo de erosão e formação de uma peneplanície foi elaborado por W.M.Davis entre 1884 e 1899. A influência deste modelo foi muito forte na Geomorfologia do mundo ocidental, até pelo menos a década de 50. Na concepção de Davis, as geoformas poderiam ser analisadas evolutivamente da mesma maneira que um ser vivo, com princípio, maturidade e fim. Em função do estágio evolutivo das geoformas, as paisagens podem ser identificadas dentro de uma seqüência temporal como jovens, maduras ou senis. O ciclo de erosão de Davis (1899 e 1954) assume conceitos relativamente novos para a época, descrevendo sistemas geomorfológicos como sistemas onde circula energia e se realiza trabalho do ponto de vista físico (embora Gilbert tenha feito este tipo de propostas anteriormente). Desta forma, o ciclo de erosão associa o declínio progressivo de energia potencial de um certo relevo elevado sobre o nível do mar a um incremento da entropia à medida que a paisagem é erodida. O modelo assume que as vertentes seriam suavizadas à medida que a paisagem amadurece (ou seja, que diminui a sua energia potencial) diminuindo o gradiente dos vales fluviais (figura 80). Uma das maiores dificuldades para a aceitação deste modelo é o fato de Davis ter assumido que a denudação ocorre sob um constante clima temperado úmido que denominou “normal” ou sobre litologias uniformes. Assume ainda, que os ciclos são iniciados por um levantamento rápido de uma área já relativamente plana seguidos por longos períodos de estabilidade tectônica durante os quais ocorre a denudação. 98 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal O produto final desses prolongados ciclos de erosão é a geração de uma “peneplanície” e o conjunto de processos que geradores desta peneplanície é a “peneplanação”. Este termo é freqüentemente utilizado para descrever uma superfície aplainada, sem outorgar ao mesmo uma conotação genética, o que é um erro grosseiro. Por tanto, ao utilizar o termo “pediplano” tem-se que estar cientes que se refere a gênese de uma superfície de aplainamento no sentido original de Davis. 5.4. MODELO DE ETCHPLANAÇÃO DE BUDEL O modelo de dupla superfície de planação de J. Budel tem menor efeito no ambiente geomorfológico brasileiro, Budel,1982. Em regiões onde existem potentes mantos de saprolito, como nos escudos pré-cambrianos das áreas tropicais, a denudação da paisagem ocorre simultaneamente pela erosão superficial e decomposição química profunda à medida que avança a frente de intemperismo. A combinação dos processos de intemperismo químico profundo e erosão superficial, principalmente laminar - sheet wash, geram um etchplano ou etchsuperfície, sendo denominado de processo de Etchplanação (figura 82). Uma vez que à frente de intemperismo é irregular em profundidade, à medida que se remove o manto de alteração são geradas geoformas, sendo as mais características tors, inselbergs e campos de blocos e matacões formados pelas rochas mais resistentes ao intemperismo químico. Dependendo do equilíbrio entre as taxas de intemperismo e de erosão superficial, uma etchsuperfície pode se manter em relativo equilíbrio, denudada com remoção parcial ou total do manto de intemperismo (stripped etchplain). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 99 Figura 82 - Modelo de Etchplanação de Budel. 5.5. PROCURA DE UM MODELO MAIS INTEGRAL PARA A GERAÇÃO DAS GRANDES SUPERFÍCIES DE APLAINAMENTO NOS TRÓPICOS Sob a óptica de Latrubesse et al. (2005) surgiram vários questionamentos ao se tentar enquadrar as Superfícies de Aplainamento do Estado de Goiás e Distrito Federal aos modelos de evolução de King, Davis e Bundel. Neste trabalho foi adotado o termo geral de superfícies de aplainamento em vez de pediplanos, peneplanos ou etchplanos devido a inferências genéticas destes termos. As Superfícies de Aplainamento são áreas mapeadas regionalmente e a discussão sobre a sua gênese depende das evidências de campo obtidas durante o mapeamento e da interpretação destas. O modelo de pediplanação de King é insustentável uma vez que desconsidera os fatores tectônicos e a influência dos potentes mantos de intemperismo químico (saprolito) e as variações da resistência à erosão oferecida pelos diferentes tipos rochas nos processos que envolvem a geração das grandes superfícies de aplainamento de Goiás. Além disto, o modelo de King falha por não incluir os processos fluviais entre os 100 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal principais processos modeladores para a geração de pediplanos nos trópicos úmidos e savanas, e por restringir o aplainamento à evolução e retrocesso paralelo de vertentes e geração de pedimentos. O modelo de Davis, além dos argumentos indefensáveis, como o da estabilidade climática e tectônica de longo prazo, não contempla a possibilidade de que as vertentes ou escarpamentos possam evoluir por retrocesso (“backwearing”). Considera apenas a suavização das vertentes e incisão (“downwearing”), que não é constatado quando se utiliza as evidências de campo. Esse modelo também não o fator de geração de profundos mantos de intemperismo químico nos trópicos e seu papel auxiliar na geração de superfícies de aplainamento. No modelo de Budel – Etchplanação - o enquadramento não é totalmente satisfatório, embora, seja o que melhor responde a realidade nas áreas tropicais, segundo critério aqui adotado, uma vez que considera o papel dos mantos de intemperismo químico, a variação da resistência das rochas aos processos intempéricos e a possibilidade de erodir de forma dinâmica uma dupla superfície (superfície propriamente dita e subsuperfície); entretanto este modelo somente contempla como processo dominante superficial a lavagem em manto (sheet wash) e não considera o papel das grandes bacias hidrográficas características de áreas tropicais. O modelo de Budel considera que as vertentes fazem parte de um sistema relativamente estático onde a rede fluvial é simplesmente um coadjuvante que se mantém praticamente numa mesma posição não considerando que as vertentes possam realmente retroceder significativamente. O retrocesso das vertentes não é fundamental no modelo de Budel que prioriza a evolução por planação quando são dominantes os processos intempéricos e, de irregularidades no terreno (stripped etchplain) quando predomina a erosão sobre a evolução do manto de intemperismo e subsuperfície. Em Goiás, segundo Latrubesse et al. (2005) ocorre a seguinte situação: a) Potentes mantos de intemperismo desenvolvidos sobre rochas antigas de composições variadas; b) Comportamento variado das rochas quanto à resistência à erosão devido a diferentes estilos de deformações tectônicas e, da composição litológica. c) A existência de densa e complexa rede de drenagem antiga cortando as litologias pré-cretácicas com forte controle estrutural e modificações importantes impostas ao longo do tempo geológico, em particular durante todo o Terciário. d) As reativações tectônicas que atuaram na região desde o início da abertura do Atlântico Sul no Jurássico e da evolução da cordilheira dos Andes, transferindo esforços ao embasamento cristalino e às rochas da Bacia do Paraná durante todo o Terciário causando levantamentos que podem ter sido verdadeiros “gatilhos” geomorfológicos favorecendo a geração de diferentes superfícies de aplainamento regional. Discute-se que as Superfícies Regionais de Aplainamento foram geradas através de mecanismos descritos nos modelos de King, Davis e Budel, além de outros fatores que foram contemplados. Propõe-se denominar esse modelo preliminarmente de Aplainamento Poligênico gerador das Superfícies Regionais de Aplainamento Poligênico. Neste modelo tem um papel importante as unidades denominadas Zonas de Erosão Recuante (ZER), as quais indicam que o sistema fluvial, longe de ser relativamente estático e se encaixar ao longo do tempo simplesmente como um elemento antecedente e superimposto na paisagem, evolui fortemente por erosão recuante, se expandindo à medida que geram rejuvenescimentos da paisagem e o escalonamento das antigas superfícies em cotas mais elevadas. Reativações tectônicas produzem novas declividades regionais que afetam as superfícies de aplainamento mais antigas e, portanto, rejuvenescem a estruturação, e não somente o encaixamento, das redes de drenagem. Desta forma, à medida que uma ZER evolui, recua também a frente do escarpamento que sustenta a superfície pré-existente e a vai gerando um agrupamento complexo denominado de Morros e Colinas, que vai sendo erodido ao longo do tempo, (figuras 38 e 86). A erosão do saprolito da superfície original contribui para que os sistemas fluviais possam se encaixar e evoluir recuantemente, o que é quase impossível se tivessem que erodir rochas não alteradas. À medida que progride a erosão recuante, formam-se morros e colinas constituídos por rochas mais resistentes à erosão. Estes altos topográficos podem persistir por longo tempo separados da zona de erosão recuante, enquanto outros serão erodidos paulatinamente de modo que a região mais distal da ZER vai tomando uma configuração similar à de uma peneplanície, drenada por sistemas fluviais com vertentes e vales amplos. Como exemplo de sistemas de drenagem da bacia do rio Araguaia, o rio Crixás-Açú corta os marcantes lineamentos da falha do rio dos Bois e a estrutura circular tão nitidamente visualizada na cartografia geológica, capturando e erodindo esta estrutura e anexando essa área à SRAIVC, produzindo uma conexão ao oeste-noroeste em direção à bacia do rio Araguaia, enquanto o resto da drenagem no interior da estrutura continua a fluir em direção norte, para a bacia do rio Tocantins, figura 83. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 101 Figura 83 - Embora exista uma estrutura muito marcada como o sistema de falhas do Rio dos Bois, a rede de drenagem do rio Crixás-Açu penetra por trás da estrutura esvaziando-a (erodindo) e anexando esta área à SRAIVCI em detrimento da drenagem original em direção norte, da SRAIVA. Outro exemplo que ilustra claramente este fenômeno é observado na serra Dourada de Goiás onde o sistema fluvial penetra como uma anomalia por trás da estrutura de cristas e hogback, aplainando uma ampla área. Essa área é drenada em direção à bacia do vale do rio Araguaia e anexada forçadamente à SRAIVC em detrimento da SRAIVB que é drenada em direção à bacia do rio Paraná (figura 84). Nestes exemplos fica muito claro que para gerar grandes superfícies de aplainamento nos trópicos deve ser considerado os sistemas fluviais como agentes erosivos; segundo o modelo aqui proposto estes sistemas são ativos e a componente evolutiva recuante é importante (downward). 102 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Figura 84 – Captura da SRAIVC sobre a SRAIVB pelo sistema de drenagem da bacia hidrográfica do rio Araguaia na Serra Dourada de Goiás ao longo do rio Claro. A SRAIVC (C) se encontra representada por trás das colinas e hogbacks da Serra Dourada (D e E). Em alguns setores ocorrem simultaneamente processos que poderiam ser totalmente enquadrados no modelo de recuo paralelo de vertentes de King, como nas frentes de alguns chapadões no norte do estado. Nestas frentes são encontrados pedimentos que formam parte da SRAIVA sopé das falésias (“free face”) que conectam a SRAIV com as superfícies mais antigas como as SRAI e IIA. Este tipo de contato direto pode ser visualizado ao sul do Vão do Paranã onde a SRAII se articula diretamente com a SRAIV. Existem situações similares às propostas por King, embora para explicar uma evolução das vertentes e a geração de uma superfície aplainada, deve ser considerado o intemperismo químico como um fator importante na evolução das paisagens, como proposto por Budel, figura 85. Figura 85 – Evolução de vertentes em Goiás segundo o modelo de King - contato da SRAIIA com a SRAIVA (Vão do Paranã). Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 103 Figura 86 – Esquema de evolução da paisagem no modelo de geração de superfícies de aplainamento poligênicas com destaque para a evolução das ZER. 104 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NEZIANI, P.; RIBEIRO, F.M. 1994. O controle estrutural-tectônico do aqüífero Caldas Novas - GO. 38ª Congresso Brasileiro de Geologia, Balneário Camboriú, cterização geológica e químico-mineralógica dos depósitos coluvionares região de Diamantina (MG). Belo Horizonte, 2004. 167 p. Dissertação to de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais da S. et al. Morfologia do relevo e ocorrências erosivas lineares na alta bacia do O. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA APLICADA, 10., 2003, Rio de eiro, 2003. LGADO-LABOURIAU, M. L.; SUGUIO, K. Paleovegetation and paleoclimate of Emendadas, Central Brazil. Journal of South American Earth Sciences, v.13, . 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Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 113 114 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal ANEXOS Perfis das principais unidades geomorfológicas do Estado de Goiás, elaborados a partir de modelos digitais do terreno (SRTM), combinando informações topográficas, geológicas e geomorfológicas. A figura 87 mostra a localização dos doze realizados. Os números em cada perfil representam as respectivas figuras como especificadas ao longo do texto. I - Morrinhos II - Aruanã III - Bandeirantes - Luiz Alves IV - Goiás V - Mineiros Figura 87 - Perfis realizados ao longo do Estado de Goiás. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 115 116 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Perfil 1 – Goiânia - Brasília. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 117 Perfil 2 – Brasília - Formosa. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. 118 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 3 SW 700 600 500 1000 900 800 (M) 15°29’52.50’’ 47°7’4.50’’ SRAII - A - Fr 50 15°5’4.50’’ 47°5’7.50’’ 100 SRAIV - A - DMFr 150 14°24’25.50’’ 46°26’49.50’’ SRAIV - A - DMFr ZER - DMFo 200 ZER - DMFo Calcário/Siltito(Grupo Bambui/Form. Lagoa do Jacaré) Metassiltito/Dolomito/Calcifilito (Grupo Paranoá/Faixa Brasília) Calcário/Dolomito/Folhelho(Grupo Bambui/Form. Sete Lagoas) Calcário/Siltito/Argilito(Grupo Bambui/Paraopebas Indiviso) Tqdl - cobertura detrito-laterítica SRAII-A = Superfície Regional de Aplanamento II-A (900-1000m);SRAIV-A(500-600m) ZER = Zona de Erosão Recuantes (600-900m) DMFr = Dissecação Muito Fraca DFr=Dissecação Fraca DMFo= Dissecação Muito Forte 14°48’49.50’’ 46°42’13.50’’ Perfil Formosa(3) - Posse(4) NE 4 (Km) Perfil 3 – Formosa - Posse. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 119 Perfil 4 – Posse - Nova Roma. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. 120 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal NE 13°37'16.50"S 47°0'52.50"W 50 13°51'52.50"S 47°17’25.50"W 1600 Figura 38 1400 Figuras 30-31 Figura 43 1200 SRAII - A - Dfr Figura 42 1000 5 800 SRAIV - A - Dfr 700 400 (M) 14°9'46.50"S 47°32'49.50"W 150 14°12'37.50"S 47°57'52.50"W ZER - DMFo 200 14°26'43.50"S 48°13'4.50"W SRAIII - A - Dfr (Km) 250 SW 6 Metadiorito/Metatonalito (Rift Intracontinental/Complexo Diorito-Granodiorito do Rio Maranhão) Metassiltito/Dolomito/Calcifilito (Faixa Brasília/Grupo Paranoa) Paraconglomerado/Quartzito (Faixa Brasília/Grupo Paranoa) Metassiltito/Mármore/Filito (Rift Intracontinental/Form.Trairas/Grupo Arai) Metaconglomerado/Quartzito/Andesito (Grupo Araí/Form.Arraias/Rift Intracontinental) Ortognaisse/Granito-Gnaisse (Complexo Granito-Gnaissico) SRAI = Superfície Regional de AplanamentoI (1200-1600m);SRAII-A (1000-1200m);SRAIII-A (>400m);SRAIV -A (400m) ZER = Zona de Erosão Recuante (700-800m) DFr = Dissecação Fraca DFo =Dissecação Forte DMFo = Dissecação Muito Forte 100 Figuras 11-63 Figura 14 SRAI Figura 13 Figura 12 SRA II - A - Dfo Perfil Nova Roma (5) - Niquelândia (6) Perfil 5 –Nova Roma - Niquelândia. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 121 L 750 700 6 650 600 550 500 450 (M) o 14 27´28.50´´S o 48 32´25.50´´W SRAII-DM 20 o 14 29´22.50´´S o 48 42´28.50´´W Figura 23 o 14 30´1.50´´S o 48 52´25.50´´W 60 o 14 33´31.50´´S o 49 2´25.50´´W Figura 25 80 (Km) W 7 Tqdl - cobertura detrito-laterítica Quartzito/Calcixisto /Calcário (Faixa Brasilia /Serra da Mesa Indivio /Grupo Serra da Mesa/ Serra Dourada) Calcário (Grupo Paranoa) Metadiorito/Metatonalito )Complexos Indiferenciados) SRAII = Superfície Regional de Aplanamento II (600-750m);SRAIII (450-600m) DM = Disseca~c”ao M[edia Dfo = Disseca~c”ao Forte 40 SRAIII-DM Perfil Niquelândia (6) - Uruaçu (7) Perfil 6 - Niquelândia - Uruaçu. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. 122 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal S 600 550 7 500 650 700 (M) 14°18´13.50´´S 49°10´28.50´´W 5 SRAIII-DFr 14°20´43.50´´S 49°10´10.50´´W 10 SRAIII-DFr 15 14°25´43.50´´S 49°10´1.50´´W SRAIII-DM 20 14°28´13.50´´S 49°10´1.50´´W SRAIII-DM 25 8 (Km) N Tqdl - Cobertura detrito-laterítica Cordierita /Silimonita Gnaisse /Granito Gnaisse (Complexos Indiferenciados/ Complexo Granulítico Uruaçu Quartzito/Calcixisto/Calcário (Faixa Brasília/Serra da Mesa Indiviso/Grupo Serra da Mesa/Serra Dour ada) SRAII = Superfície Regional de Aplanamento II (600-700m) - SRAIII (500-550m) Dfr = Dissecação Fraca DM = Dissecação Média 14°23´13.50´´S 49°10´1.50´´W SRAII-DFr Perfil Uruaçu (7) - Campinorte (8) Perfil 7 - Uruaçu - Campinorte. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 123 Figura 33 autores. Perfil 8 –Campinorte - Santa Teresinha de Goiás. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos 124 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal N 900 800 700 600 500 400 9 (M) 14°27'1.50"S 49°46'37.50"W 20 SRAIII-DM 14°30'13.50"S 49°54'19.50"W 40 14°36'49.50”S 49°54'1.50"W SRAIII-DFo 14°40'37.50"S 49°46'19.50"W 80 14°49'10.50"S 49°42'37.50"W SRAII-DFo Ortognaisse/Granito Gnaisse (Complexo Granitico-Ganaissico) Quartzito/Calcixisto/Calcário (Grupo Serra da Mesa/Serra Dourada Gnaisse Tonalitico (Complexo Granitico-Gnaissico) Metabasalto/Xisto (Grupo Crixás/Form. Rio Vermelho) Tqdl - Cobertura detrito-laterítica Xisto/Metachert/Metatufo Mafico (Seq.Metavulcanossedimentar/Mara Rosa) Biotita Gnaisse (Granitos Sintectonicos) 10 (Km) 100 14°53'22.50"S S 49°35'40.50"W SRAIII = Superfície Regional de Aplanamento III (400-500m); SRAII (600-900m) DM = Dissecação Média DFo = Dissecação Forte 60 SRAIII-DFo Perfil S. Terezinha de Goiás (9) - Itapaci (10) autores. Perfil 9 - Santa Teresinha de Goiás - Itapaci. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 125 Perfil 10 – Itapaci - Piranhas. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. 126 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal (M) N 900 800 700 600 SRAIII-DM 500 11 400 16°35'22.50"S 51°43'46.50"W 50 100 X 17°25'22.50"S 51°53'19.50"W SRAII-DM X 150 X Xisto/Anfibolito (Seq. Vulcanometassedimentar/Faixa Brasilia) Basalto/Arenito (Grupo Paraná/Form.Serra Geral) Areia fina a grossa (Form. Superficiais) Arenito/Folhelho/Siltito (Grupo Parana/Form. Ponta Grossa) Tqdl - Cobertura detrito-laterítica Biotita Gnaisse (Granitos Sintectônicos) Alcaligranito/Monzogranito/Sienogranito (Granitos Pós-tectônicos) SRAII = Superfície Regional de Aplanamento II (600-900m); SRAIII (400-500m) DM = Dissecação Média 17°0'25.50"S 51°50'31.50"W SRAII-DM SRAII-DM Perfil Piranhas (11) - Jataí (12) X X 12 (Km) 17°48'37.50"S S 51°44'43.50"W X SRAII-DM Perfil 11 - Piranhas - Jataí. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal 127 Perfil 12 – Jataí - Edéia. O mapa mostra a localização dos perfis e os retângulos em cinza referem-se a estudos realizados anteriormente pelos autores. 128 Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal Superfícies Regionais de Aplainamento I e IV Serra do Tombador - Município de Cavalcante - GO Superfície Regional de Aplainamento II, Zona de Erosão Recuante e Superfície Regional de Aplainamento IVA Serra Geral do Paranã - Municípios de Formosa e Planaltina - GO SÉRIE GEOLOGIA E MINERAÇÃO 2 Geomorfologia Goiás e Distrito Federal Geomorfologia - Goiás e Distrito Federal 2006