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Ev14a.3 - Vias De Transporte - Aula 1 E 2

VIAS DE TRANSPORTE: Construção e Logística

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1    4                    VIAS DE TRANSPORTE:  Construção e Logística      Prof. Msc. Benedito Carlos de Oliveira Jr  Prof. Msc. Fábio Tadeu Alves    UNIBAN ‐ Engenharia Civil  2011       2    O TRANSPORTE INTERMODAL (Este texto é uma adaptação do capítulo de revisão bibliográfica da tese de mestrado de Ana Cristina da Silva Pereira)   Transportar significa mover pessoas e/ou mercadorias de um ponto a outro. O meio em que se dá o transporte é  que  influencia  o  tipo  de  veículo  a  ser  usado  para  tal  e  é  a  este  meio  que  se  dá  o  nome  de  modal.  O  meio  de  transporte ou modal pode ser:  ‐ por água ‐ usando navios, barcaças ou barcos;  ‐ por ar – aviões ou helicópteros;  ‐  por  terra  –  através  de  trens  ferroviários,  caminhões  rodoviários,  dutovias  ou  correias  transportadoras,  ou  ainda,  em áreas mais atrasadas, através de tração animal ou ainda, por seres humanos.      As  transferências  de  mercadorias  ou  pessoas  podem  ser  intra  ou  intermodais,  sendo  diferentes  entre  si  e  não  mutuamente  exclusivas.  A  transferência  intramodal  é  aquela  feita  entre  diferentes  veículos  pertencentes  a  um  mesmo modal, como por exemplo: a transferência de um baú de um caminhão para o outro. Segundo Muller (1995,  p.2):    “Usualmente,  a  transferência  intramodal  é,  operacionalmente,  mais  simples  de  ser  feita  porque  os  veículos  são  similares.  Já  o  transporte  intermodal  envolve  a  transferência  de  uma  carga  única  entre  diferentes  veículos  em  diferentes  modais  e  tem  por  vantagem  aproveitar  o  que  de  melhor  cada  modal  pode  oferecer  com  o  objetivo  de  aumentar a eficiência no processo de transporte e reduzir custos enquanto oferece um serviço bastante competitivo.”      A  expressão  transporte  intermodal  traduz  o  processo  de  se  levar  cargas  diretamente  da  origem  ao  destino,  envolvendo  dois  ou  mais  diferentes  modais,  de  tal  modo  que  todas  as  etapas  de  transporte,  incluindo  a  troca  de  informações, sejam eficientemente conectadas e coordenadas oferecendo flexibilidade para quem as usa. De acordo  com este conceito, a troca entre modais é considerada contínua e parte do processo logístico integrado, sob a égide  legal de um documento único de transporte. Segundo Wood e Johnson1 (1993, p.4), “...acredita‐se que a maioria dos  usuários  de  serviço  de  frete  façam  suas  escolhas  de  transporte  como  uma  parte  do  processo  logístico  ou  da  estratégia de distribuição física”.    A intermodalidade, dependendo sob que ótica é analisada, pode ser vista como um problema, um desafio ou uma  ferramenta. Muller (1995, p.2) cita que: “Pode ser um problema, se considerarmos as dificuldades de se transferir  mercadorias entre diferentes veículos de diferentes modais, como por exemplo: entre navios e trens ferroviários”.  Não  somente  porque  os  veículos  têm  formatos  diferentes,  com  diferentes  métodos  de  carregamento  e  descarregamento,  mas  também  porque  as  mercadorias  estão  sujeitas  a  esforços  diversos  àqueles  inerentes  ao  transporte em um só modal. Ou seja, existem problemas tanto de diferentes condições de carregamento, como de  transferência física.    O desafio da intermodalidade é manter as mercadorias em constante movimento. Seu objetivo principal é manter  um  fluxo  contínuo  através  de  todo  o  processo  de  transporte  e  transferências,  reduzindo  atrasos  quando  as  mercadorias  devem  ser  transferidas  de  um  modal  a  outro.  Se  este  movimento  é  interrompido  em  algum  ponto  durante o transporte ou nos pontos de troca intermodal, o que passa a ocorrer é armazenagem intermediária e não  intermodalidade.  A intermodalidade também pode ser considerada como uma potente ferramenta. Neste caso, particularmente para  embarcadores,  por  proporcionar‐lhes  diferentes  opções  em  termos  de  rotas,  especialmente  em  momentos  de  mercados aquecidos e em constantes mudanças.                                                               1    WOOD, Donald F., JOHNSON, James C. Contemporary transportation. 4.ed. New York : Macmillan Publishing Company, 1993.  3    A  intermodalidade  cria  oportunidade  de  redução  de  custos,  por  oferecer  possibilidades  de  escolha  de  diferentes  combinações de transportadoras e veículos que oferecem serviços mais baratos e eficientes, forçando, em mercados  desregulamentados,  a  competição  entre  diversas  empresas  transportadoras,  através  de  tarifas  mais  baixas  e  melhores serviços.    O transporte intermodal envolve grandes componentes, como: infraestrutura física, meios de transportes e sistemas  de  comunicação.  De  todos  esses  grandes  componentes  associados  ao  processo  de  transporte  de  cargas,  o  uso  de  avançados  sistemas  de  comunicação  para  a  transmissão  de  dados  e  outras  formas  de  informação  foi  o  que  experimentou o mais rápido avanço em termos de tecnologia nos últimos anos. Há alguns anos atrás, por exemplo,  nos casos de transporte aéreo era comum que as mercadorias chegassem antes dos documentos para liberá‐las.    Atualmente, com o desenvolvimento dos sistemas de informação e comunicação, especialmente a troca eletrônica  de dados (EDI – Eletronic Data Interchange) por toda a cadeia, esta situação quase não mais ocorre. Documentos e  informações  sobre  mercadorias  transportadas  devem  ser  trocados  entre  embarcadores,  consignatários,  destinatários,  transportadores,  operadores  de  terminal,  agências  do  governo  e  facilitadores  do  transporte,  tais  como:  empresas  de  transporte  intermodal,  consolidadores  de  carga2  e  brokers3.  O  acompanhamento  do  fluxo  de  informações em embarques intermodais é tão importante quanto o acompanhamento do transporte intermodal e  da transferência de carga em si.    REGULAMENTAÇÃO GOVERNAMENTAL  Quanto  à  regulamentação  governamental,  a  literatura  (MULLER,  1995)  sugere  que  ela  limita  e  dificulta  a  intermodalidade  e  que  a  desregulamentação  liberaliza  e  facilita  a  intermodalidade.  Em  geral,  a  regulamentação  governamental de qualquer empresa comercial tende a torná‐la menos flexível e incapaz de responder rapidamente  às mudanças de ambiente. Em alguns países, como por exemplo, Austrália, Canadá e Inglaterra, onde o sistema de  regulamentação  de  transportes  é,  em  geral,  menos  restritivo,  o  transporte  intermodal  desenvolveu‐se  mais  rapidamente do que em outros países – incluindo EUA.    A  regulamentação  governamental  não  é  universalmente  vista  como  um  impedimento  ao  desenvolvimento  do  transporte.  De  tempos  em  tempos,  especialmente  quando  o  número  de  transportadores  atinge  um  número  demasiadamente  pequeno,  próximo  a  um  monopólio  ou  oligopólio,  há  a  necessidade  de  se  fazer  uma  rígida  regulamentação do setor.    De acordo com Muller (1995, p. 26):  “Alguns especialistas julgam, ainda, que alguns itens como: responsabilidade do transportador e segurança, devem  ser  mantidos  sob  controle  governamental  para  assegurar  ao  transporte  intermodal  uniformidade  e  proteção  ao  embarcador.  Por  fim,  há  aqueles  que  avaliam  que  com  o  crescimento  da  importância  do  transporte  intermodal  cresce também a necessidade de maior regulamentação sobre a atividade, com o intuito de garantir a uniformidade  do serviço e a cooperação, ao invés, do antagonismo e competição naturais existente entre os diversos modais”.4    TIPOS DE CARGAS  Antes de estudarmos cada tipo de modal, cabe descrever como são classificadas as cargas a serem transportadas.                                                               2   Os  consolidadores  ou  angariadores  de  carga  são  pessoas  e/ou  empresas  especializadas  em  captar  cargas  no    mercado,  que  sozinhas  não  teriam volume suficiente para conseguir fechar um contrato de transporte com bons preços diretamente com o transportador, e as agrupa de  modo a obter tal volume.    3  Os brokers atuam como uma espécie de bolsa de tonelagem de carga no mundo, passando informações sobre cargas e espaços em modais  disponíveis no mercado para os transportadores.    4     Tradução livre da autora.  4    Às  mercadorias,  durante  o  processo  de  transporte,  dá‐se  o  nome  de  carga.  Elas  podem  ser  sólidas,  líquidas  ou  gasosas, podem ser inertes ou voláteis, frágeis ou perecíveis ou até mesmo vivas ou mortas. Há uma infinidade de  variações de formatos, tamanhos, densidade e pesos. Mas, de um modo geral, elas são divididas em três tipos de  carga:  geral,  granel  e  neo‐granel.  Originalmente,  existiam  apenas  duas  grandes  categorias,  geral  e  granel.  No  entanto,  avançados  conceitos  de  transporte  e  design  de  veículos  fizeram  surgir  um  terceiro  tipo  de  categoria,  comumente chamada de neo‐granel.    Carga  geral  pode  ser  definida  como  sendo:  produtos  semi  ou  acabados  como:  aparelhos  elétricos,  produtos  eletrônicos, maquinário, mercadorias embaladas e veículos. Bons exemplos de carga a granel são: carvão, petróleo,  gases, grãos e minérios ferrosos ou não. Para o autor, a transferência de carga a granel de um modal para outro é  normalmente  mais  simples  do  que  a  de  cargas  gerais,  tornando  mais  fácil  de  obter  a  continuidade  do  fluxo  de  mercadorias,  a  menos  que  algum  tipo  de  armazenagem  seja  realmente  requisitado.  Cargas  a  granel  são  frequentemente  transportadas  em  correias,  bombeadas  de  caminhões‐tanque  para  navios,  ou  de  navios  para  dutovias, despejadas de vagões em barcaças, sugadas de navios ou caminhões ou barcaças. Como se pode perceber,  cargas a granel são movidas em grandes quantidades independentes do modal que as transportam.    O  neo‐granel  envolve  o  embarque  de  diferentes  tipos  de  granel  e  outras  formas  de  cargas  homogêneas  em  um  mesmo  veículo,  mantendo  sua  separação  durante  todo  o  processo  de  embarque,  transporte  e  desembarque  das  mercadorias.  Podemos  citar  como  exemplo  de  utilização  deste  tipo  de  carga,  o  que  ocorre  com  as  companhias  petrolíferas,  que  usam  neo‐granel  para  transportar  diferentes  tipos  de  cargas  de  petróleo  em  um  único  navio,  chamado de parcel tanker. Outras formas de neo‐granel incluem placas de aço, bananas, sucatas, papel e produtos  refrigerados.    Containerização  Ao se falar em tipos de carga, é importante citar a carga containerizada porque, em geral, o transporte intermodal é  muito  facilitado  pela  utilização  de  cargas  containerizadas,  muito  embora  a  containerização  não  seja  propriamente  um tipo de carga por si só, posto que qualquer uma das três categorias pode ser transportada em containers, nem  tampouco containerização seja sinônimo de intermodalidade. Pode‐se dizer que carga containerizada é aquela carga  “embalada” em containers.    São cargas unitizadas protegidas de intempéries e de roubo, sendo de fácil manuseio ao longo dos diversos modais.  Existem vantagens de se usar o frete containerizado, vejamos uma delas:  Originalmente, containers foram introduzidos na maioria dos modais dentro do conceito intramodal, ou seja, para,  por  exemplo,  facilitar  que  a  carga  fosse  embarcada  em  um  próximo  caminhão.  Atualmente,  esse  conceito  de  benefício  intramodal  pode  ser  expandido  para  o  intermodal.  Tomemos  como  exemplo  os  navios  oceânicos.  O  carregamento  e  o  descarregamento  de  containers  podem  ser  feito  com  a  ajuda  de  guindastes  de  terra  sem  que  necessariamente eles sigam para outro modal diretamente. Após a partida do navio, a carga pode ser quebrada em  outras menores no próprio porto e transferida para o próximo modal, reduzindo, assim, o tempo do navio no porto e  permitindo maior aproveitamento em viagem no mar.    Existem algumas desvantagens para o uso de containers, como seu alto custo de aquisição, aluguel e reparo, bem  como  sua  armazenagem  e  viagem  de  retorno.  O  volume  de  containers  transportados  simultaneamente  é  alto  de  modo a alcançar economias de escala com a containerização. A utilização de containers também tem a desvantagem  de limitar o tamanho da carga a ser transportada e a necessidade de utilização de equipamentos especiais de alto  custo para seu manuseio, limitando as cargas àquelas de alto valor agregado e baixa densidade.                  5    TIPOS DE MODAIS  A  estrutura  de  transportes  de  cargas  é  composta  por  cinco  modais  (ou  modalidades)  principais:  rodoviário,  ferroviário, aquaviário – subdividido em marítimo ou de cabotagem e hidroviário ou interior ‐ aéreo e dutoviário.   Cada modalidade tem suas características, vantagens e desvantagens próprias, as quais destacaremos a seguir.    Modal Rodoviário  O  crescimento  e  a  difusão  da  utilização  do  modal  rodoviário  podem  ser  explicados  pela  característica  de  serviço  inerente ao modal. Um caminhão é capaz de carregar quase todos os tipos de produtos e, em geral, o faz. Não há  para caminhões restrições tais como: trilhos, localização de aeroportos ou mesmo vias navegáveis, para que se possa  fazer uma entrega precisa‐se tão somente de uma rua, esteja ela pavimentada ou não.    A vantagem da acessibilidade dos caminhões é evidente no caso de coleta e entrega de mercadorias na área urbana,  por exemplo. A maior vantagem do modal rodoviário sobre as outras formas de transporte é essa sua capacidade  física de prover o serviço de entrega porta a porta. Por este motivo o modal rodoviário torna‐se essencial em um  sistema  de  alimentação  dos  demais  modais,  porque  ao  flexibilizar  os  locais  de  entrega,  pode  facilmente  transferir  mercadorias de um modal ao outro, caso estes não estejam interligados diretamente. Esta característica é ressaltada  por Coyle, Bardi e Novack5 (1994) ao afirmar que caminhões fazem a ponte entre os pontos de coleta e de entrega e  as instalações de outros modais, dando‐lhe a denominação de “coordenador universal”.    Por outro lado, podem‐se identificar como desvantagem suas limitações de tamanho e de velocidade, dado que a  rodovia é compartilhada com outros usuários. Isto faz com que este modal seja mais indicado para transportes de  pequenas  e  médias  distâncias,  não  conseguindo  em  longas  distâncias,  por  exemplo,  competir  com  ferrovias  em  termos de prever com precisão o tempo de entrega, dada sua velocidade inconstante. No entanto, atualmente, este  modal é amplamente utilizado também para viagens longas. Apesar de ser mais apropriado para pequenas e médias  distâncias, sendo inclusive muito rápido nestes casos, o modal rodoviário pode ser vantajoso se contabilizarmos o  tempo total de trânsito de mercadorias e o tempo gasto com as transferências intermodais necessárias para entrega  porta  a  porta.  Deve‐se  atentar  também  ao  fato  de  que  o  custo  de  manutenção  das  rodovias,  ao  ser  utilizado  por  outros  usuários  que  não  os  transportadores  de  cargas,  são  diluídos  por  todos,  reduzindo  assim  os  encargos  sobre  este último. Outro ponto a favor do modal rodoviário é que, tradicionalmente, os transportadores rodoviários têm  se caracterizado pela capacidade de prover serviços de bom nível a seus clientes. Por bom nível de serviços entende‐ se um conjunto de características, dentre as quais se destacam:    ∙ Tempo de entrega – espaço de tempo entre o momento em que o transportador coleta a mercadoria e o momento  em que faz sua entrega;    ∙ Entrega no tempo – significa entregar a mercadoria no momento esperado, nem antes, nem depois;    ∙  Acessibilidade  –  significa  a  habilidade  de  atingir  diversas  localidades  tanto  para    coleta  quanto  para  entrega  de  mercadorias.    Se  compararmos  os  serviços  prestados  pelo  transportador  rodoviário  e  pelo  ferroviário,  poderemos  notar  que  os  tempos  de  entrega  serão,  em  geral,  menores  para  um  caminhão,  particularmente  se  as  distâncias  origem‐destino  forem  curtas,  inferiores  a  1.000  Km.  Além  do  que,  o  caminhão  representa  uma  unidade  de  carregamento  menor,  tornando  o  volume  de  mercadoria  a  ser  manuseado  mais  conveniente  especialmente  para  produtores  de  menor  porte,  que  podem,  assim,  embarcar  com  maior  frequência.  O  menor  lote  de  embarque  em  caminhão  fornece  ao  fornecedor e ao cliente o benefício de menores níveis de estoques e menores custos de carregamento de estoque,  além de maior frequência de serviço.                                                                 5    COYLE, John Joseph, BARDI, Edward J., NOVACK, Robert A. Transportation. 4.ed. St. Paul, MN : West Publishing Company, 1994.  6    Outra  característica  positiva  do  transporte  rodoviário  é  sua  característica  de  ser  “macio”,  ou  seja,  o  fato  dos  caminhões  usarem  um  bom  sistema  de  suspensão  e  rodarem  sobre  pneus  implica  em  menor  risco  potencial  de  danos à carga durante o transporte, reduzindo assim a necessidade de embalagens especiais e consequentes custos.    Equipamentos    A maior parte das vantagens relativas ao serviço prestado pelo modal rodoviário se deve às características técnicas  dos  equipamentos  utilizados  no  transporte,  em  particular  do  caminhão.  O  alto  grau  de  flexibilidade,  a  relativa  tranquilidade  da  viagem6  e  capacidade  de  prover  transporte  para  pequenos  lotes  podem  ser  consideradas  características únicas que  resultam em  maior acessibilidade, frequência  de entrega e  coleta, segurança  da carga e  menor  tempo  de  trânsito  total.  Um  caminhão  pode  ser  carregado  rapidamente  e  partir  com  um  ou  dois  baús,  enquanto que o trem precisa coletar um número mínimo de vagões (unidades de carga) para que possa partir, pois  estas  unidades  formam  a  composição  que  será  tracionada  por  uma  mesma  locomotiva.  Essa  disponibilidade  do  caminhão de operar com apenas uma unidade de carga separadamente elimina o gasto de tempo incorrido na coleta  de várias unidades, como no caso da composição ferroviária.    Outra  dimensão  que  demonstra  a  flexibilidade  do  equipamento  básico  do  modal  rodoviário  reside  no  fato  de  um  caminhão  não  ficar  restrito  ao  tráfego  em  rodovias.  Diferentemente  dos  modais  ferroviário  e  aquaviário,  cujos  serviços ficam restritos a suas vias específicas, um caminhão pode atingir qualquer local que seja servido por uma  rua ou estrada.     Os  veículos  de  transporte  rodoviário  podem  ser  divididos  em  duas  categorias:  os  caminhões  para  transporte  de  longas distâncias7 e caminhões para cidade. A diferença básica entre eles é o tamanho. Em geral, os caminhões para  transporte de longas distâncias são maiores e são combinações de cavalo e  baú com  três eixos ou mais e os para  transporte  nas  cidades  são  pequenos  veículos,  onde  cavalo  e  unidade  de  carga  formam  um  conjunto  único.  Os  autores,  ainda,  apresentam  uma  lista  de  veículos  especiais,  como:  vans,  baús  open‐top8,  veículos  refrigerados,  caminhões‐tanque e caminhões plataforma9.    Modal Ferroviário  Uma das principais características do modal ferroviário é a necessidade de manutenção de grande infraestrutura fixa  de  operação,  que  demanda  grandes  investimentos  em  manutenção  de  equipamentos  como:  trilhos,  dormentes,  estações e sinalização. Isto significa dizer que grande parte dos custos de operação das ferrovias é fixo, gerado pelas  condições de tempo e de idade, independente de sua utilização, em consequência, uma estrutura ferroviária é muito  suscetível a ganhos com economia de escala. À medida que o volume de utilização cresce, o custo unitário fixo reduz  proporcionalmente.  A  restrição  do  modal  ferroviário  no  que  diz  respeito  a  limitação  de  operação  à  sua  via  permanente  faz  com  que  a  ferrovia  tenha  diferentes  níveis  de  serviço  dependendo  das  características  de  seus  clientes. Por exemplo, se ambos embarcador e destinatário possuírem desvios ferroviários, então o serviço porta a  porta  poderá  ser  feito.  No  entanto,  se  a  malha  ferroviária  não  estiver  disponível  para  ambos,  o  movimento  das  mercadorias deverá ser completado por outro tipo de modal.    Uma  importante  característica  deste  modal  é  permitir  a  utilização  de  veículos  especializados  que  podem  cruzar  longas  distâncias  carregando  grandes  quantidades  de  carga  a  alta  e  constante  velocidade,  sendo  assim  bastante  apropriado  ao  transporte  de  grandes  volumes  de  carga  granel  ou  containerizada.  Diferentemente  do  modal                                                               6  Do original: “Smooth ride” COYLE, BARDI E NOVACK (1994, p.142)    7  Do original: “Line‐haul trucks”, COYLE, BARDI E NOVACK (1994, p.143)  8  Baú open‐top – Tipo de baú de caminhão sem a parte superior, que permite o transporte de mercadorias acima de sua altura.    9    Caminhão plataforma – Caminhão cujo trailer não possui parte superior nem laterais.  7    dutoviário  que  também  transporta  esse  tipo  de  mercadoria  em  apenas  um  sentido,  o  modal  ferroviário  permite  viagens de ida e volta, aproveitando melhor sua via permanente.    Por  estes  motivos,  o  modal  ferroviário  está  voltado  basicamente  para  o  transporte  por  longas  distâncias  de  mercadorias de alto peso e baixo valor agregado, em grandes quantidades a granel, em geral commodities. Por outro  lado, o modal rodoviário concentra o transporte de produtos acabados de baixo volume e alto valor agregado e os  modais aquaviário e dutoviário transportam mercadorias de alto volume e de mais baixo valor agregado, que não  necessitem de baixo tempo total de trânsito.    O modal ferroviário é extremamente eficiente para o transporte de matérias‐primas e outras commodities a granel  carregadas em vagões completos, como por exemplo: carvão, grãos, produtos químicos, papel e celulose.    Faulks (1990, p. 62) descreve a principal vantagem da utilização do modal ferroviário como se segue:    “A lucratividade não reside em transportar um vagão completo ou quase completamente carregado. Ela reside em  transportar  trens  inteiros  carregados,  com  um  mínimo  de  mão  de  obra,  ou  seja,  com  mercadorias  passíveis  de  carregamento mecanizado como os trens de carvão que fazem o trajeto da mina à usina termoelétrica ou como os  carregamentos  de  mercadorias  de  diversos  destinatários  estufadas  em  containers  que  se  tornam  eles  mesmos  a  unidade a ser transportada10”.    Como  dito  anteriormente,  a  estrutura  de  custos  ferroviários  faz  com  que  seja  necessário  atrair  altos  e  regulares  volumes de tráfego para se ter economia de escala e operar eficientemente. Por isso, nos últimos anos as empresas  ferroviárias têm procurado desenvolver ou enfatizar várias inovações em serviços para aumentar seu tráfego.    Dentro  deste  conceito  foi  desenvolvido  o  serviço  de  transporte  piggyback11,  com  o  objetivo  de  viabilizar  a  intermodalidade  de  cargas  utilizando  a  ferrovia  como  um  dos  modais.  O  serviço  piggyback  inclui  o  transporte  de  trailers de caminhão (TOFC12) e de containers (COFC13). O serviço TOFC combina a eficiência em longas distâncias da  ferrovia  com  a  flexibilidade  do  serviço  de  coleta  e  entrega  feito  pelos  caminhões.  Entregas  com  hora  marcada,  regularidade de escalas e economia de gastos com combustível são as maiores razões para o presente crescimento e  potencial futuro deste tipo de serviço. Por exemplo, uma composição de cem vagões (que carregue dois trailers em  caga vagão) é mais econômico do que duzentos caminhões viajando pela rodovia. Congestionamentos, desgaste das  estradas e seus custos de manutenção e reparo são reduzidos ao se diminuir o número de caminhões trafegando por  uma  rodovia.  O  serviço  piggyback  COFC  pode  ser  considerado  como  a  forma  internacional  de  transporte  de  containers e seu equivalente doméstico o TOFC. Um container não possui rodas e deve, portanto, ser colocado sobre  uma plataforma de caminhão para que seja feita a entrega porta a porta, após o transporte ferroviário. O volume de  manuseio de carga, neste caso, é reduzido porque o container pode ser carregado e selado na origem e embarcado  diretamente  ao  destinatário.  Economias  de  escala  são  obtidas  ao  se  transportar  mercadorias  acabadas  em                                                               10  Tradução livre da autora.    11   Traduzindo  literalmente,  Piggyback,  significa  nos  ombros  ou  no  cangote  (DICIONÁRIO  WEBSTER,  1996).  Chama‐se  transporte  piggyback  aquele  em  que  um  container  ,  um  trailer  de  caminhão  ou  mesmo  um  caminhão  inteiro  é  transportado  pela  ferrovia  sobre  um  vagão  plataforma.    12  Do original em inglês: Trailer On Flat Car ‐ Serviço de transporte de trailers rodoviários sobre vagões plataforma em ferrovia (COYLE, BARDI E  NOVACK, 1994).    13  Do original em inglês: Container On Flat Car – Serviço de transporte de contamines sobre vagões plataforma em ferrovia (COYLE, BARDI E  NOVACK, 1994).      8    containers, o que significa não só menores custos de embalagem e armazenagem, como também menores tempos  de  trânsito  uma  vez  que  todos  os  esforços  de  carregamento,  descarregamento  e  entrega  de  mercadorias  são  reduzidos.   Outro serviço desenvolvido foi o trem dedicado, que envolve o conceito de “alugar um trem” para o transporte de  mercadorias, especializado em transportar apenas um tipo de mercadoria, usualmente carvão ou grãos, da origem  ao destino.    Equipamentos  Um trem pode operar com diferentes tipos de vagões em uma mesma composição, o que lhe permite fornecer um  serviço flexível em termos de capacidade de carregamento. Os vagões, em geral, são de propriedade das ferrovias e  suas  características  físicas  variam  consideravelmente  de  um  tipo  a  outro  permitindo  que  se  use  aquele  que  da  melhor maneira possível atenda às necessidades de seus clientes.  São oito basicamente os tipos mais comuns de vagões:  ∙ Vagão de carga fechado ‐ vagão padrão fechado com portas laterais corrediças usado para cargas gerais;  ∙  Vagão  de  carga  fechado  equipado  ‐  vagão  especialmente  modificado  para  carga  de  mercadorias  especiais,  como  por exemplo autopeças;  ∙ Hopper ou vagão graneleiro14 ‐ vagão sem parte superior, com piso inclinado para uma de suas laterais, onde existe  uma porta articulada que facilita o descarregamento de carga granel ∙ Graneleiro coberto15 ‐ semelhante ao vagão  graneleiro, porém possui uma capota especialmente desenhada para o transporte de cargas a granel que necessitem  de proteção contra intempéries;  ∙ Vagão plataforma – vagão sem teto nem laterais, usado principalmente para o transporte de containers e de baús  de caminhão;  ∙  Vagão  refrigerado  –  vagão  fechado  equipado  com  sistema  refrigerador  para  controle  da  temperatura  interna  do  mesmo;  ∙  Vagão  gôndola  –  vagão  sem  tampo,  com  fundo  liso  e  lateral  fixas,  utilizado  normalmente  para  transporte  de  pesadas cargas a granel;  ∙ Vagão tanque – vagão especializado para transporte de líquidos ou gases.    Modal Aéreo  A  mais  representativa  característica  do  transporte  aéreo  é  sua  rapidez,  dada  pelo  fato  de  o  avião  se  mover  rapidamente e por ele ser capaz de seguir em uma rota direta não sofrendo a influência de barreiras físicas como as  experimentadas  pelo  transporte  terrestre.  Mares,  montanhas,  desertos,  florestas  ou  regiões  congeladas  não  oferecem  resistência  ao  avião.  Os  embarcadores  que  usam  o  modal  aéreo  para  o  transporte  de  suas  mercadorias  estão,  em  primeiro  lugar,  interessados  em  rapidez  de  serviço  e  os  benefícios  resultantes  da  redução  de  nível  de  estoques  inerente  ao  menor  tempo  de  trânsito,  que  permitem  também  que  falta  de  produtos  sejam  controladas,  reduzidas ou mesmo eliminadas devido à possibilidade de colocação de pedidos em curtos espaços de tempo.  Por  outro  lado,  os  terminais  aeroportuários  costumam  ser  extravagantes  em  utilização  de  espaço  e  raramente  podem ser alocados nas imediações de uma grande cidade. Sendo, então, não rara a ocorrência de longas viagens  por terra entre os centros urbanos e os aeroportos. Ainda há o agravante de as formalidades exigidas no terminal  consumirem muito tempo, tornando o transporte terrestre competitivo com o aéreo, no que se refere a tempo, ao  se  comparar  a  duração  de  uma  viagem  completa  da  origem  ao  destino  da  mercadoria.  Por  estes  motivos,  se  considera  que  o  transporte  aéreo  é  mais  apropriado  para  longas  distâncias  e  para  pequenos  percursos  onde  haja  dificuldades para o transporte terrestre, sejam eles de ordem física ou mesmo políticas.    Com  relação  às  características  gerais  do  transporte  aéreo,  existem  algumas  similaridades  com  o  transporte  aquaviário, conforme indicado a seguir:  ∙ Ambos os modais operam rotas nacionais e internacionais;                                                               14  Vagão de carga granel aberto que permite descarregamento sem virador de vagão.    15    Vagão de carga granel coberto que permite descarregamento sem virador de vagão.  9    ∙  A  via  utilizada  no  transporte  é  natural,  sendo,  portanto  flexível  e  não  necessitando  de  grandes  investimentos  de  capital na via.  ∙ Ambos necessitam utilizar ajuda de sistemas de navegação.  ∙ Ambos requerem elaborados e caros terminais, que, em geral, não são de propriedade dos operadores.  ∙ Ambos têm um grande mercado de afretamento16 envolvido.    Mas  pode‐se  dizer  que  a  similaridade  entre  os  dois  modais  se  resume  a  estes  itens,  dado  que,  por  exemplo,  em  termos  de  rapidez,  os  dois  são  exatamente  o  oposto.  Como  exemplos  de  mercadorias  que  usualmente  são  transportadas  via  aérea  podemos  citar:  correspondência,  roupas,  produtos  de  telecomunicação,  equipamentos  fotográficos, cogumelos, flores, cavalos de corrida, touros reprodutores, automóveis de luxo e jóias. Normalmente  matérias‐primas básicas como carvão, toras de madeira, minério de ferro ou aço não são transportados pelo modal  aéreo.  Em  geral,  somente  mercadorias  de  alto  valor  agregado  ou  de  alto  grau  de  perecibilidade/  obsolescência  compensam  o  alto  custo  do  transporte  aéreo.  A  maioria  dos  fretes  que  usa  o  serviço  aéreo  é  de  embarques  de  mercadorias de alto valor agregado e/ou de emergência. O alto custo do transporte aéreo é usualmente proibitivo  para  embarques  de  mercadorias  de  rotina  com  baixo  valor  agregado  a  menos  que  seja  uma  emergência.  Não  há  dúvida  de  que  a  maior  vantagem  do  frete  aéreo  é  sua  rapidez,  posto  que  o  tempo  tomado  no  trajeto  terminal  a  terminal via aérea é o menor de todos entre os modais.    Para  embarques  de  emergência  o  custo  do  transporte  aéreo  passa  a  ser  irrelevante  perante  o  custo  do  atraso  de  mercadorias.  Por  exemplo,  uma  necessidade  urgente  de  uma  peça  em  uma  linha  de  montagem,  mesmo  de  baixo  custo.  Se  a  peça  for  transportada  por  frete  aéreo  e  sua  chegada  for  a  tempo  de  evitar  uma  parada  na  linha  de  montagem que pode custar milhares de dólares, o alto custo do frete aéreo irá tornar‐se irrelevante em relação a  esta parada, quando não o seria se comparado ao preço da peça por si só.  Outra  vantagem  do  modal  aéreo  reside  no  fato  de  os  embarques  poderem  ser  em  pequenas  quantidades  e  sem  necessidade  de  embalagens  tão  especializadas  e  custosas  quanto  as  dos  demais  modais.  Por  exemplo,  não  é  incomum encontrar cargas paletizadas simplesmente atadas com plástico, porque a relativamente tranquila viagem  e os sistemas automatizados de carga e descarga do avião contribuem para baixos níveis de danos às mercadorias e,  consequentemente, à redução da necessidade de embalagem.    Modal Aquaviário    O transporte aquaviário pode ser subdividido em fluvial, marítimo de cabotagem e  marítimo internacional, tendo,  entre os três tipos, o maior volume de tráfego o marítimo internacional de longas distâncias. Esse maior volume faz  sentido, tendo em vista que por razões naturais, a navegação internacional pode prover serviços que nenhum outro  modal seria capaz, mesmo sendo o transporte aquaviário não muito rápido. O transporte aquaviário, bem como o  aeroviário,  depende  basicamente  de  terminais  portuários  para  que  possa  ser  feito  o  manuseio  da  carga,  muito  embora existam navios e barcaças que permitam o transbordo diretamente de outros navios ou barcaças.     Terminais portuários são, em sua maioria, construídos por órgãos do governo e operados por suas agências locais  Que  operam  também  seus  armazéns.  Por  outro  lado,  muitos  usuários  de  transporte  aquaviário,  principalmente  empresas que comercializam commodities como, grãos, carvão e óleo, investem e operam seus próprios terminais  que atendem às suas necessidades especiais de manuseio e armazenagem de carga.    A  estrutura  de  custos  do  modal  aquaviário  caracteriza‐se  por  ter  em  sua  composição  um  grande  percentual  de  custos  variáveis  e  baixos,  de  custos  fixos.  Tal  quais  os  modais  rodoviário  e  aéreo,  o  transportador  aquaviário  não                                                               16 Do inglês: Charter Market ‐ expressão utilizada para descrever o mercado de aluguel de espaço em aviões/navios ou da embarcação como  um todo. No caso, do aluguel de espaço, o dono da embarcação opera o serviço e provê o transporte para terceiros. É importante esclarecer  que não necessariamente quem aluga o espaço possui alguma carga para ser transportada, ele pode também ser uma empresa transportadora  que  por  falta  de  espaço  próprio  subloca  espaço  de  terceiros  para  cumpri  com  as  obrigações  adquiridas  em  um  contrato  de  transporte  celebrado com seu cliente, dono da carga ou não. No caso de aluguel da embarcação, quem opera o serviço é próprio transportador.    10    precisa possuir suas próprias vias, ela é provida pela própria natureza e mantida em geral, pelo governo, através da  cobrança de taxa de utilização, que variam diretamente com o volume de negócios operado na via.  Equipamentos  Nas  últimas  décadas,  a  maior  parte  das  melhorias  nos  portos  tem  sido  focada  em  mecanização  de  sistemas  de  movimentação de materiais. Eficientes movimentações de grandes volumes de cargas, que reduzam o tempo total  de  trânsito  das  mercadorias,  têm  sido  pré‐requisito  básico  para  um  porto  que  queira  ser  economicamente  competitivo e, consequentemente, para que o modal aquaviário possa ser competitivo com os demais modais. Outra  importante função do porto é facilitar a transferências das cargas entre os modais Os equipamentos básicos de um  porto consistem naqueles utilizados para o carregamento e o descarregamento dos navios e barcaças, variando com  o  tipo  de  carga  a  ser  movimentado,  tais  como:  guindastes,  empilhadeiras,  correias  transportadoras,  viradores  de  vagão, sugadores, entre outros.    Transporte Fluvial    Por ser um meio de transporte não muito rápido, o transporte fluvial é indicado para mercadorias de natureza não  perecível e para aquelas que não têm necessidade de urgência na entrega, pois são itens usualmente mantidos em  estoque. De um modo geral, estamos falando de matérias‐primas commodities. Tais como: carvão, petróleo, grãos,  madeira, produtos químicos, minério e aço. Segundo Faulks (1990), o transporte fluvial é especialmente apropriado  para:  ∙  Escoamento  de  mercadorias  através  de  sistemas  fluviais  conectados  a  portos,  particularmente  quando  há  transbordo de barcaças para navios e vice‐versa;  ∙ Mercadorias granel transportadas de um ponto ao outro diretamente em barcaças;  ∙  Mercadorias  transportadas  de  e  para  serem  consumidas  em  plantas  industriais  ou  estocadas  em  armazéns  localizados a beira do rio ou canal em que estão sendo transportadas;  ∙ Baús de caminhão ou containers que serão transferidos para o modal rodoviário em algum porto ao longo do canal  ou rio.17  É inevitável perceber que este tipo de modal concorre diretamente com o ferroviário no diz respeito ao transporte  de carga de granel seco, como grãos, carvão e minérios, e que sua viabilidade depende de quão extensa é a região  navegável do canal ou rio, de qual o calado18 máximo permitido nesta extensão e qual o tamanho de embarcação  que pode ser usada no transporte, em outras palavras, qual a capacidade de transporte. Outro modal com o qual  compete diretamente é o dutoviário, em especial para o transporte de cargas de granel líquido como petróleo e seus  derivados.    O transporte fluvial é, em sua maioria, operado através de barcaças19. São quatro os tipos de barcaças utilizadas para  transporte fluvial:  ∙ Abertas, próprias para o transporte de cargas secas a granel como: carvão, areia, pedras e bauxita;  ∙ Fechadas, para o transporte de cargas secas a granel que precisam ser protegidas de intempéries, como grãos;  ∙ Tanques, utilizadas no transporte de petróleo, seus derivados e produtos químicos;  ∙ Chatas, que transportam veículos, containers e equipamentos.                                                                 17  Tradução livre da autora.    18 Calado – Distância entre a superfície da água e o ponto mais baixo da embarcação. O calado de uma embarcação  varia com a latitude em que se encontra e com a densidade da água.    19  Barcaças são embarcações que não possuem propulsão própria, sendo normalmente puxadas ou  empurradas por rebocadores.    11    O  transporte  pode  também  ser  feito  em  navios,  em  geral  com  grandes  aberturas  de  porões  que  facilitam  o  seu  carregamento e o descarregamento. Em alguns casos, os porões são divididos por altas paredes para que se possa  carregar mais de um tipo de mercadoria granel por porão de uma só vez. No entanto, a maioria dos transportadores  carrega somente uma limitada variedade de produtos de uma só vez.    A capacidade de carregamento das barcaças é grande, elas são capazes de manusear normalmente de 1.000 a 1.500  toneladas de carga, porém existem barcaças de porte ainda maior, como por exemplo, a Columbia Star, que trafega  nos  Grandes  Lagos  norte‐americanos  e  é  capaz  de  carregar  61.000  toneladas  de  carga  por  vez.  O  carregamento  médio  de  uma  barcaça  de  1.500  toneladas  de  capacidade  eqüivale  a  aproximadamente  15  vagões  de  trem  ou  60  carretas. Esse alto volume de capacidade de carregamento contribui para que o transporte por barcaças tenha um  baixo  custo,  sendo  esta  uma  de  suas  principais  características.  O  transporte  fluvial  é  geralmente  o  modal  de  mais  baixo custo para o embarque de cargas granel seco, já para cargas de granel líquido, o modal de menor custo, é o  dutoviário.  Essa  diferença  de  custo  se  deve,  à  baixa  velocidade  do  transporte  de  dutovia  em  relação  ao  fluvial  O  transporte aquaviário possui uma série de desvantagens que podem ser compensadas pelo seu baixo custo. Dentre  elas está a interrupção do serviço, durante os meses de inverno em alguns países, onde as vias navegáveis congelam.  Esta interrupção no serviço por dois ou três meses de inverno faz crescer o custo de manutenção de estoques pelos  usuários  deste  tipo  de  transporte.  Os  usuários  irão  aumentar  o  nível  de  seu  estoque  antes  dos  meses  de  inverno  para assegurar o suprimento adequado para operação neste período. Este aumento de custo é mais um motivo pelo  qual, em geral só se usa este tipo de modal para transporte de mercadorias de baixo valor agregado.    Outra desvantagem é a dificuldade de acesso à via de transporte. A maioria dos usuários do transporte fluvial têm  plantas localizadas próximo a rios, no entanto se este não é o caso, é necessária a utilização de um segundo modal  para complementar o transporte.    Por fim, a viagem e o  manuseio da carga característicos do transporte fluvial demandam  mais trabalho do que os  outros  modais.  A  carga  está  sujeita  a  intempéries,  variações  das  vias  navegáveis  e  a  numerosos  manuseios  que  forçam a uma necessidade de embalagens caras e sofisticadas. Esta é mais uma das razões que transformam este  tipo de transporte mais apropriado para cargas de granel sólido que não requeiram praticamente nenhum tipo de  proteção especial.    Modal Dutoviário  A principal característica do transporte dutoviário é ser o único modal em que a unidade de carregamento confunde‐ se com a via e neste caso, o que se move não é o meio de transporte e sim a mercadoria em si. Por este motivo, o  transporte  dutoviário  é  o  mais  apropriado  para  o  transporte  de  mercadorias  que  são  produzidas  através  de  processos de fluxo contínuo.    Abaixo são apresentadas algumas das principais desvantagens e vantagens do uso de dutovias:     Desvantagens:  ∙ Trata‐se de um modal que requer grande investimento de capital;  ∙ É inflexível quanto à rota de distribuição, uma vez que fixados os dutos, sua posição não é fácil de alterar. Por este  motivo, é propício para mercadorias que mantenham sua demanda restrita a pontos fixos;  ∙ Não é adequado para transporte de mercadorias que estejam sujeitas a mudanças de padrão de carregamento;  ∙  Seu  uso  só  pode  ser  estendido  a  certos  grupos  de  mercadorias  dentro  de  um  mesmo  duto.  Embora  seja  tecnicamente  possível  separar  um  produto  de  outro  sem  que  eles  se  misturem  durante  o  transporte,  não  é  aconselhável usar um mesmo duto para carregar parafina depois cerveja, por exemplo.    Vantagens:  ∙ Por ser a dutovia a própria unidade de carregamento, não há necessidade de se usar embalagens de transporte;  ∙ Nada se move, a exceção da própria mercadoria transportada;  ∙  Não  existe  o  problema  da  viagem  de  retorno  para  equacionar,  bem  como  o  processo  não  sofre  influência  de  congestionamentos ou dificuldades físicas a transpor, como por exemplo, longas zonas áridas ou congeladas;  ∙ É um meio de transporte que consome pouca mão de obra;  12    ∙  Em  geral,  a  segurança,  das  dutovias  é  superior  a  dos  outros  modais,  sendo  assim,  indicada  para  o  transporte  de  produtos perigosos, como por exemplo, etileno ou petróleo em forma de gás.    Existem  ainda  outras  vantagens  da  dutovia:  o  baixo  custo  de  operação,  uma  vez  instalada;  a  independência  em  relação às condições do tempo na sua operação e a função de armazenagem em conseqüência do seu longo tempo  total  de  trânsito.  Ou  seja,  se  um  produto  não  é  necessário  de  imediato,  o  lento  serviço  deste  modal  pode  ser  encarado como uma forma de armazenagem temporária gratuita.    A  dutovia  pode  transportar  apenas  uma  limitada  variedade  de  mercadorias.  De  fato,  é  um  modal  extremamente  especializado, podendo‐se, inclusive, classificá‐lo segundo o tipo de carga que transporta. O modal pode ser dividido  quatro grandes grupos conforme indicado a seguir:    ∙ Oleodutos – transportam petróleo cru, bem como seus derivados;  ∙  Gasodutos  –  formam  as  redes  de  abastecimento  de  gás  das  cidades,  além  de  serem  usados  para  transporte  e  distribuição de gás natural;  ∙  Dutovias  para  carvão  diluído  –  Este  é  um  tipo  específico  de  dutovia,  bastante  comum  nos  EUA,  que  transporta  unicamente  uma  mistura  de  carvão  em  pó  com  água.  A  dutovia  para  carvão  diluído  pode  ser  entendida  como  composta de três grandes partes. A primeira é a planta de preparação da mistura, onde o carvão é reduzido a pó  para  que  seja  adicionado  à  água  na  proporção  correta.  A  segunda  são  os  tanques  de  armazenagem  e  a  própria  dutovia,  por  onde  a  mistura  é  bombeada  percorrendo  longas  distâncias.  E  a  terceira  e  última  é  a  planta  de  separação, onde a mistura é centrifugada, filtrada e secada para que se retire toda a água do carvão;  ∙ Dutovias – neste quarto grupo é incluído um conjunto de aplicações:  ∙ para produtos químicos, como amônia, etileno e propileno;  ∙ para outros produtos sólidos diluídos, como por exemplo: minério de ferro, cobre e calcário;  ∙ para produtos encapsulados, que são transportados por outros produtos em estado líquido ao serem bombeados  pelo duto; e ∙ para produtos em pó, como cimento ou farinha, que são bombeados por sucção ou através de um gás  inerte.                        13    HISTÓRIA DOS TRANSPORTES TERRESTRES NO MUNDO  (Eloir de Oliveira Faria, [email protected]. Engenheiro e Doutor em Ciências dos Transportes pela U.F.R.J.)   Na Antiguidade  O homem sempre procurou criar instrumentos que atendessem as suas necessidades de sobrevivência, bem‐estar e  de conforto: habitação, indumentária, adornos, recipientes, instrumentos e armas, bem como o transporte.   Os meios de transporte, utilizados para levar bens ou indivíduos de um lugar para outro, podem ser classificados em  aquáticos e terrestres.  Segundo Marconi & Presotto (1986), o primeiro vestígio de transporte aparece no Mesolítico Escandinavo, com um  tipo de canoa. No Neolítico, as provas referem‐se  apenas aos transportes aquáticos: canoas e pirogas. A Idade do  Cobre apresenta além de barcos maiores, alguns tipos de transportes terrestres. De início o homem utilizou troncos,  cabaças  e  peles  cozidas  e  infladas  para  flutuar  ou  sustentar‐se  sobre  as  águas:  o  material  varia  entre  troncos  de  árvore,  bambu,  junco,  hastes  de  papiros,  folhas  de  palmeira,  cascas  de  árvore,  cortiça  e  couro.  Surgiram  embarcações  ligadas  ao  tipo  de  atividade  econômica,  ao  material  disponível  e  à  predileção  da  cultura.  No  início  simples,  depois,  envolvendo  técnicas  cada  vez  mais  complicadas,  especialmente  as  relativas  à  navegação  de  alto  mar, que requerem conhecimentos sobre ventos, astros e instrumentos específicos (Marconi & Presotto, 1986).  No  entanto,  o  meio  de  locomoção  mais  antigo  e  rudimentar  é  o  próprio  ato  de  caminhar.  Utilizando  sua  própria  força  matriz  (corpo),  o  homem  vencia  longas  distâncias  carregando  seus  bens  e  artefatos  sobre  os  ombros  ou  arrastando‐os. A princípio, o homem se locomovia a pé e descalço. No entanto, sua capacidade inventiva o levou a  criar artefatos para proteção dos pés (sandália, bota, raquete de neve, esqui).  O  primeiro  tipo  de  transporte  terrestre  utilizado  pelo  homem  parece  ser  sido  o  trenó.  Originou‐se  de  tronco  de  árvore  em  forma  de  barco,  de  prancha,  tobogã  e  patins  sobre  rodas.  Segundo  Marconi  &  Presotto  (1986),  os  primeiros vestígios apareceram no Mesolítico da Finlândia e também nas planícies do Oriente próximo, por volta de  4.000 a.C.  Com  a  domesticação  dos  animais,  tais  como  cão,  cavalo,  rena,  burro,  camelo,  boi,  búfalo,  elefante,  lhama,  etc.,  o  transporte  terrestre  cresceu,  pois  o  homem  percebeu  que  poderia  usar  a  força  animal  para  sua  locomoção  e  o  transporte de carga.  O  travois foi outro tipo de transporte terrestre encontrado entre os índios da América do Norte e no Velho mundo,  da China à Escandinávia e às Ilhas Britânicas. Puxadas por cães ou por cavalos e nas traseiras duas vigas ou traves  entre as varas para embarcar a carga.  O grande avanço para os transportes terrestres aconteceu com a invenção da roda na Mesopotâmia, antes de 3000  a.C., talvez derivada do rolete (Marconi & Presotto, 1986). De início sólida, pesada e rudimentar, a roda foi aplicada  em carros tracionados por animais de grande porte. Com a introdução de usos e raias, ganharam maior velocidade e  desempenho.  14        Primeiras estradas  Os  novos  veículos,  criados  à  medida  que  se  aperfeiçoava  a  roda,  permitiam  melhor  locomoção  do  homem  e  os  antigos caminhos eram transformados em verdadeiras estradas para permitir acesso mais rápido entre cidades.  Segundo  Modernell  (1989),  o  historiador  grego  Heródoto  (484  ‐  425  a.C.)  menciona  em  seus  escritos  que  os  caminhos  de  pedras  mais  antigos  de  que  se  têm  notícia,  há  mais  ou  menos  3.000  a.C.  foram  assentados  pelo  rei  egípcio Quéops, por onde se transportam os imensos blocos destinados à construção das pirâmides. Desta mesma  época, foram encontrados na tumba da Rainha da cidade de Ur um conjunto de quatro rodas ligadas por eixo do tipo  que necessitavam de estradas.  Entre  os  povos  antigos,  pelo  menos  dois  realmente  construíram  estradas  procurando  unir  todo  o  seu  império:  os  persas e os romanos.   Uma mensagem real era levada pelas estradas de Susa, a capital do império, até os pontos de Egeu, a uma distância  de 2.500 quilômetros. Havia postos de troca de cavalos, para que o mensageiro fizesse o percurso em 10 dias. Porém  uma caravana normal levava 3 meses.  Com o crescimento do número de veículos depois do advento da roda, era preciso tornar as condições do terreno  compatíveis.  Os  cartaginenses,  em  500  a.C.,  por  exemplo,  tinham  um  sistema  de  caminhos  de  pedra  ao  longo  da  costa sul do Mediterrâneo e os etruscos entre 830 e 350 a.C., desenvolveram suas estradas bem antes da fundação  de Roma.  Grécia antiga e Império Romano  Os romanos foram os grandes peritos em construção de estradas. Começaram em 312 a.C., com a via Ápia. À medida  que iam estendendo suas conquistas, iam construindo estradas sempre ligadas ao tronco principal, a via Ápia e os  outros caminhos romanos. Possuíam uma rede de 80.000 km de estradas para o ocidente na Gália, na Espanha e até  na Inglaterra e para o oriente construíram estradas na Grécia e na atual Iugoslávia. Era uma extensa rede viária com  mais  de  350.000  km  de  estradas  sem  pavimentação.  Daí  o  velho  ditado:  todos  os  caminhos  levam  a  Roma.  Ainda  existem alguns trechos destas quase como um monumento.  15        A partir do momento que se criaram os elementos básicos do sistema viário – os veículos e as estradas surgiram o  trânsito e seus problemas.  Foi na Grécia Antiga que aconteceram os mais intensos congestionamentos. De acordo com os administradores de  Atenas, na antiguidade, a largura das  ruas de suas  cidades era insuficiente  e alargá‐las seria inútil,  uma vez que o  volume de tráfego tenderia a crescer. Assim, desde a antiguidade,  já estava claro que privilegiar o veículo é um erro.  No  império  Romano,  havia  preocupação  em  resolver  os  problemas  de  trânsito.  Foi  onde  surgiram  sinalizações,  marcos  quilométricos,  indicadores  de  sentido  e  as  primeiras  regulamentações  de  tráfego.  Os  administradores  romanos procuraram resolver os problemas do tráfego fazendo uso da lei, através da sua regulamentação.  O  historiador  Tito  Lívio  advertia  os  poderes  competentes  sobre  a  necessidade  de  disciplinar  o  uso  das  ruas,  restringindo a circulação de veículos em certas horas do dia, assim como os estacionamentos. Isso lhe causou muitas  críticas por parte dos senadores e dos “figurões” do império, que resistiam às mudanças das normas.  Com  o  aumento  do  número  de  veículos,  as  ruas  estreitas  e  com  muitos  pedestres,  o  congestionamento  era  uma  constante. Foram adotadas medidas  como a seleção do tipo de  veículo que  poderia circular, conforme a quem se  destinava e a que a autoridade ou nobre pertencia.  16    No primeiro século antes de Cristo, o congestionamento era uma característica do tráfego em Roma, tanto que um  dos primeiros atos de Júlio Cezar, ao tomar o poder foi banir o tráfego de rodas do centro da cidade, durante o dia e  permitir a circulação de veículos oficiais e os pertences aos patrícios.  Na Europa: da Idade Média até o final do século XIX  Durante  a  Idade  Média,  o  comércio  terrestre  perdera  quase  toda  a  importância.  Cada  comunidade  cuidava  da  própria subsistência, não havia utilidade em transportar mercadorias. Os feudos eram autônomos e não cuidavam  das estradas. Dentro do feudo estas eram cuidadas pelos camponeses.  No fim do século XVII a “rede viária” da Europa se resumia em trilhas abandonadas. Os mercadores carregavam suas  mercadorias em burrinhos, os nobres viajavam a cavalo, os velhos e as mulheres iam de palanquim, sustentado por  mãos humanas ou por animais (Barsa, 2003b).  Conforme os estados nacionais iam se formando e o comércio se desenvolvendo, possuir boas estradas tornou‐se  uma necessidade para todos os países.  No século XV, com o fim da guerra dos Cem Anos, entre a Inglaterra e a França o movimento volta às estradas. Surge  o primeiro mapa de caminhos.   A França em 1747 criou a Escola Pontes e Estradas para formar técnicos. Porém, as vias só melhoraram quando os  ingleses desenvolveram um sistema de drenagem do solo. Também foi a partir de Mc Adam, um inglês que inventou  um meio barato de pavimentar, utilizando pedrinhas e cascalho. Desse inglês veio o termo macadame.  Até  o  fim  do  séc.  XIX,  as  estradas  que  mais  se  desenvolveram  foram  às  estradas  de  ferro,  porque  não  existiam  automóveis e caminhões e o transporte ferroviário era muito mais cômodo e barato.    O primeiro Metrô  O metrô, ou metropolitano, apareceu pela primeira vez no ano de 1863, em Londres, para diminuir o tráfego pelas  ruas.    17    Ele é praticamente um trem, só que anda baixo da terra, em túneis. O de Londres, quando foi inaugurado, não passa  de  alguns  vagões  iluminados  a  gás,  rebocados  por  uma  locomotiva  a  vapor.  O  túnel  ficava  cheio  de  fumaça.  Em  certos lugares, abriram entradas de ar, mas o problema continuava. Repetiram a experiência que já tinha sido feita  com os bondes: usavam motor de ar  comprimido.  Desta vez também  não deu certo. De  novo preferiram o motor  elétrico. E o barulho dentro do túnel? Com as rodas de ferro, não havia quem agüentasse. Colocaram, então, rodas  de borracha. O metrô perdeu um pouco de velocidade, mas, em compensação, tornou‐se mais silencioso. Os túneis,  porém,  apresentavam  alguns  problemas:  cruzavam  com  linhas  de  esgoto,  de  águas,  fios  elétricos,  e  em  alguns  lugares era impossível construí‐los. Por isso, usaram trilhos ao nível do solo, como os trens, ou em linhas suspensas,  como viadutos.  Primeiras soluções para os congestionamentos e para os acidentes  À  medida  que  novos  veículos  eram  introduzidos  nas  sociedades,  o  tráfego  ficava  cada  vez  mais  caótico  ao  que  parece, em razão das ruas não terem sido projetadas para o crescente número de veículo em circulação. Portanto,  coube aos administradores das cidades, encontrarem medidas que viabilizassem a continuidade do tráfego, uma vez  que pouco a pouco o trânsito se tornava indispensável à vida do homem (France, 1984).  O veículo de transporte se tornou indispensável ao homem pelas comodidades que proporcionava. Mas, o fato é que  o excesso desses veículos colocava em risco a integridade física da maioria das pessoas que eram pedestres. Como  podem  ser  verificados  desde  o  início  da  história,  os  primeiros  veículos  destinavam‐se  ao  transporte  de  bens,  posteriormente  passaram  a  ser  usados  para  transportar  o  homem  e  seus  pertences,  e,  nos  últimos  séculos,  já  se  construíam veículos de transporte exclusivos para pessoas.  Além  dos  dispositivos  legais,  as  autoridades  de  trânsito  também  passaram  a  utilizar  vários  meios  para  sinalizar  e  disciplinar o uso da via, tais como: placas indicativas, placas proibindo manobras perigosas, e no final do século XIX  (1868), surge na Inglaterra um dispositivo para controle de tráfego mediante luzes coloridas – hoje, os semáforos,  além dos guardas de trânsito.  Verifica‐se  através  da  história  que,  apesar  dos  esforços,  especialmente  dos  ingleses,  no  sentido  de  controlar  o  trânsito, os enormes congestionamentos continuaram acontecendo, principalmente, próximo do Parlamento. Outras  medidas  além  das  já  citadas  foram  implantadas  por  eles,  dentre  elas  a  proibição  de  estacionamento  e  exame  de  destreza para os condutores de veículos. O individualismo prevaleceu e as medidas de cunho coletivo nunca foram  utilizadas.  Em nova York, em 1909, antes da adoção do semáforo foi tentado um controle de cruzamento por meio de corneta:  um  toque  abria  o  trânsito  para  uma  rua,  dois  toques  para  outra  rua.  Em  Cleveland,  em  1914,  foi  tentada  uma  solução mista, audiovisual. Como os motoristas custavam a se acostumar com o semáforo, do lado dele ficava um  guarda com um sino. O guarda tocava o sino cada vez que o semáforo mudava a cor.  O  tráfego  de  automóveis  aumentou  consideravelmente  nos  Estados  Unidos  da  América  a  partir  de  1908,  com  o  lançamento  do  Ford  modelo  T,  um  automóvel  relativamente  popular  (Barsa,  2003a).  A  motorização  do  trânsito  americano passa a ser vertiginosa. E as tentativas para solucionar os problemas de tráfego procuram acompanhar  aquele  fenômeno.  Os  norte  americanos  começam  a  ver  o  movimento  de  automóveis  em  suas  cidades  com  olhos  científicos.   18      Referências Bibliográficas Barsa (2003a) Pesquisas: Breve história dos transportes. Editorial Barsa Planeta, Inc. http://www.barsa.com, acesso em 7/3/2003. Barsa (2003b) Pesquisas: Centenário do automóvel. Editorial Barsa Planeta, Inc. http://www.barsa.com, acesso em 7/3/2003. France (1984) Histoires de routes. Le Ministère de l'urbanisme du logemente et des transports. França. Marconi, M.A. & Presotto, Z.M.N (1986) Antropologia: uma introdução. 3a. ed. São Paulo. Atlas Modernell, R. (1989) Cinco mil anos de loucuras no trânsito. Revista Quatro Rodas, p.44-49.São Paulo 19      Sabrina Erhart20 Eduardo Mauch Palmeira21  RESUMO  Nos últimos anos a economia mundial e a economia brasileira têm sofrido mudanças importantes, apresentando nos  últimos 10 anos taxas de expansão de 46 %, enquanto o Brasil acumulou no mesmo período uma taxa de 25 %. O  presente  trabalho  denominado  Análise  dos  entraves  do  setor  de  transportes  às  exportações  do  Brasil,  tem  como  objetivo  evidenciar  a  importância  da  infraestrutura  de  transportes  para  o  desenvolvimento  do  país.  A  pesquisa  realizada foi de caráter exploratório através de estudos já realizados, pesquisas em sites da internet, revistas, livros e  artigos.  Esta  dissertação  mostra  uma  visão  ampla  dos  entraves  às  exportações  brasileiras  tendo  focado  principalmente  na  infraestrutura  de  transportes,  que  atualmente  apresenta  uma  matriz  totalmente  distorcida  do  que é recomendado, predominando o transporte rodoviário com cerca de 60% de tudo que é transportado no Brasil,  acarretando  no  custo  país,  tornando  o  menos  competitivo  no  mercado  internacional  que  Com  o  estudo  realizado  chegou‐se  a  conclusão  de  que  é  extremamente  necessário  maiores  investimento  no  sistema  de  transportes,  proporcionando manutenção as rodovias, restaurando as ferrovias e principalmente investimento na criação de vias  navegáveis.  Desta  maneira  adequando  melhor  a  matriz  de  transportes  brasileira,  melhorando  a  qualidade  de  escoamento da produção e assim, torna‐se mais competitivo no mercado mundial.    INTRODUÇÃO  As  facilidades  de  comunicação,  tecnológicas  e  de  transporte,  impulsionaram  a  globalização.  Hoje  é  possível  ter  informações  do  mercado  mundial  com  a  mesma  facilidade  do  que  do  comércio  doméstico,  possibilitando  um  conhecimento profundo de um mercado em potencial, que antes era difícil atender.  O Brasil é a décima economia mundial, analisado através dos critérios do Produto Interno Bruto e, atualmente, está  entre os 20 maiores exportadores mundiais, segundos dados do Instituto de Matemática e Estatística da USP (2006).  O crescimento econômico brasileiro depende das exportações, uma vez que esta atividade remete divisas em moeda  estrangeira  equilibrando  as  contas  públicas.  O  crescimento  econômico  brasileiro,  se  comparado  com  a  média  mundial, está muito aquém das suas potencialidades. Enquanto o mundo acumulou uma taxa de expansão de 46%,  nos últimos 10 anos, o país registrou no mesmo período somente 25%. Recentemente, o país alcançou a meta de  100  bilhões  de  dólares  exportados,  porém  está  marca  tem  pouca  representatividade  quando  se  traça  um                                                               20  ACADÊMICA DE ADMINISTRAÇÃO HABILITAÇÃO COMÉRCIO EXTERIOR FACULDADE ATLÂNTICO SUL DE PELOTAS - RS - BRASIL  21  ECONOMISTA E PROFESSOR DA FACULDADE ATLÂNTICO SUL DE PELOTAS - RS – BRASIL.   20    comparativo  com  a  situação  mundial.  O  Brasil,  mesmo  estando  entre  os  20  maiores  exportadores  e  tendo  apresentado recordes de exportação possui uma participação de 1% do fluxo mundial.  As dificuldades encontradas para o maior crescimento estão ligadas diretamente a entraves internos, que há muitos  governos  se  repetem  sem  solução,  entre  elas  estão  a  burocracia  excessiva,  a  falta  de  tecnologia,  a  carência  de  educação e principalmente a infraestrutura inadequada e insuficiente. A falta de infraestrutura para quem trabalha  diariamente  com  o  comércio  exterior  é  o  maior  problema,  principalmente  no  que  se  refere  à  infraestrutura  de  transportes.  Faltam linhas aéreas, contêineres, há excessivo gasto no deslocamento da produção, há perdas ocorridas por avarias  no transporte, além de existir a distorção da matriz de transportes, havendo uma sobrecarga do modal rodoviário. A  área  de  transporte  brasileiro  acarreta  grandes  limitações  para  o  crescimento  e  expansão  da  economia  brasileira.  Essa  deterioração  está  fundamentada  nos  investimentos  insuficientes  em  infraestrutura,  pelo  menos  nas  duas  últimas décadas. Hoje, são necessárias providências imediatas, pois com o bom desempenho do mercado de cargas   pesadas  que  país  vem  tendo,  é  notória  a  necessidade  urgente  de  se  investir  no  transporte  aéreo,  nas  rodovias,  ferrovias e hidrovias.    Portanto, o objetivo deste trabalho é evidenciar a importância da infraestrutura de transportes, mostrando que sua  melhoria poderá auxiliar a reduzir os custos, inserindo os produtos no mercado mundial com maior competitividade.  O  trabalho  foi  baseado  em  uma  pesquisa  descritiva  com  fundamento  teórico.  A  coleta  de  informações  sobre  a  situação  brasileira  e  os  modais  de  transporte  foi  realizada  através  de  sites  da  internet,  revistas  e  artigos,  sendo  estruturado através de conteúdos teóricos dos livros de comércio exterior, logística e transportes.  O  apontamento  de  possíveis  soluções  foi  fundamentado  em  estudos  já  realizados  por  órgãos  de  renome  no  país  como  MDIC,  Fiesp,  CNT,  FIRJAN  entre  outros  e  tendo  como  base  os  conhecimentos  adquiridos  ao  longo  dos  semestres do curso de Administração Habilitação Comércio Exterior.    O quadro atual da estrutura de transportes de cargas brasileiro tem apresentado importantes limitações à expansão  e  ao  crescimento  econômico  do  País.  Esse  cenário  é  uma  realidade  reconhecida  pelas  autoridades,  no  entanto,  principalmente, o setor produtivo brasileiro, que depende da infraestrutura presente em todo o Brasil. Essa situação  não é um problema atual, há vários anos o transporte de cargas brasileiro vem apresentando sintomas que apontam  para  graves  problemas  de  deterioração,  decorrentes  da  falta  de  investimentos,  pelo  menos  nas  duas  últimas  décadas.  Os  problemas  estruturais  comprometem  a  eficiência  operacional,  tornando‐se  um  entrave  ao  desenvolvimento  econômico  e  social  do  país.  Com  os  problemas  de  transportes  existentes,  o  Brasil  acaba  desperdiçando  bilhões  de  reais,  devido  aos  acidentes,  aos  roubos  de  carga,  á  ineficiências  operacionais  e  energéticas. Como pilares do caos, no setor de transporte, estão as enormes deficiências de regulação, as políticas  governamentais de investimento e, também, a distorção da matriz de transporte, acarretando em significativa perda  econômica e de competitividade e consequente reflexo no custo Brasil.    O  uso  inadequado  dos  modais  gerou  uma  enorme  dependência  do  modal  rodoviário,  que  acaba  suprindo  lacunas  dos  demais  modais,  porém  apresenta  uma  frota  ultrapassada  e  as  rodovias  em  condições  precárias.  A  malha  ferroviária existente, em boa parte construída no início do século passado, sofre resquícios de falhas no processo da  recente  privatização  que  a  impede  de  impulsos  maiores.  A  participação  dos  modais  hidroviário  e  aéreo  é  praticamente inexistente.     O sistema de transporte é essencial para a movimentação da economia de um país. Sem este sistema os produtos  não chegariam até seus consumidores, as indústrias não teriam acesso as matérias‐primas e nem teriam condições  de escoar sua produção. É um setor totalmente horizontalizado viabilizando todos os outros setores da economia.  A situação brasileira atual da matriz de transportes de cargas acarreta perda de competitividade para as empresas  nacionais, uma vez que a ineficiência dos modais gera um elevado Custo País, se tornando um fator limitante para o  desenvolvimento regional e internacional do Brasil.    A  falta  de  um  planejamento  e  de  investimentos  do  setor  de  transporte  nacional  implica  numa  incapacidade  de  acompanhar a demanda nacional podendo gerar um colapso deste sistema. Alguns fatores deste risco já podem ser  percebidos como uma frota de caminhões e locomotivas antigas tendo uma idade média, respectivamente, de 19 e  21    25 anos, a grande maioria das rodovias em condições péssimas, pouca disponibilidade de infraestrutura ferroviária e  o sistema aéreo e hidroviário tendo baixa participação.    Uma  das  principais  causas  da  ineficiência  da  matriz  de  transportes  de  carga  brasileira  está  baseada  no  uso  inadequado dos modais. Existe uma sobrecarga no transporte rodoviário, figura abaixo, em função dos baixos preços  de frete, o que acaba servindo como uma barreira ao uso dos demais modais.      Fonte: ANTT, 2006    Com  o  cenário  atual  do  sistema  de  transportes  é  necessário  ser  implantado  diversas  melhorias  nos  modais,  de  maneira que haja uma igual disponibilidade e qualidade dos meios de transportes, garantindo um desenvolvimento  adequado de todo o sistema de transportes.    O  poder  púbico  precisa  dirigir  mais  ações  para  a  melhoria  da  infraestrutura  de  transportes,  englobando  investimentos nos diferente modais, viabilizando o aumento da eficiência e proporcionando a intermodalidade.    É  importante  ressaltar  que  os  recursos  para  estes  investimentos  já  são  gerados  através  da  CIDE  (Contribuição  de  Intervenção no Domínio Econômico), porém é preciso que haja uma adequação dos investimentos para a melhoria e  modernização da infraestrutura de transportes, pois os investimentos nesta área estão muito baixos, como analisado  na tabela abaixo:          CONSIDERAÇÕES FINAIS  A  abertura  econômica  dos  países  já  se  tornou  uma  realidade,  porém  para  ser  vantajoso  o  Brasil  precisa  ter  uma  economia  nacional  eficiente,  uma  infraestrutura  adequada  e  ter  processos  menos  burocráticos,  assim  dando  capacidade de competição no setor privado.    O  desenvolvimento  do  setor  de  infraestrutura  é  primordial  para  a  integração  do  país.  Com  uma  infraestrutura  adequada,  a  produção  brasileira  se  fortalece,  conseguindo  diminuir  custos,  proporcionando  preços  mais  competitivos aos produtos, gerando um maior desenvolvimento econômico.  22      Para que haja a melhoria das condições transportes de fato, é necessário um maior comprometimento do governo  em  definir  políticas  e  planejamentos  mais  claros,  melhores  definidos  e  específicos  para  cada  modal,  priorizando  parcerias público‐privado.    O problema das rodovias se dá, principalmente, nas estradas não concessionadas, as quais estão em péssimo estado  e  não  recebem  investimentos  em  proporções  adequadas.  No  que  diz  respeito  as  concessionadas  as  condições  encontram‐se em melhores estados, porém o custo que se agrega ao valor final por usufruir destas vias é grande.  No  Brasil  a  malha  férrea  é  pequena  e  atinge  pontos  isolados  do  território  nacional,  os  investimentos  provem  na  grande maioria apenas do setor privado e com interesse próprio. O modal ferroviário deveria ter maior atenção por  parte do Governo, pois é o que possui um dos menores custos para o transporte de mercadorias e poderia aumentar  o nível de competitividade do Brasil.    A  importância  do  modal  ferroviário  é  evidenciada  quando  se  traça  um  comparativo  entre  a  malha  ferroviária  brasileira e a malha de um país desenvolvido, como os Estados Unidos, onde se percebe a melhor distribuição, a qual  atinge  todo  o  país.  O  modal  aquaviário,  principalmente  o  transporte  hidroviário  requer  maiores  cuidados.  A  capacidade de transportar grandes volumes faz com que este seja a modalidade adequada para o escoamento de  produtos agrícolas, porém há alguns empecilhos de cunho ambiental que acarretam no lento desenvolvimento do  setor. Portanto, é preciso maior atenção do governo para a viabilização de projetos, de maneira que este não traga  prejuízos para o meio ambiente.    O modal aéreo quase não é utilizado no Brasil, vários fatores implicam para isto ocorra, principalmente o fato das  tarifas  serem  muito  altas,  diferente  de  países  de  primeiro  mundo  que  tem  uma  política  de  tarifação  adequada.  Porém é preciso que haja crescimento deste modal na matriz de transportes do Brasil, pois ele tem a vantagem de  atingir  altas  velocidades,  podendo  efetuar  a  entrega  quase  imediata.  Para  que  o  Brasil  apresente  índices  mais  consideráveis  no  mercado  mundial  é  preciso  uma  reavaliação  de  vários  setores  da  economia.  A  infraestrutura  de  transporte  é  um  setor  crucial  e  precisar  ter  investimentos  urgentes  para  que  o  país  possa  diminuir  seus  custos  e  assim poder competir igualmente com outros países.    REFERÊNCIAS    ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres. Disponível em www.antt.gov.br. Acesso em 15 de outubro de  2006  CAIXETA‐FILHO,  J.  V.  &  GARMEIRO,  A.  H.  (orgs.),  2001,  Transporte  e  Logística  em  Sistemas  Agroindustriais.  Atlas,  São Paulo.  Centro de Estudos Logísticos. Disponível em www.centrodelogistica.com.br. Acesso em 21 de agosto de 2006.  CNT – Centro Nacional do Transporte. Disponível em www.cnt.org.br. Acesso em 04 de outubro de 2006.  Cortiñas Lopez, José Manuel. Comércio exterior competitivo, Ed. LEX Editora S.A., 2005.  DNIT‐ Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Disponível em www.dnit.gov.br. Acesso em 11 de  outubro de 2006.  FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Disponível em www.fiesp.com.br. Acesso em 24 de agosto  de 2006.  FIRJAN  ‐  Federação  das  Indústrias  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro.  Disponível  em  www.firjan.org.  Acesso  em  03  de  outubro de 2006.  GEIPOT. Disponível em www.geipot.gov.br. Acesso em 21 de outubro de 2006.  Global  21  –  Comércio  Exterior  e  Marketing  Internacional.  Disponível  em  www.global21.com.br.  Acesso  em  5  de  setembro de 2006.  INAE ‐ Instituto Nacional de Altos Estudos. Disponível em www.inae.org.br. Acesso em 04 de outubro de 2006.  Ludovico, Nelson. Logística Internacional: enfocando o comércio exterior. Ed. STS, 2004.  Ministério dos Transportes. Disponível em www.transportes.gov.br. Acesso em 15 de outubro de 2006  Rodrigues, Paulo Roberto Ambrosio. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e à Logística internacional, Ed.  Aduaneiras, 2003.