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Estudo Da Evolução Do Mercado Siderúrgico Em Economias De Crise

A indústria siderúrgica como um todo, acompanhou a evolução econômica do período Pós-Guerra até os dias atuais em três etapas: A primeira com o crescimento da economia e da atividade industrial na reconstrução pós-guerra, a segunda com a intensa estagnação do setor devido à desaceleração da economia dos países desenvolvidos, principais demandantes do produto siderúrgico, e a terceira pela reestruturação e desenvolvimento tecnológico do setor, principalmente com as privatizações, e em virtude do novo modelo econômico...

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO ESTUDO DA EVOLUÇÃO DO MERCADO SIDERÚRGICO EM ECONOMIAS DE CRISE BRENNO FERREIRA DE SOUZA 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO ESTUDO DA EVOLUÇÃO DO MERCADO SIDERÚRGICO EM ECONOMIAS DE CRISE BRENNO FERREIRA DE SOUZA 2010 BRENNO FERREIRA DE SOUZA ESTUDO DA EVOLUÇÃO DO MERCADO SIDERÚRGICO EM ECONOMIAS DE CRISE Trabalho de Conclusão do Curso submetido como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração, no Curso de Graduação em Administração. DCAC/ICHS/UFRRJ. Orientador: Professor - Msc. Marcelo Sales Ferreira. 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO BRENNO FERREIRA DE SOUZA Trabalho de Conclusão do Curso submetido como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração, no Curso de Administração. TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO APROVADO EM 27/07/2010 Prof. Msc. Marcelo Sales Ferreira - UFRRJ Orientador Dr. Silvestre Prado de Souza Neto – UFRRJ Membro Profª. Msc. Kátia de Almeida – UFRRJ Membro “Dedico este trabalho ao meu pai, Ronaldo, que me ensinou a lutar até o fim e a minha mãe, Vania, que nunca acreditou existir um fim! Pois não mediram esforços para me apoiar durante esses anos de graduação. Acompanharam minhas dificuldades e minhas vitórias. Hoje me torno o homem que eles criaram. E ao amigo amado, Rodrigo Ramalho (in memorian), que me deixou com saudades, mas com a lembrança de todos os bons momentos ao seu lado.” AGRADECIMENTOS À Deus. Aos meus pais e a toda minha família pela compreensão e apoio. Aos professores pela paciência e pelo conhecimento transferido. Aos amigos de trabalho e de faculdade que estiveram do meu lado durante todos esses anos. Aos funcionários do CEDERJ e da UFRRJ pela atenção e auxílio nesse período, principalmente no Pólo CEDERJ de Piraí. À todos os que me ajudaram durante essa importante jornada. Todos até aqui tiveram uma grande importância na minha formação moral e profissional: Obrigado! “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós, faremos menção do nome do Senhor nosso Deus.” Salmos 20:07 RESUMO A indústria siderúrgica como um todo, acompanhou a evolução econômica do período Pós-Guerra até os dias atuais em três etapas: A primeira com o crescimento da economia e da atividade industrial na reconstrução pós-guerra, a segunda com a intensa estagnação do setor devido à desaceleração da economia dos países desenvolvidos, principais demandantes do produto siderúrgico, e a terceira pela reestruturação e desenvolvimento tecnológico do setor, principalmente com as privatizações, e em virtude do novo modelo econômico mundial, dos mercados globalizados, e da ascensão de economias emergentes. Então, foi apresentado o mercado siderúrgico mundial, o mercado nacional, sua segmentação, sua cadeia produtiva e suas séries históricas de produção e consumo, com a estimativa para os anos de 2010 à 2012, permitindo o estudo do comportamento da economia do aço nos contextos das principais crises econômicas e políticas, mundiais e nacionais desde a Primeira Crise do Petróleo em 1973 a Crise que abalou o mundo em 2008, revelando as fortes influências das variáveis micro e macroeconômicas na produção e consumo do aço e proporcionando uma contextualização histórica da economia voltada para a indústria siderúrgica. E finalmente, um estudo e análise de sua variação diante desse contexto, servindo de diferencial estratégico à essas indústrias na quantificação de oferta e demanda em virtude de ambientes de crises futuros. Palavras-chave: Mercado Siderúrgico, Economia, Aço, Crises. ABSTRACT The siderurgical industry as a whole, followed the economic evolution of the Postwar period until the current days in three stages: First with the growth of the economy and the industrial activity in the reconstruction the postwar period, second with the intense stagnation of the sector due to deceleration of the economy of countries the developed, main plaintiffs of the siderurgical product, and the third for the reorganization and technological development of the sector, mainly with the privatizations, and in virtue of the new world-wide economic model, the global markets, and the ascension of emergent economies. Then, it was presented world-wide the steel market, the national market, its segmentation, its chain productive and its historical series of production and consumption, with the estimate for the years of 2010 until 2012, allowing to the study of the behavior of the steel economy in the contexts of the main economic crisis and politics, world-wide and national since the First Crisis of the Oil in 1973 until the Crisis that shook the world in 2008, disclosing to the strong influences of the micron and macroeconomic ones in the steel production and consume, and providing an steel economy historical evolution. Finally, a study and analysis of its variation ahead of this history, serving like a strategical differential to these industries in the quantification of offers and demand in future time of crisis. Key words: Siderurgical Market, Economy, Steel, Crisis. SUMÁRIO 1. Introdução ........................................................................................................... 10 1.1. Contextualização do Tema ............................................................................... 10 1.2. Objetivos do Estudo ......................................................................................... 11 1.2.1. Objetivos Gerais ............................................................................................. 11 1.2.2. Objetivos Específicos ..................................................................................... 12 1.3. Justificativas ..................................................................................................... 12 2. METODOLOGIA ................................................................................................. 13 3. O MERCADO SIDERÚRGICO ............................................................................ 14 3.1. A Siderurgia Mundial ........................................................................................ 14 3.2. A Indústria Siderúrgica Brasileira ...................................................................... 16 3.2.1. A Cadeia Produtiva Minero-Metalúrgica ......................................................... 17 3.2.2. O Consumo Nacional de Aço .......................................................................... 18 4. AS PRINCIPAIS CRISES MUNDIAIS QUE AFETARAM O MERCADO SIDERÚRGICO ......................................................................................................... 21 4.1. A Economia Durante a Primeira Crise do Petróleo – 1973 ............................... 21 4.1.1. A Origem da Crise do Petróleo ....................................................................... 21 4.1.2. A Crise do Petróleo em 1973 .......................................................................... 22 4.1.3. A Crise do Petróleo no Brasil .......................................................................... 23 4.2. A Economia Durante a Segunda Crise do Petróleo – 1979 .............................. 25 4.2.1. O Efeito da Segunda Crise do Petróleo na Economia Nacional ..................... 26 4.3. A Economia Após a Queda do Muro de Berlim - 1989 ..................................... 28 4.3.1. A Guerra Fria .................................................................................................. 28 4.3.2. A Economia Pós-Guerra ................................................................................. 29 4.3.3. A Economia Brasileira no Período de 1986 a 1995 ........................................ 31 4.3.3.1. O Plano Cruzado - 1986 ............................................................................... 31 4.3.3.2. O Plano Bresser e o Plano Verão ................................................................. 33 4.3.3.3. O Plano Collor – 1990 .................................................................................. 34 4.3.3.4. O Plano Real ................................................................................................ 35 4.4. O Contexto Econômico Mundial (1998-2007) ................................................... 38 4.4.1. A Crise da Rússia – 1998 ............................................................................... 38 4.4.2. A Internacionalização da China ...................................................................... 40 4.5. A Economia Nacional no Período de 1997 a 2007. .......................................... 42 4.5.1. A Economia Nacional na Fase Pós Real ........................................................ 42 4.5.2. O Contexto Nacional no Crescimento Mundial dos últimos anos ................... 44 4.6. A Crise Mundial de 2008................................................................................... 46 4.6.1. Os Efeitos da Recessão Mundial na Economia Brasileira .............................. 50 Considerações finais ................................................................................................. 53 Referências bibliográficas ......................................................................................... 56 1. INTRODUÇÃO 1.1. Contextualização do Tema A Siderurgia, uma das principais representantes das indústrias de bens de capital, é um tema de grande interesse, justificado pelo fato de ser um dos principais ramos da economia nacional, principalmente no fornecimento de insumos para infra-estrutura, e para outros ramos que são indicadores da situação econômica: construção civil, indústria automobilística, indústria de utilidades domésticas e comerciais, além de bens de capital, máquinas e equipamentos. Portanto, a indústria do aço se apresenta como objeto de estudos em um contexto de variáveis relevantes para seu crescimento como a expansão dos mercados internos, abertura crescente da economia, novos acordos de comércio e integração, avanços tecnológicos contínuos, com melhoria na qualidade, produtividade e competitividade entre os materiais, exigências sociais e ambientais crescentes e disponibilidade de serviços de logística adequados. Neste cenário, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (2008), apresentam-se à siderurgia brasileira, inúmeros desafios como: a maior competição no mercado interno, com permanente adequação dos preços, a adequação a novas exigências ambientais, a crescente competição com materiais sucedâneos e substitutos do aço, a superação de barreiras de acesso a mercados externos, a atualização tecnológica permanente, o desenvolvimento de métodos gerenciais e de relações do trabalho ajustados a novas demandas da sociedade e do mercado, o aprimoramento de mecanismos de defesa contra práticas de comércio desleal e a maior disseminação de informações quanto à importância do aço e da siderurgia brasileira. Mas também apresentam correspondentes oportunidades como o desenvolvimento de novos mercados, o enobrecimento da mistura de produtos, o crescimento das exportações e redução de barreiras de acesso a mercados, a parceria com segmentos das cadeias produtivas para aumento de 10 competitividade e maior agregação de valor no país, a melhoria da competitividade associada a avanços nas reformas estruturais do País e redução do “Custo Brasil”, o crescimento da demanda de aço pelo aumento da renda, dos investimentos e, por conseqüência, do consumo “per capita” de aço e a expansão da capacidade de produção do parque siderúrgico. Para entender o efeito das variações econômicas nesse segmento em especial, apresentamos o mercado siderúrgico nacional e mundial através das mudanças estruturais evolvidas durante seus períodos distintos de evolução apresentados desde o período pós-guerra, até o período no qual os recursos estatais se esgotaram, e o crescimento exigiu a privatização no setor, promovendo uma reforma tecnológica, e um aumento na produção e consumo do aço, com novos produtos e possibilidades de aplicação e adequação. Por isso, pesquisamos a variação de sua produção mundial em séries históricas, e para o mercado nacional, estudamos seu consumo e sua segmentação, como principais atividades industriais demandantes por esse produto. Após o entendimento do mercado siderúrgico, sua cadeia produtiva e seus principais consumidores, foi necessária a pesquisa das principais crises e eventos que afetaram a economia mundial, sendo as mais relevantes: a Primeira Crise do Petróleo (1973), a Segunda Crise do Petróleo (1979), a Queda do Muro de Berlim (1989), a Crise da Rússia (1998), a Abertura Econômica da China (2001) e a Crise Mundial de 2008. No âmbito nacional, além da repercussão desses eventos mundiais, estudamos os efeitos das crises dos diversos planos econômicos e diferentes governos na economia nacional. 1.2. 1.2.1. Objetivos do Estudo Objetivos Gerais Este trabalho analisa a variação da produção e do consumo siderúrgico através das diversas crises econômicas que afetaram a economia mundial no período pós-guerra até os dias atuais. Para isso, foi estudada cada crise mundial, seu efeito nas economias do mundo, sua repercussão nacional, e finalmente, seu efeito no mercado do aço, através das variações de volumes produzidos e consumidos ao longo desses anos. Através dessa contextualização, e das séries históricas obtidas, estudamos o consumo aparente do aço no Brasil, com o objetivo para o trabalho de entender quais grandes setores que afetaram e ainda afetam a indústria siderúrgica nacional. E também na esfera mundial, 11 como as crises e variáveis micro e macroeconômicas como políticas governamentais, agentes reguladores, consumo, crédito, Produto Interno Bruto, inflação, desemprego, disponibilidade de crédito entre outros afetam a produção e consumo através da variação dos volumes ofertados e demandados, respectivamente. Sendo assim, o problema de pesquisa em que esse estudo se baseia é o seguinte: A influência das crises econômicas mundiais e dos planos econômicos nacionais na produção e consumo do aço. 1.2.2. Objetivos Específicos i) Identificar os efeitos das principais crises econômicas, nacionais e internacionais, no mercado de aço. ii) Apresentar a evolução histórica e os principais marcos da indústria de aço no Brasil e no mundo. 1.3. Justificativas A escolha do tema foi baseada na vivência profissional em uma indústria siderúrgica em um momento no qual a produção e o volume de vendas foram afetados pela crise econômica mundial de 2008. Decidiu-se então, pesquisar e analisar a influência das crises anteriores no mercado do aço, a duração e o valor percentual das quedas nesse segmento, de maneira a conhecer as principais variáveis econômicas que o afetou, e através desses dados, possibilitar a empresa uma atuação de maneira estratégica através de projeções futuras e planos de negócios para a venda do produto siderúrgico no mercado nacional e sua produção no mercado mundial. 12 2. METODOLOGIA Como metodologia utilizada para este trabalho, foi adotada uma abordagem mista, com o levantamento e análise bibliográfica dos principais eventos econômicos históricos que possam estar associados à evolução do mercado siderúrgico e através destes, organizamos a evolução histórica da produção e consumo de aço, através de dados recebidos de instituições nacionais e internacionais de siderurgia de análise do mercado siderúrgico, analisando seu comportamento aos eventos econômicos estudados. Segundo Reis (2006), levantamento bibliográfico é o estudo exploratório da bibliografia concernente ao tema e ao objeto de estudo no universo da área de conhecimento de formação do aluno, que visa familiarizar o aluno com o tema escolhido, fornecer os elementos para determinar os conceitos da pesquisa, definir corretamente o estudo e esclarecer seu significado específico. Assim, o método é utilizado para que o pesquisador encontre o objeto de estudo a ser explorado no desenvolvimento do trabalho monográfico. Quanto ao objetivo, foi desenvolvida uma questão geral sobre a evolução do mercado siderúrgico e o estudo desses eventos econômicos, quer sejam crises ou planos nacionais, definindo o tema e o período a ser estudado, demarcando as questões problemas da pesquisa. 13 3. O MERCADO SIDERÚRGICO 3.1. A Siderurgia Mundial A siderurgia mundial se divide em três períodos de evolução distintos. Andrade et al (2001) afirma que o primeiro corresponde ao período pós-guerra até a década de 70, onde houve enorme desenvolvimento, assim como ocorreu com outros setores da economia. Entre 1945 e 1979, a taxa média anual de crescimento da produção mundial de aço bruto foi cerca de 5%. A reconstrução de tudo aquilo perdido na guerra impulsionou as atividades industriais, favorecendo alguns países no rápido desenvolvimento de suas economias. Assim, houve um grande crescimento da siderurgia nos países desenvolvidos e também em alguns países em desenvolvimento, que como o Brasil, implantaram e expandiram sua siderurgia no âmbito nacional. Nesse período, a siderurgia mundial era predominantemente estatal: o índice de estatização da produção de aço atingiu 75% em 1980. O segundo período, na década de 80, caracteriza-se pela estagnação do setor com produção em torno de 700 milhões de t/ano, e pela desaceleração do crescimento das economias desenvolvidas, influenciando o comportamento da demanda de aço. Esse estágio, onde a oferta de aço aumentava, com os preços em queda, caracterizou-se também pela intensificação do uso de sucedâneos como o alumínio, o plástico e a cerâmica, ameaçando a hegemonia do aço. As estatais tinham limitações para completar sua capacidade, criando elas próprias, barreiras para seu crescimento. Influenciado por questões e decisões políticas, o controle do governo reduzia a velocidade de resposta e a liberdade das siderúrgicas em relação às exigências do mercado e às mudanças do ambiente. De maneira geral, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de produtos e processos realizados pelas empresas foram deficientes. Muitas delas tornaram-se lentas, desatualizadas ou até mesmo obsoletas tecnologicamente, pouco racionalizadas e pouco eficientes em custo, pois muitas vezes eram 14 protegidas por mercados fechados. As indústrias estatais de aço eram a própria necessidade de reestruturação e agilização da siderurgia mundial, em processo de estagnação. Por último, o terceiro período, iniciado em 1988 e que se mantém até os dias atuais, caracterizou-se pela reestruturação, com profundas e constantes transformações do setor. Impulsionado pelas idéias de abertura e globalização dos mercados, iniciou-se um grande processo de privatização na siderurgia mundial. Esse movimento, que pode ser considerado como ponto de partida para a reestruturação, ocorreu ao longo de toda a década de 90 até os dias atuais de forma constante e intensa. Isso é constatado através da variação da participação estatal na produção mundial de aço: Em 1990 as estatais eram responsáveis por 60% da produção mundial, em 1994 atingiu 40% e atualmente restam menos de 20% nas mãos do estado, com grande concentração na Rússia, Ucrânia e China. Figura 1: Série Histórica da Produção Mundial de Aço. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Logo, a privatização foi um fator determinante para a reestruturação da siderurgia mundial, contribuindo para a internacionalização da indústria. Junto com a globalização, ela acirrou a competição existente na indústria, fazendo com que a mesma buscasse produtividade, tecnologia e escala para adquirir vantagens competitivas em sua atuação. 15 3.2. A Indústria Siderúrgica Brasileira É fato que o mercado siderúrgico nacional acompanha o crescimento e desenvolvimento do mesmo mercado mundial. A entrada de capital estatal no setor até o final da década de 70 é uma das grandes participantes desse crescimento. Após o inicial crescimento, durante a década de 80 o setor desacelerou junto à quase todos os setores econômicos, limitando o desenvolvimento da siderúrgica estatal. Com a crise no contexto nacional, houve uma queda nos investimentos destinados ao setor siderúrgico, o que acabou tornando fundamental a entrada de capital privado para dar continuidade ao desenvolvimento do setor. Segundo Yamassake (2003), o processo de privatização das siderúrgicas estatais no Brasil ocorreu em duas fases. A primeira fase teve início em 1988 e constituiu, na grande maioria, privatizações de pequeno porte. Já na segunda fase, que abrangeu o período de 1991 a 1993, o processo se acentuou com o Programa Nacional de Desestatização quando todas as siderúrgicas restantes foram privatizadas. O valor total das negociações que giraram em torno do processo de privatização do setor chegou a US$ 8,2 bilhões, se considerados os valores referentes às dividas das empresas. O período posterior ao processo de privatização foi marcado por profundas mudanças dentro de todo o setor siderúrgico nacional. Houve uma mudança do modelo de substituição das importações, bem como a liberalização maior por parte do governo a respeito de preços e alíquotas de importações, advindas com a abertura econômica do país. Nesse processo as empresas nacionais buscaram ganhar competitividade tanto no mercado interno, que passou a ser competitivo entre as empresas uma vez que estas poderiam produzir os mesmos tipos de aço, como no mercado externo, que no decorrer do tempo passou a ser o grande alvo para a expansão do setor nacional. Após um período de investimento, principalmente em tecnologia, por parte das siderúrgicas brasileiras, o setor tornou-se competitivo no contexto mundial. Isso acabou despertando interesse dos grandes grupos internacionais. 16 Figura 2: Série Histórica da Produção Nacional de Aço Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 3.2.1. A Cadeia Produtiva Minero-Metalúrgica De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento da Produção, Brasil (2010) o país é um dos países com maior potencial mineral do mundo. O potencial geológico abundante a ser explorado em extensão continental de 8.514.876,599 km2, a infra-estrutura em processo de fortalecimento e a mão-de-obra qualificada, que se utiliza de tecnologia no estado da arte, criam um ambiente propício para o crescimento da mineração e da metalurgia no País. Na mineração, particularmente em nióbio, minério de ferro, manganês, bauxita, e, em breve, níquel e cobre, há excelentes performances de produção, posicionando o Brasil dentre os destacados produtores mundiais, com o orgulho de ter uma atuação ambientalmente sustentável. Na metalurgia, os destaques são para a produção de ferro-gusa, aço, alumínio e, em breve, níquel. Há também produção de cobre, zinco e de ferroligas, principalmente daquelas ligas à base de nióbio, manganês, cromo e silício. Os investimentos das empresas no País indicam que a produção vai crescer ainda mais. Estão previstos investimentos no setor mineral superiores a US$ 28 bilhões para o período 17 2007-2012, com destaque para minério de ferro, níquel, bauxita e cobre. Na siderurgia, há investimentos anunciados pelo setor superiores a US$ 37 bilhões, que irá mais que duplicar a capacidade bruta de produção de aço, com ênfase em projetos de aço semi-acabado destinado à exportação. Enfim, o complexo minero-metalúrgico brasileiro vive um momento ímpar de sua história, fortalecido pela recuperação dos preços das commodities minerais, com reflexos altamente positivos em novos investimentos, tanto de empresas nacionais como de players estrangeiros, atraídos pela estabilidade da economia nacional, evidenciada pelas sucessivas quedas na taxa básica de juros, controle inflacionário e redução no índice de risco-País. A posição geográfica do Brasil o torna porta de entrada para o Mercosul e para outros mercados latino-americanos. 3.2.2. O Consumo Nacional de Aço Dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia – IBS (2007), revelam que o consumo per capita de aço no Brasil cresceu acima da média atingindo quase 130 quilos de aço por habitante, fato inédito uma vez que esse indicador mantinha-se praticamente inalterado desde 1980 (figura 3). Este acontecimento deve-se a programas de grande impactos no consumo de aço como o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e a Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP, além de investimentos privados nos grandes setores industriais. Figura 3: Consumo Per Capita de Aço – Brasil x Mundo. Fonte: Instituto Brasileiro de Siderurgia, 2007. 18 Os investimentos supracitados do governo através do PAC e da PDP e investimentos privados na economia, a ampliação de crédito para as classes C e D associado ao aumento do consumo de aço em setores como o automobilístico, de bens de capital e da construção civil puxaram o consumo nacional a valores recordes nos últimos anos conforme podemos ver na figura 4. Figura 4: Série Histórica do Consumo Nacional de Aço. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). O crescimento do setor de construção civil foi um dos responsáveis pelo aumento do consumo devido ao aquecimento do mercado imobiliário e um aumento da oferta de crédito para empreendimentos voltados para as classes C e D, mantendo o segmento como maior consumidor de aço nos últimos anos (figura 5). Também pelo aumento de crédito, queda dos juros e aumento dos prazos de financiamento, o setor automotivo que corresponde ao 2º maior consumidor de aço nacional impulsionou o consumo deste com 6,1 milhões de toneladas de aço em 2008. E também pelo crescimento do poder de consumo do brasileiro, houve um crescimento geral das indústrias e principalmente da indústria de bens de capital, neste grupo os equipamentos e máquinas agrícolas, mantendo o segmento responsável pela venda de 5,0 milhões de toneladas de aço no mercado nacional em 2008 contra 2,2 milhões em 1998. 19 Figura 5: Consumo aparente de aço nos diversos setores da economia nos últimos 10 anos. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 20 4. AS PRINCIPAIS CRISES MUNDIAIS QUE AFETARAM O MERCADO SIDERÚRGICO A produção e o consumo no mercado siderúrgico estão intimamente ligados ao ambiente econômico mundial e nacional. As políticas macroeconômicas e as variáveis microeconômicas foram durante a formação econômica do período apresentado foram essenciais para o desenvolvimento das economias mundiais e nacionais, da indústria, da evolução do consumo, e como veremos, do comportamento de um mercado especial, o mercado siderúrgico. 4.1. 4.1.1. A Economia Durante a Primeira Crise do Petróleo – 1973 A Origem da Crise do Petróleo O acordo de Bretton Woods (1944), ao criar o sistema de taxas fixas de câmbio adotou o dólar norte-americano como referência para cotação das demais moedas no mercado monetário internacional. Os Estados Unidos, que possuíam, então as maiores reservas de ouro monetário do mundo assumiram o compromisso de converter em ouro sua moeda, à um preço fixo para cada medida de ouro. Mas por falta de ajustes no balanço de pagamentos dos Estados Unidos obrigaram o governo a emitir mais moeda que suas reservas metálicas. (FURTADO, 2000) “A situação agravou-se celeremente com a Guerra do Vietnã (1965-73) e o aumento do déficit fiscal dos Estados Unidos. A instabilidade real da moeda norte-americana refletiu-se no sistema monetário internacional. O índice de preços no atacado, que mede a inflação dos países industrializados, subiu de 2,5% em 1968 e 3,9% em 1969.” (GALBRAITH, 1977 apud FURTADO, 2000. p. 201) 21 Para evitar mais perdas de sua reserva de ouro, o governo decidiu converter o dólar em ouro apenas para os bancos centrais dos demais países para liquidarem seus débitos.1 Em 1971 a conversão terminou completamente e logo depois o dólar desvalorizou 8,57%, cerca de 17% em relação a moeda alemã e 12% em relação a moeda japonesa. 4.1.2. A Crise do Petróleo em 1973 Segundo Furtado (2000), os países do Oriente Médio como principais fornecedores de petróleo aos ocidentais, sofreram com a desvalorização da moeda americana, pois seu único produto de exportação era consumido no mercado sob a influência do dólar e porque sofriam de grande dependência de importações, inclusive as dos produtos de subsistência como alimentos, desse mesmo mercado. Esse fato levou a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo a elevar em 1971 o preço oficial do barril de 1,80 dólar para aproximadamente 2,50 dólar, e estabelecer esse preço para os próximos cinco anos. A guerra de Yom Kippur entre os árabes e israelenses em 73 levou à reunião dos produtores no Kuwait um componente político que iria alterar significativamente a comercialização do petróleo no mercado internacional. Como pressão dos árabes para recuperar os territórios ocupados por Israel, a OPEP decidiu, em 21 de outubro de 1973 a adotar um corte seletivo nos fornecimentos de petróleo. Esse corte mostrou o alto grau de dependência dos países ocidentais com relação ao petróleo árabe, principalmente os norte-americanos, ameaçando alguns países de um colapso energético, estimulando ainda mais os árabes em sua imposição de preços e a manutenção da produção para melhor controle da oferta. Essa dependência do Ocidente ao petróleo pode ser explicada pelo abandono das fontes de energia alternativas em virtude de um menor custo do óleo importado e principalmente pela tecnologia de pós-guerra apoiada no uso intensivo de combustíveis líquidos e produtos petroquímicos. 1 A Primeira Emenda do Acordo do FMI, que entrou em vigor a partir de julho de 1969, criou o DES – Direitos Especiais de Saque – moeda escritural do FMI –, com a finalidade de tornar as reservas internacionais dos países membros menos dependentes dos déficits do balanço de pagamentos dos Estados Unidos. O valor do DES é determinado por uma “cesta” composta das cinco principais moedas do comércio e das finanças internacionais. Essas moedas são: dólar norteamericano, marco alemão, franco francês, libra esterlina e iene japonês. 22 A dependência energética e sua influência em todos os setores da economia refletiram-se no setor siderúrgico com a queda de 8,5% da produção mundial de aço entre os anos de 1973 e 1975. A recuperação estendeu-se pelos três anos seguintes com a estabilização energética e o retorno dos investimentos na indústria como um todo, aumentando a necessidade do aço a nível mundial. Figura 6: Produção Mundial de Aço entre os anos de 1973 e 1978. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.1.3. A Crise do Petróleo no Brasil Em 1973 o Brasil sentia o auge do “milagre brasileiro” através do plano econômico lançado pelo governo Médici, chamado de I PND – Plano Nacional de Desenvolvimento, que abrangia grandes investimentos no setor siderúrgico, petroquímico, de transporte e de energia elétrica, a economia cresceu elevadas taxas anuais, impulsionadas pelo aumento da produção industrial, pelo crescimento das exportações e pela acentuada utilização de capitais externos. Lacerda et al (2006) afirma que no ápice do ciclo expansivo, algumas contradições se manifestavam. A principal foi o grande aumento de importação de bens de produção, uma vez que esse segmento nacional era insuficientemente desenvolvido, aumentando a participação de bens de capital importados na oferta interna total de bens de capital de 20%, em 1965, para 30% em 1973. Outra contradição é que a produção de bens de consumo duráveis dobrou, au23 mentando aproximadamente 97% e a de bens intermediários aumentou 45%. Esses fatos provocaram focos de tensão inflacionária e o reaparecimento de déficits comerciais. Essas pressões também são frutos dos aumentos salariais que começavam a se recuperar em função do grande aumento da demanda por trabalhadores e do arrocho salarial, que juntamente com um endividamento externo, financiou o I PND. Com a crise do petróleo em 1973, refletindo diretamente nos preços dos produtos importados e principalmente na aquisição de bens de capital, que o Brasil, como os outros países em desenvolvimento necessitavam para seu desenvolvimento industrial, agravaram as tensões inflacionárias nacionais e refletiu no mercado siderúrgico no ano seguinte, 1974, com a queda do consumo de aço pelos diversos setores industriais. Figura 7: Consumo Nacional de Aço entre os anos de 1971 e 1978. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Observa-se na figura 7, o aumento do consumo de aço até o auge do crescimento econômico pelo I PAEG em 1973, e a influência da 1ª Crise do Petróleo na demanda nacional no ano de 1974 até 1976 com a queda de 9,2% das vendas de aço no Brasil. A recuperação do mercado siderúrgico se deu pelos próximos dois anos, 1977 e 1978, e foi possível pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND implantado pelo governo do general Geisel. 24 4.2. A Economia Durante a Segunda Crise do Petróleo – 1979 A economia mundial ainda sensível ao controle da oferta e aumento súbito dos preços de petróleo ocorrido em 1973 sentiu os efeitos da Segunda Crise do Petróleo, em março de 1979. “A profunda crise política no Irã – com a destituição do xá Reza Pahlevi e a ascensão do aiatolá Khomeini ao poder – provocou uma retração da oferta de petróleo no mercado mundial, uma vez que aquele país era um dos seus maiores produtores. Com a nova política, o Irã decidiu vender sua produção no mercado livre (spot) de Roterdam (Holanda), onde o preço era mais alto [...]. A reação foi imediata: o preço médio do petróleo, que, no início de 79, era de 12,37 dólares por barril, atingiu, em dezembro daquele ano, 22,77 dólares por barril, o que significou um aumento de 84% em menos de um ano.” (FURTADO, 2000. p. 208) No mundo os efeitos foram altamente protecionistas por parte dos países desenvolvidos, através do aumento das taxas de juros, restrições a importações, adoção de políticas monetárias para combate à inflação e a desvalorização cambial, entre outras medidas, ocasionando uma retração no consumo como um todo, diminuindo inclusive a demanda por aço, e por consequência, a sua produção a nível mundial em 13,6% no ano de 1982 em relação a 1979. Porém, o efeito maior na economia internacional foi sentido em 1982, o último ano da crise, durante o Setembro Negro, quando o FMI – Fundo Monetário Internacional reuniu-se em Toronto, Canadá, e os países em desenvolvimento criaram a expectativa da criação de um fundo de emergência de U$ 25 bilhões, da decisão favorável por parte dos países industrializados de aumentar suas cotas de participação e que assim tivessem maior disponibilidade de recursos financeiros disponibilizados pelo Fundo para o ajuste em seus balanços de pagamentos, foi negado pelos Estados Unidos e outros países industrializados como Alemanha, Inglaterra França e Japão que juntos, controlavam cerda de 2/3 das cotas do FMI. Segundo Cerqueira (2003), esse fato originou uma sequência de insolvências com o pedido de moratória da Polônia, seguido da Romênia, do México e da Argentina, entre outros países importadores de petróleo, cujas dívidas somavam quase U$ 100 bilhões em 1973 e subiram pra quase U$ 500 bilhões em 1982. E por último a instabilidade política no Oriente Médio também contribui para aumentar os efeitos da crise nos países importadores de petróleo, que passaram a destinar suas reservas em divisas e negociar financiamentos, com o objetivo de armazenar maiores estoques de petróleo bruto e derivados, se prevenindo contra uma ameaça de interrupção no fornecimento. 25 Figura 8: Produção Mundial de Aço entre os anos de 1979 e 1987. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.2.1. O Efeito da Segunda Crise do Petróleo na Economia Nacional Os efeitos da crise internacional no Brasil exigiam rápidas medidas de ajustes uma vez que sofreu o efeito do aumento do preço do petróleo e seus derivados, e o efeito do protecionismo dos países industrializados com taxas e bloqueios, reduzindo o saldo de exportações do país, no momento em que a economia nacional mais precisava de recursos tanto para a compra do petróleo quanto para arcar com suas dívidas externas, aumentadas principalmente para financiar os planos do governo Médici e Geisel. Giambiagi (2005), afirma que o diagnóstico do desequilíbrio externo refletia um excesso generalizado de demanda, um desajuste de preços relativos que distorcia a distribuição dessa demanda entre os diversos setores. Assim o governo João Figueiredo, no período do ministro Delfim Neto, adotou uma estratégia de ajuste recessivo, acompanhando a mudança nas condições estruturais e conjunturais de operações da economia brasileira, combinando o ajuste de preços relativos – da taxa de câmbio, e em menor intensidade das tarifas públicas – e o controle da absorção interna através de juros reais elevados, ajudando o governo indiretamente a ter mais tempo para o ajuste externo efetivo, captando recursos via conta de capital, uma vez que a mudança do câmbio aumentaria a demanda por bens de produção doméstica estimulando as exportações. 26 As mudanças no câmbio e nas tarifas públicas aumentaram a inflação para uma média anual de 93% ao ano no biênio 1979-1980, acarretando uma mudança no regime de reajuste salarial de anual para semestral, pois devido ao rápido aumento da inflação, associava à este grandes perdas reais. E em 1980 foi adotada a prefixação da correção monetária em níveis inferiores ao da inflação corrente para corrigir contratos, visando induzir expectativas de queda de inflação. Essas duas últimas ações foram fatores realimentadores do processo inflacionário gerando um ciclo vicioso de aumento de preços, pois os mesmos aumentavam pelo fato dos agentes econômicos tentarem recuperar as perdas reais de seu aumento passado. Esse modelo previa o ajuste do desequilíbrio externo e fiscal, porém foi ineficaz devido à alta inflação viciosa gerada por cada correção, porém a recessão foi evitada pelo aumento das exportações e o crescimento devido à finalização dos investimentos públicos e privados remanescentes do II PND. Porém o desequilíbrio externo foi agravado, pois apesar do aumento das exportações, o déficit comercial aumentou, pois houve um grande aumento no preço das importações, principalmente do petróleo, aumentaram-se os juros internacionais, logo as despesas com renda também e os superávits da conta de capital nacional não foram suficientes para cobrir a os atuais déficits, registrando assim, uma perda de reservas internacionais de aproximadamente U$ 8 bilhões entre 1978 e 1982. O Brasil foi obrigado a fazer diversos acordos com o FMI para injetar recursos na conta de capital e com a manutenção da política restritiva nos anos de 1983 e 1984, além da inflação, geraram um menor crescimento do PIB. Desmotivados pela recessão doméstica e pelas mudanças estruturais do II PND na substituição de importações de bens de capital e petróleo, as mesmas reduziram em quase 10%, e com a recuperação mundial a partir de 1984 permitiram o aumento das exportações e a recuperação da economia e da indústria nacional entre os anos de 1984 e 1986, agora com produção própria de bens de capital, demandando maiores quantidades de aço e impulsionando o consumo nacional. 27 Figura 9: Consumo Nacional de Aço entre os anos de 1979 e 1986. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.3. 4.3.1. A Economia Após a Queda do Muro de Berlim - 1989 A Guerra Fria A Guerra Fria, como ficou conhecida, foi o período da disputa ideológica entre o Capitalismo e o Socialismo teve início, segundo Mota (1997), após a Segunda Guerra Mundial, quando as antigas potências européias estavam esgotadas e como grandes vencedores estavam os Estados Unidos e a União Soviética. Então as negociações para regularizar a situação mundial entre os vencedores foram feitas em três principais momentos: A Conferência de Teerã (1943), a Conferência de Yalta (1945) e a Conferência de Postdam (1945). Na primeira, foram ajustadas as estratégias para vencer a Alemanha e divididas as áreas de atuação das duas potências, proporcionais as áreas de atuação e avanço das suas tropas. Na segunda, discutiram a Organização das Nações Unidas e confirmaram as decisões tomadas anteriormente referentes ao estabelecimento de zonas de influência. A terceira decidiu sobre a divisão da Alemanha em quatro zonas sob administração francesa, britânica, norte-americana e soviética. Além disso, como fator crítico para o acontecimento da guerra fria, foi a decisão em 1948 dos aliados ocidentais, Estados Unidos, Inglaterra e França reunirem suas zonas de ocupação na Alemanha e criar uma Assembléia Constituinte, dando origem a uma Alemanha livre. Em 28 maio de 1949, foi criada a República Federal da Alemanha ou Alemanha Ocidental, capitalista. E em outubro, na área soviética a Republica Democrática ou Alemanha Oriental, orientada ao socialismo. Mais tarde por iniciativa soviética foi construído um muro para dividir as duas Alemanhas, de modo a impedir a fuga dos habitantes da parte socialista para a zona capitalista. Esse muro, que dividiu a cidade de Berlim, foi considerado o maior símbolo da Guerra Fria. As potências do Velho-Mundo tinham sido substituídas pelas duas potências que logo começaram a disputa pela partilha do mundo e pela influência de seus modelos políticos e econômicos. Os Estados Unidos propunham um sistema capitalista liberal, enquanto os soviéticos eram partidários de uma economia planificada, sob o controle do Estado. Essa bipolarização foi responsável por conflitos regionais para a disputa de suas próprias posições políticas e ideológicas, que não necessariamente estava m ligadas aos modelos americanos e soviéticos. Os líderes dos blocos viram-se envolvidos então em todos os tipos de choque e movimentos, e tiveram de escolher seus protegidos, de maneira que a política e a economia mundial fora toda afetada no período. Esse momento, iniciado por volta de 1947, e que se estendeu até 1989 com a queda do muro de Berlim e a desintegração da até então União Soviética, marcando o fim da Guerra Fria, recebeu esse nome, pois tratava de uma disputa pela hegemonia, não convencional, onde as armas eram construídas, os exércitos equipados, a corrida armamentista incentivada, inclusive com o início da corrida nuclear, desenvolveram-se tática de guerra, porém a guerra clássica e o confronto direto eram evitados, uma vez que as duas potências sabiam que esse conflito causaria a destruição mútua. 4.3.2. A Economia Pós-Guerra Após a queda do muro de Berlim, o socialismo estava em crise e anunciando o fim da República Soviética, e o modelo capitalista, liderado pelos Estados Unidos como grande vencedor da Guerra Fria. Em 1990, a Alemanha ainda estava separada, uma vez que a parte Oriental ainda pertencia ao Pacto de Varsóvia, aliança de apoio militar e econômica socialista, mas em junho de 1990, essa aliança anunciou que deixaria de exercer suas funções militares, eliminando o único grande obstáculo geopolítico para a reunificação da Alemanha. Em outubro deste mesmo ano a Alemanha Oriental deixou de existir, a Inglaterra com o apoio dos 29 Estados Unidos se reestruturava economicamente, a União Soviética estava em crise, e ganhavam força movimentos de independência das suas 15 repúblicas. Logo após, Júnior (1992) afirma que surgiram nações independentes politicamente, mas com economias fragilizadas, a consequência foi a regionalização da economia e o a formação dos blocos econômicos, pois a disputa pela hegemonia passa diretamente à concorrência comercial e dá início à chamada nova ordem mundial, onde o poder está multipolarizado entre os vários blocos econômicos. Assim em 1992, nasceu a União Européia com o Tratado de Maastricht (1992), posteriormente ratificado em 1993, pelos doze membros da Comunidade Européia: Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal e Espanha, com o objetivo de eliminar todas as barreiras alfandegárias entre os países. Nas Américas, segundo Santos (2007), os Estados Unidos tinham invadido o Panamá, com a prerrogativa de prender o general Noriega, acusado de ser narcotraficante, porém o mesmo não queria entregar a administração do Canal do Panamá ao governo panamenho, uma vez que já havia vencido o prazo e os Estados Unidos não iria cumprir o acordo devido à sua importância. Mas a sua principal atuação como novo líder econômico foi na crise do Golfo Pérsico, quando o ditador iraquiano Saddam Hussein ordenou a invasão do vizinho Kuwait, com o pretexto de que o mesmo tenha causado a queda do preço do petróleo ao vender mais do que a cota estabelecida pela OPEP. Os Estados Unidos reagiram exigindo da ONU uma série de medidas punitivas ao Iraque, incluindo um boicote econômico, além de enviar suas tropas para a retirada dos iraquianos do Kuwait, que antes de sair, incendiaram diversos poços de petróleo do país causando uma enorme crise econômica e ecológica, dando prejuízo de cerca de US$ 8,5 bilhões com a queda da produção petrolífera. Nesse contexto mundial, com novos blocos econômicos, novos conflitos e novas crises, a produção mundial de aço, puxada em grande parte pela corrida armamentista da guerra fria, entra em queda em 1989, atingindo 7,9% de queda em 1992, e demorando cinco anos para se recuperar. 30 Figura 10: Produção Mundial de Aço entre os anos de 1988 e 1997. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.3.3. A Economia Brasileira no Período de 1986 a 1995 4.3.3.1. O Plano Cruzado - 1986 O Brasil havia experimentado o controle das expectativas inflacionárias com a adoção do Plano Cruzado em 1986, uma reforma monetária com rigorosas políticas de administração de preços e nova política salarial que segundo Furtado (2000), com uma política de controle de preços causou efeitos estabilizadores e até mesmo queda de preços, aumentando o poder de compra do salário, que também foi reajustado, acentuando o consumo interno2. Porém, com a queda dos juros reais no mercado financeiro, facilitando o crédito e desestimulando a poupança, além desse aumento real dos salários, impulsionou a alta dos preços que só foi contido pela política rigorosa de controle dos preços por parte do governo. O Plano com seu êxito comprometido por esse aumento de preço súbito provocado pelo maior poder de compra do brasileiro, ainda foi prejudicado pelo déficit público, uma vez que as despesas foram superiores ao aumento real da receita fiscal, principalmente pelos créditos 2 O Índice Geral de Preços – IGP foi negativo aos meses de março e abril de 86, sendo menor que 1% ao mês até julho desse mesmo ano. 31 favorecidos as estatais, sendo coberto com emissão de moeda e títulos públicos. Soma-se a isso uma política fiscal ineficiente, que não soube proporcionar a estabilização econômica diante de juros baixos, sendo o governo obrigado a criar medidas para conter o consumo. Em julho de 86, o Fundo Nacional de Desenvolvimento – FND embutia um empréstimo compulsório de 28% no preço interno do álcool, da gasolina e dos automóveis, além de outra fonte como a taxa de 25% aplicada na compra de passagens aéreas internacionais e na aquisição de moedas estrangeiras no câmbio oficial para viagens ao exterior. Esse empréstimo sobre a aquisição de veículos automotores, logicamente causou uma queda na demanda, ameaçando o emprego nesse setor, e diminuindo drasticamente o nível de produção, fator que contribui para a queda do consumo interno de aço, uma vez que o setor automobilístico encontrava-se como um dos principais demandantes do produto siderúrgico. “Era perceptível, já em junho de 1986, que a moeda nacional encontrava-se sobrevalorizada, e tornavam-se presentes as expectativas de que o governo seria levado a desvalorizar o cruzado em resposta a um incipiente retrocesso no saldo comercial. [...] Ao mesmo tempo, esvaíam-se as esperanças de uma renegociação favorável da dívida externa e de um maior influxo de investimentos estrangeiros.” (Lacerda et al., 2006. p. 195) Com o aumento das importações, pela valorização da moeda em relação ao dólar, e a necessidade de se importar alimentos, pois a oferta interna não atendia a demanda, agravada pela queda de produção do setor agrícola, culminou na diminuição do superávit da balança comercial, que havia crescido desde a recuperação da crise de 1979, com o declínio do preço de petróleo no mercado internacional e o aumento da produção interna. Esses desajustes na balança de pagamento causaram uma queda violenta das reservas internacionais, obrigando o Brasil, no início de 1987, a suspender os pagamentos dos juros e da dívida externa com os credores externos privados, além do adiamento do pagamento das parcelas vencidas e a vencer junto ao Clube de Paris3. Essa moratória comprometeu o crédito externo do País, e consequentemente uma redução do fluxo de investimentos estrangeiros e a perda de crédito para adquirir outros financiamentos no exterior. Em novembro de 1986, foi lançado o Plano Cruzado 2, que consistia no congelamento do salário mínimo, da liberação dos preços tabelados de alguns produtos, de novas normas reguladoras do cálculo da inflação oficial, retirando aqueles fatores sazonais que pressionavam os 3 O Clube de Paris reúne agências governamentais de financiamento às exportações de seus respectivos países. 32 preços e provocavam o ágio. Porém essas ações não foram suficientes para conter a inflação de 16,82% em janeiro de 1987, sendo o fim do plano. 4.3.3.2. O Plano Bresser e o Plano Verão O processo inflacionário herdado ao final do Plano Cruzado atingiu o valor de 186% no primeiro semestre de 1987. Furtado (2000), relata que para reverter a alta de preços, o governo adotou o Plano de Controle Macroeconômico proposto pelo seu ministro Bresser, que consistia na contenção do gasto público e congelamento de preços de aluguéis e salários pelo prazo de noventa dias, com uma maior flexibilização dos preços e salários, sendo assim uma flexibilização do Plano Cruzado. O Plano Bresser, como era chamado, provocou a queda da taxa de inflação, atingindo 63% no segundo semestre de 1987, e uma desvalorização de 10,56% da moeda nacional, favorecendo as exportações. Entretanto, o Plano não teve apoio político para a implantação de medidas restritivas as políticas de administração de preços, salários e aluguéis, e com a demissão do ministro ao final do ano de 87, foi extinto tendo curta duração. Lacerta et al. (2006), afirma que após a substituição do ministro Bresser pelo ministro Maílson da Nóbrega, foi implantada uma política pouco intervencionista, a política do feijãocom-arroz, com objetivo de reter a inflação próxima à 15% ao mês. Não foi efetivo, e em 15 de janeiro de 1989, foi lançado o Plano Verão, com uma nova unidade monetária, o cruzado novo (NCz$), que equivalia a mil cruzados e cotava o dólar a NCz$ 1,00. O Plano tinha objetivo de contrair a demanda e promover a queda das taxas de inflação através da manutenção de taxas reais de juros elevadas, restrição do crédito ao setor privado, desindexação e promessa de ajuste fiscal. Mais uma vez os preços foram congelados, e a inflação teve queda de 3% em fevereiro de 1989, e já em abril estava acima de 7%, mostrando que o Plano não era eficaz. O governo elevou ainda mais as taxas de juros, o cruzado novo foi desvalorizado e os congelamentos desfeitos, agora indexados com a criação do Bônus do Tesouro Nacional (BTN). Porém em setembro de 1989 com a irregularidade do saldo comercial o governo suspendeu o pagamento dos juros da dívida externa, gerando caos político e econômico, e falta de credibilidade e sustentação política ao mesmo depois das tentativas fracassadas de estabilização econômica. Neste mesmo ano a inflação apesar dos esforços foi de 1.764,86%, e as taxas mensais no início de 1990 foram de 64,17%, 73,21% e 85,12% em janeiro, fevereiro e março, respectivamente. 33 4.3.3.3. O Plano Collor – 1990 Em 15 de março de 1990, assumiu o cargo de presidente Fernando Collor de Mello e segundo Baer (2003), introduziu uma maneira singular de lidar com a inflação e modernizar a economia através da abertura econômica. Foram então elaborados os programas de reforma de comércio externo, a Política Industrial e de Comércio Exterior – PICE, e um programa de privatização intitulado Programa Nacional de Desestatização – PND. O primeiro plano econômico, denominado Plano Collor I consistia no confisco temporário de parte dos valores depositado nas contas correntes, cadernetas de poupança e outras aplicações financeiras, na reforma monetária com a volta do cruzeiro, na cobrança de um imposto extraordinário sobre as operações financeiras (IOF), no congelamento de preços e salários, aumento do preço dos serviços públicos, na reformulação do cálculo mensal da inflação aplicado na correção de salários, aluguéis, aposentadorias, etc., em medidas preliminares para instituir o processo de privatização, na liberação do câmbio e adoção de várias medidas para promover a abertura econômica. O governo também iniciou uma reforma administrativa, com a extinção de vários institutos governamentais e o anúncio da intenção de demitir mais de 360 mil funcionários públicos. O impacto causado pelo Plano Collor I foi imediato e a inflação caiu para aproximadamente 10% no primeiro mês, que segundo Furtado (2000), aconteceu devido a redução do poder de compra da população, diminuindo as atividades econômicas, principalmente do setor industrial, que apresentou uma queda de 8,6% em relação ao ano anterior. No comércio exterior, a economia obteve recordes de intercâmbio, exportação mais importação, porém possui um saldo no balanço comercial do triênio 1990-92 inferior ao registrado em 1989, com queda das exportações em 1990 e 1991, acompanhadas de um leve crescimento das importações estimuladas pela queda do preço das commodities no mercado mundial, menor participação do café brasileiro, maior interesse em comprar do que vender e a retração da economia mundial, com o declínio do comércio internacional devido à intensa formação de blocos econômicos após a queda do muro de Berlim. A abertura do comércio, após a política de substituição de importações, iniciou um novo período de livre mercado, compatível com o contexto internacional de globalização, porém o Brasil ainda não possuía recursos para acompanhar e concorrer as práticas de seus concorrentes internacionais, principalmente os que usavam de subsídios para conquistar os mercados 34 estratégicos. O período de 1990 e 91 então foi negativo com a saída de mais de US$ 9,2 bilhões, porém com uma reversão em 1992 com um saldo positivo de mais de US$ 24,7 bilhões. O fracasso do primeiro Plano do governo Collor, levou a adoção de medidas econômicas conhecidas como Plano Collor 2, não tão rígido, mas com alguns congelamentos de preços e salários, uma vez que a indexação da economia não foi possível pela não queda da inflação. Em geral, o plano também foi falho e não corrigiu as falhas do anterior. Em 91, assumiu um novo ministro que propôs medidas rígidas com juros altos e créditos restritos, porém sem o choque dos planos anteriores, para inibir o consumo na fase de descongelamento dos preços. A política rígida estabilizou a inflação, porém foi recessiva para o produto interno bruto e para a taxa de desemprego, além de tornar a indústria obsoleta e deteriorar sua infra-estrutura, incidindo na queda de 15% da produção da indústria de transformação, e com a pouca oferta, disparando mais uma vez o processo inflacionário, que chegou a 1.156% no ano de 1992, além de forte contração econômica. 4.3.3.4. O Plano Real A renúncia de Collor, e a posse do vice Itamar Franco, convidando Fernando Henrique Cardoso para ser Ministro das Relações Exteriores, e depois Ministro da Fazenda, segundo Lacerda et al. (2006), abriu espaço para uma nova idéia de estabilização, desta vez pela reestruturação em curso da economia. Furtado (2003), explica que já em 1992, a economia brasileira deu mostras de recuperação com o aumento da captação de recursos externos, aumento da receita de exportação, que superou em 31,6% as importações no mesmo período, crescimento da massa salarial pela maior oferta de empregos, e aumento do fluxo de entrada de capitais estrangeiros. Durante o governo Itamar houve queda brusca da inflação, aumento da credibilidade do país no exterior, através da renegociação das dívidas, continuação da abertura econômica e do processo de desestatização, melhora das contas públicas e implantação do Programa de Estabilização Econômica, iniciado com o PAI – Programa de Ação Imediata, que reconhecia os efeitos da inflação na desorganização das finanças públicas, na gestão do Estado, no incentivo à especulação financeira, no empobrecimento da população de classe média e baixa e no sufoco dado às empresas produtivas nacionais. Assim, o PAI tinha como objetivo principal, “assegurar a retomada do crescimento econômico em bases sustentáveis e com o claro propósito de constituir-se uma sociedade mais justa”, e algumas vantagens como reservas monetárias 35 elevadas, economia interna mais aberta, maior conscientização dos poderes públicos e maior credibilidade no exterior. 50% 45% 40% Inflação % 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% nov/94 out/94 set/94 ago/94 jul/94 jun/94 mai/94 abr/94 mar/94 fev/94 jan/94 dez/93 nov/93 out/93 set/93 ago/93 jul/93 jun/93 mai/93 0% Figura 11: Efeito do Plano Real Sobre a Inflação – Maio de 93 à Novembro de 94 Fonte: Banco Central do Brasil, 1994. A próxima etapa do Plano Real, como ficou conhecido o Programa de Estabilização Econômica, consistiu na criação da Unidade de Referência de Valor – URV, substituindo a Ufir e servindo de padrão monetário, sofrendo correções diárias em cruzeiros reais, de acordo com a inflação presente, e sem os efeitos da inflação passada, e indexando salários e preços, preservando o poder de compra dos salários e o realinhamento dos preços. E a última etapa com a adoção da nova moeda corrente, o Real, de valor equivalente à URV do dia anterior (CR$ 2.750,00), e mantendo a paridade entre a nova moeda e o dólar (US$1,00=R$0,93). “Para manter o valor da nova moeda, o governo alterou radicalmente os métodos empregados para definição da política monetária. [...] Obedecendo à Constituição, a nova política, recentemente implementada, implicava que o Congresso deveria estabelecer regulamentos e diretrizes na forma de limites quantitativos rígidos para emissão de moeda, que poderiam ser alterados pelo CMN somente em 20% e em ocasiões extraordinárias.” (Lacerda et al., 2006. p. 236). Com a recuperação do poder aquisitivo da população, houve um aumento da demanda de bens de consumo, principalmente importados, que no mercado interno estimulou o produto nacional a obter condições para concorrência. Iniciando assim, um processo de modernização das indústrias, apoiada pelo Programa de Privatização das estatais, que acabou sendo um atra36 tivo para a entrada de investimentos produtivos. A estabilidade da moeda nacional e as taxas de juros internos, superiores às do mercado externo, deram condições para o aumento da entrada líquida de capitais. A economia então expandiu-se entre os anos de 1993 e 1995, a produção industrial apresentou um crescimento médio anual de 5,3% e o nível do desemprego reverteu a queda observada desde 1994. Logo o Plano Real foi eficiente e ainda hoje é considerado como um dos mais bem sucedidos planos de estabilização econômica nacional. Assim a crise inflacionária nacional, as políticas econômicas adotadas e a influência externa de uma economia mundial desestabilizada, conforme demonstrado, manteve o consumo nacional de aço estagnado entre os anos de 1987 e 1989, com uma queda significativa durante a hiperinflação, atingindo níveis de queda de 24,6% entre 1989 e 1992, contra os 7,9% da produção mundial nesse mesmo período. Revertendo a situação em 1992, após os dois anos do período recessivo nacional, e recuperando a demanda nacional de aço em 1995, através da estabilização econômica promovida pelo Plano Real. Figura 12: Consumo Nacional de Aço entre os anos de 1987 e 1995. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 37 4.4. 4.4.1. O Contexto Econômico Mundial (1998-2007) A Crise da Rússia – 1998 Segundo Eiteman (2002), a Rússia vinha de uma profunda crise econômica após o fim da Guerra Fria, nos anos 1990, com altas taxas de endividamento, desemprego, inflação e baixos índices de crescimento econômico (PIB), resultantes de uma má transição da economia socialista para a capitalista, em meio ao colapso político da União Soviética. A crise da economia socialista soviética tem início nos anos 1970, mas ficou oculta com a alta no preço das comodities agrícolas e minerais, especialmente do petróleo, após a crise petrolífera de 1973 e a crise petrolífera de 1979-1980. Estes produtos eram exportados em grande quantidade pela então URSS, que também havia aumentado as exportações militares aos países do Terceiro Mundo. Com uma economia aquecida e excesso de moedas fortes nas contas do país, os efeitos negativos da economia socialista não eram percebidos como sérios. A Perestroika era um plano ousado para realizar uma transição controlada para uma economia de mercado, que fracassou devido ao colapso econômico do país ainda nos anos 1980. A crise econômica foi agravada pelo colapso político e a desintegração territorial da União Soviética em 1991. A partir de 1992, a Rússia procurou implementar uma política de econômica de choque em direção ao capitalismo de mercado que foi desastrosa, pois nem conseguiu reestruturar os setores produtivos tradicionais nem implementar outros novos. A falência de milhares de empresas levou ao aparecimento de milhões de desempregados, acompanhado de altas taxas de violência urbana. O período após 1992 foi de grande turbulência econômica, quando o país mergulhou em profunda crise econômica, apresentando taxas negativas de crescimento do PIB, altas taxas de inflação e elevado desemprego. O consumo total de energia na antiga união soviética caiu em quase 50% quando comparada ao período soviético (até 1991). O desemprego atingia 15% da população economicamente ativa, e 35% dos russos passaram a viver abaixo da linha da pobreza. O país havia conseguido eliminar a economia socialista, porém, sem construir uma nova economia. A incapacidade de regulação do Estado se fez sentir em todos os níveis. As máfias passaram vastas regiões do país, enquanto o separatismo resultou em novos conflitos, como a Guerra da Chechênia de 1994. Em 1997, a Crise financeira asiática piorou sensivelmente a situação da Rússia, basicamente devido à redução da oferta de crédito internacional e à queda no preço das commodities (agrícolas, minerais e energéticas) exportadas pela Rússia. A escassez de crédito provocou os 38 efeitos mais imediatos e sem conseguir novos empréstimos para pagar as dívidas com vencimento de curtíssimo prazo, que ultrapassavam os US$ 40 bilhões, nem as de curto prazo, que chegavam a US$ 80 bilhões em 1999, a Rússia como golpe final, decretou uma moratória de 90 dias da sua dívida externa, dívida dos bancos russos e dos seus mutuários privados, e simultaneamente desvalorizou sua moeda, o rublo, que caiu de Ru6,24/US$ em junho de 1998 à valores de aproximadamente Ru25,00/US$ em fevereiro de 1999, quando se estabilizou. Ao mesmo tempo, a crise asiática provocou uma curta recessão global, que reduziu a demanda por commodities no mundo todo. O preço do petróleo chegou a cair abaixo de US$ 10,00 durante algumas semanas de 1998 e se manteve abaixo de US$ 15,00 até 1999. Isto reduziu sensivelmente o valor das exportações russas. “O que Stalin, Kruschev e Leonid Brejnev não conseguiram em setenta anos de comunismo o presidente russo Boris Ieltsin realizou em apenas seis: fez tremer o capitalismo. Com um disparo de caneta ele atingiu a comunidade capitalista em todos os quadrantes do mundo, e principalmente a sua meca, Wall Street, onde fica a Bolsa de Valores de Nova York. Se a crise asiática de outubro produziu uma boa trepidação nos países emergentes, Ieltsin fez pior. O míssil russo caiu até em paraísos de tranqüilidade econômica. Os corretores suíços, que sempre correram o perigo de morrer de tédio, viram sua bolsa desabar 5% na quinta-feira. O dólar canadense, que só se mexe de meio em meio século, foi desvalorizado. Atingiu a menor cotação em 140 anos de existência. Em Wall Street, o índice Dow Jones industrial despencou 4,2%, a terceira pior queda em onze anos. Dos mercados emergentes nem se fale. Brasileiro que aposta no índice da Bolsa de Valores de São Paulo perdeu 10% na quinta-feira negra.” (Neto, 1998. Revista Veja n. 1562, 02 set. 1998) Figura 13: Produção Mundial de Aço entre os anos de 1997 e 2000. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 39 Diante dos US$ 40 milhões de investimentos estrangeiros que sumiram do mercado com a moratória russa, as diversas economias mundiais entraram em crise, provocando inclusive uma queda da atividade industrial, e uma queda de 2,8% na produção mundial de aço nesse ano, que conseguiu se estabilizar no ano seguinte e superou os níveis anteriores em 2000. 4.4.2. A Internacionalização da China Almeida e Rigolin (2004) apresentam entre os governos chineses, o período Deng XiaoPing, 1976 a 1997, como um governo para a recuperação tecnológica e econômica da China. Seu grande objetivo foi o a abertura econômica da China, com o controle efetivo das decisões por meio da forte intervenção do Estado, sem democracia. Para entrar na competição entre o período do "milagre econômico japonês" e do super crescimento apresentado pelos Tigres Asiáticos, seus vizinhos geográficos, esta China realizou inúmeras privatizações, permitindo a entrada controlada de capital estrangeiro. Nesse período, foi elaborado o mais brilhante plano para o desenvolvimento econômico chinês, o "Salto para Frente" a partir da fundação das Zonas Econômicas Especiais - ZEE's4 na faixa litorânea leste. Aproveitando as condições geográficas como relevo (grandes planícies), hidrografia (rios amarelo, azul, branco e vermelho), climas, solos férteis, presença de carvão mineral, ferro, água, e a proximidade do mar, XiaoPing tratou de investir, capital externo e estatal, em alguns setores internos como agricultura, indústrias de base, defesa bélica, tecnologia e ciência. A primeira transformação econômica foi a agrária, que contava com o emprego de 70% da população, eliminando a existência das comunas populares (privatizando-as), dividindo a produção rural entre 50% para o Estado e 50% para o mercado interno e externo, e incentivando a política salarial para criar um tipo de mercado consumidor litorâneo. O maior objetivo era aumentar a produção agrícola e criar uma classe de agricultores ou uma espécie de burguesia agrária consumidora e produtora. A segundo transformação foi a consolidação das ZEE's, verdadeiros mercados capitalistas onde o consumismo dita o ritmo econômico. Esta medida resultou no aumento da concorrência com as antigas e obsoletas empresas estatais 4 Essas zonas econômicas especiais – ZEE’s são distritos ou cidades que foram planejadas para receberem inúmeras instalações de empresas de capital misto. São idéias capitalistas criadas no contexto de conflito geopolítico da Guerra Fria, ou seja, serviram para satisfazer o interesse de grandes empresas multinacionais como estratégias do sistema capitalista para garantir a sua influência na região. Esse fato permitiu o surgimento de países de terceiro mundo industrializados competitivos, através da substituição das importações ou da plataforma de exportações. Na China, essas zonas econômicas foram implantadas dentro do segundo modelos, ao contrário dos modelos de substituição das importações adotados no Brasil, na Argentina, no México, na Colômbia, no Chile e também na África do Sul. 40 chinesas, pois as empresas multinacionais desejavam produzir e exportar a baixos custos devido a presença de mão-de-obra barata. A terceira transformação foi investir com apoio de cientistas estrangeiros, europeus e norte-americanos, em novas tecnologias e ciência, o que não significou uma melhoria nas taxas de alfabetização e condições de vida para a enorme população, cerca de 1,3 bilhão de habitantes. E a quarta transformação, está sendo, garantir a defesa do país por meio de fortes investimentos no setor militar principalmente o nuclear, tanto para fins de produção de energia quanto para criação de armas nucleares. Essas quatro medidas foram essenciais para que a atual China se transformasse em um dos países mais emergentes do mundo, dono de uma rica natureza repleta de recursos minerais, a maior população do mundo e atrativos para os interesses capitalistas neoliberais. Mas atualmente, a plataforma de exportações chinesa, ainda convive com fortes censuras políticas, pois a ausência da democracia ainda é uma ameaça aos interesses deste país em tornar-se uma grande potência econômica, política e tecnológica do século XXI. Mas foi a partir de 2001, quando Jiang Zemim assumiu o poder com um sistema econômico socialista, por não ter feito a abertura política de fato, uma vez que o Estado controlava o mercado, e o mercado era flexibilizado pela concorrência empresarial que ocorria na China Oriental, que o milagre chinês iniciou, pois esse governante conseguiu colocar a China na Organização Mundial do Comércio – OMC, justamente em um momento em que a economia do Japão e dos Tigres Asiáticos vêm apresentando baixos índices de crescimentos percentuais do PIB. Atualmente , Hu Jintao foi eleito Secretário-Geral do governo chinês o que desperta curiosidade e expectativa do mundo quanto ao processo de abertura política da China, que está entre as quatro maiores economias do mundo e vem crescendo entre 9 a 10% ao ano. Logo, essas economias emergentes, que estão sendo incorporadas nos processos de globalização através de aberturas políticas e econômicas, principalmente a partir do ano 2000, estão levando a queda dos preços dos bens de consumo e o aumento da demanda, impulsionando as empresas à investir em tecnologia e em fatores de produção, demandando grande quantidade inclusive, de produtos siderúrgicos, justificando o grande aumento da produção mundial do mesmo entre os anos de 2001 e 2007, cerca de 58%, que só não foi maior em virtude do temor de crise mundial após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. 41 Figura 14: Produção Mundial de Aço entre os anos de 2001 e 2007. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.5. 4.5.1. A Economia Nacional no Período de 1997 a 2007. A Economia Nacional na Fase Pós Real Lacerda et al. (2006) explica que o Plano Real foi a melhor experiência de estabilização econômica brasileira, porém sua sustentabilidade e a retomada do crescimento econômico exigia reformas profundas de âmbito estrutural nas áreas fiscal-tributária, patrimonial, financeira e administrativa. Na fase pós-real, com queda da inflação, o ambiente econômico tornou-se estável, porém o crescimento não foi solucionado, pois a capacidade instalada de produzir não cresceu o necessário, e o aumento do consumo foi logo abortado por medidas de restrição ao crédito, elevação de juros e aumento dos empréstimos compulsórios, assim o crescimento econômico virou conseqüência e não objetivo da política econômica. Esses fatos são explicados com alguns fatores macroeconômicos, através das contas externas e capacidade financeira do Estado, uma vez que o Brasil estava em reforma e precisava de recursos, que com a Crise do México em 1995, a Crise Asiática em 1997 e 1998 e a Crise da Rússia em 1998, levavam os investidores a temer os mercados emergentes e buscar o refúgio em moedas fortes. E no contexto microeconômico com a adaptação das empresas à nova 42 realidade, com a alteração do perfil do consumidor, reestruturação produtiva, privatização e entrada de novos concorrentes. No setor externo, a sobrevalorização cambial do Real, junto à abertura econômica, incentivou as importações, que subiram de US$ 25,8 bilhões em 1993 para US$ 61,5 bilhões em 1997, 143% de aumento entre os quatro anos. As exportações em contrapartida cresceram de US$ 38,7 bilhões em 1993 para US$ 53,0 bilhões em 1997, apenas 37% no mesmo período, reduzindo o superávit comercial de US$13,3 bilhões para US$ 8,4 bilhões. Esses déficits comerciais aumentaram o passivo nacional, resultando em transações correntes que evoluíram de déficits de US$ 592 milhões em 1993 para US$ 33,4 bilhões em 1997. Esses fatores associados a crise asiática deste último ano, tornou a vulnerabilidade da economia nacional mais evidente, obrigando o governo a adotar medidas de contenção do nível de atividade para evitar o descontrole externo. Em 1998, o déficit nominal nas contas públicas chegava a 8% do PIB, e o déficit em conta corrente superior a US$ 35 bilhões, aumentando a desconfiança nos credores, que com a crise russa, e o apagão de US$ 40 milhões de investimentos, dificultou a obtenção de créditos externos. A conseqüência foi a perda das reservas cambias e a necessidade de recorrer ao FMI, que ofereceu cerca de US$ 41 bilhões em recursos. Mas não foi suficiente para estabilizar as pressões do mercado, que em janeiro de 1999, levou o Real a ser desvalorizado, agravando o déficit nas contas públicas, aumentando as taxas de juros e as cargas tributárias, e agravando uma expectativa de recessão no ano, além de um aumento no desemprego. Houve também um maior endividamento das empresas brasileiras, que ao adquirir crédito no exterior em dólares, viram suas dívidas crescerem rapidamente em reais, e os setores importadores que com a desvalorização passaram a lidar com produtos mais caros em relação aos substitutos nacionais. Esse cenário trouxe apesar da recessão econômica no ano de 1999, conseqüências positivas, pois a desvalorização foi benéfica, primeiro pelo fim do escoamento de dólares das contas brasileiras para manter o Real sobrevalorizado, reduzindo o déficit na balança de pagamentos e controlando o crescimento da dívida pública, depois pelos vários setores exportadores brasileiros, que com a moeda em baixa, viram suas receitas crescerem. Esse aumento das exportações associado a redução das importações fomentaram o reaquecimento da indústria nacional e a recuperação da economia logo no ano 2000. Assim o mercado siderúrgico sofreu 43 os efeitos da recessão no período de 1997 a 1999 com queda de 5,5% na demanda nacional de aço, porém junto à economia brasileira se recuperou no ano seguinte. Figura 15: Consumo Nacional de Aço entre os anos de 1996 e 2000. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.5.2. O Contexto Nacional no Crescimento Mundial dos últimos anos Durante o crescimento mundial entre os anos de 2001 e 2007, o Brasil sofreu algumas crises que foram significativas para a sua política econômica. A desvalorização cambial de 1999 deu início à crise do governo FHC que sustentava o discurso de estabilidade econômica na estabilidade do Real, foi agravado pela Crise Energética. Segundo Lessa (2001), a falta de planejamento e investimento na produção de energia no Brasil, em um período que o país começava a viver uma expansão econômica depois de sofrer os efeitos de várias crises internacionais nos anos anteriores, associado a um longo período de falta de chuvas, tornou evidente a falta de previsão e de planejamento no setor de energia elétrica. Enquanto a energia sobrava em alguns estados, onde chovia muito, como no Rio Grande do Sul, faltava em outros onde não chovia e não havia linhas de transmissão com capacidade suficiente para transferir as cargas e para equilibrar o sistema. O desequilíbrio entre a capacidade de produção e a distribuição de energia elétrica, e a demanda pelo recurso energético, tornou necessário um racionamento de energia que atingiu diversas regiões do Brasil, princi44 palmente a Região Sudeste do Brasil, que ficou conhecido como "apagão", paralisando linhas de produção das indústrias, que tinham cotas de energia para cumprir, e ameaçando quase 180.000 empregos. Outro fator importante para a economia do Brasil no período foram as eleições de 2002, com o favoritismo do candidato Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores. “A expectativa do que poderia vir a representar um governo de esquerda para o Brasil suscitou grande especulação no mercado financeiro, com impactos sobre bolsas de valores, taxas de juros e câmbio, ao longo do segundo semestre do ano. As principais dúvidas residiam no conjunto da política macroeconômica a ser adotada e o chamado “cumprimento dos contratos”, o que significaria não provocar grandes rupturas com o cerne da política econômica em curso ao longo de toda década de 1990.” (Lacerda et al., 2006. p. 241) Giambiagi et al. (2005) diz que a crise de confiança em 2002 e a estratégia para recuperar a credibilidade, já no governo Lula em 2003, que se comprometia em manter o superávit primário e respeitar os termos do acordo negociado pelo governo FHC e o FMI, resultaram em um triênio de baixíssimo crescimento médio de apenas 1% ao ano de 2001 à 2003. Porém em 2004 o Brasil a economia viveu um bom momento, apoiado no quadro internacional de crescimento econômico, e segundo Lacerda et al. (2006) na base da política macroeconômica adotada continuamente desde 1999, que combina um regime de metas de inflação com um cambio flutuante e política de geração de superávit fiscal primário, trazendo relativo sucesso no controle inflacionário e proporcionando avanços econômicos, apesar de baixos e instáveis, além do ajuste na balança de pagamentos, diminuindo a vulnerabilidade externa na economia. Diniz e Boschi (2007) explicam que em 2005, o Brasil mostra sua fragilidade econômica diante da crise política dos dois últimos anos do governo Lula. Os escândalos políticos do Mensalão, do Valérioduto, as CPI’s dos Correios e do Bingo, além do referendo sobre o comércio de armas, associado a políticas econômicas que privilegiaram o pagamento da dívida pública, o controle da inflação através da manutenção de elevadas taxas de juros e restrição de investimento governamental em setores de infra-estrutura, além da valorização do Real, que impediu um melhor desempenho das atividades exportadoras, em especial no agronegócio, contribuíram para essa fragilidade com baixo crescimento econômico, com aumento de apenas 2,3% do PIB, ficando o Brasil à frente somente do Haiti entre os países da América Latina. Em 2006, devido à manutenção da inflação em níveis baixos e consequente queda dos juros, à profissionalização das empresas financeiras com tecnologias adequadas de análise de riscos, e à algumas reformas institucionais como a alienação fiduciária em garantia, houve 45 uma expansão do crédito, principalmente para as classes C, D e E (correspondente a 77% da população), alterando seus hábitos de consumo e alavancando o crescimento econômico do período. Esse aumento da demanda interna de bens e serviços, com 4,5% de aumento, auxiliados pelos créditos consignados e pelas linhas de crédito abertas a grandes redes varejistas, atuou diretamente no crescimento do PIB, que teve uma taxa de crescimento de 4,0% em 2006, obrigando o setor produtivo a fabricar mais, e consequentemente empregar mais, o que levou a 93,2 bilhões de ocupações neste ano, valor 2,6% maior que o de 2005, aumentando a renda média da população, superando em 8,8% o valor do ano anterior. Esse cenário se repetiu em 2007, com destaque para o setor automobilístico e da construção civil, que depende dessa grande capacidade de financiamento, justificando o aumento na indústria siderúrgica no biênio 2006-2007, uma vez que esses setores são os grandes consumidores de aço nacional. Figura 16: Consumo Nacional de Aço entre os anos de 2001 e 2007. Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 4.6. A Crise Mundial de 2008 Diversos estudiosos e economistas dissertam sobre a Crise Mundial de 2008, suas causas e conseqüências. Uns dizem ser o desdobramento da crise financeira pela falência do tradicio- 46 nal banco de investimento americano Lehman Brothers, que em efeito dominó, quebrou outras grandes instituições financeiras, período conhecido como “Crise dos Subprimes”.5 Mas segundo Krugman (2009), a própria crise dos subprimes, foi causada pela "bolha da Internet", ou a crise das pontocom em 2001, quando o índice Nasdaq, que compreende as empresas de alta tecnologia em eletrônica, informática e telecomunicações, e mede a variação de preço de suas ações despencou. Pois logo após esse período, o Federal Reserve reduziu a taxa de juros nacionais a fim de baratear empréstimos e financiamentos para recuperar o nível de consumo. Houve um aquecimento da economia nacional americana e da demanda de imóveis, que ocasionou uma valorização dos mesmos. Estes mesmos imóveis tornaram-se fontes de investimentos, através da compra em baixa, para uma revenda ou investimento a altos valores em médio e longo prazo. Logo, houve uma grande demanda por hipotecas, e os americanos, em troco do dinheiro emprestado pelas instituições financeiras, colocavam seus imóveis como garantia. Assim, as grandes empresas hipotecárias disponibilizaram empréstimo a uma classe de consumidores sem comprovação de renda ou inadimplentes, chamada “subprime”. Para esse segmento, os juros cobrados eram maiores, até mesmo pelo risco, além de serem pósfixadas, ou seja, determinadas no momento do pagamento das dívidas. Logo, com o aumento dos juros nos Estados Unidos, houve uma redução do consumo em geral, inclusive no setor imobiliário, que viu o preço dos imóveis reduzirem, e consequentemente, os títulos hipotecários perderem valor. Em mesmo tempo, os juros altos e o baixo consumo geraram uma retração da economia e aumento do desemprego, que sucumbiu com a inadimplência de vários mutuários que ficaram sem condições de pagar as suas dívidas aos bancos. A partir de Julho de 2007, a crise do crédito hipotecário provocou uma crise de confiança geral no sistema financeiro e falta de liquidez bancária, pois com esse contexto de inadimplência nas hipotecas subprime, os bancos não queriam mais emprestar dinheiro entre si, pois não sabiam como os ativos da outra instituição estavam relacionados com o pagamento desses títulos imobiliários. Com isso, o valor desses títulos despencou e o juro no empréstimo interbancário aumentou. A dificuldade iniciada com as hipotecas subprime espalhou-se por todas as obrigações, pois as instituições financeiras sem capacidade de financiamento, não garantiram o dinheiro às empresas e pessoas que possuem suas reservas aplicadas no banco, ou recorreram ao Banco 5 A Crise do Subprime é uma crise financeira desencadeada a partir de 2006 com a quebra de instituições de crédito dos Estados Unidos, que concediam empréstimos hipotecários de alto risco, arrastando vários bancos para uma situação de insolvência e repercutindo fortemente sobre as bolsas de valores de todo o mundo. 47 Central americano para injetar fundos a juros baixos, abriram falência, ou foram comprados por instituições maiores que garantiriam seus fluxos de caixa. Assim, a crise de confiança foi instaurada a nível mundial, pois toda a cadeia daqueles que compraram títulos lastreados em hipotecas, viram seus investimentos reduzidos ou com possibilidade de insolvência por parte dos credores, pois dados do FMI mostraram que em outubro de 2008, as perdas decorrentes de hipotecas do mercado imobiliário subprime já realizadas contabilizavam 1,4 trilhão de dólares e o valor total dos créditos subprime ainda em risco chegava a 12,3 trilhões, valor correspondente a quase 90% do PIB americano. Finalmente, quando o mercado de empréstimos interbancário paralisou-se, os Bancos Centrais foram conduzidos a injetar liquidez no mercado interbancário, para evitar o efeito dominó, com a quebra de outros bancos, em cadeia, e que a crise se ampliasse em escala mundial. Em outubro de 2008, a Alemanha, a França, a Áustria, os Países Baixos e a Itália anunciaram investimentos que somavam 1,17 trilhão de euros, aproximadamente US$ 1,6 trilhão em ajuda aos seus sistemas financeiros. Morris (2009), afirma que a falência do Lehman Brothers foi seguida, em poucos dias, pela falência da maior empresa seguradora dos Estados Unidos da América, a American International Group (AIG). O governo americano que até então não favorecia a aquisição do falido Lehman Brothers pelo banco inglês Barclays, ficou alarmado com as conseqüências da falência desse primeiro nos mercados financeiros mundiais, e em pouco menos de um dia, decidiu injetar oitenta e cinco bilhões de dólares de dinheiro público na AIG, para salvar suas operações. Mas, em poucas semanas, a crise norte-americana já alcançava outros continentes: a Islândia estatizou o segundo maior banco do país para salvá-lo das sérias dificuldades financeiras. As mais importantes instituições financeiras do mundo, Citigroup e Merrill Lynch, nos Estados Unidos; Northern Rock, no Reino Unido; Swiss Re e UBS, na Suíça; Société Générale, na França anunciaram enormes perdas em seus balanços, agravando a já instaurada crise de confiança. Para evitar o pior, o governo norte-americano reestatizou por tempo indeterminado as agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, que haviam sido privatizadas em 1968. Logo, a crise iniciada no mercado imobiliário afetou o sistema financeiro e acabou por se espalhar para todos os setores da economia, fato constatado com a queda do PIB americano em 3,8% no último trimestre de 2008. Essa crise, e o risco para o sistema bancário, levaram o governo americano a propor um pacote de US$ 700 bilhões. O pacote iria ajudar os bancos com balanços comprometidos pelo peso dos derivativos lastreados nas hipotecas "subprime", 48 mas acabou tendo seu alcance ampliado para ajudar bancos mais saudáveis, empresas mais ligadas ao crédito, ao consumidor e até as montadoras do país, pois o setor automobilístico vive uma situação problemática que é consequência direta da crise de crédito resultante dos problemas com hipotecas "subprime". A General Motors e a Chrysler, com quedas nas vendas devido às dificuldades dos compradores em obter financiamento, precisaram de ajuda do governo para saldar suas dívidas, que foi recebida em forma de um pacote de pouco mais de US$ 17 bilhões, com recursos do pacote de investimentos aprovado. Porém o mercado de trabalho também sofreu uma contração, nos EUA, principalmente pela crise de crédito originada nos problemas do mercado imobiliário. A taxa de desemprego nos EUA fechou 2008 em 7,2%, pior nível desde 1993. O número de desempregados no país naquele ano chegou a 2,6 milhões, maior valor desde a 2ª Guerra Mundial. Assim, como nos EUA, em todo o mundo houve incertezas, gerando queda das bolsas, queda no consumo, diminuição nas exportações, principalmente aquelas destinadas ao estado Americano. Com o menor consumo, as indústrias produzem menos, geram menos empregos, logo menor renda, aumentando a influência da recessão á níveis mundiais em mercados nacionais. Fato esse observado na indústria siderúrgica, que teve expressiva queda de 11,2% em sua produção com estimativa de recuperação do volume produzido em 2012. Figura 17: Produção Mundial de Aço entre os anos de 2008 e 2012 (*projeções). Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). 49 4.6.1. Os Efeitos da Recessão Mundial na Economia Brasileira Alguns economistas defenderam a posição que a crise do subprime não afetaria significativamente o Brasil. Mas, segundo a maioria dos analistas, todos os países do mundo seriam afetados, mesmo que em menor intensidade, pela crise iniciada nos Estados Unidos, devido a globalização dos negócios entre países. No Brasil, o efeito mais imediato foi a queda das ações em bolsas de valores, provocada pela saída de grande volume de investimentos em ações de estrangeiros que buscavam recursos para cobrir suas perdas com a crise, assim, com uma grande oferta, os papéis desvalorizaram e os índices caíram, além de ter ocasionado uma súbita e expressiva alta do dólar. Logo depois, as exportações foram atingidas pela falta de recurso e crédito a nível internacional para concretizar vendas com estrangeiros. A recessão que atingiu uma grande parte dos países desenvolvidos também afetou o comércio externo. Empresas que tinham seus faturamentos altamente dependentes de vendas ao exterior, tiveram que cortar postos de trabalho e reduzir drasticamente o ritmo de produção. Os setores mais afetados pela queda na demanda, tanto no Brasil como no mundo, foram o automotivo, o imobiliário e o de bens de capital, pois vendem produtos que dependem diretamente de financiamento, que ficou escasso. Essa situação obrigou o governo federal e de alguns Estados a tomarem algumas medidas para tentar reforçar as vendas e estancar as demissões no período. Entre as que mais tiveram repercussão estão a redução temporária das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre automóveis e eletrodomésticos da "linha branca" e a injeção de R$ 100 bilhões no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para realizar empréstimos. Ainda, as grandes empresas siderúrgicas no Brasil também desligaram alguns fornos, pois seu produto é demandado pelos principais setores em crise. Consequentemente, empresas menores fornecedoras de aço também foram atingidas, reduzindo significativamente a demanda pelo produto siderúrgico nacional em aproximadamente 22% em relação a 2008, com uma previsão de recuperação para os próximos três anos a crise, conhecido o comportamento do mercado nas últimas crises. 50 Figura 18: Consumo Nacional de Aço entre os anos de 2008 e 2012 (*projeções). Fonte: Adaptado do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Uma vez que o país fez profundas reformas econômicas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, como o PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional, implementando sistemas mais rígidos de controle ao sistema financeiro doméstico, ficou menos exposto ao motivo da crise: a contaminação sistêmica do mercado financeiro internacional com os títulos hipotecários americano. Desta vez, o Brasil estava mais preparado para suportar crises mundiais, pois o modelo econômico adotado pelo país desde fins dos anos 1990 com metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, garantiu a salvação da economia através da obtenção de consistentes reservas cambiais e de forte credibilidade internacional. Mas ainda sim, por estar participar no comércio mundial, o país ainda também sentiu os efeitos da crise do subprime. A princípio, os maiores prejuízos com a crise foram das empresas que especulavam com derivativos de câmbio e fizeram más estimativas, não obtendo apoio do governo para cobrir, com dinheiro público, as enormes e milionárias perdas decorrentes dessas estimativas. A alta do dólar, apesar de eventualmente ter causado alguma pressão inflacionária, tendeu a aumentar a competitividade internacional das exportações do país, uma vez que o preço dos produtos nacionais, cotados na moeda americana, caiu. No entanto, para os setores da economia 51 brasileira que dependia de importações de produtos industrializados sem substitutos nacionais, geralmente as máquinas e equipamentos de alta tecnologia, ou até mesmo commodities, como o trigo, sofreram o impacto do dólar alto. Essas quedas das exportações e da demanda interna, que foi o propulsor do crescimento do país nos últimos dois anos, resultaram no avanço do desemprego e da expectativa de desaceleração no crescimento econômico do país. As empresas com menores demandas pelo seu produto passaram a rever seus quadros de funcionários e iniciaram os últimos meses do ano de 2008 com diversas férias coletivas e demissões. O mês de dezembro, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apresentou redução de 654.946 empregos, o maior valor mensal desde 1999, o início da série histórica do dado divulgado pelo Ministério do Trabalho. No mercado interbancário, como no exterior, houve uma paralisação quase total dos empréstimos normalmente concedidos pelos grandes bancos aos menores. Primeiramente, o Banco Central do Brasil isentou os grandes bancos de uma parte do depósito compulsório, que seria destinado como crédito aos menores. Mas tal medida não se revelou suficiente, pois continuava o pânico no mercado financeiro, e os grandes bancos continuavam não concedendo empréstimos aos menores. Assim, o Banco Central decidiu adquirir as carteiras de crédito de que os bancos menores desejassem desfazer em troca de garantias. Houve também, uma cobrança para que os bancos estatais comprassem bancos menores em dificuldades. Dessa maneira, o Banco do Brasil comprou 49% das ações do banco Votorantim, injetando liquidez apesar de não ter adquirido o controle acionário do mesmo. Prevendo a falta de dólares nos mercados de câmbio, o Banco Central realizou leilões de venda de swaps cambiais e, para evitar especulações, em outubro de 2008, realizou até mesmo vários leilões de venda de dólar físico à vista (moeda), utilizando as reservas internacionais do Brasil, fato que não ocorria desde 2003. Assim, o BC aumentou a liquidez do mercado, sem derrubar as cotações do dólar, nem criar um teto. Por outro lado, o Banco Central esteve atento também a quaisquer indícios de falta de liquidez no sistema bancário brasileiro, liberando várias dezenas de bilhões de reais dos depósitos compulsórios, especialmente para os bancos médios e pequenos, alimentando o sistema bancário sem reduzir os juros básicos (taxa Selic), provocando pressões inflacionárias. 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma vez que foi estudada a evolução do mercado siderúrgico em seu contexto histórico e seu contexto político-econômico, analisadas as séries históricas de produção e consumo de aço de 1973 a 2009, e suas projeções até 2012, constataram-se o estreito relacionamento entre as variáveis macroeconômicas e microeconômicas para o mercado siderúrgico. No que diz respeito à análise do consumo aparente do aço, a Siderurgia se divide em quatro grandes setores demandantes do produto aço. O Setor da Construção Civil, atualmente com 32% do consumo de aço nacional, o Setor Automobilístico, responsável por 27% desse consumo, a Indústria de Bens de Capital, Máquinas e Equipamentos agrícolas comprando 21% do total produzido no Brasil, e por último, o setor de Utilidades Domésticas e Comerciais consumindo cerca de 10% da produção. Os resultados da variação de produção e consumo em relação às crises econômicas internacionais e planos econômicos nacionais, mostraram que a produção mundial de aço sofreu os efeitos da primeira crise do petróleo com queda de aproximadamente 8,5% entre 1973 e 1975, enquanto o mercado nacional só sentiu os efeitos da crise a partir de 1974, e até 1976 já registrava queda de 9,2%. Ambos os mercados recuperaram seus valores de produção e consumo em 1978. A segunda crise do petróleo afetou o mercado mundial durante o período de 1979 até 1982 com 13,6% de queda, e o mercado nacional durante os anos de 1980 e 1983 com 28,8% de queda. A recuperação mundial demorou cinco anos (1983-1987), ao passo que a nacional aconteceu em dois (biênio 85-86). Em 1989, o fim da Guerra Fria, com a queda do muro de Berlim, afetou o contexto econômico mundial, ao mesmo tempo em que a crise do Golfo Pérsico e a alta no preço do petróleo, levaram a produção siderúrgica mundial a entrar em crise entre os anos de 1989 e 1992, quando atingiu 7,9% de decréscimo. No contexto nacional, a crise inflacionária, além da economia externa, prejudicou o mercado nacional com perda de 24,6 % entre 1989 e 1992. A 53 produção mundial recuperou-se até o ano de 1997, e a nacional durante os três anos seguintes a crise do início da década (1993 a 1995). Já em 1998, após a moratória russa, foi iniciada uma crise de repercussão internacional, levando a produção mundial de aço a uma queda de 2,8% em 1998 (em relação a 97), mas que foi logo recuperada nos dois anos seguintes. Nessa mesma época, o Brasil vivia a fase pós Real com expansão da economia em até o ano de 1996, porém a valorização do Real aumentou significativamente as importações, desestabilizou a balança comercial, e junto das crises mundiais do período (México-95, Asiática-97 e Rússia-98) que levaram à restrições de crédito ao país, e um período de recessão econômica, que representou uma queda de 5,5% entre 1997 e 1999 na demanda do produto siderúrgico. Os efeitos da desvalorização do Real além da recessão econômica, foi promover o reequilíbrio, o aumento das exportações e o reaquecimento da indústria nacional, alavancando o consumo de aço nacional, que se recuperou no ano seguinte, 2000. Em relação ao contexto mundial em 2001, a produção mundial de aço foi alavancada, entre outros motivos, pela abertura econômica da China, alcançando um aumento de 57% no ano de 2007, em relação a 2001. No âmbito nacional, o Brasil sofria a crise do governo FHC, a crise energética, e a crise de confiança do governo Lula, mantendo a economia estagnada, a recessão nas indústrias e o consumo nacional de aço com uma pequena queda de 4,4% entre os anos de 2003 e 2001. Porém em 2004, apoiado no crescimento econômico mundial, e nas políticas econômicas internas adotadas anteriormente, houve um crescimento econômico nacional, elevando a demanda do produto siderúrgico em 14,4% em relação ao ano anterior, já no ano de 2005, o Brasil sentiu os efeitos da crise política e sua economia foi afetada, diminuindo esse consumo em 8,2%. Logo a economia se recuperava, com o efeito dos juros baixo e da abertura de crédito, impulsionando toda a economia nacional, através do consumo, o que refletiu em uma maior produção da indústria e o aumento do consumo de aço em 31% nos períodos de 2005 à 2007. No final do ano de 2008, toda economia mundial foi afetada com a crise dos subprime, reduzindo os investimentos e a atividade da indústria em geral. No mercado siderúrgico, a produção mundial fechou o ano com aumento de 5,6% em relação a 2007, porém os efeitos da crise reduziram esse valor em 14,1% no ano de 2009. Os efeitos no Brasil a princípio foram menores, e o consumo nacional do aço cresceu 13,4% em 2008, mas o efeito da falta de crédito a nível mundial logo afetou a indústria nacional, repercutindo no consumo deste produto, que caiu 24,8% em 2009. E de acordo com o estudo da série histórica de produção e 54 consumo, seu comportamento em cada crise, através das quedas e de suas recuperações, estima-se que a produção mundial recupere seu volume durante os próximos anos, com um crescimento de 28% entre 2009 e 2012, superando os valores de produção de 2008. E da mesma maneira, o consumo nacional recupere-se com um aumento da demanda em 47% entre esse mesmo período, uma vez que o Brasil manteve sua economia relativamente estável durante a crise, e com o retorno do crédito, a indústria nacional cresça acima da média mundial. Pode-se concluir que no período estudado de 1973 a 2009 houve a influência das crises internacionais na produção e consumo mundial de aço, e também na economia brasileira, que adotando políticas econômicas particulares, influenciou de maneira direta o consumo do produto no Brasil, principalmente durante os diversos planos econômicos entre 1986 e 2005, que coincidiu com o período de estagnação da indústria no país pelo grau de estatização e sua subseqüente modernização através dos processos de privatização, tornando a sensível ao contexto econômico globalizado. Para trabalhos futuros é interessante estudar o efeito da crise atual na Europa, na economia mundial, e principalmente no mercado siderúrgico, além de quantificar e modelar matematicamente essas variações de volume, relacionado-as com variáveis microeconômicas nacionais e mundiais. Além de evidenciar o potencial siderúrgico nacional como um dos principais fatores de crescimento econômico. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. M. A.; RIGOLIN, T. B. Fronteiras da Globalização: Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2004. ANDRADE, M. L. A. et al. Impactos da Privatização no Setor Siderúrgico. In: Área de Operações Industriais 2 – AO2. 2001. São Paulo: BNDES, 2001. Disponível em: . Acesso em: 13 mai. 2010. AURELIANO, L. M. No limiar da Industrialização. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. BAER, W. A Economia Brasileira. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2003. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Comunicado nº 4.000, de 29 de junho de 1994. Brasília: BCB, 1994. BRASIL. 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