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Engenheiro Das Américas

Engenheiro das Américas

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    December 2018
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Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Doutorado em Engenharia Civil Curso: Técnicas de Gerenciamento de empresas e empreendimentos Prof.: Wainer da Silveira e Silva, Ph. D. Aluno: Antonio Fernando de Araujo Navarro Pereira, M. Sc. Avaliação do artigo: Engenheiro das Américas: Solução ou Problema?, fornecido pelo Prof. Wainer, para análise e comentários. O artigo trata da opinião de um dos professores envolvidos na análise da integração dos curricula, aqui entendido como o plural de curriculum, dos profissionais de engenharia, nas Américas, objetivando uma padronização de conhecimentos, pelo que se pode depreender. O articulista traça sua linha de raciocínio sobre o tema e, quando segue para seus comentários, faz uma abordagem sobre determinada empresa do Brasil, privatizada por empresa americana, onde o processo de assimilação da cultura e dos processos da empresa brasileira não foram bem sucedidos, com a demissão de mais de 50% do quadro de profissionais. Deve-se filtrar a questão de todas as emoções carreadas para o artigo, bem como a das reais intenções com a criação dessa unificação da graduação da engenharia. Vejamos por partes: 1) Perfil dos profissionais Qualquer grade curricular para ser desenvolvida precisa levar em consideração uma série de fatores, porque se não, corre-se o sério risco de ter profissionais não bem sucedidos em suas profissões ou sem uma colocação no mercado de trabalho. No Brasil ocorrerem inúmeras situações de investir-se em profissões que não foram corretamente aproveitadas nos locais de formação dos profissionais. Dentre esses fatores ressalta-se, entre outros aspectos: • • • • • • Vocação da região, em termos de desenvolvimento tecnológico e de produção; Perfil dos profissionais que irão participar dessa formação curricular; Momento presente em que se dá essa mudança; Investimentos necessários (recursos), tanto de mão-de-obra quanto de materiais; Tempo de formação acadêmica versus necessidade do mercado; Capacidade de absorção do mercado. Na década de 70 o Brasil enveredou pela criação de cursos profissionalizantes, titulação essa concomitante ao do curso de segundo grau, na época, curso científico. Pois bem, os esforços iniciaram-se em 1973 indo até 1980, em alguns locais. O aproveitamento dos profissionais foi baixo. Para piorar, houve mudanças econômicas significativas no Brasil e mudanças nas vocações das regiões atendidas por esses cursos, de modo que inviabilizou a continuidade dos mesmos, nas escolas públicas. 2) Perfil dos cursos O perfil ou programa dos cursos é outra questão que deve ser avaliada com cautela. Em ambientes com grande desenvolvimento tecnológico é normal que os cursos oferecidos também o sejam, e voltados para as tecnologias praticadas no entorno dos centros de formação profissional. Também aqui deve-se levar em consideração alguns fatores como: 1 de 4 • • • • • Vocação da região, em termos de desenvolvimento tecnológico e de produção; Facilidades de desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias; Facilidade de obtenção de recursos necessários à P&D; Qualificação dos profissionais ingressos; Possibilidade de absorção desses profissionais pelas indústrias locais, considerando que a situação ideal é aquela onde as empresas que demandam essa mão-de-obra esteja localizada a não mais do que 200km de distância dos centros universitários 3) Cultura e valores Consideramos este tema: cultura e valores como o mais importante nesse processo de adesão ao projeto. Apesar de recebermos a alcunha de “latinos”, para os habitantes do hemisfério sul, nossos valores e culturas são bem distintos. Pensamos e agimos diferentemente dos chilenos, paraguaios, bolivianos colombianos, e outros. Mesmo entre os países com língua materna espanhola, as culturas são também diferentes. Há inúmeras desigualdades entre esses povos. Quando comparamos os “latinos” aos anglosaxões do norte as igualdades passam a ser nenhuma. Como unificar conhecimentos ou experiências nesse caldeirão de culturas e valores? Como introduzir um engenheiro peruano em uma fábrica canadense, ou um uruguaio em uma fábrica do Texas? Quando a questão é apenas a financeira, a equação passa a ser resolvida com facilidade. Quem não quer deixar de ser desempregado ou subempregado e passar a ganhar U$ 150,000.00 ao ano e com uma série de outras vantagens? Parece uma coisa muito boa, não é. Não se troca um emprego por um subemprego. Não se troca um país com toda a infra=estrutura necessária para a criação de seus filhos por outro onde a guerrilha e o narcotráfico imperam. Isso parece lógico a todos. Outra questão também relevante é a que diz respeito à grade curricular, tema esse que, aparentemente está relacionado ao capítulo anterior. Entretanto, para melhor explicar nossos conceitos, resolvemos tratála distintamente. Os aspectos que precisam ser considerados quando se analisa essa questão são: • • • • • Perfil do curso; Quantidade de semestres da formação; Temas abordados; Profundidade da abordagem das questões; Pré-requisitos e requisitos necessários para os docentes e discentes. Apresentada essa primeira parte, cuja avaliação é mais técnica do que política ou econômica, precisamos identificar agora algumas questões relativas a estratégias, oportunidades, salvaguardas e outras assemelhadas. Uma preocupação natural que surge nesse momento é: Porque se pretende unificar os curricula profissionais para formar-se o Engenheiro das Américas? Várias poderão ser as respostas, que variarão de acordo com o momento. Algumas que podemos enumerar são: I) Estratégia de negócios Em empresas multinacionais ou transnacionais, com tecnologias específicas, como as indústrias farmacêuticas, de armamentos, de pesquisa e desenvolvimento, será que vale a pena empregar pessoas de outros países que possam ter acesso fácil a essas tecnologias e depois repassá-las a seus países ou a outros países? Se quisermos descobrir o que o inimigo faz basta “plantar” empregados graduados em seu efetivo. É a maneira mais simples de se disfarçar a espionagem. Isso foi feito por inúmeros países e ainda se faz hoje. No final da segunda guerra mundial os cientistas alemães foram para os Estados Unidos e para a Inglaterra para desenvolver a tecnologia atômica e do lançamento dos foguetes. Vários são os casos de pesquisadores que foram para outros países. A imprensa noticia que alguns eram “seduzidos” a ir. Quando se unifica os curricula corre-se o grande risco de se ter a repetição de casos como o ilustrado pelo articulista, com a “privatização” da EMBRATEL, cujo preço de venda em leilão foi significativamente menos 2 de 4 do que os pesados investimentos feitos pelo governo em CDAs meses antes. O país que detém uma maior tecnologia não irá querer contratar para os postos chave engenheiros que não sejam oriundos desse. Isso também nos parece óbvio. II) Estratégia de tecnologias A questão da estratégia de tecnologia é assemelhada á questão da estratégia de negócios, já que uma questão está associada a outra. Nas diferenças pode-se avaliar melhor o impacto dessas unificações. Em muitas negociações entre países uma das moedas mais fortes é aquela relacionada com a tecnologia ou com o desenvolvimento tecnológico. Essa é uma das grandes questões de atritos entre países, relacionados á transferência de royalties, transferência de know how e piratarias. É um negócio que envolve bilhões de dollares, com uma enorme agregação de valor, e um baixo contingente de pessoas atuando. Durante décadas, conta a história que “missionários americanos” se infiltravam na Amazônia para ajudar os povos indígenas. Muito recentemente soube-se que esse povo tinha todo o mapeamento genético dos povos indígenas e que, por meio desse, havia desenvolvido uma enorme quantidade de fármacos. Há uma enorme quantidade de histórias a este respeito, muitas fábulas e outras verdades, encobertas por trás de um fino véu. A partir do momento em que se instituirá a liberdade de trânsito e o livre reconhecimento da atuação desses profissionais, deverá avaliar-se melhor essa questão. III) Mão-de-obra excedente A oscilação das demandas por mão-de-obra especializada é uma incógnita. Tomemos como exemplo a implantação de uma indústria no interior do estado de São Paulo. Imaginemos tratar-se de uma fábrica estrangeira, que quer duplicar sua capacidade de produção, reduzindo custos, apenas, tanto na mão-deobra quando nos insumos e impostos, e que escolheu essa cidade por causa dos elevados benefícios fiscais, por 15 anos, e vantajosas taxas do BNDES. Qual seria o incremento de mão-de-obra especializada que ela iria gerar, se o projeto já vem pronto, os financiamentos não determinam que as construtoras sejam locais e que os níveis gerenciais já vêm com o projeto? Para que, ou melhor, para quem, uma universidade federal iria formais engenheiros se esses não teriam muitas chances de trabalhar nesse empreendimento? Vendo a questão sob outra ótica, a flutuabilidade da mão-de-obra, principalmente especializada, depende, entre outras questões de: • • • • Inversão de recursos de acionistas; Crescimento do parque fabril; Fortes políticas de exportação; Altas demandas por tecnologia especializada. As taxas de crescimento nas Américas não são tão elevadas que justifiquem a elevação da necessidade de novos profissionais. Taxas tão elevadas quanto as da China, da ordem de 10% ao ano, são justificáveis quando o país sai de um nível zero de tecnologia para um nível delta, motivado principalmente pelo crescimento populacional. Esse crescimento é limitado, pois, caso contrário, poderá trazer sérias conseqüências futuras. O Plano Marshall foi um dos exemplos mais contundentes. O plano de reconstrução foi desenvolvido em um encontro dos Estados europeus participantes em julho de 1947. A União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados, mas Josef Stalin viu o plano como uma ameaça e não permitiu a participação de nenhum país sob o controle soviético. O plano permaneceu em operação por quatro anos fiscais a partir de julho de 1947. Durante esse período, algo em torno de US$ 13 bilhões de assistência técnica e econômica — equivalente a cerca de US$ 130 bilhões em 2006, ajustado pela inflação — foram entregues para ajudar na recuperação dos países europeus que se juntaram à Organização Européia para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. 3 de 4 Quando o plano foi completado, a economia de cada país participante, com a exceção da Alemanha, tinha crescido consideravelmente acima dos níveis pré-guerra. Pelas próximas duas décadas a Europa Ocidental iria gozar de prosperidade e crescimento. O Plano Marshall também é visto como um dos primeiros elementos da integração européia, já que anulou barreiras comerciais e criou instituições para coordenar a economia em nível continental. Uma conseqüência intencionada foi a adoção sistemática de técnicas administrativas norte-americanas. Recentemente os historiadores vêm questionando tanto os verdadeiros motivos e os efeitos gerais do Plano Marshall. Alguns historiadores acreditam que os benefícios do plano foram na verdade o resultado de políticas de laissez faire que permitiram a estabilização de mercados através do crescimento econômico. Além disso, alguns criticam o plano por estabelecer uma tendência dos EUA a ajudar economias estrangeiras em dificuldades, valendo-se do dinheiro dos impostos dos cidadãos norte-americanos. Da mesma forma, os acordos Bretton Woods, realizados ao final da segunda guerra mundial, que trouxeram consigo o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, A Organização Mundial do Comércio, entre outros organismos, e todos com o mesmo foco, trouxeram resultados para, em primeiro lugar, os Estados Unidos e, depois, para alguns dos aliados. Como conclusão, vemos um acordo como o dessa natureza, como fadado ao fracasso, sob o ângulo de visão dos “latinos”, pelas várias razões já apresentadas, e como uma excelente oportunidade para os demais países. Isso se assemelha ao sonho dos milhares de jogadores de futebol que querem ser estrelas. O percentual daqueles que galgam os píncaros da fama talvez não chegue nem a 5%. E olhe que nesse caso a habilidade está do nosso lado. As diferentes culturas, as diferentes necessidades, as diferenças tecnológicas são indicadores de um provável fracasso do plano. 4 de 4