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Educação E Formação De Professores De Ciência Das Séries Iniciais Do Ensino...

O presente artigo aborda a formação acadêmica do professor e analisa o desenvolvimento da prática docente nas aulas de Ciência nas séries iniciais do ensino fundamental. Trás à luz o entendimento de que o estudo da Ciência se faz através da compreensão do meio físico, químico e biológico dentro de um contexto social e que o professor deve estar munido de uma visão holística sobre as possibilidades do fazer didático-pedagógico no âmbito do ensino formal. É colocado o conhecimento científico, na perspectiva do...

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1 Universidade Federal de Rondônia- campus de Guajará-Mirim EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIA DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO CONTEXTO AMAZÔNICO Leidy Daianny da Silva Ferreira1 Jorge Luiz Heráclito de Mattos2 RESUMO: O presente artigo aborda a formação acadêmica do professor e analisa o desenvolvimento da prática docente nas aulas de Ciência nas séries iniciais do ensino fundamental. Trás à luz o entendimento de que o estudo da Ciência se faz através da compreensão do meio físico, químico e biológico dentro de um contexto social e que o professor deve estar munido de uma visão holística sobre as possibilidades do fazer didático-pedagógico no âmbito do ensino formal. É colocado o conhecimento científico, na perspectiva do aproveitamento dos recursos naturais e na melhoria da vida do ser humano. PALAVRAS-CHAVE: Educação, Ciência, Didática. ABSTRACT: This article discusses the teacher's academic background and analyzes the development of teaching practice in science classes in early grades of elementary school. Back in the light of the understanding that the study of science is through understanding of the physical, chemical and biological processes within a social context and that the teacher should be provided with a holistic view on the possibilities of making didactic teaching within the formal education. Scientific knowledge is put in perspective the use of natural resources and improving human life. KEYWORDS: Education, Science, Teaching. INTRODUÇÃO: Falar sobre a Ciência implica em considerar a trajetória do próprio homem sobre a Terra. Considerar o que fez para modificar o ambiente e utilizá-lo em seu benefício, manipular, em certa medida, as forças da natureza como o fogo, a água, a luz e o ar. A qualidade e a quantidade dessas modificações impostas ao ambiente evoluíram como resultado do acúmulo de conhecimentos que o homem produzia e continuamente aplicava em seu entorno físico juntamente com as observações que fazia em relação às manifestações de ordem natural. No entanto, surgia a necessidade de se passar os 1 Acadêmica do curso de pedagogia da UNIR- campus de Guajará-Mirim. Professor orientador. Biólogo e Mestre em Ciências da Linguagem. Professor do Departamento de Ciências Sociais e Ambientais (DACSA) UNIR- campus de Guajará-Mirim. 2 2 conhecimentos adquiridos empiricamente às próximas gerações de forma sistematizada, de forma coerente e didática. O ensino de Ciência possui suas características e peculiaridades que devem ser compreendidas por quem ministra aulas de Ciência, sobretudo nas séries iniciais do ensino fundamental. É notória a presença de professores sem nenhum curso universitário e aqueles que o possuem, como no caso dos cursos de Pedagogia, não aprofundaram os conhecimentos científicos durante a sua formação inicial, o que implica numa demanda por formação continuada. Além disso, presenciamos hoje a imperiosa necessidade de se rever os currículos, especialmente aqueles que se destinam à formação de professores para as séries iniciais. Assim como a Ciência, o currículo não existe de forma despretensiosa ou inocente. O currículo atende a determinada ideologia e por ela tem o potencial de promover a segregação social e impedir o acesso ao conhecimento. A prática docente deve privilegiar alguns aspectos na construção do conhecimento como, por exemplo, a aplicação do método experimental e a aproximação, sempre que possível, dos materiais e objetos reais. Não pode esta prática encontrar-se divorciada da interdisciplinaridade sob a pena de manter os conhecimentos dissociados, sem permitir uma mútua correspondência que venha favorecer a compreensão dos conteúdos das várias áreas do saber. A prática docente deve permitir a curiosidade epistemológica como condição de se prosseguir na investigação do mundo material e na construção de novos conhecimentos. O QUE É CIÊNCIA? Primeiramente, precisamos indagar o que é Ciência. Conforme Dampier (1986, p. 1): “A palavra vem do latim scire, que significa aprender, saber, e por isso deveria abranger a totalidade do conhecimento, daquilo que é objeto de aprendizado”. Vemos a Ciência como uma história e suas evoluções desde o momento primitivo do homem: vista nas pinturas rupestres, nas ferramentas, na descoberta do fogo e na evolução da linguagem. Numa ótica contemporânea da evolução da Ciência podemos citar alguns cientistas que contribuíram para a fuga do homem aos dogmas e superstições em direção ao esclarecimento: Galileu Galilei, que foi perseguido pelo Tribunal do Santo Ofício por colocar a Terra no seu devido lugar; Albert Einstein, genial físico que permite ao mundo conhecer o poder existente na matéria através da energia atômica e 3 ainda oferta ao mundo a Teoria da Relatividade; Charles Darwin, o naturalista inglês que conduz o homem pelos caminhos da evolução e o retira da condição de criação divina; Isaac Newton, com sua teoria da gravitação universal e a descoberta da natureza da luz e sua decomposição; Leonardo da Vinci, com seus inventos fabulosos e suas projeções para o futuro e não poderíamos deixar de citar Descartes com a elaboração das bases do método científico para indicar apenas alguns exemplos da genialidade humana entre tantos outros. Para responder ao questionamento, “o que é Ciência?”, podemos recorrer a alguns autores sem a intenção, no entanto, de encontrar uma resposta final e conclusiva. Podemos aceitar a seguinte definição, Ciência é o conjunto de conhecimentos reunidos ao longo da história da humanidade ou, Ciência é a sistematização de observações de fatos da natureza ou podemos ainda considerar o diz Popper (1972, p. 35): “Os positivistas modernos têm condição de ver mais claramente que a Ciência não é um sistema de conceitos, mas, antes, um sistema de enunciados”. Na literatura não faltam personagens que procuram dar uma definição para Ciência. De uma forma ou de outra, qualquer definição para Ciência ainda é melhor que a aceitação do senso comum. Conforme Koyré (1991, p. 185): “O senso comum é - e sempre foi - medieval e aristotélico”. O veredito da Ciência (vere dictum = dito verdadeiro), busca sua afirmação e explicação além do senso comum e longe do abrigo da Teologia. A explicação da Ciência deve ser submetida à verificação empírica. Assim, para Lambert (1972, p. 43): “Apelo à vontade divina, por exemplo, embora satisfaça a muitos, não é, geralmente considerado explicativo; afirmar que o terremoto de Lisboa ocorreu porque Deus o quis, não é asserção suscetível de investigação científica”. Contudo, há de se perceber que a Ciência tem sua roupagem identificada com sua época muito embora algumas vezes apresente alguns traços mais avançados como prenúncio de novas épocas. FORMAÇÃO ACADÊMICA E AS IMPLICAÇÕES NO ENSINO DE CIÊNCIAS Em todo o conteúdo de ciência ou de outras áreas do conhecimento, deve haver um aprofundamento nas questões epistemológicas do objeto do conhecimento sem o que a base inicial da formação acadêmica pode interferir futuramente na vida do 4 profissional em educação e na educação escolar dos seus alunos. No entanto, o que pode ser entendido por formação escolar ou docente? Segundo Moreira (2007, p. 109): Trata-se do desenvolvimento pleno, completo e harmonioso que envolve a aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades, no que se refere em geral e ao processo ensino-aprendizagem que ocorre na escola, nas instituições que se preocupam com o ensino e, especificamente, na sala de aula. Através da formação inicial do professor ele deve estar impregnado dos princípios científicos que norteiam o seu fazer pedagógico. Porém, parece ser verdadeiro que poucos alunos se destacam, durante sua vida acadêmica, em tarefas de pesquisas, de leituras, de produção cientifica e de projetos. Os acadêmicos devem sim, questionar os professores, dar sugestões de aulas, estabelecerem uma relação dialética no espaço da sala de aula, buscando o aluno alcançar o nível do professor. O professor deve conduzir o processo de ensino e de aprendizagem como um processo, fornecendo todas as condições necessárias à evolução do discente. Isso pode parecer óbvio, no entanto não é o que acontece em muitas práticas em sala de aula. Além disso, o trabalho docente não se resume em apenas o docente para avaliar o aluno, contudo, o professor é avaliador e avaliado. Argumenta Demo a respeito dessa situação (1946, p.36): O primeiro truque, típico sobretudo de professores que imaginam ter nascido para avaliar, nunca para ser avaliados, é capturar o processo avaliativo em meras “auto-avaliações” de cunho autodefensivo. Argumenta-se que a avaliação externa seria impositiva, antidemocrática, deturpadora. Ademais, questiona-se o avaliador externo sobre suas condições reais de avaliar [...]. Muitos professores pensam que estão na sala apenas para ensinar, porém, todos estão aprendendo a cada momento em pesquisas realizadas ou até mesmo por leituras feitas periodicamente. Sobretudo o acadêmico que deveria ter hábitos de leitura e escrita. Infelizmente, a maioria não se preocupa com a sua formação inicial e prejudica a si próprio desqualificando o papel do professor que assumirá futuramente, pois, muitos acadêmicos oferecem resistência a tarefa de fichar o material exigido ou fazer resumos das obras indicadas pelos professores. O que parece ser uma deficiência maior dos acadêmicos é a falta do desempenho do envolvimento na pesquisa. Muitos saem das universidades sem saber o que é pesquisa, pois conforme Wanderley (1994, p. 37): “Pouco a pouco, sob o impacto determinado por novas exigências, constatou-se a necessidade de ampliar os 5 conhecimentos, produzir novos saberes, e o meio privilegiado foi a pesquisa” (grifo nosso). A maioria dos discentes utiliza apenas materiais que são indicados pelo professor para os exercícios de leitura, e se dedicando apenas a estes textos, muitos lêem por obrigação e com rapidez, sem saber qual o objetivo da leitura e sem a devida interpretação do texto. Muitos acadêmicos não pesquisam os conteúdos das obras indicadas e não realizam o necessário diálogo entre os diferentes autores, a fim de desenvolver uma visão ampla sobre o assunto, o que limita a verdadeira percepção e compreensão do objeto de estudo. Apesar das variações encontradas nas nomenclaturas propostas para dividir e classificar o ensino formal como, por exemplo, séries, ciclos, anos e graus, isso não garante a qualidade do ensino levado para o interior das salas de aulas. O problema continua sendo a formação do professor na área do ensino de Ciências sem desconsiderar o aspecto interdisciplinar intrínseco na formação docente. Considerando a formação do profissional em Educação, que se destina a lecionar nas séries iniciais do ensino fundamental, tal formação se dá nos cursos de Pedagogia e por característica da política educacional praticada nas Secretarias de Educação, esse profissional termina lecionando em todas as séries do ensino fundamental e o que é ainda pior, chega às séries do ensino médio, contudo sem a devida formação que requerm os sucessivos estágios do processo de ensino e de aprendizagem. Segundo Gil-Pérez (2003, p. 21): “Todos os trabalhos investigativos existentes mostram a gravidade de uma carência de conhecimentos da matéria, o que transforma o professor em um transmissor mecânico dos conteúdos do livro texto”. Podemos suspeitar, no mínimo, que tal carência denunciada por Gil-Pérez seja originada no interior dos cursos de formação de pedagogos. Pela deficiência na investigação epistemológica dos segmentos que constituem as áreas de conhecimento da Ciência. A superficialidade do tratamento científico dado aos objetos do conhecimento é emblemática dos cursos de Pedagogia. Segundo Mattos (2009, p.59): Existe um sentimento específico de que aos pedagogos lhes faltam a doxa e a episteme. Sendo por tanto a falta desses dois elementos, a opinião e a ciência, que vão comprometer a qualidade do trabalho pedagógico que será desenvolvido dentro das escolas. Aliado a esse aspecto está a exigência de uma formação sólida do pedagogo o que permitiria uma diminuição ou extinção da sua subserviência às direções de escolas. 6 Na falta de professores de Ciências propriamente ditos, que não são formados nos cursos de Pedagogia, o profissional em Educação, destinado às séries iniciais do ensino fundamental, precisa buscar os conhecimentos da área da Ciência através da investigação e da prática do experimento utilizando as habilidades adquiridas no ensino superior para a pesquisa e elaboração própria de material didático. Não podem entregarse passivamente ao anacronismo pedagógico encontrado no interior da escola e ficarem submetidos a uns poucos materiais colocados à sua disposição. FORMAÇÃO CONTINUADA E A PRÁTICA DOCENTE O curso de Pedagogia, no campus universitário na cidade de Guajará-Mirim da Fundação Universidade Federal de Rondônia, por exemplo, foi implantado em 1988, e tem como objetivo formar profissionais em Educação para lecionar para crianças nas séries iniciais do ensino fundamental. No entanto, uma vez na escola estes profissionais atuarão como professores, diretores, orientadores educacionais, supervisores, enfim como gestores em educação. Nas palavras de Moreira (2007, p. 111): “Pedagogo é o único profissional habilitado, por lei e formação, a preparar, administrar e avaliar currículos, orçamentos e programas escolares, além de poder atuar como pesquisador”. Vemos que a pesquisa não é só no âmbito da Ciência, na sala de laboratório, mas, executada nos trabalhos desenvolvidos no interior das escolas. Considerando que a qualidade e a profundidade no domínio dos saberes não são garantidas pela formação acadêmica inicial compreendemos que na formação contínua está a possibilidade de apropriação de novos conhecimentos e habilidades. Isso permite uma postura de investigação sobre a própria prática docente, porque conforme Saviani (2000, p. 48): “quanto a nós, se pretendemos ser educadores (especialistas em educação) é porque não nos contentamos com a educação assistemática. Nós queremos educar de modo intencional e por isso nos preocupamos com a educação”. Esta é uma preocupação que se justifica pela necessidade de se manter as práticas docentes e pedagógicas no interior da escola como uma possibilidade de se resgatar à Educação credibilidade, qualidade, cidadania e cientificidade. O professor deve se dedicar a pelo menos duas dimensões da sua prática docente: o ensino e a pesquisa. Nas palavras de Imbernón (2005, p. 64): É preciso, pois, derrubar o predomínio do ensino simbólico e promover um ensino mais direto, 7 introduzindo na formação inicial uma metodologia que seja presidida pela pesquisa-ação como importante processo de aprendizagem da reflexão educativa, e que vincule constantemente teoria e prática. Devemos lembrar constantemente que a grande preocupação para o professor, importante para a sua prática docente, deve ser a formação continuada, atitude que pode ajudar na melhoria do ensino na sala de aula, no momento da transposição didática dos conteúdos, pois não basta ter um currículo estruturado se o docente não exerce bem seu desempenho em sala de aula. A formação continuada confere ao professor maior autonomia no seu fazer pedagógico, pois através da pesquisa adquire maior liberdade no manuseio e na aplicação dos conhecimentos que vai sendo construídos como resultado das suas pesquisas. A experiência adquirida nos anos de trabalho docente, quando devidamente mobilizada, conduz com efeito a uma formação continuada de iniciativa particular com grande qualidade sob o aspecto epistemológico. DIDÁTICA E O ENSINO DE CIÊNCIAS O professor é idealizador, desenvolve modos específicos de ensinar através das brincadeiras lúdicas, educacionais, materiais didáticos, músicas, dobraduras, recortes de variados materiais impressos etc., com o propósito de explicar algum conteúdo, ou seja, uma aula dinâmica. O professor tem que tentar avaliar cada modo característico do comportamento de seu aluno, isto significa ter uma visão pedagógica. Assim, para Astolfi (1990, p. 123): Para o professor observar, analisar, gerir, regular e avaliar as situações de aprendizagem que ele coloca, necessita de ferramentas diversas que se apóiam na reflexão didática. Pelos procedimentos que o professor utiliza, pelas escolhas que faz, pelo contrato didático que implanta, ele se refere implicitamente a um conjunto de valores e finalidades do qual se deve ter consciência. Cada criança tem níveis de conhecimento e de aprendizagem diferentes, algumas aprendem com rapidez, outras com menos facilidade, então, o professor precisa ter uma ótica de verificar o desenvolvimento de cada criança, dialogar para conhecer e perceber as diferenças entre elas para se obter êxito dos alunos. Marques (1992, p.11): considera que “tanto a educação como a ciência da educação necessitam ser mediadas pela ação do educador, para que possam, em 8 reciprocidade, modelá-la e construí-la”. O professor que é idealizador, motivador, está impregnado do processo de ensino e de aprendizagem e estabelece variedades na ação pedagógica como forma de favorecer a criatividade nas aulas de ciências procurando promover a motivação, e assim, dessa maneira, cientificamente desenvolve a mente da criança. A escola precisa conscientizar-se da necessidade e o professor precisa querer a formação continuada, porque conforme Demo (2000, p. 25): [...] tenta-se de tudo para manter a aula centrada no professor: armase o circo para manter a atenção do aluno, usa-se tecnologia eletrônica para efeitos especiais, apela-se para o computador como ambiente mais lúdico, todo mundo pode perguntar, a prova pode ser com consulta. Tudo para esconder o problema básico: o aluno aprende muito mal, porque o professor também aprende mal. Pedro Demo (2000, p. 50), vem reforçar esse pensamento sobre a problemática da qualidade docente ao dizer que: [...] muitos professores não se propõem mais a necessidade de aprender, pois já ensinam. Deixam de estudar, não se atualizam, emboloram no tempo. [...] Toda crítica soa como ofensa, porque deixaram de perceber que o novo vem da desconstrução, não dos elogios, que, mesmo podendo ser pedagogicamente adequados para a motivação do aluno, não levam a aprender. O que é didática? Num primeiro momento podemos dizer que é o aspecto técnico que nos leva a conduzir melhor o conteúdo. Didática é, a arte e a técnica de ensinar. Conforme Piletti (1984, p. 5): Estudar didática não significa apenas acumular informações técnicas sobre o processo de ensino-aprendizagem. Significa, antes de mais nada, desenvolver a capacidade de questionamento e de experimentação com relação a essas informações. Didática e Metodologia são dois pilares que sustentam e direcionam a aplicação e o desenvolvimento dos conteúdos das diversas áreas do conhecimento humano trazidas para o âmbito da Educação Formal. O conjunto de procedimentos práticos e teóricos precisam se ajustar às orientações específicas segundo a natureza do seu objeto de estudo. Assim, segundo Marques (1990, p. 76): Á Didática, como articulação geral das práticas docentes às teorias que delas defluem e as informam e impulsionam, cumpre traçar os 9 parâmetros da atuação educativa explícita e sistemática, intencionada no projeto político-pedagógico da escola e dimensionada pelas bases conceituais, linhas e eixos temáticos da dinâmica curricular eleita . No ensino de Ciências uma atenção especial deve ser dispensada ao método experimental que deve estar devidamente aliado aos processos do pensamento dedutivo e indutivo. Recorrer ao método experimental se justifica por ser imprescindível o contato do aluno com os objetos do conhecimento. A Didática desempenha a função de orientar os procedimentos do método experimental favorecendo a observação, a própria experimentação, a coleta de dados, a construção de hipóteses, o proceder à verificação, à repetição e a interpretação dos resultados e dos fenômenos tendo o raciocínio como substrato de todas essas ações. Para Santos (1968, p. 11): No ensino das ciências não se deve separar o objeto da noção a que ele se refere. O objeto propriamente dito, ou suas figurações (modelos, desenhos, quadros, etc.) não só podem constituir o material motivador, como constituem recurso objetivador. Os objetos e os fenômenos que com eles se podem provocar constituem a matéria prima para o conhecimento científico. Os procedimentos didáticos no ensino de Ciências devem estar direcionados para promover a motivação na aprendizagem. O próprio docente precisa encontrar-se estimulado com o seu trabalho, com as suas pesquisas. É importante que haja total identificação pessoal do docente com a sua área do conhecimento com a finalidade de não se perder as possibilidades de motivação no processo de ensino e aprendizagem. Nos planejamentos didáticos para o ensino de Ciências devem constar itens como: feiras de ciências; exposições de materiais coletados; experiências (experimentos com materiais de natureza química, física e biológica); coleções de rochas e insetos ou outros pequenos animais; excursões ainda que nos arredores da escola e outras atividades que podem ser propostas dependendo da competência do professor. Com relação ao que foi dito encontramos apoio no que diz Santos (1968, p. 48): Quem deve selecionar os objetivos específicos que orientarão a sua atividade didática é o próprio professor que inspirar-se-á nas obras dos que se dedicaram ao estudo dos aspectos mais gerais e teóricos da educação. A importância de alguns objetivos varia em cada situação particular pois depende da comunidade, da maturidade e dos conhecimentos anteriores, dos alunos e de muitos outros fatores que somente o professor poderá conhecer. 10 O ensino se torna mais profícuo quando no seu desenvolvimento utilizamos materiais originados no trabalho de pesquisa e investigação realizadas pelo docente responsável pela disciplina. Isso auxilia no desempenho da aprendizagem e na avaliação do aluno, que pode ser feita utilizando-se outros recursos e não apenas a prova escrita como única forma de avaliação. Através dos trabalhos com orientação pedagógica do educador, se desenvolvem atividades com finalidades também sociais, pois além da transmissão dos conteúdos específicos do currículo, os alunos estão sendo capacitados para futuras vivências sociais. De forma didática a cada momento coisas novas estão sendo aprendidas, fato que enriquece as experiências e as vivências e nos colocam em contato com o meio ambiente desde o início da infância quando aprendemos a falar, a dar os primeiros passos, a ler e a escrever; fatos que promovem o desenvolvimento humano através do qual, somos inseridos no contexto social. Nos trabalhos de ciências, muitos professores utilizam apenas a explanação e dificilmente utilizam materiais didáticos, livros de outros autores, no entanto vários recursos didáticos podem ser usados em uma aula. A falta de recursos da escola não justifica a falta de criatividade e a incompetência do professor que leciona Ciências. Há várias formas de se trabalhar os conteúdos de Ciências mostrando o concreto, envolvendo os sentidos do corpo, o meio ambiente, os animais da natureza, a higiene, as plantas, quase tudo em nossa volta e até mesmo dentro de nossas casas, onde sabemos que há uma enorme quantidade de eventos e fatos científicos esperando para ser identificados e incorporados ao universo de aprendizagem do aluno, ao seu conhecimento. Os acontecimentos do cotidiano são repletos de bases científicas e isto deve ter algum significado para o aluno e precisa ser incorporado na sua vida. Isto, segundo Kneller (1978, p. 114): Significa que, a fim de que o conhecimento contribua para o desenvolvimento pessoal, deve ser passado à atitude do jovem perante a vida, isto é, deve ter-se tornado aplicável àquela atitude e transformado em parte dela. É preciso que ela não apenas haja sido registrada no intelecto mas também sentida no pulso. Despertar a curiosidade epistemológica no aluno deve ser a principal tarefa do professor de Ciência. Toda atuação docente, guarnecida e amparada na melhor Didática, deve se desenvolver no sentido de permitir o surgimento de “insights” como resultante 11 do somatório das aquisições cognitivas efetuadas ao longo do eficaz processo de ensino e de aprendizagem. É necessário que o educador promova a criatividade entre os alunos, procurando desenvolver atividades que atribuem para tal promoção. Ao professor cabe criar situações em que o aluno utilize seus talentos e seus pensamentos, exercitando a mente. A escola, no entanto, precisa se adequar às necessidades técnicas e materiais para favorecer a criatividade do aluno. Segundo Kneller (1978, p. 19): “Também podemos compreender a criatividade contrastando-a com o que geralmente é tido como inteligência. O pensamento criador é inovador, exploratório, aventuroso [...]”. O professor de ciências precisa procurar as parcerias com órgãos ambientais, de saneamento, estação de tratamento de água e outras instâncias que tratem de assuntos voltados para o meio ambiente e a saúde da população e com estes temas então, desenvolver trabalhos com os alunos e assim promover a transformação da sociedade. Com este propósito a escola estará ligada também aos aspectos sociais que envolvem a formação dos alunos. Conforme Damis (1991, p. 91): Estimular e permitir a participação ativa dos alunos em experiências de aprendizagem que enfatizam a construção de conhecimentos, desenvolver projetos adequados aos interesses dos alunos, da comunidade escolar e da sociedade, [...] visando à transformação da prática educativa desenvolvida pela escola. (2004, p.14) A escola não é apenas uma instituição de ensino onde se transmite os conhecimentos da educação formal ou que recebe crianças de vários contextos sociais e as reúnem todas numa sala mantendo as suas individualidades e perpetuando a segregação entre elas. Na visão de Libâneo (1994, p. 26): “A própria sala de aula é um ambiente social que forma, junto com a escola como um todo, o ambiente global da atividade docente organizado para cumprir os objetivos de ensino”. Portanto, a escola e a sociedade estarão sempre associadas. Como por exemplo, as modificações na sociedade, interferem no comportamento dos alunos dentro da sala de aula. Os próprios materiais de pesquisa elaborados pelos professores são uma forma de ensinar provocando nos alunos o desejo da pesquisa, do querer conhecer e assim os questionamentos dos alunos surgirão de forma espontânea. O professor tem que estar preparado para montar projetos na escola, utilizar o ambiente escolar para chamar atenção do aluno, motivá-los para a descoberta e a redescoberta todo o tempo e não usar 12 esse espaço de forma inócua, subtraindo as aulas e registrando nos diários de classes aulas e conteúdos que não foram dados. Conforme Mattos (2009, p. 77): Precisamos evidenciar os benefícios e nos objetivos a serem alcançados por cada atividade proposta, sobretudo no que a escola fornece de essencial para a formação de seus alunos. Como fazê-los sujeitos pensantes se não colocamos à sua frente desafios, atividades e situações que estimulem a atividade mental? Como criar motivação se não criamos de situações de conquista e emoção? E como permitir a aprendizagem se não partimos um simples caminho de tentativa da criação e da descoberta? [...]. Um bom domínio da Didática constitui-se algo fundamental para Ciência, pois o professor procura, através dela, estratégias, formas de ensinar, e principalmente pesquisar, sem a pesquisa o professor não pode ajudar os alunos a buscar o domínio dos conteúdos. Observamos em outros países, como por exemplo, nos Estados Unidos, um dos países que mais investem na pesquisa cientifica o gasto de milhões de dólares por ano, no setor da educação e da pesquisa. O governo investe para que futuramente os alunos que aprenderam na escola, tenham condições de interferir de forma positiva na questão econômica e social do país com o propósito de desenvolvê-lo ainda mais. A questão da Ciência no ensino é de extrema importância, não apenas para os alunos, de forma individual, mas para o país como condição de crescimento e independência. INTERDISCIPLINARIDADE E O ENSINO DE CIÊNCIAS O envolvimento do conhecimento multidisciplinar é chamado de interdisciplinaridade. Não é só trabalhar conteúdos específicos ou particulares de uma determinada disciplina, mas propor uma ampla ligação entre os conhecimentos. A interdisciplinaridade é uma exigência da atualidade, é a substância intersticial que faz os conteúdos corresponderem. É a diversidade de linguagens buscadas em outras áreas para fazer o cognitivo convergir para determinado ponto. É o substrato da compreensão. É através da busca da interdisciplinaridade que o professor adquire novas linguagens e esclarece conceitos e terminologias. É necessário que os conhecimentos se correspondam que um auxilie o outro no sentido de permitir a melhor fixação deles. No entanto, nessas relações mútuas entre as áreas do conhecimento deve ser preservada a linguagem científica de cada uma. Segundo Fazenda (2003, p. 41): “Um discurso se complementa no outro, pois a linguagem não é de um, mas de vários. Ela está entre. Isto quer dizer que não existe 13 opinião só de um; toda a subjetividade está inserida numa intersubjetividade, toda disciplina requer interdisciplinaridade”. Sendo assim, a linguagem nas Ciências não pode ser desprezada ou substituída. A linguagem que aparece em cada conteúdo é o que traz sua identidade, é o que delimita seu campo epistemológico, constrói sua lógica, seus conceitos e suas representações A aquisição de novas linguagens através do processo de aprendizagem é uma tarefa muito mais pessoal que coletiva, com características de solidão cujos avanços, aprofundamentos e a qualidade dessa aquisição estão na razão direta do interesse e motivações que se introduz na sala de aula. Processo este em que o professor precisa dominar as devidas linguagens da área do conhecimento de sua formação e extrapole para outras áreas esta capacidade de domínio. Está na dependência de uma boa articulação interdisciplinar a transposição didática feita em sala de aula com os apropriados materiais e métodos da disciplina como também o uso adequado das terminologias de cada área do conhecimento. Assim, conforme diz Marques (1992, p. 146): [...] não podem entender-se as disciplinas cada qual isolada e independente do universo concreto em que se realizam as atividades docentes e a aprendizagem por elas mediadas. Nem o professor habilitado para determinada matéria pode, em sua formação e em sua atuação, ignorar a unidade desse campo de atuação coletiva, contexto em que se correlacionam e se compõem os elementos de uma totalidade, como tais especificados e determinados pelo inteiro sistema em que situam, onde e por onde são o que cada um é e o que é a unidade por todos composta. Os conhecimentos não podem ser segmentados, isolados de uma relação dialética onde a soma das contribuições representa benefício para o aluno. As Ciências reclamam por estas ocasiões de encontros que representam movimento natural na construção do conhecimento na forma que hoje se objetiva. Nesse sentido, o professor não pode contribuir muito caso não compreenda as exigências atuais dos alunos e se não está convicto da necessidade de pesquisa e da aplicação da interdisciplinaridade. Para Trindade (2004, p. 21): “O termo interdisciplinaridade anuncia a necessidade de construção de um novo paradigma de ciência, de conhecimento, e da elaboração de um novo projeto de educação, de escola e de vida”. 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo da Didática na formação de professores de Ciências das séries iniciais do Ensino Fundamental tem sua grande importância nos direcionamento de natureza técnica. O trabalho em Ciências é considerado em suas perspectivas, como uma ampla possibilidade de evolução do saber, condição da qual o homem necessita cada vez mais para a sua sobrevivência no Planeta e que hoje ela está inserida nas escolas como disciplina explanando os conhecimentos de pesquisadores que realizaram e realizam pesquisas com a finalidade de melhorar a vida do homem. A formação dos professores, que iniciam na carreira acadêmica, torna-se alvo de questionamento devido às implicações que trazem para o trabalho docente na área de Ciência. Normalmente são os cursos de Pedagogia que oferecem ao mercado o profissional em educação para trabalhar nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A qualidade desses cursos merece uma avaliação, pois a superficialidade dos currículos, que pode existir em alguns deles, futuramente fará diferença no desempenho da aprendizagem dos futuros alunos desses professores. O professor para atuar na sala de aula deve ter consolidado seus conhecimentos de Ciências e regidos por uma visão interdisciplinar. Não podemos nos esquecer da importância da formação continuada do educador, pois sempre deverá estar atrelado às pesquisas, projetos, produções de textos, leituras, etc. como forma de aprimoramento constante de sua habilitação e possibilidade de relacionar os conhecimentos de sua área de formação com outras áreas. Enfim, para que o discente e o docente possam desenvolver a disciplina de forma proveitosa e interdisciplinar os conhecimentos devem ser buscados de forma prospectiva, através da pesquisa como condição para solidificar as aprendizagens. Tal atividade ser o compromisso de todos os professores de Ciências nas séries iniciais, que procuram ter oportunidade de desenvolverem a pesquisa nas escolas junto com os alunos, buscando conhecimentos e motivando os educandos a pesquisarem, a terem curiosidade epistemológica e nesse movimento envolver outras disciplinas legitimando dessa forma o trabalho interdisciplinar. 15 REFERÊNCIAS CARVALHO, Anna M. Pessoa de e PÉREZ, Daniel Gil. Formação de Professores de Ciências. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2003. DAMPIER, William C. História da Ciência. 2. ed. São Paulo: IBRASA, 1986. FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003. KENELLER, George Frederich. Arte e Ciência da Criatividade. Traduzido por J.Reis 5 ed. São Paulo: IBRASA, 1978. LAMBERT, Karel; BRITTAN, Gordon G. Introdução à filosofia da ciência. São Paulo: Cutrix, 1972. KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Rio de Janeiro: 2. ed. Forense Universitária, 1991. 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