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Durabilidade E Sustentabilidade

Artigo sobre durabilidade e a sustentabilidade na construção civil

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Durabilidade e Sustentabilidade: Desafios para a Construção Civil Brasileira V. M. John (1); N.M. N. Sato (1); V. Agopyan (1); C. Sjöström (2) (1) Dep. Civil Construction Eng., Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, Ed. Eng. Civil, Cidade Universitária, São Paulo 05508 900 Brazil (2) Centre for Built Environment, University of Gävle, 80176 Gävle, Sweden RESUMO No início do trabalho são discutidas a relevância da construção sustentável e o papel da durabilidade e da vida útil na sustentabilidade. É resumido o conceito de previsão de vida útil, apresentado na ISO 15686 e são discutidas as necessidades para implementação do procedimento. A durabilidade e a previsão de vida útil tem dimensões ambientais muito importantes. Em algumas linguas construção sustentável é traduzida como construção durável. Durabilidade é uma questão muito mais baseada em conhecimento do que em recurso pois é possível aumentar a vida útil sem aumentar o impacto ambiental durante a fase de produção. A previsão de vida útil implica no conhecimento da vida útil estimada de componentes e de critérios adicionais de projeto. O conceito fornece um esquema lógico para a tomada de decisões racionais baseadas em aspectos econômicos (custos do ciclo de vida) e ambientais (avaliação de ciclo de vida). PALAVRAS CHAVE Sustentabilidade, previsão de vida útil, durabilidade 1. CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL E O PAPEL DA DURABILIDADE NA SUSTENTABILIDADE A palavra sustentabilidade tem várias definições, mas a maioria das pessoas concordam que implica em produzir bens com a menor carga ambiental, de forma a preservar o ambiente de degenerações futuras. A definição da Conferência do Rio de 1992 inclui outras dimensões ao conceito, além da puramente ambiental: a dimensão social, que implica em distribuição mais equitativa do desenvolvimento interno do país e entre países e a dimensão democrática que procura aumentar a participação nas decisões públicas (John, 2001). Todas estas dimensões são igualmente importantes. 1.1 Sustentabilidade e construção civil A construção civil é o setor que mais consome material em todas as sociedades. Kasai (1998) estima que a construção civil consome aproximadamente 50% da matéria prima bruta no Japão. Matos & Wagner (1999) estimam que nos EUA a construção civil é responsável pelo consumo de 75% do consumo total de materiais. A transformação destes materiais brutos em bens e muitas vezes a necessidade de transportar os materiais por longas distâncias exige uma quantidade adicional de recursos, ocasionando cargas ambientais significativas. Recursos adicionais de manutenção, desmobilização e demolição são consumidos após a etapa de construção do ambiente construído Em função disso, o setor é também responsável pelo consumo de parte significativa de energia, água e pela geração de poluentes (John, Agopyan & Sjöström, 2001). Exemplificando, somente a decomposição do cal durante a produção de clinquer de cimento Portland é responsável por aproximadamente 3% do CO2 gerado mundialmente. A construção e a demolição são também a maior fonte de resíduos. Estima-se que os resíduos da construção e demolição variam mundialmente de 163 a 3658 kg por capita, com valores típicos de 400 kg por capita, que são valores característicos de resíduo doméstico sólido (John, 2000). É necessário adicionar a este total todos os resíduos gerados durante a produção de materiais de construção. A construção civil também consome uma quantidade significativa de energia. WRI (2000) estima que os setores residencial e comercial são responsáveis por 34,5% do consumo de energia total da economia mundial. 1.2 Aumentanto a sustentabilidade da indústria A sustentabilidade certamente implica em desvincular desenvolvimento de carga ambiental (Janseen; Van Der Bergh, 1999). A desmaterialização é uma ferramenta específica para esta dissociação, que consiste em obter o mesmo desempenho com menores quantidades de material, que por conseguinte representa uma redução de poluentes, incluindo a chuva ácida e a emissão de gases que causam o efeito estufa. A desmaterialização pode ser feita também substituindo-se o modelo linear de produção no qual a matéria bruta é extraída da natureza, transformada industrialmente em produtos que são usados e , após o final do ciclo de vida são descartados. O novo paradigma da produção é chamado de ciclo fechado (Curwell & Cooper, 1998) ou modelo cíclico de produção (Craven et all, 1996). Neste modelo a utilização de todos os recursos empregados é otimizada e a geração de resíduos reduzida a um mínimo reciclável. No setor da construção isto implica na produção de edifícios que podem ser mantidos e operados com o mínimo de recursos, facilmente melhorados ou reformados. O edifício é demolido somente quando estas operações não forem mais possíveis e os componentes obtidos da demolição são utilizados novamente em um “novo” edifício ou, se estes já tiverem atingido a sua vida útil, são reciclados (John, 2000). Os componentes não são mais projetados para serem destinados a aterros ao final de suas vidas úteis. A quantidade de matéria bruta consumida e de resíduo gerado será muito minimizada. Maximizar o uso de energia e material renovável consiste em outra ferramenta para reduzir os impactos ambientais. A mudança da fonte de energia do carvão para uma fonte de energia renovável e limpa irá resolver os problemas de aquecimento global da atmosfera e de chuvas ácidas. Porém a única fonte de materiais de construção renováveis são provenientes dos vegetais: madeira, fibras, etc. É possível aumentar o uso de materiais vegetais na construção mas estes não podem substituir todos os outros, pelo menos sem envolver grandes transformações industriais. Além disso, seria necessário utilizar toda área cultivável da Terra para plantar madeira em quantidade suficiente para suprir a indústria da construção civil (Curwell; Cooper, 1998), não restando espaço para o cultivo de alimentos. A reciclagem de resíduos para utilizá-los como matéria prima é também uma ferramenta importante na preservação dos recursos naturais e muitas vezes reduz o consumo de energia (John & Zordan, 2001). É importante também fazer com que os novos produtos sejam facilmente recicláveis após o fim de sua vida útil. Aumentar a durabilidade é também uma opção para desvincular o consumo do desenvolvimento e reduzir as cargas ambientais. 1.3 Durabilidade e sustentabilidade A durabilidade, expressa pela distribuição de vida útil de um conjunto de componentes, desempenha uma função importante para a obtenção de uma construção sustentável. Ao relatar conceitos de construção sustentável do ponto de vista de diferentes países, levantados pela comissão W82 do CIB, Bordeau (1999) observa que em algumas línguas como o alemão, finlandês, romeno ou francês, “sustentável” é traduzido como “durável”. Esta confusão entre sustentabilidade e durabilidade faz sentido pois “uma forma de aumentar a produtividade dos recursos é aumentar a vida útil dos produtos” (DeSimone & Poppof, 1998). Por outro lado, aumentando-se a durabilidade reduz-se também a quantidade de resíduos de construção e demolição. 1.4 Durabilidade, um atributo que depende do conhecimento A durabilidade depende muito mais de conhecimento do que em recursos. Muitas vezes na produção do componente é que se causa a maior carga ambiental e a vida útil pode ser aumentada ou diminuída sem afetar proporcionalmente as cargas ambientais. Alguns exemplos ilustram este conceito. Considere-se uma estrutura de concreto armado em um ambiente urbano. O mecanismo de degradação mais comum é a corrosão da armadura devido à carbonatação do concreto (CEB,1993). A profundidade de carbonatação é função da raiz quadrada do tempo de exposição ao ambiente e da resistência mecânica do concreto. Um pequeno aumento no cobrimento da armadura, por exemplo de 20 para 25 mm pode ocasionar um aumento na vida útil de 50 para 78 anos, que representa um aumento de 56%. Num componente de concreto com seção transversal de 25x25cm, este aumento de 56% na vida útil irá causar um aumento de apenas 8,2% na carga ambiental durante a construção. Em alguns casos, pode-se obter um aumento da vida útil de estruturas de concreto armado com redução nas cargas ambientais. A durabilidade em ambientes marítimos pode ser aumentada também substituindo-se parte do clinquer do cimento Portland por resíduos de escória granulada de alto forno ou cinza volante (Bijen, 1999). No caso de componentes de plástico, muitas vezes a durabilidade depende de alterações muito pequenas na sua formulação (Guillermo Martinez, 1996). A durabilidade não é uma qualidade intrínseca de um material. Mudanças nos detalhes de projeto que proporcionem maior proteção ao componente contra os fatores de degradação podem aumentar a sua vida útil sem alterar significativamente a carga ambiental total. A obsolescência é um outro problema de durabilidade (ISO, 1999). A obsolescência não é decorrente de um processo de degradação mas de mudanças nas exigências do usuário. Pode ser considerada como vida útil de serviço definida socialmente. Como não é possível estimar as mudanças sociais que irão ocorrer a longo prazo, não se pode controlar a durabilidade contra a obsolescência. No entanto, podem ser minimizadas as cargas ambientais relativas à obsolescência fazendo com que os componentes que podem se tornar obsoletos com maior facilidade sejam facilmente substituídos. Além disso, todo o edifício pode se tornar obsoleto. As decisões de projeto podem controlar a velocidade de obsolescência do edifício e facilitando o processo de demolição e reutilização dos componentes. O conhecimento é o fator decisivo no controle dos problemas de durabilidade relacionados com a obsolescência. 2 PREVISÃO DE VIDA ÚTIL CONFORME A ISO 15686 A norma ISO 15686-2:2001 define planejamento de vida útil como um processo de projeto que procura garantir, na medida do possível, que a vida útil de um edifício seja igual ou superior à vida de projeto, levando em conta (e preferencialmente otimizando) os custos globais (do ciclo de vida) do edifício. Garantir que o edifício irá atingir a sua vida útil projetada, definida como aquela “pretendida pelo projetista, por exemplo, na forma estabelecida pelo projetista ao cliente para sustentar as decisões de especificação” é uma parte essencial do planejamento da vida útil. A segunda parte do processo de planejamento de vida útil constitui-se na otimização do custo global . O custo global é definido como o custo total em valores atuais do edifício ou de suas partes durante toda a sua vida, incluindo os custos de planejamento, projeto, aquisição, operação, manutenção e demolição, menos qualquer valor residual. Trata-se do desempenho econômico de um edifício. O planejamento da vida útil introduz a previsão da vida útil na fase de projeto, incluindo as seguintes etapas: a) definição da vida útil de projeto do edifício; b) previsão da vida útil estimada dos componentes do edifício; c) emprego da vida útil estimada como critério para seleção, ainda durante a fase de projeto, da alternativa que minimize o custo do global. A vida útil estimada do componente (VUEC) é calculada multiplicando-se a vida útil de referência do componente (VURC) pelos fatores (A a G): VUEC = VURC x A x B x C x D x E x G Os fatores devem levar em conta o efeito das diferenças entre a condição de uso prevista e as condições observadas durante o processo de avaliação da VURC. As diferenças consideradas referemse a: (A) quantidade de componentes; (B) nível de projeto; (C) nível de execução do serviço; (D) ambiente interno; (E) ambiente externo; (F) condições de uso; (G) nível de manutenção. Idealmente o fabricante deve fornecer dados a respeito da vida útil de referência do componente. A Comunidade Européia emitiu uma diretiva tornando obrigatório que os fabricantes de materiais declarem a vida útil dos seus produtos (The Council of the European Communities. Directive 89/106/EEC, 1998) e algumas normas técnicas e códigos de prática já adotam modelos para a previsão da vida útil em diferentes questões ambientais. Podem ser usadas também outras fontes para previsão da vida útil como por exemplo a experiência ou observações anteriores de materiais de construção semelhantes ou utilizados em condições similares; avaliações de durabilidade feitas em processos de concessão de certificados de Aprovação Técnica; dados publicados em literatura e códigos de obras. É disponível também uma metodologia para avaliar a vida útil de referência. Com o planejamento da vida útil pretende-se que a durabilidade do edifício seja aquela pretendida pelo usuário. Ë uma ferramenta que permite planejar as atividades de manutenção ainda na fase de projeto e também propicia a tomada de decisões que tornam estas atividades fáceis de serem executadas. Facilita ainda as atividades de reforma, definida como “modificações e melhorias em edifícios existentes ou em suas partes de forma recuperá-lo de obsolescência”. Para aplicar o conceito de planejamento de vida útil é necessário saber como determinar a vida útil de referência de componentes bem como o efeito de cada fator na vida útil estimada. 3. PROCEDIMENTOS PARA PREVISÃO DA VIDA ÚTIL A norma ISO 15686-2:2001 apresenta métodos para previsão de vida útil de edifícios e seus componentes, submetidos a diversas condições de exposição. O termo previsão é referido como “uma das quatro formas ou uma combinação das mesmas, para avaliar a vida útil”: - aceleração da dimensão tempo (em exposições aceleradas de curta duração); interpolação/extrapolação de dados obtidos em componentes semelhantes; interpolação/extrapolação de dados obtidos em condições de serviço semelhantes; extrapolação na dimensão tempo (em exposições de curta duração nas condições de uso). O procedimento básico do método inclui a identificação das informações necessárias para definição do estudo, a seleção ou desenvolvimento de procedimentos de ensaio (programas de exposição e métodos de avaliação), realização de ensaios (exposição e avaliação), interpretação de dados e relatório dos resultados, conforme ilustrado na Figura 1. Definição Definição Necessidade Necessidadedos dosusuários, usuários,contexto contextodo doedifício, edifício,tipo tipoee intensidade dos agentes de degradação, requisitos intensidade dos agentes de degradação, requisitosde de desempenho desempenho Caracterização Caracterizaçãodos dosMateriais Materiais Preparação Preparação Identificação Identificaçãodos dosagentes agenteseemecanismos mecanismosde dedegradação degradaçãoeeseus seus efeitos, escolha das características de desempenho e técnicas efeitos, escolha das características de desempenho e técnicas de avaliação, feedbeck de outros estudos de avaliação, feedbeck de outros estudos Ensaios Ensaiosprévios prévios Verificação Verificaçãode demecanismos mecanismoseecargas, cargas,verificação verificaçãoda daescolha escolhade de características e técnicas por meio de exposições de curta características e técnicas por meio de exposições de curta duração duração Condição de uso Condição de uso exposição não exposição não acelerada acelerada Exposição Exposição acelerada acelerada Exposição Exposiçãoeeavaliação avaliação Exposição Exposição de decurta curtaduração duração Não Não Envelhecimento Envelhecimento natural natural Degradação Degradação semelhante semelhante Classes de resposta (indicador de degradação) ?? Dose - resposta Sim Sim Análise/interpretação Análise/interpretação Dose - Classes ambientais Exposição em Exposição em estação de estação de envelhecimento envelhecimento natural natural Inspeção de Inspeção de edifícios edifícios Edifícios Edifícios experimentais experimentais Exposição nas Exposição nas condições de uso condições de uso Processar Processaras asfunções funçõesdesempenho desempenho versus versustempo tempoou ou dose-resposta para estabelecer dose-resposta para estabeleceros os modelos de previsão modelos de previsão Previsão Previsãoda davida vidaútil útil Análise Análisecrítica, crítica,Relatório Relatório Figura 1 – Metodologia para previsão da vida útil de componentes de edifícios A previsão de vida útil de acordo com a metodologia se baseia em um processo iterativo com tomadas de decisão durante as etapas intermediárias, permitindo melhorar as previsões em função do conhecimento disponível. As etapas estabelecidas no fluxograma são resumidamente: 3.1 Definição do problema Inicialmente deve ser definido o problema e o escopo do estudo. O estudo pode ser bem específico em que se quer determinar por exemplo, a sensibilidade da previsão de vida útil de um componente a pequenas alterações nas condições de uso. Pode ser também um estudo mais genérico, com o objetivo de estudar um componente submetido a diversas condições de exposição e de uso e determinar o seu desempenho ao longo do tempo, em todas as aplicações previstas para o componente. Esta etapa de definição envolve ainda a identificação do contexto do edifício, levando em conta o uso do componente e os agentes que atuam no edifício; a identificação das características de desempenho e a definição dos critérios de desempenho para as propriedades críticas selecionadas; a caracterização do componente quanto a propriedades julgadas relevantes em termos de comportamento estrutural, propriedades físicas e composição química. 3.2 Preparação Depois da definição do escopo do estudo devem ser identificados quais os agentes de degradação que influem na vida útil do componente e suas intensidades. Dependendo do escopo do estudo, devem ser considerados um ou mais ambientes de referência, sendo apresentados na Tabela 1 os principais agentes de degradação previstos (ISO 15686-2, 2001): Tabela 1 – Agentes de degradação (ISO 15686-2, 2001): Natureza Classe Agentes mecânicos Gravidade Esforços e deformações impostas ou restringidas Energia cinética Vibrações e ruídos Radiação Eletricidade Magnetismo Níveis extremos ou variações muito rápidas de temperatura Água e solventes Agentes oxidantes Agentes redutores Ácidos Bases Sais Quimicamente neutros Vegetais e microrganismos Animais Agentes eletromagnéticos Agentes térmicos Agentes químicos Agentes biológicos Além dos agentes de degradação da Tabela 1, nos programas de exposição ao envelhecimento devem ser considerados também os agentes de relacionados à ocupação que envolvem uma gama de agentes determinados pela influência direta da ação dos usuários sobre os materiais e componentes de edificações por exemplo, o desgaste físico provocado pelo uso, os efeitos dos processos de instalação e manutenção. Devem ser ainda identificados os mecanismos pelos quais estes agentes de degradação podem causar alterações nas propriedades do componente e os possíveis efeitos da degradação nas características de desempenho selecionadas para o componente. Para cada uma das características de desempenho selecionadas, devem ser selecionados métodos de medição ou inspeção apropriados. É importante também considerar os resultados de outros estudos já realizados ou em andamento. Com os dados levantados são formuladas hipóteses que devem orientar os procedimentos específicos para induzir os mecanismos de degradação usando os agentes de degradação identificados. 3.3 Ensaios prévios Os ensaios prévios são realizados para fazer uma avaliação prévia das características de desempenho antes e após a exposição do componente aos agentes de degradação e detalhar os programas de exposição ao envelhecimento. 3.4 Programas de exposição ao envelhecimento Os programas de exposição ao envelhecimento devem ser cuidadosamente planejados levando-se em conta o escopo do estudo e os resultados das etapas anteriores de definição do estudo, preparação e ensaios prévios. Devem incluir exposições de: a) curta duração, que são exposições aos agentes de degradação com duração consideravelmente menor que a vida útil esperada e b) de longa duração, por exposição de exemplar a condições de uso por período de tempo da mesma ordem de grandeza da vida útil. As exposições de curta duração podem ser aceleradas, com o objetivo de reproduzir, de forma relativamente rápida, as mudanças que ocorrem nas nas condições de uso de uso do componente. Neste tipo de exposição os componentes são submetidos aos fatores de degradação em intensidades acima das esperadas nas condições de uso, acelerando-se o processo de degradação. A exposição de curta duração pode ser feita também nas condições de uso do componente (sem acelerar o processo de envelhecimento), e se aplicam aos casos em que as mudanças nas propriedades podem ser determinadas em curto espaço de tempo (um caso típico é a utilização de instrumentos de análise de superfície muito sensíveis). Dados a respeito do comportamento de componentes a exposições de longa duração podem ser obtidos de: a) exposição em locais especiais onde as condições ambientais são medidas, ou seja, em estação de envelhecimento natural; b) inspeção de uma quantidade viável de edifícios do ponto de vista prático e definida por método de amostragem estatística; c) exposição em um edifício especial onde as condições serão monitoradas e, em alguns casos, controladas, ou seja, em edifícios experimentais; d) exposição de produtos através de sua incorporação em edifícios colocados em uso. As degradações observadas em exposições de curta duração aceleradas são comparadas com o que ocorre nas condições de uso. Se nos ensaios de curta duração forem induzidos mecanismos não representativos das condições de uso, o programa de exposição deve ser alterado. 3.5 Análise e interpretação A partir de avaliações de desempenho efetuadas ao longo dos vários programas de exposição, é determinada a vida útil prevista, envolvendo duas ou três etapas (ISO 15686-2:2001): a) a partir de dados de avaliação de desempenho são estabelecidas as funções desempenho versus tempo ou dose-resposta, nas condições de exposição; b) se as condições de exposição não abrangerem as condições em que o componente vai ser avaliado, deve ser determinada a função desempenho versus tempo ou dose-resposta na condição desejada, sintetizando, modelando e/ou interpolando ou extrapolando as funções estabelecidas em a); c) a função desempenho versus tempo ou dose resposta, obtidas nas etapas a) ou b) é utilizada para determinar a vida útil prevista para o componente. 3.5.1 Funções desempenho versus tempo De uma maneira geral a função desempenho versus tempo é uma função complicada, não linear com o tempo, conforme exemplo apresentado na Figura 2: Figura 2 – Exemplos de Funções de Desempenho versus tempo Na Figura 2 estão exemplificadas funções de desempenho versus tempo de duas propriedades críticas. Se fosse identificada apenas uma propriedade crítica, a vida útil prevista seria o tempo correspondente ao ponto de cruzamento da função desempenho versus tempo com a função que representa a exigência de desempenho. No caso em que há duas ou mais propriedades críticas e portanto mais de uma função desempenho versus tempo, a vida útil prevista é o tempo correspondente ao cruzamento que ocorre em primeiro lugar entre uma função desempenho versus tempo e a exigência de desempenho. No caso da Figura 2, a vida útil prevista para o componente é tvu, correspondente ao cruzamento da funcão desempenho versus tempo da propriedade crítica 1. 3.5.2 Funções dose-resposta As funções dose-resposta são funções que caracterizam a resposta de um produto quanto à degradação com a intensidade do agente de degradação incidente (dose). A resposta é medida por um ou mais indicadores de degradação. Como exemplo, a corrosão de metais pode ser expressa por um modelo matemático que relaciona a corrosão com o tempo de exposição pela função (Haagenrud, 1997): M=A.tn (1) Onde: M é a corrosão no instante t; A é constante, que depende da deposição de poluentes ou outros agentes de degradação na superfície; n é o expoente, cujo valor depende dos processos de difusão dos agentes agressivos. Na Tabela 2 estão apresentados alguns exemplos de função dose-resposta. Os dados foram obtidos em 28 países, compreendendo 250 locais de ensaio. Tabela 2 – Funções dose-resposta de materiais (Haagenrud, 1997) Material Aço carbono Zinco Cobre Função doseresposta Coeficientes A = 33.0 + 57.4Cl + 26.6 S n = 0.57+0.0057 Cl T + 7.7 x 10-4 D – 1.7 x 10-3 A = 0.785 + 5.01 Cl + 2.26 S CZn = A.tn n = 0.53 + 0.55 S (1 – 0.068 T) + 0.025 T A = 1.03 + 1.45 Cl + 2.00 S CCu = A.tn n = 0.82 – 0.068 T (1 - 0.011 RH) CFe = A.tn Coeficiente de correlação múltipla R = 0.73 R = 0.40 R = 0.73 R = 0.062 R = 0.60 R = 0.47 Legenda: C é a corrosão (µm); t é o tempo (anos); Cl é a concentração anual média de Cl (mg/dm2/d); S é a concentração anual média de S (mg/dm2/d); T é a temperatura anual média (oC); D é o número de dias/noites com precipitação; RH é a umidade relativa (%). As funções dose-resposta não são aplicadas diretamente na previsão de vida útil. Para transformar a degradação em termos de vida útil, devem ser estabelecidos os limites de degradação admissíveis antes de efetuar-se os processos de manutenção ou reposição do material ou componente. A função dose-resposta é convertida então em função deterioração que é também uma função de desempenho versus tempo, que permite fazer avaliações de vida útil (Haagenrud, 1997). 4. CONCLUSÕES No início, os estudos de durabilidade foram motivados pela necessidade de avaliação do desempenho econômico de diferentes produtos bem como de planejamento da manutenção. Com o paradigma do desenvolvimento sustentável a durabilidade ganhou uma nova dimensão, pois a ampliação da vida útil dos edifícios é uma forma efetiva de redução do impacto ambiental e as pesquisas na área ganharam novo impulso. As metodologias para planejamento da vida útil propostas na ISO 15686, constituem-se em ferramentas importantes para integrar o conceito de durabilidade ainda na fase de projeto dos edifícios e consolidam os trabalhos que os países desenvolvidos estão executando há mais de duas décadas no sentido de estabelecer bases para a previsão da durabilidade e da vida útil de produtos da construção civil. Internacionalmente existem funções dose-resposta já estabelecidas para muitos metais e alguns produtos orgânicos ou à base de madeira, chegando-se até a elaboração de classificações ambientais, delimitando-se regiões críticas ou seguras quanto à corrosão (metais) ou à degradação devido a outros mecanismos (Haagenrud, 1997). No caso dos metais, os critérios de classificação da agressividade do ambiente são normalizados internacionalmente (ISO 6223, 6224, 6225). No Brasil os principais estudos foram realizados na área de corrosão de metais e de armaduras de concreto armado. São ainda necessárias muitas pesquisas envolvendo outros materiais e também a realização de experimentos que permitam o refinamento dos estudos já realizados. Muitos produtos ou tecnologias importados são vendidos no mercado brasileiro tendo por respaldo avaliações de durabilidade efetuadas em seus países de origem, com diferentes condições climáticas, ambientais e de uso decorrente do padrão cultural diferenciado. A existência de infra-estrutura com caracterização ambiental adequada é essencial para o aperfeiçoamento de produtos existentes e o desenvolvimento de novos e ainda para a estimativa dos gastos com manutenção das construções, os quais devem ser considerados na avaliação do custo global das soluções tecnológicas. Neste sentido, está em desenvolvimento o projeto financiado pela FINEP, no âmbito do Programa Habitare, intitulado “Estruturação de rede nacional de estações de envelhecimento natural para estudo da durabilidade de materiais e componentes de construção civil”, ao final do qual será implantada uma infratestrutura para exposição ao envelhecimento natural em três localidades do Brasil: a) Belém, com intensa incidência de radiação solar e elevadas temperaturas e umidades relativas durante o ano todo, b) São Paulo: com elevado teor de agentes poluentes no ar, c) Rio Grande, cidade litorânea, com atmosfera salina. diminuir uma das barreiras para a previsão da vida útil dos edifícios, que é a falta de conhecimento das condições de exposição ao envelhecimento natural. Embora tenham ocorrido avanços significativos no conhecimento da durabilidade dos materiais e tenham sido desenvolvidas metodologias gerais para previsão da vida útil, muitos estudos devem ser ainda feitos para o aprimoramento das metodologias e obtenção de uma quantidade maior de dados. 5. AGRADECIMENTOS Este trabalho contou com apoio do Programa HABITARE coordenado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP),. CNPq através do programa RHAE e da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). 6. REFERÊNCIAS Bijen, J. 1996, Benefits of slag and fly ash. Construction and Building Materials, 10 (5) 309-314. CEB 1993, CEB-FIP Model Code 1990. Lausane, Thomas Telford, 213/214. Haagenrud, Svein E. Environmental characterization including equipment for monitoring. CIB W80/RILEM 140-PSL. Subgroup 2 Report. Norwegian Institute for Air Research, Norway, 1997. Curwell, S. & Cooper, I. 1998, The implications of urban sustainability. Building Research and Information 16(1), 17-28 DeSimone, LD. & Popoff, F. 1998, Eco-efficiency – The business link to sustainable development. MIT Press, 2nd ed. 280p. ISO 2000, Buildings and constructed assets — Service life planning — Part 1: General principles. ISO 15686-1. ISO 2001, Buildings and constructed assets — Service life planning — Part 2: Service Life Prediction Procedures. ISO 15686-2. Janseen, MA. & Van Der Bergh, J. 2000, Symbiosis – Modeling Industrial metabolism in a multiregional economy system. Dep. Spatial Economics, University of Amsterdam, 16p. John, VM. & Zordan, SE. 2001, Research & development methodology for recycling residues as building materials. Waste Management, 21, pp.213-219. John, VM., Agopyan, V. & Sjöström, C. 2001, On agenda 21 for Latin America and Caribbean construbusiness - a perspective from Brazil. Paper accepted by Building Research and Information. 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