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Resumo de Direito Empresarial - REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 26ª edição. São Paulo: Saraiva. 2006 (p. 1 - 50)

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I NOÇÕES E AMBITO DO DIREITO COMERCIAL CONCEITOS GERAIS 1. CONCEITO ECONÔMICO DE COMÉRCIO. Nas palavras do professor Alfredo Rocco "o comércio é aquele ramo de produção econômica que faz aumentar o valor dos produtos pela interposição entre produtores e consumidores, a fim de facilitar a troca de mercadorias.". Este conceito econômico não se ajusta perfeitamente ao conceito jurídico de comércio e, portanto, é inadmissível, contemporaneamente, entender o direito comercial como o direito do comércio ou dos comerciantes, apenas. 2. CONCEITO JURIDICO DE COMÉRCIO. As tentativas de se definir um conceito jurídico de comércio levaram muitos juristas a identificar três elementos essenciais a esta conceituação: mediação, fim lucrativo e profissionalidade (habitualidade ou continuidade). Entretanto, embora em um primeiro momento a idéia de lucro tenha empolgado os juristas, atualmente sabemos que das muitas atividades lucrativas escapam outros elementos deste conceito (ex mineração), e que muitas atividades econômicas podem não ter fim lucrativos (estatais). Desse modo, fica evidente que não há uma correspondência direta entre Direito Comercial e Comércio, nem mesmo em seu sentido jurídico que segundo o professor Ferrer Correia, citado por Requião, seria o conjunto das atividades a que se aplica o Direito Comercial, em determinando tempo e local, ressalvando que muitas das atividades não podem ser definidas como comerciais. 3. DIREITO ECONOMICO E DIREITO COMERCIAL. Apesar da posição de alguns juristas de que a expressão Direito Comercial deveria ser substituída por Direito Econômico, Requião entende que Direito Comercial e Direito Econômico tem âmbitos distintos e explica: "O direito comercial tem um âmbito preciso e definido, que se identifica modernamente como o direito das empresas mercantis. O direito econômico - disciplinando o mercado de capitais, a atuação financeira do Estado no setor privado, os estímulos ao desenvolvimento econômico - tem, como se vê, princípios próprios e âmbito bem delineado" (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 10). FORMAÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL 4. ORIGENS DO DIREITO COMERCIAL. Embora se tenha registros de regras comerciais nas civilizações antigas, como demonstra-nos os códigos de Manu (Índia) e Hamurabi (mesopotâmia), podemos afirmar, com bases nas lições de Requião, que o florescimento do Direito Comercial deu-se na Idade Média. Nem mesmo os Romanos, para os quais a atividade comercial era degradante, formularam um corpo de regras especializadas para regular as atividades mercantis. 5. O DIREITO COMERCIAL COMO DISCIPLINA HISTORICA DOS COMERCIANTES (Conceito subjetivo). Na Idade Média as corporações de mercadores começam a enriquecer-se, organizar-se e a conquistar certos poderes políticos e autonomia em alguns centros comerciais. O movimento histórico do ressurgimento urbano dar-se- ia, sobretudo, tendo por base os mercados. Nesta fase começa a se delinear o Direito Comercial. Os comerciantes, diante da precariedade do Direito Comum, começam a criar entre si um direito costumeiro, que era aplicado por cônsules, juízes designados a dirimirem as disputas entre comerciantes. Tem-se neste período um Direito Comercial com bases subjetivistas, pois se centrava na figura do comerciante, que se caracterizou como um direito corporativista, autônomo e especial, que naquele momento se restringia aos membros matriculados em determinadas corporações. Entretanto, uma vez que as atividades comerciais não ficam restritas aos comerciantes, fazia-se necessário um Direito Comercial conceituado no próprio comércio e não apenas na figura do comerciante. Iniciam-se, então, as tentativas de se delinear um conceito objetivo fundados nos atos de comércio. 6. O DIREITO COMERCIAL COMO DISCIPLINA DOS ATOS DE COMÉRCIO (Conceito objetivo). Com a mudança de conceito, o Direito Comercial se estende da figura do comerciante a todos os atos de comércio, qualquer que fosse seu autor, ou seja, independente de quem o praticasse. O código de Savary, em 1673, é exemplo desta nova conceituação. Em 1807, com o Código Napoleônico, o conceito objetivo é adotado de maneira explicita, extinguindo-se os privilégios que as corporações detinham e tendo a disciplina dos atos de comércio como bases do Direito Comercial, a que estavam sujeitos todos os cidadãos. Ainda que este novo foco, objetivo, tenha alargado o âmbito de atuação do Direito Comercial. As frustradas tentativas de se definir um conceito do que seriam os atos de comércio representava um verdadeiro percalço à consolidação de tão importante ramo do Direito Privado. 7. O DIREITO COMERCIAL COMO O DIREITO DAS EMPRESAS (Conceito subjetivo moderno). Abandonando as tentativas de se definir atos de comércio, os juristas modernos edificam o conceito de Direito Comercial no conceito de Empresa, que se difere do conceito limitado expresso no código napoleônico, no qual empresa era entendida como a repetição, em cadeia, dos atos de comércio. O Código Comercial Alemão de 1897, ao definir em seu art. 343 que atos de comércio são todos os atos de um comerciante que sejam relativos à sua atividade comercial, restabelece e moderniza o antigo conceito subjetivista, uma vez que a figura do comerciante e dos atos por ele praticados adquirem importância em virtude do exercício organizado de uma atividade, que se configura em Empresa. Desse modo, como bem sintetiza o professor Ferrer Correia, citado por Rubens Requião, o Direito Comercial se define "... como ordenamento destinado a estabelecer a disciplina jurídico- privada das empresas" (COREEIA, Ferrer. apud. Rubens Requião. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 16). 8. HISTÓRIA DO DIREITO COMERCIAL NO BRASIL. Brasil-colônia as relações jurídicas pautavam-se pela legislação de Portugal. Imperavam - as Ordenações Filipinas, sob a influência do direito canônico e do direito romano. Vinda da família Real - composição de um Direito de natureza e finalidades mais econômicas do que propriamente comercial (abertura dos portos, Real Junta de Comércio, Banco do Brasil, etc.) Independência - continuam vigente as leis portuguesas e torna-se possível a aplicação de legislação comercial estrangeira (lei da Boa Razão) 1850 – Código Comercial Brasileiro (fonte, cod. Francês 1807, Cod. Espanhol 1829 e Cod. Português 1833) Regulamento 737, 1850 – cunho processual – enumera quais atos que identificam a mercancia (teoria objetiva) 1875 – Extinção dos Tribunais de Comércio (Unificação) República – Revisão da Lei de S.A. e Falências Anos 60 – atualização dos códigos (idéia do código das obrigações) AUTONOMIA DO DIREITO COMERCIAL 9. DICOTOMIA DO DIREITO PRIVADO Desde a Roma antiga o Direito Civil se mostrava formal e pouco dinâmico, incompatível com a versatilidade do comércio. Dessa maneira, foi se formulando através das corporações, um direito próprio, compatível com as necessidades mercantis. Destarte, a dicotomia Direito Comercial x Direito Civil foi, sobretudo, uma necessidade social, uma decorrência histórica. 10. A DEFECÇÃO E RETRATAÇÃO DE VIVANTE. Cesare Vivante, considerado o maior comercialista dos tempos modernos, foi veementemente contrario a esta divisão do Direito Privado. Alegava ele que, entre outras coisas, a separação causava gravíssimos danos, como por exemplo, submeter ao Direito Comercial pessoas não-comerciantes que realizassem negócios com comerciantes; dizia também que autonomia era prejudicial ao progresso científico jurídico. Contestou ainda o idéia cosmopolita a que se pretende o Direito Comercial, o que para ele seria uma ilusão. Entretanto, em que pese suas severas críticas, Vivante, após incumbido de elaborar o anteprojeto do código comercial italiano, reconhece que a autonomia se justifica "pela diferença de método entre o direito civil e o direito comercial: neste prevalece o método indutivo; naquele, o dedutivo." (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 20), e se retrata do erro doutrinário cometido. Obs. Método indutivo - é aquele que parte de questões particulares até chegar a conclusões generalizadas. Método Dedutivo - parte das conclusões gerais para explicar o particular. 11. A DICOTOMIA NO DIREITO BRASILEIRO. No Direito Brasileiro, a luz da codificação, vê-se a tendência unificadora. Porém, não se pode considerar extinto o Direito Comercial como disciplina autônoma, cientifica e didática. Como bem lembra-nos o professor Sylvio Marcondes, "... o direito comercial pode conviver com o direito civil, em um código unificado,..." (MARCONDES, Sylvio. apud. Rubens Requião. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 21) Para o professor Alfredo Rocco, reforçando esta dicotomia, é irrelevante que a matéria comercial seja tratada em um código único ou em código autônomo, e afirma: "Ora, que as normas concernentes ao comércio e as concernentes à vida civil estejam contidas em um ou em dois códigos não é coisa que tenha grande importância sob o ponto de vista científico. O direito comercial poderia permanecer um direito autônomo e, portanto, a ciência comercial uma ciência jurídica autônoma, ainda que as normas do direito comercial estivessem contidas em um código único, conjuntamente com as do direito civil das obrigações". .(ROCCO, Alfredo. apud. Rubens Requião. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 22). 12. TENTATIVAS DE UNIFICAÇÃO NO BRASIL. Para Rubens Requião, as tentativas de unificação do Direito Obrigacional no ordenamento brasileiro serão sempre ilusórias, haja vista ter-se Falência como um instituto meramente mercantil, pois isso implica numa classificação do empresário e das sociedades em comerciais e civis. Assim, prega ele, uma unificação deve se iniciar com a extensão da Falência aos não-comerciantes, dissipando a necessidade de classificação do empresário, em comercial e civil. MATÉRIA COMERCIAL 13. CONTEÚDO DA MATÉRIA COMERCIAL. A matéria comercial não determina o conteúdo da Lei Comercial, mas o contrário, a Lei determina o que seja matéria comercial. Assim, o conceito de matéria comercial não é cientifico, mas empírico. Por exemplo, os cheques muito embora sejam utilizados nas relações civis entre não- comerciantes, constituem sempre, por força de lei, matéria comercial. Desse modo, "Além dos atos de comércio, considerados como tais os praticados pelos comerciantes no exercício natural de sua profissão, acrescidos daqueles que a lei assim considera independente da pessoa que os pratica, a lei comercial estabelece várias outras relações que não constituem atos, como, por exemplo, as obrigações e prerrogativas dos comerciantes, a forma de constituição e funcionamento das sociedades comerciais, etc."(REQUIAO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 25) FONTES DO DIREITO COMERCIAL 14. CONCEITO DE FONTES DO DIREITO COMERCIAL. Fontes do direito comercial devem ser entendidas como o modo pelo qual surgem as normas jurídicas de natureza comercial. 15. ÊXCLUSAO DO DIREITO CIVIL. Ainda que pela falta de regra própria no Direito especial, o Direito Civil seja aplicado nas relações comerciais, não se pode compreender que seja ele uma fonte do Direito Comercial, uma vez que aquele é aplicado neste como regra de um direito comum, geral; e não como regra comercial (art. 121 do Código Comercial de 1850). 16. LEIS COMERCIAIS. As Leis comerciais são as principais fontes do Direito Comercial. Código Comercial de 1850 (lei 556, de 25 de junho de 1850) Regulamento 737, de 1850 – regras de processo Leis esparsas (Falências, S.A.) Em que pese o formalismo de algumas leis, como as referentes á Instituição dos Títulos de Créditos ou das Sociedades por Ações, que aparentemente seriam antagônicas com o dinamismo do Direito Comercial, tais solenidades assegura a rapidez de sua circulação (no caso dos títulos) e protege e garante o interesse coletivo. Muito embora, ainda há em nossa legislação uma acentuada burocracia que onera custos, cria restrições e desestimula as atividades comerciais. 17. USOS COMERCIAIS. Inicialmente um direito consuetudinário, o Direito Comercial mantém o prestígio dos usos e costumes como fonte subsidiária de suas normas. Para alguns autores existe certa diferença entre uso e costume, vendo neste uma regra mais imperativa. O uso surge espontaneamente e com o decorrer do tempo, passa do individual para o geral. Caracteriza-se pela prática constante e reconhecimento voluntário de uma comunidade, neste caso, comerciante. Assim, exige-se uma prática uniforme, constante e por determinado tempo e, como não poderia deixar de ser, que não se contraponha à lei. A existência e vigência do uso devem ser provadas, se necessária, por quem o invoca. O ESPIRITO DO DIREITO COMERCIAL 18. AS CARACTERISTICAS DO DIREITO COMERCIAL. São traços peculiares do Direito Comercial: 1. Cosmopolitismo 2. Individualismo 3. Onerosidade 4. Informalismo 5. Fragmentarismo 6. Solidariedade Presumida - cosmopolitismo: Característica histórica que decorre da própria natureza transnacional do comércio. É traço marcante desde o seu surgimento, desde a criação dos institutos mercantis, do Direito Marítimo. Como afirma muitos comercialistas, o comércio e a busca de lucro é universal e desconhece fronteiras. - individualismo: Emana da busca do lucro, que sempre se vincula ao interesse individual. Dessa característica que decorre a liberdade do contrato, ainda que modernamente este sofra restrições Estatais que visam garantir o interesse coletivo. - onerosidade: Também decorre da busca do lucro a qual se vincula a atividade comercial. Assim é natural que as atividades comerciais, sejam, em regra, onerosas. - informalismo: está vinculada à técnica comercial, que buscando o dinamismo, suprimiu, ao máximo, as exigência formais. - fragmentarismo: O direito comercial é composto por um emaranhado complexo de normas que muitas vezes deixam lacunas, não configurando, portanto, um sistema jurídico completo. - solidariedade presumida: A segurança dos negócios comerciais muito importa ao Direito Comercial e a solidariedade das obrigações era implícita no Direito Comercial desde os seus primórdios. No entanto, no direito brasileiro, o art. 265 do Código Civil veda expressamente a presunção da solidariedade: "art.265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes." Assim, embora a solidariedade seja propulsora das relações comerciais, gerando segurança e garantindo o crédito, não pode ser presumida, no direito brasileiro, devendo ser expressa na lei ou nos contratos II DOS ATOS DE COMÉRCIO 19. INTERESSE DO ESTUDO DOS ATOS DE COMÉRCIO. Embora no Brasil a competência jurisdicional não seja especializada desde 1875, quando foram extintos os Tribunais de Comércio (decreto imperial 2.662), o estudo dos atos de comércio ainda apresenta, mesmo que reduzido, um interesse prático. Pois o reconhecimento do caráter comercial de alguns atos realizados, definindo tais práticas como uma profissão mercantil, leva a importantes decisões acerca dos direitos ou deveres que lhe são devidos. 20. AS IMPRECISÕES DA TEORIA DOS ATOS DE. COMÉRCIO. Apesar das incansáveis tentativas, os comercialistas não obtiveram sucesso na conceituação de Atos de comércio. 21. TEORIA DE ALFREDO ROCCO. Rocco buscou, ao invés de conceituar cientificamente atos de comércio, indagar o critério fundamental, comum a todos os atos, utilizado pelos diversos legisladores na seleção das práticas elencadas positivamente como atos de comércio. Nos seus estudos, Rocco identificou que o elemento comum presente em todos os atos é "o conceito da troca indireta ou mediata, da interposição na efetivação da troca" . (REQUIAO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 33). Com essa definição, Rocco afasta a essencialidade do lucro, ressalvando que embora quem, com seu trabalho e capital, se arrisque a esta interposição, vise um ganho, o lucro não é uma exigência do Direito Positivo. Deste conceito, o ilustre professor deduz que os atos se classificam em comerciais por natureza intrínseca (interposição) e atos comerciais por conexão (atos de intermediação), e define: "É ato de comércio todo ato que realiza ou facilita uma interposição na troca".(REQUIAO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 34). 22. TEORIA DA MEDIAÇÃO E ESPECULAÇÃO. Para o professor francês Gastón Lagarde, o intuito do lucro por si só é insuficiente para a conceituação de atos de comércio, ao passo que a mera interposição, sem viés lucrativo, também não configura uma prática comercial, assim sendo, ele apregoa: "Dois elementos - especulação e circulação - intervêm, portanto, um e outro, na definição do ato de comércio" (LAGARDE, Gastón. apud. Rubens Requião. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 34) 23. SISTEMAS LEGISLATIVOS. Sem uma conceituação cientifica, dois sistemas legislativos se sobressaíram em relação aos atos de comércio: sistema descritivo e sistema enumerativo. No sistema descritivo, a lei conceitua os atos de comércio de forma generalizada, genérico (ex. Códigos Espanhóis e Português). No sistema enumerativo, mais em voga, a lei enumera os atos que reputam comerciais. Para alguns autores, como para Requião e Rocco, a enumeração expressa na lei tem caráter exemplificativo, de modo que por extensão analógica, podem ser considerados atos comerciais, atos não relacionados em lei. Contrapondo-se aos que entendem que a enumeração seria taxativa (limitativa), ou seja, esgotar-se-ia nos atos submetidos à lista legal. 24. OS ATOS DE COMÉRCIO NO DIREITO COMERCIAL BRASILEIRO. O Código Comercial de 1850 abandonando a técnica enumerativa em razão das imprecisões e controvérsias geradas por este sistema e adota um critério marcadamente subjetivista, centrada na figura do comerciante (art. 4). Entretanto, considerando que o referido código conceitua o comerciante à aquele que faça da mercancia profissão habitual, houve a necessidade de esclarecer-se o que deveria ser entendido por mercancia, o que foi feito através do art. 19 do Regulamento 737, de 1850, não fugindo assim, da enumeração de atos de comércio (critério objetivo). Dessa maneira, podemos concluir que o sistema adotado pelo Códgio de 1850 é subjetivo ao se assentar na figura do comerciante, mas uma vez que este é conceituado em torno da prática de mercancia, descrita enumerativamente no art. 19 do Regulamento 737, tem se também a adoção de um critério objetivo. Art. 19 do Regulamento nº. 737, de 1850: "Considera-se mercancia: 1° a compra e venda ou troca de efeitos móveis ou semoventes, para os vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso; § 2° as operações de câmbio, banco e corretagem; § 3° as empresas de fábricas, de comissões, de depósito, de expedição, consignação e transporte de mercadorias, de espetáculos públicos; § 4'° os seguros, fretamentos, riscos, e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo; § 5° a armação e expedição de navios". 25. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DE COMÉRCIO. Tem-se por atos de comércio subjetivos (ou relativos) aqueles cuja sua concepção repousa na figura do comerciante, das atividade e/ou exercícios relacionados à sua profissão. Ao passo que são classificados como objetivos (ou absolutos), os atos comerciais definidos por lei (teoria dos atos de comércio). Há ainda atos classificados como mistos ou bifrontes. 26. A TEORIA DOS ATOS MISTOS NO DIREITO BRASILEIRO. Atos mistos são atos bifrontes, que de um lado configuram um ato civil e, de outro, uma lado comercial (ex. compra e venda entre não-comerciante e comerciante). Carvalho de Mendonça combate essa teoria, argumentando que a força atrativa do Direito Comercial submete estes atos ao seu domínio, e seriam, portanto, atos comerciais. 27. O BIFRONTISMO DA COMPRA E VENDA. Para Otávio Mendes na compra e venda o elemento predominante é a compra. Desse modo, se o comprador é não-comerciante o ato será civil. Já Carvalho de Mendonça refuta esta idéia afirmando que o ato é único e obedecendo este princípio da integridade do ato a compra e venda entre pessoa não-comerciante a comerciante será sempre um ato é de comércio, haja vista o viés mercantil da intervenção do comerciante. 28. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DE COMÉRCIO PROPOSTA POR J. X. CARVALHO DE MENDONÇA. Com bases no Código Comercial e nas do Regulamento n° 737, de 1850, Carvalho de Mendonça propõe a classificação dos atos em três categorias: 1. Atos de comércio por natureza ou profissionais – que seriam os atos que enumerados no art. 19 do Regulamento 737. 2. Atos de comércio por dependência ou conexão – praticados em razão da profissão do comerciante (promover, facilitar ou realizar o exercício) 3. Atos de comércio por força ou autoridade da lei – comerciais, independente de quem os praticas, pois assim ordena a lei. Opondo-se a esta classificação, Otávio Mendes sustenta que na realidade estas se resumem a duas classes: atos objetivos e atos subjetivos, na qual estariam as 02 primeiras categorias proposta por Carvalho de Mendonça. III O EMPRESÁRIO COMERCIAL - PRIMEIRA PARTE A EMPRESA NOÇÃO ECONÔMICA E JURÍDICA DE EMPRESA 29. NOÇÃO ECONÓMICA DE EMPRESA. Segundo Requião, citando o professor Giuseppe Ferri, as empresas são "organismos econômicos, que se concretizam da organização dos fatores de produção e que se propõem à satisfação das necessidades alheias,..." (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 40). Para ele, a empresa se realiza em vista de um intento especulativo de uma pessoa, o empresário (empresa = fruto da idéia do empresário). 30. NOÇÃO JURÍDICA DE EMPRESA. O conceito jurídico de empresa se assenta nesse conceito econômico. A empresa é a expressão da atividade do empresário, cujo interesse jurídico, de acordo com Giuseppe Ferri, assenta-se em quatro aspectos: a) expressão da atividade do empresário. b) idéia criadora c) complexo de bens d) relações com os dependentes Ainda de acordo com Ferri, devemos entender que a "disciplina jurídica da empresa é a disciplina da atividade do empresário, e a tutela jurídica da empresa é a tutela jurídica dessa atividade" (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 42) DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO JURÍDICO DE EMPRESA 31. O CONCEITO DE EMPRESA NO DIREITO FRANCÊS. Geralmente o conceito de empresa era desenvolvido em torno da prática de atos de comércio em massa, Pois embora o código francês fizesse menção à empresa, não a definia. De acordo com Hamel e Lagarde, o direito comercial francês não poderia, naquele estágio, ser definido como um direito de empresas. Entretanto, ao destacar as atividades das pessoas no direito comercial em forma de empresa, coloca esta em primeiro plano. E destacam ainda que as definições de empresas são baseadas nas idéias de uma organização em vista de uma produção econômica. 32. O CONCEITO DE EMPRESA NO DIREITO ITALIANO. Para Vivante, "empresa é um organismo econômico que sob o seu próprio risco recolhe e põe em atuação sistematicamente os elementos necessários para obter um produto destinado à troca" (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 43). Segundo ele, a combinação de fatores (natureza, capital e trabalho) e o risco são requisitos indispensáveis a qualquer empresa. Destacam-se assim, por esta conceituação, dois elementos: organização e risco. Ainda que o Código Italiano tenha se fundado sobre a idéia de empresa, os legisladores não criaram um conceito para ela, cabendo aos juristas as tentativas de uma definição jurídica de empresa. Para o prof. Salandra, consistia apenas em uma "organização de pessoas sob a direção do empresário". Já Giuseppe Valeri, explica-nos que devemos considerar quatros elementos; a) organização; b) atividade econômica; c) fim lucrativo; d) profissionalidade. Assim, teríamos, segundo ele, que empresa consiste em uma organização da atividade econômica destinada à produção de bens ou serviços, realizada profissionalmente. Já Asquini, percebendo as dificuldades dos juristas na formulação de um conceito unitário, propõe que empresa deve ser entendida a partir de quatro diferentes perfis: a) subjetivo – focado na figura do empresário; b) funcional – atividade empreendida; c) patrimonial – patrimônio posto em função do exercício de uma atividade; d) corporativo – empresa como uma instituição (organização de pessoas - empresários e colaboradores) Contrapondo-se às formulações de Asquini, Ferrara argumenta que o uso da palavra empresa com diferentes acepções, não nos permite atribuir outro sentido jurídico, senão o de uma atividade econômica organizada. 33. O CONCEITO DE EMPRESA NO DIREITO BRASILEIRO. Tal qual o código France de 1807, Regulamento n°. 737, ao incluir empresas na enumeração dos atos de comércio, o fez no sentido restrito de repetição de atos praticados a título profissional. Evidente que este limitado conceito já não é compatível com a moderna doutrina acerca das empresas. Inspirado em Vivante, Carvalho de Mendonça, ressalvando não haver distinções entre os conceitos econômicos e jurídicos, definiu empresas como "a organização técnico-econômica que se propõe a produzir a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados à troca (venda), com esperança de realização de lucros, correndo riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob sua responsabilidade" (MENDONÇA, J. X. Carvalho de. apud. Rubens Requião. Curso de Direito Comercial, vol. I. 26ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 46) Enfim, independente da conceituação científica, tem-se no art. 69 da Lei n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, que visa o coibir o abuso do poder econômico, uma a formulação legal de empresa, posta pelo Direito Positivo, que considera "empresa toda organização de natureza civil ou mercantil destinada à exploração por pessoa física ou jurídica de qualquer atividade com fins lucrativos" Já o Código Civil de 2002, a exemplo do código italiano, se eximiu do trabalho de conceituar empresa e a define em torno da figura do empresário (art. 966 do CC/02) 34. A EMPRESA, UMA ABSTRAÇÃO. A empresa, como entidade jurídica, é uma abstração. Uma organização dos fatores de produção posta a funcionar pelo empresário. Caracteriza-se pelo exercício da organização, é a atividade. 35. A EMPRESA COMO OBJET0 DE DIREITO. Diferente do Direito francês, não se pode falar no direito pátrio, na idéia de personificação da empresa, que como já visto, consiste numa atividade organizada, é portanto, abstrata. Assim é inadmissível compreendê- la como titular de Direitos, pois sendo uma abstração não pode ser sujeito de direito, papel este que cabe ao empresário, não à empresa. Entretanto, apesar da negação de alguns autores, Rubens Requião afirma que a atividade exercida pelo empresário é tutelada juridicamente e desse modo é perfeitamente cabível que empresa seja entendida como objeto de direito. 36. DISTINÇÃO ENTRE EMPRESA E SOCIEDADE. Uma vez constituída, a sociedade comercial torna-se sujeito de direito, assemelha-se, destarte, à figura do empresário, e não da empresa. Pois a sociedade comercial surge no ímpeto de exercer uma atividade, não como a própria atividade em si. Assim, temos que empresa e sociedade são coisas distintas, podendo as duas coexistir ou mesmo haver uma e não a outra. 36-A. ESPÉCIES DE EMPRESA. São várias as espécies de empresas, a priori, dividem-se em dois grandes grupos: as empresas comerciais e as empresas civis. Além dessas temos ainda as empresas públicas.