Transcript
ESPECIAL - Revista Época - 09/05/2004
A luta pelo bem-estar
As últimas armas contra a depressão incluem novos remédios, terapias e
tratamentos alternativos
AIDA VEIGA, de Nova York
Quando o Prozac surgiu, no fim da década de 80, parecia que a cura para a
depressão havia sido descoberta. Passados alguns anos, viu-se que uma
multidão de médicos e pacientes permanecia insatisfeita com os resultados
da chamada 'pílula da felicidade'. A indústria farmacêutica, então,
investiu numa nova família de antidepressivos, os de dupla ação - versões
aperfeiçoadas dos tricíclicos dos anos 50 e 60, com menos efeitos
colaterais. Os psiquiatras, por sua vez, já começam a valorizar outro tipo
de terapia, a cognitiva, centrada na resolução de problemas específicos.
Paralelamente, surgem estudos científicos comprovando a eficácia de
tratamentos alternativos como acupuntura, meditação e exercícios físicos.
Pela primeira vez, os deprimidos têm a seu dispor um leque de alternativas.
'Quanto mais possibilidades, maiores as chances de cura', disse a ÉPOCA
Jerrold Rosenbaum, professor de Psiquiatria da Harvard Medical School e
chefe do Departamento de Psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts,
nos Estados Unidos. 'As pesquisas mostram que nenhum tratamento é eficaz
para todo o mundo. Na depressão, a abordagem sempre tem de ser individual.'
Em oito semanas, 50% dos sintomas da doença desaparecem com o uso do
Cymbalta, enquanto com outros antidepressivos a melhora varia entre 25% e
40%
Na semana passada, durante o congresso da Associação Americana de
Psiquiatria, em Nova York, foi lançado o Cymbalta (cujo princípio ativo se
chama duloxetina). Desenvolvido pelo laboratório Eli Lilly, o mesmo que
criou o Prozac, o remédio não é tão inovador quanto seu antecessor, mas tem
três grandes qualidades: apresenta poucos efeitos colaterais, começa a agir
já na primeira semana de uso e, por atuar em dois neurotransmissores - a
serotonina e a noradrenalina -, ataca tanto os sintomas emocionais da
doença quanto os físicos (leia os quadros). Em um estudo feito com 8.500
homens e mulheres no mundo todo, 89% responderam bem à droga. Ao fim de um
ano, 82% estavam livres de qualquer sintoma da depressão. Quase 400 pessoas
participaram da pesquisa no Brasil, onde o resultado foi um pouco mais
modesto, porém igualmente promissor: 82% responderam à droga e 72% disseram-
se curados após 52 semanas de medicamento.(...)
A depressão tem origem num comportamento primitivo, surgido no tempo dos
homens das cavernas. As reações dos animais selvagens diante dos perigos
são lutar ou fugir. A depressão vem de uma terceira opção - diante de um
problema insolúvel, recolher-se e colocar o organismo em ponto morto, para
guardar energias para uma decisão futura. 'O problema é que essa reação,
exagerada, vira uma doença que a medicina nem sempre consegue curar',
explica Rosenbaum, de Harvard. O grande obstáculo na luta contra a
depressão é o desconhecimento do mecanismo que a causa.