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CULTURA DA FIGUEIRA
1 INTRODUÇÃO
1.1 PERFIL DA CULTURA
A figueira é uma das espécies frutíferas com grande expansão mundial,
pois apesar de ser considerada uma espécie de clima temperado, apresenta
boa adaptação a uma grande quantidade de climas e solos, desde regiões
frias do Hemisfério Norte até regiões quentes, como o Nordeste Brasileiro.
2 IMPORTÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO
A Turquia é o maior produtor mundial, com uma produção anual de cerca
de 280.000 t/ano. Deste total, exporta 40.000 t/ano. O Brasil situa-se como
segundo produtor mundial. O Brasil produz apenas um tipo pomológico de
figo, ao passo que os outros países produzem vários tipos, ampliando a
oferta e oferecendo figos mais aptos para o consumo "in natura". Apesar
disso, a aceitação do figo brasileiro é bastante boa especialmente por ser
oferecido como fruta fresca na entressafra da Turquia e outros produtores
do Hemisfério Norte.
Depois de um período de declínio na ficicultura no Estado de São
Paulo, está ocorrendo um novo aumento e expansão da área cultivada,
especialmente em São Paulo e Minas Gerais, além de outras tradicionais
regiões produtoras como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Atualmente o Brasil é o maior produtor da América do Sul. A fração
mais expressiva do cultivo está na região de Valinhos, SP, onde, em 1996,
havia 400 mil plantas, distribuídas em 256 ha de figueiras, sendo 70% deste
total encontrados em Valinhos, 20% em Campinas e 10% em outros municípios
da circunvizinhança. A ficicultura na região de Valinhos está direcionada
para a produção de frutas para consumo "in natura", visando tanto o mercado
interno quanto a exportação. Neste caso, apenas frutas "de ponteiro" ou
descartes são utilizadas para industrialização. O mercado para frutas
frescas é, em geral, bastante compensador, porém envolve risco pela alta
perecibilidade das frutas. Nas regiões de Gramado e Nova Petrópolis (RS)
também são produzidos figos para consumo "in natura", além de figos verdes
para industrialização. Em Minas Gerais, a produção de figos é praticamente
toda voltada à produção de figos verdes, cujo destino é a industrialização,
na forma de figo cristalizado. A carência de frutas para a industrialização
tem elevado os preços do produto, incentivando o surgimento de programas de
cultivo em Minas Gerais, além de iniciativas particulares.
Em Minas Gerais, há cerca de 216 ha com figueiras, incluindo-se aí
plantas novas em formação e adultas em produção. As principais regiões
produtoras estão localizadas no Sul e Sudoeste do Estado. Prevê-se, para
1997 uma produção em torno de 1200 t.
3 ASPECTOS ECONÔMICOS
De acordo com informações fornecidas pela CEASA-MG, a cotação máxima
do figo (verde) ocorre no mês de outubro e a mínima, no mês de abril
(Figura1). Observa-se que, nos meses de agosto a outubro não há figos no
mercado. No primeiro semestre, há maior oferta do produto, porque abrange o
período de safra, ao qual corresponde preços mais baixos e homogêneos. O
inverso ocorre durante o segundo semestre.
Do figo fresco brasileiro, cerca de 10% é exportado, especialmente
para a Europa, aonde as frutas chegam na entressafra. Em média, o valor de
uma caixa com 1,5 a 1,8 kg é de R$ 2,63 para exportação e R$ 2,00 para o
mercado interno. Devido à alta perecibilidade dos figos maduros, o
transporte para exportação se dá por via aérea.
4 VALOR NUTRITIVO
" "
Na tabela 1, são apresentados os valores dos principais
componentes nutricionais de figos em diversas condições.
5 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA
A figueira é uma das mais antigas espécies cultivadas. Há várias
citações sobre a figueira na Bíblia e em muitos países, a figueira é tida
como símbolo de fertilidade e fecundidade.
A figueira é originária do Sul da Arábia, de onde foi difundida para
a Europa e, posteriormente, para a América. Outras fontes indicam ser a
figueira oriunda da Ásia Menor, mais especialmente da Cária. Sabe-se que a
figueira foi inicialmente cultivada pelos árabes e judeus, em regiões semi-
áridas, no sudeste da Ásia. Os próprios árabes levaram a figueira para a
Península Ibérica, onde foi difundida para a África, América e Europa,
junto com seus primeiros colonizadores.
Em 1532, Martim Afonso de Souza introduziu a figueira no Brasil. Em
1585, segundo Fernão Cardim, São Paulo já produzia figos, entre outras
culturas. Porém, foi com a imigração de europeus que a cultura teve maior
impulso no Brasil, principalmente por parte dos italianos que, chegando a
São Paulo, trouxeram a maior parte dos cultivares. Cita-se que a partir de
1920 é que realmente iniciou-se cultivo comercial de figueiras no Brasil.
Na década de 1970, a região de Valinhos apresentava cerca de 2 milhões de
pés de figueira, 500 produtores e cerca de 1000 hectares. Na década de
1980, houve uma queda diminuindo para cerca de 300 mil plantas, 110
produtores e 230 hectares. Este declínio foi devido à grande ocorrência de
doenças e a concorrência com outras espécies frutíferas, que hoje está
sendo revertido. Atualmente, está ocorrendo uma ampliação da região
produtora de figos, tanto em São Paulo quanto em Minas Gerais,
especialmente na região Sul de Minas.
O sistema radicular da figueira é superficial e fibroso. Há registros
de que, em condições adequadas para o seu desenvolvimento, o sistema
radicular da figueira pode aprofundar-se até 6m e, lateralmente, pode se
expandir por até 12 metros.
A figueira é uma árvore caducifólia bastante ramificada com até 10
metros de altura e raramente ultrapassa 3 metros, devido ao sistema de
sucessivas podas drásticas. Em geral, a vida útil produtiva está em torno
de 30 anos variando conforme o manejo dado à planta. O caule apresenta
ramos robustos e sem pelos, bastante frágeis e quebradiços. No caule e em
outras partes da planta, há células lactíferas, as quais produzem um látex
rico em fissiona, uma enzima proteolítica que, em contato com a pele, causa
irritação, o que requer cuidado, especialmente quando das desbrotas e
colheita dos frutos.
Embora comercialmente os figos sejam conhecidos como frutos, na
verdade, não são frutos verdadeiros, mas sim, infrutescências constituídas
de tecido parequimatoso. O fruto verdadeiro é o aquênio, resultante do
desenvolvimento do ovário, com embrião envolto pelo endosperma e tegumento.
Nas condições do Brasil, como não há fecundação, os aquênios são ocos.
Os figos são de formato piriforme, com 5 a 8 cm de comprimento,
esverdeados ou violáceo-amarronzado. Desenvolvem-se de uma inflorescência
inteira, incluindo partes florais, sépalas, pedúnculos e ovários. A
inflorescência é interna, com um pedúnculo suculento externo e as flores
situadas em seu interior. A infrutescência é botanicamente chamado "sicôno"
ou "sincônio". Os primórdios florais formam-se tipicamente na axila de cada
folha, onde uma gema central vegetativa é acompanhada por duas gemas
florais. Algumas cultivares desenvolvem somente um figo por nó, enquanto
que outras desenvolvem frutas de ambas as gemas. O crescimento do figo, em
termos de peso ou diâmetro, segue uma curva sigmoidal dupla.
Conforme as características florais e os hábitos de frutificação,
distinguem-se quatro tipos: caprifigos, figos de Esmirna (ou Smyrna), figos
comuns e figo São Pedro, quais sejam:
a) caprifigo (Ficus carica silvestris) – Constitui a única classe
de figos que apresenta, quando maduros, estames fornecedores de pólen às
demais variedades. São os únicos figos que apresentam flor com estilo curto
(brevistiladas), apropriadas a oviposição e ao desenvolvimento de vespa
polinizadora Blastophaga psenes. Há uma simbiose entre o caprifigo e a
vespa, a qual não vive por muito tempo a não ser no caprifigo. Por outro
lado, a grande maioria dos caprifigos não chega a amadurecer, se não houver
o estímulo provocado pela presença de larvas da vespa em seu interior;
b) smyrna (Ficus carica smyrniaca) – nesta classe de figos, a
caprificação é indispensável. Sem este estímulo e sem a formação de
sementes, as frutas da produção principal enrugam e caem ao atingirem cerca
de 2 cm de diâmetro. Figos do tipo smyrna são mais doces, firmes e duráveis
após a colheita que os figos do tipo Comum;
c) comum (Ficus carica violaceae ou F. carica hortensis) – no
Brasil, somente são cultivadas variedades do tipo comum, cujas flores são
exclusivamente femeninas. Os figos tipo comum desenvolvem-se
partenocarpicamente, ou seja, não necessitam da caprificação. Podem, porém,
serem polinizados e produzir sementes;
d) São Pedro (Ficus carica intermedia) – as figueiras do tipo São
Pedro são intermediárias entre as do tipo smyrna e comum. Os figos têm
apenas flores femininas, com estilo longo, mas enquanto as flores dos figos
da primeira safra são partenocárpicas, as da segunda safra não se
desenvolvem até a maturidade sem o estímulo da fecundação.
Algumas variedades de figo necessitam de polinização para fixar suas
frutas, enquanto que outras podem produzir frutas partenocarpicamente. A
caprificação é a fecundação das flores do figo pelo pólen transportado pela
vespa Blastophaga psenes. Em regiões onde a vespa polinizadora ocorre, a
caprificação se dá natural ou artificialmente. Apenas no segundo caso há
interferência do homem, o qual introduz, no pomar, frutas com a vespa por
duas vezes a intervalos de 8 a 10 dias entre si. Em qualquer um dos casos,
a vespa completa seu ciclo no interior do caprifigo e emerge a intervalos
realizando a caprificação. Além disso, pode-se plantar caprifigos dentro do
pomar ou fazer enxertia de gemas de caprifigos nas figueiras de frutas
comestíveis.
Embora existam cerca de 25 cultivares de figueira no Brasil, apenas
uma é comercial. Esta cultivar, denominada 'Roxo de Valinhos', foi
introduzida no Brasil por um imigrante italiano que cultivou a figueira em
Valinhos. É uma cultivar rústica, vigorosa e produtiva, com boa adaptação a
diversos climas que ocorrem no Brasil, além de ser adaptada ao sistema de
poda drástica. O fruto é alongado, grande e periforme, com pedúnculo curto,
coloração externa roxo-escura e na região interna da polpa, rosa-violácea.
As frutas podem ser destinadas tanto para o consumo "in natura" quanto para
a industrialização, na forma de doces em calda e cristalizados. Apesar de
suas diversas vantagens, apresenta a limitação de possuir um ostíolo muito
aberto, com tendência e rachaduras, favorecendo a ocorrência de doenças e
pragas. Em outros países, a cultivar Roxo de Valinhos apresenta vários
sinônimos, tais como 'Nero', 'Corbo', 'Brown Turkey', 'Granata', e 'San
Pairo'.
Além desta cultivar, há outras com menor importância:
a) Pingo-de-Mel, também conhecida como 'Kadota', apresentou
importância comercial no Brasil no início do século e hoje é pouco
cultivada praticamente não apresentando importância comercial. Adapta-se
bem ao sistema de poda drástica produzindo figos muito doces, de tamanho
médio, periformes e com polpa de cor âmbar;
b) Verdona longa, também conhecida como 'White Adriatc', também
apresenta polpa clara, com tons de carmin. Caracteriza-se por não tolerar
podas drásticas, devendo-se realizar podas leves para que esta cultivar
produza adequadamente;
c) Nóbile, que parece ser a mesma variedade cultivada antigamente
no Rio grande de Sul com o nome de 'Branco', suporta podas drásticas,
produz figos de tamanho médio, de polpa creme e de sabor muito doce.
Apesar de somente serem cultivados figos do tipo Comum no Brasil,
produtores da região de Valinhos (SP) importaram da Turquia, em 1996, Duas
mil estacas de figueira tipo smyrna, visando obter plantas que através de
cruzamentos, possam ampliar a base genética da cultura no Brasil e obter
cultivares com frutas de melhor qualidade e com tolerância a pragas e
doenças, além de visarem o uso desta espécie como produtora e como porta-
enxerto. Como este tipo de figueira requer fecundação para fixação do
fruto, é provável que deva se buscar a indução de partenocarpia.
5.1 Botânica e Taxonomia
A figueira é pertencente à família Moraceae, a qual pertence outras
espécies frutíferas, tais como as amoreiras (Morus alba e Mofos nigra) e a
jaqueira (Artocarpus heterophillus). Somente o gênero Ficus, ao qual,
pertence a figueira, possui mais de 600 espécies. A figueira pertence ao
sub-gênero Eusyce, caracterizado por apresentar flores unissexuais e
ginoidiocismo.
Botanicamente, a figueira é denominada Ficus carica. Dentro desta
espécie, há várias subespécies. Quanto à sua genética, a figueira (Ficus
carica L.) é descrita como apresentando x = 13 e número somático 2n = 26.
6 EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS
A figueira é uma espécie caducifólia e adapta-se melhor ao clima
temperado, com invernos suaves e úmidos e verões quentes e secos. No Sul e
nos planaltos do Sudeste, onde se encontram as maiores partes das áreas
cultivadas com figueira, o clima é mesotérmico, com invernos suaves e
verões quentes ou relativamente suaves e úmidos. Apesar disso, a figueira
comporta-se satisfatoriamente bem nas regiões semi-úmidas, subúmidas e semi-
áridas do Nordeste, se irrigada. Em vista disso, pode-se afirmar que a
figueira é uma frutífera que possui grande capacidade de adaptação a
diferentes condições climáticas.
É uma espécie com pouca exigência em frio para completar o repouso
hibernal. Nas regiões de clima seco, a estação seca ajuda induzir o repouso
vegetativo, complementando o efeito do frio.
6.1 Temperatura
A exigência em frio hibernal para quebra de dormência das gemas varia
de 100 a 300 horas de frio (abaixo de 7,2oC). Apesar disso, há boa
adaptação da figueira em regiões de clima quente, com a vantagem adicional
de poder-se produzir frutas durante o ano todo, visto que a irrigação e a
poda condicionam a frutificação. Nas regiões quentes, as safras são maiores
e os figos, mais doces.
A figueira tolera temperaturas de até 35 a 42oC. Já foi verificado
que temperaturas em torno de 40oC durante o período de amadurecimento das
frutas provocam maturação antecipada, com alteração na consistência da
casca do fruto, que se torna coriácea e dura. Em regiões de clima mais
frio, há risco de danos por geadas tardias, pois temperaturas no final do
inverno entre –3 a –6oC podem matar os figos em formação e os ramos mais
herbáceos. Como alternativas para contornar os efeitos da ocorrência de
geadas tardias recomenda-se que a poda seja feita mais tardiamente (mês de
agosto, na região do Rio Grande do Sul) deixando-se de quatro a cinco
gemas, ou seja, três a quatro entre nós. Caso seja necessário devido à
morte das brotações terminais por ocorrência da geada durante a primavera,
pode-se podar novamente, retirando-se as partes danificadas pelo frio.
6.2 Umidade
A figueira é bastante sensível a falta de umidade no solo,
principalmente no período de frutificação, o que está relacionado ao seu
sistema radicular superficial. A cultura exige, no período vegetativo,
chuvas freqüentes e bem distribuídas, sendo adequadas precipitações em
torno de 1200 mm anuais.
O emprego da cobertura morta do solo do pomar permite preservar a
umidade do solo, fundamental para o bom desenvolvimento da figueira. Em
locais com precipitações irregulares, pequenas estiagens são sentidas pelas
plantas, causando a queda das folhas, com prejuízos à produção. Neste caso
a cultura deve ser irrigada. Por outro lado, a alta umidade pode predispor
as frutas ao ataque de doenças bem como causar fendilhamento das frutas
quando elas se encontram no estágio de maturação.
6.3 Ventos
Geralmente, o vento não chega a causar prejuízos. Porém, ventos fortes,
durante o desenvolvimento das frutas, provocam danos mecânicos causados
pelas batidas das folhas. Nos locais muito sujeitos a ventos fortes, pode-
se recomendar a instalação de quebra-ventos.
6.4 Luz
A figueira em ambiente altamente iluminado adquire um crescimento
vigoroso e produz frutas de excelente qualidade. A coloração e a forma das
frutas são afetadas pelo clima (luz, temperatura, umidade) e outros
fatores.
7 EXIGÊNCIAS EDÁFICAS
A figueira adapta-se bem a diversos tipos de solos, porém de maneira
geral, os solos mais apropriados são os solos areno-argilosos, bem drenados
e com bom teor de matéria orgânica. O pH ideal para a cultura está em torno
de 5,6 a 6,8.
8 PROPAGAÇÃO
A propagação da figueira pode ser realizada por via sexuada e
assexuada. Entretanto, a propagação sexuada, ou seja, através de sementes,
é utilizada exclusivamente em trabalhos de melhoramento genético A
propagação assexuada é feita principalmente através de estaquia, embora
também possam ser utilizadas a mergulhia (mergulhia de cepa e alporquia), a
enxertia e a propagação através de rebentões ou de filhotes. Embora as
brotações ou filhotes (rebentões) sejam um bom material propagativo, seu
uso é bastante restrito, principalmente se as mudas forem provenientes de
solos infestados de nematóides. A utilização de brotações oriundas do colo
da planta, ou seja, rebentões, é proibida por lei na produção comercial de
mudas, devido ao risco de disseminação de nematóides.
8.2 Propagação por Estaquia
A produção de mudas de figueira por estaquia é o principal método
utilizado. As estacas podem ser enraizadas em viveiros, diretamente no
pomar ou em recipientes.
8.2.1 Enraizamento em viveiro
Neste caso, o terreno para viveiro deverá ser bem drenado, com boa
disponibilidade de água para irrigação, livre de plantas invasoras
(especialmente tiririca e grama-seda) e, principalmente, isento de
nematóides. Após o preparo do terreno, deverão ser abertas as valas, com
profundidade de 30 cm, espaçadas entre si de 0,80 m. O plantio das estacas
também pode ser feito em canteiros cobertos com filme polietileno preto,
reduzindo a ocorrência de invasoras, diminuindo a perda de umidade do solo
e aumentando a temperatura do substrato.
Em geral, o método mais utilizado é a propagação através de estacas
lenhosas, pois permite o uso do material descartado pela poda e
enraizamento sem estruturas especiais de nebulização. O preparo das estacas
consiste em cortá-las em comprimento adequado, submetendo-as, quando
necessário, ao tratamento com fungicidas e com fitorreguladores. Com
relação ao comprimento das estacas, comumente tem sido recomendado o uso de
estacas com aproximadamente 20 a 30 cm de comprimento e com 1,5 a 3,0 cm de
diâmetro, o que permite a formação de mudas vigorosas. Devido à facilidade
de enraizamento, em geral não são necessários fitorreguladores, porém o
tratamento com AIB (ácido indolbutírico) a 100-200 ppm durante 24 horas
parece aumentar a uniformidade do enraizamento e acelerar a emissão de
raízes adventícias. O tratamento com fungicidas das estacas consiste em
submetê-las ao tratamento em feiosas, imergindo-as totalmente ou apenas 5,0
cm de suas bases em solução à base de PCNB (Kobutol a 300g/100 l de água)
ou outro produto como Captan e Benomyl. Este tratamento é feito
anteriormente ao plantio das estacas.
Caso as condições ambientais não sejam muito satisfatórias ao plantio
das estacas no viveiro, estas podem ser armazenadas. As estacas são
mantidas em areia úmida, na posição vertical, deixando apenas duas gemas
acima do substrato. O período de conservação é variável, mas de modo geral,
as estacas podem ser conservadas por até 2-3 semanas, quando mantidas na
posição vertical.
Estando preparadas as condições do viveiro para o plantio das estacas,
utilizando-se de um chuço de madeira graduado, fazem-se os orifícios para a
introdução das estacas. Essas devem ser plantadas em leito de enraizamento,
espaçadas entre si de 10 a 20 cm, deixando duas gemas para fora. Com o
próprio chuço, deve-se comprimir fortemente a terra em torno das estacas,
de modo que os espaços porosos desapareçam e haja uma boa aderência do solo
às estacas. Em seguida, procede-se a cobertura das estacas, com capim seco
sem sementes ou sombrite, de modo a conservar a umidade e proteger a
brotação, buscando desse modo, parcialmente, a aclimatação da nova planta.
Fazem-se os tratos culturais normais, os quais consistem em capinas,
irrigações, desbrotas e controle fitossanitário, bem como adubação de
cobertura. Os tratos fitossanitários referem-se à aplicação principalmente
de produtos à base de cobre, espaçadas de 3 a 4 semanas. Quando do início
da brotação, deve-se selecionar o melhor broto, através da desbrota, a qual
deverá ser feita quando as brotações atingirem de 5 a 10 cm de comprimento.
A muda será então, conduzida em haste única até atingir 40 a 60 cm de
comprimento, sendo despontada no inverno seguinte nesse comprimento,
estando apta para ser comercializada e transplantada ao local definitivo.
Após o arranquio, faz-se a poda de um terço do seu sistema radicular e
da haste principal no comprimento de 40 a 50 cm. As mudas são reunidas em
feixes, quando então o sistema radicular é tratado, por imersão em solução
com fungicidas à base de cobre e protegido com uma camada de barro mole. Os
feixes, para serem comercializados, serão envolvidos com camada vegetal,
plástico ou saco de aniagem. Nesse caso, as mudas são comercializadas em
raiz nua e plantadas durante o repouso hibernal, antes da brotação das
gemas.
Embora resultados promissores tenham sido obtidos com estacas herbáceas
e semilenhosas na propagação da figueira, o seu uso não é recomendado na
produção comercial de mudas. Entretanto, esta técnica pode ser justificada
em casos de pouca quantidade de material propagativo por planta matriz ou
caso se necessite modificar a época de produção de mudas.
8.2.2 Plantio das estacas diretamente no campo
Atualmente, o plantio das estacas não-enraizadas diretamente no campo é
um método muito utilizado nas principais regiões produtoras, tanto de São
Paulo como de Minas Gerais, com pegamento médio em torno de 60%.
Para a estaquia direta no campo, recomenda-se utilizar estacas com um
ano de idade, com comprimento de 30 a 40 cm e diâmetro entre 1,5 a 3,0 cm.
Dá-se preferência a solos profundos, bem drenados e com possibilidade de
uso da irrigação. A profundidade de plantio é variável, sendo recomendável
que, pelo menos, dois terços da estaca fiquem enterrados no solo. O plantio
da estaca na cova é feito no sentido vertical, deixando-se apenas 1 a 2
gemas acima do nível do solo – sobre estas gemas, é feita uma amontoa,
cobrindo-a totalmente com o solo.
A desvantagem deste método é que, em regiões ou épocas muito quentes
e/ou secas, podem ocorrer muitas falhas no pegamento. Para compensar tais
falhas, recomenda-se o uso de duas estacas por cova. Um dos principais
cuidados no plantio das estacas é garantir uma boa aderência do substrato à
estaca. Por isso, deve-se compactar bem o solo junto à estaca, pelo menos
no seu terço basal, cobrindo-se normalmente o restante da mesma. Após,
recomenda-se a colocação de água, com regador sem crivo, de tal forma que a
água carreie o solo da superfície, depositando-se na base da estaca.
8.2.3 Mudas obtidas em recipientes
Embora a técnica de plantio diretamente no campo venha sendo bastante
utilizada, uma vez que o rendimento é considerado satisfatório, a formação
paralela de mudas em recipientes (sacos plásticos, vasos, entre outros)
constitui-se numa prática muito importante. A estaquia lenhosa em sacos
plásticos, no período hibernal pode garantir a substituição, no período de
dezembro–janeiro, daquelas estacas que não vingaram, plantando-se as mudas
diretamente no campo e obtendo-se, com isso, uma maior uniformização do
estande final pretendido. Como recipiente, é recomendado o uso de sacos
plásticos pretos nas dimensões de 30 X 20 cm, com capacidade de 4 litros de
substrato.
8.3 Propagação por Enxertia
Ao contrário do que se verifica com a grande maioria das plantas
frutíferas, na propagação da figueira é dispensável a enxertia. Esta se
justifica quando deseja atingir um ou mais dos seguintes aspectos:
adaptação a diferentes tipos de solo, resistência a pragas e doenças de
solo, redução do porte da planta e para melhorar a produção e a qualidade
das frutas.
Embora a enxertia não seja utilizada no Brasil para a propagação da
figueira, ressalta-se a importância de trabalhos de pesquisa voltados à
obtenção de porta-enxertos resistentes a nematóides, considerados um dos
grandes problemas fitossanitários da cultura. As espécies Ficus racemosa
L., F.cocculifolia Baker e F. pumila são consideradas resistentes a
nematóides e, por serem compatíveis com F. carica L., podem ser utilizados
como porta-enxertos. Para a enxertia, podem ser usados tanto a garfagem
quanto a borbulhia.
9 ESTUDOS PRÉVIOS
Como em qualquer outra cultura, ao implantar-se uma área com
figueiras, deve-se fazer em primeiro lugar um levantamento de informações
sobre o mercado, preços, vias de acesso, distância ao mercado consumidor,
atacadistas, etc. Se o objetivo for a produção de fruta fresca, deve-se ter
uma grande agilidade e facilidade de colocar o produto no mercado
preferencialmente no mesmo dia ou no máximo 24 horas após a colheita,
devido à grande perecibilidade dos figos maduros. Porém, quando o objetivo
for a produção de figos verdes, pode-se trabalhar com distâncias e prazos
maiores, além de ser possível a industrialização na propriedade. Também é
importante verificar a experiência de outros produtores na região, a
adaptação da cultura no local e a possibilidade de colocar a fruta em
períodos de menor oferta e maior preço.
10 ESCOLHA E PREPARO DA ÁREA
Uma vez feito este levantamento, deve-se partir para a escolha da área
onde o pomar será implantado. Preferencialmente, deve-se optar por áreas
que:
a) sejam de pouca declividade e não estejam localizadas em baixadas;
b) apresentem solos bem drenados e bem providos de matéria orgânica;
c) apresentem profundidade superior a 1 metro;
d) possuam textura areno-argilosa. Os solos arenosos devem ser evitados
devido à rápida infestação de nematóides. Solos muito argilosos não
proporcionam boas condições para o desenvolvimento da planta;
e) tenha sido feita rotação de culturas por, no mínimo, 2 anos;
f) tenha orientação para a face norte, mais iluminada e mais quente que
a face sul e a salvo dos ventos frios;
g) não apresentem nematóides;
h) não esteja em área com grande ocorrência de geadas.
Deve-se evitar escolher terrenos muito íngremes, pois isto aumenta
muito o custo de produção e de implantação, implicando na necessidade de
práticas que evitam a erosão como curvas de nível, cordões de controle,
terraços, plantio em curva de nível. Para as áreas de pouco desnível até
5%, deve-se fazer o plantio do pomar em curvas de nível, no sentido
contrário à direção das águas.
No Brasil, praticamente toda a ficicultura está baseada em apenas uma
cultivar de figo comum, denominada 'Roxo de Valinhos'. Esta cultivar
apresenta boa performance nas condições brasileiras de clima e solo, embora
haja riscos por toda uma cultura estar calcada sobre apenas uma cultivar.
As estacas ou mudas devem ser obtidas dos produtores ou viveiristas
idôneos. A muda pode ser de três tipos: estaca não-enraizada, estaca
enraizada com raiz nua e estaca enraizada em torrão. O método de preparo do
solo, entretanto, para qualquer tipo de muda, é o mesmo.
Quanto ao espaçamento, tem sido observado que o melhor espaçamento para
o cultivo da figueira é de 2,5-3,0 x 1,5-2,0 m, especialmente se a produção
for destinada para mesa. Para produção de figo verde, o espaçamento pode
ser reduzido para 2,0-2,5 x 1,0-1,5 m. O espaçamento varia em função da
topografia, tratos culturais e fertilidade do solo. Recomenda-se que as
linhas de plantio não ultrapassem 60 m e os carreadores estejam localizados
no mínimo a cada 20 linhas.
Antes do plantio é necessário fazer a análise do solo completa nas
camadas de 0-20 e 20-40 cm de profundidade, também é útil fazer-se a
análise da água, especialmente se for utilizada a irrigação. O terreno
destinado à plantação do pomar deve estar bem limpo, sendo conveniente
submetê-lo a uma aração profunda e uma ou mais gradagem, colocando metade
do calcário indicado pela análise antes da aração e a outra metade antes da
gradagem, podendo ser esparramado manualmente ou usando implementos. A
quantidade a ser aplicada pode ser indicada pelo método de saturação de
base ou pelo método do Al, Ca e Mg trocáveis ou SMP. Estas operações devem
ser feitas 03 (três) meses antes do plantio.
A abertura das covas pode ser feita manualmente ou com o uso de
sulcador acoplado ao trator. Faz-se covas com cerca de 40 x 40 x 40 cm e,
se possível, faz-se a separação entre solo superficial e o solo das camadas
mais profundas. Por ocasião do plantio, a camada superficial, isto é, a
proveniente das primeiras camadas até a profundidade de 30cm, depois de bem
misturada com os adubos, é usada para preenchimento das covas, completando-
se com terra raspada superficialmente ao redor. O solo sub-superficial é
utilizado para a construção de um cordão ou banqueta, do lado de baixo da
muda, cortando as águas. Esta operação deve ser feita, no mínimo, um mês
antes do plantio.
A adubação fundamental ou de base é aquela feita na cova, e deve seguir
as recomendações da análise do solo. Porém, de modo geral, utilizam-se
adubações semelhantes à recomendação a seguir:
5 kg de esterco de galinha ou 15 kg de esterco de curral
curtido ou 2 kg de torta de mamona (no caso de se utilizar esterco de
galinha ou de curral, deve-se dar um intervalo de no mínimo 60 dias até o
plantio);
100g de calcário para cada tonelada aplicada por ha;
80g de P2O5 (metade da dose na forma solúvel em água e o
restante na forma termofosfato);
30g de K2O;
10.1 Plantio
O plantio deve ser feito se possível imediatamente depois de arrancadas
as mudas, estas devem ser reunidas em feixes e protegidas com um saco de
estopa úmido e mantido em local sombrio e fresco até o momento do plantio.
A época ideal de plantio das mudas é junho à agosto e de preferência deve
ser feito em dias chuvosos ou encobertos.
A seqüência das operações de plantio é a seguinte: a) retiram-se do
centro da cova uma quantidade de terra suficiente para que caibam as raízes
da muda sem dobrá-las; b) ajusta-se a régua de plantio entre as duas
estacas laterais; c) regula-se a altura da muda de forma que depois de
plantada esteja cerca de 5cm mais baixo do que o viveiro; d) chega-se terra
comprimido as camadas sucessivas, cuidadosamente com as mãos, de modo que
haja pleno contato com as raízes; e) constrói-se com a terra do subsolo um
cordão; f) cobre-se o solo com uma espessa camada de capim bem seco e g)
fazer-se uma rega abundante.
11 MANEJO DA CULTURA
Para obtenção de um pomar produtivo, o fiticultor deverá executar
adequadamente diversas práticas culturais.
11.1 Nutrição e Adubação
As adubações de cobertura deverão ter início quando mais de 60% das
plantas estiverem com 3 ou mais pares de folhas. Deve-se fazer esta
aplicação quando o solo estiver úmido, distribuindo-se bem os fertilizantes
e manter um intervalo entre aplicações entre pelo menos 30 dias. Em geral,
faz-se quatro adubações de cobertura: a) primeira, com 6-10 g N/planta; b)
segunda, com 6-10 g N/planta; c) terceira, com 10-15 g N/planta e 10-15 g
K2O/planta e d) quarta, com 15 g N/planta e 15 g K2O/planta. Na tabela 2,
constam as épocas e quantidades das adubações de plantio e pós-plantio
recomendadas para a ficicultura no sudoeste de Minas Gerais.
A adubação de crescimento e formação da planta é feita de acordo com
a Tabela 3 também recomendada para a ficicultura na região Sudoeste de
Minas Gerais.
Anualmente, a figueira perde as folhas, as frutas e os ramos com as
podas drásticas, o que requer a reposição dos nutrientes perdidos. Há
necessidade de uma ótima adubação anual para o bom desenvolvimento das
plantas, quando se visa uma boa produção de frutas de boa qualidade. Logo
após a poda, faz-se a adubação de manutenção.
É recomendável, ainda, fazer adubações em toda a área de projeção da
copa da planta. A cada 3 anos, recomenda-se fazer adubação orgânica.
Caso seja identificada a necessidade de calagem, o calcário deverá
ser aplicado por toda a área de cultivo ou nas linhas de plantas (1 metro
para cada lado), durante o período de dormência, em quantidades
determinadas pela análise de solo. Além de corrigir a acidez do solo, o
corretivo constitui-se em importante fonte de cálcio e magnésio.
Junto com as caldas de defensivos, pode-se adicionar um adubo foliar,
o que pode dar bons resultados. Os micronutrientes mais exigidos pela
figueira são o boro, ferro, manganês e zinco. A fórmula 10-4-7-0,5 de N-P-K-
Mg tem proporcionado excelentes resultados, na dosagem de 300g/100 litros
de água (Penteado 1986). Como nas demais frutíferas caducifólias, é
recomendável o uso do adubo foliar após a colheita das frutas.
A análise foliar não substitui a análise do solo, mas ambos se
complementam. A folha é o órgão que melhor indica se a cultura está bem ou
mal nutrida e a análise foliar serve para ajustar o programa de adubação ou
as doses de adubo. A análise foliar serve para ajustar os programas de
adubação porque, ao fazê-la, observa se o teor de um elemento está abaixo
do nível crítico, que com o parcelamento das adubações a sua deficiência
poderá ser corrigida, durante a própria safra ou na safra seguinte.
Quanto à amostragem, não foram encontradas informações para a
figueira. De maneira geral recomenda-se a coleta de folhas recém-maduras.
Na planta, retira-se uma folha de cada ponto cardeal e forma-se uma amostra
composta de cerca de 60 folhas, de um talhão homogêneo. Obtidos os
resultados, deve-se compará-los com um padrão, a fim de identificar se
existe nutrientes cujos terores estejam abaixo do nível crítico, o que
conseqüentemente estará limitando a produção. Os teores foliares de
nutrientes em figueiras bem nutridas, mantidas em solução nutritiva, são os
seguintes (Haag et al., 1979):
N: 3,39%
P: 0,17% - 0,21%
K: 2,68% - 2,83%
Ca: 1,67% - 1,91%
Mg: 0,63% - 0,66%
S: 0,21%
B: 162ppm – 219ppm
Estes dados podem servir como padrão, na interpretação do estado
nutricional da planta.
11.2 Poda e Condução
A poda engloba todos os tipos de intervenções que são efetuados na
planta, com o propósito de condicioná-la para umas produtividades rápidas,
elevadas e mais constantes ao longo dos anos.
A poda pode ser executada durante o inverno (poda hibernal ou em
seco) e durante o período de crescimento vegetativo (poda em verde). A poda
hibernal é mais comumente utilizada na cultura da figueira, sendo realizada
no final do inverno, próximo à época da brotação. Como a figueira produz em
ramos do ano, ou seja, a produção ocorre nos ramos novos, emitidos no mesmo
ciclo em que produzem, a principal particularidade da poda desta espécie é
a realização de poda drástica, na qual são eliminados praticamente todos os
ramos emitidos no ciclo anterior.
Há dois sistemas de poda: o sistema tradicional e o sistema com
desponte.
No sistema convencional de poda, nos primeiros 3 anos após o plantio,
busca-se formar a estrutura adequada para inserção dos ramos produtivos. A
esta técnica, denomina-se "poda de formação". Porém, mesmo durante este
período inicial, a figueira já produz, de modo que torna-se difícil
distinguir-se entre poda de formação e frutificação.
Em geral, a poda de formação e frutificação da figueira é feita
adotando-se o cronograma a seguir.
As operações de formação da planta prosseguem até o 4o ou 5o ano pós-
plantio, duplicando-se anualmente o número de ramos da planta. A planta é
considerada formada quando atinge 8 a 12 ramos por ramo inicial ou, no
total, 24 a 36 ramos por planta. Em geral, em figueiras destinadas à
produção de frutas frescas, deixa-se um menor número de ramos, para
favorecer o tamanho e a qualidade dos figos. Em figueiras destinadas à
produção de frutas para indústria, deixa-se maior número de ramos (Esquema
1).
Esquema 2
Es
qu
em
a
1
Após a formação, anualmente deve ser realizada a poda de
frutificação, quando as plantas estiverem em repouso. Esta operação
consiste na retirada dos ramos que já frutificaram. Os ramos são podados
drasticamente, deixando-se apenas 5 a 10 cm de forma que possuam duas gemas
bem localizadas. Posteriormente, após a brotação, são escolhidos 1 a 2
brotos em boa posição por galho podado, de modo que os ramos cresçam
verticalmente, formando um círculo à volta do tronco. Os demais brotos que
aparecem são totalmente eliminados. A maioria das espécies de figueira
tolera bem a poda drástica, a qual também tem benefícios no controle da
broca-da-figueira (Azochis gripusalis) (Esquema 2).
Com o objetivo de acelerar ou retardar a época da colheita, a poda
pode ser feita de maio a novembro, respectivamente, conforme as condições
climáticas e o desenvolvimento da planta. A planta podada nestes períodos
poderá ter sua atividade afetada, porém há vantagens econômicas. Dependendo
das condições climáticas e tratos, a colheita tem início cerca de 4 a 5
meses após a poda de frutificação.
Uma variante do sistema de poda de frutificação é o sistema com
desponte. Esta prática vem sendo utilizada comumente por produtores de
Minas Gerais. Embora faltem algumas informações sobre o efeito destes
despontes sobre as qualidade dos frutos e o crescimento da planta, os
resultados têm sido promissores. O sistema de desponte consiste em deixar-
se 3 ramos básicos após a poda hibernal, sendo emitidos de cada um deles
duas brotações, as quais são despontadas quando atingirem oito pares de
folhas (Esquema 6.3.3.). Este desponte estimula a brotação das gemas
apicais do ramo despontado, de modo que são emitidos, após desbrotas,
outros dois ramos. Estes ramos são despontados quando atingiram 3 pares de
folhas. Esta última operação é repetida até meados de abril, num total de 4
a 6 despontes por ciclo. Estes despontes têm como principal efeito a
emissão de novo ramos produtivos, escalonando e ampliando o período de
safra e a produtividade. Por ser um tecido herbáceo, os despontes são
feitos manualmente. O desponte dos ramos também é feito em pomares para
figo de mesa, geralmente em janeiro e consiste na retirada dos ponteiros
dos ramos. Na rebrota, são deixados três brotos que irão produzir figos
verdes. Cada planta, devido ao desponte, pode produzir de 1,5 a 2,5 Kg de
figos verdes para a indústria, denominados "figos de ponteiro".
11.3 Controle de Plantas Invasoras
Normalmente, o controle de invasoras em pomares de figueira é feito
apenas na linha, mantendo-se alguma vegetação roçada na entrelinha. Alguns
produtores, porém, mantém todo o solo do pomar descoberto, o que pode
causar problemas de erosão e perda de umidade de solo. O controle de
invasoras por capina pode ser usado nos primeiros anos e longe das plantas,
porém, devido à superficialidade das raízes, pode prejudicar as plantas.
Uma das práticas recomendadas é fazer a cobertura morta na linha, com o uso
de capim triturado, bagaço de cana ou outro material disponível na
propriedade. Esta cobertura, além de controlar as invasoras, ajuda a manter
a umidade do solo em níveis favoráveis à planta.
11.4 Irrigação
A figueira é uma planta perene, que necessita de 1.200 mm de água bem
distribuídos ao longo do ano. Quando se deseja implantar a cultura em áreas
onde não se dispõe desta condição climática, pode-se utilizar a irrigação,
sendo que os métodos recomendados são o gotejamento e a microaspersão.
Ambos são sistemas de irrigação localizada e apresentam como principais
vantagens:
a) maior eficiência no uso de água (e.a. = 0,9);
b) possibilitar satisfazer a planta à quantidade de água;
c) não prejudica o solo em relação à compactação e a erosão do solo;
d) pode ser utilizado para fertilização;
e) menor gasto com mão-de-obra, em relação a outros sistemas.
12 PRAGAS E DOENÇAS
A figueira está sujeita ao ataque de diversas pragas e doenças, as
quais se não forem convenientemente combatidas, tornam a cultura
antieconômica. Sucessivas gerações de propagação vegetativa provocam
degenerações, deixando as plantas mais sensíveis a doenças.
Para reduzir os gastos adicionais com defensivos, deve-se agir
preventivamente, dando à planta as melhores condições para uma maior
resistência a pragas e doenças. Isto pode ser obtido através de algumas
medidas tais como:
a) compra de mudas sadias;
b) fazer adubação equilibrada na cova de plantio e preparo correto do
solo;
c) fazer a calagem recomendada;
d) plantar em local apto para a cultura e não-infestado por pragas e
doenças;
e) observar corretamente o espaçamento da cultura e fazer quebra-ventos
para reduzir a entrada de propágulos de doenças e pragas na área;
f) conduzir corretamente a planta, deixando o número correto de
pernadas e de ramos, formando uma copa bem arejada;
g) monitorar periodicamente o pomar;
h) manter o pomar limpo, retirando-se galhos secos e doentes através de
podas de inverno, verão e frutificação. No caso da figueira, é
indispensável a poda drástica como controle de pragas e doenças.
12.1 Pragas
12.1.1 Broca-dos-ramos, Broca-da-figueira ou Broca-dos-ponteiros
(Azochis gripusalis).
O adulto é uma mariposa (Lepidóptera) com 30 mm de envergadura, as
asas são marrom-amareladas, quase de cor palha, intercaladas com manchas
estriadas marrom-escuras, dispostas longitudinalmente. A maior infestação
da praga verifica-se depois de novembro, podendo chegar até abril.
A mariposa põe os ovos sobre os ramos ou na base do pecíolo das
folhas. As larvas atingem 25 mm de comprimento, têm coloração rosada e
cabeça marrom. Inicialmente, as larvas se alimentam da casca tenra dos
ramos onde se deu a eclosão. À medida que se desenvolvem, atinge a parte
lenhosa dos ramos, restringindo-se seu ataque à medula. No local de
penetração da broca, notam-se excrementos ligados por uma teia de natureza
sedosa, que vai obstruir a entrada da galeria, protegendo a broca. No que
se refere aos danos, como a broca tem o hábito de penetrar nos ramos, à
medida que vai se aprofundando, as folhas vão murchando e os frutos
atrofiam-se e secam, podendo comprometer a produção.
O controle deve ser feito integrando-se métodos culturais, físicos e
químicos.
Os métodos culturais consistem em: a) fazer podas rigorosas dos ramos
e queimá-los; b) esmagar as lagartas nas galerias usando arame e c) manter
a cultura em terreno limpo.
Os métodos físicos consistem no uso de armadilhas luminosas,
provindas de lâmpadas fluorescentes ultravioletas que exercem controle
bastante eficiente. Utiliza-se uma armadilha para cada 7 ha. As armadilhas
devem ser acionadas todas as noites, de setembro a março, pois atuam
preventivamente na captura de adultos.
Os métodos químicos consistem em fazer pulverizações sistemáticas
após os primeiros ataques, observados de novembro em diante, época de
postura da praga. Podem ser utilizados os seguintes produtos: Dipterex-50
(300 ml/100 litros de água); Folidol-600 (100 ml/100 litros de água);
Deltametrina-2,5CE (50 ml/100 litros de água). Estes produtos podem ser
aplicados junto com a calda Bordalesa.
12.1.2 Coleobrocas
Estas brocas são larvas de coleópteros que abrem galerias nos ramos e
troncos da figueira. Causam a murcha e a seca dos ramos, folhas e frutos
localizados acima da região do ataque. Os troncos atacados podem apresentar
feridas e galerias, mas em todos os casos acabam secando e levando a planta
ao definhamento e morte. As principais espécies que se constituem pragas da
figueira são:
Colobogaster cyanitaris
Marshallius bonelli
Trachyderes thoracicus
Teaniotes scalaris
Para o controle das coleobrocas, devem-se destruir as larvas com
canivete ou esmagando-as introduzindo-se um arame nas galerias. Como medida
preventiva, recomenda-se mistura de um inseticida fosforado (por exemplo,
Gusathion 400, na concentração de 150 ml/100 litros de água), pulverizando
o tronco da figueira ou pode ser feito, ainda, o pincelamento do tronco
após a poda com uma das misturas: inseticidas fosforado (Díptero-50, 1,0 Kg
+ fungicida cúprico (1 Kg + 10 litros de água) ou (10 Kg de cal + 2 Kg de
enxofre + 1 Kg de sal + 100 litros de água). Pode-se, ainda, aplicar
fosfina ou pasta para as larvas que fazem galerias profundas. O
pincelamento dos ramos com calda a 10% de Carbofuran-350F sobre a casca no
local de ataque também conferem bom resultado).
12.1.3 Cochonilhas
As cochonilhas são bastante prejudiciais às plantas, pois vivem na
superfície de diversos órgãos vegetais aéreos, onde se fixam e sugam a
seiva dos tecidos, enfraquecendo a planta. As principais cochonilhas que
causam danos à cultura da figueira são:
Morganella longispina
Asterolecanium pustulans
O controle das cochonilhas deve ser feito no período de entressafra,
após a poda dos ramos, dada a dificuldade de se fazer o controle durante a
brotação e a frutificação. Como muitas cochonilhas se reproduzem de
setembro a novembro, deve-se efetuar a aplicação após o início da brotação.
Devem ser feitas duas a quatro pulverizações com óleos emulsionáveis,
juntamente com fosforados a cada 20 dias (por exemplo, Éxciton-50CE ou
Feniton-50CE (150 mt litros de água)).
12.1.4 Eriofiídeo-da-figueira (Aceria ficus) ou (Eriophyes ficus)
São pequenos ácaros vermiformes que se desenvolvem nas gemas sobre as
folhas mais novas e entre as sépalas das flores. É vetor de uma virose
denominada "mosaico da figueira". Os sintomas resultantes diretamente da
alimentação dos ácaros são a distorção foliar, com leves clorosos de
bronzeamento. A ocorrência é em rebolirás e as plantas apresentam
internódios curtos.
O controle consiste na pulverização com enxofre (por exemplo, Sulto-
800 PM, 500g/100 litros de água), usando-se 500 litros de calda/ha.
12.1.5 Cigarrinha-das-frutíferas (Aethalion reticulatum)
O inseto mede cerca de 10 mm de comprimento, apresenta coloração
avermelhada, nervuras esverdeadas e salientes nas asas. Vive em colônias,
nos ramos novos, constituídas de formas jovens (ápteras) e adultas
(aladas), suga a seiva da planta e o excesso é expelido por via anal,
atraindo formigas.
O controle é feito através do controle para a broca da figueira.
12.2 Doenças
12.2.1 Ferrugem (Cerotelium fici)
É uma doença difundida por todas as áreas em que se cultiva a figueira
e é considerada a doença de maior importância da cultura. É uma ameaça
séria e constante e, quando não controlada, pode ocasionar prejuízo de 50%
ou mais na produção.
A doença caracteriza-se pelo aparecimento de pequenas manchas verde-
amareladas nas folhas, sendo que na página inferior delas, corresponde à
área das lesões, formam-se pústulas recobertas por uma massa pulverulenta
ferruginosa constituída de esporos do fungo. Em conseqüência do ataque,
causa a queda prematura de folhas, fazendo com que os figos cresçam
minguados, com péssima qualidade e caiam prematuramente. Isso provoca o
depauperamento da planta. Se o ataque se der muito precocemente, pode
impedir totalmente a frutificação.
O fungo sobrevive durante o período de repouso vegetativo da figueira
nas folhas afetadas que permanecem no chão. O período de repouso vegetativo
da figueira é relativamente curto (maio a agosto), havendo a possibilidade
de se ter folhas doentes na planta até a época da poda, julho a agosto,
quando o inverno não é muito frio nem seco. As condições ambientais
favoráveis à infecção são a umidade e temperatura elevadas.
O controle da ferrugem deve começar com os tratamentos de inverno,
poda, eliminação de todos os órgãos passíveis de se constituírem em fonte
de inóculo primário para a estação seguinte, inclusive as folhas caídas no
chão, as quais devem ser queimados. Pulverizações com calda-sulficálcia a
32oBe na proporção de 1:8 de água são úteis como preventivos. Na época da
vegetação, desde a brotação até a maturação dos frutos, toda a folhagem,
principalmente aquela em desenvolvimento, deve ser protegida com calda
bordalesa a 1%, fazendo-se pulverizações quinzenais das plantas. Pode-se
utilizar outros fungicidas a base de cobre insolúvel. A calda bordalesa é o
produto mais utilizado pelos ficicultores devido ao preço e porque confere
maior rigidez à casca do figo, um fator desejável para a comercialização.
12.2.2 Antracnose (Colletotrichum gloesporioides)
Esta doença também é conhecida como podridão do fruto, pois pode
causar a formação de manchas necróticas e o apodrecimento dos frutos em
estágio adiantado de maturação, inutilizando-os ou reduzindo seu valor
comercial.
A antracnose caracteriza-se pelo aparecimento de manchas deprimidas,
mais ou menos circulares, sobre as quais se observa um crescimento branco
constituído das hifas do fungo. As frutas são internamente flácidas e de
gosto ruim, apodrecidas. O fungo persiste de um ano para outro no solo, nos
restos de cultura. A disseminação dentro de uma cultura se dá pelos
respingos de chuva.
Nas culturas onde é feito um bom controle da ferrugem, esta doença
não constitui problema. Após a colheita, deve-se fazer a imediata
destruição, pelo fogo, de todas as partes vegetativas atacadas pelo fungo.
Além disso, podem-se fazer pulverizações com fungicidas à base de Maneb a
0,2%, a cada 12 a 15 dias, reduzindo o intervalo das aplicações em caso se
chuvas e altas infestações.
12.2.3 Murcha ou Seca da Figueira (Ceratocystes frimbriata)
Há cerca de uma década, vem sendo notada a ocorrência, principalmente
na região de Valinhos (SP), de definhamento e seca da figueira, provocando
queda na produtividade e na redução da área cultivada. Os sintomas são
semelhantes aos observados em mangueiras atacadas pela doença de mesmo
nome. Provavelmente, a doença tem como agente casual o fungo Ceratocystes
frimbriata, o qual é transmitido pelo besouro (broca) Phloetribus
picipennis Eggers. Os danos ocasionados pela doença são economicamente
importantes, pois as plantas atacadas geralmente morrem e o plantio de
novas mudas na mesma área torna-se inviável.
Para o controle, deve-se evitar a ocorrência de ferimentos nos
troncos, para evitar a formação de portas de entrada para o fungo. Faz-se
também a eliminação de plantas mortas ou em vias de secamento, queimando-as
em local distante da cultura. No início do aparecimento do sintoma, faz-se
poda e queima dos ramos atacados, tratando as áreas feridas com pasta
cúprica.
O controle preventivo da broca é feito pulverizando o tronco e ramos
com calda bordalesa, adicionada de inseticidas fosforados e espalhante
adesivos após a poda drástica. Um exemplo de pasta a ser usada é o seguinte
inseticida (Carbaryl 85%, 140g/100 litros de água) 1 kg de fungicida a base
de cobre + 10 litros de água.
Como medidas de controle, recomenda-se eliminar todas as plantas
doentes e adjacentes, colocar cal virgem (0,5 kg/m2 de cova), e não fazer
plantio no local durante um ano. Além disso, deve-se queimar todo o
material descartado pela poda, tratar com calda sulfocálcia no inverno,
desinfestar ferramentas, aplicar inseticida junto com o fungicida (para
matar o besouro), não utilizar estacas provenientes de regiões onde ocorre
à doença, desinfestar as estacas, evitando o contato com o solo antes do
plantio e não utilizar mudas de rebentos.
12.2.4 Podridão dos Figos Maduros
As podridões de figos maduros são causadas por dois fungos:
Phytophthora sp e Rhizopus sp. Podem ser responsáveis por perdas de frutas
no campo e no período pós-colheita, principalmente nos períodos muito
chuvosos e quentes. As frutas destinadas para a mesa no período de
maturação constituem ótimo meio para o desenvolvimento de diversos
microorganismos que ocasionam podridões diversas, principalmente bolores e
bactérias.
Para evitar o ataque destes fungos, deve-se evitar ferir as frutas,
em locais de ocorrência de chuvas e altas temperaturas. Na colheita pode-se
optar por colher figos verdes para a indústria ou usar cultivares que
apresentem o ostíolo mais fechado. A execução sistemática das medidas
fotossanitárias durante todo o ciclo da cultura diminui a ocorrência desta
doença. Quando colhe-se frutos para a mesa, deve-se fazer a colheita o mais
rápido possível, colhendo os frutos em estado "de vez".
A eliminação dos frutos estragados na planta ou caídos no chão é útil
para a redução do potencial de inóculo. A colheita deve ser feita
diariamente usando-se cestas apropriadas. Se necessário pode-se fazer o
armazenamento sob temperatura de 7oC e eliminação de todos os frutos que
durante este período, apresentarem-se com sintomas de ataque. No caso de se
fazer colheita em dias chuvosos, deve-se usar ventiladores para secagem
rápida dos frutos.
12.2.5 Nematóides
A figueira é parasitada por dois gêneros de nematóides que são:
Meloidogyne incognita, denominado nematóides das galhas e o Heterodera
fici, denominado nemetóide dos cistos. Este último não causa formação de
galhas. Atualmente, os nematóides são considerados o maior problema
fitossanitário da ficicultura, especialmente nas regiões tradicionais
produtoras de figos.
Os nematóides causam a formação a de galhas que obstruem o fluxo
normal da seiva dos assimilados, fazendo com que diminua a taxa
fotossintética e criando uma porta de entrada para outros microorganismos
como fungos, vírus e bactérias. As raízes atacadas apodrecem e morrem, ao
passo que a planta tenta reagir emitindo novas raízes para substituir as
destruídas. Quando o ataque é intenso, a figueira é enfraquecida
visivelmente e pode chegar a morrer, dependendo da intensidade do ataque.
Além das galhas, têm-se outros sintomas como: deslocamento do córtex
radicular, paralisação do crescimento da ponta da raiz, rachaduras,
deformação das raízes e sintomas de deficiência nutricional na planta.
A forma mais eficiente de controle é através da utilização de porta-
enxertos resistentes. Porém, estes ainda não são encontrados no Brasil,
embora já estejam presentes nos EUA. É o caso da seleção de Ficus
glomerata, que é compatível com as variedades comerciais.
O controle deve ser preventivo e como principais medidas de controle
do nematóide, podem ser citadas:
a) uso de mudas sadias oriundas de estacas e nunca de rebentos ou
filhotes enraizados;
b) usar terrenos livres de nematóides, evitando-se os arenosos, pois,
nesta condição, o nematóide se difunde mais rapidamente;
c) usar grande quantidade de matéria orgânica, incorporada e em
cobertura, pois isto aumenta a quantidade de fungos endo e ectoparasitas,
favorecendo o controle biológico;
d) áreas infestadas devem ser isoladas do resto do figueiral por meio
de valetas profundas. Devem-se arrancar as figueiras infestadas com o
máximo do seu sistema radicular queimar estas no local;
e) fazer arações pesadas para expor os nematóides à superfície, deixar
o terreno sempre limpo e fazer rotações de cultura com Crotalaria
spectabilis ou cravo de defunto (Tagetes sp.);
f) como o principal disseminador é o próprio agricultor, deve-se evitar
ao máximo a entrada de solo de área contaminada. Deve-se, também, observar
a procedência da água que será utilizada para a irrigação;
g) no caso de se utilizar controle químico, fazer duas aplicações no
início do período chuvoso. Por exemplo, pode-se usar Temik, Furadan,
Nemacur, Mocap ou Fenix. Estes produtos apresentam custo muito elevado de
aplicação e, em culturas perenes instaladas no campo, apenas reduz a
população a um nível não-prujudicial. Estes produtos, juntamente com o
brometo de metila são bastante utilizados em canteiros para a produção de
mudas sadias;
h) para se prolongar a vida da planta e aumentar a produção, deve-se
fazer adubações mais pesadas, podas, pulverizações e cobrir o solo com uma
cobertura morta, bem como plantar Crotalaria spectabilis entre as ruas e,
se possível, utilizar o máximo de composto orgânico possível curtido.
" "
No quadro abaixo apresenta-se um calendário com as principais
doenças da cultura e as medidas a serem tomadas
13 COLHEITA E PÓS-COLHEITA
A época de colheita na região de Valinhos (SP) se estende desde
novembro até maio. O período de colheita pode ser estendido de outubro a
agosto, dependendo da época da poda. Na maior parte das regiões produtoras,
o período da safra está ao redor de novembro a abril.
A colheita deve ser feita diariamente, procedendo-se manualmente, e
sendo realizada logo pela manhã, nas horas mais frescas do dia para evitar
o seu rápido dessecamento. Os figos maduros são delicados e altamente
perecíveis.
Por serem muito sensíveis, os figos devem ser arrancados com cuidado
da planta, com todo o pedúnculo, e depositados com delicadeza nos cestos de
coleta. Estes cestos devem ser forrados com palha, algodão ou espuma fina,
de modo a não permitir o esmagamento dos figos pelo atrito.
Os figos destinados para a mesa, devem ser colhidos "de vez", para
poderem chegar ao mercado sem deteriorarem. Este ponto é reconhecido quando
o figo começa a perder sua consistência dura, ganhando sua película a cor
arroxeada para as variedades roxas e a coloração verde-amarelada para as
variedades brancas. O termo "de vez" significa o estádio em quem o fruto
atinge do ponto de maturação comercial.
O látex ou "leite da figueira", liberado do pedúnculo do figo recém-
colhido é bastante irritante para a pele humana, de modo que os
trabalhadores, para fazerem a colheita, devem utilizar camisas de manga
comprida e luvas de plástico ou algodão. Outra medida preventiva
interessante é untar as mãos com substâncias oleosas ou lavá-las
constantemente com vinagre, que é o melhor solvente para o "leite".
Um figueiral bem formado, depois do sexto ano de idade, pode produzir
20 a 30 toneladas de figos maduros/ha, o que equivale a 15 a 25 kg/planta,
quando se tem cerca de 1.600 pés/ha.
O figo, quando utilizado pela indústria para a produção de figo em
calda, figo tipo Rami e doces para cortes, é colhido 20 a 30 dias antes do
figo para a mesa e deve ser colhido quando a cavidade central estiver
completamente cheia. Em geral, obtém-se rendimentos de 8 a 15kg/planta. Na
região de Valinhos, é comum a prática da colheita durante 6 meses do ano,
utilizando cestos de bambu, dentro dos quais são acondicionadas caixas
pequenas com 32 frutos. Quando à comercialização, utilizam-se caixas de
madeira, dentro das quais são colocadas as caixas de papelão com 24 frutas
cada (3 caixas de papelão por caixa de madeira). A exportação de frutas
para a Europa é feita por via aérea. Para diversificar a colheita o
produtor pode modificar a época de poda ou utilizar a técnica de oleação.
Esta técnica consiste em se tocar levemente, com uma gota de óleo, o
ostíolo ("olho") do figo em vias de amadurecer, a fim de acelerar a sua
maturação. Antigamente, usava-se o óleo de oliva, mas hoje são utilizados
vários óleos, tais como o de caroço de algodão, de milho e de soja. A
operação é feita 10 a 15 dais antes da época normal de maturação e depois
de dois dias, o figo começa a inchar. Dentro de sete dias, completa a
maturação para a colheita. Outra técnica para a antecipação da colheita é a
aplicação de Ethephon, que permite ao produtor colher parceladamente sua
produção. O Ethephon é aplicado no figo em jato dirigido com um pequeno
pulverizador manual, na dosagem de 250ppm. A fruta, para receber este
tratamento, deve estar de 15 a 20 dias da maturação natural, sendo que
depois de 8 dias ela pode ser colhida. As frutas pulverizadas fora do
estágio adequado tendem a murchar.
A qualidade inicial dos figos é fundamental para a sua vida em pós-
colheita, razão pela qual é recomendado o pré-resfriamento. A deterioração
dos figos será mais ou menos rápida, dependendo da temperatura à qual as
frutas foram expostas. Através da refrigeração, é possível controlar o
crescimento de microorganismos, reduzir a taxa respiratória e retardar a
atividade metabólica.
A conservação do figo de mesa (maduro) em câmaras frigoríficas, à
temperatura de 0 a 4ºC e com 85% de umidade relativa do ar permite sua
conservação por até 10 dias, mas apresenta o inconveniente de uma vez
retirados, terem de ser consumidos no mesmo dia, devido ao risco de
apodrecimento. A conservação pode se prolongar por até 2 meses se
armazenados à 5ºC e colocados numa calda com cerca de 30% de açúcar.
São citadas na literatura duas desordens filosóficas em figos
maduros:
a) "Growth Crakers" e "Splitting" – são rachaduras que ocorrem no figo
na região do ostíolo. Posteriormente, a fruta pode se partir, devido ao
excesso de turgidez, como resultado de chuvas ou frio;
b) "Sunscald" ou "Sunburn" – ocorre em numerosos produtos, devido à
exposição direta e prolongada à luz solar. Em figos, aparecem manchas de
consistência firme, marrom-escuras, como forma pontos ou fitas em volta do
ostíolo ou nas paredes laterais.
O uso de caixas de madeira envolvidas em polietileno e de câmara fria
a 90% de umidade relativa e temperatura 0ºC no armazenamento de figos
verdes reduz consideravelmente as perdas de peso, mesmo após o
armazenamento por 30 dias.
O controle químico das podridões em figos também é usado. A podridão
interna, podridão-marrom ou podridão-mole de figos pode ser controlada
mergulhando-se as frutas em solução de Benomyl 5%, logo após a colheita.
O ferimento da fruta madura possibilita a penetração de fungos. A
ocorrência de rachaduras no ostíolo é outro fator que leva à ocorrência de
perdas após a colheita e a embalagem de figos em períodos secos, o que
reduz a incidência de rachaduras. As injúrias devem ser evitadas durante a
manipulação dos frutos, pois elas estimulam a produção de etileno pelos
tecidos injuriados, diminuindo o seu período de armazenamento. Além desse
efeito, tais danos facilitam a penetração de fungos que depreciam a
qualidade do figo. Os principais patógenos responsáveis pela deterioração
pós-colheita em figos são: Alternaria, Aspergillus niger, Fusarium
moliniforme, Cladosporium e bactérias.
E
s
q
u
e
m
a
3
Para a comercialização, o figo é selecionado e embalado em gavetas que
acondicionam de 6 a 14 figos em camada única, de mesmo tamanho (Esquema 3).
Visando a diminuição do custo de produção, o uso de caixas de retorno
(engradado de madeira para o transporte de 3 gavetas) é indicado. As
gavetas possuem as seguintes dimensões: externas: 32 x 15 x 15 cm;
internas: 30 x 14,5 x 4,8 cm. Uma pessoa embala 20 engradados por jornada
de 3 horas. Na tabela 4, constam os parâmetros utilizados para classificar
os figos.
O figo para fins industriais (verde ou inchados) é comercializado por
quilograma de produto transportado a granel, usando-se, como embalagens,
sacos ou caixas (de madeira ou plástico), geralmente cedidas pelas
indústrias compradoras. No esquema 4 é apresentado um fluxograma de
industrialização de figos.
"Esquema 4 "
Os tipos de figos são: graúdo (altura e diâmetro maior de 60 mm);
médio (41 a 60 mm de diâmetro e 54 a 60 mm de altura); miúdo (35 a 41 mm de
diâmetro e 45 a 54 mm de altura). A qualidade do figo é aferida de acordo
com os seguintes parâmetros: extra, quando apresenta até 20% na soma das
tolerâncias dos efeitos (ferimentos, rachaduras, sem pedúnculos, etc.) e
especial, quando esta soma atinge até 40% de defeitos.
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