Preview only show first 10 pages with watermark. For full document please download

Controle De Erosão E Escorregamentos Em Escarpa

Plano de controle dos processos erosivos em escarpa no perímetro urbano e periurbano da cidade de Primavera do Leste, MT.

   EMBED


Share

Transcript

63 FAPEMAT – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso Convênio nº 2.1.02/000035-1998-04 ___________________________________________ PLANO DE CONTROLE DOS PROCESSOS EROSIVOS EM ESCARPA, NO PERÍMETRO URBANO E PERIURBANO DA CIDADE DE PRIMAVERA DO LESTE, MT. Bacia do Araguaia-Tocantins Bacia do Prata Primavera do Leste Área foco das erosões RELATÓRIO FINAL Cuiabá, novembro de 2002 64 SUMARIO Pág. I. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO II. SITUAÇÃO III. RESUMO IV. RESULTADOS E CONCLUSÕES CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................ 1 CAPÍTULO 2 – OBJETIVOS ..................................................................................... 5 CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................. 6 CAPÍTULO 4 – RESULTADOS ................................................................................ 19 4.1. CONCEITOS E CONDICIONANTES DOS PROCESSOS EROSIVOS ... 19 4.2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA OBJETO E APRESENTAÇÃO DE CARTAS TEMÁTICAS ....................................... 34 4.2.1. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ....................................................... 34 4.2.2. CLIMA .............................................................................................. 37 4.2.3. VEGETAÇÃO ................................................................................... 41 4.2.4. HIDROGRAFIA ................................................................................ 41 4.2.5. GEOLOGIA REGIONAL ................................................................. 43 4.2.5.1. UNIDADE TERCIÁRIA-QUATERNÁRIA .......................... 44 4.2.5.2. GRUPO BAURU .................................................................... 44 4.2.6. GEOLOGIA LOCAL ....................................................................... 46 4.2.7. GEOMORFOLOGIA ........................................................................ 48 4.2.7.1. MORFOESCULTURA CHAPADA E PLANALTO DOS GUIMARÃES .......................................... 48 4.2.7.2. CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS NA ÁREA ................... 50 4.2.7.3. ANÁLISE GRANULOMÉTRICA ........................................ 53 65 4.2.8. COMPARTIMENTOS MORFOPEDOLÓGICOS DA ÁREA ......... 55 4.3. COBERTURA PEDOLÓGICA E SUSCETIBILIDADE À EROSÃO ...... 58 4.4. DIAGNÓSTICO, CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DOS PROCESSOS EROSIVOS EXISTENTES EM PRIMAVERA DO LESTE. ..................... 63 4.4.1. ENSAIO DE GRANULOMETRIA DOS MATERIAIS NO TALUDE DA EROSÃO E NO ASSOREAMENTO ........................ 79 4.5. PLANO DE CONTROLE DOS PROCESSOS EROSIVOS EXISTENTES EM PRIMAVERA DO LESTE .............................................. 81 4.5.1. DETERMINAÇÃO DA BACIA DE CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS E DA VAZÃO DE PROJETO ......................... 83 4.5.2. LOCAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS CAIXAS DE INFILTRAÇÃO. ................................................................................ 83 4.5.3. ALTERAÇÃO DO GREIDE DAS RUAS ....................................... 83 4.5.4. SISTEMA DE DRENAGEM AUXILIAR ....................................... 84 4.5.5. IMPLEMENTAÇÃO DAS OBRAS DE ACUMULAÇÃO E CONDUÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS ................................. 84 4.5.6. VAZÕES DE PROJETO ................................................................... 91 4.5.7. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DOS BARRAMENTOS ....... 92 4.5.8. ETAPAS DE CONSTRUÇÃO ......................................................... 94 4.5.9. PLANO DE CONSERVAÇÃO DE OBRAS .................................. 95 CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO .................................................................................. 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 100 ANEXOS: 102 ANEXO 1 – Mapa de Uso e Ocupação ANEXO 2 – Mapa Geológico ANEXO 3 – Descrição de Trincheiras e Análises Granulométricas ANEXO 4 – Mapa Morfopedológico 66 LISTA DE FIGURAS: FIGURA 1 ............................................................................................................. 2 FIGURA 2 ............................................................................................................. 3 FIGURA 3 ............................................................................................................. 24 FIGURA 4 ............................................................................................................. 25 FIGURA 5 ............................................................................................................. 26 FIGURA 6 ............................................................................................................. 27 FIGURA 7 ............................................................................................................. 28 FIGURA 8 ............................................................................................................. 39 FIGURA 9 ............................................................................................................. 39 FIGURA 10 ........................................................................................................... 40 FIGURA 11 ........................................................................................................... 40 FIGURA 12 ........................................................................................................... 41 FIGURA 13 ........................................................................................................... 43 FIGURA 14 ........................................................................................................... 47 FIGURA 15 ........................................................................................................... 53 FIGURA 16 ........................................................................................................... 54 FIGURA 17 ........................................................................................................... 54 FIGURA 18 ........................................................................................................... 59 FIGURA 19 ........................................................................................................... 63 FIGURA 20 ........................................................................................................... 64 FIGURA 21 ........................................................................................................... 64 FIGURA 22 ........................................................................................................... 67 FIGURA 23 ........................................................................................................... 68 FIGURA 24 ........................................................................................................... 69 FIGURA 25 ........................................................................................................... 70 FIGURA 26 ........................................................................................................... 72 67 FIGURA 27 ........................................................................................................... 74 FIGURA 28 ........................................................................................................... 76 FIGURA 29 ........................................................................................................... 78 FIGURA 30 ........................................................................................................... 80 FIGURA 31 ........................................................................................................... 82 FIGURA 32 ........................................................................................................... 85 FIGURA 33 ........................................................................................................... 86 FIGURA 34 ........................................................................................................... 87 FIGURA 35 ........................................................................................................... 88 FIGURA 36 ........................................................................................................... 89 FIGURA 37 ........................................................................................................... 90 LISTA DE TABELAS: TABELA 1 ............................................................................................................. 15 TABELA 2 ............................................................................................................. 15 TABELA 3 ............................................................................................................. 57 TABELA 4 ............................................................................................................. 71 TABELA 5 ............................................................................................................. 73 TABELA 6 ............................................................................................................. 75 TABELA 7 ............................................................................................................. 77 TABELA 8 ............................................................................................................. 78 TABELA 9 ............................................................................................................. 79 V. DIFUSÃO DOS RESULTADOS 103 VI. PUBLICAÇÕES 103 VII. RECURSOS HUMANOS ENVOLVIDOS 104 68 AGRADECIMENTOS À FAPEMAT, que viabilizou o trabalho com o apoio financeiro, e à Prefeitura Municipal de Primavera do Leste pelo apoio logístico, em especial ao Sr. Prefeito Érico Piana e toda sua equipe de secretários, assessores e técnicos. 69 I. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO: • Título: PLANO DE CONTROLE DOS PROCESSOS EROSIVOS EM ESCARPA, NO PERÍMETRO URBANO E PERIURBANO DA CIDADE DE PRIMAVERA DO LESTE, MT. • Área do Conhecimento/CNPq: GEOCIÊNCIAS • Coordenador: Fernando Ximenes de Tavares Salomão II. SITUAÇÃO: RELATÓRIO FINAL Projeto executado com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Mato Grosso – FAPEMAT, através do convênio n° 2.1.02/000034-1998-04, e apoio logístico da Prefeitura Municipal de Primavera do Leste, Estado de Mato Grosso. III. RESUMO A cidade de Primavera do Leste, como ocorre com várias cidades no Brasil, foi vítima das modificações impostas pela ocupação humana sem que o planejamento considere a capacidade de suporte do ambiente. 70 O objeto deste trabalho foi estudar a dinâmica dos processos erosivos atuantes em zona de escarpa na área urbana e periurbana da cidade de Primavera do Leste, estado de Mato Grosso. A abordagem metodológica aplicada fundamentou-se em concepções que buscam inter-relações entre as características do meio físico e o uso e ocupação do solo. Esta abordagem possibilitou a compartimentação da área estudada em cinco unidades morpedológicas. Como produtos dos trabalhos realizados, além de levantamentos do meio físico, é apresentada uma concepção voltada ao controle dos processos erosivos. IV. RESULTADOS E CONCLUSÕES O presente relatório está sendo apresentado em cinco capítulos, sendo que o Capítulo 1 faz uma introdução ao trabalho localizando e justificando a área de estudo; o Capítulo 2 apresenta o objeto da pesquisa; o Capítulo 3 faz uma abordagem quanto aos materiais e métodos utilizados na execução dos trabalhos; o Capítulo 4 apresenta os resultados e o Capítulo 5 as conclusões finais. 71 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Os registros de grandes erosões no Brasil estão diretamente associados ao mau uso do solo, pelo desmatamento descontrolado, seguido de colonização, exploração agrícola do solo, abertura de ferrovias ou rodovias e expansão de áreas urbanas. Entre as razões relacionadas ao mau uso do solo, o desconhecimento da complexidade dos processos erosivos destaca-se como uma das mais importante, merecedoras de pesquisas mais aprofundadas. A bibliografia consultada ressalta sempre a necessidade de pesquisa tanto em nível regional como local, principalmente com relação à mecânica dos processos erosivos Na maior parte dos municípios brasileiros, especialmente aqueles situados em solos arenosos, desenvolvem-se, em maior ou menor proporção, processos de erosão por ravinas e boçorocas, causadas principalmente pela concentração do escoamento superficial de águas pluviais e servidas (SALOMÃO, 1989). Primavera do Leste, em Mato Grosso, enquadra-se nesse contexto. A localização do núcleo urbano de Primavera do Leste nas proximidades da borda do Planalto dos Guimarães, divisor de águas das Bacias do Araguaia-Tocantins e do Prata, deixou-a em situação de risco, uma vez que não há um estudo sobre a estabilidade dos taludes que margeiam esse planalto, desconhecendo-se sua capacidade de resistir às modificações locais, geradas pela urbanização, como por exemplo o desmatamento de suas bordas, a impermeabilização dos solos, os acúmulos de lixo, o escoamento mais intenso e concentrado das águas superficiais, queimadas, trânsito de pessoas e animais, etc. A área objeto do presente trabalho compreende o perímetro urbano e peri-urbano da cidade de Primavera do Leste, assentada sobre um platô que tem nas escarpas ao sul seu limite natural (Figura 1). 72 Figura 1 – Vista aérea da área de estudo, objeto desse trabalho Está localizada no Centro-Oeste do Brasil, Região Sudeste Mato-grossense e a Leste de Cuiabá-MT, tendo como reverência central as coordenadas geográficas de Longitude 54º 17' 41,8" W e Latitude 15º 33' 45" S. Sua Altitude média é de 636 m, e a área municipal é de 5.664 Km2. Está à seguinte distância das principais cidades: Cuiabá a 230 km, Brasília a 900 Km, São Paulo a 1.500 Km, e Goiânia a 700 Km. Como limites municipais tem: ao Norte Paranatinga, Nova Brasilândia e Planalto da Serra, ao sul: Poxoréo, a leste Poxoréo e Santo Antônio do Leste, e a oeste Campo Verde e Poxoréo (Figura 2). Situada em fronteira agrícola, a rápida ocupação territorial do município nas décadas de 80 e 90 foi acompanhada por um intenso desmatamento, gerando grande impacto ambiental que atingiu diretamente o solo e descaracterizau a fauna e a flora local. O solo exposto passou a ser agredido pelas águas pluviais, pelo vento e pelo sol. O uso e a ocupação inadequado do solo, aliado ao desmatamento irracional, em muitos casos com desrespeito aos limites legais estabelecidos pelo Código Ambiental do Estado, propiciou o desencadeamento de processos erosivos. 73 Figura 2 – Localização da cidade de Primavera do Leste. A urbanização, como toda obra que envolve a construção de estruturas pouco permeáveis sobre o solo, faz com que o escoamento das águas superficiais sejam fortemente incrementados em detrimento do processo de infiltração. Essa alteração no ciclo natural das águas que se direcionam para o setor sul da cidade, acabam desencadeando degradação ambiental na borda, escarpa e fundo de vale do platô sobre o qual está assentada a cidade de Primaveral do Leste. As águas concentradas pelas ruas formam enxurradas, que ganham volume e aceleração à medida que se aproximam da borda do platô. Ao descerem as escarpas, recoberta por vegetação de cerrado degradado, com trilhas e cercas formando caminhos preferenciais, as águas passaram a buscar esses caminhos e a desencadear processos erosivos que num momento seguinte geraram a instabilização dos taludes da escarpa. Esta instabilização acabou por gerar escorregamentos que abriram caminho à evolução dos processos erosivos, numa seqüência de solapamentos, colapsos e ravinamentos remontantes, em direção ao setor sul do núcleo urbano da cidade, ameaçando áreas públicas, comunitárias e particulares. Em vários pontos da encosta, ao longo da área de influência da ocupação urbana, podem ser observadas marcas deixadas pela erosão, numa ameaça de novos deslizamentos. O presente relatório sintetiza a pesquisa realizada que compreendeu um diagnóstico dos processos erosivos e uma contribuição com soluções para o seu controle, subsidiando a 74 proposição e aplicação de medidas preventivas e apresentando concepção de obras de contenção dos processos já instalados, beneficiando diretamente a população de Primavera do Leste residente nos bairros afetados pelas erosões, e impedindo a continuidade da degradação ambiental verificada nas cabeceiras de drenagens afluentes do rio Coité, afluente do rio São Francisco. 75 CAPÍTULO 2. OBJETIVOS Fornecer uma base de entendimento sobre os condicionantes dos meios físico, biótico e antrópico, geradores de processos da dinâmica superficial, analisando-os de forma integrada e verificando sua interferência no comportamento hídrico da região, compreendida pelo perímetro urbano e periurbano da cidade de Primavera do Leste, e na cobertura vegetal de áreas de preservação permanente (cabeceiras, bordas de platôs, matas ciliares), de maneira a subsidiar e gerar ações de controle dos processos erosivos, disciplinando o uso do solo. 76 CAPÍTULO 3. MATERIAIS E MÉTODOS Tendo em vista o objetivo do trabalho, foi adotado um roteiro metodológico que permitiu conhecer a dinâmica dos processos erosivos ocorrentes na área objeto, levantando suas causas e conseqüências, além dos condicionantes do meio físico e da forma de ocupação do solo. A partir desse conhecimento foram concebidos o projeto e as obras envolvidas. Essa concepção tem como referência metodológica proposta apresentada pelo DAEE-IPT (1990), que identificam três aspectos principais do meio físico influentes no desenvolvimento dos processos erosivos: - ligados à natureza do solo, envolvendo principalmente as suas características físicas e morfológicas tais como: textura, estrutura e permeabilidade. - ligados à morfologia do terreno, envolvendo principalmente a declividade e comprimento da encosta. - ligados ao clima, envolvendo essencialmente a quantidade de água que atinge a superfície do terreno, causando a renovação do solo através das chuvas. Procurou-se contemplar essas orientações numa seqüência de atividades que serão, apresentadas e agrupadas em 5 (cinco) etapas de trabalho. 1ª Etapa: Pesquisa Bibliográfica, Levantamento de Dados Disponíveis, Elaboração do Mapa Base e Caracterização Geral da Área Objeto O conhecimento dos conceitos e das abordagens metodológicas de estudo, dos processos erosivos só foram possíveis a partir da pesquisa bibliográfica em confronto com informações extraídas no campo. Nessa etapa foram também selecionadas imagens de satélite e fotos aéreas, e extraídas informações sobre a legislação ambiental. Para atender a essa etapa, foram realizadas as seguintes atividades: 77 1. Pesquisa Bibliográfica: envolveu o levantamento de dados disponíveis, dando-se ênfase ao entendimento da dinâmica dos processos erosivos – em particular aos lineares – e à caracterização do meio físico, da cobertura vegetal e do uso e ocupação da área de influência. Para tal, foram realizados levantamentos de dados e informações existentes em publicações científicas, relatórios técnicos, mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite. As bases cartográficas mais importantes para esse trabalho foram a Folha SD-21-Z-D-VI, do DSG, escala 1:100.000 ano de 1976, além do mapa do perímetro urbano da Cidade de Primavera do Leste, escala 1:5000, ano de 1995. Fotografias aéreas utilizadas foram as da USAF, tomadas em 1966 na escala 1:60.000. As imagens de satélite consultadas foram do LANDSAT TM, escala 1:100.000 e 1:250.000, do ano 1997. 2. Levantamento Aero-Fotográfico: este levantamento visou o reconhecimento geral da área de estudo, e foi realizado com a utilização de uma aeronave ultraleve; as fotos foram tomadas a diferentes distâncias e ângulos de enquadramento, utilizando-se da câmera fotográfica NIKON e filme ASA 100. 3. Estabelecimento de Critérios para Definir a Área Objeto e Confecção de Mapa Base: A área objeto foi subdividida em de influência direta e de influência indireta. A de influência direta corresponde à área que forma a bacia de contribuição d’água de cada erosão, incluindo toda sua extensão e área assoreada. A área de influência indireta compreende a área urbana do município de Primavera do Leste na borda do Planalto dos Guimarães, incluindo a escarpa com as várias erosões instaladas, estendendo-se ao sul até o leito do córrego Coité, receptor dos sedimentos e materiais carreados pelas águas pluviais. 4. Caracterização da Área Objeto: de posse do material até então disponível, resultante do levantamento bibliográfico (incluindo mapas, imagens e fotos), foram elaborados mapas temáticos e caracterizados os dados relativos a clima, geologia, pedologia, geomorfologia, vegetação e de uso e ocupação. Esses mapas foram posteriormente checados com trabalhos de campo e complementados. O mapa base envolvendo a área de domínio direto e indireto foi elaborado na escala 1:5.000. Esse mapa teve como bases cartográficas o “Mapa Urbano de Primavera do Leste”, na escala 1:5.000, de propriedade da Prefeitura Municipal de Primavera do Leste, a carta topográfica folha SD-21-Z-D-VI do DSG, escala 1:100.000; fotografias aéreas da USAF, 1966, escala aproximada de 1:60.000. O mapa 78 topográfico de detalhe da Erosão foi elaborado por levantamento topográfico em campo e está apresentado na escala 1:2.000. O município de Primavera do Leste tem uma estação meteorológica; através da análise e da confecção dos gráficos e dados de precipitações, foi possível se avaliar dados climáticos de interesse. A temperatura média e a pluviometria anual da área foi estimada a partir dos dados mensais produzidos pela substação de meteorologia de Primavera do Leste. Os dados geológicos a nível regional foram levantados a partir do projeto "RADAMBRASIL, folha SD-21, Cuiabá, In: Oliveira et all (1982)", e dos levantamentos dos dados geológicos e geofísicos para locação de poços tubulares profundos da SANEMAT (Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso). Os dados sobre geologia local foram produzidos pelo mapeamento geológico realizado para atender as necessidade deste estudo. As informações sobre a densidade populacional da cidade de Primavera do Leste foram obtidas através de anuários estatísticos dos censos das décadas de 1970, 1980 e 1990 do IBGE e da Prefeitura Municipal de Primavera do Leste. Esses dados foram utilizados na estimativa da percentagem da quantidade de águas servidas pelo poder público local. Os dados sobre o uso e a ocupação do meio físico foram coligidos de obras clássicas da históriaa Cuiabana, mapa e imagem de satélite da cidade de Primavera do Leste e, constituíram as informações ppreliminares para a confecção do mapa de uso e ocupação do solo. Os dados de declividade foram obtidos através da análise do mapa topográfico da cidade de Primavera do Leste na escala de 1:5.000, empregando-se o método Debiase (1970), que consiste na elaboração de um ábaco, aplicado às cartas topográficas. A vantagem deste método é a possibilidade de ser aplicado em diferentes escalas. O método usa a relação: d= DN ⋅ 100 DH Onde: d = declividade em porcentagem; 79 DN = eqüidistância vertical - distância da curva de nível em metros; DH = distância horizontal no mapa em metros. 2ª Etapa: Levantamento Topográfico e Identificação das Erosões Objetivou a perfeita caracterização da área de influência direta das erosões, envolvendo serviços de levantamentos planialtimétricos das ruas e das erosões existentes, implantação de referências de níveis, amarração de pontos notáveis para o arruamento da cidade. A execução do levantamento topográfico ficou a cargo de uma equipe especializada constituída de: topógrafo, nivelador e auxiliares, com a utilização de aparelhos de precisão tais como teodolito com precisão angular de 6”, estação total com precisão angular de 10”, trena, balizas e prismas. O levantamento topográfico teve as seguintes fases: − Planejamento e preparação da aparelhagem com base na fixação de estacas ao longo do eixo principal, espaçadas de 20m; dessas estacas foram realizadas alinhamentos perpendiculares até a cabeceira das erosões e/ou início da escarpa; − Levantamento de detalhes topográficos e locais de interesse para o estudo das erosões e desenvolvimento do projeto; − Cálculos topográficos com utilização do programa TOPO EVN 3.0, bem como AUTO CAD 14. Para a precisão do levantamento topográfico foi seguida a NBR 13.133 de maio/1994 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Para o levantamento das seções foram colocados piquetes com distâncias de 20/20m ao longo da borda do platô. Para o levantamento das pequenas erosões utilizou-se o processo de irradiação, em que foram levantadas a borda, e o fundo das erosões; e das erosões maiores, foi levantado o fundo e levantadas seções transversais. 80 Como produto final foram apresentadas plantas com curvas de nível com linhas de eqüidistância de 1 metro, perfis dos talvegues das erosões e delimitação das micro-bacias de drenagem contribuintes para as erosões. 3ª Etapa: Caracterização dos Processos Erosivos e do Depósito de Assoreamento As ocorrências erosivas e depósitos de assoreamento foram identificadas a partir de levantamentos de campo e de análise de fotos aéreas especialmente realizadas por sobrevôo em ultra-leve. Determinou-se, por meio de entrevistas com moradores de bairros próximos às ocorrências erosivas e com técnicos da Prefeitura, a ordem cronológica do surgimento das erosões e informações relativas à origem e evolução. Para o levantamento das ocorrências erosivas, adotou-se ficha de cadastro de erosão proposta pelo DAEE-IPT (1990), adaptada às condições locais e às finalidades da pesquisa. Essa ficha permite distinguir dados geométricos da erosão, dados relativos às características locais do meio físico e da ocupação do solo, histórico e evolução dinâmica do processo erosivo, e medidas adotadas de controle. Procurou-se também mapear o depósito de assoreamento associado às ocorrências erosivas, delimitando-o e levantando seu o volume aproximado, com auxílio de trado manual. Executou-se sondagem à trado numa malha de furos espaçados de 30 em 30 metros, na diagonal menor, e de 50 em 50 metros na diagonal maior. Amostras do sedimento de assoreamento foram coletadas e enviadas ao laboratório para ensaios de granulometria, limites de liquidez, plasticidade e densidade real. Esses ensaios foram realizados seguindo as seguintes normas: a) Limite de Liquidez – DNER ME-122/94: é o ensaio que determina o teor de umidade do solo entre os estados líquido e plástico, esta porcentagem de água é fixada aos 25 golpes no aparelho de Casagrande na ranhura aberta pelo cinzel na concha onde se coloca o solo para golpeá-lo; b) Limite de Plasticidade – DNER 082/94: é o ensaio que determina o ponto de passagem do solo no estado plástico para o estado semi-sólido através da média aritmética dos teores de umidade do solo quando começam a aparecer ranhuras no mesmo quando rolam nas placas de acrílico, perdendo umidade; 81 c) O Ensaio de Granulometria segue a NBR 7181/1982 (peneiramento e sedimentação), compõe-se das frações de solos na ordem decrescente de tamanho das malhas das peneiras e os percentuais de peso de cada uma delas bem como a sedimentação se pela pela fração de solo que desce mais rápido dentro do sistema fluido após ser defloculado; d) O Ensaio de Densidade Real, serve para ajudar na classificação HRB e na compactação dos solos; é feito no vacuômetro e após a pesagem são aplicados na equação de massa específica = peso do solo / volume do recipiente, segue a especificação DNER-DPT M 93-64. Foram também coletadas amostras representativas dos taludes da erosão causadora do depósito de assoreamento, e também ensaiadas em laboratório, com ensaios similares aos realizados no material de assoreamento.A coleta de amostras obedeceu a seguinte ordem: 1 – Cabeceira da erosão no trecho em escarpa; 2 – Trecho do fundo do vale – plano do fundo da boçoroca; 3 – Trecho de afloramento rochoso. As amostras foram coletadas nos lados direito e esquerdo para confirmar ou não a semelhança das propriedades geotécnicas do materiais constituintes da erosão. Das seções escolhidas, foram coletadas amostras deformadas, através de sacos plásticos, para a realização dos ensaios de caracterização. Os ensaios de caracterização consistiram na determinação da umidade natural (wnat), limite de liquidez (LL) e de plasticidade (LP), granulometria com defloculante (solução de hexametafosfato de sódio) e a densidade dos grãos. As amostras indeformadas tentam conservar ao máximo as características do solo em seu estado natural, ou seja, elas procuram ser retiradas de modo que em ensaios de laboratório, possam representar a estrutura dos grãos e a umidade natural do solo “in situ”. Segundo LIMA (1979), quando dizemos que coletamos uma amostra indeformada em um certo local, na verdade não coletamos, pois com a técnica atual de amostragem não pode-se obter uma amostra que seja considerada ao pé da letra como indeformada. Ao extrairmos uma amostra estaremos utilizando uma ferramenta que alterará as tensões que o 82 solo estava submetido e, durante a extração da amostra no laboratório, a mesma sofrerá variações de esforços. Devido à distância da cidade de Primavera do Leste, em relação a nossa entidade, a falta de equipamentos (amostradores) e ao local de retirada das amostras que era de difícil acesso, coletamos amostras “indeformadas” em número suficiente para a realização dos ensaios, utilizando tubos de PVC com 100 mm de diâmetro e 25 cm de comprimento cravado e armazenado da seguinte maneira: • Limpeza e nivelamento do local de retirada das amostras; • Manipulação cuidadosa do tubo, evitando impactos e vibrações; • Parafinamento dos lados abertos do tubo, após extraída e arrasada as amostras e; • Transportada e conservada em caixas de madeira com serragem para evitar a perda de umidade. A partir do levantamento da geometria da erosão, envolvendo o comprimento, largura e profundidade média, determinou-se o volume do material erodido. Esses dados permitiram analisar a procedência do material assoreado, comprovando-se sua relação com as ocorrências erosivas, bem como a avaliação das conseqüências de degradação ambiental do rio Coité, situado nos limites inferiores do depósito de assoreamento e das áreas rurais. 4ª Etapa: Concepção dos Projetos e Obras Constaram dessa etapa estudos geotécnicos, hidrológicos e de dimensionamento das estruturas hidráulicas, a partir de definição da alternativa técnica mais adequada às condições locais. Duas alternativas foram analisadas: uma baseada na construção de canais receptores das águas provenientes da bacia de contribuição, conduzindo-as, com energia controlada, até o rio Coité, situado à jusante da linha da escarpa; a outra alternativa baseia-se no armazenamento das águas provenientes da bacia de contribuição em uma secessão de barragens intercomunicadas e canal de segurança com lançamento d’água numa cabeceira 83 do rio Coité. A segunda alternativa foi considerada mais viável, especialmente em termos econômicos, a partir de estimativas de custos realizados. A seguir, serão resumidamente apresentadas as técnicas e procedimentos realizados para os estudos geotécnicos, hidrológicos e de dimensionamento das estruturas hidráulicas, envolvidas pela alternativa técnica considerada mais viável. • Estudos Geotécnicos Os ensaios de Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade que nos pode fornecer IP (Índice de Plasticidade) um elemento importante na caracterização do solo bem como a curva granulométrica que foi construída por peneiramento e sedimentação, analisados as frações dos solos na classificação HRB, para interpretação do uso do mesmo como material de construção civil, visto que o solo é objeto de aplicação do desenvolvimento do projeto, as características de permeabilidade, porosidade e estrutural devem ser analisadas para posterior utilização no projeto. Foi realizado ainda o ensaio de Permeabilidade do Solo para medir sua capacidade de filtração e necessidade de utilizar ou não solos de jazidas para não por em risco os serviços executados na borda da escarpa. Foram feitos ainda os ensaios de Proctor Normal para determinação densidade x umidade na compactação tendo em vista o controle tecnológico das camadas de solo quando forem extraídas da densidade natural e aplicadas como aterros ou maciços terrosos na alteração do terreno natural. • Estudos Hidrológicos Os estudos hidrológicos em qualquer obra de drenagem urbana tem por objetivo o dimensionamento das galerias, bueiros e canais destinados a rápida remoção dos volumes de água de origem pluvial que causam enormes transtornos, tais como a erosão. A metodologia, nesses casos comumente tem recaído na determinação de uma vazão de projeto associada a uma probabilidade de ocorrência de chuva pré-estabelecida. Os métodos estatísticos de obtenção de vazões e que utilizam séries históricas de vazão observada, procedimento comum em bacias naturais, não podem ser aplicados a bacias urbanas, não só pela escassez de dados como também pela sua heterogeneidade estatística (DAEE-IPT, 1990). 84 Os métodos indiretos se constituem numa alternativa viável, atribuindo-se um tempo de recorrência para a determinação da chuva e determinando-se a correspondente vazão de enchente. Os métodos mais simples que buscam a transformação de chuva crítica em vazão de projeto, normalmente consideram toda bacia como uma única unidade homogênea, quanto as suas características físicas, e a precipitação constante e uniforme sobre toda a área. Por essa razão, entre outras, conduzem a resultados imprecisos e em geral superestimados. São recomendados apenas para bacias pequenas e onde os objetivos e/ou as limitações não permitam o emprego de técnica mais refinada. • Determinação da Vazão de Projeto Para o cálculo das vazões de dimensionamento das estruturas de drenagem foi utilizado o Método Racional. A simplicidade de sua aplicação e a facilidade de conhecimento e controle dos elementos da equação, tornam-no de uso bastante difundido no estudo de cheias em pequenas bacias hidrográficas. O Método Racional para a estimativa do pico de cheia resume-se fundamentalmente no emprego da chamada “fórmula racional”, apresentada a seguir: Q= C.I . A 36 Onde: Q - Vazão superficial, em m/s C - Coeficiente de escoamento I - Intensidade de chuva para uma duração igual ao tempo de concentração, em cm/ hora A - Área a ser drenada, em ha Define-se o coeficiente de escoamento pela relação: C= Quantidade de Água Superficial Quantidade de Chuva Os valores do coeficiente de escoamento são padronizados e definidos em função da tipologia da área urbanizada, conforme mostra a Tabela 1. 85 Tabela 1 – Valores para o coeficiente de Runoff, para uso no método racional, segundo MICHELIN, 1975. Áreas Urbanas Coeficiente de Runoff (C)* Zona residencial mais ou menos plana com cerca de 30% de área impermeável. 0,40 Zona residencial mais ou menos plana com cerca de 60% de área impermeável. 0,55 Zona residencial moderadamente íngreme com cerca de 50% de área impermeável. 0,65 Área construída moderadamente íngreme com cerca de 70% de área impermeável. 0,80 Zona comercial com cerca de 90% de área impermeável 0,80 * Para taludes suaves ou solo permeável, use os valores mais baixos, para taludes íngremes ou solo impermeável, use os valores mais altos. Os dados da intensidade de chuva para as localidades do Brasil podem ser traçadas com os dados da tabela seguinte: Tabela 2 – Intensidade de chuva para diversas localidades do Brasil, em cm/h, segundo MICHELIN, 1975. Local Anos Cuiabá/MT • Duração da Precipitação em Minutos 5 15 30 60 120 5 19,9 12,4 8,6 5,3 3,3 10 21,8 13,7 9,5 6,0 3,7 25 24,6 15,6 10,9 6,9 4,4 Estudo de Dimensionamento das Estruturas Hidráulicas Esses estudos envolveram as estruturas em canal, em barragens, tubulação de descarga, vertedouros e extravasadores. • Método Utilizado para o Dimensionamento do Canal Usou-se a fórmula de Manning, para estipular a vazão: 2 1 A . R 3 . io 2 Q= n onde: 86 R= A P Q = descarga em m3/s n = coeficiente de rugosidade A = área em m2 R = raio hidráulico P = perímetro molhado ou comprimento, em metros, da linha de contato entre a água que flui e a valeta. io = declividade do leito do canal em m/m • Método Utilizado para o Dimensionamento das Barragens As barragens foram dimensionadas quanto a sua capacidade de armazenamento de água, sendo seus volumes suficientes para armazenarem 30% a mais que o volume de projeto, para um período de retorno de 10 anos. Os passos utilizados no dimensionamento das barragens foram definida a bacia de contribuição transformar a área impermeabilizada m² em vazão escoada (m³/s) para distribuirmos esta vazão de maneira mais racional possível: determina-se a área mais segura para construção do barramento e dilui-se a área de contribuição para determinar a altura dos diques • Método Utilizado no Dimensionamento da Tubulação de Descarga Quanto a tubulação, foram adotadas seções mínimas, condição de armazenar volume superior ao de descarga da bacia hidrográfica. A tubulação tem a finalidade de escoamento do lago formado pela barragem fica a 0,5 m do fundo da barragem será confeccionado em tubo de dreno para fins de segurança por ser próximo à área urbana. • Método Utilizado para o Dimensionamento dos Vertedouros Dimensionou-se estas estruturas com a capacidade de verter a vazão à montante a fim de assegurar as estruturas de terra; esta condição é válida para as quatro barragens iniciais, pois é possível armazenar todo o volume de escoamento superficial. 87 As barragens foram concebidas com vertedor por razão de segurança. Para a determinação das seções foi adotado: Q = 1,71 . L . H 3 2 onde: Q = vazão em m3/s L = largura do vertedor, em metros H = carga, em metro Os vertedouros serão tipo “calha” ou seção trapezoidal com paredes armadas e fundo em concreto, com bacia de amortecimento na cota de fundo da barragem a jusante, deve ser construído o mais próximo do terreno natural, com engaste na entrada e saída do vertedouro. • Método Utilizado no Dimensionamento dos Extravasores Para determinação das seções da tubulação, usamos a fórmula a seguir: Q = Cd . A . 2 . g . H onde: Cd = coeficiente de velocidade A = área útil do tubo em m2 g = aceleração da gravidade, em m/s2 H = carga inicial disponível em metro 5ª Etapa: Elaboração do Plano de Obras e Manutenção Na implantação das obras é que as diretrizes de projetos devem ganhar seu maior detalhe, adaptando-se a obra projetada às condições locais no momento da construção. A implantação pode mostrar a necessidade de pequenos ajustes, adaptações e complementações que se tornam evidentes com as operações de construção. Tais possibilidades, longe de serem um imprevisto, devem ser avaliadas antes da implantação das obras, realizando-se investigações de campo necessárias. No planejamento da 88 implantação das obras deve-se ter o cuidado de prever o início e término dos trabalhos para a época do ano em que ocorrem chuvas intensas. Dessa forma evita-se que precipitações pluviométricas de grande intensidade venham a atingir as obras parcialmente implantadas, o que deveria levar a sua total destruição e a necessidade de uma revisão completa do projeto. A conservação das obras isoladamente e em seu conjunto pede inspeções técnicas periódicas e, por vezes, monitoramento específico, como através de piezômetros para avaliar a eficiência de drenos e filtros. Como os colapsos de estrutura, em sua maioria, têm origem em causas que somam e multiplicam seus efeitos destruidores, as manifestações iniciais de quaisquer destas causas permite intervenções corretivas que previnam desdobramento. Assim, desde a evidente necessidade de limpeza e desobstrução de tubos e canais, remoção ou conformação de massas de solo escorregadas, reconstrução parcial de partes destruídas, o surgimento de trincas em canais revestidos e tubulações, pedem reparos, desde o rejuntamento, para impedir infiltração, até eventual reforço e preenchimento de vazios na fundação. Solapamento na base de escadas, tubos dissipadores podem necessitar de pronta instalações de filtros e drenos, que impeçam a erosão. A natureza das obras de conservação inclui operações simples, possíveis de serem executadas por técnicos e mão de obra locais, e portanto de custo reduzido cuja adoção como prática rotineira prolongará a vida ,útil das obras e consolidará a participação e zelo da população local. O plano de obras e manutenção foi feito de forma ortodoxa, prevendo-se inicialmente os serviços de infra-estrutura com acompanhamento topográfico das etapas em desenvolvimento; para o controle tecnológico do uso do solo, como material de construção, recomendou-se cuidados necessários com a geometria da terraplanagem realizada, bem como com a qualidade do solo utilizado; quanto aos trabalhos de terraplagem recomendou-se seu desenvolvimento de montante para jusante, como forma de controlar as cotas de fundo e topo dos maciços terrosos. Procurou-se minimizar as escavações mecânicas utilizando-se o solo do interior das bacias no corpo do aterro. Para os trabalhos em concreto recomendou-se obedecer a geometria dos vertedouros, bem como o controle tecnológico da resistência das peças. Para a escavação dos vertedouros recomendou-se seu início após a compactação dos maciços. Finalmente, recomendou-se para toda área fora dos tanques a revegetação 89 com leivas que melhor se adaptem à região, principalmente nas áreas que tenham sido utilizadas como empréstimos fora da escarpa. Com base nesses cuidados, elaborou-se um plano de obras e de manutenção que podem subsidiar a Prefeitura Municipal de Primavera do Leste, otimizando a implantação das obras, e garantindo sua conservação. 90 CAPÍTULO 4 RESULTADOS 4.1. CONCEITOS E CONDICIONANTES DOS PROCESSOS EROSIVOS O processo erosivo por água de chuva inicia com o impacto da gota de chuva sobre o solo desprotegido do revestimento vegetal, sendo complementada pela ação do escoamento superficial (DAEE-IPT, 1990). A ação de remoção de uma partícula da superfície é função não apenas das forças hidrodinâmicas sobre ela exercidas, mas também de uma série de outros fatores (forma, tamanho, saliência sobre o fundo e das relações de contato com outras partículas vizinhas); existe uma força crítica de tração, bem como uma velocidade crítica do fluxo para que a partícula se movimente, BIGARELLA e MAZUCHOWSKI (1985). SEIXAS (1984), define erosão como um processo de desagregação do solo e arrastamento acelerado de seus componentes, causado pela ação da água e dos ventos. Neste fenômeno se constata a interveniência de forças ativas, como as chuvas, as ondas, o vento, a topografia, e de fatores resistentes, a exemplo da vegetação e outros correlacionados com as propriedades físico-químicas do solo. A erosão ocorre devido a não proteção do solo, fator este que também deixa o solo mais suscetível à erosão. Segundo ELLISON (1947), apud VILAR & PRANDINI (1976), a erosão é definida como um processo de desprendimento e transporte das partículas sólidas do solo pelos agentes erosivos. Nessa linha de raciocínio, FOSTER (1982) considera a erosão como um aspecto do desenvolvimento da paisagem, envolvendo o fracionamento físico, transporte e deposição de partículas do solo, sendo o fracionamento físico a decomposição das partículas do solo, a partir da massa original, através de agentes erosivos tais como vento e água e o transporte, o deslocamento de sedimentos de seu local de origem. Segundo BARBOSA (1996), a energia cinética de uma gota isolada de chuva quando bate na superfície do solo, é igual ao semi-produto da sua massa pelo quadrado da 91 sua velocidade. A velocidade de uma gota em queda, inicialmente aumenta até que uma condição de equilíbrio entre o peso da gota e a resistência, imposta pelo ar, é estabelecida quando então, a gota adquire uma velocidade constante ou velocidade terminal. Desde que a massa da gota é proporcional ao cubo de seu diâmetro e, sua velocidade terminal aumenta com o diâmetro, a energia de uma gota isolada aumenta rapidamente à proporção que suas dimensões aumentam. A limitada evidência disponível indica, segundo LINSLEY et al (1949), apud LOPES (1984) que o tamanho médio da gota aumenta apenas ligeiramente com a intensidade da chuva. O efeito dessa variação entretanto, juntamente com a massa total da chuva acrescida, aumenta a potência erosiva da chuva relativamente mais rápido que sua intensidade. A energia de uma gota de chuva pode ser calculada de maneira direta se seu tamanho e velocidade são conhecidos. Entretanto, o cálculo da energia total das gotas de chuvas que caem numa determinada área não é tão simples, mesmo que a massa total de chuva fosse conhecida. Nessas circunstâncias, alguma energia é dissipada antes da água atingir o solo, desde que algumas gotas sejam interceptadas pela vegetação, formações rochosas, resíduos vegetais e outros obstáculos, que são fatores altamente variados no tempo e no espaço. Em adição a variabilidade desses fatores, uma comparação entre temporais idênticos deve considerar variações na direção e velocidade dos ventos. Por exemplo, a quantidade de chuva interceptada por culturas em fileiras é muito maior quando o vento sopra transversalmente às fileiras que quando sopra paralelo a elas. Também, uma alta cobertura vegetal livre, interceptará muito menos chuva quando as gotas estiverem caindo verticalmente do que quando um vento propulsor forçar a chuva cair num ângulo menor. Se a cobertura vegetal for extremamente densa, as variações no vento, tamanho das gotas e velocidade terminal, serão insignificantes, e a energia seria essencialmente dissipada antes que a água atinja o solo (LOPES, 1984). Segundo FOSTER (1982), a remoção e transporte das partículas sólidas do solo são efetuadas por quatro mecanismos: a) desprendimento pelo impacto das gotas de chuva; b) transporte pelo impacto das gotas de chuvas; c) desprendimento pelo escoamento superficial e d) transporte pelo escoamento superficial. Em geral, esses mecanismos dependem de três fatores: a) a energia dos agentes erosivos (chuvas e escoamento superficial); b) a erodibilidade do solo ou sua suscetibilidade à erosão e c) a influência da cobertura vegetal de proteção. O primeiro desses fatores reflete a potencialidade erosiva do 92 processo, enquanto os dois últimos refletem a predisposição ou resistência imposta pelo solo através das suas condições físico-químicas, à energia potencial dos agentes erosivos. As partículas do solo desprendidas pelo impacto das gotas de chuva têm no escoamento superficial o principal veículo de transporte, capaz de levar os produtos da erosão a grandes distâncias de suas fontes de origem. Além disso, o fluxo superficial pode possuir energia suficiente para quebrar os agregados naturais do solo e produzir erosão. A potência erosiva do escoamento superficial aumenta principalmente com a turbulência do movimento do fluido (BARBOSA, 1996). O escoamento superficial tem origem fundamentalmente nas precipitações. Parte da água das chuvas é interceptada pela vegetação e outros obstáculos, de onde se evapora posteriormente. Do volume que atinge a superfície do solo, parte é retido em depressões logo que a intensidade da precipitação supere a capacidade de infiltração do solo e os espaços nas superfícies retentoras tenham sido preenchidos. Prescindindo a água evaporada, o estado de permeabilidade e a condição de umidade do solo, regulam em todo momento, a repartição entre a água que se infiltra e a que escoa ou é retida superficialmente nos terrenos. A formação do escoamento superficial portanto, dependerá, do regime das precipitações e das características hidrológicas do solo (BARBOSA, 1996). A ação do escoamento superficial no processo erosivo se manifesta em duplo aspecto: desagrega as partículas do solo e, ao mesmo tempo, transporta essas partículas para outros lugares. A ocorrência desse duplo aspecto, logicamente, está condicionada a uma série de fatores relativos às características do escoamento; tamanho e forma das partículas sólidas susceptíveis ao transporte; declividade dos terrenos; condições e natureza da cobertura vegetal, etc (BARBOSA, 1996). No início do escoamento superficial, forma-se uma película laminar que aumenta de espessura à medida que a precipitação prossegue, até atingir um estado de equilíbrio; dependendo de determinadas condições do solo, clima e intensidade da chuva, o fluxo superficial torna-se turbulento. As rugosidades ou asperezas da superfície do terreno causam pequenas ondulações no fluxo, que ao atingir certa velocidade, dão lugar à formação de turbulências que tendem a aumentar com a concentração do fluxo ao longo das declividades. Essa turbulência desenvolve forças ascensionais no fluxo, pondo em suspensão, e são assim transportadas pelo fluxo. As partículas menos leves permanecem por algum tempo em suspensão, enquanto as forças ascensionais as mantiverem assim, e se depositam quando estas forças diminuem, permanecendo algum tempo na superfície do 93 solo, sendo transportadas por arrasto, até que novos movimentos turbulentos do fluxo as ponham novamente em suspensão. Por último, as partículas mais grossas e mais pesadas permanecem na superfície, deslizando ou rolando sobre o terreno sob o efeito da força atrativa exercida pelo fluxo. No transporte feito pelas águas, observa-se que as partículas menores (argilas) são levadas em solução; as partículas médias (silte e areia fina) são transportadas em suspensão e as partículas mais grossas (areias grossas, seixos, cascalhos) são empurradas ou roladas. Há, neste tipo de transporte pela água, seleção do material, sendo que o material mais grosso, ao ser movimentado ao nível do terreno, provoca a desagregação de outros materiais (BARBOSA, 1996). Quando a carga de sedimentos provenientes de uma enxurrada excede sua capacidade de carregamento, verifica-se a última fase do processo erosivo: a sedimentação, ou assoreamento. O assoreamento constitui um dos mais graves impactos da erosão no meio ambiente, desequilibrando as condições hidráulicas, promovendo enchentes, perdas de capacidade de armazenamento d’água, o incremento de poluentes químicos, e gerando prejuízos para o abastecimento e produção de energia (SALOMÃO, 1985). Isto se verifica quando o agente de transporte perde a sua força (diminui a velocidade ou o volume) ou então porque encontra um obstáculo que o faça mudar, ao menos parcialmente, de direção, ou que lhe divida o volume (caso a água), ou que lhe diminua a velocidade, ou ainda, que se coloque à frente do material transportado retardando o seu movimento ou mesmo forçando a sua parada (DAEE-IPT, 1990). Assim por exemplo, a enxurrada trazendo partículas grossas, arrastadas ao nível do solo, partículas médias em suspensão e finas em solução, as partículas grossas param tão logo encontrem um obstáculo (uma pedra, um toco, uma árvore deitada, uma “moita”de capim ou cana), ou então quando o declive se suaviza (se torna menor) no final do lançante, ou, ainda, se por alguma razão, a água for dividida (dispersada); as partículas finas vão a grandes distâncias sendo, muitas vezes, transportadas aos cursos d’água, lagos, mares e oceanos. Quanto maior o tamanho das partículas, mais rapidamente ela assenta; quanto maior a velocidade da água, mais demorado é o assentamento; a argila só assentará com a água parada, liberando-se da água com a evaporação desta (LOPES, 1984). A deposição é um mecanismo seletivo, onde as partículas mais grossas são 94 sedimentadas primeiro, favorecendo a perda das partículas mais finas, importantes na retenção de umidade e nutrientes (FRERE et al, 1980). Assim, quanto à erosão pluvial, conclui-se a importância de dois tipos de energia: a) a energia cinética, que promove o impacto das gotas de chuva sobre o solo e b) a energia hídrica que escorre na superfície, em função das condições do terreno, transportando partículas do solo. Portanto, para a minimização dos efeitos causadores da erosão, deve-se alertar para o adequado sistema de drenagem e disciplinamento de água de superfície, de maneira a garantir que o sistema de drenagem permita o escoamento da água de forma harmoniosa para uma bacia de dissipação. O impacto da erosão nos recursos hídricos, que se manifesta através do assoreamento, trazem como uma de suas conseqüências uma maior freqüência e intensidade de enchentes danosas e também alterações ecológicas que afetam fauna e flora (DAEE-IPT, 1990). Outra conseqüência nefasta é a perda de capacidade de armazenamento d’água de reservatórios assoreados, que geram sérios problemas de abastecimento. Estes problemas exigem obras de regularização e desassoreamento, ou seja, mais investimentos do poder público. Diferentes tipos de erosão podem ser classificados segundo o agente causador. A chuva e o vento são os principais agentes de erosão em solos dos trópicos, enquanto o gelo é o principal agente erosivo nas latitudes norte e nas regiões montanhosas. Diferentes tipos de erosão são fundamentadas no principal agente envolvido e são mostradas a seguir na Figura 3: 95 Quanto à Origem Geológica ou natural Acelerada Glacial Eólica Geológica ou natural Acelerada Tipos de Erosão Pluvial Quanto ao Agente Hídrica Por Impacto Por Arrastamento Fluvial Laminar Sulcos Boçorocas Ação de Ondas Figura 3 – Tipos de Erosão, segundo SEIXAS (1984) Tendo em vista a erosão causada por água de chuva (erosão pluvial), que será tratada nesta dissertação de mestrado. Considerando a existência dos seguintes tipos: erosão por embate, erosão laminar, erosão em sulcos, erosão em ravinas, boçorocas e erosão interna. A erosão por embate, decorre da energia de impacto das gotas de chuva de encontro ao solo, que além de desintegrar parcialmente os agregados naturais, libertam as partículas finas, projetando-as no ar. Este tipo de erosão apresenta maiores magnitudes no intervalo de tempo decorrido entre o início da precipitação e a formação do escoamento superficial, para uma dada localização, e, tende a diminuir seu efeito a proporção que aumenta a profundidade da lâmina d’água que escoa ou é retida superficialmente (DAEE-IPT, 1990). Quando os filetes de água, escorrem encosta abaixo, podem seguir lavando a superfície do terreno como um todo, sem formar canais definidos, ou então podem se juntar cada vez mais até formar enxurradas com elevada capacidade de arrancar novas partículas dos solos e de transportar grandes volumes do material solto; é como se uma lâmina d’água lavasse por inteiro o terreno, daí porque a erosão dos solos que ela causa ser conhecida como erosão por escoamento laminar ou, simplesmente erosão laminar (DAEEIPT, 1990). 96 Figura 4 – Erosão em sulcos observados num talude em Primavera do Leste Às águas das chuvas podem se concentrar em determinados pontos, ganhando volume e velocidade, provocando a formação de sulcos (GALETI, 1987). É resultante do intenso desgaste dos solos, sendo verificado em faixas estreitas no sentido da maior declividade do terreno. A gravidade deste tipo de erosão é avaliada pela profundidade dos sulcos e pela freqüência e pequena distância entre eles (DAEE–IPT, 1990). Em geral, sulcos e ravinas são diferenciadas pela profundidade da erosão linear. Ambas apresentam forma de canal, originada pelo escoamento concentrado pelas águas superficiais. A erosão em sulcos tem profundidade relativamente pequena, não ultrapassando segundo DAEE-IPT (1990), a 0,50 m, enquanto que ravina tem profundidade superior, sendo portanto considerado como um estágio mais avançado da erosão linear por escoamento superficial. Embora em sentido amplo possa-se considerar as ravinas profundas como boçorocas, na realidade estes dois termos devem ser diferenciados, pois cada uma apresenta características próprias (VIEIRA, 1978). Enquanto o ravinamento se processa em função apenas da erosão superficial, com a linha de água apresentando grandes declives, canais mais profundos estreitos e longos, a boçoroca forma-se devido 97 tanto à erosão superficial e sub-superficial nalargando-se e aprofundando-se até atingir o Figura 5 – Erosão em ravina observada no Município de Primavera do Leste seu equilíbrio dinâmico. Conforme GALETI (1987), boçoroca ou boçoroca são sulcos de grandes proporções abertos no solo pelas enxurradas, enquanto que o DAEE-IPT (1990), considera como um estágio mais avançado e complexo de erosão, cujo poder destrutivo local é superior ao das outras formas e, portanto, de mais difícil contenção. Na boçoroca atuam, além da erosão superficial como nas demais formas erosivas, outros processos, condicionados pela ação erosiva do escoamento subterrâneo das águas. A presença do lençol freático, interceptado pela erosão, induz o aparecimento de surgências d’água (minação d’água no fundo da erosão). Esse fluxo d’água do fundo e das paredes da erosão pode ter uma continuidade para o interior do terreno, carreando material em profundidade, formando vazios no interior do solo. Em sentido amplo a boçoroca é palco de diversos fenômenos: a erosão superficial, a erosão interna, solapamentos e descalçamentos, desabamentos e escorregamentos, que se conjugam no sentido de dotar esta forma de erosão de elevado poder destrutivo. Este poder destrutivo se manifesta de maneira flagrante nas grandes dimensões desta forma de erosão (até dezenas de metros de largura e profundidade, com várias centenas de metros de comprimento) e nas grandes velocidades 98 de avanço, através da rápida evolução de seus ramos ativos que atingem edificações, estradas e obras públicas (DAEE–IPT, 1990). Figura 6 – Erosão em Boçoroca observada no Município de Primavera do Leste A erosão interna é conhecida por “piping” – segundo AZEVEDO (1999), é um tipo de ruptura hidráulica causada pelas forças de percolação quando há coesão do solo que ocorre nos locais de descarga do solo em que o gradiente atinja o valor crítico; partículas de solos podem ser arrastadas permitindo a abertura de pequenos orifícios pelos quais os fluxos passam a se concentrar promovendo o carreamento do material, criando assim uma pequena cavidade. Quando os vazios criados no interior do solo tornam-se significativos, podem dar origem a colapsos do terreno, com desabamentos que alargam a boçoroca ou criam novos ramos. Associa-se também aos processos de erosão interna os desabamentos e solapamentos da base das paredes da boçoroca que provocam desmoronamentos ou escorregamentos de solos. 99 Figura 7 – Evidências do fenômeno de “piping” observada em erosão em Primavera do Leste Os fenômenos associados à formação das erosões são comandados por condicionantes naturais e antrópicos. Os fatores naturais da erosão relacionam-se às características intrínsecas do local, destacando-se o regime pluviométrico, a cobertura vegetal, as declividades dos terrenos, os tipos de solos e a natureza do substrato rochoso. Por outro lado, os fatores antrópicos são representados pelo desmatamento e formas de uso e ocupação do solo, tais como agricultura, obras civis, áreas urbanizadas, etc, que deflagram o processo erosivo, imediatamente, ou após um certo intervalo de tempo (FENDRICH, 1997). Assim, a erosão antrópica se deve à ocupação do território, iniciada pelo desmatamento e seguida pelo cultivo das terras, implantação de estradas, criação e expansão de vilas e cidades, sobretudo quando efetuada de modo inadequado, constituindo o fator decisivo da aceleração dos processos erosivos. A ocupação do território, iniciada com o desmatamento, propicia a imediata concentração das águas através de cercas, caminhos, ruas, drenagens, galerias e até mesmo de esgotos. Quando os lançamentos de água não são feitos de forma adequada, a elevada 100 energia das águas assim concentradas, provoca uma ação erosiva extremamente intensa, cujo resultado é a abertura de grandes ravinas e mesmo boçorocas (DAEE–IPT, 1990). Deflagrados pela ocupação do solo, os processos erosivos passam a ser comandados por diversos fatores naturais relacionados às características da chuva, do relevo, do solo e da cobertura vegetal. A chuva é o elemento do clima mais importante no processo da erosão. Atua numa primeira fase bombardeando o solo através das suas gotas d’água . As gotas d’água chocam-se contra as partículas do solo ou da rocha friável, desagregando-as. Numa segunda fase, as gotas vão se juntando formando as enxurradas que se movimentam lançante abaixo. À medida que descem se avolumam e aumentam a velocidade (GALETI, 1987). Desta forma, as partículas liberadas do terreno são removidas e depositadas na própria vertente ou no fundo de vales. Assim, a intensidade erosiva depende da distribuição da chuva, mais ou menos regular, no tempo e no espaço, e da sua intensidade. Chuvas torrenciais ou pancadas de chuvas intensas, como trombas d’água, durante o período chuvoso, constituem a forma mais agressiva de impacto da água no solo. Durante estes eventos a aceleração da erosão é máxima. É nestas ocasiões que ravinas e boçorocas ativas avançam de maneira extremamente rápida, criando, muitas vezes, situações emergenciais nas periferias das cidades, atingindo edificações ou interrompendo estradas (DAEE-IPT, 1990). A cobertura vegetal, natural ou determinada pelo tipo de cultura agrícola, propicia uma certa proteção aos terrenos. Essa proteção se dá pela redução do impacto direto das gotas de chuva no solo, interceptadas pela folhagem, e pela redução do escoamento superficial, diminuindo a capacidade de as águas removerem e transportarem partículas do solo (IWASA, 1980). Quanto mais revestido ou coberto o solo menor a erosão. Existem plantas que além de revestir totalmente o solo, ainda, através de suas raízes, “amarram” as partículas terrosas, como as gramas , por exemplo. Existem vegetações que segundo GALETI (1987), protegem o solo em três níveis: - Amortecem a queda das folhas ao nível da copada (galhos, folhas, etc); - Amortece a queda das gotas ao nível do solo e dificulta o encaminhamento da água; - “Amarram” a terra, dificultando o seu arrastamento e forçando a infiltração da água, através das raízes. 101 O relevo é um fator natural que determina também as velocidades dos processos erosivos. Maiores velocidades de erosão podem ser mais esperadas em relevos acidentados, como morros, do que em relevos suaves, como colinas amplas, pois declividades mais acentuadas favorecem a concentração e maiores velocidades de escoamento das águas, aumentando sua capacidade erosiva. A declividade tem tanto maior importância quanto maior for o trecho percorrido pela água que escoa, ou seja, quando maior for o comprimento da encosta. Por isso, a influência do relevo na erosão é analisada pela ponderação de dois fatores: declividade e comprimento da encosta (DAEE-IPT, 1990). GALETI (1987) destaca os seguintes aspectos influentes do relevo: a) A erosão é menor nos terrenos mais planos e cresce a medida que aumenta o declive; b) A erosão é maior quanto mais longo o lançante (encosta, rampa); c) A regularidade do lançante influi, sobretudo na velocidade da água, em um lançante regular, há um aumento constante e progressivo na velocidade da enxurrada e consequentemente maior erosão. O tipo de solo determina a suscetibilidade dos terrenos à erosão pela erodibilidade, ou seja, a menor ou maior facilidade dos solos serem erodidos, fixados os demais fatores. Solos mais arenosos, por exemplo, se desagregam mais facilmente que os solos argilosos, ou seja, a textura dos solos é uma das características que condiciona a erosão. Além da textura, uma série de outras características do solo condiciona a sua erodibilidade: estrutura, composição, espessura, relação textural entre os horizontes ou camadas (DAEEIPT, 1990). Assim, o solo identificado e classificado, com base nesse conjunto de características, sintetiza seu comportamento frente à erosão. Por outro lado, o solo como descrito anteriormente, é uma camada viva, ou seja, nasce, desenvolve- se, transforma-se sob as condições de clima, relevo e vegetação, a partir das rochas (substrato geológico). Portanto, o tipo de solo tende também a representar os fatores extrínsecos da erosão: clima, topografia e cobertura vegetal. Compreende-se portanto, a importância do tipo solo no estudo da erosão, como conjunto de características que o representam (fatores intrínsecos): textura, composição, estrutura, espessura, etc, intimamente relacionados aos fatores extrínsecos da erosão: clima, relevo, vegetação, e substrato geológico (DAEE-IPT, 1990). 102 As características litológicas do substrato rochoso, associadas à intensidade do intemperismo físico e químico, condicionam a suscetibilidade do material ao fenômeno erosivo. As principais áreas de ocorrência de boçorocas urbanas e rurais estão associadas a coberturas de materiais arenosos derivadas de rochas areníticas de formações sedimentares. Em áreas de rochas pré-cambianas, as ravinas e boçorocas estão, geralmente, associadas a natureza e constituição dos solos de alteração de rochas xistosas e graníticas, que, quando apresentam textura arenosa e micácea são bastante porosas, permeáveis e friáveis, favorecendo o desenvolvimento do intenso processo erosivo (IWASA e FENDRICH, 1999). Não se pode também, desprezar a influência proporcionada pela estruturação das formações geológicas que condiciona o fluxo d’água e sua concentração, podendo, desta maneira intensificar a ação erosiva. A constituição do substrato rochoso é fator decisivo também no funcionamento do lençol freático, condicionando a percolação e o armazenamento das águas subterrâneas (CUTRIM, 1999; SALOMÃO, 1999). O solo constitui o fator de maior importância no processo erosivo, e é através dele que se determina a suscetibilidade dos terrenos à erosão (erodibilidade). Segundo o DAEE/IPT (1990), uma série de características do solo condiciona a sua erodibilidade, tais como: textura, estrutura, composição, espessura e a relação textural entre os horizontes ou camadas, sendo que o conjunto destas características definem o tipo de solo. As propriedades físicas do solo, segundo SALOMÃO (1993), exercem diferentes influências na erosão, ao conferir maior ou menor resistência à ação das águas. Ainda segundo SALOMÃO (1993), essas propriedades são as seguintes: a) Textura O tamanho das partículas influi na capacidade de infiltração e de absorção da água de chuva, interferindo na força das águas e em relação a maior ou menor coesão entre as partículas. Portanto, os solos com textura arenosa, possuem maior facilidade de infiltração das águas de chuva, o que dificulta o aparecimento de escoamentos superficiais; entretanto, como possuem baixa proporção de partículas argilosas, que atuam como uma ligação entre 103 as maiores partículas, este tipo de solo se desagregam mais facilmente que os solos argilosos; b) Estrutura A estrutura, ou seja, o modo como se arranjam as partículas do solo, influi a capacidade de infiltração e absorção da água da chuva, e na capacidade de arraste de partículas do solo. Solos com estrutura micro-agregada apresentam alta porcentagem de poros, favorecendo assim, a infiltração das águas de chuva; apresentam também agregação entre as partículas, aumentando a resistência do solo ao arraste pela ação das águas. c) Permeabilidade “A permeabilidade determina a maior ou menor capacidade de infiltração das águas de chuva, estando diretamente relacionada com a porosidade do solo. Em geral, solos arenosos são mais permeáveis que solos argilosos, por serem mais porosos. Entretanto, em alguns casos, dependendo da estruturação, solos argilosos podem-se apresentar altamente porosos e até mais permeáveis que certos solos arenosos”. d) Densidade A densidade do solo, relação entre a sua massa e volume, é inversamente proporcional a porosidade e permeabilidade do solo. Quando se compacta um solo, há uma redução dos vazios existentes entre as partículas desse solo e, observa-se então, um aumento da densidade do mesmo. Em função disto, o solo torna-se mais erodível. e) Propriedades Químicas, Biológicas e Mineralógicas Essas propriedades do solo influem no estado de agregação entre as partículas, aumentando ou diminuindo a resistência do solo a erosão. Solos com características latossólicas são quimicamente pobres em bases (Na, Ca, Mg) e ricos em sesquióxidos de ferro e alumínio, tendendo em geral a se estruturarem por microagregação ou em estrutura maciça; estas formas de organização estrutural dão ao solo alta porosidade entre partículas. Por outro lado, solos com alto conteúdo em bases tendem, em geral, a estrutural poliédricas (prismáticas ou em blocos), apresentando pequena porosidade entre partículas, e menor permeabilidade em relação aos latossolos. 104 A matéria orgânica presente no solo faz com que as partículas tenham maior agregação e coesão entre elas, fazendo com que o solo se torne mais estável na presença de água e com maior poder de retenção da mesma. Segundo SALOMÃO (1993), a gradiência textural, relação entre os teores de areia e argilas, entre os horizontes superiores do solo é uma das características pedalógicas mais importantes em relação ao seu comportamento erosivo. Solos com alta gradiência textural apresentam horizonte A bem mais arenoso que o horizonte B, subjacente. Assim, por exemplo, solos do tipo podzólicos são, em geral, mais suscetíveis à erosão que os do tipo latossólico, por apresentarem, logo abaixo do horizonte A (superior), um horizonte com maior concentração de argilas que representa uma certa barreira à infiltração das águas. Como conseqüência, há uma saturação do horizonte superior, o que favorece ao desenvolvimento de enxurradas. Segundo JUNIOR & FILHO (1998), o desenvolvimento de enxurradas são menos freqüentes em solos mais profundos, sendo, portanto, menos erodíveis. Porém em casos de chuvas prolongadas, é possível que haja a saturação de grande parcela dos horizontes desse solo. Possibilitando assim, que nos locais onde possuem escoamento concentrado, possa ter o desenvolvimento de grandes erosões. 105 4.2 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA OBJETO E APRESENTAÇÃO DE CARTAS TEMÁTICAS 4.2.1. Uso e Ocupação do Solo Conta-se que o morador identificado como mais antigo da região, onde hoje se assenta a cidade de Primavera do Leste, foi Dona Joana, que faleceu em 1955. O Dr. Sabino Arias, médico da cidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, foi o grande pioneiro quanto ao início das atividades de exploração econômica da agricultura e da pecuária, adquirindo 10.000 hectares de terras em 1955. Em 1961, quando o Sr. João Basílio, lá chegou vindo da Bahia, o lugar era conhecido como Cabeceira da Velha Joana, e no entroncamento existia uma pensão que pertenceu ao Sr. Sebastião Nobre Dourado, que mais tarde vendeu para o Sr. José Euripes Pereira. Este em 12.01.1975 vendeu a pensão para o Sr. Adivino Castelli, que construiu o chamado Hotel Estrelado. Na segunda metade da década de 70 e início da década de 80, imigrantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás e São Paulo passaram a adquirir terras a baixo custo na região do cerrado mato-grossense e, incentivados por programas especiais do governo federal (Pró-Terra e Polo-Centro), passaram a formar grandes áreas com plantações, principalmente de soja. À margem da BR-070, no então município de Poxoréo, surge um pequeno núcleo inicialmente denominado "Entroncamento da 070" ou “Entroncamento da Bela Vista das Placas”. A partir de 1970 a expressão “Integração Nacional” toma vulto e os empresários de todo o Brasil mobilizam grandes somas de recursos para a abertura e implantação de projetos na Amazônia Legal. Em meados de 1970 os Srs. Paulo Cosentino e José Guilherme e sua esposa, Dona Nenê, fixaram residência às margens do Rio Combuco. Foram pioneiros e deram início ao Projeto da Agropecuária Primavera D’Oeste, juntamente com o Engº. Paulo Cosentino Filho e Dr. José Abílio Silveira Cosentino. Em 1971, um grupo de empresários paulistas chegam a BR 070 e dão início a um projeto agropecuário pela SUDAM. Com um corpo técnico incorporando tecnologia 106 moderna, assenta-se o Projeto da Fazenda Primavera, surgindo assim a empresa Primavera D’Oeste S.A.. Começa nesse período o intercâmbio maior entre Paranatinga, Poxoréo e Rondonópolis. Viabiliza-se a atividade agropecuária empresarial dos cerrados da região. Estradas foram abertas e ficou demonstrado que o cerrado realmente era a grande opção para a agricultura brasileira. Surge então uma nova fronteira agrícola, com um futuro promissor para a região e para o país. Em 1978, convicto do projeto que estava fazendo, o empresário Edgard Cosentino, na época administrador da Fazenda Primavera D’Oeste S.A., destacou uma área de 205 hectares denominando-a de Lote Santo Antônio, desmembrada da Fazenda Nova Esperança. Lote este que foi o marco inicial do Projeto “LOTEAMENTO CIDADE PRIMAVERA”, em homenagem a Fazenda que administrava. Em 09 de maio de 1978, o empresário Edgard enviou uma carta ao Poder Executivo de Poxoréo, onde solicitava permissão para implantar um núcleo urbano no entroncamento da BR 070.Em 26 de maio de 1978, a Câmara Municipal de Poxoréo aprovou e autorizou, por unanimidade de votos, a criação do núcleo urbano. Em 26 de setembro de 1979 o empreendimento foi oficialmente implantado. Em 1979 iniciou-se a abertura das ruas e a instalação da rede elétrica. A energia era fornecida por um motor gerador, e em 1981, apesar de ainda ser através de gerador, a energia passa a ser fornecida pela CEMAT. No dia 12 de julho de 1983, Primavera do Leste teve a instalação da agência do Banco Itaú S.A., sendo a primeira agência Bancária a se instalar no município. Em 1983 foi fundada a Sociedade Recreativa Aquática e Beneficente Primavera, com piscina e clube. Em 1984, é inaugurado o Cartório de Registro Civil que teve como primeiro juiz de paz o Sr. Hilário Fracalossi e como escrivão o Sr. Orciole Alves Barbosa. Em 1984 é autorizado, pela prefeitura de Poxoréo, o loteamento Parque Castelândia. Para vender os imóveis, o Sr Adivino Castelli abre a Imobiliária Castelândia Ltda. No dia 12 de dezembro de 1984, o Banco Bamerindus do Brasil S.A., instalou-se em Primavera do Leste. 107 Nessa época, vislumbrando um futuro promissor, uniram-se as forças representativas e lideranças do Distrito e, em 24 de agosto de 1984, criou-se a Comissão Pró-Emancipação do distrito, composta por vinte e seis pessoas que escolheram por unanimidade, Darnes Egydio Cerutti para presidi-la. Como primeira sugestão, a comissão acatou o nome de Primavera D’Oeste, para o novo município pleiteado, nome este rejeitado pela Comissão de Emancipação da Assembléia Legislativa Estadual, pois o mesmo estava incorreto geograficamente em relação a localização no estado. Em vista disto, no dia 27 de junho de 1985 , por maioria simples, definiu-se que o novo Município deveria chamar-se Primavera do Leste, sendo de imediato rejeitadas as demais sugestões como Nova Primavera e ou Alto Primavera. Cumpridas todas as demais formalidades legais, burocráticas e políticas que a questão exigia, para felicidade geral da Comissão, de desbravadores e pioneiros, o sonho tornou-se uma realidade. No plebiscito realizado no dia 21 de abril de 1986, de 1.142 eleitores, compareceram 741 eleitores, sendo que 704 votaram à favor da criação do Município de Primavera do Leste. Em 13 de maio de 1986, o Governador do Estado de Mato Grosso, assinou a Lei estadual n°. 5.014, que outorgava ao distrito, a categoria de Município de Primavera do Leste. Com aproximadamente 16 anos de fundação e com população, segundo dados do IBGE (2000), de 39.807 habitantes (sendo 36.491 residentes na zona urbana e 3.316 na zona rural), Primavera do Leste é hoje uma das cidades mato-grossenses de maior taxa de crescimento, figurando entre as primeiras em produção econômica do estado. Conta com uma Densidade Demográfica de 7,27 Hab/Km², Taxa de Urbanização de 60%, PIB/ 1998 de R$ 432.781.188,00 e Renda Per Capta/ 1998 de R$ 15.851,63. O município de Primavera do Leste tem como atividades básicas a agricultura e a pecuária. Os quadros abaixo mostram os resultados da safra 2001/2002 em Primavera do Leste e na chamada Grande Primavera, que engloba os município de Paranatinga, Poxoréo, Novo São Joaquim,General Carneiro, Campo Verde (Parte), Dom Aquino e Santo Antonio do Leste. 108 PRIMAVERA DO LESTE CULTURA ÁREA (HA) SOJA 220.000 +20% 3.120 686.400 MILHO-1ª 4.000 -60% 6.600 26.400 ARROZ 4.000 - 50% 2.400 9.600 FEIJÃO 5.000 +60% 2.700 13.500 20.000 - 3.800 76.000 7.000 - 2.400 16.800 21.000 +40% 2.400 50.400 44 - ALGODÃO SORGO *MILHO-2ª UVA INCREMENTO PROD.(KG/HA) 23.000 PROD. (TON) 1.012 * MILHO SAFRINHA GRANDE PRIMAVERA CULTURA ÁREA (HA) SOJA INCREMENTO PROD.(KG/HA) PROD. (TON) 210.000 +7% 3.120 655.200 4.500 -50% 6.600 29.700 ARROZ 25.000 +60% 2.400 60.000 ALGODÃO 40.000 - 3.800 152.000 8.000 - 2.400 19.200 35.000 +25% 2.400 84.000 MILHO-1ª SORGO *MILHO-2ª * MILHO SAFRINHA Como o objetivo das informações de uso e ocupação do solo é auxiliar o estudo da alteração do comportamento de fluxo natural da água de superfície da área em estudo, foi elaborado um mapa de uso e ocupação (Anexo 1). Este mapa destaca as seguintes formas de ocupação: • Zona de Fazendas: área rural do município de Primavera do Leste na qual é observado o uso principalmente com o plantio extensivo de culturas de soja, algodão, milho e arroz. • Zona de Chácaras: áreas onde são encontrados remanescentes da vegetação original, e que com o advento do Plano Diretor estão impedidas de ser loteadas. • Área Urbana: área de ocupação urbana com o uso disciplinado pelo Plano Diretor da cidade. 109 • Distrito Industrial: área reservado à ocupação industrial com o uso regulado por lei municipal. 4.2.2. Clima O clima a região enquadra-se, pelas suas características, na categoria de Tropical Quente, que se estende por quase toda a área de cerrados, envolvendo, quer por terrenos de topografia semiplana ou acidentada, quer as chapadas sedimentares (NIMER, 1989). Sua característica mais marcante é a freqüência quase que diária de temperaturas altas, em sues meses mais quentes (setembro a outubro). São freqüentes máximas diárias superiores a 38°C, alcançando, às vezes, valores superiores a 40°C (Figura 8). No inverno sempre há mudanças bruscas de temperatura, sendo que as mínimas diárias costumam descer a níveis muito baixos, destacando-se, nestes casos, as chapadas. Sob estas condições atmosféricas a temperatura costuma cair para baixo de 10°C durante a madrugada, mas em nenhum mês a média térmica é inferior18°C (Figura 9). Neste período, que vai de junho a agosto, faz com que a umidade relativa do ar varie muito com as épocas do ano, apresentando uma média em torno de 74%. Este tipo de clima apresenta dois períodos relativametne definidos, sendo o seco, que vai de abril a agosto e algumas vezes até setembro, e o outro úmido, com chuvas abundantes, que vai de outubro/novembro a março. Na estação úmida verifica-se uma precipitação pluviométrica em torno de 1500 – 2700 mm. A passagem para a estação seca é quase brusca, revelando-se por uma elevação de temperatura e escassez rápida das chuvas. Ainda segundo NIMER (op.cit.), nas áreas de cerrado, se por um lado as águas das chuvas se perdem rápida e parcialmente pela intensa infiltração em seus solos arenosos (sobretudo nos Latossolos), por outro lado, a grande capacidade de seus solos em armazena-las, permite uma notável recompensa, ao devolver à superfície parte dessa, justamente nos meses de maior carência de chuvas. A área de estudo apresente uma temperatura média anual máxima de 32°C e mínima de 14°C (Figura 10) e sua precipitação pluviométrica de 1520 a 2051 mm/ano, variando de 0,3 mm a 502 mm (Figuras 11 e 12) como média mensal. Inverno seco de maio a agosto. 110 Figura 8 – Média da Temperatura máxima de 1996 a 1999 da cidade de Primavera do Leste Figura 9 – Média da Temperatura mínima de 1996 a 1999 da cidade de Primavera do Leste 111 Figura 10 – Média anual de 1996 a 1999 da Temperatura Máxima e Mínima de Primavera do Leste Figura 11 – Pluviometria mensal de 1996 a 1999 da cidade de Primavera do Leste. 112 Figura 12 – Média anual da precipitação pluviométrica da cidade de Primavera do Leste. 4.2.3. Vegetação A cobertura vegetal do município de Primavera do Leste apresenta-se bastante variada, podendo-se observar os seguintes tipos florísticos: cerrados e suas variações, matas ciliares e de galeria. Atualmente, a vegetação primária, na porção do terço superior da bacia do rio das Mortes, está restrita a poucos remanescentes representados pelo cerrado, savana arbórea aberta (AMARAL et. al., 1982), recobrindo as vertentes onde se desenvolvem solos Latossólicos de textura média e Areias Quartizosas. O cerrado é do tipo vegetal predominante, aparecendo ora ralo, ora denso em função do tipo de solo. Nas áreas ainda preservadas o cerrado se adensa, formando uma vegetação compacta com árvores de médio porte. As palmeiras existentes podem ser bastante apreciadas como o bacuri, que aparece nas partes topograficamente altas e os buritis, nas áreas mais baixas e úmidas. 113 As matas ciliares e de galerias, que se alongam pelos seus cursos de água ainda presente ajudam a caracterizar a vegetação da região. Contudo, esses tipos florísticos, tendem a mudar cada vez mais o seu aspecto devido aos intensos desmatamentos que tem sido feitos, principalmente para o uso agrícola. 4.2.4. Hidrografia O município de Primavera do Leste encontra-se no divisor de águas de três grandes bacias: Bacia do Prata, Bacia do Araguaia-Tocantins e Bacia Amazônica. Entre os principais cursos de água que drenam a região mais próxima à cidade de Primavera do Leste, está o rio das Mortes que recebe afluentes das duas margens da Unidade Chapada dos Guimarães. Entre estes, destacam-se os rios Cumbuco, Sangradourozinho e os ribeirões do Sapé, dos Perdidos, Chico Nunes, Capim Branco e outros (Figura 13). O caráter de divisor de águas entre os rios tributários do Amazonas e Tocantins é aqui bastante peculiar. Inúmeros cursos de água nascem na borda desta chapada, ou mesmo em seu topo, tomando direções variadas. O rio das Mortes, com direção leste, drena toda a superfície da Chapada dos Guimarães e é tributário do rio Araguaia. Já o rio Culuene, cujas nascentes se encontram na extremidade norte da chapada, assume direção nordeste sendo tributário do rio Xingu. Na escarpa norte da chapada encontra-se inúmeras nascentes como o rio Pacu, São Manuel, e de muitos outros córregos, todos com direção norte e pertencentes à bacia do rio Teles Pires. Na extremidade noroeste estão as nascentes dos rios do Cavala, Roncador, Finca-Faca, Casca, Quilombo e outros, que pertencem à bacia do rio Cuiabá, enquanto os rios São Lourenço e Poxoréo, que tem suas nascentes na escarpa sul desta chapada, são tributários do rio Paraguai. 114 Figura 13 – Mapa hidrológico regional do município de Primavera do Leste. 4.2.5. Geologia Regional O conhecimento da geologia é importante na compreensão da classe e distribuição espacial dos solos da região e do comportamento das águas subterrâneas. Tendo em vista os objetivos dessa pesquisa, o conhecimento da geologia possibilitou a melhor compreensão da distribuição dos solos e do comportamento da movimentação das águas subterrâneas, importante no entendimento da dinâmica dos processos erosivos. 115 Na região predominam os sedimentos da Unidade Terciária-Quaternária e do Grupo Bauru, que serão a seguir descritos. 4.2.5.1. UNIDADE TERCIÁRIA-QUATERNÁRIA Coube a OLIVEIRA & MUHLMANN (1965), a citação pioneira a esta unidade sedimentar, denominado-a informalmente de Unidade C, atribuindo-lhe uma idade Cretácea superior ou Terciária, baseados nas posições estratigráficas no município de Chapada dos Guimarães. Esta unidade é constituída por sedimentos de cor avermelhada, ricos em concreções ferruginosas, com camadas de argilas coloridas e areias inconsolidadas, com espessuras que variam, em média de 10 a 60 metros, ocorrendo em níveis~ topográficos elevados e médios~ formando-se chapadões, com drenagem de baixa freqüência. Estes sedimentos inconsolidados provavelmente são areno-argilosos preservados em uma superfície de aplainamento em clima semi-árido durante uma fase estável do Terciário GONÇAL VES & SCHNEIDER (1970). BARROS et al (1982), ao concluírem o relatório final da Folha SD.21 Cuiabá, na porção norte, onde está situada a região Chapada dos Parecis, enquadram esta superfície aplainada no Terciário-Quatemário como uma unidade edafoestratigráfica. A cobertura recobre discordantemente quase todas as unidades litoestratigráfica, como as Formações Fumas, Ponta Grossa, Aquidauana, Botucatu, Bauru, o Grupo Cuiabá e o Granito São Vicente. 4.2.5.2. GRUPO BAURU O termo Bauru deve-se a GONZAGA DE CAMPOS (1905) In: BARROS et al (1982), que utilizou para descrever os grés na região de Bauru no Estado de São Paulo. Mas o termo Bauru teve generalizada aceitação por renomados autores, como MAACK (1946), MUHLMANN et al (1965, 1974), OLIVATTI et al (1976) In: BARROS et al (op. cit) e WESKA (1987 e 1993). É fácil verificar que foram atribuídas diferentes categorias à referida unidade litoestratigráfica como: Grés, Arenito, Série, Formação e Grupo Bauru. 116 OLIVATTI & RIBEIRO FILHO (1976), no trabalho denominado de Projeto Centro-Oeste de Mato Grosso, Alto Guaporé e Serra Azul, consideram a Formação Bauru de acordo com a definição proposta por OLIVEIRA & MUHLMANN (1965). A mesma seria constituída de arenitos róseos avermelhados e calcários arenosos. No topo deste pacote ocorrem arenitos rosados silicificados, e nos blocos altos "horst", contemporâneo à sedimentação. Segundo BARROS et al (1982), a Formação Bauru é constituída nas porções superiores por arenitos róseos, médios e grosseiros, localmente silicificados, calcíferos, mal classificados, com grânulos e seixos esparsos. São encontrados níveis ou lentes de conglomerados, com matriz argilosa avermelhada, gera1mente si1icificados. Essa formação também apresenta níveis de silexitos e presença de conglomerado basal com seixos de basalto . Os contatos com as unidades inferiores são dados por marcantes superfícies discordantes, erosivas, consolidados por espessos conglomerados basais sobre as Formações Serra Geral, Botucatu, Palermo, Aquidauana e Ponta Grossa. A sedimentação é de origem continental fluvial, com contribuições lacustres associadas, sob várias condições climáticas~ que se tomam mais áridas à medida que se sobe no pacote sedimentar . A topografia da região é geralmente ondu1ada e monótona, com extensos chapadões arenosos. A vegetação nativa, quando encontrada, é do tipo cerrado ralo e savana, com solos arenosos espessos. WESKA (1987), foi o primeiro a empregar a hierarquia do Grupo Bauru no Estado de Mato Grosso, e o subdividiu informalmente em três unidades faciológicas, sendo denominadas: Fáceis Quilombinho (inferior), Fácies Cachoeira do Bom Jardim (intermediária) e Fáceis Cambambe (superior). A Fácies Quilombinho (inferior), é formada por rochas vulcanoclásticas, lamitos, conglomerados e arenitos que representam depósitos intermediários de leques aluvionais, a Fácies Cachoeira do Bom Jardim (intermediária) é caracterizada como seqüência clasto química (carbonatada), grossa e fina que representa depósitos intermediários de leques e a Fácies Cambambe (superior), é descrita como um conjunto clasto-químicas (silicosa) preferencialmente finas e com características de depósitos distais de leques aluviais. 117 4.2.6. Geologia Local A cidade de Primavera do Leste está situada nas proximidades da Borda do Platô do Planalto dos Guimarães e sobre colinas amplas e suaves. Geologicamente se caracteriza por localizar-se sobre uma camada de cobertura Detrito-Laterítica constituída por sedimentos ricos em concreções ferruginosas, com níveis de argilas coloridas e areias inconsolidadas. A topografia se restringe a variações mínimas de cota, predominando os amplos e planos interfluvios, interrompidos por cursos d'água de vales em U muito abertos. Outro aspecto típico é a ausência quase completa de afloramentos . No perfil geológico elaborado a partir dos dados de poços perfurados na sede municipal mais os perfis de caminhamento na cidade e adjacências é possível identificar arenitos amarelados, médio-grosseiro, argiloso, estratificação espessa e material conglomerático; e argilito cinza, esverdeado com grãos de areia esparsos e estratificação incipiente ( Figura 14 ). Portanto, esses elementos se enquadram dentro da citação de GONÇALVES & SCHNEIDER (1970), em relatório interno da PETROBRÁS, como Formação Cachoeirinha. Esses autores afirmam que esta formação é constituída por sedimentos inconsolidados, areno-argilosos, de cor vermelha, parcialmente laterizados, apresentando uma espessura que vai de 20 a 80 metros, ocorrendo nos níveis topográficos mais elevados, formando extensos chapadões e assentando discordantemente sobre os sedimentos do Grupo Bauru. Para BARROS et al (1982), a Cobertura Detrito-Laterítica possui superfície aplainadas constituídas dominantemente por solos argilo-arenosos, cor vermelha, ricos em concreções ferruginosas. Esta cobertura distribui-se nas partes mais elevadas sobre a Chapada dos Guimarães com cotas entre 500 a 750 metros modelando superfícies planas, suavemente onduladas com bordas escarpada e sua espessuras média variam de 20 a 50 metros. WESKA et al (1993), situa a Formação Cachoeirinha como cobertura do Grupo Bauru no período Terciário, composta por cascalhos e areias inconsolidadas com matriz areno-argilosa de coloração marrom, e na base a Formação Cambambe constituída por conglomerado petromítico, cíclico com seixos de silexitos e quartzos. O cimento é silicoso, intercalando lentes de siltito argiloso com pelotas de argila. Os sedimentos da Formação Cachoeirinha representam uma das principais fontes de exploração da água subsuperficial da região de Primavera do Leste. 118 Os depósitos aluvionários existentes na área são constituídos por sedimentos arenoargilosos e cascalhos subordinados. A sua ocorrência se dá ao longo do córrego da Velha Joana e do córrego Traíras. No mapa geológico (Anexo 2) ilustra muito bem a ocorrências da Fácies Coité que se dá ao longo dos cursos dos rios e córregos, a Unidade TerciáriaQuatenária Indiviso e a Formação Cachoeirinha. FIGURA 14 - Perfil geológico da perfuração de um poço na cidade de Primavera do Leste à direita, e a esquerda um perfil geológico da região do Grupo Bauru. 119 4.2.7. Geomorfologia 4.2.7.1. MORFOESCULTURA CHAPADA E PLANALTO DOS GUIMARÃES A seguir será apresentada uma síntese do conhecimento existente sobre a geomorfologia. Esta revisão, foi acompanhada de reconhecimentos de campo, interpretação de imagens de satélite e fotografias aéreas, permitiu subsidiar a definição dos compartimentos morfopedológicos. A nível regional à área objeto desta pesquisa, enquadra-se, na unidade morfoescultural Chapada e Planalto dos Guimarães, subdividida em três compartimentos: superior que está posicionado entre as cotas altimétricas de 650-800 metros, correspondente ao topo da chapada dos Guimarães, definida como uma superfície aplainada, elaborada sobre os arenitos do Grupo Bauru, sobrepostos por uma espessa camada de sedimentos detrito-lateríticos, argilosos, de coloração vermelha, correspondendo a coberturas neogênicas; intermediário entre as cotas de 450-550 metros, caracterizado pelas formas amplas, de topos tabulares, com fraca incisão de drenagem e constituído por litologias das formações Furnas e Ponta Grossa; e inferior (planalto do Casca) na porção noroeste da unidade, correspondente a uma área fortemente rebaixada por erosão, posicionada entre as cotas 350 e 600 metros. Embora a área de estudo esteja em posição topográfica da Chapada conforme definida por SANTOS et al (1997), não foi esculturada na mesma condição litológica do nível superior daquela morfoescultura; uma vez que não apresenta sedimentos do Grupo Bauru, porém sim, predomínio de sedimentos da Cobertura Neogênica Detrito Laterítica, devido ao seu posicionamento em situação de borda da bacia sedimentar . A nível regional, a Formação Furnas ocorre em uma estreita faixa de direção noroeste-sudoeste, que começa a oeste da cidade de Chapada dos Guimarães, conformando um relevo cuestiforme, e que tem continuidade para sul, com extensão de aproximadamente 20 km, constituindo a Serra de São Jerônimo. A distribuição da Formação Ponta Grossa na região em apreço, ocorre de forma descontínua, numa faixa relativamente estreita, devido a condições estruturais e erosivas, onde suas exposições estão, na maioria das vezes, recobertas pela Cobertura neogênica Detrito Lateritica BARROS et 81 (1982). 120 Essa unidade foi depositada em condições marinhas transgressivas, de mar raso, na borda oeste, a mais profundo, para leste da bacia do Paraná, em Goiás; sendo basicamente constituída por siltitos e arenitos finos, argilosos, raramente laminados, de coloração marrom-avermelhada, amarelada e marrom-chocolate, micáceos, localmente fossilíferos, e folhelhos micáceos fossilíferos. Está posicionada entre o Devoniano Inferior e o Superior, tendo suporte em sua abundante fauna de trilobitas, braquiópodes e quitinozoários BARROS (op cit). No âmbito da Chapada e Planalto dos Guimarães, a maioria das Formações da Bacia do Paraná é recoberta por sedimentos neogênicos detrito-lateríticos (Tqdl), que difundem-se como a unidade de maior expressão areal, ocupando suas porções mais elevadas. Essa Cobertura Neogênica Detrito Laterítica tem seu posicionamento cronoestratigráfico sugerido pelas evidências morfológicas. Como ela ocorre sobre litologias de diferentes idades., em áreas de topografias plana, sua origem foi associada à uma superfície de erosão, sendo seus sedimentos subjacentes mais novos~ os do Grupo Hauru, de idade Cretácea SOUZA JUNIOR et al (1983). Considerando também, os eventos epirogenéticos e a fase ativa de erosão que aplainaram a região, durante aqueles períodos, a idade de formação destas coberturas foi determinada no Terciário- Quaternário, entretanto; ainda não está totalmente comprovada, por falta de estudos geomorfológicos e pedológicos específicos, que caracterizam uma formação superficial BARROS et al (1982). Na região do Planalto dos Guimarães, BARROS (op cit), alicerçados nas informações de OLIVEIRA et al. (1982), definem três horizontes para esta unidade edafoestratigráfica, a saber: um inferior, onde se caracteriza a presença de areias inconsolidadas, argilas de cores variadas e mosqueadas, concreções limoníticas e produtos de alteração de rochas subjacentes, o médio, constituído por espessos lateritos ferruginosos, concrecionários, com seixos de quartzo; e o superior, onde predomina solo argilo-arenoso, marrom avermelhado com concreções ferruginosas. Esses autores incluíram os sedimentos inconsolidados que GONÇAL VES & SCHNEIDER (1970), denominaram de Formação Cachoeirinha, na Cobertura Detrito Laterítica e, aos arenitos grosseiros, argilitos e níveis de conglomerados inconsolidados, interpretaram como depósitos residuais, que seriam testemunhos em paleovales, de possíveis correntes fluviais em uma fácie de planície de inundação. 121 Os solos que caracterizam essas superfícies, na Chapada dos Guimarães, segundo OLIVEIRA et al (op cit), são predominantemente os Latossolos Vermelho Amarelos e Vermelho Escuros, desenvolvidos a partir dos sedimentos neogênicos detrito-lateríticos, enquanto que as áreas mais dissecadas e seções inferiores dos vales, são constituídas por Areias Quartzosas, produto da pedogênese do Grupo Hauru. 4.2.7.2. CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS NA ÁREA Localmente, predominam nas bordas do Planalto da Chapada dos Guimarães, o Latossolos Vermelho -Amarelos e as Areias Quartzosas, que se relacionam principalmente às coberturas Terciárias desenvolvidas sobre os Arenitos do Grupo Bauru OLIVEIRA (1982). A caracterização pedológica foi baseada em levantamentos de campo, onde as diferentes unidades existentes na área objeto foram identificadas e suas características morfológicas descritas por meio de observação de perfis em cortes de estradas, caminhamentos nos leitos de córregos e rios. Os solos latossólicos envolvem os solos minerais não hidromórficos de seqüência de horizonte A, Bw e C, e apresentam como característica diferencial a ocorrência de horizonte B latossólico, são constituídos essencialmente por minerais altamente intemperizados. A classe textural varia de média a muito argilosa e a drenagem de acentuadamente a moderadamente drenada. Estes solos são de baixa fertilidade natural, fortemente ácidos e apresentam elevados teores de alumínio trocável GUERRA & CUNHA ( 1996 ). Na área estudada foram observados os seguintes solos: ƒ LATOSSOLO VERMELHO -AMARELO -essa classe pedológica envolve os solos minerais hidromórficos, com horizonte B latossólico de coloração vermelha a vermelho -amarelado com matizes da ordem de 2,5 YR a 7,5 YR e teores de Fe2O3 provenientes do ataque sulfúrico iguais ou inferiores a 11% e normalmente acima de 7% quando argilosos ou muito argilosos e não concrecionários, e não apresentam atração magnética GUERRA & CUNHA (1996). Na área estudada foi observada a presença do Latossolo Vermelho-Amarelo com matizes de 7,5YR a 10YR de textura argilosa média, estrutura granular 122 microagregada com grau de desenvolvimento fraca e uma porosidade média com a presença de muitos microporos e permeabilidade média. Esses solos são muito profundos de seqüência A-B de diferenciação suave (DORES, 2000). As características morfológicas observadas em campo dos Latossolos Vermelho Amarelo da região de Primavera do Leste permitem inferir que o funcionamento hídrico por água de chuva apresenta tendência para alta infiltração, tanto nos horizontes superficiais como subsuperficiais, abastecendo o lençol freático, que se encontra a uma profundidade acima de 4 metros. ƒ AREIA QUARTZOSA -nesta classe estão os solos profundos de constituição areno-quartzosa compreendendo, as classes texturais areia e areia franca, coloração amarelada e avermelhada, extremamente pobre em nutrientes e com horizonte A fracamente desenvolvido. Esses solos comumente ocorrem em superfície de topografia plana e suavemente ondulada. Na área em apreço apresentam-se principalmente no compartimento de fundo de vale. ƒ SOLO HIDROMORFICO (SOLO GLEI HUMICO E PLINTICO) - essa classe de solo compreende indivíduos formados por camadas estratificadas, ou não, de natureza arenosa e com lençol freático próximo à superfície. Apresentam, em geral, horizonte superficial pouco desenvolvido embora ocorram em ambientes de drenagem extremamente deficiente, não possuem cores neutras cinzentas devido ao material sedimentar ser de natureza areno-quartzosa e desprovido, quase que completamente, de material argiloso. As características morfológicas estão relacionadas com os domínios de depressões quaternárias e apresentam relevo praticamente plano ou seja esses solos são desenvolvidos em várzeas áreas deprimidas planícies aluvionais locais de terras baixas, vinculadas a excesso d' água, ou mesmo em bordas de chapadas em áreas de surgência de água subterrânea. Devido a circunstância de terem origem em situações de aportes de coluviação ou de aluvionamento e, também, devido ao microrelevo dos terrenos esses solos não apresentam um padrão de distribuição uniforme das características morfológicas e analíticas ao longo de um pefil. Em campo esses tipos de solos ocorrem no compartimento de planície de inundação. O solo glei plíntico se diferencia pela presença de um nível plíntico porém em quantidade bem menor do volume do horizonte gleizado. Esses solos ocorrem em áreas mal drenadas com a presença do lençol freático aflorante e subaflorante. 123 Nesse caso as águas de chuva não se infiltram, constituindo áreas de acúmulo de água. ƒ PLINTOSSOLO CONCRECIONÁRIO - o solo Plíntico geralmente é oriundo de solos onde as imposições intempéricas de diferentes condições morfoclimáticas atuaram ou atuam diretamente sobre eles resultando num material endurecido de cor avermelhada e quando os solos apresentam petroplintita (nódulos e concreções lateríticas) são denominados de Plintossolos Concrecionários ( Pétricos ). Quando a petroplintita se encontra pouco profunda e formando uma camada contínua e espessa (couraça laterítica) as limitações quanto as facilidades de escavações se tomam mais sérias, como também, se constituem em um impedimento natural para a percolação das águas de chuva, portanto nos Plintossolos Concrecionários o comportamento hídrico se caracteriza pelo escoamento essencialmente superficial GUERRA & CUNHA (1996). Na área, estes solos ocorrem no compartimento de Borda de Platô. Foi constatada a presença de Areias Quartzosas, sobrepostas a um horizonte plíntico com a presença de fragmentos de nódulos arredondados e subarrendondados e lamelares em uma superfície degradada sugerindo que já houve a existência de uma couraça laterítica sobre a Formação Cachoeirinha, que é composta por cascalho, seixos de quartzo e uma couraça detrito -laterítica. ƒ SOLO LITÓLICO - esta classe de solos são rasos ou muito rasos, pouco desenvolvidos, com seqüência de horizonte A, C e R ou A e R. Em geral, apresentam horizonte A diretamente sobre o substrato rochoso, embora podem exibir horizonte B incipiente muito pouco espesso acima do material rochoso pouco intemperizado, sobreposto ao substrato rochoso. Normalmente são solos muito pobres e ácidos. Os solos Litólicos apresentam uma grande diversificação morfológica, e geralmente contidos a paisagens mais íngremes, associados a afloramentos de rochas das encostas das serras GUERRA & CUNHA (op. cit). Nas duas toposseqüências realizadas no perímetro periurbano de Primavera do Leste, os solos apresentaram algumas mudanças devido à morfologia do terreno. Na Figura 16A cujo perfil foi realizado no final da avenida Amazonas rumo para a bacia de tratamento de dejetos no topo plano, ocorrem os Latossolos Vermelhos Amarelos, profundo; na encosta, predominam os Litólicos., Plintossolo 124 Concrecionário e os Plintossolos e na baixada, o solo Glei Húmico, com a presença de matéria orgânica, surgências de nascentes, enquanto que, no perfil realizado no Bairro Castelândia na Borda da Escarpa (Figura 16B) no topo plano, ocorrem os Latossolos Vermelho Amarelo; na encosta, predominam os Litólicos e os Concrecionários. Figura 15: Toposseqüência pedológica da cidade de Primavera do Leste-MT. 4.2.7.3. ANÁLISE GRANULOMÉTRICA Foram efetuadas quatro análises granulométricas do solo na área de estudo (Anexo 3). Na figura 16 estão os resultados de cada amostra por classe de diâmetro, observa-se que em todas as amostras a classe predominante foi a de 0,25mm. Na figura 17 mostra a média dessas análises, da qual, a classe de O.25mm contribui com 52.5% de sedimentos, a 125 O.5mm com 29.5%~ de 1mm com 15.5% e a peneira maior que 1mm com 3% de sedimentos. FIGURA 16 - ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DE SOLOS DA CIDADE DE PRIMAVERA DO LESTE. FIGURA 17 - MÉDIA DA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA SOLOS DA CIDADE DE PRIMAVERA 00 LESTE 4.2.8. Compartimentos Morfopedológicos da Área A compartimentação morfopedológica, apresentada no Mapa Morfopedológico da área urbana de Primavera do Leste (Anexo 4), mostra a dinâmica do ambiente, através da análise integrada do meio físico, para o entendimento de suas interações, à partir da interpretação temática preliminar integrada. Para tanto, consideram-se características 126 definidoras como: litologia, morfologia do relevo e solos, com base nas informações dos documentos cartográficos temáticos do Projeto RADAMBRASIL, folha SD-21 Cuiabá, imagem de Satélite, levantamentos de campo à nível de reconhecimento e análises fisicoquímica de solos. Na região foi possível distinguir cinco compartimentos morfopedológicos proporcionalmente homogêneos no que se refere aos fatores do meio físico e circulação hídrica, identificando, portanto, áreas com diferentes suscetibilidades à contaminação do aqüífero livre (Tabela 01), que são a seguir descritos: UNIDADE MORFOPEDOLÓGICA I -FUNDO DE VALE -Na área de estudo esta unidade encontra-se após a escarpa das colinas, que se declinam suavemente formando fundos de vales em forma de U amplos, onde os solo é constituído por solo Glei Húmico e Plíntico sob substrato da Formação Cachoerinha e Cambambe. O comportamento hídrico nessa unidade denota-se que a água da chuva não se infiltra, e o escoamento vertical é quase nulo. O escoamento superficial preponderante alimenta os cursos de água presentes no fundo de vale. Ocorre também um escoamento subsuperficial no contato com o substrato rochoso. Observam-se inúmeras surgências de água. UNIDADE MORFOPEDOLÓGICA II -SETOR DE ALAGAMENTO - Esta unidade é caracterizada por planícies de inundação de alguns rios e córregos, onde os solos são Hidromórfico e Plintossolos. O substrato é constituído por sedimentos da Formação Cachoeirinha e o comportamento hídrico nessa unidade é de pequena infiltração vertical devido apouca profundidade do lençol freático e o acumulo de água. Nitidamente observase a relação dessa unidade com veredas embora estejam antropofisadas. Predominantemente, essa unidade tem capacidade para armazenar um volume de água considerável, o qual supre parte dos cursos d'água superficiais. UNIDADE MORFOPEDOLÓGICA III -VERTENTES DE COLINAS AMPLAS - Esta unidade representa o nível superior da área é caracterizada por superfícies aplainadas, bem conservadas, com topos planos extensos e declividades inferior 5%. Suas vertentes são longas, retilíneas e ligeiramente convexizadas, encontram -se os solos: Latossolo Vermelho Amarelo, Litólico, Plintossolo Concrecionário e Plintossolo sob o substrato da Formação 127 Cachoeirinha. No terço superior com declividades entre 5 a 10%, ocorrem os solos Litólicos gradando a Plintossolos Concrecionários. No terço inferior com declividade superior a 10% ocorre os solos Plintossolos Concrecionários. O comportamento hídrico no topo da área, de abrangência dos Latossolos Vermelho Amarelo, é de infiltração vertical pronunciado, no entanto ocorre também um escoamento subsuperficial em direção ao fundo do vale na altura do contato do horizonte A com o horizonte E. No terço superior Solos Litólicos o escoamento vertical é pequeno com predominância do escoamento superficial e subsuperficial enquanto que no inferior nos solos Plintossolos o escoamento é de superfície e subsuperficial. UNIDADE MORFOPEDOLOGICA IV - BORDA DE PLATO – Esta unidade corresponde a transição da unidade de Vertentes de Colinas Amplas para a Escarpa, onde há predominância de Latossolo Vermelho Amarelo, Solos Litólicos e Plintossolos Concrecionário, sobre substrato da Formação Cachoeirinha. O comportamento hídrico nessa unidade é de infiltração vertical na área de ocorrência do Latossolo Vermelho Amarelo e, também de escoamento subsuperficial. No Solo Litólico e Plintossolo o escoamento é superficial e subsuperficial preponderante. UNIDADE MORFOPEDOLÓGICA V - ESCARPA - Esta unidade situa-se na faixa limítrofe entre o município de Primavera do Leste e o município de Poxoréo, apresenta formas de relevo escarpados, com anfiteatros naturais, com interflúvios largos e alongados, e dimensões variáveis, que apresentam alta declividades geralmente acima de 20%. Estas formas foram esculpidas em litologias da Formação Cachoeirinha sobre sedimentos do topo do Grupo Bauru onde está inserida a Formação Cambambe cujo contato é erosivo e o escarpamento se deu por falhamento. O sistema de drenagem é de pequenas cabeceiras. Apresenta uma infiltração vertical incipiente e escoamento superficial elevado. 128 Tabela 3 - Compartimentos Morfopedológico, Permeabilidade e Risco de Contaminação da cidade de Primavera do Leste COMPARTIMENTO I II III IV V DESCRIÇÃO FUNDO DE VALE - Calhas de rios. Com solo Glei Húmico e PIíntico. Substrato FM Cachoeirinha e Cambambe. Comportamento hídrico:escoamento vertical incipiente e o escoamento superficial preponderante. Presença de inúmeras surgências de água. SETOR DE ALAGAMENTO - Planície de inundação. Solos: Hidromórfico e Plintossolos. Substrato sedimentos da FM Cachoeirinha. Comportamento hídrico é infiltração vertical pequena, lençol freático aflorante. VERTENTES DE COLINAS AMPLAS superfícies aplainadas, topos planos e extensos, declividade inferior 5%, vertentes longas e retilíneas, solos: Latossolo Vermelho Amarelo, Litólico, Plintossolo Concrecionário e Plintossolo. Substrato FM Cachoeirinha. Comportamento hídrico: no topo -infiltração vertical pronunciado, no terço intermediário escoamento vertical pequeno com predominância do superficial e subsuperficial e no terço inferior escoamento é de subsuperfície e subsuperficial BORDA DE PLATÔ - Faixa de Transição da Unidade de Vertentes de Colina Amplas para a Escarpa. Solos: Latossolo Vermelho Amarelo, Litólico e Plintossolo Concrecionário. Substrato sedimentos da FM Cachoeirinha. Comportamento hídrico: no Terço superior é infiltração vertical e subsuperficial e no terço inferior o escoamento é superficial e subsuperficial preponderante. ESCARPA - Relevo escarpado, anfiteatros naturais, interflúvios largos e alongados, declividade superior 20%, solo Litólico e Concrecionário. Substrato sedimentos da FM Cachoeirnha e Cambambe. Comportamento hídrico: infiltração, vertical incipiente e escoamento superficial elevado. PERMEABlLIDADE RISCO CONTAMINAÇÃO MÉDIA ALTA BAIXA ALTA ALTA MÉDIA MÉDIA MÉDIA BAIXA BAIXO 129 4.4.COBERTURA PEDOLÓGICA E SUSCETIBILIDADE À EROSÃO A Figura 18 apresenta a distribuição dos solos na região estudada, conforme interpretação feita por DORES (2000) com modificações. Observa-se que o Latossolo Vermelho Amarelo é o predominante, recobrindo a maior parte das colinas da Chapada, vindo a seguir os Plintossolos que ocupam os fundos dos vales e porções inferiores das vertentes de colinas; nas porções limitadas pela frente da escarpa nota-se o domínio de solos rasos a pouco profundos constituídos por Plintossolos Pétricos e Neossolos Litólico, e no sopé da escarpa, margeando o córrego Coité, o domínio de Neossolos Quartzarênicos e Plintossolos Argilívicos. O Latossolo Vermelho Amarelo caracterizou-se por apresentar horizonte B com características latossólicas com matizes 2,5YR a 7,5YR. Segundo DORES (2000), a área estudada apresenta Latossolo Vermelho Amarelo com matizes 7,5YR e 10YR, de textura argilosa e média, cujas características morfológicas descritas em trincheiras, são apresentadas no Anexo III. Os Latossolos dominam toda a vertente das colinas desde o topo até a porção mais inferior, quando tornam-se mais amarelados. Somente no fundo dos vales é que se nota a passagem dos Latossolos para Plintossolos Háplicos e Gleissolos Háplicos. Os Latossolos são relativamente profundos, de textura argilosa quando se situam em amplas áreas aplainadas do topo das colinas, tornando-se menos argilosos, de textura média nas porções intermediárias e inferiores das vertentes. São solos muito porosos e permeáveis (DORES, 2000), mesmo quando de textura argilosa, facilitando a infiltração das águas de chuva e condicionando a formação de lençol freático somente em profundidades relativamente elevadas, nas proximidades do substrato rochoso. Nesse caso, as águas de chuva apresentam dificuldades para o escoamento superficial e sub-superficial tornando esses solos pouco erodíveis. Evidências de processos erosivos somente foram observados sobre esses solos quando a ocupação antrópica conduziu à concentração acentuada das águas pluviais, especialmente pelos arruamentos que se dirigem vertentes abaixo, como as ocorrências erosivas estudados nesta dissertação de mestrado, provenientes de águas de chuva dirigidas à escarpa por ruas do bairro Castelândia. Plintossolo Pétrico Latossolo Vermelho, Amarelo Distrófico Neossolo Quartzarênico Gleissolos Háplicos 130 Figura 18 – Mapa de Solos da Área Estudada 131 Os Plintossolos caracterizam-se pela presença de horizonte plíntico ou litoplíntico começando dentro de 40 cm, ou dentro de 200 cm quando imediatamente abaixo do horizonte A ou E, ou subjacente ao horizonte que apresentar coloração pálida ou variegada, ou mosqueados em quantidade abundante (> 25% por volume), EMBRAPA, (1999). Dentro dessa conceituação mais atualizada ocorrem na área estudada três tipos de Plintossolos, reconhecidos com base em observações de campo: Plintossolos Pétricos, Plintossolos Háplicos associados a Gleissolos Háplicos, e Plintossolos Argilúvicos associados a Neossolos Quartzânicos, no sopé da escarpa. Os Plintossolos Pétricos ocorrem na borda da Chapada e ao longo da escarpa. Na escarpa esses solos são acompanhados por afloramentos rochosos. São solos com horizonte litoplíntico, contínuo ou praticamente contínuo, com 10cm ou mais de espessura ou 50% ou mais de petroplintita formando uma camada com espessura mínima de 15cm, dentro de 40cm da superfície do solo ou imediatamente abaixo do horizonte A ou E. Os plintossolos Háplicos ocorrem em fundo de vales das colinas da Chapada, e em planícies de inundação de alguns cursos d’água de afluentes do rio das Mortes. É um tipo de Plintossolo que não se enquadra nas categorias de Plintossolos Pétricos e de Plintossolos Argilúvicos. Os Plintossolos Argilúvicos, foram observados a jusante da escarpa, margeando o córrego do Coité. Tem como característica marcante a presença de um horizonte B textural coincidindo com horizonte Plíntico. Observações de campo por meio de tradagens permitiram constatar a presença de um horizonte superficial arenoso (horizonte A e E) e horizonte subsuperficial areno argiloso com evidências de plintita, que aumentam em profundidade. Os Plintossolos apresentam características morfológicas favoráveis a instalação de processos erosivos, quando ocorrem em vertentes declivosas. Quando em superfícies aplainadas, como é observado nas planícies de inundação, favorecem o alagamento. Essas características se traduzem pela existência de camadas de impedimento ou de dificuldade de drenagem situadas em subsuperfície, imediatamente abaixo dos horizontes A e E. Essas camadas pouco permeáveis constituem a zona de concentração de plintita, normalmente sobre o substrato rochoso. Nesses casos, as águas de chuva infiltram no horizonte superficial arenoso e concentram-se em subsuperfície sobre o horizonte plíntico. Com a saturação dos horizontes superficial e subsuperficial, pode-se verificar o escoamento das águas de chuva, desde que haja declividade suficiente do terreno. Com a intensificação do 132 escoamento das águas verifica-se então, o desenvolvimento dos processos erosivos. Quando em terrenos aplainados, como o observado na planície de inundação, o escoamento é dificultado, favorecendo o alagamento temporário, se não existir a interveniência do lençol freático, e mais permanente quando o lençol freático ocorre próximo á superfície do terreno. Associados aos Plintossolos Háplicos nota-se a presença de Gleissolos Háplicos, que compreende solos hidromórficos, constituídos por mineral, que apresentam horizonte glei dentro dos primeiros 50cm da superfície do solo, ou a profundidades entre 50 a 125cm desde que imediatamente abaixo do horizonte A ou E (gleisados ou não), ou precedidos po horizonte B incipiente, B textural ou C com presença de mosqueados abundantes com cores de redução (EMBRAPA, 1999). São solos permanente ou periodicamente drenados. A água de saturação ou permanece estagnada internamente ou a saturação é por fluxo lateral no solo. É nesse caso de possibilidade de escoamento das águas que se observa o desenvolvimento de processos erosivos. Isto é possível quando o terreno apresenta um certo declive, ou quando existir gradiente hidráulico das águas do lençol freático. Dependendo do gradiente hidráulico e das características de erodibilidade do solo pode desenvolver erosão interna com formação de fenômenos de “piping” (SALOMÃO, 1994). Os Neossolos Quartzânicos, conforme já comentado, ocorrem a jusante das escarpas numa faixa do terreno que se situa entre o sopé da escarpa e o fundo de vale do córrego do Coité. Compreendem solos constituídos por material mineral ou por material orgânico pouco espesso com pequena expressão dos processos pedogenéticos em conseqüência da baixa intensidade de atuação destes processos, que não conduziram ainda, a modificações expressivas do material originário. São solos com seqüência de horizonte A – C, sem contato lítico dentro de 50cm de profundidade, apresentando textura areia ou areia franca nos horizontes até, no mínimo, a profundidade de 150cm a partir da superfície do solo ou até um contato lítico, (EMBRAPA, 1999). São solos muito erodíveis por se constituírem de areias quartzosas com teores de argila nunca superiores a 15%. Esse fato torna esses solos com baixa coesão entre as partículas de areia ou mesmo coesão nula, favorecendo a remoção de partículas com o mínimo de escoamento das águas. Entretanto, a elevada permeabilidade das areias permite fácil infiltração das águas diminuindo a demanda de escoamento. Assim a possibilidade de erosão nesses solos depende da concentração dos fluxos d’água em superfície, condicionado pela declividade das vertentes e, em especial, por formas de ocupação que conduzem a concentração dos fluxos d’água, como observado por estradas, caminhos, e 133 ruas. Essa situação foi observada na área objeto, onde as águas da chuva descem a escarpa de forma concentrada e com grande energia. Ao atingirem o terreno com domínio de Neossolos Quartzarênicos, essas águas promovem a ocorrência de erosões lineares profundas na forma de ravinas. 134 4.5.DIAGNÓSTICO, CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DOS PROCESSOS EROSIVOS EXISTENTES EM PRIMAVERA DO LESTE. Com a intensa ocupação dos cerrados mato-grossenses anos 80, o município de Primavera do Leste, com solos aptos à mecanização e o clima favorável à agricultura, foi palco da migração de famílias oriundas do Sul e Sudeste brasileiro, fenômeno este comum a várias regiões mato-grossenses. A ocupação e urbanização da cidade de Primavera do Leste, realizada sem que o planejamento tivesse em conta as características, potencialidades e limitações do meio físico, foi a principal causa da instalação dos processos erosivos, com o desenvolvimento de erosões lineares (ravinas e boçorocas) de grandes dimensões. Essas erosões situam-se na borda da Chapada e na escarpa, limite Sul do perímetro urbano, áreas estas protegidas por lei como de preservação permanente e naturalmente frágeis à ocupação, por apresentarem alta suscetibilidade à erosão e a escorregamentos. A Figura 19 ilustra o fluxo de atividades desenvolvidas que permitiram conceber as obras e medidas de controle. Figura 19 – Fluxograma diagnóstico de processo erosivo. 135 Os locais onde ocorrem as erosões pertencem ao bairro Castelândia que possui 10 anos de existência. Esse bairro localiza-se entre a BR-070 e a frente de escarpa, com um divisor de água coincidente com a Av. Tancredo Neves, conforme pode-se observar na Figura 20. A ocupação do loteamento que deu origem ao bairro Castelândia, fez com que parte da área que antes era cerrado, fosse impermeabilizada, reduzindo a infiltração das águas de chuva e facilitando desta maneira o escoamento superficial. Os arruamentos implantados sem um planejamento que contemplasse a dispersão das águas, sendo que várias das ruas foram construídas no sentido do maior gradiente, favorecendo a concentração das águas de grande parte do loteamento para uma única área, localizada ao lado de um dos clubes recreativos da cidade, deflagrando processos erosivos na encosta da escarpa. A Figura 20 mostra parte do bairro Parque Castelândia com suas ruas servindo como condutores de fluxo concentrado de águas pluviais alimentando os processos erosivos nas escarpas. A Figura 21 demonstra que a Av. Tancredo Neves é o divisor de água deste bairro, pois as cotas topográficas indicam o escoamento de água para a escarpa ou para o centro da cidade, tendo a Av. Brasil e a rua Pres. Kennedy como grandes corredores das águas que se dirigem até a escarpa. As observações e análises dos fluxos das águas pluviais nas áreas próximas à escarpa do platô concluíram pela ocupação imprópria dos bairros Parque Castelândia, Parque Gnoato, COHAB e adjacências como também o Clube Aquático Primaverense. Figura 20 – As setas indicam o sentido do fluxo concentrado das águas e as relações diretas entre os arruamentos e as erosões. No destaque obras de contenções iniciadas e orientadas pelo presente projeto. 51 Erosão 2 Erosão 1 Erosão 3 Início de Processo Erosivo 93,99 93,31 95,33 93,22 95,70 96,10 96,80 95,47 AG US IV AL GO I RA FA EL A SE RR A A ÁC IO EB ER DA A RIC A TZ RUA FIDÉLIS GASPAROTTO 94,40 RU AV ILA Gn oa t CLUBE o RU AA RC O-Í RIS RU A IN RU RU rq ue AQ UI LA U RU A BO RG E S AL E RU PEDEST RE Pa 93,07 RUA SILVINA SCOPEL 93,93 TI NI BR AN DA NI ZE EU GÊ NIA RU A RUA OLIN DA VA LGO I EMAUS 90,43 RUA VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA XII RC AN JO RU AD RU AA AS ER RA PAS SAR ELA PAR A PED EST RE RU AP IO RUA CASTRO ALVES Parque Castelândia A 13 RU A 08 RU OLA AV. TANCREDO NEVES RU A 12 RU A 09 Co ha O CO MU NIT ÁR IO ÁREA DA PREFEITURA b 100,16 100,80 ÁREA DA PREFEITURA ÁREA DA PREFEITURA ÁREA DA PREFEITURA ÁREA DA PREFEITURA ÁREA DA PREFEITURA RUA ÉRICO VERÍSSIMO RUA ROSA CERUTTI RUA CASTELÂNDIA OH AB RU A0 4 RU AD AC JE TA DA RUA CASTELO BRANCO RUA CASTELO BRANCO TERMINAL RODOVIÁRIO RUA JUSCELINO KUBITSCHEK RUA 10 DE JUNHO RUA JUSCELINO KUBITSCHEK RUA DO COMÉRCIO ÁREA DA PREFEITURA RUA ÉRICO VERÍSSIMO AV. INÁCIO CASTELLI A A ID AV EN 100,04 RUA ALEIXO SZADKOSKI TR RUA RAFAEL BORGHETTI C EN RU A0 5 RU A0 1 RU AP RO 96,71 RUA PIRES KENNEDY 3 RU A0 RU A0 2 96,45 RU A 11 RU A0 7 RU A0 6 95,07 AÇ A RU A 10 PR AV. BRASIL ESC A 14 RUA BENJAMIN CERUTTI RU 94,41 96,38 96,01 100,00 BR 070 BARRA DO GARÇAS Centro Figura 20 – Planta Topográfica com Representação do Escoamento das Águas de Chuva 100,06 100,08 RUA DO COMÉRCIO 66 Inicialmente, os processos erosivos manifestaram-se junto à escarpa, onde ocorrem solos rasos a pouco profundos e praticamente impermeáveis, identificados como Plintossolo Pétrico. Além da ocorrência de solos muito erodíveis, a declividade da vertente nesse setor contribui, ainda mais, para o escoamento concentrado das águas de chuva, promovendo o desenvolvimento da erosão laminar e linear. Com a implantação do loteamento que deu origem ao bairro Castelândia, a ação erosiva evoluiu de maneira drástica e em curto espaço de tempo. As águas de chuva concentradas ao longo das ruas dirigiram-se com grande energia para pontos determinados da escarpa, originando erosões de grande porte, inicialmente na forma de ravinas, progredindo-se a boçorocas. Levantamentos de campo apontaram para a “coincidência” da ocorrência dessas erosões na extremidade das ruas que se dirigem à escarpa. Em conseqüência do desenvolvimento dos processos erosivos, um grande depósito de assoreamento foi formado (Figura 22). Esse depósito de assoreamento situa-se abaixo da escarpa, numa faixa que margeia o córrego Coité. Reconhecimento de campo com o uso de trado manual, permitiu constatar que sua espessura é variável: menos de 0,5m em locais afastados das cicatrizes da escarpa formadas pela ação erosiva, e espessuras superiores a 1,0m atingindo até 1,90m, em locais situados abaixo das ocorrências erosivas onde o depósito de assoreamento apresentou a forma de leques de sedimentação, numa clara evidência da sua ligação com a ocorrência erosiva distribuída ao longo da escarpa. A Figura 23, mostra as ocorrências erosivas na escarpa e depósito de assoreamento associados, permitindo visualizar sua distribuição em forma de leques de sedimentação. Esses depósitos de assoreamento espalham-se até o córrego Coité, permitindo a dedução que parte do sedimento atingiu o leito do córrego e foi conduzidos pelas suas águas, degradando ainda mais o ambiente, pela descaracterização da dinâmica fluvial, assoreamento do canal do córrego e de suas margens, e destruição da mata ciliar, além dos prejuízos econômicos aos proprietários rurais, comportando principalmente pecuaristas. Por informações de um sitiante de propriedade localizada às margens do córrego Coité que produzia culturas anuais, configurou-se a ocorrência de eventos catastróficos envolvendo escorregamento da escarpa, com grandes deslocamento de sedimentos e blocos de rocha. Reconhecimentos de campo comprovaram a dimensão desses eventos catastróficos, onde blocos de rocha provenientes da escarpa com 1,50m de diâmetro foram encontrados junto às margens do córrego Coité, a uma distância aproximada de 100m do pé da escarpa. Pelas observações de campo, deduz-se pela ocorrência de episódios de corridas de lama (slop - 67 movimentos de massa envolvendo materiais terrosos saturados em água na forma de lama) com velocidades muito grandes e energia suficiente para deslocar blocos de rocha e arrancar árvores de grandes dimensões. Figura 22 – Depósito de sedimentos do processo erosivo. As observações de campo e investigações dos depósitos de assoreamento com tradagens, permitiram deduzir as ocorrências dos eventos erosivos e de movimentos de massa, associando-os à ocupação da borda da chapada. Provavelmente os processos erosivos mais intensos iniciaram-se com o desmatamento da borda da escarpa. Com a ocupação do setor de borda de Chapada, iniciado com o desmatamento e seguido pela implantação de loteamentos, processos erosivos acelerados manifestaram-se em locais determinados, onde a concentração do escoamento de águas superficiais foi mais pronunciado. Essas ocorrências erosivas desenvolveram-se no setor de borda de Chapada e na escarpa, promovendo o assoreamento mais intenso a jusante da escarpa, onde se observa possibilidades de brusca diminuição da energia de escoamento das águas pluviais. Com a intensificação desses processos erosivos, provavelmente associada à ampliação da urbanização, especialmente do bairro Castelândia, verificou-se após eventos chuvosos intensos, o reentalhe de parte do depósito de assoreamento (Figura 23). 68 Figura 15 – Visão Geral dos Processos Erosivos As três principais ocorrências erosivas, observadas na Figura 23, foram levantadas em detalhe, tendo em vista subsidiar a concepção das obras voltadas à contenção. Esse levantamento foi auxiliado por uma ficha de cadastro. A ficha de cadastro de uma das erosões encontra-se reproduzida na Figura 24, contemplando características fundamentais para o dimensionamento do processo erosivo, compreensão das causas, da dinâmica do processo erosivo e materiais constituintes. Essas características levantadas permitiram subsidiar o projeto corretivo e as ações a nível de obras e medidas preventivas. 69 1) Identificação e Localização da Boçoroca Nome: Buraco do Coité Bairro: Parque Castelândia Acesso: Transposição da BR-070 pela Avenida Brasil 2) Dados Regionais Bacia Hidrográfica: Cabeceira do Alto Coité Geomorfologia: Borda de Chapada e Escarpa do Planalto dos Guimarães Pedologia: Latossolo Vermelho – Amarelo Geologia: Formação Cachoerinha e Formação Cambambé 3) Dados Geométricos da Boçoroca 4) Características da Área de Contribuição Comprimento: Área: Largura: Volume: Área de Contribuição: 640 m 3.693,41m² 8m 72.612,15 m³ 406.656m² Forma: Em Leque 5) Uso e Ocupação da Área de Contribuição Bairro Parque Castelândia, com menos de 4 anos de existência no loteamento, houve um processo de pavimentação ao longo dos últimos 2 anos, sem drenagem superficial e sem obediência ao Plano Diretor do município de Primavera do Leste. 6) Histórico da Ocorrência – Causas O processo erosivo iniciou a cerca de 6 anos, devido ao desmatamento da borda da Chapada e implantação do loteamento que permitiu a concentração das águas de chuva em direção à escarpa, onde a implantação de ruas desprovidas de sistema de drenagem observa-se a intensificação dos processos erosivos, atingindo a escarpa e o vale do rio Coité, situado a jusante, bem como o seu assoreamento. 7) Identificação da Ficha Referências: Mário Simões – Elder Lucena Coord. EQ: Equipe: Mário, Ismael, Adiso, Elder Data: Tipo: Urbana Coord. NS: 19/08/99 Nº do Cadastro: 01 Município: Primavera do Leste / MT 8) Dinâmica – Fenomenologia O processo erosivo inicial manifestou-se na forma de ravinamentos provocados pela concentração das águas pluviais em direção à escarpa. Com o aprofundamento da ravina e instabilização dos taludes, processos de escorregamento foram desencadeados, acentuando ainda mais a destruição da escarpa. Com a interceptação do lençol freático em setores de jusante da escarpa esses processos se intensificaram, pelo desenvolvimento de fenômenos de “piping”, e diminuição da resistência dos materiais (solo e rocha alterada) em função da saturação e formação de pressões hidrostáticas. 9) Medidas de Combate – Desempenho Microbacias nos lotes desocupados; Inversão do escoamento de drenagem superficial das ruas em execução; Instalação de barragens com o intuito de impedir o fluxo de água para dentro da boçoroca; Direcionamento das águas pluviais para locais onde não possa provocar erosões; Estas medidas estão parcialmente implementadas tendo-se observado efeitos positivos, impedindo o acesso das águas de chuva para o interior das erosões instaladas, entretanto a interrupção das duas pode destruir as já executadas e intensificar o avanço erosivo. 10) Previsões de Evolução – Observações O avanço remontante das erosões existentes encontra-se contido, sob o efeito das medidas implementadas, entretanto, a interrupção das obras pode intensificar a ação erosiva comprometendo-as e intensificando a evolução erosiva remontante e no interior das erosões. Figura 24 – Cadastro da Boçoroca número 3 – Buraco do Coité 59 Figura 25 - Croqui da Boçoroca Legenda Boçoroca Taludes Naturais Seção 1 Seção 2 Surgência D’água Seção 3 Ravina 3,50 m 1,60 m L.E. 2 TALUDE ROMPIDO N.C. L.D. N.C. 5,5 m 13,00 m 14,25 m L.E. 1 N.C. N.C. 1,0 m 1,2 m L.E. 2,5 m 0,3 m 16,80 m 5,8 m 15,25 m TALUDES ROMPIDOS 5,0 m 6,0 m 12,90 m 10,15 m 1,50 m 9,30 m 16,10 m 5,70 m SEÇÃO 1 SEÇÃO 2 SEÇÃO 3 59 81 Os levantamentos das erosões, acompanhados do preenchimento da Ficha de Cadastro, permitiram identificar quatro trechos ou segmentos do processo erosivo e de assoreamento com características e comportamentos específicos: • TRECHO SUPERIOR O trecho superior, Figura 26(1), correspondente à porção da área afetada pelos processos erosivos coincidente com a borda da Chapada e crista da escarpa, onde a inclinação é muito alta, praticamente vertical. Nesse trecho, a erosão comporta-se como ravina, isto é, desenvolvida pelo escoamento superficial das águas de chuva, evoluindo-se de montante para jusante. As águas de chuva, concentradas especialmente pelas ruas, encontram dificuldade para a infiltração, tendo em vista a ocorrência nesse local de solos pouco profundos e praticamente impermeáveis a pequenas profundidades, dado a presença de camada concrecionária e/ou de rocha. Ao atravessarem a camada superficial do solo, encontrando a camada de couraça ferruginosa ou substrato rochoso pouco alterado a são, a erosão praticamente se estabiliza, aprofundando-se com extrema lentidão e tendendo-se ao alargamento. A presença de fraturas nas rochas que compõem os taludes da erosão, especialmente as fraturas abertas com caimento em direção ao fundo da erosão, contribuem para esse alargamento, uma vez que se constituem em caminhos preferenciais para a circulação das águas de chuva, e onde a alteração da rocha é mais acentuada. Nesse caso, observa-se ao longo da fratura, maior intensidade da erosão, deixando nos taludes blocos instáveis que se desmoronam. A caracterização do solo neste trecho encontra-se na Tabela 4 cujos dados estão a seguir. RESUMO DA GRANULOMETRIA RESUMO DE LIMITE DE LIQUIDEZ SEÇÃO 1 LE SEÇÃO 1 LE PEDREGULHO 0,59 AREIA GROSSA 6,69 AREIA FINA 68,28 LIMITE DE LIQUIDEZ – LL (%) LIMITE DE PLASTICIDADE – LP (%) ÍNDICE DE PLASTICIDADE – IP (%) 22,30 14,50 7,80 82 SILTE 2,31 ÍNDICE DE GRUPO 0 ARGILA 2,31 H.R.B. A-2-4 ARGILA COLOIDAL TOTAL 19,83 100,00 Tabela 4 – Resultados de caracterização do lado esquerdo da seção 1. Avanços remontantes podem se manifestar na cabeceira da erosão. Esses avanços remontantes ocorrem em função de desmoronamentos dos taludes da cabeceira da erosão, causados pelo descalçamento por erosão da base do talude. Esse fenômeno é ainda mais evidente quando a base do talude comporta material mais erodível que o material que o recobre, situação essa muito comum quando se observa a presença de descontinuidades do maciço que constitui o talude da cabeceira da erosão. Figura 26 – Trecho Superior (1) e Intermediário (2) O progressivo avanço remontante desse trecho da erosão pode ultrapassar o setor de borda de Chapada, constituído por solos rasos e pouco profundo, e atingir o setor de ocorrência dos latossolos, que são solos relativamente profundos. Nesse estágio, a intensidade do avanço erosivo é ainda mais pronunciada tendo em vista a maior erodibilidade dos horizontes do latossolo em relação às camadas litificadas de couraça 83 ferruginosa. A erosão nesse setor de ocorrência do latossolo torna-se, portanto, bem mais profunda. • TRECHO INTERMEDIÁRIO O trecho intermediário, Figura 26(2), corresponde a um patamar na forma de anfiteatro, com declividade da encosta relativamente baixa. Esse patamar pode se apresentar em degraus ou contínuo numa única superfície. Suas principais características, além da declividade bem inferior em relação ao trecho superior, são a presença de materiais terrosos e rocha muito alterada com espessuras relativamente grandes, e a presença de nascentes e/ou surgências d’água do lençol freático suspenso ou do lençol freático mais permanente. Essas características do material e do comportamento hídrico, tornam os taludes desse trecho de erosão muito instáveis. A caracterização geotécnica do solo neste trecho está nos dados da Tabela 5, cujos dados estão a seguir. Tabela 5 – Resultados de caracterização realizados na amostra de solo da seção 2. RESUMO DA GRANULOMETRIA RESUMO DE LIMITE DE LIQUIDEZ SEÇÃO 2 LE 2 SEÇÃO 2 LE 2 Pedregulho 0,03 Limite de Liquidez – LL (%) 19,90 Areia Grossa 2,97 Limite de Plasticidade – LP (%) 12,12 Areia Fina 77,03 Índice de Plasticidade – IP (%) 7,78 Silte 2,32 Índice de Grupo 0 Argila 0 H.R.B. A-2-4 Argila Coloidal 17,65 Total 100,00 A ocorrência no trecho intermediário de solos hidromórficos é muito comum. São solos que apresentam camada superficial concentrada em matéria orgânica e horizonte subsuperficial gleizado. Esses solos são típicos de ambiente saturado em água, pelo menos durante boa parte do ano. A presença de argila expansiva nesses solos é comumente observada. A observação no local de trincas na superfície do talude pode estar relacionada 84 com a existência de argilas expansivas. Esse fato torna ainda mais instáveis os taludes desse trecho da erosão. Outra particularidade importante a considerar para o trecho intermediário é a manifestação de fenômenos de “piping” nos locais de surgência do lençol freático nos taludes. Alguns indícios observados em campo atestam essa afirmação: cavidades na forma de tubos, coincidente com os locais de surgência d’água; abatimentos do talude formando aspecto de degraus; escorregamentos de porções abatidas do talude. As características apresentadas para o trecho intermediário da erosão permitem considerar a manifestação de processos típicos de boçorocas, com erosão interna do solo causada pelos fluxos d’água subterrânea, formando vazios em forma de tubos e colapsos do terreno. O escoamento d’água pelo fundo da erosão passa a ser permanente. Esses fenômenos típicos de boçorocas devem se iniciar com a interceptação do lençol freático pela erosão, ao atingir o setor intermediário, comportando solos hidromórficos. Processos erosivos remanescentes dos taludes da erosão passam, então, a ocorrer, instabilizando-os a processos de escorregamento. A erosão alarga e aprofunda, dando origem a ramos laterais, tornando-se de difícil controle. • TRECHO INFERIOR O Trecho Inferior da erosão, Figura 27, na porção terminal do patamar em forma de anfiteatro, com aumento brusco de declividade, terminando-se na base da vertente em área deprimida do terreno, onde se acumularam os sedimentos erodidos, em forma de assoreamento. Caracteriza-se pela declividade relativamente acentuada, e presença de substrato rochoso à pequena profundidade, constituído por arenito fino silicoso, tratando-se de camadas de silcretes, características da Formação Cambambe (WESKA, 1996). 85 Figura 27 – Trecho Inferior A pequena profundidade do solo e presença de substrato rochoso muito resistente, permite mudança abrupta na conFiguração da erosão, que passa a apresentar largura significativamente inferior e fundo entalhado em rocha. A instabilidade dos taludes da erosão são menos significativos, com predomínio de queda de blocos em relação a escorregamentos propriamente ditos. Sucessivas quedas d’água são observadas. A caracterização geotécnica deste trecho é apresentada na Tabela 6. Tabela 6 – Resultados dos ensaios de caracterização da seção 3. RESUMO DA GRANULOMETRIA RESUMO DE LIMITE DE LIQUIDEZ CABECEIRA CABECEIRA Pedregulho 0,71 Limite de Liquidez – LL (%) 35,30 Areia Grossa 22,17 Limite de Plasticidade – LP (%) 17,77 Areia Fina 45,64 Índice de Plasticidade – IP (%) 17,53 Silte 9,26 Índice de Grupo 3 Argila 2,31 H.R.B. A-6 Argila Coloidal 19,90 TOTAL 100,00 86 Volta-se nesse trecho (inferior), a predominar processos de ravinamentos com mecanismos similares ao observado no trecho anterior. O alargamento da erosão se realiza especialmente por desmoronamentos do taludes, causados pelo solapamento de sua base, deixando de existir ramos laterais. • TRECHO DE ASSOREAMENTO Finalmente, o trecho de assoreamento, Figura 28, corresponde à porção de sedimentação dos materiais erodidos, situado no compartimento de depressão, com declividade muito baixa, onde se situa o vale do Córrego Coité. Trata-se de uma superfície em rampa, com ligeiro declive, que se dirige para o fundo do vale. As águas provenientes da erosão ao atingir esse trecho, têm sua energia de escoamento diminuída, mas com velocidade suficiente para erodir o depósito de assoreamento num entalhe relativamente profundo e estreito, que se prolonga até as margens do córrego Coité. As observações de campo, aliadas à interpretação de fotos aéreas, permitiram a delimitação dos depósitos mais expressivos de assoreamento e também, relacioná-los com as ocorrências erosivas, como mostrado na Figura 25, dando uma idéia da gravidade dos problemas gerados pelo desenvolvimento dos processos erosivos, tanto o nível de prejuízos econômicos para as comunidades urbana e rural como o nível de prejuízos ao meioambiente. 87 Figura 28 - Trecho de Assoreamento Os prejuízos ambientais envolveram a degradação da borda da chapada, da escarpa, de parte considerável da depressão e fundo de vale do córrego do Coité. Grande parte da mata ciliar nas margens do Córrego Coité foram destruídas pelo assoreamento, Figura 14, tendo em vista ao afogamento de raízes. Isso mostra que parte dos sedimentos de assoreamento atingiu o leito do córrego, sendo uma parte depositada no seu fundo e outra parte transportada pelo canal fluvial e depositado a jusante. Alterações hidráulicas significativas resultaram desse assoreamento do leito do córrego, resultando em intensificação das cheias e transbordamentos do canal, erosão das margens do córrego e aumento ainda maior da sedimentação. Importante, assim, mensurar o volume de material erodido e de material acumulado no depósito de assoreamento, e a partir da análise desses resultados ponderar o volume aproximado de sedimentos que atingiram o leito do córrego Coité. Esse trabalho foi realizado tendo-se para tal, escolhido a erosão conhecida por “Buraco do Coité”, cuja ficha de cadastro encontra-se apresentada na Figura 24. A escolha dessa ocorrência erosiva se deve à sua dimensão superior às demais e boa evidência das relações entre erosão e assoreamento, permitindo a delimitação segura do depósito de assoreamento associado à erosão, e também pelo fato do assoreamento ter atingido as margens do córrego Coité. 88 Para a erosão, utilizou-se de procedimento de campo simples e objetivo, com a realização de seções transversais ao longo da erosão, distanciadas de 20 em 20m e cálculo aproximado da área. A somatória das áreas das seções multiplicada pelo comprimento total da erosão forma o volume aproximado do material erodido. Para o depósito de assoreamento, foram realizadas sondagens a trado para determinação da sua espessura média. O limite da tradagem foi estabelecido por critério táctil-visual que permitiu distinguir o sedimento de assoreamento do horizonte superficial original do solos, que apresenta coloração escura, pela concentração de matéria orgânica e restos de espécies vegetais que foram soterradas. Essas tradagens foram realizadas em duas seções, conforme mostradas na Figura 29. As seções escolhidas representam os eixos longitudinal e transversal do depósito. A análise dos resultados permite concluir que parte significativa dos sedimentos provenientes da erosão atingiu o leito do córrego Coité, conforme a seguir demonstrado: Volerosão = ∑ S 20, 20 × L onde: ∑S 20 , 20 = área média das seções espaçadas de 20 em 20m (Tabela 7). Tabela 7 -Seções transversais da erosão Buraco do Coité. ESTACA (UN) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 8,75 10,16 11,75 11,98 15,10 14,125 60,33 51,52 46,12 34,50 15,15 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 60,37 80,80 75,10 23 24 25 26 394,38 205 112,90 85,47 Área da seção transversal ESTACA (UN) Área da seção 114,25 110,40 30,10 120,50 150,12 201,15 190,22 213,31 transversal ESTACA (UN) 27 28 29 30 31 32 SM Área da seção 110,90 116,51 134,05 239,52 310,07 301,21 113,50 transversal L = comprimento total da erosão Volerosão = 113,50m2 . 640,00m = 72.640,00m³ 89 Volassoreamento = PM x A, Onde: PM = Profundidade Média dos furos de tradagens FUROS N° 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 MÉDIA Profundidade (M) 0,45 1,00 1,40 1,90 1,40 1,00 0,90 1,60 1,90 1,30 1,00 0,70 1,32 Tabela 8 – Profundidade média do depósito de assoreamento. A = Área do depósito de assoreamento Volassoreamento = 1,32m x 37.500m² = 49.875,00m³ A diferença entre o volume do material erodido e o volume do depósito de assoreamento, que representa 22.765m³, corresponde à quantidade aproximada de sedimento depositado no leito do Córrego Coité. 90 Delimitação da Área Assoriada Árvore − RN L=27m Furo0 L=30m Furo1 L=30m Furo2 L=30m Furo11 L=50m Furo10 L=50m Furo9 L=25m L=25m Furo8 L=50m Furo7 L=50m Furo6 Furo3 L=30m Furo4 L=30m Furo5 Mata Figura 29 – Área do Depósito de Assoreamento • Caracterização Geotécnica da Boçoroca e do Assoreamento Foram extraídas 6 amostras ao longo da erosão “Buraco do Coité” e 6 amostras de solo dentro do assoreamento, as 6 amostras dentro do processo erosivo ficaram determinadas pelas seções das fichas de cadastro conforme critério de extração de amostras deformadas e indeformadas vistas a seguir, com maior representatividade nos horizontes das massas de maior representação. As amostras no assoreamento foram extraídas de acordo com as normas de laboratório. Os resultados dos ensaios de caracterização foram simplificados numa tabela de médias estatísticas. 91 4.5.1. Ensaio de Granulometria dos Materiais no Talude da Erosão e no Assoreamento A Tabela 9 mostra valores médios dos teores granulométricos obtidos para amostras provenientes da erosão e depósito de assoreamento. Material Erosão Assoreamento Pedregulho x = 1,84 x = 0,74 Areia Grossa x = 10,29 x = 13,19 Areia Fina x = 65,89 x = 76,54 Silte x = 5,71 x = 2,38 Argila x = 15,24 x = 7,15 Tabela 9 – Caracterização Granulométrica Trata-se de uma comparação empírica, já que os elementos dos três universos: erosão, assoreamento e córrego estão inter-relacionados. Nota-se pela tabela 6 que o depósito de assoreamento apresenta em relação ao material da erosão um aumento das frações de areia grossa e areia fina, e diminuição das frações de silte e argila. Esses resultados evidenciam que parte das frações mais finas (silte e argilas) atingiram o córrego Coité. 92 4.6. PLANO DE CONTROLE DOS PROCESSOS EROSIVOS EXISTENTES EM PRIMAVERA DO LESTE As atividades de diagnóstico dos processos erosivos cujos resultados foram apresentadas no Capítulo anterior, mostraram que as ocorrências erosivas foram originadas pelas águas pluviais provenientes da área urbanizada situada na borda da Chapada, especialmente as concentradas ao longo de ruas com caimento dirigido para a frente de escarpa. Dessa forma, a contenção desses processos envolve, necessariamente, o disciplinamento das águas de escoamentos superficiais provenientes dessa área urbanizada, com obras contemplando a sua captação, condução com energia controlada e dissipação em locais seguros, de maneira a impedir a continuidade da ação erosiva. Contendo a causa principal dos processos erosivos. A concepção de obras aqui apresentadas envolve as medidas consideradas mais prioritárias, no sentido de conter as causas principais, envolvendo portanto, proposições voltadas ao disciplinamento das águas provenientes da área urbanizada, que se constitui na causa principal dos processos erosivos. Foram definidas 5 (cinco) medidas a serem implementadas: a) Delimitação da bacia de captação das águas pluviais e cálculo da vazão de projeto; b) Locação e implementação de caixas de infiltração voltadas à minimizar o volume de água junto à escarpa; c) Alteração do greide de determinadas ruas, de maneira a inverter o fluxo natural das águas de escoamento, dirigindo-as de maneira controlada para as áreas da bacia do Rio das Mortes; d) Implementação de um sistema de drenagem da área urbanizada, com base em galerias dirigidas para um canal de distribuição de águas pluviais já existente, situado em área pertencente à bacia do rio das Mortes; e) Implementação de obras de acumulação (barragens) e de condução (canais) das águas de escoamento superficial dirigidas à escarpa, tais obras deverão se situar entre a área urbanizada da borda da escarpa e a escarpa propriamente dita. (Figura 31). PED ESTRE RU RUA OLIND A VA LGOI A RIS RU A IN ÁC IO EB ER RU EM 07 VERTEDOR BARR AG BARRAGEM 08 VERTEDOR AA RC AN JO RU XII RU A0 6 CO LA RIC A RU PR AÇ A A 13 RU A 12 RU AP RO JE TA DA RU A A0 7 01 RU RU A0 5 Co ha b ES BARRA DO GARÇAS A0 2 RU AP IO TZ AV ILA Pa rq ue Gn oa to RU DESCIDA D'ÁGUA EM DEGRAUS E CONDUÇÃO ATÉ O VALE RECEPTOR det. 05 SAR ELA PAS A0 3 EXTRAVAZOR BR AN DA NI ZE A EU GÊ NI RE PED EST A PAR AA RC O-Í RU A RA FA EL 09 ID A AV EN RU RU A DA SE RR A A RU AL EI RU A AG US TIN I A 08 RU R VA LG OI RU A 09 AU IL AQ U UA EM RAG RU A 10 BAR CEN BARR AGEM 06 VERTEDOR TR AD O CO MUN ITÁR IO RUA 10 DE JUNHO RU A 14 Microbacias Canal de Drenagem Já Existente RU SE RR A DA RU A AC OH AB VERTEDOR RU A 11 BO RG ES A0 4 RU Canal de Concreto Condução D'água RUA CASTELÂNDIA Seção Longitudinal 05 RUA DO COMÉRCIO RUA JUSCELINO KUBITSCHEK RUA CASTELO BRANCO RUA ÉRICO VERÍSSIMO AV. TANCREDO NEVES Caixa Coletora Caixa Coletora Caixa Coletora CLUBE VERTEDOR AGEM VERTEDOR BARR 04 AGEM BARR BARRAGEM 02 VERTEDOR VERTEDOR BARRAGEM 01 Caixa de Acumulação RUA SILVINA SCOPEL EMAUS RUA BENJAMIN CERUTTI ÁREA DA PREFEITURA ÁREA DA PREFEITURA Parque Castelândia RUA FIDÉLIS GASPAROTTO Caixa de Acumulação BARRAGEM 03 BR-070 ÁREA DA PREFEITURA Caixa de Acumulação VERTEDOR RUA PIRES KENNEDY Figura 31 – Lay-out das Obras de Controle e Prevenção das Boçorocas. RUA RAFAEL BORGHETTI BARRAGEM 10 AV. BRASIL Seção Trasnversal da Barragem 93 xciv 4.5.1 – Determinação da Bacia de Captação das Águas Pluviais e da Vazão de Projeto Através dos dados do levantamento topográfico, foi possível determinar pelas curvas de nível as ruas e lotes que conduziram as águas para a borda do platô, como a água se concentrava principalmente nas avenidas Brasil e ruas Presidente Kennedy, Rafael Borghetti e Benjamin Cerutti como condutores de água. Havendo espaço entre o final da rua e a ocorrência da erosão na escarpa, foi possível se construir as barragens; como atrás do Clube Primaverense não havia espaço físico para os diques e havia concentração de águas, a solução adotada foi o canal de concreto entre a barragem de montante (av. Brasil) e a barragem de jusante (Parque Gnoato) onde já havia espaço físico para uma bacia de maior concentração do que para um canal, até que ao chegarmos próximos ao córrego Alto Coité, concentramos em um canal com descidas de água obedecendo o princípio de Vent Chow que L > 2h para um canal aberto finalizando com uma bacia de amortecimento, com pedra de mão, na enseada da cabeceira do Alto Coité, para conter o deflúvio d’água e esta entrar disciplinada no córrego. 4.5.2 – Locação e Implementação das Caixas de Infiltração. As caixas de infiltração foram medidas preliminarmente à execução do projeto e após a execução dos cálculos das vazões de projeto, pudemos observar que havia possibilidades de diminuir a quantidade de água à ser escoada para a escarpa como ainda havia lotes vagos, sugerimos à Prefeitura que os utilizássemos para minimizar o volume de água junto à escarpa como pode ser visto na Figura 33, estratégia da disposição das caixas foi utilizarmos os lotes vagos como elemento de derivação do escoamento superficial, para cada micro-bacia construída. 4.5.3 – Alteração do Greide das Ruas Antes de iniciar a pavimentação e conseqüentemente aumentar a impermeabilização das ruas, as mesmas sofreram alteração de forma pouco agressiva aos moradores do bairro para não deixar as casas enterradas, foi levantado o vértice da Av. Brasil e Presidente Kennedy, que tinham diferenças de cotas menores e na extremidade da escarpa de forma que o escoamento superficial se inverteu no sentido da BR-070, oposto ao sentido da escarpa, nas áreas urbanizadas pertencentes à bacia do Rio das Mortes, conforme apresentado na Figura 31. xcv 4.5.4 – Sistema de Drenagem Auxiliar As ruas do loteamento Parque Castelândia tendem à escoar ao sul para a escarpa e ao leste para a Av. Brasil, foi sugerido a construção de caixas coletoras com adutora f = 0,60m ao longo da av. Brasil com declividade de queda para o canal de concreto junto à BR-070 e as galerias de águas pluviais do conjunto COHAB, ver Figura 31. 4.5.5 – Implementação das Obras de Acumulação e Condução das águas Superficiais Optou-se, inicialmente, pela construção de um ou vários canais de fundo concretado, associado a dissipadores de energia, que faria a condução das águas pluviais, bordejando a encosta, lançando-as em seguida em algum ponto mais a jusante. Dada a situação de relevo muito íngreme, com porções escarpadas, o local para despejo seguro das águas captadas só se faria com segurança no interior do córrego Coité, já no município de Poxoréo, exigindo a construção de várias estruturas de condução de água e dissipação de energia, que somados à longa distância do ponto de despejo, oneraria em muito a obra, sem a garantia de se evitar o desenvolvimento de novos focos de erosão no local de descarga das águas do canal. A concepção técnica e economicamente viável da obra teria então que contemplar soluções alternativas que diminuíssem ao máximo o volume de água liberada nos picos de chuva, e que essa liberação não se desse de forma concentrada mas sim dissipada. O objetivo seria de reter as águas das chuvas que se concentram num grande volume num curto espaço de tempo, e liberá-las em baixos volumes a um tempo mais longo, seja por infiltração, evaporação e por extravasores estrategicamente posicionados. As obras concebidas correspondem a um conjunto de barramentos e canais dispostos entre a área urbanizada e a escarpa do Planalto dos Guimarães. Essa área foi dividida em três setores, organizados segundo as bacias de contribuição e os pontos de descida de águas pela escarpa. Esses setores foram identificados, para efeito do planejamento, em Setor 1 (a oeste), Setor 2 (ao centro) e Setor 3 (a leste), conforme pode ser observado nas Figuras 32, 33, 34, 35, 36 e 37. EXTRAVAZOR -ÍR IS A AR CO RU DESCIDA D'ÁGUA EM DEGRAUS E CONDUÇÃO ATÉ O VALE RECEPTOR det. 05 RU VALGOI RU A AR CA NJ O RU XI I EB ST IN I ESC ER TZ RU A VI LA OLA Co RU A 06 RU A IN RU A PR RI CA PRA ÇA 13 RU A 07 RU A RU A 12 AD A RU A 01 RU A 05 ha b OJ ET BARRA DO GARÇAS A 02 A PI O IO EM 07 OI eG no at o ÁC RAG VERTEDOR BAR BARRAGEM 08 CEN BARR VERTEDOR AGEM TRO CO 06 MU NIT ÁRI O RU A 14 05 RUA CASTELO BRANCO RUA ÉRICO VERÍSSIMO AV. TANCREDO NEVES CLUBE RUA DO COMÉRCIO RUA JUSCELINO KUBITSCHEK VERTEDOR EM VERTEDOR RAG BAR BAR RAG EM 04 AV. BRASIL RUA PIRES KENNEDY BARRAGEM 03 BARRAGEM 02 VERTEDOR ÁREA DA PREFEITURA VERTEDOR Centro ÁREA DA PREFEITURA VERTEDOR BARRAGEM 01 RUA CASTELÂNDIA BA RR AG EM h= 3,0 0m CANAL 0 300 mm DE PROTEÇ CONDUTO PARA DESCARGA ÃO EM h= 3,00 2 0 300 mm m CONDUTO PARA DESCARGA BAR RAG CON CRE DE CAN AL TO BA AG EM h= h 0m EM 2,0 RR AG = 3, 00 m RUA CASTRO ALVES RUA VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA BA RR CAN AL DE PRO TEÇ ÃO BOCA DE LOBO ÁREA DA PREFEITURA BR 070 ÁREA DA PREFEITURA TERMINAL RODOVIÁRIO ÁREA DA PREFEITURA RUA DO COMÉRCIO RUA JUSCELINO KUBITSCHEK RUA CASTELO BRANCO RUA ÉRICO VERÍSSIMO ÁREA DA PREFEITURA AV. TANCREDO NEVES AGEM ÁREA DA PREFEITURA BARR Setor II h = 3,00 m Foto B Parque Castelândia RUA FIDÉLIS GASPAROTTO RUA SILVINA SCOPEL EMAUS DE CO NCRETO CALHA VERTEDOR RUA RAFAEL BORGHETTI M 09 GE RRA DAN IZ E BR AN Pa rq u T RE STRE PEDE RUA OLINDA RU A EU GÊ NIA PEDES RA PA EL RA FA RU A BA RR A SE A DA SA RELA I VA ALE RU A AG U 08 RU A PAS RU A 03 RUA BO AQ U IL AU RU A RR A SE DA RG 10 LG 09 RU A ÁREA DA PREFEITURA CTG MADEMA RUA DOS EXPEDICIONÁRIOS RUA DA HARMONIA CUIABÁ COOPERATIVA AGRÍCOLA DE COTIA RUA DA AMIZADE RUA TON JOBIN RUA CASTRO ALVES RUA DA AMIZADE BA RR AG EM h= RUA NARCISO RUA FLOR DE LIS RUA CRIS ANTEMOS ORQU ÍDEA S VIOLETAS RUA MAN JERIC ÃO RUA FLOR DE MAIO RUA ANTÚ RIO RUA MALV A REAL ÁREA DA PREF EITURA Conj Nossa unto Resid ên Senho ra Apa cial recida RUA JASM IM RUA DAS PETÚNIAS AV. DAS 2,0 0m RUA MAN JERONA Setor I Foto E AR GA VERTEDOR RUA BENJAMIN CERUTTI PA RA mm DE SC UT O Setor III AV. INÁCIO CASTELLI RU A ID A AV EN 11 RU A DE EM SCIDA DE GR D'Á AU GUA S det . 04 RUA ROSA CERUTTI CO ND RUA JOSÉ DONIN Foto C RUA ALEIXO SZADKOSKI 0 11 0 ES A 04 RU A CO A DA RU Figura 32 – Localização dos Pontos das Figuras 33, 34, 35, 36 e 37 RU HA B PÉ RUA AGUA Foto D RUA NARC ISO RUA DA SAÚDE IZ AD E det. 01 AM CANAL DA GA A CAR A DES O PAR DUT 150 mm 0 RU S RAU DEG EM D'ÁG UA CIDA CON DES 10 RUA MIOS ÓTIS BARRAGEM BARRAGEM h = 4,00 m RUA DAS RUA 10 DE JUNHO Foto A xcvi AV. N.S. APARECIDA xcvii Foto 33 – Vista do Setor 3 com vários focos de deslizamentos / erosões. No primeiro plano, já na área rural do município de Poxoréo, erosões lineares provocadas pelas águas que descem concentradas da escarpa xcviii Foto 34 – Vista do Setor 2. Observa-se ao centro da foto, na escarpa, um grande foco de erosão. Há outros encobertos pela vegetação. xcix Foto 35 – Vista em maior detalhe de parte do Setor 3. Na escarpa vê-se o foco de erosão que avança para os fundos do Clube Associação Aquática Primaverense, e um pouco à direita outro foco que avança para o Parque Gnoato c Foto 36 – Outra vista do Setor 3, que é o maior em área e onde se concentra as maiores erosões ci Foto 37 – Vista do Setor 2. Ao centro vê-se uma área em que foi utilizada para empréstimo de material utilizado na construção dos pavimentos da cidade, e que será utilizada como bacia de contenção das águas desse setor. cii A seguir passamos a descrever rapidamente cada um dos setores detalhados nos projetos executivos. Setor 1: O Setor 1 está localizado na porção mais a oeste e cobre uma área de 9.500 m2, que corresponde à bacia de contribuição das águas pluviais incluindo-se a área onde será implantada as obras. Estas são formadas por dois barramentos de terra, cujas disposições e dimensões permitirão o armazenamento de um volume d’água de 6.075 m3. Setor 2: Situado na posição central, possui uma área de 144.000 m2. As estruturas de recepção de águas são formadas por 5 barramentos de terra, cujo volume total de armazenagem foi projetado para um volume de 17.675 m3. Setor 3: Situado na porção mais a leste, esse é o maior setor em termos de área com 570.000 m2. As estruturas de contenção são formados por 10 barramentos e 2 canais. O volume total de armazenagem de água foi projetado para um total de 37.645 m3. 4.5.6. Vazões de Projeto Vazão de Projeto Contribuição da Rua de Deságüe Principal Área de Contribuição (m2) Vazão de Contribuição da Rua de Deságüe (m3/s) Vazão Acumulada (m3/s) Ruas Lotes R. Benjamin Cerutti 63.504 39.500 1,9 1,9 R. Rafael Borghetti 72.324 - 1,9 3,8 R. Presidente Kennedy 77.364 - 2,0 5,8 Av. Brasil 71.064 - 2,1 7,9 Clube - 54.000 0,8 8,7 Parque Gnoato - 28.900 0,5 9,2 Para a concepção deste projeto foram feitas várias consultas dos mais diferentes métodos de cálculo para se determinar as variáveis de projeto. Deste estudo preliminar ciii optou-se pelo método racional para análise das descargas de projeto. Este método foi introduzido em 1889 e largamente usado em vários países. Dentre as opções de solução do problema, optou-se por um projeto de armazenamento de água a fim de reduzir o deflúvio direto. Esta proposta teve destaque por reduzir significativamente a estrutura de deságüe no final do projeto, que constitui na transposição de água do platô até a drenagem natural abaixo, sendo uma diferença de nível de 25 m. Para o dimensionamento das estruturas de armazenamento foram desenvolvidas barragens de acordo com as condições do terreno em relação aos dados topográficos. 4.5.7. Características Principais dos Barramentos - Talude de Transição O talude de transição deverá ser o elo de ligação entre o vertedouro e a área de contribuição, será todo revestido em leivas que tenham boa adaptação aos fatores climáticos da região, deverá ser construído com declividade 1:3 (vertical:horizontal), com a altura do corte concordado com o terreno natural em toda sua extensão, o que acarretarão alturas de corte variáveis; o talude de transição será intercalado de canaletas que levarão a água dos meio-fios até o “dique”. - Vertedouro O vertedouro do canal será do tipo “calha”, construído em concreto misto (pedra de mão), apoiado no encontro da parede escavada com o terreno natural. A largura e a altura do vertedouro deve permitir a passagem da água dimensionada na bacia de contribuição. Se necessário, provocar estreitamento ou arrasamento nas dimensões do vertedouro sem interrupção do transporte de água, fazer outro canal paralelo que escoe a vazão “Q” da área de contribuição. As inclinações do vertedouro devem obedecer indicações do projeto, 1:1, ou seja 1 (um) metro de avanço na horizontal corresponde a 1 (um) metro de avanço na vertical; nos pontos de maior desnível do terreno, o vertedouro deve conter bacias de amortecimento que reduzirão a energia cinética da água, como deve ocorrer na descida do encontro do Rio Alto Coité. civ - Barragem de Terra Com a intenção de armazenar, aerar e reduzir a velocidade da água, serão construídos diques de terra ao longo da escarpa, com a geometria especificada no projeto e com o controle tecnológico obedecendo as normas técnicas da ABNT. Todo material utilizado nos diques, deverão ser caracterizados nas suas jazidas, por laboratórios idôneos. O lançamento das camadas deve obedecer ao controle geométrico e tecnológico, com retirada de raízes e matéria orgânica que comprometa o maciço. Os ensaios de densidade devem obedecer as especificações da ABNT. - Dreno de Fundo Com a finalidade de não deixar os reservatórios com água esgotando somente pelo vertedouro, projetou-se um dreno no interior do maciço e abaixo da cota do vertedouro, que deve escoar a água até a cota de entrada do dreno e descarregar o fundo e a lateral do reservatório, conforme cota do projeto o tubo de ser de PVC 100 mm e deve-se tomar cuidados na compactação em torna da sua superfície. - Bacia de Amortecimento Para dissipar a energia da água que escoa dos vertedouros, devem se fazer degraus de concreto, onde os mesmos se fazem necessários e onde as curvas de nível forem mais próximas. Ao final dos degraus, deve-se construir uma bacia com remanso e preenchimento de pedra-de-mão com diâmetro de 0,30 a 0,50 m. 4.5.8. Etapas de Construção 1ª Etapa – Desmatamento, Destocamentos e Limpeza Como todos os serviços que antecedem a execução das barragens de terra, deve ser extraído todo o revestimento da camada vegetal, assim como a retirada de tocos e arbustos em toda a faixa de construção dos diques, para que a superfície encontre-se limpa para execução dos serviços de terraplanagem, estes serviços devem ser acompanhamento no local com inspeção total na limpeza da superfície. cv 2ª Etapa – Terraplanagem Após os serviços de limpeza da faixa de desmatamento, os serviços topográficos serão refeitos com lançamento dos “off-sets”, bem como a locação do eixo dos diques e iniciados os serviços de escavação das caixas de empréstimo dos solos de boa qualidade para sua utilização nas barragens; obedecendo a marcação dos “off-sets”, as camadas dos maciços são espalhadas e compactadas em operações sucessivas de forma a obedecer a geometria do projeto. As etapas de construção do canal foram concebidas de modo a favorecer o andamento das obras, bem como permitir a utilização mais racional possível dos equipamentos necessários. 3ª Etapa – Escavação Mecânica Deve-se iniciar a limpeza do terreno natural e raspagem do solo inadequado. Obedecendo as marcações de “off-sets” a escavação se inicia de montante para jusante, com o acerto da superfície, sendo concluído em escavação manual para regularização do talude e do fundo da vala antes da concretagem o que, ainda requer a confecção de juntas de dilatação, feitas em sarrafos de madeira a cada 2 metros, com espessura de 5 cm no fundo e na parede da vala, seguindo as seções do projeto. Se necessário, compactar manualmente as paredes e o fundo escavado, a fim de evitar partículas de terra soltas no concreto. 4ª Etapa – Concretagem das Paredes e Fundo O nivelamento do fundo do vertedouro deve seguir a risca o caimento pedido no projeto de 0,5% para que a energia cinética da água seja pequena, a concretagem do berço pode ser em concreto com 0,9 MPa de resistência ao fim de 28 dias, as paredes laterais e a laje de fundo com sarrafeamento de acordo com o projeto e dimensões calculadas, e acabamento revestimento em argamassa (1:3) e pedra de mão para o bom escoamento da água e acabamento do serviço. 5ª Etapa – Plantio de Grama Concluído o vertedouro, retoma-se os serviços de terraplanagem, corte em pequenas camadas, até a cota de projeto para preparar o plantio de gramas adaptadas às condições climatológicas de Primavera do Leste, para aplicação em placas no talude de transição da obra em questão; as placas de grama devem ser plantadas próximas uma das cvi outras e deverão ser irrigadas no período da seca, para que a superfície se feche o mais rápido possível, evitando assim, novos processos erosivos. 6ª Etapa – Acabamento Com a finalidade de dar um bom acabamento aos serviços de terraplanagem ao final das etapas de compactação dos diques utiliza-se uma motoniveladora com a lâmina em angulação de acordo com o projeto executivo para se proceder à raspagem da superfície; e fazendo valer a geometria do projeto, se necessário for, fazer os serviços de acabamento superficial com ferramentas manuais de forma a deixar os serviços com boa aparência. 4.5.9. Plano de Conservação de Obras A manutenção dos serviços ora executados só terá sucesso caso haja uma perioricidade em que todos os trabalhos sejam revistos de maneiras a garantir o bom funcionamento dos tanques, dos canais, dos vertedouros, dos drenos e das estruturas de dissipação de energia; possam ter escoamento pleno e estruturas consolidadas. Deve ser um motivo de precaução o término dos serviços ocorrerem num período não chuvoso, para não ocorrer alterações significativas no principal produto das construções propostas, o solo. É necessário que haja uma manutenção periódica na desobstrução dos drenos dos vertedouros e dos canais pela prefeitura ou concessionária de limpeza local no início em intervalos menores entre uma chuva e outra para evitar armazenagem de galhos, detritos, massa de solos que escorregou e objetos que venham até interferir na seção plena dos extravasores. É necessário que haja uma vistoria periódica após cada ciclo de chuvas estruturas de dissipação e contenção para evitar trincas em canais revestidos e carreamento nos solos adjacentes às estruturas de vertedouros e diques de contenção. É preciso que se faça uma revisão ainda nos períodos de chuvas na camada vegetal dos taludes para recompor aqueles que sejam danificadas com o escoamento das águas, com substituição em placas ou mudas para proteção dos solos. Recompor as trincas das paredes dos canais, rejuntar os tubos de drenos e reforçar as telas de proteção da entrada dos tubos de dreno, além de calçar as alas das estruturas dos canais. cvii Tudo isto requer mão de obra local e barata para execução destes serviços, se forem vistoriados de forma preventiva o projeto de concepção de controle de erosões será de duradouro. Para finalizar é bom se fazer uma campanha na mídia para que a população local e principalmente a vizinha da obra policie os jogadores de lixo, esqueça que já usou aquela região como depósito de lixo doméstico. Primavera do Leste P% pedregulho AG% Areia Grossa Erosão AF% Areia Fina A+S% argila + silte P% pedregulho AG% Areia Grossa Assoreamento AF% Areia Fina A+S% argila + silte P% ? Córrego Alto AG% ? Coité AF% ? A+S% ? A1=72.640,00M³ A2=49.875,00M³ A3=22765M³ A1 = A2 + A3 Figura 30 – Representação esquemática das relações entre os materiais existentes na erosão, no depósito de assoreamento e no córrego Coité. cviii CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES Os estudos realizados, voltados ao controle dos processos erosivos na cidade de Primavera do Leste, permitiram destacar a importância do diagnóstico envolvendo suas causas, mecanismos e conseqüências, valorizando-se a compreensão do funcionamento hídrico. A expansão urbana desajustada às potencialidades e limitações do meio físico foi, de maneira geral, a causa principal da deflagração de erosões lineares de grande porte (ravinas e boçorocas) na borda da Chapada e ao longo da escarpa, promovendo a degradação ambiental e sérios prejuízos econômicos para a comunidade urbana e rural. Os estudos realizados possibilitaram a proposição de medidas concretas para a estabilização desses processos erosivos e, assim, favorecer a recomposição do ambiente urbano e rural degradado. Destacam-se, a seguir, considerações conclusivas julgadas mais importantes: a) Confirmou-se a fragilidade ambiental do compartimento geomorfológico de borda da chapada, mencionado no Código Florestal e Código Ambiental do Estado de Mato Grosso como área de preservação permanente. Essa pesquisa mostrou que o simples desmatamento desse setor provocou a instalação de processos erosivos, agravou com a sua ocupação e consolidação do Bairro Castelândia. Critérios de delimitação cartográfica desse setor foram definidos, constituindo em subsídios técnicos para as ações de planejamento e de controle das erosões, a serem implementadas pela Prefeitura Municipal de Primavera do Leste. b) Demonstrou-se que as erosões desenvolvidas na borda da chapada e ao longo da escarpa, apresentam 4 (quatro) trechos característicos, com comportamentos erosivos intimamente associados aos materiais existentes, especialmente solo e rocha, à declividade da encosta e ao funcionamento hídrico. Esses trechos foram caracterizados de maneira a subsidiar as ações corretivas voltadas à estabilização dos processos erosivos no interior dessas erosões. cix c) Os principais impactos ambientais causados pelas erosões foram apresentados comprovando-se que grande parte do sedimento proveniente da erosão atingiram o leito do córrego Coité, com prejuízos ambientais pela destruição da mata ciliar e alterações hidráulicas significativas, resultando em intensificação das cheias, transbordamento do canal, erosão das margens, além dos prejuízos econômicos aos produtores rurais que ocupam parte da depressão e do vale do córrego Coité. A análise das relações erosão / sedimentação de uma das ocorrências erosivas (erosão Buraco do Coité) permitiu estimar que grande parte dos sedimentos, em torno de 22.765 m3 correspondendo aproximadamente a 40% do material erodido, atingiu o leito do córrego Coité. d) As medidas propostas visaram controlar a causa principal da deflagração e evolução erosiva, por meio do disciplinamento das águas de escoamento superficial provenientes das áreas urbanizadas. A concepção das obras envolvidas foi definida, envolvendo duas formas de ação que devem ser conjuntamente implementadas: d.1) ações voltadas à minimização do volume de água concentrado junto à escarpa: caixas de filtração, bacias de acumulação, inversão do greide, caixas coletoras com drenos pluviais; d.2) ações voltadas a retenção e condução das águas acumuladas junto à escarpa: barragens, canais e descidas d’água. Essas ações permitirão controlar as principais causas dos processos erosivos relacionados à ocupação desordenada da borda da chapada, entretanto, medidas subseqüentes se fazem necessário, de maneira a conter as ações erosivas no interior das erosões já instaladas e contribuir para minimização de impactos ambientais e com o reequilíbrio ambiental. Algumas sugestões julgadas mais prioritárias são a seguir listadas: - Revegetação nos locais de implantação das obras e ao longo da frente da escarpa, com gramíneas e espécies arbustivas adaptadas ao local. - Concepção e implantação de obras no interior das erosões existentes, voltadas ao disciplinamento das águas superficiais, subsuperficiais e estabilização de taludes, e recomposição vegetal. Estas obras devem ser implementadas respeitando-se as características do terreno e do comportamento erosivo. cx - Contribuir para a restauração ambiental das áreas assoreadas e das margens do córrego Coité, com estudos específicos voltados a revitalização da cobertura vegetal e implementação dessas medidas. - Subsidiar a Prefeitura Municipal de Primavera do Leste para ações de disciplinamento da ocupação na faixa marginal à frente da escarpa incluindo-se a borda da chapada e setores de montante da Rodovia-MT-070. cxi REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia. Geologia de Engenharia. São Paulo, PINI, 1998. • ABNT – Associação Brasileira Normas Técnicas – Análise Granulométrica de Solos NBR 7181.1982, 16p. • AMARAL et al 1982. Vegetação da Folha SD 21 Cuiabá projeto RADAMBRASIL. Vol. 26 – R.J. • BARBOSA, J. A. Proposta de Estabilização de Uma Boçoroca no Município de Primavera do Leste – MT. Cuiabá, 1996. Monografia – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Mato Grosso. • BIGARELLA, J. J.; MAZUCHOWSKI, J. Z. 1985. Visão Integrada da Problemática da Erosão. In: Simpósio Nacional de Controle da Erosão 3, 1985, Maringá. Livro Guia. Maringá: ABGE/ADEA. 322p. il. (CP;ME;PC). • COSTA, MOACIR. S. da Dissertação de Mestrado, Instituto Biociências UFMT 2000. • DORES 2000, ELIANA. F.G.C. Tese Doutorado, UFMT 2000. • ELISSON (47) apud VILAR PRANDINI (1970) Erosão dos Solos do Interior de São Paulo – ABMS/USP/ESC.177.206. • FENDRICH, R. et al. Drenagem Urbana – Manual de Projeto. DAEE – CETESB. São Paulo – SP. 1980, 468p. il. • FREIRE, E. S. Movimentos Coletivos de Solos e Rochas e Sua Moderna Sistemática. Revista Construção, Rio de Janeiro (95) – RJ. 1965. • IPT – INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Controle de Erosão. 2º ed., São Paulo, DAEE/IPT, 1990. • IWASA, O. Y.; PRANDINI, F.L. – Diagnóstico da Origem e Evolução de Boçorocas: Condição Fundamental para Prestação e Correção. In: Simpósio sobre o Controle de Erosão. Curitiba, 1980. Anais ... São Paulo, ABGE. cxii • LINSLEY, R. K & FRANZINI J. B. 1978. Engenharia de Recursos Hídricos. USP. São Paulo – SP. • PRANDINI, F. L.; GUIDICINI, G.; BOTTURA, J. A.; PONÇANO, W. e SANTOS, A. R. dos – “Atuação da Cobertura Vegetal na Estabilidade de Encostas; Uma Resenha Crítica”. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Florestas Tropicais, Mossoró – RN. 1976. • SALOMÃO, F. X. de T. e outros. Controle de Erosão: Base conceituais e Técnicas; Diretrizes para o Planejamento Urbano e Regional; Orientações para o Combate de Boçorocas Urbanas. São Paulo. Secretaria de Energia e Saneamento. Departamento de Águas e Energia Elétrica. 1989. • SALOMÃO, F. X. de T. Interpretação Geopedológica Aplicadas a Estudos de Geologia de Engenharia, 3. São Paulo. 1985. (Síntese de Tese de Pós-Graduação). • SEIXAS, B.L.S. Fundamentos do Manejo e da Conservação do Solo. Salvador, Centro Editorial e Didático da UFBA, 1984. • WESKA, 1997. Geologia da Região Diamantina de Poxoréu e áreas adjacentes, Mato Grosso, São Paulo 1996, 219p Tese Doutorado cxiii ANEXOS cxiv ANEXO 1 Mapa de Uso e Ocupação cxv ANEXO 2 Mapa Geológico cxvi ANEXO 3 Descrição de Trincheiras e Análises Granulométricas Descrição das Trincheiras TR1 e TR2, em primavera do Leste, MT, segundo DORES (2000) cxvii Descrição das Trincheiras TR3 e TR4, em primavera do Leste, MT, segundo DORES (2000) cxviii Resultado das Análises Granulométricas, de Densidade Real e de Permeabilidade dos Solos das Trincheiras TR1 A TR4, em Primavera do Leste, segundo DORES (2000). cxix cxx ANEXO 4 Mapa Morfopedológico cxxi V. DIFUSÃO DOS RESULTADOS Os recursos demandados por este Projeto de Pesquisa viabilizaram a realização de duas dissertações de mestrado: uma pelo Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical da UFMT com o título de "Processos erosivos lineares associados à escarpa do Planalto de Primavera do Leste (MT) - Diagnóstico e concepção de controle" elaborada pelo Engenheiro Civil Sérgio Luiz Moraes de Magalhães, sob a orientação do Prof. Dr. Fernando Ximenes de Tavares Salomão; e outra pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas, Curso de Ecologia e Conservação da Biodiversidade da UFMT, com o título de "Estudo da alteração da qualidade natural da água de subsuperfície em Primavera do Leste-MT", elaborada pelo Geólogo Moacir Soares da Costa, sob a orientação do professor Dr. Antônio Brandt Vecchiato. O projeto gerou ainda a elaboração de cinco monografias de conclusão de curso de Engenharia Civil da UFMT. Os resultados do trabalho foram apresentados na forma de um painel no VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão, realizado em maio de 2001 na cidade de Goiânia e promovido pela Associação Brasileira de Geologia de Engenharia. Este painel foi apresentado também na XXXIV EXPOAGRO, em agosto de 2001 em espaço reservado à UFMT. VI. PUBLICAÇÕES Os resultados do trabalho foram publicados na revista “El Tatascán, n° 13, Vol.II, ano 2001, com o título: “Diagnostico y medidas de control de los procesos erosivos em Primavera del Leste (Mato Grosso, Brazil)”, tendo como autores Magalhães, S.L.M., Salomão, F.X.T., e Mogena, P.A. cxxii VII. RECURSOS HUMANOS ENVOLVIDOS Nome Participação Especialização (Área CNPq) Fernando Ximenes de Tavares Salomão Coordenador Geociências Elder de Lucena Madruga membro Geociências Sérgio Luiz Moraes Magalhães membro Engenharia Civil Antônio Brandt Vecchiato membro Geociências Moacir Soares da Costa membro Geociências Jorge Antônio Barbosa membro Engenharia Civil ___________________________________________ Fernando Ximenes de Tavares Salomão Coordenador do Projeto Equipe Técnica: Elder de Lucena Madruga (geólogo) Fernando Ximenes de Tavares Salomão (geólogo) Sérgio Luiz Morais Magalhães (eng. civil)