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UNIP – Chácara Santo Antonio
Curso de Direito
3º /2º Semestre
Prof. Mônica M. C. Vieira Bortolassi
Organização do Estado
I) Princípio Constitucionais fundamentais
- Conceito de Princípio: Princípio é a base, o alicerce de todo ordenamento
jurídico.
- Diferença entre Princípios Fundamentais e Princípios gerais de Direito
Constitucional: José Afonso da Silva[1] ensina que "os fundamentais
traduzem-se em normas fundamentais que explicitam as valorações políticas
fundamentais do legislador constituinte, contêm as decisões políticas
fundamentais; os gerais formam temas de uma teoria geral do Direito
Constitucional, por envolver conceitos gerais, relações, objetos, que podem
ter seu estudo destacado da dogmática jurídico constitucional."
I.1) Princípio Republicano
- O Brasil é uma República, por força do que dispõe o art. 1º da CF.
- República é a forma de governo, fundado na igualdade formal das pessoas
(sendo que todos são cidadãos e não súditos), em que os detentores do
poder político exercem-no em nome do povo e em caráter eletivo,
representativo (de regra), transitório e com responsabilidade.
- A República impõe o princípio da igualdade. A res publica é de todos e
para todos.
- A República é caracterizada por mandatos e eleições.
- Eleições: em uma República o povo elege os chefes do Poder Executivo e os
membros do Poder Legislativo, através do sufrágio universal.
- Mandato: esta transferência de poder aos representantes eleitos pelo povo
se dará por um período determinado. A transitoriedade do mandato permite
que o povo avalie, periodicamente, seus mandatários.
- Em uma República, o governante é responsável politicamente. Assim sendo,
no Brasil, o Presidente da República responde por crimes de
responsabilidade e por crime comum (arts. 85 e 86 da CF).
- O princípio republicano alcança não só a União, como as demais pessoas
políticas existentes no Estado brasileiro.
I.2) Princípio Federativo
- Roque Antonio Carrazza[2] explica que a "Federação (de foedus, foedoris,
aliança, pacto) é uma associação, uma união institucional de Estados, que
dá lugar a um novo Estado (o Estado Federal), diverso dos que dele
participam (os Estados-membros). Nela, os Estados Federados, sem perderem
suas personalidades jurídicas, despem-se de algumas tantas prerrogativas,
em benefício da União. A mais relevante delas é a soberania".
- Celso Ribeiro Bastos[3] explica que a Federação[4] pode surgir tanto da
união de Estados independentes que já existiam, como da divisão de um
Estado unitário. Segundo o autor[5], a Federação, em regra, "(...) implica
na existência de um fenômeno associativo ou de agrupamento de Estados
preexistentes". Entretanto, "(...) também é possível atingir a federação a
partir da desagregação de um Estado unitário. É o que ocorre quando um
Estado unitário inicial se separam as diversas unidades autônomas que
passarão a constituir seus Estados membros".
- O Estado federal que resulta de uma agregação de Estados que a ele
preexistiam é denominado por Manoel Gonçalves Ferreira Filho[6] de
"federalismo por agregação", como é o caso dos Estados Unidos, da Alemanha
ou da Suíça. Por outro lado, o Estado unitário que descentralizou-se a
ponto de gerar Estados que foram "subpostos" é denominado pelo autor de
"federalismo por segregação", sendo este o caso do Brasil.
- O Brasil é um Estado-Federal, nos termos do art. 1º da CF, caracterizado
pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal.
- A base da descentralização política do Estado Federal é a Constituição, a
qual segundo Michel Temer[7] deve prever a descentralização, sem a qual não
há como se falar em Federação.
-José Alfredo de Oliveira Baracho[8] demonstra que a descentralização
política está associada com a autonomia dos Estados federados e com a
participação desses entes na formação da vontade legislativa do Estado
federal.
- Não se pode confundir ainda a Federação com a Confederação. Um dos
principais traços distintivos entre a Confederação e a Federação é a
soberania, de modo que se pode afirmar que os Estados confederados são
soberanos e os Estados federados são apenas autônomos.
- Celso Ribeiro Bastos[9] explica que a autonomia dos Estados federados
"(...) não é uma amplitude incondicionada ou ilimitada de atuação na ordem
jurídica, mas tão somente, a disponibilidade sobre certas matérias,
respeitados, sempre, princípios fixados na Constituição. Autonomia,
destarte, é uma área de competência circunscrita pelo direito, enquanto a
soberania não encontra qualquer espécie de limitação jurídica. O Estado
federal é soberano do ponto de vista do direito internacional ao passo que
os diversos Estados-membros são autônomos do ponto de vista do direito
interno".
-Portanto, no que diz respeito à Federação, pode-se concluir que, no plano
internacional, soberano é o Estado Federal. No plano interno os Estados-
membros são pessoas políticas autônomas que receberam atribuições
privativas do Texto Constitucional, ressaltando que esta autonomia
constitucional não é absoluta, mas relativa, pois devem ser observados os
limites traçados pela Constituição Federal.
- Roque Antonio Carrazza[10] ainda explica que, no Brasil, apesar de no
plano internacional, a União Federal "concentrar a soberania da Nação",
exercida em condições de igualdade perante os demais Estados independentes,
no plano interno, a União Federal é uma pessoa política com atribuições
privativas que se assemelham aos Estados-membros, que, como ela, são
autônomos. Conforme o autor[11], isto só é possível, por força do princípio
federativo:
"(...) no Brasil, por obra e graça do princípio federativo -
verdadeira coluna mestra de nosso sistema jurídico -, convivem
harmonicamente (e nisto estamos com Kelsen) a ordem jurídica
global (o Estado brasileiro) e as ordens jurídicas parciais,
central (a União) e periféricas (os Estados-membros). Esta
múltipla incidência só é possível por força da cuidadosa
discriminação de competências, levada a efeito pela
Constituição da República.
Não padece dúvida de que estas ordens jurídicas possuem campos
de atuação perfeitamente traçados pela Lei Máxima, de tal arte
que em nenhuma hipótese interferem umas com as outras. Nem,
muito menos, atritam[12]."
- Na Federação Brasileira, portanto, pode se afirmar que, juridicamente,
não existe hierarquia entre a União Federal e os Estados-membros. Neste
contexto, cada ente político (UF, Estados membros, Municípios e DF),
recebeu competências distintas do Texto Constitucional que lei alguma pode
alterar.
- Pode-se concluir, portanto, que no Brasil, em decorrência do Princípio
Federativo, inexiste hierarquia as pessoas políticas, sendo esta igualdade
garantida pela rígida repartição de competências[13] entre estes entes
políticos, expressamente prevista na Constituição Brasileira.
- Roque Antonio Carrazza[14] ensina que "foi para evitar possíveis choques
que o Constituinte delimitou as competências federais e estaduais. A União
e Estados só podem desenvolver suas atividades nos campos que lhes foram
reservados. Assim, nem a União há de invadir os limites da competência dos
Estados, nem estes poderão imiscuir-se em assuntos federais".
- De outro lado, como já referido, no Brasil, o Município também faz parte
da Federação (arts. 1º, 18, 29 e 30 da CF), juntamente com a União Federal
e os Estados-membros, mesmo não possuindo representação no Legislativo
federal (art. 45 e 46 da CF) e Poder Judiciário. Entretanto, neste ponto, a
doutrina diverge.
- Para José Afonso da Silva, José Nilo de Castro, Roque Antonio Carrazza, o
Município não é integrante da Federação Brasileira sob os seguintes
fundamentos: a) na inexistência de Federação de Municípios; b) na falta de
representação destes entes políticos no Senado Federal; c) na
impossibilidade de um Município apresentar uma proposta de emenda
constitucional; d) na falta de previsão autorizando a intervenção da União
Federal nos Municípios; e e) no fato do ente municipal não possuir Poder
Judiciário.
- Contrapondo-se a esse entendimento Celso Ribeiro Bastos[15] demonstra que
o reconhecimento de que o Município integra a Federação Brasileira
contraria os estudiosos que adotaram "(...) um modelo mais clássico de
federação, onde se desconhece a ordem municipal no próprio nível da
Constituição (...)". Perfilham o mesmo entendimento Luiz Alberto David
Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior[16] e Manoel Gonçalves Ferreira
Filho[17] o qual reconhece que a Constituição em vigor foi clara ao incluir
o Município entre os entes federativos (art. 1º), sendo que os arts. 29 e
31 garantiram a autonomia municipal semelhante a dos Estados-membros e lhe
atribuíram o poder de auto-organização.
- Donde se concluir que, o Município, ao lado da União Federal, dos Estados-
membros é ente federativo, dotado de autonomia, dentro da atribuição de
competência traçada pela Constituição Federal, ao qual cabe a organização,
sem interferências, de seu governo e o estabelecimento de suas normas
jurídicas.
- Verifica-se, portanto, no ordenamento pátrio, a autonomia municipal é
assegurada ao Município, dentro da atribuição de competências prevista pela
Constituição Federal, cabendo-lhe organizar seu governo, instituir e
arrecadar seus tributos e estabelecer suas próprias normas.
- De fato, a autonomia dos Municípios ao lado dos Estados membros é
caracterizada em:
a) Autonomia de auto-organização: trata-se da capacidade que os Municípios
(art. 29, caput[18]) e os Estados membros receberam de elaborarem suas Leis
Orgânicas e Constituições Estaduais, respectivamente.
b) Autonomia de autogoverno: assegurada aos Municípios (art. 29, I[19], da
Constituição Federal) e aos Estados Membros ao garantir eleições diretas
municipais para prefeito, vice-prefeito e vereador (tendo sido extinta,
portanto, a nomeação de prefeito no Município) e para governador, vice-
governador e deputados estaduais, respectivamente.
c) Autonomia legislativa: consiste na capacidade do Município de legislarem
sobre matérias de assunto local, de competência exclusiva do Município
(art. 30, I), inclusive sobre a instituição de tributos próprios; de
suplementar a legislação federal e estadual (art. 30, II), no que couber.
Trata-se ainda da capacidade atribuída aos Estados membros para legislarem
nos termos do art. 25, parágrafo 1º da CF e do art. 24 da CF (competência
concorrente).
d) Autonomia financeira e tributária: trata-se da capacidade que os
Municípios e os Estados membros receberem de criar e cobrar seus tributos
dentro de suas respectivas competências.
I.3) Princípio da Separação de Poderes
- De acordo com o art. 2º da CF: "São poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário". Este
princípio demonstra que apesar do poder ser uno, as funções são tripartidas
em legislativa, executiva e jurisdicional. Estas funções são atribuídas a
órgãos distintos, que se fundamentam na especialização funcional e na
independência.
- Assim sendo, um dos órgãos exerce função legislativa (através da edição
de leis genéricas e abstratas), o outro a executiva (administrativa,
através da execução das leis) e um terceiro a jurisdicional (quando
provocado, o Judiciário soluciona conflitos aplicando a lei ao caso
concreto).
- Independência e harmonia entre os poderes: a independência dos poderes
esta relacionada ao fato de que cada um dos órgãos não precisa consultar,
nem pedir autorização do outro para exercer suas funções. Já a harmonia
entre os poderes evidencia-se com a necessidade de existir um respeito
recíproco entre os poderes.
I.4) Estado Democrático de Direito: segundo José Afonso da Silva, Estado
Democrático de Direito "não significa apenas unir formalmente os conceitos
de Estado de Democrático e Estado de Direito; consiste na criação de um
conceito novo, levando em conta os conceitos dos elementos componentes, mas
os supera na medida em que incorpora um componente revolucionário de
transformação do status quo; é um tipo de Estado que tende a realizar a
síntese do processo contraditório do mundo contemporâneo, superando o
Estado capitalista para configurar um Estado promotor de justiça social que
o personalismo e monismo político das democracias populares sob o influxo
do socialismo real não foram capazes de construir; a CF de 88 apenas abre
as perspectivas de realização social profunda pela prática dos direitos
sociais que ela inscreve e pelo exercício dos instrumentos que oferece à
cidadania e que possibilita concretizar as exigências de um Estado de
justiça social, fundado na dignidade da pessoa humana".
I.5) Soberania: trata-se do poder supremo de um Estado dentro de suas
fronteiras, que se sobrepõe as outros Estados estrangeiros, manifestando-
se, inclusive, para fora de seu território, na medida em que este Estado
pode se impor perante a comunidade internacional ou evitar interferência
estrangeira.
- O conceito de Soberania também abrange a idéia de Soberania Popular, de
onde emana todo o poder.
I.6) Cidadania: A cidadania é assegurada através dos preceitos
constitucionais que garantem a participação do cidadão na vida política do
Estado (Art. 1º, parágrafo único da CF, que prescreve que "todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição").
- O cidadão é aquele que está no exercício dos seus direitos políticos
consubstanciados no direito de votar e ser votado, ou seja, capacidade
eleitoral ativa (capacidade de votar) passiva (direito de ser votado).
I.7) Dignidade da pessoa humana
Para Alexandre de Moraes: "A dignidade da pessoa humana é um valor
espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na
autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz
consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-
se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de
modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício
dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima
que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos."
- Este Princípio baseia-se em valor espiritual e moral intrínseco dos
indivíduos, estando relacionado ao seu direito a uma existência digna. Para
que o indivíduo tenha uma vida digna é indispensável que lhe sejam
asseguradas todas as suas necessidades básicas de vida (moradia,
alimentação, educação) e o seu direito à liberdade e à igualdade.
- Canotilho[20] demonstra a importância da dignidade da pessoa humana:
(...) perante as experiências históricas de aniquilação do ser humano
(inquisição, escravatura, nazismo, stalinismo, polpotismo, genocídios
étnicos) a dignidade da pessoa humana como base da República significa, sem
transcendências ou metafísicas, o reconhecimento do homo noumenon, ou seja,
do indivíduo como limite e fundamento do domínio político da República.
Uadi Lammêgo Bulos[21], a respeito, ensina que: "Quando o Texto Maior
proclama a dignidade da pessoa humana, está consagrando um imperativo de
justiça social, um valor constitucional supremo. Por isso, o primado
consubstancia o espaço de integridade moral do ser humano,
independentemente de credo, raça, cor, origem ou status social. O conteúdo
do vetor é amplo e pujante, envolvendo valores espirituais (liberdade de
ser, pensar e criar etc.) e materiais (renda mínima, saúde, alimentação,
lazer, moradia, educação etc.). Seu acatamento representa vitória contra a
intolerância, o preconceito, a exclusão social, a ignorância e a opressão.
A dignidade humana reflete, portanto, um conjunto de valores civilizatórios
incorporados ao patrimônio do homem."
I.8) Princípio dos valores sociais do trabalho
- Os valores sociais do trabalho demonstram uma preocupação da Constituição
(a exemplo dos arts. 5º, XIII; 6º, 7º, 8º; 194 -204) com o trabalhador,
tendo em vista que é através do trabalho que o homem garante a sua
dignidade e sua subsistência.
I.9) Princípio da Livre iniciativa
- Trata-se de um dos Princípios de ordem econômica de garantia da
iniciativa privada, previsto nos art. 170 da CF. A Constituição consagrou
uma economia de mercado, como princípio básico do capitalismo.
- A respeito José Afonso da Silva entende que "a liberdade de iniciativa
envolve a liberdade de indústria e comércio ou liberdade de empresa e a
liberdade de contrato. Consta do art. 170, como um dos esteios da ordem
econômica, que assegura a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo casos
previstos em lei". (Silva, José Afonso, "Curso de Direito Constitucional
Positivo", 28ª edição, São Paulo: Ed. Malheiros, 2007, pág.787).
I.10) Pluralismo político: Demonstra a preocupação do constituinte em
garantir a existência igualitária de diversos partidos políticos
representando os pensamentos e interesses das mais diversas camadas
sociais, de forma a assegurar a liberdade de convicção política e
filosófica.
II) FEDERAÇÃO – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
II.1) COMPETÊNCIA: É a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade ou
a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Em uma
Federação a repartição de competência é feita pelas atribuições dadas pela
Constituição a cada uma das entidades federativas: União, Estados ,
Distrito Federal e Municípios.
II.2) PRINCÍPIO GERAL DA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS: O princípio geral
da repartição de competências é o da predominância de interesses, ou
seja, onde prevalecer o interesse geral e nacional a competência será
atribuída à União; onde preponderar o interesse regional a competência
será concedida aos Estados; e onde predominar o interesse local a
competência será dada aos Municípios.
II.3) CLASSIFICACÃO DAS COMPETÊNCIAS:
3.1) CLASSIFICACÃO DAS COMPETÊNCIAS QUANTO A NATUREZA:
a) Material ou Administrativa (Não Legislativa): É a prática dos atos
de gestão. Não se trata de atividade legislativa.
- União (Art. 21 da CF)
- Estados membros (art. 25, parágrafos 2º e 3º da CF)
- Municípios (Art. 30, III a IX da CF)
- UF, Estados, Municípios e DF – competência comum (Art. 23 da CF)
b) Legislativa: É a faculdade atribuída a cada um dos entes políticos
para a elaboração de leis sobre determinadas matérias.
- União (Arts. 22 da CF)
- Estados (Art. 25, parágrafo 1o da CF)
- Municípios (Art. 30, I e II da CF): possuem competência para
legislar sobre assuntos de interesse local e para suplementar
a legislação federal e a estadual).
- Competência concorrente: art. 24 da CF
3.2) CLASSIFICACÃO DAS COMPETÊNCIAS QUANTO À FORMA:
a)- Enumeradas ou Expressas: Atribuições específicas feitas pela CF a
cada entidade federativa.
- União (Art. 21, 22 e 24 da CF)
- Municípios (Art. 30 da CF)
b)- Remanescentes: Trata-se das atribuições restantes, que não foram
atribuídas especificamente a nenhuma entidade federativa. Os Estados
membros possuem competências remanescentes, nos termos do art. 25,
parágrafo 1º da CF.
3.3.) CLASSIFICACÃO DAS COMPETÊNCIAS QUANTO À EXTENSÃO:
a)- Exclusivas: Atribuídas a uma única entidade federativa, sem a
possibilidade de delegação (Arts. 21 e 30, I da CF)
b)- Privativas: Atribuídas a uma única entidade federativa, com a
possibilidade de delegação em questões específicas, nos termos do art.
22, parágrafo único da CF.
c)- Comuns, cumulativas ou paralelas: Atribuídas a todas as entidades
federativas sobre determinadas matérias. Na competência comum
(administrativa), a União, Estados, Distrito Federal e Municípios poderão
administrar sobre as matérias do art. 23 da CF, sendo que todos esses
entes federativos devem cuidar do cumprimento (execução) das leis,
independentemente da origem federal, estadual, 'distrital', ou municipal.
d)- Concorrentes: A União deverá restringir-se a fixar somente normas
gerais, deixando aos Estados a implementação de regras específicas de
acordo com suas particularidades. Muito embora o art. 24 não
estabeleça a possibilidade de os Municípios legislarem
concorrentemente sobre determinadas matérias, essa faculdade é
prevista, de forma ampla e genérica, pelo art 30, II da CF.
Obs: Inexistindo legislação federal sobre normas gerais em matéria de
competência concorrente, os Estados possuem a faculdade de exercer
competência legislativa plena para atender as suas peculiaridades.
Nessa hipótese, a superveniência da legislação federal suspende a
eficácia da lei estadual no que lhe for contrário (art. 24, parágrafo
4o,CF).
e)- Suplementares: Atribuídas aos Estados para desdobrarem as normas
gerais estabelecidas pela União, dentro da competência legislativa
concorrente, de acordo com suas peculiaridades (Art. 24, parágrafo
2o,CF) e aos Municípios (art. 30, II da CF).
IV-PODER LEGISLATIVO
No Brasil temos um BICAMERALISMO FEDERATIVO, isto é, o Poder Legislativo
federal é composto de duas Casas, sendo que, em uma das Casas estão os
representantes do povo (Câmara dos Deputados) e em outra estão os
representantes dos Estados ou unidades federadas (Senado Federal).
IV.1. CÂMARA DOS DEPUTADOS
- O sistema de eleição para Deputados federais é o sistema proporcional, ou
seja, o número de deputados é proporcional ao número da população e o
partido que obtiver mais votos terá mais membros eleitos.
- O número total de Deputados federais a serem eleitos por cada Estado
membro, fica a cargo da Lei complementar.
- A CF não prevê o número de deputados que devem ser eleitos por cada
Estado e pelo DF, mas fixa um número mínimo de 08 e um número máximo de 70
deputados federais a serem eleitos por cada Estado e pelo DF.
- O tempo de mandato de cada deputado federal é de quatro anos (art. 45,
§ 1º da CF).
- Os territórios elegerão um número fixo de 4 deputados federais.
IV.2. SENADO FEDERAL
- São os representantes do Estado e do Distrito Federal.
-O sistema de eleições para senador é o majoritário, ou se seja, aqui se
elegem os senadores mais votados no Estado e no DF, não sendo proporcional,
pois a representação deve ser paritária. Isto ocorre porque o Brasil adota
um FEDERALISMO de IGUALDADE entre as unidades Federadas. Assim sendo, cada
Estado e o Distrito Federal elegem TRÊS SENADORES.
- A duração do mandato de cada Senador é de 08 anos.
- A cada 4 anos temos a renovação de mandato devendo ocorrer alternadamente
por um e dois terços.
IV.3- QUÓRUM
- O quorum é o número de votos necessários para a aprovação de uma
deliberação.
- O quórum pode ser de 2/3 (ex. votar o "impeachment" do Presidente da
República); 3/5 (ex. para aprovar Emenda Constitucional); maioria absoluta
(aprovação da lei complementar) e maioria simples (aprovação da lei
ordinária).
- O quórum de maioria absoluta equivale a 50% +1 (cinqüenta por cento mais
um) de todos os componentes da Casa. Assim se temos o nº de 81 Senadores,
para aprovar uma deliberação por maioria absoluta, necessária a votação a
favor desta deliberação de 41 Senadores.
O quórum de maioria simples equivale a 50%+1 (cinqüenta por cento mais um)
do parlamentares presentes, desde que estejam presentes a maioria absoluta
dos membros da Casa (quorum de instalação). Assim, se o Senado Federal
possui 81 Senadores, para poder votar a deliberação e ela ter chance de ser
aprovada é necessário que estejam presentes na Casa no mínimo, 41 Senadores
e votem a favor da deliberação 21 Senadores.
IV.5. ATRIBUIÇÕES
A) CONGRESSO NACIONAL
- É formado pelo Senado Federal e a Câmara dos Deputados.
- As competências ou atribuições do Congresso Nacional que são de duas
espécies: as que dependem de sanção do Presidente da República (art. 48 da
CF) e as que não dependem de sanção do Presidente da República (art. 49 da
CF).
- Apesar de o Congresso Nacional ser uma Casa composta pelo Senado Federal
e pela Câmara dos Deputados, é considerado uma terceira Casa independente,
sendo suas competências distintas das do Senado e da Câmara.
- O que traduz mais a vontade do Congresso Nacional com sanção do
Presidente da República é a LEI. O Presidente da República sempre sanciona
ou veta a lei.
- O artigo 49 traz competências exclusivas do Congresso Nacional, isto é,
independe de sanção do Presidente da República, por ex. Tratado
Internacional é documento que consubstancia a vontade de dois Estados
soberanos, quem assina o Tratado é o Presidente da República, todavia, o
Congresso Nacional deve examiná-lo e aprová-lo, ou seja, quem decide, tem a
última palavra é o Congresso Nacional.
B) CÂMARA DOS DEPUTADOS
- A Câmara possui competências privativas (artigo 51 da CF), pois não
dependem de sanção do Presidente da República e nem de aquiescência do
Senado Federal. Ex. O art. 51, inciso I prevê que a Câmara não julga,
apenas autoriza, ou seja, permite a instauração do processo contra o
presidente da República por crime de responsabilidade, (lembrando que
compete ao Senado Federal o julgamento do Presidente por crimes de
responsabilidade). Caso o Presidente tenha praticado crime comum
relacionado com a função, esta autorização da Câmara dos Deputados também é
necessária para ele seja julgado perante o STF- Supremo Tribunal Federal.
C) SENADO FEDERAL
A competência privativa do Senado encontra-se no artigo 52 da CF. Independe
de sanção do Presidente da República e concordância da Câmara dos
Deputados.
IV.5) ESPÉCIES NORMATIVAS
O artigo 59 da CF enumera os tipos legislativos existentes na ordem
jurídica brasileira:
I – EMENDA CONSTITUCIONAL;
II – LEI COMPLEMENTAR;
III – LEI ORDINÁRIA;
IV – LEI DELEGADA;
V – MEDIDA PROVISÓRIA;
VI – DECRETO LEGISLATIVO; E
VII – RESOLUÇÕES.
O processo legislativo, propriamente dito, é a o conjunto dos tipos
legislativos enumerados no artigo 59 da CF, bem como a forma que estes
tipos são elaborados.
I – Emenda Constitucional
- Toda e qualquer alteração da Constituição Federal é denominado uma emenda
constitucional.
- Para emendarmos a CF há limitações: Materiais, Circunstanciais e
Procedimentais.
A) MATERIAIS
As limitações materiais são as matérias que não podem ser modificadas na
Constituição Federal. Estas matérias estão elencadas no artigo 60, § 4º e
são denominadas de CLÁUSULAS PÉTREAS.
B) CIRCUNSTANCIAIS
As limitações circunstanciais são aquelas referentes a determinadas
circunstâncias.
-Assim quando estiverem presentes determinadas circunstâncias a CF não
poderá ser emendada. Estas circunstâncias estão previstas no artigo 60, §
1º da CF.
C) PROCEDIMENTAIS
- É o procedimento exigido para aprovar uma Emenda Constitucional.
C1) Procedimento em relação a iniciativa: Quem possui legitimidade para
propor uma Emenda Constitucional:
a) 1/3 de Deputados ou Senadores;
b) Presidente da República;
c) mais da metade das Assembléias Legislativas do Brasil (Estados), devendo
manifestar-se cada uma delas pela maioria relativa de seus membros.
C2) Procedimento em relação a aprovação
- A proposta a Emenda deverá ser apreciada e aprovada em DOIS TURNOS de
cada uma das Casas , pelo quorum de por 3/5 dos seus parlamentares.
- Aprovada a Emenda será promulgada pelas Mesas da Câmara e do Senado
Federal. NÃO EXISTE SANÇÃO da Emenda do Presidente da República, logo, o
Presidente da República jamais poderá vetar uma Emenda Constitucional,
aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
- O art. 60, § 5º da CF determina que a emenda com matéria já rejeitada
não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
II- DAS LEIS
- LEI ORDINÁRIA E LEI COMPLEMENTAR
1º) Quórum de aprovação
Na Lei Complementar o quórum é de maioria absoluta, na Lei Ordinária é de
maioria simples;
2º) A Lei Complementar têm seu conteúdo pré-fixado na Constituição Federal.
3º) Não há hierarquia entra a Lei Ordinária e a Lei Complementar, o que
existe é uma questão de competência.
- PROCEDIMENTO PARA APROVAÇÃO DAS LEIS ORDINÁRIA E COMPLEMENTAR
Há 05 fases:
1º Iniciativa;
2º Discussão/Aprovação
3º Sanção e Veto
4º Promulgação
5º Publicação.
- 1º FASE: INICIATIVA
- Todos aqueles elencados no artigo 61 da CF podem apresentar um projeto de
lei no Legislativo.
-O projeto de lei será proposto em uma das Casas. Há duas Casas a
INICIADORA e a REVISORA. A INCIADORA é sempre a Câmara dos Deputados, SALVO
quando o projeto de lei for de iniciativa de membro do Senado Federal ou
Comissão do Senado Federal. Neste caso a Casa Iniciadora é o Senado
Federal.
2º FASE: DISCUSSÃO E APROVAÇÃO
1. Se o projeto de lei não for aprovado na Casa Iniciadora, esta nem o
remeterá para a Revisora, pois já está rejeitado/arquivo.
2. Se o projeto de lei for aprovado na Casa Iniciadora e Revisora sai da
esfera do Poder Legislativo e vai para o Executivo para sanção ou veto do
Presidente da República.
3. Se o projeto de lei for aprovado na Casa Iniciadora, mas não for
aprovado na Revisora, o projeto de lei está rejeitado/arquivo.
4. Se o projeto de lei for aprovado na Casa Iniciadora, e for emendado na
Casa Revisora, deve voltar para Casa Iniciadora que o aprovará com a
emenda, ou não o aprovará e será arquivado (NÃO PODE MAIS EMENDAR).
3º FASE : SANÇÃO E VETO
Sanção é o ato pelo qual o Presidente da República aprova o projeto de lei.
Há duas espécies:
1. Expressa
2. Tácita (art. 66, § 3º da CF) – quando decorre 15 dias de silêncio após o
envio do projeto de lei ao Presidente da República temos a sanção tácita.
O Presidente da República tem 15 dias para vetar o projeto de lei. O veto
pode ser TOTAL, veta todo o projeto; ou PARCIAL não veta todo o projeto
(art. 66, § 2º da CF), o veto parcial será obrigatoriamente do texto
integral do artigo, do parágrafo, do inciso ou da alínea. NÃO HÁ VETO
TÁCITO.
Há dois fundamentos que autorizam o veto:
1. Jurídico: quando o Presidente da República entender que o projeto de lei
é inconstitucional;
2. Político: quando o Presidente da República entender que o projeto de lei
é contrário ao interesse público.
Em caso de veto o Presidente da República deve comunicar o Presidente do
Senado, bem como fornecer os fundamentos do veto.
O VETO NÃO É TERMINATIVO, pois é reexaminado pelo Congresso Nacional
através de uma sessão conjunta (Câmara dos Deputados e Senado Federal),
dentro de 30 (trinta) dias a contar do seu recebimento, podendo ser
rejeitado por maioria absoluta dos Deputados e Senadores em votação
secreta.
4º FASE : PROMULGAÇÃO
Promulgação é ato que anuncia uma nova lei (art. 66, § 7º).
Em regra quem promulga a lei é o Presidente da República.
Todavia, a promulgação não é privativa do Presidente da República. Ex.
sanção tácita, em caso de derrubada do veto presidencial cabe ao Presidente
promulgar a lei, todavia se não o fizer no prazo de 48 hs, cabe ao
Presidente do Senado promulgá-la, e se este não o fizer no mesmo prazo
compete ao Vice Presidente do Senado fazê-lo; outro exemplo é a Emenda
Constitucional.
5º FASE : PUBLICAÇÃO
A lei passa a ser exigida com a sua publicação. Compete ao Presidente da
República publicar a lei (art. 84, IV da CF), não há prazo para a
publicação de lei, alguns doutrinadores por analogia alegam que o prazo é
de 48 hs como o da promulgação. Todavia, não publicar a lei é crime
administrativo pois está impedindo a vontade do Poder Legislativo.
III- LEI DELEGADA
- Trata-se de uma delegação do Poder, delegação "externa corpus". O Poder
Legislativo concede uma delegação ao Presidente da República.
- O Presidente da República solicita a delegação ao Congresso Nacional,
esta delegação do Congresso Nacional tem a forma de Resolução.
- A resolução deve especificar o conteúdo da lei delegada.
- As matérias elencadas no art. 68, § 1º da Constituição Federal, não
serão objeto de lei delegada.
- O Congresso Nacional ao conceder a delegação pode se reservar o direito
de apreciar o projeto de lei, se discordar arquiva, todavia, não poderá
emendá-lo.
- Caso o Congresso concorde com a Lei Delegada o projeto será promulgado e
publicado.
- No caso do Congresso Nacional entender que o Presidente da República
excedeu os poderes permitidos pela lei delegada, o Congresso pode sustar a
aplicação da Lei (art. 49, V da Constituição Federal).
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[1] José Afonso da Silva. Revista do Tribunal Regional Federal 1ª Região,
Brasília, v. 6, n. 4, p. 17-22, out./dez. 1994, p. 18-19.
[2] Roque Antonio Carrazza. Curso de Direito Constitucional Tributário. São
Paulo: Malheiros, p. 113.
[3] Celso Bastos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, p.
283.
[4] Para De Plácido e Silva o vocábulo federação deriva "(...) do latim
foederatio, de foederare (unir, legar por aliança), é empregado na técnica
do Direito Público, como a união indissoluvelmente instituída por Estados
independentes ou da mesma nacionalidade para a formação de uma só entidade
soberana" (Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 606).
[5] Celso Bastos. Curso.op. cit., p. 283.
[6] Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Curso de direito constitucional. 29ª
ed. ver. atual. São Paulo: Saraiva. 2002, p. 54.
[7] Michel Temer. Elementos de Direito Constitucional. 14ª rev. amp., São
Paulo: Malheiros. 1998, p. 61.
[8] Idem, ibidem, p. 13.
[9] Celso Ribeiro Bastos. Curso. op. cit., p. 284.
[10] Roque Antonio Carrazza. Curso de Direito Constitucional Tributário.
19ª ed. rev. amp. atual., São Paulo: Malheiros. 2003, p. 129-130.
[11] Roque Antonio Carrazza. Curso. op. cit., p. 126.
[12] Roque Antonio Carrazza. Curso de Direito Constitucional Tributário.
19ª ed. rev. amp. atual., São Paulo: Malheiros. 2003, p. 136.
[13] Para José Afonso da Silva "Competência é a faculdade juridicamente
atribuída a uma entidade ou a um órgão ou agente do Poder Público para
emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que
se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções"
(Curso de Direito Constitucional Positivo. 19ª ed. rev. atual., São Paulo:
Malheiros. 2001, p. 481).
[14] Roque Antonio Carrazza. Curso de Direito Constitucional Tributário.
19ª ed. rev. amp. atual., São Paulo: Malheiros. 2003, p. 134.
[15] Celso Ribeiro Bastos. Curso de direito constitucional. 20ª edição.
atual. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 294.
[16] Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Junior. Curso de
direito constitucional. 6. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva. 2002, p.
238.
[17] Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Aspectos do direito constitucional
contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 183.
[18] Constituição Federal: "Art. 29:"O Município reger-se-á por lei
orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição
do respectivo Estado e os seguintes preceitos (...)".
[19]Constituição Federal, art. 29, I: "I- eleição do Prefeito, do Vice-
Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito
direto e simultâneo realizado em todo o País";
[20] Joaquim José Gomes Canotilho. Constitucional e teoria da
constituição. 3ª ed. Coimbra: [s.n.], 1998, p. 221.
[21] BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo:
Saraiva, 2007, p. 389.