Transcript
CONSERVAÇÃO DE SOLO
Prof. Erico Sengik .´. 2005
1. FATORES QUE AFETAM A EROSÃO
A erosão é causada por forças ativas, como as características da
chuva, a declividade e comprimento do declive do terreno e a capacidade que
tem o solo de absorver água, e por forças passivas, como a resistência que
exerce o solo à ação erosiva da água e a densidade da cobertura vegetal.
A água da chuva exerce sua ação erosiva sobre o solo pelo impacto
das gotas, que caem com velocidade e energia variáveis, dependendo do seu
diâmetro, e pelo escorrimento da enxurrada.
O volume e a velocidade da enxurrada variam com a chuva, com a
declividade e comprimento do declive do terreno e com a capacidade do solo
em absorver mais ou menos água.
A resistência que o solo exerce a ação erosiva da água está
determinada por diversas de suas características ou propriedades físicas e
químicas, e pela natureza e quantidade do seu revestimento vegetal.
Para encontrar soluções adequadas ao problema da erosão, é
necessária a inter-relação dos fatores contribuinte, pois, ainda que alguns
não se possam modificar diretamente, todos podem ser controlados,
compreendendo-se bem a forma como atuam.
1. CHUVA
A chuva é um dos fatores climáticos de maior importância na erosão
dos solos. O volume e a velocidade da enxurrada dependem da intensidade,
duração e freqüência da chuva. A intensidade é o fator pluviométrico mais
importante na erosão.
Dados de chuva em totais ou médias mensais e anuais pouco
significam em relação à erosão. Em duas regiões pode cair num ano, a mesma
quantidade de chuva, não significando que a situação seja semelhante, pois,
num local pode ter caído grande número de chuvas leves e, no outro, duas a
três chuvas pesadas que contribuem com 60% ou 80% do total; é provável que
neste último, se as demais condições são semelhantes, possa se esperar uma
erosão mais severa.
A intensidade é o fator mais importante. Quanto maior a intensidade
de chuva, maior a perda por erosão. Dados obtidos por SUAREZ CASTRO revelam
que, para uma mesma chuva total de 21mm, uma intensidade de 7,9mm produziu
uma perda de terras cem vezes maior que uma de 1mm.
A freqüência das chuvas é um fator que influi nas perdas de terras
pela erosão. Se os intervalos entre elas são curtos, o teor de umidade do
solo é alto, e assim as enxurradas são mais volumosas, mesmo com chuvas de
menor intensidade.
Durante uma chuva muito forte, milhares de milhões de gotas de
chuva golpeiam cada hectare de terreno, desprendendo as partículas da massa
de solo. Muitas dessas partículas podem ser atiradas a mais de 60cm de
altura e a mais de 1,5m de distância. Se o terreno está desnudo de
vegetação, as gotas desprendem centenas de toneladas de partículas de solo,
que são facilmente transportadas pela água.
As gotas de chuva que golpeiam o solo são um agente que contribui
para o processo erosivo pelo menos por três formas:
a) desprendem partículas de solo no local que sofre o impacto;
b) transportam por salpicamento, as partículas desprendidas;
c) imprimem energia em forma de turbulência, à água superficial.
A energia cinética é uma função da massa e da velocidade. Se se
considerar uma gota de chuva que se desprende de uma nuvem, poder-se-ia
pensar-se que está sujeita à aceleração da gravidade e que, por
conseguinte, sua energia cinética é maior à medida que cai de maior altura.
Elas sofrem múltiplas mudanças de forma no trajeto que percorrem. Durante
os primeiros metros de queda, uma gota grande vibra entre achatamentos
verticais e horizontais como uma freqüência que depende do seu tamanho. O
atrito de ar e a pressão determinam uma diminuição na velocidade. Assim as
gotas de chuva na queda podem alcançar uma velocidade máxima ou "velocidade
terminal", a partir da qual o movimento é uniforme; essa velocidade
constante é atingida quando a resistência oposta à queda é igual ao peso do
corpo menos o empuxo para cima.
Quadro 1.1. Velocidade terminal de gotas de chuva de vários
diâmetros.
"Diâmetro da gota de "Velocidade terminal "Altura da queda com a "
"chuva " "qual a gota de água "
" " "adquire 95% de sua "
" " "velocidade terminal "
"Mm "m/s "m "
"1 "4,0 "2,2 "
"2 "6,5 "5,0 "
"3 "8,1 "7,2 "
"4 "8,8 "7,8 "
"5 "9,1 "7,6 "
"6 "9,3 "7,2 "
Segundo WISCHMEIER & SMITH, quando todos os outros fatores, com
exceção da chuva, são mantidos constantes, a perda de solo por unidade de
área de um terreno desprotegido de vegetação é diretamente proporcional ao
produto de duas características da chuva: energia cinética por sua
intensidade máxima em 30 minutos. Essa foi a melhor correlação encontrada
para expressar o potencial erosivo da chuva. HUDSON, na África subtropical,
encontrou que energia cinética de chuvas individuais de intensidades de
25,4mm ou maiores foi mais estreitamente relacionada com as perdas de solo
que qualquer parâmetro individual testado.
Quadro 1.2. Energia cinética da enxurrada.
" "Chuva "Enxurrada "
"Massa "Suponha a massa de "Suponha 25% de enxurrada,"
" "queda da chuva = R "e a massa da enxurrada = "
" " "R/4 "
"Velocidade "Suponha uma "Suponha a velocidade de "
" "velocidade Terminal "escorrimento na "
" "de 8m/s "superfície de 1m/s "
"Energia cinética* "½ x R x (8)2 = 32R "½ x R/4 x (1)2 = R/8 "
* Energia cinética = ½ x massa x (velocidade)2
Fonte: Hudson
A erosão do solo é um processo de trabalho no sentido físico em que
esse trabalho é o consumo de energia, em que a energia é usada em todas as
fases da erosão: no rompimento dos agregados do solo, no salpicamento. A
energia cinética disponível da chuva que cai em comparação com a da energia
cinética da enxurrada na superfície; evidenciam que a chuva tem 256 vezes
mais energia cinética que a enxurrada na superfície.
2. INFILTRAÇÃO
A Infiltração é o movimento da água para dentro da superfície do
solo. Quanto maior sua velocidade, menor a intensidade de enxurrada na
superfície e, conseqüentemente, reduz-se a erosão. O movimento de água
através do solo é realizado pelas forças de gravidade e de capilaridade;
esse movimento através dos grandes poros, em solo saturado, é
fundamentalmente pela gravidade, enquanto em um solo não saturado é
principalmente pela capilaridade.
Durante uma chuva, a velocidade máxima de infiltração ocorre no
começo, e usualmente decresce muito rapidamente, de acordo com alterações
na estrutura da superfície do solo. Se a chuva continua, a velocidade de
infiltração gradualmente aproxima de um valor mínimo, determinado pela
velocidade com que a água pode entrar na camada superficial e pela
velocidade com que ela pode penetrar através do perfil do solo.
O tamanho e a disposição dos espaços porosos têm a maior influência
na velocidade de infiltração de um solo. Em solos arenosos, com grandes
espaços porosos, pode-se esperar mais alta velocidade de infiltração que
nos limosos ou argilosos, que têm relativamente menos espaços porosos. A
velocidade de infiltração é também afetada pela variação na estrutura do
perfil: se um solo arenoso tem logo abaixo uma camada pouco permeável de
argila, pode-se esperar alta velocidade de infiltração até que a camada
arenosa fique saturada, e, desse momento em diante, infiltração menor, em
virtude da camada argilosa.
A umidade do solo no começo da chuva também afeta a velocidade de
infiltração: o material coloidal tende a se dilatar quando molhado,
reduzindo, com isso, o tamanho e o espaço poroso e, conseqüentemente, a
capacidade de infiltração.
O grau de agregação do solo é outro fator que afeta a infiltração. Se as
partículas mais finas são bem agregadas, os espaços porosos entre elas são
maiores, proporcionando maior velocidade de infiltração. Práticas de manejo
do solo que melhoram suas condições físicas e granulação reduzem a
enxurrada e a erosão de grande parte das chuvas.
O preparo do solo exerce um efeito temporário ao deixar o solo
solto, aumentando a infiltração; entretanto, se a superfície não está
protegida com vegetação ou cobertura morta, a chuva e o vento, consolidando
a superfície, reduzem a velocidade de infiltração. A aração profunda é
também importante fator para aumentar a infiltração, enquanto práticas que
exercem compressão no solo podem diminuí-la. O cultivo em contorno,
retardando a enxurrada, favorece a infiltração.
O fator mais importante na velocidade de infiltração é a
cobertura vegetal que está no solo durante a chuva. Se chuva intensa cai
quando o solo não está protegido pela cobertura vegetal ou pela cobertura
morta, sua camada superficial fica comprimida pelo impacto das gotas de
chuva, e a infiltração é reduzida; porém, se essa chuva cai quando há boa
cobertura vegetal, o solo permanece com boa permeabilidade e terá maior
velocidade de infiltração.
3. TOPOGRAFIA DO TERRENO
A topografia do terreno pela declividade e pelo comprimento dos
lançantes, exerce acentuada influência sobre a erosão. O tamanho e a
quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem da
velocidade cm que ela escorre, e essa velocidade é uma resultante do
comprimento do lançante e do grau de declive do terreno.
Do grau de declive dependem diretamente o volume e a velocidade das
enxurradas que sobre ele escorrem. AYRES apresenta alguns princípios de
hidráulica que, teoricamente, podem explicar as relações entre a velocidade
da água e o seu poder erosivo: (a) a velocidade da água varia com a raiz
quadrada da distância vertical que ela percorre, e a sua energia cinética,
de acordo com o quadrado da velocidade; a energia cinética é a capacidade
erosiva. Assim, se o declive do terreno aumenta quatro vezes, a velocidade
de escorrimento da água aumenta duas vezes e a capacidade erosiva
quadruplica; (b) a quantidade de material que pode ser arrastado varia com
a quinta potência da velocidade de escorrimento; (c) o tamanho das
partículas arrastadas varia com a sexta potência da velocidade de
escorrimento.
O comprimento de rampa não é menos importante que o declive, pois à
medida que o caminho percorrido vai aumentando, não somente as águas vão-se
avolumando proporcionalmente como, também, a sua velocidade de escoamento
vai aumentando progressivamente. Em princípio, quanto maior o comprimento
de rampa, mais enxurrada se acumula, e a maior energia resultante se traduz
por uma erosão maior.
4. COBERTURA VEGETAL
A cobesrtura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a
erosão. O efeito da vegetação pode ser assim enumerado: (a) proteção direta
contra o impacto das gotas de chuva; (b) dispersão da água, interceptando-a
e evaporando-a antes que atinja o solo; (c) decomposição das raízes das
plantas que, formando canalículos no solo, aumentam a infiltração da água;
(d) melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica,
aumentando assim sua capacidade de retenção da água; (e) diminuição da
velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície.
Quando cai em um terreno coberto com densa vegetação, a gota de
chuva se divide em inúmeras gotículas, diminuindo também, sua força de
impacto. Em terreno
Descoberto, ela faz desprender e salpicar as partículas de solo, que são
facilmente transportadas pela água.
A vegetação, ao decompor-se, aumenta o conteúdo de matéria orgânica e
de húmus do solo, melhorando-lhe a porosidade e a capacidade de retenção de
água.
Quadro 1.3. Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por erosão.
Médias ponderadas para três tipos de solo do Estado de São Paulo.
"Tipo de uso "Perdas de solo "Perdas de água "
" "t/ha "% da chuva "
"Mata "0,004 "0,7 "
"Pastagem "0,4 "0,7 "
"Cafezal "0,9 "1,1 "
"Algodoal "26,6 "7,2 "
A vegetação também tem parte importante na erosão eólica, reduzindo a
velocidade do vento na superfície do solo e absorvendo a maior parte da
força exercida por ele. Aprisionando as partículas de solo, a vegetação
previne a formação de nuvens de areia e impede que tais partículas sejam
carregadas pelo vento. A vegetação é mais eficiente, porém, se os restos
culturais estão bem fixados no solo, é benéfica na redução da erosão
eólica.
5. NATUREZA DO SOLO
A erosão não é a mesma em todos os solos. As propriedades físicas,
principalmente estrutura, textura, permeabilidade e densidade, assim como
as características químicas e biológicas do solo exercem diferentes
influências na erosão.
Suas condições físicas e químicas, ao conferir maior ou menor
resistência à ação das águas, tipificam o comportamento de cada solo
exposto a condições semelhantes de topografia, chuva e cobertura vegetal.
A textura, ou seja, o tamanho das partículas, é um dos fatores que
influem na maior ou menor quantidade de solo arrastado pela erosão. Assim,
por exemplo, o solo arenoso, com espaços porosos grandes, durante uma chuva
de pouca intensidade, pode absorver toda água, não havendo, portanto,
nenhum dano; entretanto, como possui baixa proporção de partículas
argilosas que atuam como uma ligação de partículas grandes, pequena
quantidade de enxurrada que escorre na sua superfície pode arrastar grande
quantidade de solo. Já no solo argiloso, com espaços porosos bem menores, a
penetração da água é reduzida, escorrendo mais na superfície; entretanto, a
força de coesão das partículas é maior, o que faz aumentar a resistência à
erosão.
A estrutura, ou seja, o modo como se arranjam às partículas de
solo, também é de grande importância na quantidade de solo arrastado na
erosão.
A matéria orgânica retém de duas a três vezes o seu peso em água,
aumentando assim a infiltração, do que resulta uma diminuição nas perdas
por erosão. A profundidade do solo e as características do subsolo
contribuem para a capacidade de armazenamento da água no solo que esse
mesmo solo com um subsolo mais compacto e pouco permeável.
1. Distribuição racional dos caminhos. O traçado usual dos caminhos em
linha reta, desconsiderando a topografia do terreno, tem sido a causa do
prejuízo devido às perdas por erosão. Com a disposição correta dos
carreadores, as curvas quase sempre ficam com as ruas a favor das águas,
aumentando assim, as perdas por erosão e dificultando a adoção de futuras
práticas de controle.
A distribuição racional dos caminhos é colocá-los, ao máximo, próximo
do contorno. Os carreadores em pendente, que fazem a ligação entre os
nivelados, serão no menor número possível, em locados nos espigões e meios
de grotas onde também será mais fácil a localização dos canais escoadouros.
Os talhões ficarão de forma alongada e recurvada no sentido das linhas do
terreno.
Ao projetar os caminhos em contorno, deve-se Ter o cuidado de que o
intervalo entre eles seja um múltiplo de afastamento entre terraços ou
cordões em contorno, a fim de facilitar a distribuição dessas praticas no
seu intervalo. Os caminhos em contorno funcionam, como verdadeiros terraços
ajustando a defender as curvas contra a erosão.
Esse sistema racional de distribuição de caminhos forma um
arcabouço estável da propriedade agrícola e é básico para a adoção de
práticas que se fundamentam no alimento em contorno, proporcionando,
também, a redução das perdas por erosão.
2. Plantio em contorno. O plantio em contorno consiste em dispor as
fileiras de plantas e executar todas as operações de cultivo no sentido
transversal à pendente, em culturas de nível ou linhas em contorno. Uma
linha de nível é aquela em que cujos pontos estão todos na mesma altura
do terreno.
Ao se cultivar em contorno, cada fileira de planta, assim com os
pequenos sulcos e camalhões de terra que as máquinas de preparo e cultivo
do solo deixam na superfície do terreno, constituem um obstáculo que se
opõe ao percurso livre da enxurrada, diminuindo a velocidade e capacidade
de arrastamento.
Todas as opções em contorno são feitas em nível. Em pequenas áreas, de
declividade uniforme, uma única linha básica pode ser necessária,
entretanto, em áreas grandes, ou de topografia irregular, varias linhas
básicas são exigidas, a fim de que as operações de cultivo sejam feitas
próximo ao nível.
Quando o plantio em contorno é usado sozinho, sem nenhuma outra
prática, em terrenos de topografias acidentadas, ou em regiões de chuva
intensas, ou em solos de grande erodibilidade, há um aumento do risco de
formação de sulcas de erosão, porque as pequenas leiras rompendo-se, podem
soltar a água que estava acumulada, e o volume de enxurrada, aumentando em
cada leira sucessiva, causa um prejuízo acumulativo.
Dentre as práticas simples, o plantio em contorno é a que, além de
constituir uma medida de controle de erosão, proporciona maior facilidade e
eficiência no estabelecimento de outras práticas complementares baseadas na
orientação em contorno. A formação das lavouras em contorno deverá
constituir a preocupação fundamental de nossos lavradores.
3. Terraceamento. É uma das práticas mais eficientes para controlar a
erosão nas terras cultivadas. A palavra terraço é usada, em geral, para
significar camalhão ou a combinação de camalhão e canal, construído em
corte da linha de maior declividade do terreno.
O terraceamento em terras cultivadas é sempre combinado com o plantio
em contorno: pelo seu alto custo, é recomendado onde outras práticas,
simples ou combinadas, não proporcionam o necessário controle da erosão. A
principal função do terraço e diminuir o comprimento das lançantes,
reduzindo, assim, a formação do sulco nas regiões de altas precipitações e
retendo mais água em zonas mais secas.
Nem todos os solos e declives podem ser terraceados com êxito. Nos
pregados ou muito rasos, com subsolo adensado, é muito dispendioso e
difícil manter um sistema de terraceamento. As dificuldades de construção e
manutenção aumenta à medida que cresce a declividade do terreno.
O terraceamento, quando bem planejado e bem construído, reduz a perda
de solo e de água e previne a formação de sulcos e grotas, sendo mais
eficiente quando usado em combinação com outras práticas, como o plantio em
contorno, cobertura morta e culturas em faixas; após vários anos, seu
efeito se pode notar nas melhore produções das culturas, divido à
conservação do solo e da água.
A declividade do terreno é que determina a praticabilidade do
terraceamento, uma vez que a erosão aumenta com o grau do declive o terreno
a tal ponto que esse fator pode torná-lo desaconselhável.
Há diversos tipos de terraços: o Mangum, o Nichols, o de base larga, o
e base estreita, o patamar, e o individual. O terraço tipo Mangum é
construído pelos dois lados do terreno, dando assim um terraço com um
camalhão mais alto: é o tipo adaptado para a conservação da água. O terraço
Nichols é desenvolvido com a movimentação do solo unicamente do lado de
cima do terreno, com a desvantagem de não poder ser aproveitado para o
cultivo a faixa destinada ao canal. O terraço de base larga, cujas
características são de ser bastante largos, rasos, de suave inclinação, é o
mais comum, podendo ser facilmente cruzado por máquinas agrícolas e
permitindo o plantio em todas as direções. O terraço de base estreita –
combinação de valetas e leiras de pequenas dimensões – é bastante utilizado
na produção de culturas perenes; os cafeicultores o denominam de "cordão -
em - contorno". O terraço patamar consiste em plataformas construídas em
terrenos de grande inclinação, formando uma espécie de degraus. O
individual, pequeno patamar circular constituído ao redor da cada árvore, é
também usado em terreno de grande inclinação. A figura 8.6 apresenta,
esquematicamente, os tipos de terraço.
Os terraços Mangum e Nichols foram mencionados por representar, além de
uma forma de construção, o início da evolução dos terraços de base larga,
que são, na realidade, os verdadeiros terraços.
O terraço de base larga. É uma das formas mais seguras de proteção do
solo contra os efeitos da erosão, podendo ser empregados tanto em culturas
anuais como perenes, e até mesmo em pastagens.
Terraço de base larga tem a grande vantagem de não perder área de
cultivo anual que está protegendo; todo o terraço, inclusive a faixa
ocupada pelo camalhão e pelo canal do terraço, pode ser plantado com uma
única cultura. No caso de culturas perenes, os terraços têm que ser
construídos previamente ao plantio, uma vez que, depois de formada a
plantação, fica difícil o emprego de equipamentos para a sua construção e
nem sempre há espaço suficiente entre as árvores para comportar sua
largura.
Esse terraço pode ser usado, também, em pastagens, para a proteção de
áreas suscetíveis à erosão, ou então para proteção do terreno durante o
período de formação da pastagem, enquanto a vegetação ainda não está bem
estabelecida nem dando a proteção suficiente; em regiões de pouca
precipitação, ele á adotado em pastagens para proporcionar um sistema de
distribuição mais uniforme da água das chuvas.
Em geral esse tipo de terraço é indicado para terrenos de até 12% de
declividade; em alguns solos de boa permeabilidade, porém, pode ser
utilizado em terrenos com declividade, como 0,5%, cuja topografia, porém,
seja formadas de grandes lançantes, com a finalidade de reduzir a erosão
produzida por grandes concentrações de enxurradas.
É bastante difícil construir um sistema de terraço de base larga em
terreno com topografia irregular; as curvas que se forma são muito
estreitas, dificultando a manejo de máquinas, e o espaçamento entre os
terraços seria muito variável, dando, em conseqüência, muitas "ruas
mortas".
Terraço de base estreita. Os terraços de base estreia, estruturas
mecânicas utilizadas especialmente em terrenos de maior declividade, quando
não é possível construir terraço de base larga, são os mais indicados para
proteção de culturas perenes do tipo pomares, cafezal, cacaual. São também
denominados "cordões – em – contorno" e em alguns lugares recebem a
descrição de "curvas de nível". Em virtude de sua pequena largura, podem
ser construídos por entre as árvores já formadas, ao longo das curvas de
nível do terreno, mesmo que a cultura seja formada em esquadro.
Esses terraços não são recomendados para culturas anuais, pois a forte
inclinação dos taludes do camalhão e da valeta dificultam o cruzamento das
máquinas nos tratos da cultura e impede o cultivo na sua faixa. Podem,
todavia, ser empregados em terrenos de topografia mais acidentada, com
inclinações às vezes até de cerca de 40 %.
Os conceitos emitidos para os terraços de base larga podem servir,
também, para os de base estreita. O gradiente, por exemplo, pode ser em o
mesmo; nos terrenos francamente permeáveis, como são em geral os latossolos
roxos, os cordões em contorno poderão ser locados em nível para retenção
das águas de chuva.
No caso dos terraços de base estreita com cimento constante ou
progressivo, há necessidade de limitar o comprimento dos cordões, a fim de
evitar transbordamento ao longo da valeta; para os cordões em nível,
praticamente não há limite para o comprimento.
A construção dos terraços de base estreita pode ser feita unicamente
com instrumentos manuais ou, também, com o auxilio de equipamento simples
como o arado, como se pode ver nas etapas de construção apresentadas na
figura 8.19.
Em virtude das dimensões dos terraços de base estreita, tal cordão em
contorno pode ser construído nas culturas já formado, mesmo que elas sejam
dispostas em esquadro.
Terraço-patamar. São estruturas utilizadas em terrenos muito
inclinados, para proteção de culturas muito pequenas de grande valor, como
pomares, vinhedos e mesmo cafezais. É uma prática muito antiga para a
conservação do solo de regiões montanhosas; os incas construíram extensos
sistemas de patamares nas escarpadas regiões andinas onde habitaram, os
quais até hoje se conservam e se utilizam.
O grande inconveniente desse terraço, reduzindo-lhe a aplicação, é o
seu elevado custo de construção. Sua utilização se restringe a regiões com
grande densidade de população e que não tenham terras planas, justificando
a inversão de grande quantidade de trabalho para formar os patamares.
Os terraços-patamar se adaptam a terrenos com declividade acima de 20%
e se caracterizam por apresentar, depois de prontos, um verdadeiro banco,
ligeiramente inclinado para o lado de dentro do barranco.
Tais terraços, além de controlarem eficientemente a erosão, contribuem
para melhor conservação das águas de chuva, facilitam os trabalhos de
colheita, as operações culturas e o acesso às plantas, e evitam que os
adubos sejam arrastados pela enxurrada.
4. Sulcos e camalhões em pastagem. Os sulcos e camalhões em contorno, uma
das práticas mais eficientes na retenção das águas de chuva em pastagem,
são especialmente recomendados para regiões de chuva escassas.
Embora a cobertura do solo com pastagens já constitua eficiente maneira
de reduzir as perdas por erosão, há em alguns casos, necessidade de medidas
complementares de controle da erosão; por exemplo, nas pastagens em
formação, onde a vegetação ainda não esteja proporcionando uma cobertura
eficiente, e nos terrenos muito inclinado ou dos pastos fracos e
excessivamente pastoreados.
A grande vantagem dos sulcos e camalhões é a melhor distribuição e
retenção das águas das chuvas. Em conseqüência da melhor conservação da
água, a vegetação torna-se mais densa e mais vigorosa nas proximidades dos
sulcos e dos camalhões. Os sulcos e camalhões concitem em uma combinação de
um pequeno canal com um pequeno dique de terra: são executados nas
pastagens, depois de uma marcação prévia e contorno, com os arados
reversíveis, de aiveca ou de disco, passados uma ou duas vezes o mesmo
sulco jogando a terra sempre para o lado de baixo.
Para a marcação do sulco e camalhões , locar linhas niveladas básicas
distanciadas cerca de trinta metros, e que servirão de linhas-base de
marcação. Sobre elas, tirar as linhas paralelas, de preferência de baixo
para cima das linhas-guia: ai serão feitos os sulcos e camalhões, cujo
espaçamento depende das características de infiltração de movimento da água
no solo; do custo da construção; da necessidade de maior ou menor
concentração da água, podendo variar de um a dez metros, sendo, porém, o
mais comum, em nossas condições, 3 metros.
Não deve haver preocupação de reter toda a água da chuva caída, pois
enxurrada em excesso pode derramar sobre os camalhões nos pontos mais
baixos, porém a vegetação da pastagem deverá reter alguma terra deslocada.
5. Canais escoadouros. Quando são usados no terreno sistemas de
terraceamento com gradientes, para proporcionar a drenagem segura dos
excessos de enxurrada é necessário o estabelecimento de canais
escoadouros: são canais de dimensões apropriadas, vegetados, capazes de
transportar com segurança a enxurrada de um terreno dos vários sistemas
de terraceamento ou outras estruturas.
O canal escoadouro vegetado é uma das práticas básicas das mais
importantes no planejamento conservacionista de uma área agrícola quando a
chuva excede a capacidade infiltração de um solo, um excesso de água passa
sobre a superfície do terreno e forma enxurrada; uma vez que o sucesso de
qualquer programa de conservação do solo depende da remoção desse excesso
de enxurrada, sem comprometer o risco de erosão, o estabelecimento de
canais escoadouros vegetados deve ser bem planejado.
Em alguns tipos de solos bastante permeáveis como latossolos roxo,
consegue-se, às vezes, dispensar com segurança estes canais , mediante o
emprego de práticas mecânicas (como terraceamento em nível) e vegetativas
que produzem quase uma retenção completa de águas de chuva. Canais
escoadouros, em geral , as depressões no terreno, rasas e largas, em
declividade, e estabelecidos com leito resistente à erosão. Sua melhor
localização é a depressão natural, para onde as águas são forçadas a
escorrer, bem como nos espigões, divisas naturais e caminhos.
Os canis escoadouros podem ser construídos com as seguintes sessões:
triangular, parabolóide, e trapezoidal. Para as declividades mais
acentuadas é trapezoidal, cujo fundo chato, extraindo a lâmina da água,
diminui a velocidade de escoamento da enxurrada; a triangular é indicada
para as declividades menores, em que o fundo em V, concentrando as águas,
impede a deposição de sedimentos; a parabolóide é indicada para declividade
intermediária.
A vegetação do canal escoadouro deve ser escolhida de modo a suportar
a velocidade de escoamento de enxurrada, não ser praga para as terras de
cultura e , se possível, ser utilizada como forragem. Varias são as
espécies indicadas: entre as gramas, as melhores são a batatais (Paspalum
notatum Flügge), a tapete (Axonopus compressus Swartz-Beauv.), a das rochas
(Paspalum dilatatum Poir), a inglesa (Stenotaphrum secundatum Walt-kuntze)
e a seda (Cynodon dactylon (L.) Pers.); entre os capins os mais
recomendados são: o quicuio (Pennisetum clandestinum Hochst.), o gengibre
(Paspalum maritinum Trin.) e o rodes (Chloris gayana Kunth.); do grupo de
leguminosas as que melhor se prestam para revestimento de canais
escoadouros, destacam-se: o cudzu comum (Pueraria thumbergiana Benth..), o
cudzo-tropical (Pueraria phaseoloides Benth.) e a centosema (Centrosema
pubescens Bent.).
Os limites de velocidade com que a enxurrada pode escorrer sem perigo
de provocar escoriações e solapamentos no fundo do canal depende da
vegetação empregada no seu revestimento. As vegetações ideais são aquelas
que cobrem e travam completamente o solo num emaranhado de raízes e caules.
A vazão máxima de enxurrada espera da área a ser servida pelo canal
escoadouro é o fator principal na determinação das suas dimensões; essa
vazão é o volume de água por unidade de tempo capaz de escorrer da área
quando da ocorrência das máximas intensidades de chuva e com duração
suficiente para fazer com que todos os pontos da bacia contribuam com a
enxurrada formada.
As dimensões dos canais escoadouros, ou seja, a largura e a
produtividade, dependem da produtividade, da forma da seção, da velocidade
média permissível e da vazão máxima esperada de enxurrada. Conhecidos esses
fatores, tais equações são determinadas com o auxilio das formulas
apresentadas de cálculo de vazão em canais, ou de ábacos, para encontrá-las
com mais facilidade.
A construção dos canais escoadouros devem anteceder, de cerca de um
ano, a construção de terraços ou outras práticas de que resulte
concentração de enxurradas, afim do que haja consolidação e estabelecimento
da vegetação.
Controle de voçorocas
A voçoroca é a visão impressionante do fenômeno da erosão, muitas vezes
usadas pelos conservacionistas como um sistema característico; deve-se ,
porem, ter o cuidado de não superestimá-la. Naturalmente, essa forma de
erosão é muito importante como uma fonte de sedimentos nos córregos, porem,
em termos de prejuízos para as terras agrícolas ou redução da produção das
lavouras, geralmente não é muito importante, uma vez que a maioria das
terras sujeitas a esse tipo de erosão são de pouca significância agrícola.
O controle da voçoroca, além de difícil é muito caro podendo der mais
elevado do que o próprio valor da terra. Naturalmente deve-se fazer alguma
coisa, principalmente pela sedimentação dos córregos e barragens. É
essencial, toda via, efetuar as medidas de controle das voçorocas para
prevenir-lhes a formação.
Seu controle é realizado com estes objetivos: 1-intercepção da
enxurrada a cima da área de voçorocas , com terraços de diversão; 2-
retenção na área de drenagem, por meio da pratica de cultivo de vegetação e
estruturas especificas; 3-eliminação das grotas e voçorocas, com acertos do
terreno executados com grandes equipamentos de movimentação da terra; 4-
vegetação da área 5-construção de estruturas para obter a velocidades das
áreas ou ate mesmo armazená-las 6-completa exclusão do gado; 7- controle
das sedimentação das grotas e voçorocas ativas.
Qualquer outra medida de controle de voçoroca depende da cobertura
vegetal para estabilizar o solo exposto a enxurrada excessiva muitas das
áreas sulcadas ou que tenha grotas ou voçorocas, porem, não estão em boas
condições para um crescimento da vegetação, pelos motivos seguintes: a
declividade é alta e a superfície do solo foi desgastada e sofreu enormes
impactos das grotas de chuva que produziram condições adversas à
sobrevivência das plantas.
Uma voçoroca estabilizada pode servir com um canal escoadouro vegetado
para descarga de enxurrada dos terraços, um habitat para a fauna, uma área
reflorestada ou mesmo para pastagem. Se for usado com canal escoadouro, a
grota devera Ter a sua seção de tamanho e proporção adequada, e a vegetação
escolhida deverá ser bem resistente à erosão.
Nas área com grotas onde a erosão é menos crítica, consegue-se, um bom
resultado, com menos gasto, cercando a área para evitar o pastoreio e
cultivo.
A eliminação de grotas ou e áreas criticas com grotas pelo acerto do
terreno, preenchendo as valas, pode ser prático e possível desenvolvendo
canais escoadouros vegetados com forma tal que tenham velocidades estáveis
e outras características hidráulicas. Durante o processo de enchimento das
valas, a terra deverá ser compactada para oferecer melhor resistência à
erosão.
O controle da voçoroca pelo desvio da enxurrada ou pela maior retenção
da água é o mais eficiente, e onde esse método for possível deverá ser
instalado antes de qualquer tratamento dentro da voçoroca. Os canais de
diversão deverão ser construídos na parede de cima da voçoroca, a 20-30
metros da sua cabeceira de modo que o barranco superior da voçoroca fique
bem estabilizado. A retenção da água é conseguida pelo uso adequado de solo
como pratica de cultivo que aumenta sua infiltração no solo, com
terraceamento em nível, ou com a construção de pequenas barragens de terra
ou de outro material.
Nem sempre é possível manter a enxurrada fora da voçoroca pelo desvio
ou pela maior retenção da água, devendo ela escorrer dentro da grota. Para
que o faça com segurança, construir estruturas e estabelecer boa cobertura
vegetal. É necessário que o gradiente do canal seja reduzido de maneira que
a enxurrada possa escorrer a uma velocidade não erosiva.