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Conhecendo a deficiência (em companhia de Hércules)
Objetivo:
A autora propõe através da exposição de conceitos e leituras dos
indivíduos com necessidades especiais, compartilhar idéias sobre o tema,
possibilitando àqueles que estão envolvidos refletirem sem discriminação,
desde os profissionais, familiares e qualquer outro da sociedade para uma
ação de igualdade e compreensão das potencialidades de cada um,
considerando os aspectos subjetivos e aspectos externos que influenciam nas
relações.
Análise:
A autora em seu texto faz diversas analogias entre a história dos
"Doze Trabalhos de Hércules" com aspectos da deficiência.
Hércules é uma divindade, que por castigo de ter um comportamento
desviante, que no caso foi o infanticídio, deve realizar doze tarefas para
redimir o seu crime, simbolizando nestas a purificação de seu sofrimento
imposta pelo papel social de autoridade, e a possibilidade de que, através
de suas ações, afastar e remover os obstáculos do caminho para o bem-estar
social. A autora liga a história com situações que o deficiente se depara e
vivência no social, onde compreende que as pessoas com necessidades
especiais são encaradas na sociedade, como sujeitos que por algum mal
realizado, sofrem uma purificação divina como imposta a Hércules, tendo os
profissionais, junto a sociedade, a tarefa de retirar a leitura
preconceituosa sobre a deficiência possibilitando uma reflexão crítica e
conhecimento sobre, desta forma diminuir as barreiras existente.
A autora entende que a discriminação social que o deficiente se
depara é um problema de todos, que acaba estigmatizando e separando o
indivíduo, onde cada um é responsável por manter este comportamento, não
devendo entendê-los como vítimas do processo. O que penso ser necessário
informar a população de seus reais sentimentos direcionados as pessoas com
necessidades especiais.
Outro aspecto a ser considerado ao propiciar uma reflexão, é o
contexto histórico e ter na psicologia um espaço para estar discutindo e
pensando sobre a deficiência, sendo esta entendida através de duas
perspectivas: a descritiva, que seria a deficiência em si e suas
características; e a valorativa, definida pelos padrões da sociedade.
Para compreensão das barreiras e vivências que a pessoa com
deficiência passa, a autora começa expondo o primeiro trabalho, realizado
por Hércules, o Leão de Neméia, discutindo o conceito de desvio, onde
concordo com a autora ao sugerir que devemos olhar a problemática deste de
frente, somente assim poderíamos compreender o que é a deficiência, ao
invés de nos enganarmos, fingindo não vermos, acarretando comportamentos de
camuflagem em nossas práticas.
Considero importante apontar a definição do desvio, a qual é
estabelecida através de três critérios sociais: os estatísticos, o
anatômico/funcional e o "tipo ideal". O primeiro está baseado na freqüência
do aparecimento do dado a partir de um levantamento específico em uma dada
população; o segundo está ligado às formas e funções do objeto ou pessoa,
estando esta menos impregnada das questões limitantes da sociedade; e por
último o "tipo ideal", o qual é determinado pela sociedade e construído ao
decorrer das relações, podendo acarretar uma maior aproximação ou
afastamento entre aquele que analisa e o analisado, tendo os meios de
comunicação uma colaboração na perpetuação da segregação na sociedade,
decorrente a divulgação da perspectiva patológica.
O problema é entendido como localizada no indivíduo ou nos mecanismos
sócio-cultural, onde a autora aponta que seria necessário compreender o
inter-relacionamento entre o biológico, psicológico e o sócio-cultural,
somente nesta interação compreenderíamos o sujeito e não apenas nos
aspectos de um ou de outro. A pessoa com necessidade especial, atualmente,
acaba sendo vista como inferior, uma anormalidade, um desvio, não apenas
como uma diversidade da espécie como podemos ver em toda natureza.
A normalidade, em minha opinião, acaba influenciando na nossa maneira
de ser e agir em um determinado contexto, desconsiderando as
características e aspectos individuais, onde generaliza, por isso, tudo que
difere do estabelecido, é encarado como anormalidade, uma patologia,
doença, acarretando na maioria classificada como "normal" uma atitude de
exclusão e rejeição ao que difere dos padrões.
Negar a deficiência enquanto uma instância biológica não adianta, mas
determiná-la por este fator é muito reducionista, precisamos entender quais
juízos sociais esta carrega, para que a vida daquele que é julgado possa
tornar-se menos sofrida, pois estas características são incapazes de
determina-lo em uma sociedade que padroniza um modelo ideal e espera que
seus integrantes se encaixem nele, não conseguindo lidar com as
diversidades.
O segundo trabalho de Hércules foi a Hedra de Lerna, metáfora
utilizada como uma forma de esconder o fenômeno real, sendo importante
combater o desconhecido, tornando-o acessível a todos.
A autora conta que antigamente as pessoas que eram consideradas
desviantes/diferentes/deficientes conforme a sociedade e época que vivia
eram mortas ou abandonadas a sua própria sorte, tendo o Estado o dever de
evitar que estes sobrevivessem.
Ao decorrer da história os deficientes passaram ser encarados como
vítimas, aqueles que deveriam ser cuidados; vilões por estarem sendo
castigados por uma força divina devido a desobediências passadas,
principalmente relacionadas às questões morais ou aqueles que possuíam o
mal; heróis por conseguirem sobreviver com as suas limitações; ou
desempenhavam o papel de humilhação como o bobo-da-corte, podendo também
ser expostos em parques como uma atração.
Somente anos depois, mais precisamente no século XIX, que a
deficiência passou ser uma questão da ciência, podendo ser pensado
possibilidades de tratamento e a atribuição do caráter humana a estes, como
não observado nas ações anteriores, superando a visão patológica, passando
a ser entendida como um estado ou condição do sujeito. Avanços
consideráveis, porém não suficiente.
A autora resume a evolução histórica das atitudes frente à
deficiência iniciada pela marginalização, passando pelo assistencialismo,
para a educação, reabilitação e a integração social, onde considero
importante ressaltar que ainda presenciamos um atendimento de forma
segregada, permanecendo muito longe das reais necessidades dos indivíduos;
continuamos separando-os em instituições e excluindo-os. Continuamos
matando-os pela a sua diferença!
A terceira tarefa de Hércules foi o Javali de Erimanto, usada a
história para discutir a deficiência e seus conceitos, pois estes sempre
estiveram presentes no discurso sendo perspectivas de como ela é
interpretada e não ela é em si.
A autora define a deficiência, a incapacidade e a desvantagens das
pessoas com necessidades especiais, retirando a leitura médica e sua visão
patológica.
A deficiência (um dano) é compreendida como alterações do corpo ou da
aparência física, ligada ao biológico, podendo ser temporário ou
permanente, afetando ao nível do órgão. A incapacidade (restrição na
execução) é as conseqüências que as limitações acarretam na vida do sujeito
em termos de desempenho e comportamento funcional ao nível da própria
pessoa. E por último a desvantagem (desempenho de uma função), relacionada
aos prejuízos que o indivíduo experimenta devido a sua deficiência e a
incapacidade, refletindo na sua adaptação com o meio.
No entanto, a deficiência primária e secundária que devem ser
trabalhadas pelos profissionais.
Dessa forma, autora afirma a necessidade de compreender a deficiência
secundária, a qual está relacionada à leitura que o contexto social faz
sobre as limitações do indivíduo e quais significados atribuídos a essas
diferenças, pois impõe barreiras que não são inerentes a deficiência, mas
uma questão social de preconceitos, estereótipos e estigmas, onde acabam
sendo muito mais limitadora do que a própria deficiência em si (deficiência
primária), pois o indivíduo se envolve nas significações sociais e passa
acreditar nelas, não tendo a possibilidade de entender e respeitar a sua
própria diferença, devido a este envolvimento imposto pelo contexto,
limitando o seu desenvolvimento e crescimento. Uma ação mais
conscientizadora sobre as questões destes indivíduos precisa ser
trabalhada, sendo necessário tomarem atitude menos generalista, observando
a deficiência em seus aspectos reais e sem máscaras.
Na quarta tarefa, Hércules precisa capturar Cerinita, metáfora usada
para simbolizar o impacto que uma pessoa com deficiência ocasiona em toda
família.
A família acaba vivenciando sentimentos ambíguos que se tornam
presentes na relação com a pessoa com deficiência, caracterizando a
situação crítica vivida por estes. No fracasso de superar a ambigüidade dos
sentimentos, a família acaba entrando num processo de crise.
As situações críticas, segundo a autora, são processos presentes no
desenvolvimento do ciclo vital familiar, podendo ser previsíveis ou
imprevisíveis. No caso de uma deficiência congênita as situações críticas
estarão relacionadas a questões previsíveis inerentes a dificuldades da
deficiência; e na deficiência adquirida é comum a imprevisibilidade, tanto
para a família quanto para o indivíduo, desencadeando sentimentos ligados a
fantasia ou realidade.
Nestes casos o luto familiar é uma etapa a ser vivida, para
conseguirem lidar com a perda do filho idealizado/perdido, onde o impacto
será sentido de acordo com a história pregressa da família, tendo esta o
movimento de buscar a reorganizar psiquica. Os profissionais precisam estar
cientes deste processo e intervir com uma fala e escuta qualificada,
auxiliando na diminuição do sofrimento e na elaboração do luto, tendo
cautela para não orientar a família de forma inadequada.
As Aves do Lago Estinfalo é a quinta tarefa, a qual está relacionada
à aceitação ativa da deficiência num processo de acolhimento.
Concordo com a autora sobre a importância dos vínculos iniciais serem
sólidos para o estabelecimento da identidade dos sujeitos, pois todas as
suas vivências posteriores estarão relacionadas a estas, onde o acesso aos
conteúdos inconscientes eliminaria a questão dos nossos preconceitos, tendo
profissionais as necessidades de entender o que bate em cada um de nós, se
conhecerem e compreenderem o que é seu, suas limitações, situação que
muitos deixam de lado, pois é mais fácil olhar para o outro do que para si
mesmo. Os profissionais com esta postura estariam se conhecendo e afirmando
suas próprias deficiências e saindo do papel de onipotência que alguns
insistem ter, possibilitando um atendimento de maior qualidade.
A ação frente à deficiência depende de vários fatores, tendo a
integração que ser trabalhada de acordo com a necessidade de cada sujeito,
considerando suas características, desejos, perspectivas, limitações, fase
de seu desenvolvimento, entre outras características consideradas
importantes, principalmente o contexto que o sujeito está inserido, somente
assim estaremos oferecendo oportunidades iguais para todos, diminuindo cada
vez mais as diferenças e permitindo acesso a todas as coisas necessárias
para qualquer indivíduo, como o lazer, a educação, o trabalho etc.
Permitir que as pessoas com necessidades especiais tenham acesso ao
mundo que os rodeiam, sem preconceitos ou estereótipos, que este acesso
seja possível através de suas próprias possibilidades e que a sociedade, e
não apenas o indivíduo, se mobilize para que essa ação seja colocada em
prática. A sociedade precisa retirá-los da marginalidade e integrá-los de
forma igual, pois todos, em sua especificidade, necessitam de algo,
indiferente de seu estado mental ou físico, o que na prática acaba sendo
esquecido.
A sexta tarefa foi a Estrebaria de Augias, analogicamente ligada à
integração social, ou seja, a inserção da pessoa com deficiência na vida
social de forma igual, como discutida anteriormente.
Os profissionais precisam estabelecer neste contexto uma relação
horizontal, onde hierarquias não estejam presentes, diferentemente da
relação vertical, onde o deficiente é visto numa perspectiva de
inferioridade.
A integração social pode ter características positivas, mas dependerá
do apoio da comunidade para que o real efetivamente abra portas para o
acesso aos recursos sociais e consequentemente para a vida, exercendo os
seus papéis e vivendo os seus direitos e deveres de cidadão.
O sétimo trabalho foi o Touro de Creta, que por uma traição é lançado
uma maldição sobre o animal como vingança da autoridade, dois comportamento
que possuem uma conotação moral, frequentemente presente na discussão da
deficiência, perpassando intensamente as relações estabelecidas entre
pessoas com e sem necessidades especiais, acaba acarretando emoções que
ameaçam, mobilizam e desorganizam o equilíbrio interno, resultando em
ativação dos mecanismos de defesa.
Os mecanismos de defesa são formas que a psique humana dispõe frente
a experiências emocionais específicas, principalmente em situações de
ameaça da perda.
Na relação com o deficiente, pode-se observar que a superproteção
está muito presente, por considerá-los incapazes de realizar algo e por não
aceitarem esta percepção, deslocam para a atitude de protegê-los. Outro
mecanismo muito presente na relação é a negação, a qual possui três formas
de concretizá-la: a atenuação ("Não é tão grave assim!"); a compensação ("É
deficiente físico, mas é inteligente"); e a simulação ("É deficiente
visual, mas é como se não fosse"), fatores que dicotomizam o indivíduo,
pois o que impediria um deficiente físico ser inteligente?
Estes comportamentos são atitudes frente à deficiência, onde ao ter o
contato com uma pessoa com deficiência acabamos nos preparando para uma
ação, ou seja, mobilizamos questões internas para a relação com o outro,
sendo anterior ao comportamento, onde o preconceito e os estereótipos são
usados como julgamentos qualificáveis. O estigma é outra definição dada ao
indivíduo, a qual se baseia na inabilidade social para aceitá-lo
plenamente. Todos gerados pelo desconhecimento, onde acabamos compreendendo
as políticas públicas apenas do aspecto racional, esquecendo-nos das
questões emocionais que estão envolvidas neste processo, assumindo estas
uma postura muito mais determinante nas relações do que a racionalidade, "a
ideologia olha pelos deficientes e o comportamento espontâneo os rejeita".
Os indivíduos precisam ter consciência de suas capacidades, assim
como a sociedade que está inserido, para que em conjunto possam dar acesso,
de acordo com o ritmo de cada um, respeitando o seu momento. Não os
privando por suas limitações, mas possibilitando estimulações o suficiente
para que seu desenvolvimento se dê , retirando da concepção social que a
exclusão é a forma mais fácil de agir, pois se utilizar estratégias de
convivência, o contato com a diferença será algo real e o respeito
consequentemente fará parte do cotidiano de cada sujeito, desde que estes
estejam em contato com seus reais sentimentos.
O oitavo trabalho de Hércules foi os Cavalos de Diomedes, onde a
autora discute onde os meios de comunicação e o imaginário infantil podem
ser usados como possibilidade de mudança na percepção da diferença.
Seria preciso uma mudança de postura de todos os envolvidos, que os
atributos e valores internalizados pela sociedade fossem modificados, onde
a informação sobre fosse o primeiro passo a ser dado, para que as
intervenções realizadas não se pautassem apenas nos aspectos técnicos dos
profissionais, mas também que o subjetivo de cada um estivesse envolvido,
sendo importante a exigência dos padrões da sociedade serem repensados,
pois os meios de comunicação acabam sendo os reflexos do pensamento da
sociedade, baseada nos sistemas simbólicos e nas representações sociais e
coletivas.
Penso que devemos perceber estas relações e buscarmos percepções
próprias dos significados que são transmitidos todos os dias, não deixando
se envolver pelas ideologias sociais, para que assim pudéssemos estar
contribuindo na modificação da representação sobre a diferença e sobre os
diferentes.
A aproximação realizada com aquele que compreendemos como diferente
acaba tornando-o familiar, diminuindo o incômodo que muitos sentem ao lidar
com eles, por não saberem como agir, o que poderia ser realizado pela
inserção destes nos meios de comunicação, desvinculando-os dos estereótipos
e com uma linguagem descritiva e não valorativa, poderia acarretar mudanças
no imaginário da população, afetando diretamente na leitura realizada pelas
as gerações futuras.
A nona missão de Hércules foi recuperar o cinto de Hipólita, analogia
sugerida pela autora com a re-significação da diferença nas relações
sociais, discutindo a ambivalência presente nesta.
O processo de re-significação, entendida como uma mudança no estado,
ou seja, uma alteração do estado que as pessoas com necessidades especiais
se encontram, deveria ser iniciado com a des-adjetivação da deficiência,
compreendendo-a não como melhor ou pior, boa ou ruim, mas simplesmente ela
em si, no entanto, muito ainda tem que ser trabalhado para que isso seja
alcançado, onde as relações possam ser apenas encontros de identidades e
não uma questão hierárquica.
O décimo trabalho foram os Bois de Gerião, onde a autora discute a
importância da prevenção e da intervenção profissional.
O profissional necessita ter cuidado para que não se sinta
onipotente, Concordo com a autora quando enfatiza a importância de sabermos
o que estamos fazendo para não acarretar limitações maiores aos indivíduos,
além da qual o sujeito convive, tendo que trabalhar numa perspectiva
preventiva, o qual podem ser dividido em três campos: a prevenção primária,
secundária e terciária.
A prevenção primária está diretamente ligada ao social e a própria
deficiência, onde devemos buscar meios para reduzir novos casos na
população em geral, como vacinação, saneamento básico, assistência materno-
infantil entre outros, sendo necessário à disponibilidade do profissional
como dos apoios sociais, culturais e políticos, onde a informação é a base
nesta etapa.
A prevenção secundária está relacionada à questão da incapacidade,
onde os profissionais da área da saúde e da educação são os mais atuantes,
proporcionando diagnósticos precoces, um rápido encaminhamento, estimulação
e outras que possam auxiliar amenizando o sofrimento dos indivíduos e seus
familiares.
E a prevenção terciária, a intervenção que visa diminuir a
desvantagem decorrente a deficiência, minimizando os efeitos e utilizando o
potencial residual de cada um, direcionados a reabilitação individual, num
trabalho dos aspectos sociais conscientizando as atitudes da sociedade e as
barreiras arquitetônicas.
O Cão de Cérbero foi à décima primeira tarefa de Hércules, tendo a
autora o compromisso de apontar nesta analogia a questão da sexualidade e
do trabalho para a pessoa com necessidades especiais, num processo de
enfrentamento da deficiência, principalmente na adolescência, a qual é
entendida como um momento de crise e a consolidação de sua identidade.
A sexualidade não se inicia na adolescência, mas se constrói ao
decorrer da vida da pessoa, estando nesta fase apenas o comportamento de
procurar parcerias, onde o deficiente pode encontrar algumas barreiras
individuais através de suas frustrações e familiares. Já o exercício da
sexualidade etária encontrando maiores dificuldades apenas em alguns casos
como o deficiente físico ou aquele que possui uma lesão medular, por
exemplo.
A expressão da sexualidade acaba sendo limitada pelo fato, novamente,
dos preconceitos e a freqüente imagem da perfeição como padrão de desejo,
pois acabamos considerando os deficientes como indivíduos incapazes de
amar, de ter carinho, desejos. Devemos refletir o porquê dessas nossas
dificuldades de não sentir atração por uma pessoa deficiente.
Já a questão da preparação profissional, está muito mais ligada à
deficiência secundária do que a primária, pois orientação vocacional pode
ser igual a todos, considerando o seu potencial, as limitações, desejos e
aspirações de cada um, inseridos numa realidade sócio-econômica-cultural.
No entanto, não podemos esquecer a sociedade que estamos vivendo e os
momentos que estamos passando, assim como a integração do próprio indivíduo
e o desenvolvimento de seu potencial, os quais são propiciados ou
facilitados pelos contextos familiares, institucionais ou sociais.
E a última missão de Hércules para se redimir de seu castigo foi o
Pomos de Ouro de Hespérides, onde a autora finaliza discutindo a cidadania
e a deficiência.
O indivíduo inserido em um contexto acaba elaborando conceitos que
influenciam na sua compreensão, divulgação e apropriação sobre os fatos,
objetos e pessoas, onde na sociedade em geral, impede as pessoas com
necessidades especiais exercerem seus papéis de cidadão.
Experiências seriam necessárias às pessoas com deficiência para que
pudessem exercer a responsabilidade individual num contexto de inter-
relações, mas estas ainda não são possíveis de serem presenciadas, pois
ainda percebermos características psicossociais limitadoras, assegurando ao
diferente um lugar atípico, numa relação com estereótipos da categoria e
não com os sujeitos em si. Precisamos pensar em direitos universais, onde
os considerados "deficientes" possam ter autonomia e liberdade de escolha,
numa participação ativa em sua vida de acordo com seus próprios conceitos.
Penso que principalmente o profissional que está disposto trabalhar
com as pessoas com necessidades especiais precisam compreender antes de
tudo que são seres humanos como qualquer outro, com suas limitações e
desejos, inseridos em uma sociedade ainda preconceituosa, onde o diferente
acaba sendo excluído por causar medo ou angústias naqueles que se
consideram a maioria. Ao psicólogo cabe o papel de estar proporcionando a
esta clientela um acolhimento adequado e sensação de segurança para que
possam aproveitar a vida com todos os prazeres, e até mesmo o desprazer que
a esta oferece só assim a sociedade talvez perceba que a diferença está em
todo lugar e que modos diversos existem para lidar com ela. Modificando a
postura de culpar o outro pela situação presente, mas que seja possível
olharmos para as nossas próprias ações, ocasionando assim a curiosidade no
outro de nossos atos e a quem sabe a reflexão dos seus.