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Conceitos De Relatividade Restrita

O presente texto apresenta os aspectos essenciais da Teoria da Relatividade Restrita, no que diz respeito às propriedades do espaço e do tempo. Esta teoria está essencialmente baseada em dois postulados a partir dos quais as propriedades em questão podem ser deduzidas. A abordagem adotada neste texto utiliza situações concretas envolvendo a emissão e a recepção de pulsos de luz, a partir das quais conclusões podem ser alcançadas por mero raciocínio lógico, acompanhado de algumas manipulações algébricas ou...

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CONCEITOS DE RELATIVIDADE RESTRITA Ninguém possui idoneidade para fazer afirmações a respeito do espaço absoluto ou do movimento absoluto. São meras formas do espírito, construções mentais que não podem ser embasadas na experiência. Todos os princípios da mecânica resultam dos nossos conhecimentos empíricos a respeito das posições e dos movimentos relativos dos corpos. Albert Einstein O presente texto apresenta os aspectos essenciais da Teoria da Relatividade Restrita, no que diz respeito às propriedades do espaço e do tempo. Esta teoria está essencialmente baseada em dois postulados a partir dos quais as propriedades em questão podem ser deduzidas. A abordagem adotada neste texto utiliza situações concretas envolvendo a emissão e a recepção de pulsos de luz, a partir das quais conclusões podem ser alcançadas por mero raciocínio lógico, acompanhado de algumas manipulações algébricas ou aritméticas elementares. Para cada situação, além de uma análise geral, é fornecida uma ilustração numérica amparada numa visualização gráfica. Por não utilizar nenhuma matemática sofisticada, o texto é acessível a jovens estudantes e leigos em geral. CONTEÚDOS I. Alguns conceitos básicos II. Introdução e princípios III. O fator k de Doppler IV. Relação entre o fator de Doppler e a velocidade relativa V. Dilatação do tempo VI. Contração dos comprimentos VII. Combinação das velocidades VIII. O paradoxo dos gêmeos . I Alguns conceitos básicos Evento: o Um evento é algo que acontece em algum lugar, em algum instante. o O seu nascimento, ou a emissão de um flash por uma máquina fotográfica, são exemplos de eventos. Observador: o Um observador é alguém que observa e descreve eventos. o Observadores distintos podem descrever o mesmo evento de maneira diferente. Referencial: o Para descrever um evento com precisão, um observador utiliza um sistema de referência, ou referencial. o Um referencial é constituído de um sistema de coordenadas de posição, utilizadas para especificar o lugar em que o evento ocorre, e de uma escala temporal, utilizada para especificar o instante em que o evento ocorre. o Posições podem ser determinadas com uma régua (para medir distâncias) e um teodolito (para medir ângulos). Tempos podem ser medidos com um relógio. Assim, concretamente, podemos associar um referencial a um observador equipado de uma régua, um teodolito e um relógio. o Observadores distintos podem atribuir ao mesmo evento posições diferentes e tempos diferentes. Espaço-tempo: o No estudo da relatividade, é frequentemente conveniente juntar o espaço de posição (tridimensional) e a escala de tempo (unidimensional) para formar um único espaço, chamado espaço- tempo (tetradimensional). o A cada evento está associado um ponto no espaço-tempo. o A história de um ente qualquer pode ser considerada como uma sucessão contínua de eventos. Portanto, tal história é representada no espaço-tempo por uma linha contínua, chamada linha de mundo do ente. Diagrama de Minkowski: o O espaço-tempo de eventos e as linhas de mundo de entes físicos, podem ser visualizados através de um diagrama de Minkowski. o Não é possivel desenhar em quatro dimensões, portanto precisamos "esquecer" no mínimo uma das direções na posição para fazer um diagrama de Minkowski. o Já que uma folha de papel, ou a tela do computador, são superfícies bidimensionais, uma maior claridade é obtida no desenho se pudermos "esquecer"duas direções na posição. A condição para que isto seja possível é que todos os eventos considerados aconteçam no espaço sobre a mesma linha reta. Isto será o caso para todas as situações concretas consideradas neste texto. o Num diagrama de Minkowski, um evento é representado por um ponto, cujo tempo de ocorrência está dado em abscissa e cuja posição está dada em ordenada. o Num diagrama de Minkowski, a linha de mundo de um ente indica a variação da posição do ente como função do tempo. o Como será visto na apresentação do postulados da Relatividade Restrita, a velocidade da luz no vácuo possui um papel de destaque nesta teoria, por tratar-se de uma constante universal. Por esta razão, é conveniente utilizar uma unidade de distância relacionada com a unidade de tempo de maneira que a velocidade da luz seja igual a um. Um exemplo de uma unidade de distância deste tipo, comumente utilizada na Astronomia, é o ano-luz, que vem a ser a distância percorrida pela luz num ano. Obviamente, a velocidade da luz é então um ano-luz por ano. o Com tais unidades, durante um intervalo de tempo unitário, um pulso de luz se desloca uma distância unitária. Consequentemente, as linhas de mundo de pulsos de luz são retas inclinadas a 45 graus num diagrama de Minkowski. o Também veremos que, de acordo com a Relatividade Restrita, nenhum corpo pode mover-se com velocidade superior à da luz. Portanto, num diagrama de Minkowski, nenhuma linha de mundo pode ter inclinação superior a 45 graus em relação à horizontal. o Já que as coordenadas de posição e de tempo dependem do referencial, deve-se sempre especificar qual observador está medindo os valores representados em abscissa e ordenada num diagrama de Minkowski. Conceitos básicos -- Diagrama de Minkowski O diagrama representa um espaço-tempo bidimensional, que corresponde a um espaço de posição unidimensional. Isto é suficiente para representar movimentos colineares. É convencional representar a posição em ordenada e o tempo em abscissa. Para definir numericamente as coordenadas de um evento, é necessário especificar unidades para a posição e o tempo. É conveniente escolher unidades tais que a velocidade da luz no vácuo seja igual a um. No diagrama ao lado, a unidade de tempo utilizada é o minuto (ou a hora) e a unidade de distância correspondente é então o minuto-luz, que é a distância percorrida num minuto pela luz, no vácuo. A velocidade da luz, convencionalmente representada pela letra c, é então obviamente c = 1 min-luz/min. No diagrama são representadas as linhas de mundo de quatro observadores, denotados A, A', B e C. Vê-se que A permanece em repouso na origem da linha de posição. Portanto as posições no gráfico são medidas em relação à posição de A. Podemos dizer que o diagrama representa o espaço-tempo do ponto de vista de A, ou no referencial de A. Linhas de mundo horizontais no diagrama estão associadas a entes em repouso no referencial considerado. Por exemplo, A' está em repouso no referencial de A. Linhas de mundo inclinadas no diagrama estão associadas a entes em movimento no referencial considerado. Por exemplo, B está em movimento com velocidade positiva em relação a A, pois a sua posição aumenta com o tempo. Podemos ver que B afastou-se 25 min-luz de A em 65 min (medidos por A), o que corresponde a uma velocidade de B em relação a A igual a v = 25min-luz/65min = 5/13 c, onde a letra c serve para lembrar que esta velocidade é medida em unidades da velocidade da luz. Já o observador C possui velocidade negativa (e não muito grande) em relação a A, pois a sua posição em relação a A está diminuindo (lentamente). Nas unidades utilizadas, a posição de um pulso de luz aumenta ou diminui de uma unidade durante um intervalo de tempo unitário. Consequentemente, as linhas de mundo de pulsos de luz estão inclinadas a 45 graus no diagrama. Na figura, vê-se um pulso de luz emitido por A, refletido por B e recebido por A de novo. Como veremos, a relatividade proibe velocidades superiores à da luz (no vácuo). Consequentemente, nenhum diagrama de Minkowski pode conter uma linha de mundo com inclinação em relação à horizontal superior a 45 graus. Vários eventos podem ser identificados no diagrama apresentado. Por exemplo, um encontro entre dois observadores é um evento, representado pelo ponto de cruzamento das linhas de mundo dos observadores em questão. Dois eventos estão indicados explicitamente na figura. A bolinha verde representa o evento que pode ser descrito como "a reflexão do pulso de luz por B", ou ainda ser especificado pela afirmação "o relógio de B marca 1h00min". As coordenadas deste evento no referencial de A estão dadas na figura. A bolinha vermelha representa o evento que pode ser especificado pela afirmação "o relógio de A marca 1h05min". Nota-se que estes dois eventos são simultâneos para A, embora os tempos indicados pelos relógios não são iguais. Esta peculiaridade da relatividade está demonstrada adiante no texto. II. Introdução e princípios Mecânica Clássica o Existe uma classe de referenciais nos quais todos os corpos livres estão em movimento retilíneo uniforme ou em repouso. Estes referenciais são chamados referenciais inerciais. Um referencial em movimento retilíneo uniforme em relação a um referencial inercial também é inercial. o As leis da mecânica clássica são formuladas nos referenciais inerciais. o Força produz aceleração. o Não é possível determinar se um laboratório está em movimento retilíneo uniforme através da observação de fenômenos físicos acontecendo dentro dele. o As leis da mecânica são as mesmas em todos os referenciais inerciais. Ondas num meio material o As leis de propagação das ondas materiais são formuladas no referencial de repouso do meio de propagação. o Se o meio material está em movimento, a velocidade de propagação observada é alterada. o A freqüência observada é afetada tanto pelo movimento do emissor como pelo movimento do detetor. Luz o É um fenômeno ondulatório. o Todas as tentativas de identificar um meio de propagação (o hipotético eter) fracassam. o A velocidade de propagação no vácuo é independente do referencial (experiência de Michelson e Morley). Postulados da Relatividade Restrita o A relatividade restrita está essencialmente contida em dois postulados cujos enunciados são bastante simples: Todas as leis da Física são válidas em todos os referenciais inerciais. A velocidade da luz no vácuo é uma constante universal, independente da freqüência e do movimento da fonte. Porém, a aceitação simultánea destes dois postulados leva imediatamente a uma conclusão dramática: a velocidade da luz possui o mesmo valor em todos os referenciais inerciais. Tal conclusão está em contradição com as nossas noções intuitivas de combinação das velocidades e requer portanto uma revisão profunda dos nossos conceitos de espaço e de tempo. III. O fator k de Doppler uma quantidade fundamental caracterizando a relação entre observadores em movimento relativo retilíneo e uniforme. Situação: o 3 observadores A, B e A'. o A e A' estão em repouso relativo. o B afasta-se de A com velocidade v e aproxima-se de A' com a mesma velocidade v. o A emite pulsos de luz separados por intervalos de tempo iguais hA (medidos pelo relógio de A). o Cada vez que B recebe um pulso de luz vindo de A, ele também emite um pulso de luz. o A' recebe os pulsos emitidos por A e B. Definição: o k > 1, pois todos os pulsos viajam com a velocidade c e B está se afastando de A. Análise: o Das definições: o intervalo de recepção por B é hB = k hA. o Portanto, o intervalo de emissão dos pulsos de B também é hB = k hA. o Os pulsos emitidos por A e B "viajam juntos" até A' e são portanto recebidos com o mesmo intervalo. o Este intervalo é hA, já que A' está em repouso em relação a A. Resumo: Conclusão: Compacto: Comentários: o O fator k é função da velocidade relativa v. o A existência de um fator k diferente de 1 não é peculiar à Relatividade Restrita; é simplesmente o efeito Doppler. Mas a relação explicitada no quadro acima é característica da Relatividade Restrita, pois supõe que a velocidade do sinal é independente das velocidades do emissor e do receptor. Fator k de Doppler O diagrama ilustra a situação do ponto de vista do observador A. Os pulsos de luz emitidos por A a intervalos de 6s são recebidos pelo observador B, que está se afastando de A, a intervalos de 9s. Portanto, o fator de Doppler que caracteriza a relação entre A e B, vale k = 9s/6s = 3/2. Cada vez que B recebe um pulso de luz vindo de A, ele também emite um pulso de luz. Os pulsos de luz emitidos por A e B viajam juntos até A', que os recebe simultaneamente. Como A' está em repouso em relação a A, ele recebe os pulsos de A a intervalos iguais aos intervalos de emissão, de 6s. Portanto, para estes pulsos, a razão entre os intervalos de recepção e de emissão é 6s/9s = 2/3 = 1/k. Ou seja: o fator de Doppler relativo a dois observadores que estão se aproximando um do outro com uma certa velocidade relativa é o inverso daquele relativo a dois observadores que estão se afastando com a mesma (em valor absoluto) velocidade relativa. IV. Relação entre o fator de Doppler k e a velocidade relativa v Situação: o O observador B está em movimento com velocidade v em relação ao observador A. o Quando B passa por A, ambos zeram seus relógios. o Quando B passa por A, B manda um pulso de luz para A e A manda um pulso de luz para B. Estes pulsos são recebidos essencialmente instantaneamente, já que A e B estão no mesmo lugar naquele instante. o B então começa a afastar-se de A com velocidade v. o Algum tempo depois, A manda um segundo pulso de luz para B, que é refletido por B no instante TB (marcado pelo relógio de B). Chamaremos de "evento E" esta reflexão. o O pulso refletido é recebido por A. Análise: o Pela definição de k, o segundo pulso foi emitido por A no instante TB/k (pelo relógio de A). o Também pela definição de k, o pulso refletido foi recebido por A no instante k TB (pelo relógio de A). o Em posse destas duas medidas de tempo, A pode atribuir um tempo e uma posição ao evento E. Como o segundo pulso se propagou com a velocidade c, ele levou o mesmo tempo para ir até o evento E e para voltar. Portanto, ele esteve em E no instante médio entre o instante de emissão e o instante de recepção. Ou seja, A atribui ao evento E o tempo o A distância d entre o evento E e o observador A é a metade da distância total percorrida pelo segundo pulso entre a sua emissão e a sua recepção, o que dá Conclusão: o Como o observador B estava presente ao evento E, para o observador A o observador B percorreu a distância d no tempo TA. Assim, a velocidade de B em relação a A é Daí e finalmente Comentários: o Nota-se que k > 1, como esperado já que os observadores estavam se afastando um do outro quando ocorreu o evento E. o Se os observadores estivessem se aproximando, o fator seria obtido trocando v por - v na expressão anterior, como era de se esperar. Cálculo da velocidade relativa v a partir do fator de Doppler k O diagrama ilustra a situação do ponto de vista do observador A. Seja k = 3/2 o fator de Doppler relacionando os observadores A e B. Quando os dois observadores se cruzam, ambos zeram os seus relógios. Uma hora mais tarde (por seu próprio relógio), B recebe um pulso de luz vindo de A. Este pulso foi emitido quando o relógio de A marcava B manda o pulso de volta para A. Quando A recebe este pulso refletido, o seu relógio marca Para A, o evento de reflexão do pulso aconteceu no instante médio entre o instante de emissão e o instante de recepção, ou seja quando o relógio de A marcava Consequentemente, para A, o pulso de luz levou para chegar até o evento de reflexão por B. Este evento aconteceu portanto a uma distância de 25 min-luz. Como B estava presente ao evento de reflexão (ele o provocou!), A pode concluir desta análise que B percorreu 25 min-luz em 1h 05. A velocidade de B em relação a A é então Verifique que isto corresponde à fórmula geral i. e. verifique que V. Dilatação do tempo Situação: o Aquela considerada no ítem anterior. Análise: o Como visto no ítem anterior, embora os dois observadores sincronizam seus relógios quando se cruzam (ambos observadores atribuem tempo nulo a este evento), eles atribuem tempos diferentes ao evento E. o O observador B atribui ao evento E o tempo TB, ao passo que o observador A atribui ao mesmo evento o tempo o A razão entre estes tempos é o Usando a expressão obtida anteriormente para o fator k em termos da velocidade relativa v, obtem-se ou ainda Conclusão: o Para o observador A, quando o relógio carregado por B marca o tempo TB , o seu próprio relógio já marca TA = g TB > TB, ou seja, para quem observa um relógio em movimento, este relógio está se atrasando. o O efeito é recíproco. Para B, o relógio carregado por A é que está em movimento e portanto está se atrasando. o Para este efeito, não importa se o relógio em movimento está se afastando ou se aproximando. Note que o fator g não muda se trocarmos v por - v. Dilatação do tempo O diagrama ilustra a situação do ponto de vista do observador A. Seja k = 3/2 o fator de Doppler relacionando os observadores A e B. Quando os dois observadores se cruzam, ambos zeram os seus relógios. Uma hora mais tarde (por seu próprio relógio), B recebe um pulso de luz vindo de A. Este pulso foi emitido quando o relógio de A marcava B manda o pulso de volta para A. Quando A recebe este pulso refletido, o seu relógio marca Para A, o evento de reflexão do pulso aconteceu no instante médio entre o instante de emissão e o instante de recepção, ou seja quando o relógio de A marcava Assim, para A, quando o evento de reflexão ocorreu o seu próprio relógio marcava 1h 05min, ao passo que o relógio de B marcava 1h. Portanto, para A, o relógio em movimento carregado por B está se atrasando. A razão entre os intervalos de tempo medidos pelo relógio parado e pelo relógio em movimento é Como demonstrado no ítem anterior, a velocidade de B em relação a A é v = 5/13 c. Verifique que a razão obtida acima é dada pelo fator de Lorentz ou seja, verifique que VI. Contração dos comprimentos Situação: o O observador B está se afastando do observador A com velocidade v. Os observadores A e B zeraram os seus relógios no instante em que se cruzaram. o Ele está carregando uma régua estendida na sua frente, alinhada com a direção do seu movimento em relação a A. Denotamos por LB o comprimento da régua medido por B. o Será conveniente imaginar um terceiro observador B', parado em relação a B e localizado na outra extremidade da régua. o A deseja medir o comprimento da régua. Para tanto, ele precisa determinar as posições das duas extremidades da régua no mesmo instante (marcado por seu próprio relógio). o Ele manda pulsos de luz a serem refletidos, um em cada extremidade da régua. Podemos imaginar que B e B' carregam espelhos; um dos pulsos é refletido pelo espelho de B, o outro pelo espelho de B'. O observador A deve ajustar os tempos de emissão dos pulsos de maneira que as reflexões aconteçam simultaneamente para ele. o A partir dos tempos que os pulsos levam para ir e voltar, ele determina as posições das duas extremidades da régua e deduz o comprimento da mesma. Análise: o Sejam e e r os instantes de emissão e recepção (medidos por A) do pulso refletido por B; e' e r' os instantes de emissão e recepção do pulso refletido por B'. As reflexões acontecem simultaneamente para A se " "(1) " o Seja t o instante (medido por B) em que acontece a reflexão em B. Pela definição do fator k, temos "t = k e e r = k t; portanto r = k2e. "(2) " o O pulso que vai ser refletido em B' passa por B no instante k e' e o pulso que foi refletido por B' passa por B no instante r'/k (ambos tempos medidos pelo relógio de B). Como, durante o intervalo entre estes dois instantes, o pulso foi de uma extremidade da régua até a outra e voltou, temos " "(3) " o O observador A utiliza os tempos de emissão e recepção dos pulsos para calcular as posições das extremidades da régua. A diferença dá o comprimento da régua, medido por A: " "(4) " o Agora só é necessário fazer um pouco de álgebra. Resolvemos (3) para r': " "(5) " o Substituimos (2) e (5) em (1) e obtemos: " "(6) " o Substituimos também (2) e (5) em (4) e obtemos: " "(7)" o Dividindo (6) por (7), chegamos a o o ou ainda o o Utilizando a relação entre o fator k e a velocidade relativa v previamente obtida, bem como uma relação dela derivada, qual seja obtemos finalmente Conclusão: o A régua que possui comprimento LB para B que a observa em repouso, possui comprimento LA = LB/g < LB para A que a observa em movimento, ou seja, para quem observa um objeto em movimento, este objeto parece contraído na direção do movimento. o O efeito é recíproco. Para B, uma régua carregada por A pareceria contraída. o Para este efeito, não importa se a régua em movimento está se afastando ou se aproximando, já que o fator g não muda se trocarmos v por - v. Contração dos Comprimentos O diagrama ilustra a situação do ponto de vista do observador A. Os observadores B e B' estão em repouso relativo e seguram as extremidades da régua. Seja k = 3/2 o fator de Doppler relacionando os observadores A e B. Como discutido no item IV, a velocidade relativa v e o fator g de Lorentz correspondentes são v = 5/13 c e g = 13/12. Quando os dois observadores A e B se cruzam, ambos zeram os seu relógios. Para medir o comprimento da régua, o observador A determina as posições das extremidades da mesma no mesmo instante, através de dois pulsos de luz que são refletidos por B e B' naquele instante. No diagrama, este instante é 1h05, pelo relógio de A O pulso emitido por A quando o relógio de A marca 0h40 volta para A, após reflexão por B, quando o relógio de A marca 1h30. Portanto, quando a reflexão acontece, B dista de A Semelhantemente, o pulso emitido por A quando o relógio de A marca 0h10 volta para A, após reflexão por B', quando o relógio de A marca 2h00. Portanto, quando a reflexão acontece, B' dista de A Concluimos que, para A , o comprimento da régua é 55min-luz - 25min-luz = 30min-luz. Este é o comprimento da régua medido por um observador para o qual a régua está em movimento longitudinal com velocidade 5/13 c. (Esta é uma régua bem respeitável!) Passamos à determinação do comprimento atribuído à régua pelo observador B para o qual a mesma está em repouso. O pulso que A manda para B quando o seu relógio marca 0h10 passa por B quando o relógio deste marca Após reflexão por B', este pulso é recebido por A quando o relógio deste marca 2h00. Portanto, este pulso refletido passar por B quando o relógio de B marca Concluimos que este pulso levou 1h20 - 0h15 = 65min para ir de B até B' e voltar, ou seja, para percorrer duas vezes o comprimento da régua. O comprimento da régua medido por B e B' é então Este é o comprimento da régua medido por um observador para o qual a régua está em repouso, o chamado comprimento próprio da régua. Destes resultados, vê-se que a régua em movimento parece contraída em relação ao seu comprimento natural, na razão VII. Combinação das velocidades Situação: Consideramos 3 observadores A, B e C. B está se afastando de A com velocidade v em relação a A. C está se afastando de B com velocidade v' em relação a B. A pergunta é: qual é a velocidade de C em relação a A? Para permitir a análise, supomos que o observador A emite pulsos de luz separados por intervalos de tempo hA (medidos por A). Cada vez que o observador B recebe um pulso vindo de A, ele também emite um pulso de luz. Os pulsos emitidos por A e B são detectados por C. Análise: Seja k o fator de Doppler associado à velocidade v e k' o fator associado à velocidade v'. Os pulsos emitidos por A a intervalos hA são recebidos por B a intervalos hB = khA. Portanto, o intervalo de emissão dos pulsos de B também é hB = khA. Consequentemente, os pulsos emitidos por B são recebidos por C a intervalos hC = k'hB = k'khA. Como os pulsos emitidos por A acompanham os pulsos emitidos por B, eles também são recebidos por C a intervalos hC = kk' hA. Seja K o fator de Doppler associado ao movimento de C em relação a A. Por definição: hC = KhA. Comparando as duas expressões de hC, concluimos que Ou seja: a lei de combinação dos fatores k de Doppler é a simples multiplicação. Conclusão: Seja V a velocidade de C em relação a A. Invertendo a relação obtida anteriormente entre velocidade relativa e fator k (ítem IV), temos Substituindo nisto a expressão de K em termos de k e k' e então as expressões destes em termos de v e v', obtemos ou finalmente que vem a ser a lei de composição relativística das velocidades. Nota-se que esta fórmula possui as seguintes propriedades: o V = c se v = c ou v' = c, o que corresponde à invariância da velocidade da luz: se um corpo ou sinal anda com a velocidade da luz para um observador, ele anda com a velocidade da luz para todos os observadores. o V nunca ultrapassa c se v e v' não ultrapassam c: se um corpo ou sinal anda com uma velocidade inferior à da luz para um observador, ele anda com uma velocidade inferior à da luz para todos os observadores. Combinação dos fatores de Doppler e das velocidades O diagrama ilustra a situação do ponto de vista do observador A. O observador B está em movimento em relação ao observador A e o observador C está em movimento em relação ao observador B. Sejam k = 3/2 o fator de Doppler relacionando A e B, e k' = 4/3 o fator de Doppler relacionando B e C. A emite pulsos a intervalos de 6s. Estes pulsos são recebidos por B a intervalos de Cada vez que B recebe um pulso vindo de A, ele também emite um pulso. Estes pulsos, emitidos por B a intervalos de 9s, são recebidos por C a intervalos de Como os pulsos vindos de A viajam junto com os pulsos emitidos por B, eles também são recebidos por C a intervalos de 12s. Portanto, o fator de Doppler relacionando A e C é Isto ilustra obviamente a combinação multiplicativa dos fatores de Doppler, pois Como discutido no ítem IV, a velocidade relativa v é dada em termos do fator k por Portanto, a velocidade de B em relação a A é e a velocidade de C em relação a B é Utilizando o resultado obtido na combinação dos fatores de Doppler, podemos também calcular a velocidade V de C em relação a A: A lei de combinação das velocidades, qual seja corresponde então à relação aritmética a qual é facilmente verificada. VIII. O paradoxo dos gêmeos Situação: o Consideramos 3 observadores A, B e C. o O observador B está em movimento com velocidade v em relação ao observador A. O observador C também está em movimento com velocidade v em relação ao observador A, na mesma direção mas em sentido oposto. o Inicialmente, B e C estão se aproximando de A; B já está perto mas C ainda está longe. o Quando B passa por A, ambos zeram os seus relógios. O observador B também manda um pulso de luz para A, que é recebido essencialmente instantaneamente, já que A e B estão no mesmo lugar. o B passa então a afastar-se de A e aproximar-se de C. o Quando B passa por C, ele manda um pulso de luz para A. o Quando C passa por B, ele ajusta o seu relógio de acordo com o relógio de B e manda um pulso de luz para A. o Após este encontro, C continua se aproximando de A. o Quando C encontra A, ele manda um pulso de luz para A, que é recebido essencialmente instantaneamente. o C e A estando então no mesmo lugar, eles podem comparar os seus relógios. A pergunta é: será que os relógios de A e C marcam a mesma hora? Note que, já que B ajustou seu relógio pelo de A e C ajustou seu relógio pelo de B, o "senso comum" responderia sim a esta pergunta. Análise: o Seja t o tempo indicado pelo relógio de B no instante do encontro com C. Como C então ajusta seu relógio com o de B, o relógio de C também marca t naquele instante. o Como C aproxima-se de A com a mesma velocidade v com a qual B se afastou de A, ele leva o mesmo tempo (medido por ele a partir do encontro com B) para chegar até A. Assim, no encontro com A, o relógio de C marca o tempo o O intervalo (medido por B) na emissão dos dois pulsos por B, é t. Seja k o fator de Doppler relacionando A e B. Pela definição deste fator, o intervalo na recepção por A é kt. Portanto, o relógio de A marca o tempo kt quando ele recebe o segundo pulso de B. o Como o primeiro pulso de C acompanhou o segundo pulso de B, concluimos que o relógio de A marca o tempo kt quando ele recebe o primeiro pulso de C. o Já que C está se aproximando de A com a mesma velocidade com a qual B se afastou de A, o fator de Doppler relacionando C e A é 1/k. o Já que o intervalo na emissão dos dois pulsos por C é t, o intervalo na recepção por A é t/k. o Assim, quando A recebe o segundo pulso de C, o seu relógio marca o tempo o Este é, então, o tempo marcado pelo relógio de A no instante do encontro com C. Conclusão: o Podemos ver que os tempos TA e TC marcados pelos relógios de A e C no instante do encontro entre estes dois observadores não são iguais. A razão entre eles é o Usando a expressão do fator k em termos da velocidade relativa v, obtem-se (veja o cálculo feito na discussão da dilatação do tempo) o Este resultado é formalmente idêntico àquele obtido na discussão da dilatação do tempo e de fato pode ser interpretado como uma manifestação desta dilatação. o Contudo, a situação aqui é significativamente diferente daquela considerada anteriormente. O efeito aqui não é recíproco. Como A e C estão comparando seus relógios ao mesmo evento (o encontro entre eles), eles tem que concordar quanto à questão de saber se um está adiantado em relação ao outro. Ilustração: Para ilustrar a conclusão à qual chegamos, podemos imaginar o seguinte drama: o O observador A é pai de dois filhos gêmeos, João e Pedro. o Quando B cruza com A, ele leva João de passagem junto com ele, ao passo que Pedro fica com A. o Quando B cruza com C, ele joga João para C, que o recebe habilmente e o trás de volta para A. o Quando A compara seus gêmeos reunidos, ele repara que João, que viajou, está agora mais jovem de que Pedro, que ficou em casa ! Note que todos tem que concordar quanto a isto. o A situação não é simétrica, pois João pulou de um referencial inercial para outro, enquanto Pedro permaneceu sempre no mesmo referencial inercial. João sofreu acelerações e Pedro não. Paradoxo dos gêmeos O diagrama ilustra a situação do ponto de vista do observador A. Seja k = 3/2 o fator de Doppler relacionando os observadores A e B. Quando os dois observadores A e B se cruzam, ambos zeram os seus relógios. Naquele instante, nascem os filhos gêmeos de A, João e Pedro. João acompanha B, ao passo que Pedro fica com o pai A. Trinta anos mais tarde (pelo seu próprio relógio), B cruza com C, que viaja na direção oposta, aproximando-se de A com a mesma velocidade com a qual B está se afastando de A. O fator de Doppler relacionando C a A é portanto 1/k = 2/3. Quando C passa por B, ele ajusta o seu relógio com o de B, que marca 30 anos naquele instante. João, que tem também 30 anos, já que ele acompanhou B, é apanhado de passagem por C. Quando B cruza com C, ele manda um pulso de luz para A, que o recebe quando o seu relógio marca 30 anos x 3/2 = 45 anos. Quando C cruza com B, ele também manda um pulso de luz para A, que o recebe também quando o seu relógio marca 45 anos. Como C se aproxima de A com a mesma velocidade com a qual B se afastou, ele leva 30 anos, pelo seu próprio relógio, para chegar até A. Como João acompanha C, ele envelhece 30 anos durante esta parte da viagem. Portanto, no re-encontro com o pai A e o irmão Pedro, ele tem 30 anos + 30 anos = 60 anos. Podemos imaginar que, quando C alcança A, ele manda um segundo pulso para A, que o recebe instantaneamente já que ambos observadores estão então no mesmo lugar. Pela definição do fator de Doppler, o intervalo de recepção por A dos dois pulsos emitidos por C é 30 anos x 2/3 = 20 anos. Deste resultados, deduzimos que, no encontro com C, o relógio de A marca 45 anos + 20 anos = 65 anos. Já que Pedro permaneceu junto a A o tempo todo, ele portanto tem 65 anos no seu encontro com C, que é também o seu re-encontro com o seu irmão gêmeo. Concluimos que, no re-encontro, João tem 60 anos e Pedro tem 65 anos. Ou seja, o gêmeo que fez a viagem de ida e volta envelheceu mais lentamente que o outro, que ficou parado. Fonte dos dados: http://www.if.ufrgs.br/~betz/space_time/index.html#Conte%C3%BAdos