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Clifford Geertz

Cap. 5 Ethos, visão de mundo e a análise de simbolos sagrados

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'\lISA() E A ANALISE DE SfMBOLOSSAGRADOS Clifford Geertz I A INTERPRETA<;AO I DAS CULTURAS Rio de Janeiro, LTC, 1989, p. 93-94. fit A religiao nunca e apenas metaffsica. Em todos os povos as formas, os vefculos e os objetos de culto sao rodeados por uma aura de profunda seriedade moral. Em to do iugar,o sagrado contem em si meSl1i;) um sentido de obrig8.<;:ao intrfnseca: ele nao apenas encoraja a devo<;:ao como a exige; nao apen8s indu1. a aceitJ.~3.0 inte1ectual como refor<;:a 0 compromisso ernocional. Formulado como mana, como Broil/rid OL! como a Santfssima Trindade, aquilo que e colocado pane. como alem do mundano, considerado, inevitavelmente, como tendo implicayoes de grande alcance para a orienta\;ao da conduta humana. Nao sendo meramente metaffsica. a religiao tambem nunca e meramente etica. Concebe-se que a Fonte de sua vitalidade moral repousa na fidelidade com que ela expressa a natureza fundamental da reaJidade. Sente-se que 0 "deve" poderosamente coercivo cresce a partir de um "e" fatual abrangente e, dessa forma, a religiao flJndamenta as exigencias mais especfficas da <1\;8.0humana nos contextos mais gerais da existencia humana. Na discussao antropol6gica recente, os aspectos morais (e esteticos) de uma dada cullum, os elemer:.tos valorativos, for-am resumidos sob 0 tenno ·'ethos'". enquanto os aspectos cognitivos, existenciais foram desigoados pdo termo "visao de mundo". 0 ethos de um pm:o e 0 tom, 0 carater e a qualidade de sua vida, seu cstiJo moral e estetico, e sua disposi({30 a atitude subjJcente em rela\3.o a eIe rncsrno c ao seLl !11LlnCO que a vida 'enete. A visao de mundo que esse povo [em 0 quadro que eI<:bora das COiS:iS como clas suo na simples realidade, seu conceito da n<1tureza, de si mesmo. cla sociedadc. Esse qm:dro cantem suas ideias mais abrangentes sobre a ordem. A cren~a religiosa e 0 ritual confrontam e confjrm(:l~-se nwtuamente: 0 ethos torna-se intelectualmente razoavel porque lcvtido a represcntar um tipo de vida in1plfcito no cswdo de coisas real que a visao demundo desereve, e a visao de mundo torna-se emocionalmente aceita\rel par se apresentar como imagem de urn verdadeiro estado de coisas do qual esse tipo de vida expless8.o autentica. Essa demonstra<;:ao de uma rela(;ao significativa entre os vaJores que 0 povo conserva e a ordern geral da existeneia dentro da qual ele se eneontra e um elemento essencial em todas as religioes, como quer que esses val ores ou essa ordem sejam concebidas. 0 que guer que a rei igiao pcssa ser aJem disso, ela em paIte. uma remativa (de uma especie implfcita e diretamcnte scntida. em vez de explfeita e conscientemente pensada) de conservar a provisao de significados gerais em termos dos quais cada indivfduo interpreta sua experiencia e a e e :: § I P;, \ , .. fe: ~.. ; \ , e c e e, i- If ~ m g 1 1::-- i J::;-. ~ ~ I organiza sua conduta. ~' Entrctanto, os significados s6 podem ser "armazenados" atraves de sfmbolos: uma eruz, um crescente ou uma serpente de plumas. Tais sfmbolos religiosos, dramatizados em rituais e relatados em mitos, parecem resumir, de alguma maneira, pelo men os para aqucles que vibram com eles, tudo que se conheee sobre a forma como 0 mundo, a qualidade de vida emocional que ele suporta, e a nlaneira como deve comportarse quem eSl