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Cinomose canina (Canine Distemper Virus)
Etiologia
O vírus da cinomose é um vírus RNA pertencente a família
paramixovirirdae gênero morbilivírus. Possui um virion relativamente grande
(150-250nm) com uma fita simples de RNA. O virion é recoberto pelo
envelope viral que deriva de glicoproteinas da membrana celular da célula
hospedeira.
Estes vírus podem ser destruídos pela luz UV e antioxidantes. O
aquecimento a 50 ou 60 graus inativa o vírus em 30 minutos. A 37C este se
mantém estável por 1 hora e esta aumenta para 3h se mantido a temperatura
ambiente. O congelamento mantém o vírus por meses, enquanto que a
temperaturas menores que –65C por sete anos. A liofilização (congelamento e
desidratação) aumenta muito a estabilidade viral e se constitui numa
excelente maneira de manter o vírus vivo para confecção de vacinas. O vírus
da cinomose permanece estável num pH entre 4,5 e 9,0. O envelope viral é
susceptível a vários desifentantes entre eles o clorofórmio (0,5%), fenol
(0,45%) e quats (0,3%). O uso destes agentes é muito importante em canis.
O vírus infecta uma gama de carnívoros silvestres e domésticos, além
de mamíferos marinhos. Contudo os gatos, primatas não humanos e os seres
humanos possuem infecção autolimitante. O vírus da cinomose traz sérios
problemas a carnívoros selvagens, como os leões africanos.
Tabela 1. Estrutura do vírus da cinomose
"Estrutur"Componente "Peso "Função "
"a " "molecular " "
"Envelope"Hemaglutinina "76 "Adesão "
" "Proteína de "34 "Penetração "
" "matriz " " "
" "Proteínas de "40, 20-13 "Penetração "
" "fusão " " "
"Capsídeo"Proteínas "180-200 "Replicação "
" "grandes " " "
" "Polimerase "66 "Replicação "
" "Nucleocapsídeo "58 "Proteção do "
" " " "genoma "
Tabela 2. Espécies suscetíveis ao vírus cinomose e morbilivirus
"Vírus "Espécie "
"Canine Distemper Vírus "Pandas, coiotes, dingo, raccon, lobo, "
"CDV "raposa, hienas, ferrets, minke, quati, "
" "ursos, cheeta, leão jaguar, lince "
"Dolphin Morbilivirus DMV"Golfinhos "
"Porpoise Morbilivirus "Baleias "
"PMV " "
"Phocine Distemper Vírus "Baleias "
"PDV " "
"CDV "Baleias dos Bálcãs "
Epidemiologia
O CDV é abundante nas secreções respiratórias dos animais infectados
e é normalmente transmitidos através de aeorossóis, contudo estes também
pode ser transmitidos por outras secreções corporais, incluindo a urina. O
vírus pode ser excretado por períodos maiores que os 90 dias após a
infecção, embora a eliminação em períodos menores é mais freqüente. Embora
se obtenha uma boa imunidade ao vírus, esta não é sólida, nem tampouco dura
por toda a vida do animal. Animais que não receberem novas doses da vacina
perderão sua proteção e serão facilmente contaminados após períodos de
estresse, imunossupressão e contanto com animais enfermos. Estima-se que 25-
75% dos animais susceptíveis apresentem a infecção subclínica e elimine a
infecção sem demonstrar sinais clínicos ou enfermidade.
A prevelência da enfermidade é maior em animais dos 3-6meses,
coincidindo com a perda dos anticorpos maternos. Em populções isoladas
surtos podem afetar um número grande de animais de todas as idades. Existem
suspeita da maior resistência das raças braquicefálas, mas esta ainda não
foi provada. As raças de maior susceptibilidade são: greyhounds, huskies,
weimaraner, Samoies e Malamutes do Alaska.
Patogenia
A severidade na evolução da enfermidade, bem como nos sinais clínicos
é totalmente dependente do status imunitário do hospedeiro. A infecção
inicia normalmente por aerossóis. Em 24 horas este replica nos macrófagos
teciduais e se espalha por via linfática através dos linfonodos da cabeça.
No dia 4-6PI a multiplicação viral já ocorre no baço e na lâmina própria do
estômago e intestinos. A disseminação viral é acompanhada de elevação da
temperatura e leucopenia. Em sua maior parte a leucopenia é derivada de
linfopenia que acomete os animais. A eliminação viral a partir dos dias 8-
9PI ocorre por via hematógena, associada a viremia e totalmente dependente
do status imune do animal. A IgG sérica é importante na neutralização
viral, dificultando sua transmissão intercelular. Dos 9-14 dias PI a
resposta sorológica é definitiva para o prognóstico da enfermidade.
Níveis adequados de imunidade humoral: Os anticorpos impedem a disseminação
viral e os animais conseguem eliminar o vírus sem apresentar sinais
clínicos severos.
Níveis intermediários de imunidade humoral: O vírus se espalha pelos
tecidos epiteliais. Os sinais clínicos tendem a desaparecer, conforme o
nível de anticorpos for aumentando. A eliminação viral é menor no tecido
uveal e neurônios. A presença de uma imunidade prolongada é fundamental
nestes casos, bem como está será inútil se o animal for infectado com cepas
de grande virulência, em grande quantidade ou se o animal tornar-se
imunossuprimido.
Níveis reduzidos de imunidade humoral: Nestes animais o vírus se espalha
facilmente atingindo diferentes regiões do organismo. Os sinais clínicos
nestes animais são geralmente dramáticos e severos levando o animal a
morte.
As infecções no sistema nervoso central decorre de uma fraca resposta
humoral. O vírus geralmente penetra pelo endotélio vascular das meninges
(livre ou infectando leucócitos). O desenvolvimento das lesões neuronais
varia e é decorrente de uma série de fatores, como idade imunocompetência,
tempo de exposição e capacidade imunossupressora do vírus. Encefalite aguda
da substância branca e cinza é um achado normal de cães jovens e
imunossuprimidos. A infecção do vírus nos astrócitos e macrófagos está
associado a desmielinização não inflamatória. Na ecefalite crônica a
formação de anticorpos antimielina e está associada a grande expressão de
MHC II pelas células da glia.
Sinais clínicos
Os sinais clínicos da cinomose variam muito, na dependência de como
descrito anteriormente da virulência da cepa viral e do status imune do
hospedeiro. Mais de 50-70% das infecções pelo vírus da cinomose são
subclínicas. As formas intermediárias podem se caracterizar por sinais
inespecíficos, como diminuição do apetite, febre, infecção do trato
respiratório superior. Muitas infecções acontecem em sinergismo com outros
patógenos, em especial os bacterianos, como a tosse dos canis e a
ceratoconjuntivite.
Os sinais da forma generalizada da enfermidade são reconhecidos em
animais imunossuprimidos, não vacinados ou jovens. Estes sinais variam
muito tanto na sua prevalência, como nas fases de evolução da doença.
Entre estes sinais podemos citar:
Sinais nervosos: Iniciam geralmente 1-3 semanas após o aparecimento dos
sinais sistêmicos. Contudo não existe nenhuma relação temporal fixa, bem
como nõa existe como prever se um animal irá ou não desenvolver sinais
nervosos, bem como a sua intensidade. Os sinais neurológicos variam de
acordo com a área do encéfalo afetada, hiperestesia, meningite, paraplegia
e tetraplegia, mioclonias. As mioclonias, contrações musculares
involuntárias são consideradas específicas da cinomose, entretanto podem
ser encontradas em outras enfermidades ocasionadas por paramixovírus.
Infecção transplacentária: Pode ocorrer. Os filhotes podem demonstrar
sinais neurológicos dos 4-6 semanas de vida. Abortos e patos prematuros,
também podem ser observados
Infecções neonatais: Levam a alterações no esmalte dentário, além de
oligodontia e hipoplasia do esmalte dentário. A infecção em filhotes com
menos de uma semana da vida pode levar a cardiomiopatias , que se
caracterizam por dispnéia, depressão anorexia e colapso. As lesões
caracterizam-se por degeneração, necrose e mineralização da musculatura
cardíaca.
Lesões ósseas: Osteosclerose metafisária tem sido observado em filhotes de
cães de raças grandes, dos 3-6 meses.
Artite reumatóide Os anticorpos produzidos contra o vírus da cinomose
tendem a se acumular nas articulações e fluido sinovial, levando a uma
artrite degenerativa e inflamatória.
Sinais Oculares: Uveite pode ser um sinal observado em animais sem sinais
clínicos. Porém o vírus pode estar associado a inflamação do nervo óptico e
degeração e necrose da retina que levam a cegueira.
Infecções combinadas: Uma vez que o vírus provoca uma grande redução nos
leucócitos e desta forma induz a uma imunossupressão severa nos animais,
estes tornam-se susceptíveis a um grande grupo de patógenos oportunistas,e
me especial a B. bronchiseptica e o T. gondii. Logo, diarréias e
broncopneumonias são comumente observadas em animais com cinomose.
Achados Patológicos
Não existem sinais específicos em animais mortos pelo vírus da
cinomose. Um achado significativo está no SNC. Este é caracterizado pela
desmielinização e inflamação perivascular, com um grande infiltrado de
astrócitos, os quais estarão repletos de mielina. A observação de
corpúsculo de inclusão intracitoplasmática é observada em diferentes
tecidos, em especial os do trato genitourinário, na bexiga. O significado
destas alterações é muito discutido, e muito cuidado deve ser tomado na
hora da confirmação do diagnóstico baseado apenas nestes achados.
Diagnóstico
Clínico: os sinais clínicos são muito importantes no diagnóstico da
enfermidade. Deve-se levar em conta sempre o histórico do animal,
especialmente sobre o uso de vacinas. Dado o caráter inespecífico, complexo
e combinatório de muitos sinais o diagnóstico da doença exige muito do
veterniário.
Laboratório clínico: No leucograma achados de leucopenia absoluta são
freqüentes e relacionados a virulência da cepa viral. Trombocitopenia e
anemia também podem ser observadas. Corpúsculos de inclusão podem ser
observados, inclusive nos eritrócitos.
Radiografia: Indica a presneça de infecções respiratórias associadas (B.
bronchiseptica).
Ensaios Imunológicos: A técnica de ELISA pode ser utilizada para detectar
IgG e IGM no soro dos animais. A IgM indica infecção recente ou vacinação,
enquanto que a IgG é marca de encefalite crônica.
Isolamento viral: De difícil execução, sendo que dados de maior sucesso são
obtidos quando o isolamento se faz em amostras de necropsia.
Terapia
Mesmo com o avanço nas pesquisas sobre o vírus da cinomose muito pouco
tem se evoluído a respeito do tratamento. Este ainda é de suporte e não
específico e somente é eficaz na redução da mortalidade e de nenhum efeito
sobre as seqüelas da enfermidade. Para que a terapia seja efetiva deve-se
iniciar rapidamente, contudo devemos sempre avaliar a presença de sinais
neurológicos incompatíveis com a vida. Outro aspecto importante a ser
considerado é que os sinais sistêmicos e em especial os neurológicos,
possuem um caráter progressivo e raramente reversível.
O uso de antimicrobianos é indicado para tratar as infecções
cobinadas, ocular, respiratória e digestiva. Uma lista dos principais
agentes utilizados na terapia da cinomose. Fluidoterapia também é muito
importante, esta deve ser endovenosa ou parenteral no caso de animais
apresentando vômito ou diarréia. O uso de 60mg de Vit A em 5 dias pode ser
testada.
A maior parte dos sinais neurológicos associados a cinomose não são
tratáveis. Diazepam e Fenobrabital podem ser empregados pelo caráter
convulsivos das mioclonias.
Tabela 3. Principais agentes utilizados na terapia da cinomose
"Droga "Dose "Rota "Interval"Duração "
" "(mg/kg) " "o "(d) "
"Antimicrobiano" " " " "
"s " " " " "
"Ampicilina "20 "PO, IV "8 "7 "
"Tetraciclina "22 "PO, IV "8 "7 "
"Florfenicol "25-50 "IM "8 "7 "
"Anticonvulsivo" " " " "
"s " " " " "
"Diazepam "5-10 "IV "1-2 " "
" "(total) " " " "
"Fenobrabital "2 "PO, IV, IM"12 " "
"Antiinflamatór" " " " "
"ios " " " " "
"Dexametasona "1-2 (SNC), "IV "24 "1, "
" "0,1 (olho) " " "3-5 "
Prevenção
A ingestão do colostro pelos filhotes é fundamental para a sua
proteção, uma vez que 97% dos anticorpos recebidos de forma passiva vem
pelo colostro. Na ausência desta proteção a imunidade do filhote torna-se
infecicinete já no primeiro mês. A imunidade materna normalmente diminui a
partir do terceiro mês. O uso de vacinas dadas a cada 3-4 semanas ate as 16
semanas é ideal para a formação de uma imunidade adequada por anos. O que é
observado também em animais recuperados de infecções naturais.
As vacinas contra o vírus são atenuadas e induzem a uma forte
imunidade nos animais. A vacina da cinomose nunca deve ser administrada por
via endovenosa, assim como a vacina para leptospirose e hepatite infecciosa
canina, devido ao relato de reações alérgicas. Contudo esta rota de escolha
pode ser utilizada proteger animais expostos e não vacinados. O booster de
uma vacina para cinmose pode persistir por até 7 anos. Nos Estados Unidos,
já existem vacinas recombinantes (canaripox expressando a hemaglutinina
viral).
Um aspecto muito importantes das vacinas da cinomose, estão na sua
viabilidade e instabilidade viral perante a temperatura. A vacina
liofilizada dura 16 meses sobre refrigeração, mas apenas 7dias sob a luz do
sol. A vacina hidrata permanece estável por apenas 3 dias a 4C. A qualidade
das vacinas deve ser muito bem avaliadas, pois xistem inúmeros relatos de
enefalites pós vacinais. Os sinais nervosos geralmente aparecem 7 dias após
a vacinação. Estas complicações são muitas vezes associadas a vacinação das
fêmeas antes e logo após o parto, bem como quando de infecções por outros
vírus, como o da parvovirose. Não existem métodos precisos de diferenciação
do vírus de campo e vacinal. As vacinas não são diferenciais.
Parvovirose Canina
Etiologia
As infecções pelo parvovírus canino inciou-se em meados de 1978.
Considera-se que o vírus possa ter surgido de uma mutação no vírus da
panleucopenia felina. Nas décadas de 70 e 80 surtos severos desta
enfermidade foram descritos ao redor do mundo. NO Brasil o primeiro relato
da enfermidade foi realizado em 1985, na UFSM. Os parvovírus são vírus
pequenos, de DNA fita simples, sem envelope e com tamanho de 18-22nm. Estes
vírus têm grande tropismo pro células jovens em rápida replicação. Existem
dois tipos virais o CVP-1 e o CVP-2. O primeiro é associado a forma
clássica dos parvovírus, contudo produz somente infecção subclínica. O
segundo foi descrito somente a partir de 1978, nos graves surtos de
enterite hemorrágica em cães. Este é semelhante nas características
bioquímicas ao CVP-1, contudo apresenta características antigênicas
semelhantes ao parvóvírus felino. Este vírus tem demonstrado uma maior
instabilidade genética, produzindo novos subtipos virais.
Assim como todos os outros parvovírus, estes possuem grande
resistência aos desinfetantes e condições ambientais, podendo permanecer
viável em objetos inanimados (como roupas, alimentos, pisos) por períodos
superiores a cinco meses. São resistentes ao éter e ao clorofórmio, com
exceção do hipoclorito de sódio (1 parte de clorina para 30 partes de
água).
Epidemiologia
A infecção pelo CVP-2 tem sido descrita em diferentes espécies de
canídeos, como cães domésticos, coites, rapozas e lobos. A infecção
experimental em ferrets, minks e gatos é auto-limitante. O CVP-2 é
altamente contagioso e a transmissão ocorre especialmente por via oro-fecal
e contato direto de cão para cão. Animais portadores disseminam este agente
em suas fezes. Os instrumentos, insetos e roedores podem servir como
vetores. A doença é inaparente na maior parte dos cães, sendo severa
somente nos filhotes. Os portadores eliminam o agente num período que vai
dos 4 ao 11 dias PI. O período de incubação da doença varia de 7-14 dias.
A morbidade da parvovirose canina pode variar de 20-100% e a
mortalidade de 10-50%, sendo esta associada ao grau de lesões intestinais.
A forma aguda da doença pode ser observada em filhotes de qualquer raça.
Contudo o maior risco parece estar associado a idade, variando das 6
semanas a 6 meses de idade. Rottweilers, doberman, pintchers, labradores,
parecem ter maior risco.
Patogenia
O vírus tem grande atração por células jovens em replicação. Após sua
entrada por via oronasal o vírus replica nas tonsilas e chega aos
intestinos, por via linfática ou través de viremia. A viremia é marcante do
primeiro ao quinto dia PI. Ao atingir o intestino o vírus penetra na cripta
intestinal, onde pela replicação induz a necrose tecidual e colapso das
vilosidades. Este colapso deriva do dano ao turnover (1-3dias) celular da
vilosidade. Com este dano a vilosidade diminui de tamanho Além disto o
vírus é eficiente na destruição de centros germinativos de leucócitos,
especialmente os linfócitos, produzindo neutropenia e linfopenia. Infecções
secundárias são comumente observadas, sendo observadas inúmeras
complicações como toxemia, bacteremia e CID.
Sinais Clínicos
As infecções pelo CVP-2 estão associadas a dois tecidos
principalmente ao trato intestinal e miocárdio. Os sinais clínicos dependem
de uma série de fatores como: idade dos animais, estresse e status imune.
Animais jovens apresentam maior suscpetibilidade devido a perda da
imunidade passiva e grande número de células em replicação.
Os primeiro sinais clínicos observados são depressão, letargia,
pirexia (40-41C), anorexia, vômito, diarréia e rápida desidratação. As
fezes são geralmente líquidas amarelo-acinzentadas no início da doença ou
claramente hemorrágicas com o desenvolvimento da doença, que pode levar a
recuperação ou morte, que ocorre em dois dias após os sinais clínicos.
Leucopenia também pode ser observada nos acasos severos e especialmente a
monocitopenia associada a pouca idade leva a poucas chances de
sobrevivência. Sinais neurológicos também podem ser observados em
decorrência da hipoglicemia, hemorragia cerebral, distúrbios
hidroeletroliticos, ácido base e septicemia.
A miocardite é comum e afeta aproximadamente 70% dos cães em
ninhadas. Esta se caracteriza por dispnéia, dor, lamentação e tentativa de
vômito. A miocardite é ainda ocasionalmente encontrada em filhotes únicos
de mães não vacinadas. A morte súbita dos animais ocorre de três a dez
semanas. Os animais que não sucumbem na fase aguda da doença podem
apresentar alterações clínicas relacionadas à insuficiência cardíaca
crônica, como seqüela.
Achados patológicos
Lesões são mais pronunciadas na parte distal do duodeno e jejuno. As
paredes intestinais apresentam-se descoloridas e engrossadas. A superfície
mucosa do intestino apresenta-se avermelhada e hemorrágica, sendo evidente
alterações autolíticas. Histologicamente, corpúsculos de inclusão são
observadas da língua ao intestino delgado, sendo observada o desnudamento e
encurtamento das vilosidades com necrose das criptas intestinais e das
placas de peyer.
Lesões macroscópicas da forma cardíaca em animais que morrem
subitamente não são observadas ou somente ocorre edema pulmonar. As lesões
cardíacas, quando visíveis, consistem em dilatação cardíaca e áreas
esbranquiçadas e irregulares no miocárdio. Inclusões virais intranucleares
aparecem no músculo cardíaco. Nos casos crônicos é observada a fibrose.
Diagnóstico
CLÍNICO: A observação de diarréia sanguinolenta e com forte odor em
animais jovens (menos de 2 anos) é considerada indicativa da infecção pelo
CVP-2, embora esta possa ocorrer sem vômito. A leucopenia não é um
indicador consistente da infecção, embora possa ser um indicativo da
severidade da doença.
ESTUDO IMUNOLÓGICO: Realizado por ELISA e apresenta boa sensibilidade
e especificidade. Contudo, resultados falso-positivos podem ser observados
em animais vacinados. Existem kits comerciais para determinação direta do
vírus nas fezes.
ISOLAMENTO VIRAL: É difícil, devido ao curto período de eliminação do
vírus nas fezes. A técnica apresenta grande sensibilidade. Contudo, não é
usada na rotina de diagnóstico. Os testes de hemaglutinação (HA) e inibição
de hemaglutinação (HI) são usados para confirmação do diagnóstico.
O diagnóstico diferencial deve ser feito da cinomose, coronavirose,
pacreatite aguda, enterite bacteriana e ancilostomíase.
Tratamento
O objetivo primário do tratamento da parvovirose é o restabelecimento
do balanço hidroeletrolítico. Agentes antimicrobianos antieméticos devem
ser utilizados. Uma súmula destes agentes são descritos na tabele abaixo. A
fluidoterapia, sozinha, é provavelmente o aspecto mais importante do
tratamento e deve persistir até o desaparecimento do vômito e diarréia.
Filhotes tratados que sobrevivam por três a quatro dias deverão sobreviver
integralmente. Animais com bacteremia secundária e outras complicações
necessitarão de hospitalização por períodos prolongados.
Tabela 4. Agentes disponíveis para o tratamento de enterites em caninos
"Drogas "Dosagem (mg/kg)"Rota "Interval"Duração"
" " " "o " "
"Antieméticos " " " " "
"Clorpromazina "0,5 "IM "8 "- "
" "0,05 "IV "8 "- "
"Metoclopramida"0,2-0,4 "SC "8 "- "
" "1-2a "IV "24 "- "
"Procloperazina"0,1 "IM "6-8 "- "
"Antimicrobiano" " " " "
"s " " " " "
"Ampicilina "10-20 "IV, IM "6-8 "7 "
"Cefazolina "22 "IV, IM "8 "7 "
"Gentamicina "2 "IM, SC "12 "7 "
"Protetor " " " " "
"hepático " " " " "
"Cimetidina "5-10 "IM, IV "6-8 "- "
"Ratidina "2-4 "IV "6-8 "- "
a: vômito severo
Prevenção
Anticorpos são transferidos através do colostro e representam 90% da
imunidade passiva do filhote. Contudo, títulos protetores somente são
obtidos pela imunização. Animais vacinados e com vacina inativada tornam-se
protegidos próximo a duas semanas após a vacinação. Entretanto, são
necessárias boosters para uma proteção por mais de 15 meses. Títulos
maiores são observados pela combinação do CVP-2 com outro vírus vivo
modificado (incluindo a cinomose canina). A vacinação de fêmeas antes da
procriação pode ser útil, contudo, esta pode interferir com a imunidade
ativa do filhote. Este período pode ocorrer entre a 16a e 18a semanas.
Existem vários programas de vacinação de filhotes, contudo, a revacinação
anual até o segundo ano de vida é indicada.
Atualmente, estão disponíveis vacinas em combinação com a cinomose,
hepatite infecciosa canina, leptospirose e raiva. Além destas, vacinas
recombinantes comerciais são encontradas no Brasil.
A parvovirose é altamente contagiosa. Uma vez estabelecida a infecção
no canil, é difícil de se impedir a propagação da doença. O isolamento de
animais jovens da população geral previne a infecção antes da vacinação.
Sendo importante a lavagem das mãos e a troca de sapatos antes de adentrar
nos alojamentos. O uso de hipoclorito de sódio é recomendado.