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CAT - CLEAN AIR TURBULENCE
"O perigo pode estar nas alturas"
A partir dos anos 50, com o início das operações de jato em níveis de vôo
nas altas altitudes, o encontro com uma CAT é reconhecido como problema
operacional, pois com freqüência tal ocorrência dá-se inesperadamente e sem
pistas visuais para advertir os pilotos do perigo iminente.
Em 1996, um comitê internacional para estudo de turbulência de ar claro
definiu como toda a turbulência na área da atmosfera de interesse das
operações aeroespaciais que estão fora ou adjacentes à atividade convectiva
visível, incluindo a turbulência não observada em nuvens dentro ou
adjacente à atividade convectiva visível. Com o passar do tempo, definições
menos formais de CAT evoluíram e o Airman Information Manual (AIM) amplia a
definição de CAT básica como turbulência encontrada em ar claro onde
nenhuma nuvem está presente.
No entanto, a definição mais abrangente de CAT é apresentada como a
turbulência encontrada fora de nuvens convectivas e em alguns casos em ar
claro na redondeza de temporais. Os relatórios do FAA apontam quase 60
acidentes com passageiros e tripulantes a cada ano devido a encontro com
CAT e desde 1990 houve um total de 15 mortes atribuídas a encontros de
turbulência em céu claro.
Já os relatórios de segurança de vôo nacionais registrados pelo CENIPA
(Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) indicam que
os acidentes aéreos provocados por encontro com CAT resultaram em
ferimentos na cabeça, quebra de omoplata ou clavícula, braços, cortes e
contusões variados, quebra de equipamentos e danos estruturais nas
aeronaves, etc..
OCORRÊNCIAS DE ENCONTROS COM CAT
Entre as ocorrências com CAT encontra-se a que acometeu um Boeing 747 da
United Airlines em vôo de Narita a Honolulu e sofreu um CAT em cima do
oceano Pacífico, motivando a divulgação desta grande manchete, pois neste
acidente, uma passageira morreu e 104 outros passageiros foram feridos. As
notícias dão como causa um violento golpe de turbulência, tendo sido
informado que após a leitura do DFDR da aeronave pelo NTSB, foi constatado
que o avião teve um encontro com CAT.
A leitura do DFDR indica que a aeronave perdeu aproximadamente apenas 100
pés de altitude no tempo de 1 segundo e que a força G para cima, para baixo
e para os lados não provocou danos ou ameaça à integridade estrutural de
avião. A grande repercussão deste incidente, ocorrido no FL310 (nível de
vôo 310 – 31 mil pés), deve-se ao tipo da ocorrência, pois a aeronave subiu
ligeiramente, foi atingida por um windshear, desceu para 30.900 pés a uma
razão de 6000 pés por minuto, porém, o piloto-automático manteve-se
acoplado. Segundo o depoimento dos passageiros " o avião caiu por queda
livre em baixo de nós " e também " o avião balançou, sacudiu e depois
mergulhou ".
Outra ocorrência envolveu um B-767 da Transbrasil em vôo de Orlando para
São Paulo que pousou em Manaus com emergência declarada após sofrer um
encontro com CAT em pleno Mar do Caribe e perder aproximadamente 9.000 pés
do nível de vôo (leitura do Flight Recorder), resultando em ferimentos a um
Comissário (quebrou a clavícula), a um passageiro (ferimento na cabeça e
ombro esquerdo), em sustos e compreensível mal-estar de outros passageiros.
No começo de 2005, um passageiro foi seriamente ferido quando um Boeing 757
encontrou turbulência durante um vôo de Atlanta para Orlando transportando
190 passageiros e 7 tripulantes. Durante a turbulência, uma cafeteira caiu
sobre o colo de um passageiro resultando em queimaduras de 2º grau, e o
comandante precisou desviar o vôo para levá-lo ao hospital mais próximo,
atrasando a chegada em Orlando.
Embora seja bem improvável que os passageiros a bordo de um Cherokee ou
Cessna 172 sofram ferimentos por queda de cafeteira em seus colos ou serem
lançados ao teto enquanto voam, todos os Pilotos precisam entender os
vários tipos da natureza da turbulência CAT e os padrões meteorológicos
associados a esse fenômeno. Estes acidentes/incidentes deram ensejo às
autoridades aeronáuticas para lembrarem aos passageiros de manterem os
cintos de segurança afivelados, mesmo se o Cmte. desligar o aviso de
afivelar cintos.
ORIGEM DE UMA CAT (Clean air Turbulence)
Os estudos mais importantes da meteorologia internacional apontam que uma
das áreas principais que dão origem à turbulência de céu claro (CAT) é a
vizinhança de uma jet stream, conforme o padrão de onda atmosférica nas
grandes altitudes, com velocidades de 50 nós ou maior.
Ainda, os estudos da meteorologia brasileira consideram a existência de uma
jet stream subtropical brasileira, muito ativa durante os meses de inverno
e com sua área central geralmente ao redor de 30.000 pés sendo apresentada
melhor no mapa de 300 milibares de pressão constante.com o centro entre
35000 e 45000 pés.
FORMAÇÃO DE CAT NO BRASIL
A jet stream subtropical. no Brasil geralmente tem sua área de formação
estendendo-se nos níveis de vôo mais altos da Argentina, Uruguai, R.G. do
Sul, Santa Catarina, eventualmente o sul do Paraná, embora áreas de baixa
pressão em outros pontos do país também apresentem as condições para a
formação de CAT em áreas de forte transferência de calor horizontal de
temperatura (advecção).
Outra área notabilizada por formar CAT é a confluência de 2 correntes de
jet stream. Em algumas ocasiões, uma jet stream de frente polar proveniente
da Argentina descerá e passará por baixo da jet stream subtropical
brasileira continental e a confluência dessas duas jet streams
freqüentemente resulta em forte turbulência.
DIMENSÕES, PREVISIBILIDADE E VELOCIDADES
A área turbulenta associada com jet stream comumente tem cerca de 100 a 300
milhas prolongando-se na direção do vento com 50 a 100 milhas de largura e
5.000 pés de altura. Mas, a ocorrência de uma CAT é difícil de se prever
uma vez que a CAT é um fenômeno pontual em relação à sua dimensão e sua
duração, pois estes valores podem persistir de 30 minutos até um dia
inteiro, dificultando a previsão da CAT. Uma tesoura de vento (windshear)
ocorre em todas as direções, mas por convenção é medida nos eixos
horizontal e vertical, considerando-se a velocidade de uma CAT de
intensidade moderada quando o vento tem variação de velocidade de ± 40 kts
(nós) na direção horizontal e/ou ± 5 kts (nós) na direção vertical.
REGRAS GERAIS SOBRE CAT
Algumas regras gerais sobre CAT foram desenvolvidas pela ICAO desde 1969 e
tem sido expandidas e melhoradas por outros órgãos aeronáuticos mundiais
como o Depto de defesa americano, o NTSB, FAA, JAA, CENIPA, etc., que
ajudam a identificar áreas de formação de CAT como, por exemplo, estar
diretamente proporcional à velocidade do vento e a tesoura de vento
provocada pela velocidade desse vento. Entre outras, tem-se a indicação de
que não é a velocidade do vento que diretamente provoca a CAT, mas a
diferença da velocidade do vento entre um ponto ao outro provocando a
reviravolta da massa de ar incluindo-se, também, que as jet streams
curvilíneas são mais prováveis de terem bordas turbulentas do que jet
stream retilínea, especialmente jet stream com curva ao redor de uma
depressão estreita de baixa pressão..
Uma CAT pode ser encontrada na windshear vertical, tendo sua intensidade
definida em 01 nós/1000 pés. Se for maior do que 5 nós/1000 pés, é provável
que existam condições para formação de turbulência. As jet stream mais
fortes do que 110 kts na área central têm potencial para gerar
significância turbulência próxima da tropopausa acima do centro, na frente
da jet stream e no lado da baixa pressão do centro. Em áreas montanhosas,
uma windshear e a correspondente CAT são mais intensas acima e para
sotavento das montanhas. Portanto, quando a rota do vôo atravessar uma jet
stream de onda montanhosa, é desejável voar com velocidade de penetração em
turbulência e evitar o vôo em cima de áreas onde o relevo do terreno acaba
abruptamente, mesmo não havendo nenhuma nuvem lenticular para identificar a
condição.
BOLETINS METEOROLÓGICOS DA CAT
Os boletins meteorológicos primários para distribuição de informação de
turbulências atmosféricas, tanto convectiva como a CAT são, entre outros,
os SIGMETS convectivos e os AIRMETS. Os SIGMETS convectivos são emitidos em
tempos programados (H+55), para CAT, tempestades, formação de gelo, erupção
e cinzas vulcânicas e outros fenômenos correlatos, apresentando o código
NONE quando não houver a presença destas condições acima. O SIGMET é
irradiado nas freqüências do controle de tráfico aéreo e também nas
freqüências do HIWAS (Hazardous Inflight Weather Advisory Service),
contendo informações sobre a intensidade, extensão e localização de um
fenômeno meteorológico específico de grande interesse para Pilotos e
operadores em geral. Já os AIRMETS são emitidos para alerta de fenômenos
meteorológicos significantes, mas de menor intensidade do que aqueles que
geram um SIGMET, disponível para Pilotos através do serviço de meteorologia
em rota.
OS PERIGOS DE UM ENCONTRO COM CAT
Desde as primeiras aulas de vôo, os Pilotos recebem as instruções
referentes aos perigos advindos do encontro com diversos tipos de
turbulência, inclusive a turbulência em céu claro e todas as suas
conseqüências. Portanto, se o Piloto encontrar ou souber da existência de
uma CAT, deve emitir um PIREP (Pilot Report) que poderá salvar vidas em
algum outro vôo na região e/ou torná-los mais seguros para a comunidade da
aviação. Os Pilotos deveriam considerar cuidadosamente os perigos
associados com vôos em áreas nas quais os boletins meteorológicos indicam a
presença de uma CAT, inclusive turbulência montanhosa, devendo obter dados
meteorológicos confiáveis por satélite sempre que possível e monitorar as
comunicações via radio à escuta de reporte de outros Pilotos da existência
de CAT na região sobrevoada. Devem sempre lembrar que fotos meteorológicas
por satélite são úteis para identificar uma CAT normalmente na vizinhança
de jet stream.associada com nuvens cirrus. As fotos por satélites
apresentando padrão de nuvem tipo onda ou curvilínea são freqüentemente
ligadas com a turbulência de onda montanhosa.
Em busca de níveis de segurança de vôo sempre melhores, já existem diversos
aeródromos brasileiros que contam com o serviço de câmeras de vídeo em
tempo real, apresentando as condições meteorológicas na área de operações
de decolagens, pousos, aproximações e das formações do relevo na área
desses aeródromos. Se o Piloto sofrer um encontro com CAT, deverá avaliar
eventuais ferimentos nos passageiros, efetuar uma pesquisa de danos à
estrutura da aeronave, restaurar o quanto possível as condições de vôo
(nível planejado, direção, velocidade, etc.) ou declarar emergência
pousando num aeródromo mais próximo. Na ocorrência de um encontro com CAT,
os Pilotos também devem considerar um possível desacoplamento inadvertido
do piloto automático, ou mudança inesperada do Automatic Mode, conforme as
características técnicas do equipamento eletrônico instalado na aeronave.
E por último, o Piloto deve repassar os ensinamentos de segurança de vôo
referentes aos graves acidentes aéreos causados pelo deslocamento da carga
transportada advindos do encontro com uma CAT que, ao afetarem
perigosamente o equilíbrio longitudinal da aeronave, chegam a provocar a
perda de controle em vôo culminando com o choque da aeronave contra o solo.
Texto original: Marcos Liotta 03/07/2006
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