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Caracterização E Análise Da Cadeia Produtiva De Hortaliças In Natura Em Frederico...

O presente trabalho teve como foco de estudo a cadeia produtiva de hortaliças in natura no município de Frederico Westphalen-RS, buscando revelar as características e peculiaridades da produção, comercialização e consumo.

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Caracterização e análise da cadeia produtiva de hortaliças in natura em Frederico Westphalen-RS Grupo de Pesquisa: comercialização, mercados e preços Autores: Adriano Lago (Apresentador), Fernando Arnuti, Esmael Barro, Cleomar Marcos Fabrizio, Patricia Migliorini Resumo: O cultivo de hortaliças, em geral, é considerado uma alternativa produtiva aos agricultores familiares nas mais diversas regiões do Brasil. Ao mesmo tempo, consiste em um desafio logístico e comercial fornecer hortaliças de qualidade e em quantidade suficiente nos locais de comercialização e de acordo com as exigências dos consumidores, especialmente pela perecibilidade dos produtos. Assim, o presente trabalho teve como foco de estudo a cadeia produtiva de hortaliças in natura no município de Frederico WestphalenRS, buscando revelar as características e peculiaridades da produção, comercialização e consumo. Este estudo busca contribuir para o desenvolvimento desta cadeia no município e região. Os dados foram coletados por meio de questionários estruturados e aplicados a produtores, supermercados, restaurantes e consumidor final. Como resultado pode-se observar um reduzido número de produtores de hortaliças, os quais relatam como principais dificuldades a concorrência com atacadistas e o alto custo de produção. Os supermercados manifestaram interesse em sempre que possível adquirir hortaliças do município, fundamentalmente em função da rapidez na entrega e do preço. Como limitante foi considerado a sazonalidade da oferta, destacando que o consumidor valoriza o aspecto visual e o frescor dos produtos. Os restaurantes destacam como vantagem a aquisição de hortaliças de produtores locais especialmente em função do preço e da rapidez de entrega, como desvantagem aparece a falta de regularidade de oferta. Já os consumidores finais valorizam o aspecto visual, preço e higiene do local de aquisição das suas hortaliças. Portanto, pode-se considerar que a produção local de hortaliças possui certa valorização pelo mercado local tendo como limitante para o seu crescimento especialmente a sazonalidade de oferta. Palavras-chaves: hortaliças; cadeia produtiva; consumidores, mercado Characterization and analysis of in natura vegetable production chain in Frederico Westphalen-RS Abstract: The vegetables cultivation is often considered a productive alternative to the family farmers in several regions of Brazil. At the same time, it consists of a logistic and commercial challenge to supply good vegetables and enough quantity in the marketing places and in accordance with the consumer demands, especially because they are perishable products. So, this paper had its focus on the productive chain of vegetables in natura in Frederico Westphalen-RS to show the production, marketing and consumption characteristics and peculiarities. This study has the aim of contribute to the development of this chain in the local and region. The data were collected through structured questionnaires and applied to the producers, supermarkets, restaurants and final consumers. It was possible to notice reduced producers of vegetables, who report difficulties like the competition with wholesalers and the high production costs. The supermarkets showed interest in, whenever possible, acquire vegetables from the local producers, mainly because of the delivery speed and the price. As a limit, it was considered the season of the offer, pointing out that the consumer values the 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural visual aspect and the product freshness. The restaurants emphasize as advantages in vegetable acquisition from local producers the price and the delivery speed, as disadvantage appears the lack of offer regularity. The final consumers value the visual aspect, price and hygiene of the acquisition place. In this way, it is possible to consider that the local production of vegetables has increase in value for the local market, and it has the offer seasonality as a limit to its growth. Key-words: vegetables; productive chain; consumers, market 1. Introdução A atividade olerícola pode ser caracterizada pelo uso intensivo do solo, demanda elevada de mão-de-obra e, frequentemente exige produção próxima do local de consumo. Estas e outras particularidades da olericultura a torna uma atividade atrativa aos agricultores familiares, especialmente no entorno de centros urbanos. Porém, para ser um negócio lucrativo, há a necessidade de estruturação da cadeia produtiva. Neste tocante, o mercado é uma importante e complexa etapa entre a produção e o consumo das hortaliças, sendo definido pelos diversos canais de comercialização. A sazonalidade de preços das hortaliças ao longo do ano em virtude das oscilações de mercado (oferta/demanda) que quase sempre estão relacionadas com as variações climáticas e organização do sistema de comercialização é vista como desvantajosa para o olericultor e o consumidor final. Além disso, a comercialização das hortaliças é ainda mais complexa devido ao alto índice de perecibilidade destes produtos. O conhecimento dos canais de comercialização e a articulação cooperada entre os elos da cadeia, respeitando as características dos produtos e do mercado, servem de ferramenta para melhor organização e eficiência do sistema. Além disso, informações geradas por estudos mercadológicos servem como parâmetros para elaboração de estratégias, objetivando o fortalecimento do comércio, diminuição dos preços ao consumidor final, melhores preços pagos ao olericultor e melhor qualidade do produto. Para Camargo Filho; Mazzer e Alves, (2001), o conhecimento do contexto mercadológico das hortaliças é tão importante que deve ser considerado desde o momento do planejamento dos cultivos. É através de estudo que pode-se identificar tendências futuras com base nas intenções e atitudes dos consumidores, produtores e varejo. O Brasil é um grande produtor de hortaliças com um volume de produção de 16 milhões de toneladas em 2004 (Embrapa, 2009). Sobretudo, nem por isso o brasileiro é um grande consumidor destes vegetais, pois consumiu 43 kg per capita em 2004 (FAO, 2009), seja pela má educação alimentar, pelas dificuldades no sistema de comercialização dos produtos olerícolas (venda/compra) que influenciam na oscilação dos preços e/ou pelo baixo poder aquisitivo do consumidor. Enquanto que em países desenvolvidos como Alemanha e Estados Unidos o consumo em 2004 foi de 139 e 127 kg/habitante/ano, respectivamente (FAO, 2009). O município de Frederico Westphalen localizado na região noroeste do Rio Grande do Sul possui alguns nichos de olericultura, no entanto, não é tradicional na produção destes vegetais em virtude, possivelmente, da predominância de outras atividades agropecuárias como as culturas de soja, milho e a criação de gado de leite e suínos. Isso se reflete na dependência do fornecimento de hortaliças vindas de outras regiões. Frederico Westphalen está distante 450 km da capital (Porto Alegre) e de acordo com IBGE, no ano de 2007 a população total do município era de 27.308 habitantes, sendo que 2 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 21.544 destes se localizavam na área urbana. Assim o município alvo do estudo, possui uma taxa de urbanização de 78,53%, esta taxa de urbanização está em constante crescimento, como mostra dados do ano 2000, em que a população urbana perfazia um total de 20.336 habitantes, possuindo uma taxa de 76,34% na área urbana (IBGE, 2009) Quanto à estrutura fundiária, o município possui uma área rural de 23.742 hectares que estão divididos em 1.412 estabelecimentos agropecuários com média de 16,81 hectares. A grande maioria, 1326 estabelecimentos, disponibiliza área para culturas temporárias, perfazendo um total de 19.417 hectares, destinado principalmente para cultivo de soja, milho e fumo (IBGE, 2009). Assim, o objetivo do presente trabalho consiste na caracterização e análise da cadeia produtiva de hortaliças in natura em Frederico Westphalen – RS buscando fornecer suporte às ações estratégicas para futuras reestruturações do setor. 2. Procedimentos metodológicos Durante os meses de novembro e dezembro de 2009 foram aplicados questionários com perguntas abertas e de múltipla escolha, buscando levantar dados dos produtores de hortaliças, supermercados, restaurantes e consumidores finais no município de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul. O questionário aplicado aos produtores de hortaliças buscou identificar e caracterizar o número de famílias na atividade, tempo de atuação, perfil dos envolvidos na atividade (idade e escolaridade), distância dos locais de cultivo até a cidade, área usada na atividade e área total da propriedade, demais atividades desenvolvidas, pretensão em aumentar a área de produção, uso de assistência, canais de venda, principais dificuldades encontradas no setor e principais hortaliças e seus respectivos volumes de produção. Junto aos supermercados aplicou-se questionário aos responsáveis pela aquisição das hortaliças. O questionário visou identificar os dias de compra das hortaliças, motivo da freqüência de compra, principais fornecedores, vantagens e desvantagens dos produtores locais, principais exigências dos consumidores e as principais hortaliças comercializadas. Nos restaurantes, aplicou-se o questionário aos responsáveis pela aquisição de hortaliças, buscando responder a freqüência da compra de hortaliças, principais exigências dos seus clientes, relação dos principais fornecedores, vantagens e desvantagens dos produtores locais. O estudo dos consumidores finais foi aplicado no momento em que os mesmos estavam efetuando suas compras de hortaliças junto aos estabelecimentos varejistas. Buscouse verificar as principais características observadas na hora da compra e no momento de escolha do estabelecimento, freqüência de compra, valor gasto na compra, hortaliças adquiridas e se os mesmos produzem ou não hortaliças em suas casas. Após a coleta, os dados foram tabulados utilizando o software Microsoft Excel e analisados conforme segue: 3. Caracterização da cadeia produtiva de hortaliças: resultados da pesquisa No estudo da cadeia produtiva de hortaliças no município de Frederico Westphalen foram identificados e caracterizados os seguintes componentes: produtores, supermercados, restaurantes e consumidor final, conforme segue: 3 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 3.1 Caracterização dos produtores Foi identificado no município um total de dezessete propriedades que produzem e comercializam hortaliças, sendo que essa atividade está vinculada a pequenas áreas, utilizando basicamente mão-de-obra familiar. Quanto ao tempo de atuação na atividade foi observado que a maioria dos produtores está nela a mais de dez anos, conforme Tabela 1. A média de tempo de atuação dos produtores é de 17 anos, o que demonstra o baixo ingresso de novos produtores na atividade, evidenciado pelo fato de apenas 14,29% dos que estão hoje no ramo terem ingressado a menos de 10 anos. TABELA 1 - Tempo de atuação dos produtores de hortaliças em Frederico Westphalen-RS. Tempo (anos) Número de produtores Percentual (%) < 10 2 14,29 10 a 20 9 64,29 >20 3 21,43 não informaram 3 21,43 Total 14 100,00 A análise dos questionários demonstrou que o maior número de integrantes por família ficou na faixa de 3 a 5 pessoas (Tabela 2). As famílias desses produtores possuem em média 3,35 membros, assim a população rural envolvida na atividade em Frederico Westphalen atinge um total de 57 pessoas (Tabela 3). TABELA 2 - Distribuição numérica e percentual de famílias envolvidas na atividade olerícola em Frederico Westphalen-RS, em função do número de integrantes. Integrantes Número de Famílias Percentual (%) <3 5 29,41 3a5 10 58,82 >5 1 11,76 Total 17 100,00 Quando analisado a idade das pessoas que integram as famílias envolvidas na atividade, pode-se observar que a média de idade dessa população está em torno de 37 anos. A população se divide em 29 homens e 28 mulheres. Essa população se caracteriza pela presença de aproximadamente 30% de pessoas com idade superior a 50 anos. TABELA 3 - Distribuição numérica e percentual de pessoas envolvidas na atividade olerícola em Frederico Westphalen-RS em função de diferentes faixas etárias. Faixa (anos) Número de Pessoas Percentual (%) 0 a 10 3 5,26 11 a 20 10 17,54 21 a 30 7 12,28 31 a 40 12 21,05 41 a 50 8 14,04 4 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural >50 17 29,82 Total 57 100,00 Das dezessete propriedades que produzem hortaliças, dezesseis delas tem o casal como principal fonte de mão-de-obra. Quando se analisa a sucessão das propriedades na atividade, verifica-se que quatro casais não possuem filhos que trabalham na propriedade. Quanto a distância da propriedade à sede do município (Tabela 4), observa-se que a maioria das propriedades que produzem hortaliças (70,59%) se concentram em um raio menor que cinco quilômetros, o que indica a possibilidade de maior agilidade e menor custo de transporte. TABELA 4 – Distribuição numérica e percentual da distância das propriedades produtoras de hortaliças até a sede do município de Frederico Westphalen-RS. Distância (Km) Nº. de Propriedades Percentual (%) <5 12 70,59 6 a 10 2 11,76 >10 3 17,65 Total 17 100,00 Analisando-se o grau de escolaridade (Tabela 5), observa-se que 48,28% dos integrantes masculinos e 42,86% dos integrantes femininos não chegaram a concluir o Ensino Fundamental, mostrando assim um baixo nível de escolaridade entre essa população. TABELA 5 - Relação da escolaridade por sexo dos integrantes das famílias que produzem hortaliças no município de Frederico Westphalen-RS Escolaridade Masculino (%) Feminino (%) Abaixo da idade escolar 3,45 0,00 Ensino fundamental incompleto 48,28 42,86 Ensino fundamental completo 24,14 21,43 Ensino médio incompleto 6,90 14,29 Ensino médio completo 10,34 14,29 Superior incompleto 3,45 0,00 Superior completo 3,45 7,14 Total 100,00 100,00 A área total usada para a produção de hortaliças em Frederico Westphalen é de 26 hectares. Observa-se que a maioria das propriedades utiliza uma área entre 0,6 a 1 hectare (Tabela 6), sendo a média 1,53 hectares. TABELA 6 – Distribuição numérica e percentual da área utilizada na produção de hortaliças em Frederico Westphalen-RS. Área utilizada (ha) Nº. de Propriedades Percentual (%) <0,5 3 17,65 0,6 a 1 7 41,18 1,1 a 2 5 29,41 >2 2 11,76 Total 17 100,00 5 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Com relação à área total das propriedades que trabalham na atividade, observa-se que a média das mesmas fica em torno de 15,15 hectares, sendo que 41,18% delas utilizam menos de 10% para a produção de hortaliças (Tabela 7). TABELA 7 - Distribuição numérica e percentual da área utilizada em relação à área total. Nº. de Propriedades Área utilizada na atividade (%) 7 <10 5 10 a 20 2 20 a 30 2 30 a 40 1 >40 17 Total A Tabela 8 apresenta as demais atividades desenvolvidas juntamente com a olericultura nas propriedades avaliadas. A fruticultura se mostrou a atividade mais desenvolvida pelos produtores, estando presente em dez das dezessete propriedades estudadas, em segundo lugar a atividade leiteira, com sete propriedades e em terceiro a criação de suínos e aves, em cinco propriedades. Ainda foram identificadas outras atividades com menor expressão, como é o caso de cereais, gado de corte, piscicultura, fumo e agroindústria. Apenas três propriedades trabalham exclusivamente na atividade olerícola. TABELA 8 – Relação das demais atividades desenvolvidas pelos produtores de hortaliças de Frederico Westphalen-RS. Atividade Nº. de Propriedades Percentual (%) Fruticultura 10 58,82 Leite 7 41,18 Suíno e aves 5 29,41 Cereais 3 17,65 Gado de corte 2 11,76 Piscicultura 1 5,88 Fumo 1 5,88 Agroindústria 1 5,88 Nenhuma 3 17,65 Quando questionados sobre a possibilidade de ampliação da área utilizada para produção de hortaliças, 35,29% dos produtores responderam ter interesse em aumentar a área, e 64,71% responderam não ter interesse em aumentá-la. Os que pretendem aumentar a área de produção visualizam o surgimento de novos consumidores no município e quem não pretende ampliar a sua área de produção é devido a pouca disponibilidade de mão-de-obra e pela idade avançada. Aqui verifica-se congruência com média de idade dos casais, principais responsáveis pela mão-de-obra na atividade. Com referencia ao serviço de assistência técnica, seis produtores declararam receber este serviço e a grande maioria (onze produtores) declararam não receber qualquer tipo de assistência técnica. Dentre os que recebem, quatro produtores citaram que utilizam assistência técnica pública (Emater e Secretaria da agricultura) e dois produtores utilizam assistência técnica privada (agropecuárias do município e empresas de outras cidades). 6 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Com relação ao destino da produção, foram identificados nove tipos de clientes (Tabela 9), sendo eles: supermercados, feira de produtores rurais, restaurantes, venda direta ao consumidor final, hotéis, atacadistas, festas (casamentos e clubes sociais), hospitais e lancherias. Os supermercados são hoje os principais compradores desses produtos, uma vez que mais de 70% dos produtores declararam vender seus produtos para esses estabelecimentos. Outro canal importante de comercialização é a Feira de Produtores Rurais, realizada todos os sábados pela parte da manhã, onde 58,82% dos produtores têm a possibilidade de vender diretamente ao consumidor final. Com relação ao transporte da produção, há predomínio do transporte próprio, apenas um produtor necessita contratar transporte terceirizado em determinada época do ano, devido ao aumento do volume de produção. TABELA 9 – Distribuição numérica e percentual das propriedades em relação aos clientes. Clientes Número de propriedades Percentual (%) Supermercados 12 70,59 Feira 10 58,82 Restaurantes 8 47,06 Consumidor 6 35,29 Hotéis 3 17,65 Atacadistas 1 5,88 Festas 1 5,88 Hospital 1 5,88 Lancherias 1 5,88 Conforme a Tabela 10, a maioria dos produtores comercializa seus produtos no sábado, isso se explica pelo fato da existência da Feira de Produtores Rurais e também o fato de 83,33% (Tabela 13) dos supermercados realizarem compras de hortaliças neste dia, possivelmente pelo grande volume de vendas no final de semana. TABELA 10 - Relação dos dias da semana que são comercializadas as hortaliças pelos produtores. Dias da semana Nº. de Produtores Percentual (%) Domingo 8 47,06 Segunda-feira 10 58,82 Terça-feira 10 58,82 Quarta-feira 10 58,82 Quinta-feira 9 52,94 Sexta-feira 9 52,94 Sábado 15 88,24 Entre as principais dificuldades apontadas pelos produtores de hortaliças de Frederico Westphalen, pode-se destacar a concorrências com atacadistas, especialmente pela oferta constante dos produtos, enquanto os produtores locais estão sujeitos a sazonalidade da produção devido à baixa tecnologia empregada. Outra dificuldade declarada pelos produtores é o alto custo de produção (sementes, adubos químicos, irrigação, estufas, defensivos, etc.), que encarecem o produto final. Esses dois fatores unidos (alto custo de produção e sazonalidade) tornam os produtores locais vulneráveis à concorrência com atacadistas. 7 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 45,00 40,00 Percentual 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Concorrência Alto custo de Concorrência Não com enf rentam produção entre atacadistas produtores dif iculdades locais Dificuldade com transporte Problemas climáticos GRÁFICO 1 - Principais dificuldades encontradas no setor de produção de hortaliças em Frederico Westphalen-RS. Na Tabela 11 estão relacionadas 21 espécies de hortaliças produzidas e comercializadas pelos produtores de Frederico Westphalen, relacionadas com o número de produtores que as cultivam. Pode-se observar a existência de certa concentração de produtores de alface, beterraba, cenoura, repolho, couve-flor, brócolis e temperos. Merece atenção a existência de uma cultura exótica que é o broto de alfafa, cultivada por apenas um produtor, seu tempo de produção é de apenas seis dias e consegue preços em torno de R$ 20,00 por quilograma. TABELA 11 – Distribuição numérica e percentual das principais hortaliças produzidas e comercializadas pelos produtores no município de Frederico Westphalen-RS. Produto Nº. de produtores Percentual (%) Alface 15 88,24 Beterraba 14 82,35 Cenoura 14 82,35 Repolho 13 76,47 Couve-flor 10 58,82 Brócolis 9 52,94 Temperos 9 52,94 Pepino 8 47,06 Tomate 8 47,06 Almeirão 7 41,18 Rúcula 4 23,53 Batata doce 3 17,65 Moranga 3 17,65 Vagem 3 17,65 Chicória 2 11,76 Couve 2 11,76 8 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Pimentão Rabanete Abobrinha Agrião Broto de alfafa 2 2 1 1 1 11,76 11,76 5,88 5,88 5,88 A alface é produzida praticamente durante todo o ano, o período mais adequado para sua produção seria os meses de temperatura mais amena, porém não é esse o principal período de demanda dessa hortaliça, visto que nessa época muitos moradores da cidade a cultivam em seus quintais. Com isso, a entressafra, que são os meses de verão, período que há uma maior dificuldade dos moradores da cidade em produzir em seus quintais, há uma maior procura, consequentemente há um aumento no volume produzido pelos agricultores locais. A produção média da alface gira em torno de 59.708 pés por mês (Tabela 12), atendendo praticamente toda a demanda da cidade. Isso se dá pelo fato dessa hortaliça ter uma vida de prateleira muito curta, inviabilizando a vinda desse produto de regiões distantes, como ocorre com outras hortaliças. Uma peculiaridade observada foi que apenas um produtor de alface utiliza embalagem com sua marca, tornando o seu produto diferenciado no mercado. Com relação ao tomate, a produção identificada é de 15.200 quilogramas por ano, produção essa abaixo da demanda da cidade. Isso se deve a alta tecnologia necessária (estufas, defensivos, adubação, irrigação e conhecimento técnico) e grande necessidade de mão-de-obra. Por isso somente oito produtores cultivam essa hortaliça, concentrada em um período de quatro a cinco meses do ano, o que reduz seu poder competitivo, uma vez que os maiores preços se dão exatamente na entressafra. TABELA 12 – Volume médio das principais hortaliças produzida e comercializada pelos produtores no município de Frederico Westphalen-RS. Produto Quantidade Unidade Alface 59.708 Pés/mês Tomate 15.200 Kg/ano Repolho 4.735 Cabeças/mês Beterraba 4.680 Kg/mês Pepino 4.130 Kg/mês 3.2 Supermercados Nos supermercados o questionário foi aplicado aos responsáveis pela compra de hortaliças. Foram pesquisados doze estabelecimentos, sendo analisados os seguintes itens: freqüência que é realizada as compras, fornecedores, vantagens e desvantagens de fornecedores locais, principais hortaliças comercializadas e principais exigências do consumidor. Com relação ao dias em que são realizadas as compras, se percebe uma tendência de realização das compras nas terças-feiras, quintas-feiras e sábados (Tabela 13). 9 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural TABELA 13 – Distribuição percentual da aquisição de hortaliças em relação aos dias da semana pelos supermercados de Frederico Westphalen-RS. Dias da semana Percentual de estabelecimentos (%) Domingo 50,00 Segunda-feira 75,00 Terça-feira 83,33 Quarta-feira 75,00 Quinta-feira 91,67 Sexta-feira 66,67 Sábado 83,33 A maioria dos supermercados (91,67%) indicaram ter produtores locais como fornecedores (Tabela 14), enquanto atacadistas foram citados por 66,67% dos estabelecimentos entrevistados. Apenas 8,33% citaram ter como fornecedor exclusivamente uma Central de Abastecimento (Ceasa). TABELA 14 – Percentual de supermercados de Frederico Westphalen em relação aos diferentes fornecedores. Fornecedores Percentual de supermercados (%) Produtores locais 91,67 Atacado 66,67 Ceasa 8,33 Foi questionado aos supermercados, quais seriam as vantagens dos fornecedores locais em relação a outros fornecedores (Tabela 15), 58,33% dos estabelecimentos consideram a rapidez na entrega como principal vantagem. Outra vantagem citada por 33,33% dos supermercados é o preço, isso possivelmente se deve ao menor custo de transporte e a eliminação de intermediários. TABELA 15 – Percentual de supermercados de Frederico Westphalen em relação às vantagens dos fornecedores locais. Vantagens do produtor local Percentual de supermercados (%) Rapidez na entrega 58,33 Preço 33,33 Regularidade do fornecimento 25,00 Qualidade 8,33 Troca de mercadorias 8,33 Não possui 8,33 Outros produtos 8,33 Quando questionados sobre quais as desvantagens em adquirir hortaliças dos produtores locais (Tabela 16), 41,67% declararam não haver qualquer desvantagem em relação aos outros fornecedores, enquanto o mesmo número de estabelecimentos declararam ser o fornecimento irregular a principal desvantagem, isso deve-se a sazonalidade da produção, sujeita aos fatores climáticos e ao baixo nível tecnológico utilizado na produção. Foi citada também a qualidade inferior uma desvantagem dos produtores locais por 16,67%. 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural TABELA 16 – Percentual de supermercados de Frederico Westphalen em relação às desvantagens de fornecedores locais. Desvantagem dos produtores locais Percentual dos supermercados (%) Não possui 41,67 Fornecimento irregular 41,67 Qualidade inferior 16,67 Total 100,00% Com relação as principais exigências dos consumidores de hortaliças do ponto de vista dos supermercados (Tabela 17), pode-se constatar que 75% dos estabelecimentos indicaram o aspecto visual como o principal critério na hora da compra, seguido do frescor com 58,33% e o preço aparece como a terceira exigência. TABELA 17 – Relação das principais exigências dos consumidores de hortaliças na visão dos supermercados de Frederico Westphalen-RS. Exigências do consumidor Percentual dos supermercados (%) Aspecto visual 75,00 Frescor 58,33 Preço 50,00 Higiene 33,33 Durabilidade 25,00 Embalagem 16,67 Organização 8,33 Tamanho 8,33 3.3 Restaurantes Foram aplicados seis questionários em restaurantes da cidade abordando os seguintes pontos: principais hortaliças adquiridas, principais exigências dos clientes dos restaurantes, fornecedores, vantagens e desvantagens dos produtores locais. Com relação as principais hortaliças utilizadas no cardápio verificou-se ser o tomate, alface, batata inglesa, repolho, cenoura, beterraba, chuchu, entre outros. Declararam também ser o aspecto visual (Tabela 18) um dos principais pontos observados pelo cliente no momento do consumo de hortaliças. TABELA 18 - Principais exigências dos clientes na visão dos restaurantes de Frederico Westphalen-RS. Exigências dos clientes Número de restaurantes Percentual (%) Aspecto visual 6 35,29 Higiene 6 35,29 Organização 3 17,65 Preço 2 11,76 Percebe-se a preferência dos restaurantes em adquirir hortaliças de produtores locais, onde cinco dos seis estabelecimentos entrevistados (Tabela 19) citaram ter esses como seus fornecedores principais. Porém, quatro dos seis restaurantes também realizam compras de 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural atacadistas e supermercados, o que remete ao fato de os produtores locais não serem capazes de suprir a demanda e as exigências dos restaurantes locais. TABELA 19 – Relação dos principais fornecedores de hortaliças para os restaurantes em Frederico Westphalen-RS. Fornecedores Nº. de restaurantes Percentual (%) Produtor local 5 55,56 Atacadistas e supermercados 4 44,44 Observando-se as Tabelas 20 e 21, verifica-se certo contra-senso no momento em que o o preço e a qualidade são apontados ao mesmo tempo como vantagens e desvantagens em adquirir hortaliças dos produtores locais do ponto de vista dos restaurantes. Já a rapidez de entrega pode ser destacada como vantagem. Pode-se pressupor, com base nas observações realizadas durante a aplicação dos questionários que a qualidade sofre influencia direta das intempéries especialmente pela falta de tecnologias, como uso de estufas, deixando as hortaliças suscetíveis a danos pelo excesso de chuvas, por exemplo. O preço pode ser atrelado a relação oferta x demanda, bem como a sazonalidade de algumas hortaliças. TABELA 20 – Principais vantagens dos fornecedores locais de Frederico Westphalen em relação a outros fornecedores. Vantagens Nº. de restaurantes Percentual (%) Preço 3 30 Qualidade 3 30 Rapidez na entrega 3 30 Regularidade no fornecimento 1 10 TABELA 21 – Principais desvantagens dos fornecedores locais de Frederico Westphalen em relação a outros fornecedores. Desvantagens Nº. de restaurantes Percentual (%) Preço 3 42,86 Fornecimento irregular 2 28,57 Qualidade inferior 2 28,57 3.4 Consumidor final Foram aplicados 62 questionários com questões abertas e de múltipla escolha para os consumidores que estavam realizando a compra de hortaliças nos supermercados do município. Destes respondentes, 36 mulheres e 26 homens. Os questionamentos foram os seguintes: características observadas na hora da compra, fatores observados na escolha do estabelecimento, principais hortaliças compradas e se os mesmo cultivam hortaliças em suas residências. Dos entrevistados, 30% declararam que cultivam algum tipo de hortaliças em suas residências. Pode-se considerar um número expressivo para uma cidade que possui uma taxa de urbanização de 78,53%. Pois, considerando a população total do município teremos 6.778 habitantes da zona urbana que dispõe de algum tipo de horta em seus quintais. Quando questionados sobre as características observadas na hora da compra de hortaliças, os consumidores declararam ser o aspecto visual, indicado por 51,61% deles, 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural seguido pelo preço, relacionado por 37,1%. Destaca-se ainda a higiene, que foi relacionada por 24,19% dos consumidores entrevistados (Tabela 22). TABELA 22 – Distribuição percentual de consumidores reais em relação as principais características observadas na hora da compra. Características observadas Percentual de consumidores (%) Aspecto visual 51,61 Preço 37,10 Higiene 24,19 Frescor 17,74 Durabilidade 12,90 Organização 3,23 Embalagens 1,61 Sobre os fatores considerados na escolha do estabelecimento, os consumidores declararam ser a qualidade dos produtos o fator mais importante (Tabela 23). Porém 20,97% declararam não haver um fator em especial para escolha do supermercado. A proximidade do local de residência e o preço foram considerados fatores relevantes na escolha do local de compra dos produtos por 19,35% e 16,13% respectivamente. TABELA 23 – Distribuição percentual de consumidores reais de hortaliças de Frederico Westphalen em relação aos fatores considerados na escolha do supermercado. Considera na escolha do estabelecimento Percentual de consumidores (%) Qualidade dos produtos 24,19 Não tem um em especial 20,97 Próximo à residência 19,35 Preço 16,13 Próximo à rodoviária 12,90 Próximo ao trabalho 3,22 Hábito 3,22 Diversidade de produtos 1,61 Total 100,00 Como pode ser observado na Tabela 24, a batata inglesa, o tomate e a alface são as hortaliças mais procuradas pelos consumidores nos supermercados, tendo sido relacionadas por, respectivamente, 80,65%, 77,42% e 50,00% dos entrevistados. 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural TABELA 24 – Percentual de consumidores reais de hortaliças de Frederico Westphalen em relação à compra de cada hortaliça. Hortaliças Percentual de consumidores (%) Batata inglesa 80,65 Tomate 77,42 Alface 50,00 Cenoura 45,16 Repolho 37,10 Beterraba 25,81 Couve-flor 14,52 Brócolis 4,83 Vagem 3,22 Espinafre 1,61 Na Tabela 25, foi analisado os motivos quanto a escolha do supermercado levando em consideração o sexo dos entrevistados. Os homens responderam levar em consideração a proximidade ao local onde residem e a qualidade dos produtos, enquanto as mulheres buscam em primeiro lugar a qualidade dos produtos. O que chama atenção é o fato de 23,08% dos homens e 19,44% das mulheres responderem não terem nenhum motivo em especial para escolha do estabelecimento onde compram hortaliças. TABELA 25 – Distribuição percentual dos consumidores reais quanto ao gênero em relação aos motivos para escolha do estabelecimento em Frederico Westphalen. Motivos para escolha do Gênero (%) estabelecimento Masculino Feminino Não tem um em especial 23,08 19,44 Próximo à residência 26,92 13,89 Próximo ao trabalho 0,00 5,55 Qualidade dos produtos 23,08 25,00 Preço 11,54 16,67 Diversidade de produtos 3,84 0,00 Hábito 7,69 16,67 Próximo à rodoviária 3,84 2,77 Quando é relacionado o sexo com as características observadas no momento da compra de hortaliças, observa-se que o homem leva em consideração o aspecto visual e preço (Tabela 26) e a mulher o aspecto visual é o que mais foi mencionado. 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural TABELA 26 - Distribuição percentual dos consumidores reais quanto ao gênero em relação às características observadas na compra em Frederico Westphalen. Características observadas na compra Gênero (%) Masculino Feminino Aspecto visual 50,00 52,78 Preço 50,00 27,78 Higiene 23,08 25,00 Frescor 19,23 16,67 Durabilidade 3,84 19,44 Organização 3,84 2,77 Embalagens 0,00 2,77 4 Considerações Finais Merecem destaque como pontos críticos ao desenvolvimento da cadeia produtiva de hortaliças in natura em Frederico Westphalen a sazonalidade da produção local, baixo uso de tecnologias, falta de assistência técnica, concorrência com atacadistas, alto custo de produção e pouca disponibilidade de mão-de-obra (reduzido número de componentes das famílias e concorrência com outras atividades dentro da propriedade). Em relação aos mercados consumidores do município, observou-se uma boa aceitação das hortaliças locais, tanto por parte dos supermercados e restaurantes, quanto dos consumidores finais destacando a potencialidade para ampliação deste mercado, limitado especialmente pela sazonalidade na oferta e padronização da qualidade. Pode-se então sugerir, para a estruturação da cadeia produtiva de hortaliças em Frederico Westphalen, a utilização de tecnologias e técnicas que possibilitem a produção em todas as épocas do ano (como uso de estufas, correta utilização da irrigação e produção em sistema hidropônico), reduzindo assim o efeito da sazonalidade identificada no presente trabalho. Outro ponto que pode ser melhorado é a prestação do serviço de assistência técnica, com técnicos qualificados na área, que auxiliem os produtores a produzir hortaliças com melhor padrão de qualidade, buscando atender as exigências dos mercados consumidores. 5 REFERÊNCIAS CAMARGO FILHO, W. P.; MAZZER, A. R.; ALVES, H. S. 2001. Mercado de raízes e tubérculos: análise de preços. Informações Econômicas 31: 36-44. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Hortaliças em números: produção, 1980-2004. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/hortalicas_em_numeros/hortalicas_em_numeros.htm>. Acesso em: 23 de setembro de 2009. FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Faostat database: core consumption data. Disponível em http://faostat.fao.org/default.aspx>. Acesso em: 10 de setembro de 2009. 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sidra: Sistema IBGE de recuperação automática. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 13 de setembro de 2009. 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural