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Calagem

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4.3. Introdução A reação do solo permite distinguir, a grosso modo, três grupos principais de solos: ácidos, neutros e alcalinos. O presente texto se propõe a uma abordagem genérica e simplificada da acidez e da correção de seus efeitos, com ênfase em solos ácidos, caso mais comum em regiões tropicais. Para corrigir os efeitos negativos da acidez é necessária a calagem, prática que tem dois objetivos fundamentais: correção da acidez do solo para diminuir ou até anular os efeitos tóxicos das altas concentrações ou saturações de Al, Mn, Fe e, correção das deficiências de Ca e Mg. 4.4. Natureza Química da Reação do Solo 4.4.1. Conceito Ácido-Base A compreensão do fenômeno da reação do solo, ou seja, seu caráter ácido, básico ou neutro, requer, inicialmente, o conhecimento dos conceitos de "ácido" e de "base". Antigamente, considerava-se como ácido toda substância capaz de, ao dissociar-se, produzir íons H+, de acordo com a reação genérica: Segundo a teoria eletrônica de valência mais atual, o efeito ácido de uma substância deve-se à sua capacidade de doar prótons a moléculas de água para formar íons hidrônio; ou seja: 4.4.2. Fontes de Acidez no Solo A acidez do solo deve-se à presença de diferentes grupos ácidos capazes de ceder prótons. Por titulação, pode-se determinar a quantidade e intensidade da acidez proveniente das diferentes fontes. Quanto mais alto for o pH em que um ácido é neutralizado, tanto mais fraco é o grupo ácido e mais forte é a ligação entre o próton (H+) e o "trocador". As principais fontes de acidez nos solos são as seguintes: 4.4.2.1. Grupos Ácidos dos Minerais de Argila (a) íons H+ (H3O+) trocáveis que se dissociam da superfície do argilomineral e que são neutralizados a pH baixo (4,0). Esquematicamente a dissociação pode ser representada por: (b) íons Al3+ trocáveis que passam à solução do solo e são neutralizados a valores de pH entre 4,0 e 5,5. O caráter ácido deve-se às reações de hidrólise do Al3+ hidratado em solução, conforme mostram as reações: (c) a valores de pH maiores que 5,5 verifica-se, ainda, uma terceira região de tamponamento, a qual pode ser atribuida aos grupos Si-OH e Al-OH estruturais dos minerais de argila. Há, também, a possibilidade de polimerização das espécies de hidrólise de Al3+, formando complexos. Os polímeros são formados e neutralizados a valores de pH elevado, de acordo com as reações: Outros complexos de maior grau de polimerização também têm sido considerados. Entre pH 5,0 e 7,0 precipita Al(OH)3 que permanece estável até pH 9,0, quando então se produz a dissociação e formação do ânion aluminato - Al(OH)4- 4.4.2.2. Grupos Ácidos da Matéria Orgânica As moléculas orgânicas apresentam radicais ácidos de superfície como é o caso dos grupos carboxílicos e fenólicos. Tais grupos dissociam-se liberando prótons (H+) na solução do solo, de acordo com as reações: De modo geral, os grupos carboxílicos são ácidos mais fortes do que os fenólicos. 4.4.2.3. Ácidos Solúveis Em decorrência da atividade microbiológica vários ácidos solúveis podem ser produzidos no solo. A decomposição microbiológica da matéria orgânica, por exemplo, pode conduzir à formação de ácidos orgânicos solúveis que geralmente são ácidos fracos e contribuem para a acidificação do solo. Além disso, a mineralização de compostos orgânicos libera compostos de N e S reduzidos que, ao sofrerem oxidação, podem liberar prótons na solução do solo, de acordo com as reações: A oxidação de amônio a nitrato se dá em duas etapas: Vale salientar,ainda, que a oxidação biológica de compostos orgânicos produz CO2, o qual reage com água para formar ácido carbônico, que se dissocia rendendo prótons (H+), de acordo com as reações: 4.4.3. Fontes de Alcalinidade no Solo De acordo com o conceito de base, todas aquelas substâncias capazes de originar íons OH- por reação com a água constituem fontes de alcalinidade no solo. Este é o caso dos metais alcalinos e alcalino-terrosos (grupos I-A e II-A da tabela periódica). Quando cátions metálicos como K, Na, Ca e Mg predominam no complexo de troca, eles podem influenciar a concentração de íons H+ (ou OH-) na solução do solo, de acordo com o equilíbrio: Portanto, e de modo geral, quanto maior for a participação dos elementos alcalinos e alcalino-terrosos no complexo de troca, maior será o pH do solo. As condições que levam a um aumento da participação desses elementos (também denominados de "bases trocáveis") no complexo de troca também determinam, via de regra, um aumento no pH do solo. Isso, contudo, não significa que, a adição desses elementos ao solo deverá aumentar o pH. Nessa situação, a reação do solo dependerá do ânion acompanhante. No caso de carbonatos, o pH tende a aumentar; já ânions como sulfatos, cloretos e nitratos praticamente não alteram o pH do solo, podendo o sulfato, inclusive, levar a um abaixamento de pH se houver adsorção deste ânion e o deslocamento em quantidades apreciáveis de íons H+ da superficie das argilas pelo cátion adicionado. Deve-se ter em mente que os solos, geralmente, comportam-se como ácidos fracos e os metais alcalinos tendem a formar bases fortes. Portanto, em condições de pH neutro, sais formados por esses cátions com ânions provenientes de ácidos fracos tendem a se dissociar para recompor parcialmente o ácido, com o ânion capturando prótons do meio. Ex: Assim sendo, pode-se considerar que a fração coloidal do solo, negativamente carregada, comporta-se como o ânion de um ácido fraco. Vale salientar que no processo natural de evolução do solo, os metais alcalinos e alcalino-terrosos fazem parte dos minerais primários, cujo intemperismo consome prótons do meio liberando esses cátions (bases trocáveis) na solução, os quais podem, então, ser adsorvidos pela fase sólida. A soma das bases trocáveis (SB = Ca2+ + Mg2+ + Na+ + K+) expressa como percentagem da CTC pH 7 do solo define a percentagem de saturação em bases V SB x100 CTC pH7 . A percentagem de acidez potencial de troca complemento da CTC pH 7 para 100%. H Al x100 CTC pH7 seria o 4.4.4. Capacidade Tampão da Acidez do Solo A capacidade tampão da acidez dos solos (CTH) é determinada pelas características do complexo de troca catiônica, sendo definida como a "resistência que os solos apresentam a mudancas de pH". O poder tampão, também pode ser definido como sendo a quantidade de base necessária para elevar em uma unidade o pH do solo, por exemplo para elevar de 5 para 6 o pH do solo. Entretanto, se deve lembrar que as curvas que relacionam pH com calagem são curvilineares, portanto, a quantidade necessária para elevar em uma unidade o pH vá a depender do intervalo considerado (Figura 4.4). De modo geral, os solos se comportam como ácidos muito fracos, cujo potencial de reposição dos íons H+ na solução é muito superior à atividade desses íons em solução. Isso define os conceitos de acidez ativa, acidez trocável e acidez potencial dos solos. A acidez ativa refere-se à atividade dos íons H+ (H3O+) em solução, que é medida pelo pH; a acidez trocável mede a quantidade de H+ e Al3+ adsorvidos às micelas em forma eletrovalente, esta acidez se determina por extração com solução de sal neutro (KCl 1 mol/L); e a acidez potencial refere-se à capacidade de reposição de formas trocáveis e não trocáveis desses íons H+ na solução. Usualmente, a determinação da acidez extraida com um sal tamponado a pH 7,0 (por ex: acetato de Ca) dá uma boa idéia da acidez potencial do solo (H + Al). A acidez potencial, extraída com um sal tamponado a pH 7,0, inclui íons H+ e Al3+ adsorvidos em forma eletrovalente mais os íons H unidos covalentemente e que se dissociam a partir de compostos orgânicos (grupos carboxílicos, principalmente), de grupos OH na superficie das argilas e de alguns polimeros de Al. Também se pode determinar a acidez não trocável, pela diferença entre a acidez potencial e a acidez trocável. 4.4.5. Causas da Acidificação Progressiva dos Solos A acidificação dos solos ocorre, de modo especial, em regiões tropicais úmidas e deve-se à substituição das "bases trocáveis" por íons H+ e Al3+ no complexo de troca. Esta substituição resulta da percolação da água, absorção de cátions básicos pelas plantas e, também, pelo uso de fertilizantes de caráter ácido. Sob condições de alta precipitação plúvial, a percolação da água através do perfil possibilita a lixiviação de uma grande quantidade de cátions básicos que se encontram dissolvidos na solução do solo. Com aumento de pH, o alumínio e a sílica geralmente não permanecem em solução, mas precitam na forma de alumino-silicatos (ex. caulinita) ou de óxidos de Al (ex. gibbsita), restando apenas os cátions básicos na solução do solo (ou na forma trocável) em quantidades apreciáveis. Assim, esses cátions básicos (Na+, K+, Ca2+, Mg2+) vão sendo substituidos, em razão da lixiviação e absorção, por íons H+ e Al3+ no complexo de troca do solo. Deve-se salientar que os íons H+ estão sendo continuamente produzidos no solo, seja pela mineralização de compostos orgânicos e produção de CO2, seja pelo intemperismo dos silicatos de Al que libera Al3+ em solução o qual sofre hidrólise liberando prótons. As quantidades de bases trocáveis absorvidas pelas plantas são importantes, particularmente naqueles solos com utilização agrícola intensiva. Este, portanto, constitui o mais importante mecanismo de substituição das bases por ácidos no complexo de troca dos solos utilizados na agricultura. Nos solos também são produzidos ácidos como HNO3 e H2SO4 pelo uso de certos sais como fetilizantes. O conjunto desses fatores conduz, portanto, à acidificação progressiva dos solos, particularmente em regiões tropicais com precipitações que favoreçam a percolação e lixiviação. 4.5. Medição da Acidez do Solo A acidez do solo geralmente é avaliada por meio do pH: ou seja, determinandose a atividade dos íons H+ em uma suspensão de solo com água ou solo com soluções salinas. De acordo com os conceitos de eletroquímica, o pH é definido pela seguinte equação: pH = - log (H+) ou pH log 1 H (H+) = atividade do H+, em mol/L O produto de solubilidade da água é dado por: ou seja: (H+).(OH-) = 10-14 pH + pOH = 14. Em condições neutras, para água pura pH = pOH = 7,0; o aumento da atividade de H+ em solução determina valores de pH menores do que 7,0 e o aumento dos íons OH- eleva o pH a valores maiores do que 7,0. Portanto, o pH está relacionado à concentração dos íons H+ e OH- na solução do solo, que determina a acidez ativa do solo. Deve-se ter em mente que a acidez ativa é apenas uma parte muito pequena em relação à acidez trocável ou à acidez potencial do solo. 4.5.1. Acidez Ativa Existem métodos colorimétricos e potenciométricos para determinar a acidez ativa do solo. Os colorimétricos são úteis para determinações de campo e não são tão exatos quanto os potenciométricos. Em laboratórios utiliza-se a medição + potenciométrica da atividade dos íons H usando um eletrodo específico de hidrogênio. Os métodos potenciométricos mais comuns são: a) determinação do pH em suspensão do solo com água, sendo a relação solo: água de 1:1 ou 1:2,5; b) determinação do pH em suspensão do solo com KCl 1 mol/L, sendo a relação solo: solução de 1:1 ou 1:2,5; c) determinação do pH em suspensão do solo com CaCl2 10 mmol/L, sendo a proporção solo: solução de 1:1 ou 1:2,5. Os valores de pH em água geralmente apresentam maior variabilidade entre repetições. A adição de eletrólito (KCl ou CaCl2) diminui essa variabilidade. A presenca dos íons K+, Ca2+ e Cl- das soluções, assegura a presença de cátions e de ânions na solução do solo, o KCl em concentração muito alta e CaCl2 em concentração aproximada à de campo. A determinação do pH é influenciada por alguns fatores como: a) Efeito de diluição - com a diminuição da relação solo: água, verifica-se em solos ácidos um aumento no pH da suspensão. Isso tem sido atribuido ao menor contato entre o eletrodo sensível e as partículas do solo e à hidrólise crescente dos cátions trocáveis pela diluição. b) Efeito de suspensão - também em solos ácidos o pH de uma suspensão de solo com água, após um certo período de repouso, geralmente diminui com a profundidade em que é imerso o eletrodo. Isso deve-se a uma "diferenciação" das suspensões com a profundidade, que permite distinguir, a grosso modo, três porções: (1) líquido sobrenadante, (2) partículas finas em suspensão e (3) partículas de solo sedimentado no fundo do recipiente. A diminuição do pH, com a profundidade, decorre do maior contato entre o eletrodo sensível e as partículas do solo. Esse efeito é minimizado pela agitação das suspensões imediatamente antes da leitura de pH. c) Efeito de sais solúveis - de modo geral, em solos eletronegativos, o pH diminui com o aumento da concentração salina da solução, em razão da troca catiônica que se verifica entre o cátion do sal e os íons H+ e Al3+ do complexo de troca: Em solos eletropositivos, o efeito é contrário, em razão da troca entre o ânion do sal e oxídrilas da superficie das argilas. Para determinar se o solo é eletronegativo ou se é eletropositivo se estiva o valor pH: pH = pHKCl - pHH2O O valor pH é negativo em solos eletronegativos, e é positivo em solos eletropositivos. Em solos salinos, a presença de sais solúveis na determinação de pH, provavelmente diminui a hidrólise dos cátions básicos; ou seja, limita a reação: e, portanto, o pH diminui com o aumento da concentração salina da suspensão. Em solos neutros ou próximos à neutralidade, o pH é pouco afetado por soluções de sais neutros. d) Efeito do CO2 - com o aumento da pressão parcial de CO2, diminui o pH do solo, de acordo com o equilíbrio: As amostras de solo são secas antes da determinação do pH, assim, o valor obtido em laboratório poderá ser superior àquele que as plantas encontrariam no solo. Isso porque, a pressão de CO2 em condições naturais do solo é, geralmente, maior do que a pressão do CO2 no ar atmosférico. e) Efeito redox - a oxidação de certas substâncias, particularmente compostos de Fe e de Mn, pela secagem do solo pode diminuir o pH. Da mesma forma, o uso de amostras cada vez menores pode aumentar o pH medido. As determinações do pH em KCl e em CaCl2 apresentam algumas vantagens em relação ao pH em água, tais como: - apresentam menor suscetibilidade ao efeito de diluição; - o efeito de sais solúveis (que podem se formar pela oxidação da matéria orgânica, durante a secagem das amostras) é mascarado pelos eletrólitos da solução e tem pouca influência no resultado; - a quantidade de eletrólitos na solução de CaCl2 10 mmol/L é similar àquela da solução do solo, de solos de CTC elevada, mas é elevada para solos de cerrado. 4.5.2. Acidez Trocável Para determinar a acidez trocável se utiliza como extrator a solução de KCl 1 mol/L. Solução não tamponada, pois é formada de um sal neutro, que pelo excesso de K+ extrae, por troca, H+ e Al3+ retidos nas micelas por forças eletrovalentes. Como em muitos solos o teor de H+ trocável é muito pequeno se indica o resultado de acidez trocável como sendo o teor de Al3+ trocável. Entretanto, em solos muito ácidos ou com altos teores de matéria orgânica o teor de H+ pode ser importante, pode até ser maior que o teor de Al3+. 4.5.3. Acidez Potencial Na determinação da acidez potencial ou acidez extraida a pH 7 (H + Al), pelo uso da solução de Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7, se extraem a acidez ativa, a acidez trocável e a acidez não trocável ou acidez dependente do incremento do pH do solo até o pH da suspenção de análise de solo e Ca(OAc)2. Outra forma de realizar a determinação de H + Al é por meio da determinação potenciométrica usando a solução tampão SMP. A diferença entre a acidez potencial e a acidez trocável permite estimar a acidez não trocável a acidez dependente do incremento do pH. A acidez não trocável refere-se à acidez do solo que é neutralizada pela adição de materiais alcalínos, mas que não pode ser extraida por uma solução de sal neutro. 4.6. Problemas Causados pela Acidez do Solo Dos elementos componentes da acidez do solo, o H é essencial, ou seja, as plantas necessitam dele para seu crescimento, entratanto, o H é absorvido na forma de água da soluçào do solo, o outro, o Al, é um elemento que em excesso é tóxico. Assim, para o estudo dos prejuízos da acidez dos solos deve-se considerar os efeitos diretos e indiretos da acidez, principalmente devido a acidez ativa (pH) e o efeito do excesso de Al. 4.6.1. Efeitos Diretos e Indiretos do pH 1. Em valores extremos de pH as plantas morrem ou apresentam acentuada diminuição do crescimento. 2. A pH 3,0 a absorção de macronutrientes caiu drásticamente (competição com H+), tendo havido, em alguns casos, perda de P, K e Mg. No pH 9,0 houve acentuada queda na absorção de P (competição com OH-). 3. A pH 4,0 houve diminuição do prejuízo, devido ao Ca. O Ca estimula absorção de K e, aparentemente, diminui a competição do H+ com os demais cátions. 4. O crescimento máximo foi verificado entre pH 6 a 7. Como efeito indireto do pH está o relacionamento da quantidade de H+ alterando a solubilidade dos demais nutrientes no solo (Figura 4.3), principalmente a dos micronutrientes que em demasia tornam-se tóxicos às plantas. A) Nitrogênio A disponibilidade aumenta devido ao efeito favorável à mineralização da matéria orgânica. B) Fósforo C) Potássio, Cálcio, Magnésio e Cloro a) Nenhum efeito direto do pH. b) Efeito indireto, com a lixiviação ocorre diminuição das bases e o aumento da acidez. Pelo contrário, o aumento da CTC dependente do pH faz com que a lixiviação destes cátions diminua. D) Enxofre SO4 2 adsorvido pelos óxidos de Fe e de Al é liberado pela elevação do pH. A decomposição da matéria orgânica, liberando S, é favorecida pela elevação do pH E) Ferro, Manganês, Cobre e Zinco F) Boro a) Abaixo de pH 7,0 há pouco efeito sobre a disponibilidade do B, em condições do pH do solo o ácido bórico não se dissocia. b) Há decréscimo na solubilidade acima de pH 7,0 O B(OH)4- é adsorvido por troca de ligantes com OH-. G) Molibdênio O MoO4 2 é adsorvido pelos óxidos de Fe e de Al e é deslocado pelo OHelevando o pH. 4.6.2. Alumínio em Solos Ácidos O alumínio, conforme já discutido, constitui importante componente da acidez dos solos. A reação de hidrólise do Al3+ em solução contribui significativamente para a capacidade tampão do pH dos solos. Além disso, o Al quando presente em altas concentrações no solo pode ser tóxico às plantas, constituindo uma das principais limitações agrícolas em solos ácidos. Com relação à fertilidade dos solos, o Al em concentração elevada, além de poder ser tóxico às plantas, pode interferir na disponibilidade de outros nutrientes. O exemplo mais típico desse efeito refere-se à solubilidade do fosfato no solo. O fosfato tende a reagir com o Al solúvel, formando fosfatos de Al de baixa solubilidade em solos ácidos. 4.6.3. Saturação de Alumínio e Crescimento de Plantas A elevada acidez de grande parte dos solos tropicais condiciona uma alta atividade do Al na solução do solo, deficiência de Ca, Mg e P, além da toxidez por Mn. O Al tem sido tradicionalmente considerado um elemento problema para o crescimento de grande número de culturas, causando impedimento químico no subsolo para o crescimento de raízes. A elevada saturação de Al (m), neste caso, seria um problema para o crescimento normal do sistema radicular. Já foi dito que, em termos de acidez, a chamada acidez trocável se confunde com o Al trocável. A percentagem de saturação de Al, neste aspecto, é também uma boa maneira de se avaliar a acidez do solo. O trabalho de Gonzalez Erico (1976) demostra que acima de pH 5,4, os níveis de saturação de Al (m) foram inferiores a 10 % na camada de 0 - 15 cm. O nível de Al na solução do solo depende do pH do solo, da saturação do Al, teor de matéria orgânica e presença de outros íons na solução do solo. A forma de Al presente na solução do solo depende do pH, como se pode observar no esquema que se segue (e na Figura 4.1). Al3+ Al(OH)2+ Al(OH)+2 Al(OH)3 pH aumentando Em termos de efeitos negativos ao crescimento das plantas, o efeito primário da toxicidade de Al se faz sentir ao nível radicular. Os principais sintomas podem ser observados a nível de sistema radicular: - raízes caracteristicamente curtas ou grossas; - inibição do crescimento das raízes, que se tornam castanhas; - raízes laterais engrossadas e pequena formação de pêlos radiculares; - observa-se também, predisposição da planta injuriada a infecções por fungos, mas, também há casos em que o Al3+ controla certas doenças fungicas das raízes. Como efeitos citológicos, pode-se observar: - inibição da divisão celular, com a conseqüente inibição do alongamento celular; - ruptura das células do periciclo. Também, como efeitos fisiológicos e bioquímicos, têm-se: - aumento na viscosidade do protoplasma das células das raízes com conseqüente decréscimo da permeabilidade à água, sais e corantes; - redução na habilidade de uso de sacarose para a formação de polissacarídeos nas paredes celulares; - inibição de desidrogenase isocítrica, enzimas málicas, redução na fosforilase de açúcares, respiração e síntese de DNA; - efeito na absorção e utilização de nutrientes, principalmente Ca e P. O Al parece ter efeito negativo sobre a absorção e translocação de Ca (Johnson & Jackson, 1964). A aplicação de Ca foi mais favorável ao crescimento radicular, especialmente de raízes finas, que da parte aérea das plantas de milho (Silva et al., 1993). Com relação ao fósforo, o Al tem efeito no solo e na planta. Observa-se, freqüentemente, plantas deficientes em P vegetando em solos com altos teores de Al. Ao nível da planta, pode ocorrer precipitação do P nas superfícies celulares ou no espaço livre aparente. Convém ressaltar que existem diversas espécies de plantas com alta tolerância de Al, e para as quais sua correção no solo não se faz necessária. Como exemplo deste grupo de plantas, destacam-se diversas espécies do gênero Eucalyptus. 4.6.4. Alterações de pH na Região da Rizosfera Ao se avaliar o pH da rizosfera pode ser encontrado um valor diferente daquele obtido para o solo. A diferença, que pode vir a ser superior a duas unidades (Hedley et al., 1982), é determinada por fatores relativos à própria planta e,ou, ao solo. Dentre os fatores, relativos à planta, responsáveis pela mudança de pH da rizosfera, destacam-se a extrusão de H+ ou de HCO -, respiração radicular e liberação 3 de exsudatos radiculares, como ácidos orgânicos, aminoácidos, açúcares, fenóis, etc. Naturalmente, observa-se que as plantas raramente absorvem quantidades equivalentes de cátions e de ânions, o que condiciona a duas situações: ou as raízes absorvem, em dado tempo, um excesso de ânions em relação a cátions, ou vice-versa. A necessidade de manutenção de um equilíbrio eletroquímico entre as raízes e a rizosfera e uma constância de pH intracelular, conduz a mecanismos compensatórios. Assim, o balanço na absorção iônica deve ser compensado pela simultânea extrusão de H+, quando em situações de predomínio na absorção de cátions, ou de OH- ou HCO3- ou RCOO-, quando existe predomínio na absorção de ânions (Sonn & Miller, 1977). De maneira geral, para solos de boa porosidade, a liberação de CO2, via respiração radicular ou de microrganismos, não provoca significativas alterações no pH da rizosfera. A difusão de CO2 pelos poros do solo dá-se de maneira rápida (Nye, 1986). Da mesma forma, grandes mudanças de pH da rizosfera induzidas por exsudatos de baixo peso molecular podem ser considerados mais como exceção do que regra (Marschner, 1991). Independente das circunstâncias que podem condicionar aumento ou diminuição do valor de pH da rizosfera, não se pode deixar de lado que a magnitude desta variação certamente está, também, relacionada com a capacidade tampão de pH do solo. Em solos com altos teores de matéria orgânica e de argila, espera-se que estas alterações de pH sejam de menor magnitude. 4.7. Calagem Como efeito do uso de calcário tem-se, além da correção da acidez do solo, o estímulo à atividade microbiana, a melhoria da fixação simbiótica de N pelas leguminosas e, ainda, o aumento da disponibilidade da maioria de nutrientes para as plantas. A calagem é, então, prática fundamental para a melhoria de ambiente radicular das plantas e talvez a condição primária para ganhos de produtividade nos solos. Já se afirmou por diversas vezes que a subutilização da calagem é um dos principais fatores de "subprodutividade" de muitas culturas no Brasil. A necessidade de calagem não está somente relacionada ao pH do solo, mas também, à sua capacidade tampão (CTH) e à sua capacidade de troca de cátions (CTC). Solos com maior CTH (mais argilosos) necessitam de mais calcário para aumentar o pH que os de menor CTH (mais arenosos). A capacidade tampão relaciona-se diretamente com as quantidades totais de argila e de matéria orgânica no solo, assim como com o tipo de argila. Os critérios de recomendação de calagem são variáveis segundo os objetivos e princípios analíticos envolvidos, e o próprio conceito de necessidade de calagem (NC) irá depender do objetivo dela. Assim, Raij (1981) diz que a necessidade de calagem é a quantidade de corretivo de acidez necessária para neutralizar a acidez do solo, de uma condição inicial até um nível desejado. Outra definição, seria a quantidade de corretivo necessária para se obter a máxima eficiência econômica (MEE) de definida cultura, o que significaria ter definida quantidade de Ca e, ou, Mg disponíveis no solo e condições adequadas de pH para boa disponibilidade dos nutrientes em geral. O corretivo usado como padrão de referência é o Carbonato de Cálcio (CaCO3), com um valor atribuído de PN (poder de neutralização) igual a 100%, portanto de PRNT (poder relativo de neutralização total) igual a 100%. Assim, qualquer corretivo terá seu valor de PRNT estimado, em relação ao do CaCO3. A neutralização de um solo ácido com calcário (CaCO3) pode ser representada pela reação: Portanto, o calcário neutraliza, a cidez representada por H + Al, deixando o solo com cálcio no lugar dos cátions de caráter ácido. O alumínio é precipitado como hidróxido e o gás carbônico é desprendido (Raij, 1991). 4.7.1. Determinação da Necessidade de Calagem dos Solos Como já foi mencionado, a calagem é fundamental para a agricultura em solos ácidos. No entanto, não existe uma definição clara sobre o melhor critério para determinar a necessidade de calagem, ou seja, a quantidade de corretivo a ser aplicada ao solo. O cálculo da necessidade de calagem tem-se baseado, fundamentalmente, nos seguintes critérios (Chaves Solera, 1988): - método da incubação com CaCO3; - métodos baseados em curvas de titulação potenciométrica; - método baseado no teor de alumínio trocável; - métodos baseados no decréscimo de pH de soluções-tampão (SMP ou Woodruf); - métodos baseados na correlação existente entre pH, saturação de bases e, ou, matéria orgânica; - método para elevar os teores de Ca e de Mg trocáveis, e neutralizar o Al trocável. É importante, nos estudos de aplicação de calcário, que se separem os efeitos corretivos dos efeitos nutricionais. Porém, é difícil isolar e individualizar os efeitos detrimentais da toxidez de Al, de Mn, daqueles causados pelas deficiências de Ca e de Mg. Um ponto da maior importância para diversas culturas é a relação Ca:Mg do corretivo a ser empregado. Para uma mesma dose de calcário aplicado, diferentes relações entre estes nutrientes podem conduzir a resultados bastante diferentes. A seguir apresentam-se os principais métodos para determinação da necessidade de calagem utilizados no Brasil. 4.7.1.1. Método das Curvas de Incubação com CaCO3 Consiste na obtenção de curvas de neutralização do solo por meio da incubação com CaCO3. Este método não é prático para uso rotineiro, por ser demorado e trabalhoso, sendo empregado em trabalhos de pesquisa e para calibrar outros métodos. Por este método, amostras de solo são incubadas com doses crescentes de CaCO3, por vários dias, sendo a umidade mantida de forma a não exceder a capacidade de campo. Após o período de incubação procede-se a leitura do pH, obtendo-se curvas como as da Figura 4.4. Figura 4.4 - Curvas de neutralização de cinco amostras de solos com CaCO3. FONTE: Raij et al., (1979). 4.7.1.2. Método de Neutralização do Al Trocável Quando se deseja corrigir a acidez do solo, o critério de neutralização do Al trocável parece suficiente. Por este método, a necessidade de calagem foi definida, dentro do Programa Internacional de Análise de Solos (Cate, 1965), pela fórmula: NC 1, 5 x Al3 4.7.1.3. Método da Solução Tampão SMP (Schoemaker, McLean & Pratt) Este método tem como princípio o decréscimo do pH de uma solução tampão após o equilíbrio com o solo (Schoemaker, McLean & Pratt, 1961). Para seu uso, adicionam-se a uma quantidade de solo um volume de água e um volume de solução tampão SMP e agita-se. A solução SMP, constituída de p-nitrofenol, trietanolamina, cromato de potássio, acetato de cálcio e cloreto de cálcio, é ajustada a pH 7,5. Após estabelecido o equilíbrio, lê-se o pH da suspensão, representado por pHSMP. Quanto maior a acidez potencial do solo, maior será a depressão de pH da solução tampão em contato com o solo. Quadro 4.4 - Necessidade de calagem de solos com base no pHSMP 10:20:10 (solo:água:solução tampão) pHSMP 6,9 6,8 6,7 6,6 6,5 6,4 6,3 6,2 6,1 6,0 5,9 5,8 5,7 5,6 5,5 5,4 5,3 5,2 5,1 5,0 4,9 4,8 NC para pH 6,5 6,0 5,5 -------------------------------------- t/ha -------------------------------------0,4 --0,8 --1,2 0,3 -1,5 0,5 -2,0 0,7 0,1 2,3 0,9 0,2 2,8 1,1 0,3 3,3 1,4 0,5 3,8 1,8 0,7 4,5 2,2 0,9 5,2 2,7 1,1 6,1 3,2 1,4 6,9 3,8 1,7 7,9 4,4 2,0 8,9 5,1 2,4 10,1 5,8 2,8 11,2 6,7 3,2 12,5 7,6 3,7 13,8 8,5 4,4 15,3 9,5 5,0 16,7 10,5 5,5 18,3 11,6 6,1 4.7.1.5. Método da Saturação de Bases Este método se baseia na relação existente entre pH e saturação de bases (V) do solo (Figura 4.2). É o método mais utilizado no Estado de São Paulo. Para sua utilização, deve-se determinar os valores de Ca2+, Mg2+, K+ e, em alguns casos Na+, além de determinar (H+Al) extraíveis com acetato de cálcio 0,5 mol/L a pH 7,0, ou estimado indiretamente pela determinação do pHSMP. A fórmula da determinação da necessidade de calagem (NC), em t/ha é a seguinte: NC = T (V2 - V1)/100 onde: T = CTC a pH 7,0 = CTC pot. = SB + (H + Al) em cmolc/dm3 SB = soma de bases = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+; V1 = saturação de bases atual do solo = (SB/T) x 100; V2 = saturação de bases desejada para a cultura a ser implantada. A fórmula indicada, matematicamente significa que se quer elevar, com a adição de Ca e de Mg do calcário, a SB do solo para determinado valor considerado satisfatório para a cultura a ser implantada. Assim: NC = SBe - SBa onde: SBe = soma de base esperada SBa = soma de base atual do solo como: SB V. T 100 pois: V SB .100 T tem-se que: NC Ve .T 100 Va .T 100 T Ve Va 100 Forma mais simples de calcular NC por este critério é: NC Ve T 100 SB a formula apresentada por Sousa et al. (1989) e, que no caso de Ve ser igual a 50% fica: NC = 0,5 T - SBa Este método tem a importante característica de levar em consideração as exigências das culturas na definição da quantidade de corretivo a ser adicionado ao solo, além de ter a vantagem da facilidade dos cálculos e na flexibilidade de adaptação para diferentes culturas, de acordo com suas exigências (Raij, 1991). 4.7.1.6. Método do Al e do Ca e Mg Trocáveis Pelo fato do Al trocável ser o grande componente negativamente relacionado à acidez dos solos, desenvolveram-se métodos de recomendação de calagem baseados unicamente no teor de Al trocável. Assim Kamprath (1967) sugeriu a fórmula: NC = 2 x Al3+ onde Al3+ = Al trocável (em cmolc/dm3). Acontece, porém, que em solos altamente intemperizados, o que realmente limita a produtividade é a deficiência generalizada em nutrientes (Ca, Mg, P, por exemplo). Nesse aspecto, a deficiência de Ca é fator limitante para um bom crescimento radicular. Por isso, surgiram métodos que levam em consideração não somente a correção do Al trocável, mas, também, o fornecimento do Ca e de Mg. Principalmente nos estados de Minas Gerais e Goiás, tem sido recomendada a seguinte fórmula (CFSEMG, 1978): NC 2.Al3 2 Ca2 Mg2 No Departamento de Solos da UFV, o valor usado como multiplicador do Al3+ ou como "SBe" (soma de bases esperada) para os teores de Ca2+ e Mg2+ não foi considerado como constante igual a 2. Assim, Freire et al. (1984) recomendaram para a cultura do cafeeiro a fórmula: NC 2Al3 3 Ca2 Mg2 A incubação de 21 solos de Minas Gerais com doses estimadas com as duas fórmulas anteriores (doses médias de 3,41 e 4,2 t/ha) permitiram corrigir o pH até valores médios de 5,72 e 5,88, respectivamente (Alvarez V. et al., 1990a). Para melhorar a capacidade preditiva deste método, para aplicação generalizada, leva-se em consideração a capacidade tampão (CTH), estimada pela textura do solo e a necessidade de corrigir as deficiências de Ca e Mg de acordo com os requerimentos da cultura em questão. Desta forma, uma nova fórmula foi proposta (CFSEMG, 1989): NC Y.Al3 X Ca2 Mg2 onde o valor de Y é variável em função da textura do solo em estudo e o valor de X é variável de acordo com as exigências das culturas: Y=1 para solos arenosos ( < 15% de argila); Y=2 para solos de textura média ( 15 - 35% de argila); Y=3 para solos argilosos ( > 35% de argila); X=1 para eucalipto; X=2 para a maioria das culturas; X=3 para cafeeiro e outras culturas exigentes em Ca e Mg. e Uma interpretação mais adequada para os valores de Y, segundo PAULA et al., (1991), poderia ser o seguinte: Y=0a1 solos arenosos ( 0 a 15% de argila); Y=1a2 solos de textura média ( 15 a 35% de argila); Y=2a3 solos argilosos ( 35 a 60% de argila); Y=3a4 solos muito argilosos ( > 60% de argila). e os valores de X podem ser os apresentados no Quadro 4.5 para diversas culturas. Quadro 4.5 - Valores de saturação de bases Ve que devem ser obtidos pela calagem e valores de X do método de Al e Ca + Mg trocável, adequados para as diversas culturas Culturas Ve % X Observações (sempre que possível) Cereais Arroz sequeiro Arroz irrigado Milho e sorgo Trigo (sequeiro ou irrigado) 50 50 50 60 2,0 2,0 2,0 2,5 60 60 2,5 2,5 70 60 3,0 2,5 70 70 50 70 70 3,0 3,0 2,0 3,5 3,0 70 60 40 3,5 2,5 1,5 50 50 60 2,0 2,0 2,5 Cacau Seringueira 50 50 2,0 2,0 Pimenta-do-reino 70 3,0 Não aplicar mais de 3 t/ha de calcário/ vez Não aplicar mais de 4 t/ha de calcário/ vez Não aplicar mais de 6 t/ha de calcário/ vez Não aplicar mais de 4 t/ha de calcário/ vez Leguminosas Feijão, feijão de vagem, soja e adubos verdes Outras leguminosas Oleaginosas Amendoim e girassol Mamona Plantas Fibrosas Algodão Crotalárea-juncea Fórmio Rami Sisal Utilizar calcário contendo magnésio Exigente em magnésio Plantas Industriais Café Cana-de-açúcar Chá Não aplicar mais de 10 t/ha de calcário/ vez Raízes e tubérculos Batata e batata-doce Mandioca Cará Exigente em magnésio Não aplicar mais de 2 t/ha de calcário/ vez Plantas Tropicais Não aplicar mais de 2 t/ha de calcário/vez Utilizarsempre calcário dolomítico Hortaliças Abóbora, moranga, pepino, chuchu, melancia, alface, almeirão, acelga Chicórea e escarola Tomate, pimentão, pimenta, beringela, jiló Beterraba, cenoura, mandioquinha, rabanete Repolho, couve-flor, Brócolis e couve Alho e cebola Quiabo, ervilha e morango melão, nabo 70 70 70 e 70 3,0 3,0 3,0 Utilizar calcário com relação Ca/Mg = 1 para tomate 3,0 70 70 70 3,0 3,0 3,0 50 70 70 80 60 70 2,0 3,0 3,0 3,5 2,5 3,0 Fruteiras de Clima Tropical Abacaxi Banana Citros Mamão Abacate e manga Maracujá e goiaba Frutíferas de Clima Temperado Ameixa, néspera, pêssego, nectarina, figo, maçã, marmelo, pêra, caqui, macadâmia e pecã 70 3,0 Utilizar calcário dolomítico Uva 80 3,5 50 40 2,0 1,5 60 60 60 70 40 50 2,5 2,5 2,5 3,0 1,5 2,0 Herbáceas Arbustivas 60 60 2,5 2,5 Arbóreas e gladíolos Roseira Gramados 60 70 60 2,5 3,0 2,5 30 1,0 Plantas Aromáticas e Medicinais Fumo Gramíneas aromáticas (capim-limão, citronela e palmarosa) Menta Piretro Vetiver Camomila Eucalipto Funcho Plantas Ornamentais Plantios de Eucalipto Pastagens Leguminosas: alfafa, leucena e soja perene Capins: rodes, jaraguá, estrela, napier, (capineira), pangola, coast-cross e green-panic (quando usados para fenação) Leguminosas: centrosema, desmódio, galáxia, cudzu, calopogônio, siratro e estilosantes Capins: napier, pangola, estrela, coast-cross, green-panic (quando usado para pastejo), braquiárias, setárias e gordura Para azaléia Ve = 50 %, e X = 2, não ultrapassando 2 t/ha 60 2,5 Para pastagens já formadas, não aplicar mais de 3 t/ha de calcário/vez 40 1,5 Para pastagens já formadas, não aplicar mais de 3 t/ha de calcário/vez FONTE: Adaptado de Anda (1986) e CFSEMG (1989). No uso destas fórmulas, quando os teores de Ca2+ + Mg2+ ultrapassam o valor de X, não se leva em consideração a segunda parte da fórmula no cálculo da necessidade de calagem, ficando a fórmula da seguinte maneira: NC = Y x Al3+ Mais recentemente, Alvarez V. et al. (1993) propuseram a utilização de P remanescente como estimador do valor Y (Quadro 4.6) para determinar a necessidade de calagem pelo método de Minas Gerais: NC Y.Al3 X Ca2 Mg2 . Quadro 4.6 - Valores de Y em função dos volores de P-remanescente. P-remanescente 1/ mg/L 0 - 5 5 - 10 10 - 20 20 - 30 30 - 45 45 - 60 Y 4,5 3,5 2,5 1,7 1,0 0,6 - 3,5 2,5 1,7 1,0 0,6 0,0 1/ P-remanescente é a concentração de P da solução de equilíbrio, após agitar por 1 hora o solo com solução de CaCl2 10 mmol/L, contendo 60 mg/L de P, na relação 1:10. O uso da determinação do P-remanescente como estimador da CTH, em lugar do teor de argila, tem a vantagem de que tanto a CTH como o valor de P-remanescente dependem não somente da quantidade de argila, mas também da sua qualidade e do teor de matéria orgânica (Alvarez V.et al., 1993). 4.7.2. Escolha do Método para Estimar a Necessidade de Calagem Um aspecto fundamental a ser considerado na escolha do método para estimar a necessidade de calagem é a cultura (ou culturas) com as quais se está trabalhando. No caso de uma rotação, a escolha deverá dar maior atenção à cultura mais rentável, desde que não se inviabilize o cultivo das demais. A quantidade de corretivo pode variar bastante segundo o critério de recomendação. Neste aspecto, há que se considerar o nível de tecnologia empregado pelos agricultores e seus custos a curto e médio prazos. Doses mais elevadas tendem a representar maior investimento a curto prazo. Por outro lado, o efeito residual do corretivo será mais prolongado. Os efeitos a nível de solo devem ser considerados. Recomendações de doses mais baixas podem representar, por um lado, menor elevação do pH do solo, com menor efeito sobre possíveis efeitos de toxidez de Al, Mn e Fe na camada arável e no subsolo, além de menor eficiência global nas taxas de absorção de N, P, K, Ca, Mg e S (Lopes & Abreu, 1987). Por outro lado, os possíveis desbalanços de micronutrientes (principalmente Cu e Zn) serão menores. Deve-se portanto, para cada realidade e região, procurar o método que melhor defina a necessidade de calagem, devendo-se, para isto, consultar a literatura e as instituições de ensino e pesquisa regionais. O método de saturação de bases, como já dito, tem a grande vantagem de considerar a planta cultivada ao recomendar o corretivo. Os valores de Ve é que precisam ser mais bem definidos para as culturas e para cada região. O método SMP tem sido mais usado nos estados do sul, onde ocorrem solos com maior CTC e maiores teores de Al trocável. Porém, Alvarez V. et al. (1990a e 1990b), mostraram que há grande semelhança entre os resultados obtidos pelos métodos Al, Ca e Mg trocáveis (CFSEMG, 1989) e SMP (pH 6) para 21 solos de Minas Gerais, para correção do pH e para os teores de Ca trocável obtidos após calagem. Trabalhando com 21 solos do Estado de Minas Gerais, Alvarez V. et al. (1990a e 1990b) observaram que o método que estima a necessidade de calagem considerando o pH e o teor de matéria orgânica do solo superestimou a dose necessária de calcário em 20 dos 21 solos estudados. Recomendação média de 10,26 t/ha, valor superior ao de 5,12 t/ha que representou a recomendação média para se atingir pH 6,0 e, ainda, superior às médias dos outros métodos. O método tradicionalmente utilizado em Minas Gerais, recomendado pela CFSEMG (1978), normalmente levava ao uso de doses mais baixas que o método da saturação de bases. Esses métodos diferem quanto à dose de corretivo recomendada, principalmente em solos muito argilosos ou muito arenosos. Porém, com os ajustes propostos (CFSEMG, 1989) e considerando a correta interpretação dos valores de "Y", conforme destacam Paula et al. (1991),ou pelo uso do P-remanescente (Alvarez V. et al., 1993) as recomendações do método do Al, Ca e Mg e do método da saturação de bases tedem a se aproximar. Vale lembrar que a escolha do método de recomendação de calagem envolve aspectos técnicos e econômicos. Assim, os benefícios da calagem se farão sentir sobre a disponibilidade e eficiência de utilização de outros nutrientes e, a aplicação conjunta de outros nutrientes melhora os resultados da calagem. Isto por si só mostra o enlaçamento dos aspectos técnico e econômico. Do ponto de vista puramente econômico, a calagem conforme ressalta Raij (1981), produz curvas de resposta do tipo dos retornos decrescentes (Lei dos Incrementos Decrescentes). Isto, na prática, significa que acima de pH 5,5 os retornos devidos à calagem, mesmo para culturas exigentes quanto ao pH, não são tão grandes, mas válidos devido ao efeito residual. Dessa forma, a análise econômica deve envolver dados de 3 a 5 anos. A calagem, por seu efeito residual, produz retorno cumulativo ao longo do tempo. 4.7.3. Quantidade de Calcário a ser Usada A necessidade de calagem (NC) definida com os diferentes critérios ou métodos anteriormente apresentados indica a quantidade de CaCO3 ou calcário PRNT = 100 % a ser incorporado por hectare, na camada de 0 a 20 cm de profundidade. Esta seria a situação teórica do uso do calcário. Na realidade, a determinação da quantidade de calcário a ser usada por hectare deve levar em consideração: 1 - que percentagem da superfície será coberta pela calagem (sc); 2 - até que profundidade (cm) será incorporado o calcário (p) e, 3 - qual o poder relativo de neutralização total (PRNT) do calcário e ser utilizado. Portanto, a quantidade de calcário (QC) a ser usada, em t/ha, será: QC p NC x sc x x 100 100 20 PRNT Por exemplo, a quantidade de calcário (PRNT = 90%) a ser adicionado numa lavoura de café de 5 anos, se a necessidade de calagem é de 6 t/ha, a área a ser corrigida (faixas das plantas) é de 75% e a profundidade de incorporação (pela esparramação) é de 4 cm será: QC 6 x 75 x 4 x 100 100 20 90 1 t /ha 4.7.4. Escolha do Corretivo a Aplicar O calcário é comercializado com base no peso do material, portanto a escolha do corretivo a aplicar deve levar em consideração o uso de critérios técnicos (qualidade de calcário) e econômicos, procurando maximizar os benefícios e minimizando os custos. Na qualidade de calcário se deve considerar a capacidade de neutralizar a acidez do solo ( poder de neutralização - PN), a reatividade do material, que considera sua natureza geológica e sua granulometria, e o conteúdo de nutrientes, especialmente de Mg. O poder neutralizante avalia o teor de materiais neutralizantes do calcário, ou seja, a capacidade de reação dos ânions presentes, se expressa em %, considerando o CaCO3 como padrão igual a 100% e se determina por neutralização direta com ácido cloridrico (Duarte et al., 1993). A capacidade de neutralizar a acidez que apresenta um calcário também pode estimar-se determinando seus teores de Ca e Mg, teores que se expressam em dag/kg de CaO e de MgO (Valor neutralizante - VN). Como parte desses cátions podem estar combinados com ânions de reação neutra, o VN pode superestimar o PN do calcário. VN e PN são duas determinações diferentes. O VN de várias substâncias se indica no Quadro 4.7, este valor se expressa também em porcentagem, considerando como padrão o CaCO3 (VN = 100%). Como 100 g de CaCO3 equivalem a 2 molc (2 eq), se considera que toda substância que em 100 g de material apresenta 2 molc, tem VN = 100%. Quadro 4.7 - Número de molc em 100g de diferentes reagentes e seus correspondentes valores neutralizantes. 1/ Reagente Carbonato de cálcio Carbonato de magnésio Hidróxido de cálcio Hidróxido de magnésio Óxido de cálcio Óxido de magnésio Silicato de cálcio Silicato de Magnésio Fórmula CaCO3 MgCO3 Ca(OH)2 Mg(OH)2 CaO MgO CaSiO3 MgSiO3 Nº molc/100g 2,00 2,37 2,70 3,43 3,57 4,961/ 1,72 1,99 VN (%) 100 119 135 172 179 2482/ 86 100 100g de MgO são 100/20,15 = 4,96 molc/100g, pois 1 molc de MgO (6,022 x 1023 cargas positivas) existe em 20,15g de MgO. 2/ Como 2 molc/100g de CaCO3 = 100 %: 4,96 molc/100g de MgO = 248,14 %. O PN igual a 120 % de um calcário indica que 100 kg deste corretivo tem a mesma capacidade neutralizante do que 120 kg de CaCO3. A reatividade de um calcário depende em parte de sua natureza geológica. Os de natureza sedimentar são mais "moles" do que as metamórficas (Alcarde, 1985), e depende fundamentalmente da granulométrica do material, granulometria que permite estimar a eficiência relativa (ER). A reação de neutralização da acidez do solo pelos calcários se dá pelo contato entre a superfície das partículas do corretivo e a solução do solo. Como os calcários são de baixa solubilidade é necessário que suas partículas sejam de tamanho o menor possível, pois quanto menores suas partículas, maior a superfície específica e maior será a área de contato ou de reação. Em relação a granulometria, a legislação atual determina as seguintes características mínimas: passar 100% por peneira de 2 mm (ABNT Nº 10); 70% por peneira de 0,84 mm (ABNT Nº 20) e, 50% por peneira de 0,30 mm (ABNT Nº 50). É permitida uma tolerância de retenção de 5% na peneira de 2 mm. Considerando a granulometria se pode avaliar a eficiência relativa no período de aproximadamente três anos, de acordo com os seguintes valores. Quadro 4.8 - Reatividade de calcários de acordo com sua granulometria. Fração granulométrica mm Peneira ABNT > 2,00 retida Nº 10 0,84 - 2,00 passa Nº 10, retida Nº 20 0,30 - 0,84 passa Nº 20, retida Nº 50 passa Nº 50 0,30 Eficiência Relativa % 0 20 60 100 Combinando-se o poder de neutralização (PN) com a eficiência relativa (ER) de um calcário, tem-se seu poder relativo de neutralização total (PRNT), que estima quanto de calcário irá reagir em um período de aproximadamente três anos. PRNT PN x ER 100 Analizada uma amostra de calcário se tem os seguintes resultados. Quadro 4.9 - Análises químicas e granulometria de um calcário. Característica químicas % CaO 39 MgO 13 PN 96 O PN (96 %) é menor que o VN 39x Granulometria mm g > 2,00 5 0,84 - 2,00 25 0,30 - 0,84 50 120 0,30 179 248 x13 x 102% , talvez devido à presença 100 100 de Ca e Mg em compostos químicos que não neutralizam a acidez. A eficiência relativa (ER) é igual a média ponderada da eficiência relativa das classes de partículas (Quadro 4.8) com a granulometria da amostra analizada (Quadro 4.9). ER 0 x5 20 x25 60 x50 100 x120 5 25 50 100 86% Assim: PRNT 96x 86 100 82, 6% A legislação atual determina também, que os corretivos comercializados deverão possuir as seguintes características mínimas (Quadro 4.10). Quadro 4.10 - Valores mínimos de PN e da soma dos teores de CaO e MgO de corretivos da acidez do solo Material PN CaO + MgO % % Calcários 67 38 Cal virgem agrícola 125 68 Cal hidratada agrícola 94 50 Escórias 60 30 Calcário calcinado agrícola 80 43 Outros 67 38 Assim, pela legislação ficou estabelecido que um calcário deve apresentar para comercialização os valores mínimos de 67% para PN e de 45% para PRNT. Um dos fatores limitantes de um solo ácido é, geralmente, o seu baixo conteúdo de Ca e, ou, Mg disponíveis. Assim, a aplicação de um calcário que contenha Mg terá, aliada ao seu efeito neutralizante da acidez, a adição de Mg, o que evidentemente não acontece quando se utiliza calcário calcítico, pobre em Mg. A relação Ca:Mg do corretivo é muitas vezes mais importante do que a quantidade do corretivo. A relação ideal sofre alteração de acordo com o solo e segundo as culturas, sendo algumas espécies mais exigentes em relações estreitas e outras tolerando o corretivo com mais cálcio do que magnésio. Uma relação comumente recomendada é a de 3:1 ou 4:1 mols de Ca:Mg. Não se deve descartar o uso de calcários extremamente calcíticos, pois, pode-se fazer seu uso como corretivo e complementar a adubação com fertilizantes que contenha magnésio, como o sulfato de magnésio ou carbonato e mesmo o óxido de magnésio. Algumas vezes o calcário rico em magnésio chega ao agricultor duas ou mais vezes mais caro do que o calcário calcítico. Pelos teores de Mg os calcários podem ser classificados em: a) Calcíticos - menos de 5 % MgO b) Magnesianos - entre 5 e 12 % MgO c) Dolomíticos - maior de 12 % MgO Pelo PRNT os calcários pode ser classificados em grupos: a) Grupo A - PRNT entre 45 e 60 % b) Grupo B - PRNT entre 60,1 e 75 % c) Grupo C - PRNT entre 75,1 e 90 % d) Grupo D - PRNT superior a 90 % Cabe ao técnico avaliar as várias alternativas de qualidade e de preço oferecidas no mercado para decidir qual a solução mais adequada técnica e economicamente. A decisão final deverá considerar o preço por tonelada efetiva do corretivo. Pr eço por tonelada efetiva Pr eço por tonelada na propriedade x 100 PRNT 4.7.5. Época e Modo de Aplicação do Calcário Por ser material de baixa solubilidade, de reação lenta, o calcário deve ser aplicado dois a três meses antes do plantio para que as reações esperadas se processem. O calcário é uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, manualmente ou por meio de máquinas próprias e é, então, incorporado com arado e grade até a profundidade de 15 a 20 cm (camada arável), profundidade (p) considerada no cálculo da quantidade de calcário a ser usada (QC). Esse período, entre calagem e plantio, considera presença de umidade no solo, para que existam as reações do solo com o calcário, caso contrário é preferível realizar calagem e plantio numa sequência única de operações. A análise do solo alguns anos depois da calagem poderá indicar sobre a necessidade ou não de nova aplicação. Com intúito de diminuir o custo da calagem (pricipalmente quantidade e modo de aplicação) alguns agricultores têm usado no sulco de plantio, dosagens menores de um calcário de alto PRNT, prática denominada de "Filler". Para fornecer os nutrientes cálcio e magnésio em solos deficitários nestes nutrientes, ainda se poderia usar o "Filler"; entretanto, como corretivo de acidez a pesquisa tem demonstrado a ineficiência deste modo de aplicação, inclusive se corre o risco de a planta desenvolver seus sistema radicular naquele pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o tombamento e aumentando o prejuízo da seca devido ao pouco desenvolvimento radicular. 4.7.6. Supercalagem A quantidade de calcário a aplicar deve ser definida pela análise de solo para evitar uma aplicação de quantidade superior a necessária. A calagem em excesso é tão prejudicial quanto a acidez elevada, com o agravante que aquela é de muito mais difícil correção. Com a supercalagem há a precipitação de diversos nutrientes do solo, como o fósforo, zinco, ferro, cobre, manganês, além de maior prédisposição à danos físicos. 4.8. Uso de Gesso Agrícola O gesso agrícola deve ser encarado como importante insumo para a agricultura, mas devido a suas características, tem seu emprego limitado a situações particulares bem definidas, uma vez que o uso indiscriminado e sem critérios pode acarretar problemas em vez de benefícios para o agricultor. De uns anos para cá algumas indústrias de fertilizantes vem estimulando o uso de gesso agrícola. Apesar de vários estudos mostrarem o potencial da utilização do gesso na agricultura, existe junto a extencionistas e agricultores muitas dúvidas no que se refere a como, quando e quanto utilizar deste insumo. Inicialmente é importante distinguir o mineral gesso (CaSO4.2H2O) e suas formas menos hidratadas (CaSO4.1/2H2O e CaSO4) que podem ser encontrados em depósitos sedimentares em diferentes regiões do mundo como EUA, Canadá, França e Inglaterra, daquele oriundo de processos industriais, o qual tem recebido o nome de gesso agrícola. Gesso agrícola é basicamente o sulfato de cálcio dihidratado (CaSO4.2H2O), obtido como subproduto industrial. Para a produção de ácido fosfórico as indústrias de fertilizantes utilizam como matéria prima a rocha fosfática, (apatita, especialmente a fluorapatita) que ao ser atacada por ácido sulfúrico + água, produz, como sub-produto da reação o sulfato de cálcio e ácido fluorídrico, conforme a reação a baixo: Ca10(PO4)6F2(s) + 10H2SO4 + 20H2O 10CaSO4.2H2O(s) + 6H3PO4 + 2HF O gesso agrícola é um sal pouco solúvel em soluções aquosas (2,5 g/L), mas que pode atuar significativamente sobre a força iônica da solução do solo, de maneira que haja contínua liberação do sal para a solução por longos períodos de tempo. Essa característica, aliada aos teores de Ca (17 a 20 dag/kg), de S (14 a 17 dag/kg), de P2O5 (0,6 a 0,75 dag/kg), de F- (0,6 a 0,7 dag/kg), de Mg (0,12 dag/kg), à presença de micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn, Zn, Mo) e de outros elementos (Co, Ni, Na, Al, As, Ti, Sb, Cd), permite que o gesso agrícola seja utilizado para diferentes finalidades na agricultura, entre as quais destacam-se: a) Fonte de Ca e de S; b) Correção de camadas subsuperficiais contendo alto teor de Al3+ e, ou, baixo teor de Ca2+, ou seja, para melhorar o ambiente radicular de plantas; c) Evitar a formação de camadas adensadas em solos muito intemperizados; d) Correção de solos sódicos; 4.8.1. Gesso Agrícola como Fonte de Ca e de S para as Culturas Em termos de recomendação de gesso agrícola para fornecimento de S, doses de 100 a 250 kg/ha de gesso seriam suficientes para corrigir deficiências do elemento para grande parte das culturas. Deve-se levar em consideração o emprego de outros fertilizantes que possuem S em sua formulação, tais como superfosfato simples (12% de S), sulfato de amônio (24% de S) e "Fosmag" (11% de S). Outro aspecto que deve ser levado em consideração na recomendação de adubação com S é que da mesma forma como observado para a adubação fosfatada, a textura do solo deve ser considerada: solos argilosos tendem a apresentar maior capacidade de adsorção de sulfatos, portanto, maiores quantidades de S são exigidas para uma adequada disponibilidade do elemento para as plantas. Com relação ao uso de gesso como fonte de Ca para as culturas, deve-se levar em consideração alguns aspectos importantes: Existem diferenças entre as culturas quanto à demanda de Ca. Plantas como café e tomate são muito responsivas ao elemento, ao passo que espécies florestais como o eucalipto apresentam baixas exigências de Ca. As características do solo que podem permitir maior movimentação de Ca pelo perfil igualmente devem ser consideradas, uma vez que excesso de movimentação pode arrastar o elemento para camadas além daquelas onde se encontra o maior volume de raízes. A descida de Ca pelo perfil modifica o perfil de distribuição das raízes das plantas aumentando o volume de solo a ser explorado em nutrientes e especialmente em água. Informações complementares sobre o assunto serão apresentadas ao longo dos demais módulos desse curso. 4.8.2. Correção de Camadas Subsuperficiais Visando a Melhoria do Ambiente Radicular A prática da calagem visando a correção da acidez e neutralização do Al trocável do solo é realizada incorporando-se o material corretivo à camada arável do solo, por isso, seus efeitos normalmente restringem-se à profundidades em torno de 0 a 20 ou de 0 a 30 cm. Aspectos relacionados com a textura do solo, granulometria do corretivo e intensidade pluviométrica podem, ao longo do tempo, determinar que a calagem corrija camadas mais profundas com baixos teores de Ca e, ou, elevados teores de Al trocável. Trabalhos como o de Martins (1991), entre outros, subsidiam essa afirmação. A presença de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca2+ e, ou, elevados teores de Al3+ pode determinar a perda de safras, principalmente em regiões susceptíveis à ocorrência dos chamados "veranicos", uma vez que conduzem ao menor aprofundamento do sistema radicular, refletindo em menor volume de solo explorado, ou seja, menos nutrientes e água disponíveis para a planta. O gesso agícola tem despertado interesse por possibilitar o fornecimento de Ca e a redução da saturação de alumínio em camadas subsuperficiais do solo. Para melhor compreensão da ação do gesso no solo é importante verificar os processos a que o produto está sujeito após sua aplicação. Em havendo umidade suficiente o gesso agrícola sofre dissolução: 2CaSO .2H O + H 0 Ca2+ + SO 2- + CaSO 0 + 3H O 4 2 2 4 2+ Uma vez na solução do solo, o íon Ca 4 2 pode reagir no complexo de troca do solo, deslocando cátions como Al3+, K+, Mg2+, (H+) etc para a solução do solo, que podem, por sua vez, reagir com o SO42- formando AlSO4+ (que é menos tóxico as plantas) e os pares iônicos neutros: K2SO40 e MgSO40, além do CaSO40. Em função da sua neutralidade os pares iônicos apresentam grande mobilidade ao longo do perfil, ocasionando uma descida de cátions para as camadas mais profundas do solo. Dentre os cátions que mais se movimentam de forma associada ao sulfato destacam-se o K+ e o Mg2+. De maneira geral pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou menor movimentação dos cátions de caráter básico pelo perfil do solo. Entre eles destacam-se: 1) Quantidade de gesso aplicado ao solo; 2) Capacidade de troca catiônica do solo; 3) Condutividade elétrica da solução do solo; 3) Capacidade do solo em adsorver sulfato; 4) Textura do solo; e 5) Volume de água que se aporta ao solo. Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena capacidade de adsorver sulfato, a movimentação de base seria, potencialmente, maior que aquela para um solo de textura argilosa com alta capacidade de adsorção de sulfato e elevada CTC. Portanto, nestes solos onde o potencial de movimentação de bases é elevado, o cuidado com a quantidade de gesso aplicada ao solo deve ser maior, afim de se evitar o risco de uma movimentação além das camadas exploradas pelo sistema radicular da planta cultivada. Dentre os cátions de carater básico, ao K+ deve ser dada uma maior atenção pois entre os demais é aquele retido com menor força pelos coloides do solo. Ensaios de campo onde o gesso foi aplicado em grandes quantidades demonstram a possibilidade de retirada total de K+ das camadas superiores do solo (Ritchey et al. 1986). Normalmente a aplicação de gesso agrícola não provoca alterações significativas no pH do solo. Ensaios de campo e em laboratório tem demonstrado que em havendo aumento do pH do solo a magnitude desse aumento é da ordem de 0,2 a 0,3 unidades de pH. (Shaimberg et al., 1991). Numa visão talvez reducionista dos processos que ocorrem no solo, poder-se-ía dizer que existirá alteração de pH em função de duas reações básicas que ocorrem entre o gesso e a superfície dos coloides no solo. Na primeira o Ca2+ desloca H+ e Al3+ (cuja hidrólise produz H+) e na segunda (que não significa que ela seja subseqüente, mas sim, concomitante à primeira) o SO42- desloca OH- pela troca de ligantes. O pH resultante depende da extensão dessas duas reações em cada caso particular de solo. Pavan et al. (1984) mostraram em solos com alto teor de Al3+ que o H+ liberado pela hidrólise excede o OH- liberado, causando decréscimo no pH. Para solos muito intemperizados, mas com baixos teores de Al, o inverso pode ocorrer (Ritchey et al. 1980). Para horizontes ricos em óxidos e hidróxidos de Fe e Al, que condicionam alta capacidade de adsorção de sulfato, possivelmente ocorram pequenas elevações de pH pela maior liberação de hidroxilas à solução. Outro aspecto que colabora para que as alterações de pH sejam mínimas baseia-se no fato de que na faixa de pH dos solos agrícolas o íon sulfato não é um forte receptor de prótons, como os íons bicarbonatos e hidroxila, produtos da dissociação do carbonato de cálcio presente nos calcários. Contrariamente à sua reduzida capacidade de alteração do pH do solo, a aplicação de gesso pode proporcionar significativa redução no teor de Al3+ e em sua saturação (m). Estudos de lixiviação tem demonstrado que o Al pode ser encontrado nos lixiviados de perfis reconstituídos de latossolos brasileiros (Soprano & Alvarez V., 1989 e Dias, 1992). A neutralização do alumínio trocável pela adição de gesso, pode ocorrer, basicamente, a partir das seguintes reações: 1) Precipitação na forma de Al(OH)3 decorrente da liberação de OH- para a solução em decorrência da adsorção de sulfato; 2) Formação do complexo AlSO4+ que é menos tóxico às plantas; 3) Formação do par iônico AlF2+ decorrente da presença de F- no gesso agrícola; 4) Precipitação de minerais de sulfato de Al, como alunita e basaluminita, por exemplo, decorrente do aumento da concentração de sulfato na solução. No entanto, um aspecto importante que não se pode refutar refere-se ao aumento de Ca2+ no complexo de troca, promovendo a redução da saturação de Al (m), que, para vários autores tem papel mais importante na toxidez de plantas que a concentração de Al3+ ou sua atividade. Apesar de boa parte dos mecanismos que envolvem a dinâmica do gesso no solo ser conhecida, existem, ainda, dúvidas quanto aos critérios a serem utilizados para sua recomendação e para se chegar à quantidade do produto a ser recomendada. Na literatura podem ser encontrados diferentes critérios, alguns mais empíricos que outros, mas, que de certa forma, podem nortear o leitor na resolução do problema. Com relação aos critérios de quando recomendar sua aplicação visando a correção de camadas subsuperficiais ou melhoria do ambiente radicular das plantas, a Comissão de Fertilidade do Estado de Minas Gerais (1989) sugere que o gesso deve ser utilizado quando a camada subsuperficial (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentar menos que 0,3 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou, mais que 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, mais que 30% de saturação de Al (m). Malavolta (1991) cita que a acidez subsuperficial é prejudicial sempre que houver menos de 40% de Ca2+ na CTC efetiva e ou a saturação de Al for maior que 20%. Para se calcular a quantidade a ser aplicada do produto, atualmente existem algumas fórmulas baseadas nas características químicas e físicas do solo. No entanto, estas formulas ainda necessitam ser amplamente avaliadas em ensaios de campo nas mais diversas condições de solo e culturas. Portanto, existe, apesar de algum fundamento teórico, certo grau de incerteza na utiliazação das fórmulas. As principais fórmulas atualmente utilizadas são: 1) Petrofértil - Para a correção da camada de 20 a 40 cm usar uma das seguintes fórmulas: (2 - Ca2+) x 2,5 = t/ha de gesso, ou (Al3+ - 0,5) x 2,5 = t/ha de gesso. 2) Malavolta (1991) - A necessidade de gesso é dada pelas seguintes expressões: NG = (0,4 x CTC efetiva - cmolc/dm3 de Ca2+) x 2,5 , ou NG = (cmolc/dm3 de Al3+ - 0,2 x CTC efetiva) x 2,5. Este critério basea-se na premissa de que para se elevar o teor de Ca ou diminuir o teor de Al em 1 cmolc/dm3 são necessárias cerca de 2,5 t de gesso/ha e que o solo deve apresentar, na camada de 20 a 40 cm, um teor de Ca2+ superior a 40 % de sua CTC efetiva ou um teor de Al3+ inferior a 20 % da CTC efetiva. Mais recentemente (Malavolta et al. 1993) propos, para a cultura de café, que a participação mínima do Ca2+ na CTC efetiva da camada de 20 a 40 cm deva ser de 60 %, ou seja: NG = (0,6 x CTC efetiva - cmolc/dm3 de Ca2+) x 2,5 3) Comissão de Fertilizante do Estado de Minas Gerais (1989) - Após serem satisfeitas as condições que justifiquem a necessidade de utilização de gesso, a quantidade a ser aplicada baseia-se no teor de argila do solo, ou seja: Teor de argila < 15 % de 15 a 35 % de 36 a 60 % > 61 % Gesso 0,5 t/ha 1,0 t/ha 1,5 t/ha 2,0 t/ha 4) Sousa et al. (1992) após desenvolverem amplo estudo com amostras de 13 solos de cerrado, propõem o uso de fórmulas que baseiam-se em algumas das características anteriormente citadas como determinantes de maior ou menor movimentação de bases pelo perfil. Essas equações foram geradas a partir das premissas de que deva existir em solução, na camada de 20 a 60 cm, uma concentração de S da ordem de 10 mg/dm3 ou de 0,0788 cmolc/dm3 de Ca2+. A primeira premissa fundamenta-se na experiência dos autores que afirmam que essa quantidade de S em solução seria suficiente para que, já no primeiro ano agrícola, ocorra lixiviação de sulfato e de cátions para a camada de 20 a 60 cm. A segunda, parte do pressuposto de que existe uma relação entre o S-SO 2- retido e o Ca2+ retido (retenção 4 2+ simultânea) e que a quantidade de Ca retida que se equivale a 10 mg/dm3 de S em solução após a adsorção do S-SO 2- é da ordem de 0,0788 cmol /dm3. 4 c 5) Dias (1992) utilizando-se de estudo de lixiviação em colunas de solo constatou correlações estreitas entre as quantidades de Ca e de Mg lixiviadas com diferentes formas de S no solo. Dentre as formas analisadas o S disponível em NH4OAc 0,5 mol/L e HOAc 0,25 mol/L apresentou os valores mais altos de coeficiente de correlação. Assim, sua determinação no solo pode predizer maior ou menor potencial de movimentação de bases, resta, para a pesquisa atual, a busca de valores ou concentrações mínimos para que a movimentação exista. Para a escolha do método a ser utilizado algumas considerações devem ser ponderas. De maneira geral, dependendo das características do solo, as duas primeiras fórmulas tendem a recomendar quantidades de gesso superiores a 2,0 t/ha, o que, dada as características do produto e as considerações já aqui discutidas, pode acarretar problemas de perdas excessivas de cátions do solo. Neste sentido o critério da Comissão de Fertilizante do Estado de Minas Gerais ou o de Souza et al., 1992, seriam mais indicados ao uso, pois levam em consideração as características físicoquímicas que normalmente encontram-se associadas à textura do solo e que podem condicionar a movimentação de bases, tais como CTC e capacidade máxima de adsorção de sulfato. Por outro lado, como as quantidades a serem aplicadas não são muito grandes, para que ocorra uma completa correção de camada, possivelmente deve ser levado em consideração um programa de correção com aplicações anuais. Aproveitando a informação existente para recomendação de calagem (NC) e de gesso (NG), e considerando a infraestrutura do PROFERT-MG que na rede de laboratórios de análise de solos do Estado de Minas Gerais se analisa o Premanescente. Determinação, que por sua estreita correlação com a capacidade tampão de fosfatos (CTP) e de sulfatos (CTS) se presta muito bem como medida para estimar os níveis críticos de P e S e as recomendações destes nutrientes e também da NC como indicado em 4.1.7.6. O uso de gesso pode ser recomendado para enriquecer de Ca as camadas subsuperficiais procurando manter na solução do solo 0,0788 cmolc/L de Ca2+, para isto, no Quadro 4.11 se adaptaram e aproximaram as recomendações de Souza et al., 1992, utilizando o P-remanescente da camada subsuperficial em lugar do seu teor de argila. Sempre que possível o gesso deve ser aplicado juntamente com calcário magnesiano ou dolomítico. Amostragens periódicas das camadas subsuperficiais devem ser realizadas com a finalidade de acompanhar a movimentação de bases pelo perfil, procurando evitar que ocorra uma drástica remoção destas do volume de solo explorado pelo sistema radicular das plantas. Quadro 4.11 - Necessidade de gessagem (NG) para camadas subsuperficiais de 20 cm de espessura de acordo com o valor de P-remanescente da amostra dessa camada P-remanescente 60 NG Ca 1/ mg/L 0 - 5 5 - 10 10 - 20 20 - 30 30 - 45 45 - 60 kg/ha 310 - 270 270 - 210 210 - 130 130 - 70 70 - 30 30 0 Gesso 2/ t/ha 1,65 - 1,44 1,44 - 1,12 1,12 - 0,69 0,69 - 0,37 0,37 - 0,16 0,16 - 0,00 1/ Valores de NG adaptados e aproximados dos de Souza et al., dados não publicados, citados por Souza et al. (1992), para que o Ca retido em camada de 20 cm de espessura este em equilíbrio com a concentração de 0,0788 cmolc/L de Ca2+ na solução do solo. 2/ Gesso agrícola (15 % S e 18,75 % Ca). Para solos onde existe um bom manejo de resíduos orgânicos e sem a presença de camadas subsuperficiais com elevado teor de Al3+ e, ou, baixo teor de Ca2+ o potencial de utilização de gesso seria muito pequeno. Situação semelhante poderia ser considerada para plantas de ciclo curto com sistema radicular pouco profundo, como muitas hortaliças. Por outro lado, para culturas perenes já implantadas como por exemplo, café e citrus, ou para pastagens, quando cultivadas em solos declivosos e ácidos, a mistura gesso+calcário deve ser encarada como uma possibilidade de carrear cátions para camadas mais profundas, uma vez que a incorporação de calcário nestes sistemas é problemática. Outro aspecto que deve ser considerado é o custo do produto. Apesar da atual campanha do Governo Federal e de algumas indústrias de fertilizantes, na qual o gesso é distribuído gratuitamente, seu frete até a propriedade agrícola pode ser muito caro. Como o gesso tem a propriedade de absorver umidade, quando transportado a granel e sem proteção, o agricultor poderá estar transportando uma significativa quantidade de água, fato que eleva o custo do produto. 4.8.3. Evitar a Formação de Camadas Adensadas em Solos Muito Intemperizados Muitos solos podem apresentar uma estrutura com baixa estabilidade, o que dificulta seu manejo pois apresentam tendência a se dispersarem formando camadas adensadas. Essa quebra de agregados na superfície do solo conduz a menor infiltração de água no solo e maior susceptibilidade à erosão. Uma vez úmidos os agregados apresentam menor resistência a quebra, fato que é agravado pelo impacto das gotas de chuva ou mesmo pela ação mecânica do cultivo, e formam camadas adensadas decorrente da dispersão de argila. A dispersão de argila é definida como a formação de uma suspensão estável de partículas de solo, causada pela repulsão mútua entre partículas, a qual resulta da presença de um campo elétrico negativo em torno delas. A dispersão é aumentada pela presença de um cátion monovalente de raio hidratado grande como o Na+, aumento de pH e conseqüentemente aumento de cargas pH-dependentes, e baixa concentração de eletrólitos em solução. A floculação é o processo inverso, onde a dupla camada é suficientemente comprimida em função das forças de atração que permitem a coagulação entre os agregados de argila. No campo, a floculação é uma das condições necessárias para a formação e estabilização da estrutura do solo. Grande parte dos solos muitos intemperizados apresentam sua camada superficial condições de baixa concentração de eletrólitos na solução, predispondo-os à dispersão de argila. Sob o impacto de gotas de chuva os agregados na superfície se quebram e, dada a condição favorável à dispersão de argila, existe um movimento descendente das partículas desta fração bloqueando os poros, reduzindo a infiltração e aumentando o escorrimento superficial e a erosão (ver Shambers et al., 1989). Diferentes pesquisas realizadas com solos muito intemperizados tem mostrado que a aplicação de gesso agrícola após o preparo do solo e antes da próxima chuva, para fornecer eletrólitos à solução do solo, propiciam condições necessárias à floculação de argila. Logicamente a magnitude deste efeito dependerá das características físico-químicas do solo e da quantidade de gesso aplicada. O uso de calcários em quantidades necessárias para elevar o pH do solo a valores que corrijam sua acidez, pode provocar condições favoráveis à dispersão de argila. Talvez seja esse um fator provocador de camadas adensadas mais importante para os solos brasileiros que a baixa concentração de eletrólitos em solução. Informações adicionais sobre o tema serão apresentadas nos módulos referente a manejo de solos na segunda etapa desse curso. 4.8.4. Correção de Solos Sódicos Os solos sódicos, caracterizados pelas elevadas concentrações de Na+ em seu perfil, ocorrem com mais frequência em regiões áridas ou semi-áridas, destacando-se o nordeste brasileiro. Elevadas concentrações de Na+ em relação aos demais cátions que preenchem a CTC (elevada saturação de sódio) podem afetar o desenvolvimento de plantas e a permeabilidade do solo. Como citado anteriormente, a presença de um cátion de grande raio hidratado como o Na+ pode proporcionar a dispersão de argila e conseqüentemente reduzir a capacidade da água percolar pelo perfil do solo. O gesso agrícola tem sido muito utilizado para correção de solos sódicos uma vez que apresenta baixo custo e boas propriedades para esse fim. Ao ser aplicado ao solo, sua dissolução fornecerá Ca2+ que trocará com o Na+ retido na superfície dos colóides e, ao mesmo tempo, o SO42-, juntamente com a lavagem do solo, possibilitará maior movimentação vertical do Na+. Esse processo só terá o resultado esperado com o fornecimento de água de boa qualidade e em quantidade suficiente para que se promova a lixiviação do Na+.