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Aspectos Básicos, Conceitos E Técnicas Ligados Ao Desenvolvimento De Produtos...

Desenvolvimento de Produto na Área de Tubos para Petroquímica

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ASPECTOS BÁSICOS, CONCEITOS E TÉCNICAS LIGADOS AO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS PARA O SEGUIMENTO DE EXPLORAÇÃO, PRODUÇÃO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E GÁS : O CASO DE TUBOS DE AÇO E FERRO André Luis de Brito Baptísta Administrador de Empresas com ênfase em Gestão de Ciência e Tecnologia / Pesquisa e Desenvolvimento Pesquisador Científico da Divisão de Metalurgia da Spectru Instrumental Científico Ltda. “O desenvolvimento bem sucedido de produtos ou processos exige um conhecimento íntimo de detalhes de mercado e técnicas de produção, bem como a habilidade para reconhecer e pesar riscos técnicos e comerciais” INTRODUÇÃO O setor de petróleo e gás natural tem importância estratégica em âmbito mundial. Essa importância se traduz, em termos econômicos, em uma participação relevante na produção econômica mundial atual, como principal insumo energético para praticamente todos os demais setores e, também, como matéria-prima para a indústria petroquímica, com derivações diversas, na química fina e farmacêutica, novos materiais, entre outras áreas Várias são as etapas pelas quais o petróleo passa até chegar aos consumidores finais, A extração, a separação dos produtos do óleo cru e a obtenção de seus derivados por meio de diversos processos, tais como destilação, craqueamento, absorção e extração, feitas em industrias que possuem no seu interior enormes redes de tubos e que também recebem e distribuem matéria prima e produtos por meio de tubulações O processo de desenvolvimento de produtos aumenta, a cada dia, sua importância em contribuir para o sucesso das organizações, cada vez mais o mercado tem imposto aos produtos requisições de características que vêm se desenvolvendo e se atualizando de forma muito rápida O desenvolvimento de produto pode ser visto como um processo de solução de problemas, que são traduzidos em necessidades. Problemas são barreiras que se interpõem entre um estado inicial indesejado e um estado final desejado. Soluções são o resultado do processo de travessia ou contorno das barreiras ou problemas. A solução criativa de problemas é um dos fatores essenciais para a inovação e conseqüente sobrevivência das organizações TUBOS PARA A INDUSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS Voltando-se para um mundo antigo, em uma breve descrição cronológica da História, percebe-se que o surgimento dos metais foi determinante no modo de vida da nossa civilização. Após 2.000 anos da descoberta do cobre e do bronze, o ferro passou a ser o novo metal a ser utilizado. Existem indícios da ocorrência e emprego deste material desde o segundo milênio antes de Cristo. Por longo período, permaneceu raro e dispendioso e seu uso só foi estabelecido tempos depois, por volta de 1200 a.C., início da Idade do Ferro. No final da era medieval, o emprego do ferro fundido, o uso do arame, cabos metálicos e de correias para transmissão mecânica, assim como o aperfeiçoamento das ligas metálicas começaram a mudar o cenário, com grande contribuição ao desenvolvimento de equipamentos técnicos. 5 Entretanto, foi a expansão da Revolução Industrial que modificou totalmente a metalurgia e o mundo. O uso de máquinas a vapor para injeção de ar em alto-forno, laminadores, tornos mecânicos e o aumento de produção transformaram o ferro e o aço no mais importante material de construção e outras inovações. A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, no final do século XVIII, espalhando-se depois por toda a Europa. A indústria se desenvolveu graças às novas invenções, como a máquina a vapor e o tear mecânico, que substituíram a força humana pela motriz e o artesanato pelo trabalho nas fábricas. O aumento da produção propiciou a acumulação de capital, uma das bases do capitalismo que surgia. A revolução tecnológica foi seguida por um aumento da população, devido às melhorias das condições de higiene e às reformas na agricultura, com a incorporação de novas técnicas e o cultivo do milho e da batata, importados da América. A invenção de máquinas e mecanismos como a lançadeira móvel, a produção de ferro com carvão de coque, a máquina a vapor, a fiandeira mecânica e o tear mecânico causaram uma revolução produtiva. As fábricas passaram a produzir em série e surge a indústria pesada (aço e máquinas). A invenção dos navios e locomotivas a vapor acelera a circulação das mercadorias. Os grandes complexos siderúrgicos surgiram na Inglaterra depois que Abraham Darby idealizou a produção de ferro com o uso de carvão coque. A produção industrial de ferro foi indispensável para a construção do próprio maquinário fabril, assim como das fábricas, locomotivas e estradas de ferro. No século XIX, ainda durante a Revolução Industrial, o crescimento da indústria siderúrgica foi acelerado pelo imenso movimento de implantação de redes ferroviárias na Europa, onde a produção de ferro e aço surgia em uma escala nunca atingida anteriormente. Dentro deste contexto, não seria surpresa constatar a existência de infinitas frentes de trabalho que investiram em desenvolvimento tecnológico e pesquisa científica voltados ao aprimoramento das propriedades e aplicações do aço. Inovações tecnológicas buscam a substituição de processos convencionais, no sentido de modificar a microestrutura do material por meio de variações de composição química, por processamentos térmicos ou termomecânicos, visando um aperfeiçoamento das inúmeras características apresentadas pelos diferentes tipos de aços, tais como: maior resistência mecânica, maior resistência à fadiga, menor peso e custo, atendendo às exigências específicas do setor produtivo industrial. O primeiro registro na humanidade da utilização de dutos para transporte de gás data de 2000 AC (Antes de cristo). O transporte de gás natural por meio de dutos esta documentado desde 400 anos A.C., quando os chineses transportaram, com bambus, o gás natural de mananciais ou de fendas das rochas para evaporar a água do mar. O gás natural usado como combustível já era de conhecimento dos japoneses cerca de 600 anos D.C. Quanto aos materiais utilizados para construir dutos, os egípcios e astecas usaram cerâmica e os gregos e romanos usaram chumbo. De acordo com muitos arqueólogos, à medida que o homem aprimorava as suas artes o, uso dos objetos metálicos aumentava vagarosamente. A origem do ferro perde-se na noite dos tempos, talvez, tenha surgido, quando pedras de minério que circundavam fogueiras para aquecer as cavernas, foram reduzidas a metal pelo calor e em contato com a madeira carbonizada. A crença atual da maior parte dos metalurgistas modernos que se ocuparam do assunto, é de que o uso do ferro precedeu ao dos outros metais, por um considerável espaço de tempo, mas que á fácil corrosibilidade dos objetos de ferro apagou todos os traços do seu uso nas eras primitivas. Embora esta asserção nunca tenha sido provada, é bem possível que seja verdadeira, porque o ferro pode ser reduzido dos seus minérios muito mais facilmente e por métodos muito mais rudimentares. Além disso, observa-se também que os minérios de ferro são consideravelmente mais espalhados na terra do que os dos outros metais . Nos antigos livros encontram-se registros do uso de canalizações de ferro já no ano 100 a. C.. Nessa primeira etapa de sua evolução, o ferro era obtido em pequenas quantidades e em estado pastoso diretamente do minério, mediante a ação do carvão de madeira que, pela queima, fornecia o calor .. Segundo os documentos de que se dispõe, a primeira corrida de ferro verificou-se em Siegem, no Ruhr (Alemanha), no Séc. XIV da nossa era, por volta de 1310 . 6 Somente no decorrer do Século XV foram desenvolvidos métodos capazes de não apenas reduzir o ferro, a ferro metálico, mas também fundi-lo, de modo que o produto pudesse ser moldado nas formas desejadas. Um dos principais motivos pelo qual não se obtinha ferro líquido é justamente o fato de que os fornos eram pequenos demais e operavam a temperaturas muito baixas para permitir a absorção de carbono suficiente pelo ferro, de modo a abaixar o seu ponto de fusão suficiente. Por volta de 1400, apareceram os primeiros altos-fornos, na Alemanha e na Áustria, construídos em alvenaria e com a forma de dois troncos de cone justapostos pela base. Em 1444 houve a transição do processo direto para o processo indireto de obtenção do ferro. O aumento da altura dos fornos e da capacidade de sopragem resultou na elevação da temperatura de trabalho, de modo que, pela primeira vez, se obteve ferro em estado líquido, nascendo assim a técnica de fundição de artefatos hidráulicos (tubos, conexões, tês, etc.) . Em 1664, o Rei Luiz XIV da França fez construir uma rede de tubos de ferro fundido, com extensão de 24 km, desde a Casa de Bombas em Marly, no Rio Sena, até Versailles. Os tubos tinham menos de 2 metros de comprimento. Esta foi a primeira rede, em tubos de ferro fundido, eficientemente instalada; estando em funcionamento ainda; após mais de 300 anos de serviço constante. A seleção do local para as fábricas de ferro dependia da obtenção de minério, da existência de florestas naturais e; depois do emprego da roda d’àgua; da existência de rios ou riachos. Com a demanda de madeira tornando-se cada vez maior, este combustível logo chegou a ser fator de limitação para o desenvolvimento da indústria. Os esforços para arranjar substituto para o carvão vegetal resultaram no emprego de carvão mineral, porque a altura do forno foi aumentada, e o carvão vegetal não era mais capaz de resistir ao peso da carga. O primeiro ferro fabricado com coque foi produzido em 1708 - 1709 por Abraham Darby, em Coalbrookdale, às margens do Rio Severn, na Inglaterra. Nesta época o material obtido em altos fornos usando carvão de pedra ou coque, não era considerado ainda de qualidade. Somente em 1742, também na Inglaterra, Richard Ford, conseguiu usar o coque com sucesso, propiciando a produção de ferro a mais baixo custo e permitindo então que canalizações de ferro começassem a ser implantadas em todo o mundo. O ferro fundido tem uma ampla gama de propriedades que possibilitam a sua aplicação em diferentes peças. Essas propriedades em sua maior parte estão correlacionadas com a sua estrutura que pode ser modificada pelo controle de algumas variáveis. A evolução dos conhecimentos da metalurgia do ferro acompanha o desenvolvimento da tecnologia o que permite a obtenção de materiais de alta qualidade.. O ferro fundido representa um papel importante na confecção de produtos hidráulicos, sendo, que as propriedades principais especificadas (estanqueidade, resistência a tração, modulo de elasticidade, alta resistência ao desgaste, à fadiga e a corrosão) permitem que esse material seja capaz de manter fluidos hidráulicos sob alta pressão e velocidade. Somente por volta de 1350 é que obteve-se ferro em estado líquido, onde observou-se que havia grafita precipitada na forma lamelar. As experiências em modificar a cristalização dessa grafita, para a forma nodular começaram em 1936. Em 1955, houve sugestão da utilização de um material com morfologia de grafita intermediária as duas primeiras, sendo denominada de vermicular definindo assim os tipos de ferro fundido que poderiam ser utilizados para produção de tubos e conexões. Em 1834,o primeiro tubo de ferro fundido para dutos foi feito em Milville, Nova Jersey, nos Estados Unidos, representando um marco para a industria de gás. No entanto, a possibilidade de se transportar óleo por meio de dutos so foi considerada em 1863, quando Samuel V. Sycle transportou óleo por meio de um duto de ferro fundido de 8 Km, enterrado a uma profundidade de 60cm. Em 1843, foi a primeira vez que os EUA utilizaram dutos de aço para transporte de gás, isto reduziu consideravelmente as ameaças de fratura dos dutos. Contudo, somente na década de 40 que dutos de longa distância foram construídos em larga escala nos EUA, devido à demanda da segunda guerra mundial. Atualmente, dutos são utilizados em todo o mundo para transporte de gás, óleos e minérios. A Figura 1 mostra a distribuição atual de dutos no mundo 7 De acordo com a Boreas Consultants Limited, em 1942 já existiam 96.000 Km de dutos nos EUA. Depois da 2º guerra mundial, grandes linhas dutoviárias foram construídas devido à demanda crescente por energia. Nos dias atuais, 50% dos 1.000.000 Km de oleodutos e gasodutos dos EUA tem mais de 40 anos de vida. Dados do departamento de transporte dos EUA estimam que 80.000 Km de dutos devam ser reabilitados nos próximos 10 anos. Em outros países como a Rússia, cerca de 20% dos oleodutos e gasodutos estão próximos do final da vida útil, sendo que dentro de 15 anos, 50% já chegarão ao final de sua vida útil. Desde então, muitos desenvolvimentos se sucederam. Ao longo do século XX, a sociedade humana passou a depender intensamnte do petróleo. Tanto a obtenção quanto o processamento, a distribuição e o uso destas duas matérias-primas (petróleo e gás natural) e de seus subprodutos (petroquímicos) requerem grandes quantidades de tubos. O transporte de fluidos é através de um duto é geralmente o meio mais econômico e conveniente de transporte de líquidos, especialmente em grandes quantidades ou em maiores freqüências. No caso da indústria petroquímica, geralmente os campos de petróleo e gás se localizam muito distantes dos centros consumidores, tornando-se necessário o transporte destes produtos a longas distâncias, através de oleodutos e de gasodutos. Em termos estruturais os tubos possuem características bastantes atraentes devido à sua geometria, que confere, especialmente para os tubos de seção reta circular, grande rigidez com baixo peso e volumes relativos No desenvolvimento de materiais para tubos, além da resistência, é necessário atenção com a tenacidade, soldabilidade, resistência a trincas por hidrogênio, resistência à fadiga das juntas soldadas e resistência a corrosão, pois os dutos são expostos a ambientes hostis. A importância dos materiais são caracterizados pelo grau de desenvolvimento dos mesmos. A extração e transformação do ferro e do aço nos seus cerca de 5000 anos de história, sofreram um enorme e contínuo desenvolvimento. Apesar deste esforço dos metalúrgico,um problema permaneceu sem solução até o início do século XX: os objetos de ferro e aço não eram suficientemente resistentes à corrosão. No início desse século este problema começava a ser solucionado. Na Inglaterra, Harry Brearley em 1912, descrevia suas experiências em ligas resistêntes à corrosão, contendo 12,8%Cr e 0,24%C. Estavam descobertos os aços inoxidáveis martensíticos. Nos EUA, em 1911, Christian Dantsizen iniciava suas experiência com ligas contendo 14 a 16%Cr e com baixo teor de carbono (0,007-0,015%C), preparadas utilizando-se Cr e Fe-Cr obtidos por aluminiotermia. Estavam descobertos os aços inoxidáveis ferríticos. O descobrimento dos aços inoxidáveis austeníticos por volta de 1910 (inicialmente com 16-18%Cr e 813%Ni) significou um grande avanço no desenvolvimento de materiais resistêntes à corrosão e à oxidação. O desenvolvimento dos aços inoxidáveis não parou pr aí. Hoje as normas de cada país apresentam dezenas de composições diferentes desenvolvidas para aplicações e exigências específicas. A ampla utilização dos aços inoxidáveis austeníticos deve-se a uma combinação favorável de propriedades, tais como: resistência à corrosão e à oxidação, resistência mecânica a quente, trabalhabilidade e 8 soldabilidade. Não é somente a matriz austenítica que determina as propriedades dos materiais. Numerosas fases, tais como ferrita, carbonetos, fases intermetálicas, nitretos, sulfetos, boretos e martensitas induzidas por deformação, podem estar presentes na microestrutura dos aços inoxidáveis austeníticos. A quantidade, o tamanho, a distribuição e a fórmula dessas fases têm influência marcante na propriedades do material. A partir de 1930 os aços inoxidáveis duplex tornaram-se comercialmente disponíveis. As primeiras qualidades de duplex apresentavam uma soldabilidade ruim, principalmente devido à falta de conhecimento dos processos metalúrgicos que ocorrem na zona afetada pelo calor (ZAC). Além deste fato, o balanceamento das fases austenita e ferrita não era adequado, predominando a ferrita. Por razões como estas, os duplex somente obtiveram aceitação na indústria 40 anos mais tarde, quando foi obtido um balanceamento de fases mais equilibrado e os problemas relacionados à soldagem destas ligas foram solucionados, especialmente pelo uso do nitrogênio como elemento de liga. No início dos anos 50 a escassez do níquel incentivou o desenvolvimento de aços com menos teores deste elemento, induzindo a um aperfeiçoamento dos aços inoxidáveis duplex. A consolidação dos duplex como materiais versáteis para as mais diversas aplicações ocorreu em 1969/70, com nova falta de níquel no mercado. Na década de 70 os duplex experimentaram rápido crescimento na indústria de petróleo e gás, papel e celulose e químico-petroquímica, resolvendo problemas como corrosão por pite e sob tensão, sendo estes responsáveis pelo maior número de falhas por corrosão dos aços inoxidáveis. Os duplex também possibilitaram o uso de construções mais leves face às suas melhores propriedades mecânicas. O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO Evolução histórica do processo de desenvolvimento de produtos A atividade de projetar, fabricar e consumir produtos é muito antiga e advém da inter-relação dos homens primitivos com os recursos naturais que os cercavam, seja através da criação de objetos (utensílios, moradias etc) ou através da criação de imagens (desenhos, escrita etc). Na antiguidade, os povos como os chineses e os romanos produziam seus utensílios domésticos e artefatos de guerra, dividindo o trabalho conforme as habilidades individuais dos artesãos, cabendo a estes não só a concepção dos produtos, como a produção e a comercialização dos mesmos. Apesar desse sistema apresentar grandes volumes de produção, os produtos não apresentavam a uniformidade e a padronização de uma produção considerada industrial. A atividade de projetar do artesão era algo que se realizava quase que diretamente de sua mente para os materiais a serem processados, isto é, o conhecimento do artesão era no produto pronto. Com isto, a linguagem do desenho era utilizada pelo artesão como uma forma de registrar suas idéias, não se constituindo numa descrição completa do produto. A única linguagem utilizada para descrever completamente o produto era através da construção de modelos físicos tridimensionais. Com as transformações ocorridas com a Revolução Industrial no século XVIII começaram a aparecer as primeiras práticas consagradas de projeto, que padronizaram a solução de determinados problemas, constituindo-se na cultura técnica da época. O aparecimento da padronização e da intercambiabilidade, delimitaram a fronteira entre a produção artesanal e a produção industrial. Se da antiguidade até a Revolução Industrial o projeto e a manufatura eram atividades inseparáveis praticadas pelos artesãos, com o surgimento dos “Princípios da Administração Científica” de Taylor no final do século XIX, é rompido o elo que unificava tais atividades, separando a concepção da execução. Uma das conseqüências dessa ruptura foi a necessidade de criação de um meio de comunicação entre o projeto e a produção. Nesse contexto é que surge o desenho técnico como linguagem codificada, capaz de descrever o produto projetado de tal forma que a sua produção pudesse ser realizada por qualquer um e em qualquer instalação fabril. Nesta época, vários artistas rapidamente se empregaram nas indústrias com a função de desenhar os produtos, apesar de desconhecerem integralmente as técnicas de manufatura. O modelo taylorista de organização da produção se disseminou rapidamente ao longo do século XX. 9 A necessidade de obter novos ganhos de desempenho fez com que as empresas começassem, a partir de meados da década de 1980, a substituir o modelo taylorista por sistemas de produção que permitissem maior integração das fases de concepção, produção e comercialização. Tal integração só foi possível de ocorrer graças a implementação de tecnologias de manufatura avançada com o apoio da informática e dos equipamentos de base microeletrônica, com destaque para os sistemas CAD que utilizam sistemas informatizados para auxiliar a criação, modificação e exibição de um projeto. Na Figura 2, estão sintetizadas graficamente as diferentes fases citadas anteriormente. Figura 2 – Evolução do processo de desenvolvimento de produtos Interessante ressaltar que, a atividade de projeto de produtos só passou a merecer atenção do chamado sistema industrial, a partir da segunda metade do século XX, quando na década de 1950 começou a discussão sobre a possibilidade de desenvolver uma metodologia de desenvolvimento de produtos que representasse todo o processo, independente da classe de produto que iria ser projetado. Atualmente as empresas têm plena consciência de que seu sucesso é fortemente dependente da maneira como projetam seus produtos e de sua habilidade de organizar, processar e aprender através das informações relacionadas ao ciclo de desenvolvimento de produtos. Breve histórico cronológico do desenvolvimento de produto No final da década de 1980 e início de 1990, foram desenvolvidos importantes projetos de pesquisa relacionados com a manufatura enxuta e a gestão do processo de desenvolvimento de produto. Estes primeiros, puramente analíticos, tornaram-se clássicos e geraram muitos conceitos que têm um escopo de aplicação mais amplo que uma abordagem específica e são empregados por grande parte das pessoas que estudam e trabalham com o desenvolvimento de produto, formando base de abordagem para gerenciar o processo. Nesta abordagem os autores dividem o processo de desenvolvimento de produto em três etapas maiores: • Estratégia de Desenvolvimento – onde apresenta uma estrutura para o planejamento e gerenciamento do portfólio dos projetos em andamento; • Gerenciamento do Projeto Específico – abordando o gerenciamento, liderança, tipos de interação entre atividades e outros assuntos relacionados com um projeto específico; • Aprendizagem – apresentando formas para garantir a melhoria do processo e a aprendizagem organizacional a partir da experiência com o projeto. Entre 1990 e 1996, para atingir o objetivo da busca de uma visão total da atividade de projeto e não mais as visões parciais de cada setor tecnológico específico, Stuart Pugh desenvolveu um modelo que ficou conhecido como Total Design: 10 • Um conjunto de seis etapas interativas e aplicáveis a qualquer tipo de projeto, onde cada etapa é representada por um cilindro significando que nela são empregados um conjunto específico de conhecimentos compostos por diversas visões tecnológicas parciais. • Somando os conceitos de Pugh e Taguchi, Don Clausing criou a Total Quality Development, dividindo o processo de desenvolvimento de produto em: Conceito; Design, Preparação/Produção. Surge, então, uma abordagem mais sofisticada para engenharia simultânea, englobando diversos fatores em uma estrutura bastante independente das fases de um processo de desenvolvimento de produto, possuindo no seu centro a descrição dos quatro elementos de suporte que são os modelos, os métodos, as métricas e as medidas; estas fases são compostas em duas rodas: Organização do Produto e Processo (Product and Process Organization Whell – PPO) – aborda os fatores que determinam o grau de complexidade do gerenciamento do desenvolvimento de produto e os fatores organizacionais; Desenvolvimento de Produto Integrado (Integrated Product Development Wheel – IPD) – define de uma maneira bastante flexível a integração do processo de desenvolvimento do produto. Desenvolve-se o Manual de Planejamento e Controle da Qualidade do Produto, dentro do conjunto de normas da QS 9000, que possui uma estrutura que resume um conjunto de preocupações técnicas e um modelo suficientemente detalhado capaz de servir de base para intervenções no processo de estruturação e gerenciamento de desenvolvimento de produto. Definição de produto. Um produto, do ponto de vista de marketing inclui além de bens ou serviços, marcas, embalagens, serviços aos clientes e outras características que acrescentem valor para os clientes. E nesse sentido, podem ser vendidos para consumidores ou organizações e caracterizados como tangíveis (bens) ou intangíveis (serviços). Um produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo. Os produtos comercializados incluem bens físicos, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações e idéias. Conceito de produto Produto é um conjunto de atributos tangíveis e intangíveis que proporciona benefícios reais ou percebidos com a finalidade de satisfazer as necessidades e os desejos do consumidor.” Produto é qualquer coisa que possa ser oferecida a um mercado para atenção, aquisição, uso ou consumo, e que possa satisfazer a um desejo ou necessidade.” Produto significa a oferta de uma empresa que satisfaz a uma necessidade. Hierarquia de Produtos São identificados sete níveis de hierarquia de produto, a saber: Família de necessidade: a necessidade central que sustenta a existência de uma família de produtos. Exemplo: segurança. Família de produtos: todas as classes de produtos que podem satisfazer uma necessidade central com razoável eficácia. Exemplo: poupanças e renda. Classe de produtos: um grupo de produtos dentro da família de produtos que têm uma certa coerência funcional. Exemplo: instrumentos financeiros. Linhas de produtos: um grupo de produtos dentro de uma classe de produtos que estão intimamente relacionados porque desempenham uma função similar, sendo vendidos para os mesmos grupos de clientes e 11 comercializados através dos mesmos canais, ou que se incluem em determinadas faixas de preço. Exemplo: seguros de vida Tipo de produto: um grupo de itens dentro de uma linha de produtos que compartilham uma das diversas formas possíveis do produto. Exemplo: seguro de vida pessoal Marca: o nome, associado a um ou mais itens da linha de produtos, que é usado para identificar a fonte ou caráter do item ou dos itens. Exemplo: Prudential. Item: uma unidade distinta dentro de uma marca ou linha de produtos que se distingue pelo tamanho, preço, aparência ou outro atributo. Exemplo: seguro de vida anual renovável da Prudential. Tipos de novos produtos Há várias maneiras de classificar novos produtos; e do ponto de vista da empresa, são classificadas as seguintes categorias: - Produtos novos para o mundo: invenções que não existiam anteriormente; - Novas categorias de produtos: produtos novos para uma empresa, mas não novas invenções; - Adições a linhas de produtos: são extensões da linha de um determinado produto; - Melhorias em produtos: são produtos novos à medida que representam versões alteradas de produtos já existentes. - Reposicionamento: são produtos reposicionados para novos usos ou novos mercados Conceituação de um novo produto Antes de se analisar o processo de desenvolvimento de um produto, convém uniformizar o conceito sobre o que é um novo produto. O conceito mais amplo do que é um novo produto abrange qualquer tipo de inovação ou aprimoramento de um produto já existente ou a criação de um produto totalmente inovador. Já o conceito mais restrito considera um produto novo apenas os totalmente inéditos e originais. Entre esses extremos, apresentam-se uma série de classificações, que estão representadas na Figura 3 (em anexo). Conceitos de processo de desenvolvimento de produto O inicio do desenvolvimento de um produto está ligado diretamente a solução de um problema ou a oportunidade de mercado a fim de atender as necessidades dos usuários. O desenvolvimento de novos produtos é um problema multifatorial; o sucesso ou fracasso depende de muitos fatores, tais como: aceitação dos usuários, facilidades de fabricação, durabilidade, confiabilidade do produto e sua eficiência De maneira geral, desenvolver produtos consiste em um conjunto de atividades por meio das quais, busca-se, a partir das necessidades do mercado e possibilidades e restrições tecnológicas, e, considerando as estratégias competitivas de uma empresa, chegar as especificações de um produto e de seu processo de produção A figura 3 a e b, mostra as etapas básicas de desenvolvimento de qualquer produto. Figura 3 a e b – Etapas básicas do desenvolvimento de produto (a) 12 (b) A figura 4 mostra as etapas de produção de um novo produto da área metal-mecânica e siderúrgica. Figura 4 – etapas de produção de um novo produto da área metal-mecânica e siderúrgica Entende-se também que o PDP é como um processo de fluxos e ciclos (tracks and loops) interativos, cada ciclo representa uma interação entre um ou mais fluxos do desenvolvimento de produtos”. Os fluxos essenciais (tracks) do PDP seriam: missão, planejamento, projeto, processo, produção, manufatura/montagem e entrega/serviços (figura 5). 13 Figura 5 - Visão Geral do processo de projeto e desenvolvimento de produto O processo de desenvolvimento de produto pode ser visto como uma atividade de transformação de informações. É o processo, a partir do qual, informações sobre o mercado são transformadas nas informações e bens necessários para a produção de um produto com fins comerciais.” E ainda é a atividade sistemática necessária desde a identificação do mercado/necessidades dos usuários até a venda de produtos capazes de satisfazer estas necessidades – uma atividade engloba produto, processos, pessoas e organização.” É o processo de negócio compreendendo desde a idéia inicial e levantamento de informações do mercado até a homologação final do produto e processo e transmissão das informações sobre o projeto e o produto para todas as áreas funcionais da empresa. O Desenvolvimento de Produtos é um dos processos mais complexos e relacionado com praticamente todas as demais funções de uma empresa. Para desenvolver produtos são necessárias informações e habilidades de membros de todas as áreas funcionais, caracterizando-se como uma atividade, em princípio, multidisciplinar. Além disso, trata-se de uma atividade com uma característica ad-hoc, em que cada projeto de desenvolvimento pode apresentar características específicas e um histórico particular O processo de desenvolvimento de produtos (PDP), apresenta duas importantes funções, a primeira é a de servir de interface entre a empresa e o mercado, nesta função fica evidenciada a importância estratégica do PDP. A segunda está relacionada com a competitividade, pois o lançamento eficaz de novos produtos e a melhoria da qualidade daqueles já existentes são aspectos de grande relevância para a capacidade competitiva das empresas. A visão de projetar produtos e serviços para satisfazer aos consumidores está atrelada à competitividade da organização. Em outras palavras, o projeto do produto deve ter início com o consumidor e terminar nele. A função de interface com o mercado é destacada, por meio da integração do marketing ao PDP, abordada por estes autores, onde se destaca a necessidade de profissionais ligados ao mercado definirem as característicasalvo do produto e os interesses deste mercado, para que posteriormente estas características sejam materializadas pelos projetistas O processo de desenvolvimento de produtos depende de uma cadeia de decisões que afetam diretamente o lançamento do produto no mercado. Esta cadeia está dividida em duas fases. A primeira fase chama-se frontend (pré-desenvolvimento), onde são identificados as oportunidades de mercado e o conceito do produto. Este conceito deve ser definido levando em consideração tendências futuras, novas tecnologias e necessidades 14 latentes. A segunda fase chama-se back-end, que é o desenvolvimento propriamente dito, ou seja, que transforma o conceito em um produto físico. As etapas estão ilustradas na Figura 6. Figura 6 – cadeia de decisões no desenvolvimento de produto O pré-desenvolvimento inicia na identificação e no reconhecimento de uma oportunidade de mercado e estende-se até a aprovação dos projetos que serão levados adiante. Fazem parte desta fase a determinação das diretrizes de novos produtos, a geração de idéias, a triagem de idéias e a geração do conceito para cada idéia selecionada. Esse conceito é estabelecido de forma a registrar características gerais do produto a ser lançado, isto é, características capazes de traduzir a oportunidade do produto para dar início ao seu desenvolvimento. A figura 7 demonstra o pré-desenvolvimento. Figura 7 - O pré-desenvolvimento O sucesso ou fracasso de qualquer empresa dependem da vantagem competitiva que obtém, ofertando produtos a um custo mais baixo ou oferecendo benefícios únicos ao comprador, diferenciação que justifique um preço maior (Figura 8 ). 15 Figura 8 - Influência da etapa de projeto no custo de produção Um caminho complementar – e cada vez mais utilizado – aos da redução de custo e aumento da qualidade na busca da competitividade industrial é o da diferenciação dos produtos, conseguida através de inovações. Se distingue entre três tipos de características dos produtos, as quais influenciam a satisfação do cliente de formas diferentes. São elas as características obrigatórias, as características atraentes e as características unidimensionais (Figura 9 ). Se as características obrigatórias não forem atendidas, o cliente ficará muito insatisfeito. Por outro lado, como o cliente assume que essas características deveriam estar presentes de qualquer forma, seu atendimento não aumentará a satisfação. Atendendo-as, conseguir-se-á, apenas, a não insatisfação do cliente. O cliente não é consciente destas características e não expressa seu interesse por elas. Para as características unidimensionais, a satisfação do cliente é proporcional ao grau de atendimento. Normalmente, o cliente conhece estas características e expressa interesse por elas. Com o passar do tempo, algumas características unidimensionais tendem a tornar-se obrigatórias. Figura 9 – Modelo de satisfação do cliente de Kano Dentre as três categorias de características, as atraentes são aquelas cujo atendimento tem a maior influência na satisfação do cliente. O atendimento das características atraentes resulta em satisfação mais do 16 que proporcional. Como para as características obrigatórias, o interesse por estas características não é expresso. Na verdade, estas características não são esperadas pelo cliente. Portanto, se não forem atendidas, não haverá sensação de insatisfação. No decorrer do tempo, as características atraentes tendem a tornar-se unidimensionais. Pode-se concluir deste modelo que, para melhorar a competitividade de uma organização que desenvolve produtos, é necessário introduzir melhorias nas etapas iniciais do processo de desenvolvimento e inovar nas características unidimensionais e atraentes. As atividades de P&D de Produtos e as estratégias tecnológicas A atividade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) engloba tanto os trabalhos de criação efetuados de forma sistemática, com vistas a aumentar um dado corpo de conhecimento, quanto à utilização deste conjunto de conhecimentos para conceber novas aplicações. Nesse sentido, o conceito de P&D abrange três atividades: a pesquisa básica, que corresponde ao trabalho experimental ou teórico realizado principalmente para a aquisição de novos conhecimentos sobre os fundamentos de fatos ou fenômenos observáveis, sem o propósito de qualquer aplicação ou utilização; a pesquisa aplicada, que se refere à investigação original, realizada com a finalidade de adquirirem-se novos conhecimentos, mas que é dirigida primordialmente a um objetivo prático; e o desenvolvimento experimental, que se caracteriza como um trabalho sistemático, apoiado no conhecimento existente, adquirido através de pesquisas ou experiência prática e dirigido para a produção de novos materiais, produtos ou equipamentos, para a instalação de novos processos, sistemas ou serviços ou para melhorar aqueles já produzidos ou instalados. A pesquisa básica, partindo do paradigma denominado laboratory push, no qual se supõe que os resultados científicos, obtidos em laboratórios, levam à inovação tecnológica e à geração de produtos com eventual inserção no mercado, como ilustra a Figura 10. Figura 10 – Laboratory Push Em um outro modelo que mais se aproxima do paradigma denominado market pull (Figura 11), no qual a demanda de mercado (existente ou projetada) exerce pressão sobre as empresas, por novos resultados tecnológicos que, por sua vez, demandavam e demandam a realização de pesquisas científicas. 17 Figura 11 – Market Pull As empresas diferem em seu potencial de ‘manobra’ ou vantagem competitiva no mercado a partir de seus produtos. O numero de oportunidades de diferenciação ou estratégias varia de acordo com o setor (Figura 12). Em um setor competitivo, a chave para a vantagem competitiva é a diferenciação de produto . Propõe-se assim a divisão dos tipos de estratégias por foco como mostrado no Quadro I e Figura 13 . Figura 12 - A matriz de vantagem competitiva e Setores do Mercado 18 Quadro I – As principais estratégias das organizações, segundo diversos autores Figura 13 - Matriz de Ansoff para produtos 19 A pesquisa utiliza-se de seis estratégias para se realizar inovações tecnológicas, orientando-se pelo mercado e pela tecnologia dos produtos(Quadro II): No mundo globalizado a pesquisa é de fundamental importância na transformação de conceitos intangíveis, representados pela criatividade, genialidade e idéias, em elementos tangíveis traduzidos por produtos, processos e serviços que incorporam algo novo, alterando o que até então se conhecia a respeito de determinado tema. Quando se gera por meio desse processo a inovação tecnológica, a pesquisa contribui para o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país. Quadro II – Estratégias Tecnológicas 20 CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO Processo de desenvolvimento de novos produtos. Metodologicamente costuma-se dividir em três fases principais: Pré-desenvolvimento, Desenvolvimento e PósDesenvolvimento. (Figura 14 e 15 ) • Pré-Desenvolvimento: visa estabelecer a ligação entre os objetivos que a empresa possui com os portfólio de projetos que serão desenvolvidos, e, o planejamento de desenvolvimento de cada um desses projetos individualmente. • Desenvolvimento: devem ser definidas as estruturas funcionais do produto; e as soluções, em termos de informações técnicas e tecnológicas, com a definição dos sistemas, subsistemas e componentes, que fornecem as funções esperadas para o produto. Nessa fase inicia-se as atividades de projetar-construir-testar-otimizar o produto até a sua homologação. • Pós-Desenvolvimento: consiste no acompanhamento sistemático de informações sobre os resultados do produto no mercado, produção, distribuição, atendimento ao cliente e assistência técnica. Compreende também a retirada do produto do mercado e a avaliação de todo o ciclo de vida do produto. Figura 14 - Fases principais de desenvolvimento 21 Figura 15 “Consideram-se as idéias e os aspectos estratégicos do negócio, seguindo-se do desenvolvimento efetivo do produto, finalizando-se com a produção e comercialização dos produtos no mercado”. Deve-se seguir uma metodologia para que o processo criativo seja dividido em etapas, conforme esquematizado na Figura 16. Figura 16 - Modelo esquemático para o desenvolvimento do produto 22 Conforme a figura 16 , observa-se que o processo criativo passa pelas seguintes etapas: Geração de idéias: nessa fase é lançada uma idéia inicial, seja a partir da tecnologia disponível ou de estudos e pesquisas de mercado. As área de competência, recursos humanos e materiais, as tecnologias específicas, a disponibilidades de recursos financeiros, etc. constituem os aspectos internos da empresa. São considerados aspectos externos os nichos de mercado, as tendências de desenvolvimento da tecnologia e a concorrência. Especificações funcionais: define-se os objetivos do produto: sua função, suas características básicas, como será fabricado, fontes de suprimento de matérias-primas e demais insumos, os mercados que deverá atender, quanto deverá custar, vantagens e desvantagens em relação a seus concorrentes, etc. Seleção de produto: fase na qual se determina um produto que atenda os dois requisitos anteriores. Projeto preliminar: análise minuciosa da manufaturabilidade do produto, incorporando-se a seu projeto as alterações decorrentes proveniente da soma do conhecimento dos departamentos envolvidos. Construção do protótipo: esta fase dependerá do produto que está sendo desenvolvido, fase na qual é construído um modelo reduzido para ser previamente testado e em seguida um protótipo. Testes: o protótipo é submetido a testes nas mais variadas condições, fazendo-se análise de sua robustez, do grau de aceitação pelo mercado, de seu impacto junto aos concorrentes, etc. Pode-se fazer um delineamento de experimentos para verificar a resposta do produto quando submetido a situações previamente estabelecidas. Projeto final: o produto é detalhado, com suas folhas de processo, lista de materiais, especificações técnicas, fluxogramas de processos, etc Introdução: coloca-se o produto no mercado, começando a primeira fase de seu ciclo de vida. Avaliação: periodicamente, faz-se uma avaliação do desempenho do produto; então são introduzidas as alterações necessárias ou, tendo o produto já passado pela fase de maturidade e estando em declínio, é retirado do mercado. O projeto de produto pode afetar a qualidade do produto, custo da produção, o número de fornecedores e os níveis de estoque; deve-se então visar a facilidade de produção durante o projeto. Três conceitos estão estreitamente relacionados com o ato de projetar para obter facilidade de produção: - Especificação: descrição detalhada do material, peça ou produto. De maneira geral, peças produzidas com tolerâncias mais rígidas se encaixarão melhor, mas produzi-las pode ter um custo maior. - Padronização: atividade do projeto que reduz a variedade entre um grupo de produtos ou peças, o que comumente, resulta num volume unitário maior, o que pode levar a custos de produção menores, qualidade de produto mais elevada, maior facilidade de automação e menor investimento em estoques; - Simplificação de um projeto é a eliminação dos recursos complexos de forma que a função pretendida seja executada com custos reduzidos, qualidade mais elevada ou maior satisfação do cliente. 23 ETAPAS DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO As etapas do processo de desenvolvimento de produto, inicia-se com a identificação de uma necessidade do cliente e termina com a introdução do produto no mercado. Essas etapas podem ser sintetizadas da seguinte maneira: - Desenvolvimento do Conceito e Planejamento do Produto: informações coletadas a partir de fontes externas e internas da empresa sobre as oportunidades de mercado, produtos concorrentes, e requisitos técnicos, são combinadas para o desenvolvimento do projeto do produto. Isto inclui o design, o mercado alvo, o nível desejado de desempenho, os recursos necessários e o impacto financeiro. Antes do projeto ser aprovado é necessário aprovar o conceito do produto, por meio de testes em pequenas escalas, construindo modelos não funcionais e discutindo com potenciais clientes; - Detalhamento do Projeto do Produto e do Processo de Fabricação: uma vez aprovado o conceito e o plano do produto, o projeto do produto e o processo de fabricação são detalhados. Antes de se testar o produto no mercado, verifica-se a possibilidade do projeto preliminar ser melhorado, para tanto, em geral, utiliza-se de técnicas como o Desdobramento da Função Qualidade (QFD), Engenharia de Valor e Método Taguchi, dentre outras. Concluído a melhoria do projeto inicia-se a construção de protótipos e o desenvolvimento das ferramentas e equipamentos a serem usados na produção comercial; - Produção Piloto e Introdução do Produto no Mercado: quando o projeto atinge as características de desempenho desejadas, move-se para a etapa de produção piloto, a qual consiste em produzir um pequeno lote do produto em condições normais de operação na fábrica, para que assim sejam feitos acertos finais de fabricação. E, finalmente, busca-se introduzir os produtos no mercado, de forma a iniciar a produção em pequenos volumes, aumentando-os conforme o crescimento das vendas. Estas etapas estão mostradas na Figura: 17 NOVA IDÉIA DE PRODUTO DESENVOLVIMENTO PRODUTO PESQUISA 2 FABRICAÇÃO PRODUÇÃO MARKETING E VENDAS PLANEJAMENTO PUBLICIDADE E PROPAGANDA 1 NECESSIDADE DESEJO MERCADO DESENVOLVI MENTO ENGENHARIA VENDAS PRODUÇÃO DISTRIBUIÇÃO 5 ENTREGA O PRODUTO 4 3 PRODUTO Figura 17 24 MÉTODOS E FERRAMENTAS UTILIZADAS DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO NO APOIO AO PROCESSO DE Atualmente as empresas contam com o suporte de diversas ferramentas e métodos voltados para a gestão do PDP, e a adequada escolha delas não é uma garantia de sucesso deste processo, mas sim de adquirir um procedimento mais eficaz para atenden-lo. Assim, esse tópico busca ilustrar brevemente os métodos e ferramentas, mais citados pela literatura especializada, destinados a fornecer suporte a gestão do PDP, que devem ser aplicados em sintonia com as recomendações expostas nos tópicos anteriores. Pode-se afirmar que as ferramentas e métodos mais empregados, que suportam o PDP, são: Quality Function Deployment (QFD), Design for Manufacturing and Assembly (DFMA), Failure Mode and Effect Analysis (FMEA), Computer Aided Design (CAD) – Computer Aided Manufacturing (CAM)- Computer Aided Engineering (CAE), a Engenharia de Valor e, o Benchmarking. Mediante ao exposto, pode-se sintetizar o que são essas ferramentas e métodos, da seguinte forma: QFD (Desdobramento da função qualidade): tem por finalidade traduzir os desejos do consumidor para o projeto do produto e para instruções técnicas ao longo das várias etapas envolvidas no desenvolvimento de um novo produto; DFMA (Projeto para manufatura e montagem): é um método que busca avaliar e identificar as escolhas feitas no projeto de produto, visando adequá-los de uma melhor forma possível às capacidade e limitações presentes na manufatura; FMEA (Análise do efeito e modo de falhas): tem por objetivo identificar possíveis falhas de um produto ou um processo de produção, em projeto, e suas respectivas causas, além de buscar também a implantação de medidas que possam impedir ou reduzir a possibilidade de ocorrência dessas falhas potenciais; CAD (Projeto auxiliado por computador): por meio de software, permite o uso de desenho e cálculos de produtos em computador, onde o seu desempenho pode ser testado virtualmente com um alto grau de precisão, sem testes físicos; CAM (Engenharia auxiliada por computador): por meio de software, permite o uso de simulações virtuais para a manufatura e geração de imagens para as máquinas controladas por computador; Benchmarking: é um método que, aplicado ao DP permite a partir de um processo contínuo de medição, aprender com outras empresas melhores práticas que podem ser adaptadas aos esforços do PDP. TÉCNICAS PARA DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Há várias técnicas utilizadas para o desenvolvimento de novos produtos, as mais usualmente utilizadas serão citadas a título de conhecimento: - Engenharia robusta: é assim denominada o conjunto de técnicas que permite dar ao projeto do produto, as características de qualidade que façam com que o produto não apresente defeitos tanto nas variações do processo produtivo como nas situações mais adversas; dentre as técnicas pode-se citar o delineamento de experimentos. - Engenharia de Valor: consiste em uma abordagem sistemática para se eliminar quaisquer custos que não contribuam para o valor e o desempenho do produto, ou seja, busca-se manter a qualidade necessária do produto a um menor custo possível; - Projeto modular: são projetados vários produtos finais diferentes, com várias aplicações através de módulos; o que reduz custos através de melhorias na qualidade, redução dos prazos de entrega e aumento de funcionalidade. - Engenharia simultânea: técnica na qual as fases consecutivas ocorrem ao mesmo tempo, o que reduz o período gasto para o lançamento do produto; traz também a vantagem da qualidade ser superior pois a contribuição dos 25 envolvidos no processo é maior e as chances de sucesso no mercado tornam-se maiores pois os possíveis clientes foram previamente consultados. O desenvolvimento de produto é um todo integrado que depende da consideração de diversos fatores ligados às mais diversas áreas de conhecimento, portanto, é necessário desenvolver uma visão holística com a construção de uma imagem única e integrada do processo para atingir o melhor resultado final. FATORES QUE AFETAM O SUCESSO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO A Figura 18 apresenta e identificar quais os fatores possuem uma maior influência sobre o sucesso e/ou não sucesso dos produtos desenvolvidos pelas empresas. Figura 18 - Fatores investigados que influenciam o sucesso ou não do produto desenvolvido Sabendo da importância estratégica do processo de desenvolvimento de produto para a competitividade das empresas, ressalta a relevância do gerenciamento deste processo, no sentido de se criar um novo produto ou melhorar um já existente, atendendo às expectativas dos consumidores em termos de: qualidade total do produto - garantir que o produto satisfaça as necessidades do mercado; tempo de lançamento (time to market) desenvolvê-lo no tempo esperado pelo mercado; custo de desenvolvimento - desenvolver o produto a um custo aceitável; manufaturabilidade do produto - assegurar a facilidade de produzi-lo, atendendo as restrições do processo produtivo da empresa e considerando as possibilidades presentes. PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS De uma maneira geral, as etapas do desenvolvimento de produto, são: geração do conceito, planejamento do produto, engenharia do produto, engenharia do processo e produção piloto. O DP pode ser visto como um processo, o que significa realizar todas as atividades buscando atender às necessidades dos clientes desde a geração do conceito até a obsolescência do produto. Os projetos de desenvolvimento, tanto de produto quanto de processo, são classificados em diferentes tipos. Os projetos associam-se ao grau de mudança do produto ou processo. A Figura 19 (a) e (b) ilustra que o grau de mudança de produto e o grau de mudança em processos de manufatura podem ser combinados para definir os vários tipos de desenvolvimento de projetos 26 a) Projetos Incrementais e Derivativos – Realizam-se pequenas alterações para melhoria dos produtos ou processos, utilizando-se tecnologias dominadas. São projetos que criam produtos e processos que são derivativos, híbridos ou intensificados, podendo incluir mudanças de produto incremental com pouca ou nenhuma mudança de projeto, mudanças no processo de manufatura incremental com pouca ou nenhuma mudança de produto, e mudanças incrementais tanto em processo quanto em produto. Estes projetos requerem substancialmente menos recursos que projetos de ruptura porque eles reproduzem novos produtos e processos pela extensão de sua aplicabilidade. b) Projetos de Novas Gerações ou Plataforma – melhora-se a qualidade e desempenho de famílias de produtos/processos, com novas soluções e conceitos. Este tipo de projeto se localiza entre projetos derivativos e projetos ruptura e envolve mudanças significativas na dimensão do processo de manufatura, na dimensão do produto ou em ambos. Eles fornecem uma base para um produto ou para uma família de processos que podem ser muito utilizados e que requer maior dispêndio de recursos que os projetos derivativos ou incrementais. c) Projetos Radicais ou de Ruptura– redefinição completa da linha de produto e processos, através de mudanças significativas, possibilita-se a exploração de novos nichos de mercado. São projetos que envolvem mudança significativa no produto ou processo, podendo criar uma nova categoria de produto para o negócio ou uma nova visão de negócio. O foco deste tipo de projeto é o produto porque este representa uma nova aplicação ou função e depende do sucesso na atratividade e satisfação com os novos clientes. Porém, projetos de ruptura envolvem um significante desenvolvimento de processo, pois este é considerado crítico para o sucesso do produto. d) Projetos de Desenvolvimento Avançado - resultantes da pesquisa básica e aplicada, implica-se na aquisição de novos conhecimentos e competências técnicas; e) Projetos em Parceria ou Aliança – Uma organização pode formar uma aliança ou criar uma parceria com outra organização para conduzir pesquisa ou desenvolvimento avançado, para desenvolver um novo conceito de produto ou para desenvolver uma extensão simples. Em anos recentes, empresas têm usado projetos de parceria para se adequar quando seus próprios recursos não foram liberados para um resultado de desenvolvimento requerido ou quando oportunidades estratégicas são identificadas por outras empresas e a realização de um novo produto ou processo é menos caro ou mais rápido que a duplicação de trabalho dentro da empresa. Desenvolvem-se os projetos anteriores com a participação de integrantes externos à empresa, tais como: fornecedores ou universidades Figura 20 (a) - Tipos de projetos de produto 27 Figura 20 (b) COMENTÁRIOS FINAIS O dinamismo do ambiente competitivo, das exigências dos consumidores, e mesmo das normas e regulamentações, impõe às empresas pressões para melhoria constante da qualidade dos produtos existentes. Assim, a capacidade para conseguir manter os produtos atualizados, frente às exigências do ambiente econômico e tecnológico, tem-se tornado uma importante fonte de vantagem competitiva. O desempenho nessa área depende da capacidade das empresas para gerir o processo de desenvolvimento e de aperfeiçoamento dos produtos e interagir com o mercado e com as fontes de inovação tecnológica. O conceito de mudança da qualidade de produto, deriva do conceito de inovação tecnológica. Essa mudança se dá em parâmetros e dimensões que compõem a qualidade total do produto, e representa modificações que aumentam o seu valor. O lançamento de novos produtos e a melhoria da qualidade dos produtos existentes são duas questões de grande relevância para a capacidade competitiva das empresas. Ambos compõem o que normalmente se chama de Desenvolvimento de Produto. Assim, o desenvolvimento eficaz de novos produtos tem-se tornado uma dimensão crítica da competição industrial e uma importante fonte de vantagem competitiva. As exigências de que os novos produtos devem ser lançados a intervalos cada vez menores e que os produtos existentes devem ser aperfeiçoados constantemente, impõem que as empresas estejam preparadas para o desenvolvimento dessas mudanças. A formulação de uma estratégia na área leva não só a um ritmo mais 28 intenso de mudanças, mas, se adequada, leva à adoção de mudanças mais eficazes e mais apropriadas ao ambiente. A habilidade de colocar no mercado produtos inovadores e de alta qualidade tem rapidamente se tornado fato condicionante para o aumento da competitividade e do sucesso de uma empresa. Sempre que inova, buscam-se novas tecnologias de processamento e de matéria-prima, isso é condicionante ao mercado Produtos são amplamente definidos como qualquer coisa oferecida para a atenção, aquisição, uso de consumo que seja capaz de satisfazer necessidades. Um novo produto é qualquer coisa percebida como novo incluindo uma invenção ou inovação principal ou secundária. Também é um objeto concebido, produzido industrialmente com determinadas características e funções, comercializado e usado de modo a satisfazer as necessidades ou desejos de pessoas ou organizações. Um problema, ao ser detectado, desperta o desenvolvimento de um novo produto, pois a essência do problema é a necessidade A maioria dos produtos de sucesso resulta de uma compreensão de como o produto, será utilizado, por quem e em que tipo de clima competitivo, econômico, tecnológico, cultural e político. Em termos de modo ou método de desenvolvimento de produtos, temos duas vertentes : uma visão mais generalista ou tradicional e uma abordagem tecnicista ou empresarial.. Os procedimentos tradicionais para o desenvolvimento de produtos envolvem seis etapas: 1) desenvolvimento de novas idéias para um produto através de discussão em grupos, planejado de sessões de invenção; 2) avaliação da variedade de novas idéias por diferentes conceitos entre amplo número de consumidores; 3) selecionar o produto ideal que é mais atrativo para o consumidor e desenvolver protótipos para personificar a idéia, testar o produto através de um grupo, por meio de um teste de escala para obter uma orientação, testar um ou alguns preconceitos e obter uma informação direcional; 4) refinar e reavaliar o consumidor e determinar qual a formulação ou processo para mudar e melhorar a aceitabilidade; 5) testar o produto acabado com o conceito entre um amplo número de consumidores, se o produto não passar bem nesta etapa, este deve retornar a pesquisa e desenvolvimento e retornar a este estágio para outro teste confirmatório; 6) teste simulador de mercado. Do ponto de vista da empresa, o desenvolvimento de um novo produto, no sentido amplo pode ser classificado em quatro categorias: 1) extensão de linha de produtos existentes: fortalecimento de uma linha de produtos, melhoria da qualidade, redução de custos etc.; 2) uso de materiais, tecnologia e equipamentos existentes para desenvolver produtos com novas aplicações; 3) desenvolvimento de produtos que utilizam os mesmos canais de venda e distribuição que os produtos existentes; 4) desenvolvimento de novos produtos que não têm qualquer conexão com os produtos existentes. 29 BIBLIOGRAFIA (1) BAPTÍSTA, A. L. B. - O desenvolvimento de produto fundido como fator estratégico para a criação de vantagem competitiva na indústria de petróleo e gás: estudo de caso dos tubos centrifugados de aço inoxidável duplex. Projeto de Pesquisa de Conclusão de Curso de Graduação em Administração com Especialização em Gestão de Ciência e Tecnologia/Pesquisa e Desenvolvimento. Volta Redonda, 2011. (2) BAPTÍSTA, A. L. B. e GONÇALVES, I. S. - A logística como ferramenta estratégica e de vantagem competitiva para fabricação de produtos ecologicamente corretos e sustentáveis "verdes": o caso da produção de tubos de aço empregados na industria de óleo e gás. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação Lato Senso. MBA com ênfase em Logística Empresarial, como requisito parcial da obtenção do título de especialista. Volta Redonda, 2013. 30