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As Cidades: Uma Breve Análise Sobre Seu Surgimento, Tipologias E Sustentabilidade...

O presente artigo analisa o surgimento das cidades, as tipologias e características que ao longo dos anos se desenvolveram até a formação dos grandes centros urbanos que se solidificaram no avançar do século XX. Analisa também pontos positivos e negativos dessas cidades e as propostas que surgem com o crescer dos ideais e conceitos sobre a sustentabilidade no meio ambiente urbano.

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As cidades: uma breve análise sobre seu surgimento, tipologias e sustentabilidade no meio ambiente urbano. Laís Faustino Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins/UFT. Resumo O presente artigo analisa o surgimento das cidades, as tipologias e características que ao longo dos anos se desenvolveram até a formação dos grandes centros urbanos que se solidificaram no avançar do século XX. Analisa também pontos positivos e negativos dessas cidades e as propostas que surgem com o crescer dos ideais e conceitos sobre a sustentabilidade no meio ambiente urbano. Abstract This article examines the emergence of cities, the types and characteristics that over the years have developed until the formation of large urban centers that were solidified in advance of the twentieth century. It also analyzes strengths and weaknesses of these cities and the proposals that emerge with the rise of the ideals and concepts of sustainability in the urban environment. 1. INTRODUÇÃO O artigo visa destacar as características das primeiras cidades, considerando as principais características destas na antiguidade, bem como seu contexto histórico. Ressaltam-se, também as formações urbanas na idade média, tendo em vista as influências religiosas na forma urbana. As grandes transformações ocorridas, a partir da sedentarização do homem levaram à estruturação de um novo modo de vida e a organização do território a ser ocupado. A produção agrícola e a domesticação de animais forneceram a base para a construção de abrigos permanentes, o modo de viver em sociedade e por decorrência, para o surgimento da cidade. Destacam-se ao longo da história diferentes estágios relacionados a formações urbanas, os quais serão abordados, de forma geral, no decorrer deste trabalho. De modo mais específico discorrer-se-á sobre o contexto da cidade colonial no Brasil, o traçado urbano colonial e a influencia religiosa imposta por este, bem como os novos conceitos adquiridos pelas cidades no inicio dos séculos XX e XXI. A presente abordagem visa demonstrar a apropriação de conhecimentos relacionados ao tema em foco, a partir da pesquisa em obras de autores que tratam de áreas do conhecimento que vão desde os aspectos arquitetônicos, urbanísticos até a análise de dados históricos relacionados. Foram levantadas informações em fontes bibliográficas sobre o tema em estudo, as quais fundamentam a breve evolução histórica das cidades, de modo geral, caracterizando as cidades na antiguidade e, de modo especifico com enfoque para a caracterização das cidades, da colonização até a atualidade. 2. As Primeiras Cidades As primeiras cidades conhecidas apareceram na Mesopotâmia. Tais cidades, como Ur que era localizada a 160 km da Babilônia, nas margens do Rio Eufrates, teriam existido há aproximadamente cinco mil anos. Essas cidades, nada mais eram do que berço de civilizações que se ocupavam, de forma mais especifica, com o comércio e o estoque de alimentos. “A cidade foi se tornando o espaço perfeito não somente para trocas, atividades sociais, artísticas e religiosas, mas como um instrumento de controle social sem paralelo na história da humanidade” Luiz Alberto Gouvêa, pg 25, 2008.(Cidade Vida) Com o desenvolvimento do espaço habitado em sociedade, passaram a exitir, como em qualquer grupo social, os lideres, uma espécie de poder centralizado com a competencia para governar a cidade. “As cidades passaram também a necessitar de proteção, agora não mais contra os grandes animais, mas contra o próprio homem. Há cerca de 3.000 anos, na Ásia ocidental (Ur), e provavelmente antes na China, os espaços foram organizados sem prescindir dos muros (muralhas)”. Luiz Alberto Gouvêa, pg 23, 2008.(Cidade Vida) A cidade passou, então, a assumir uma definição de área urbanizada, que se diferenciava das vilas e de outras entidades urbanas através de vários critérios, como população, densidade populacional e estatuto legal, embora a clara definição desse termo1 assumiu variações, passando esta a depender do contexto da legislação local. Pesquisas arqueológicas revelaram a descoberta de cidades que surgiram há mais de 9000 anos, como a antiga Jericó, que teria existido nos arredores da Jericó contemporânea - o triplo da idade de Roma – e que em cujos arredores foram encontrados resquícios de muros da homônima cidade da antiguidade. Essa informação vem contrariar a teoria de que as primeiras cidades do mundo teriam surgido na Suméria. 2.1 Cidades na Antiguidade A partir da sedentarização do homem, o que culminou com a formação das primeiras cidades e da estruturação destas no período da antiguidade, esses centros urbanos foi se consolidando e construindo identidade e características próprias, assumindo papéis importantes ao longo da história. A antiga Roma, por exemplo, após ter sofrido um longo período com as invasões bárbaras e, logo após ter sido palco de grandes batalhas pela fixação do império romano, tornou-se um grande exemplo, tanto pelas grandes obras arquitetônicas como os espaços urbanos planejados. Figura 1: Esquemas das Cidades na Antiguidade. Fonte: Wikipédia, 2010. 1 O termo "cidade" é geralmente utilizado para designar uma dada entidade político-administrativa urbanizada. Em muitos casos, porém, a palavra "cidade" é também usada para descrever uma área de urbanização contígua (que pode abranger diversas entidades administrativas). Nas cidades romanas o traçado das ruas era, com freqüência, xadrez – regular, portanto - formando quarteirões regulares com duas vias principais a partir da porta da cidade, cortando-a de fora a fora, uma de norte a sul e a outra de lesta a oeste cruzando-se em uma grande praça. “As cidades Sumerianas, no início do II milênio a.C. já são muito grandes - Ur, mede cerca de 100 hectares e abrigam várias dezenas de milhares de habitantes. São circundadas por um muro e um fosse, que as defendem e que, pela primeira vez excludem o ambiente aberto natural do ambiente fechado pela cidade...”. Leonardo Benévolo, pg 23, 2009 (História da Cidade) O que comandava o traçado das antigas cidades eram as ruas, diferentemente das cidades que sofreram influencias da dominação mulçumana na península ibérica, que o traçado urbano era comandado pelas casas. 3. Formações Urbanas na Idade Média O período medieval Europeu corresponde a um crescimento urbano elevado durante o qual se forma a maioria das aglomerações modernas. Essas cidades apresentam uma total ruptura com os traçados das cidades antigas romanas e vão adquirindo subúrbios, que se formaram nos arredores destas, que surgiram espontaneamente a partir de castelos ou monastérios medievais. A disposição e o desenho das ruas são os mais irregulares, tanto pela influência do sítio quanto em razão dos antigos caminhos e trilhas rurais que se transformaram em ruas. Até o século XII, o nascimento e o crescimento das cidades se efetuam segundo dois grandes processos: desenvolvimento linear ao longo de uma estrada ou de um rio e da atração por um núcleo urbano ou por um edifício imponente (castelo, monastério, igreja, etc...). Figura 2: Esquemas de Cidades no período medieval. Fonte: Wikipédia, 2010. Desde a metade do século XII observa-se à volta aos traçados ortogonais. Montauban, uma cidade fundada na idade média foi um exemplo da utilização dessa forma. O emprego de planos ortogonais é encontrado tanto na Itália quando na Europa Central. Ele caracteriza o final da Idade Média, sem que se tenha, entretanto cessado de criar cidades ao longo de ruas ou burgos aglomerados ao redor de suas igrejas. A cidade medieval agressora ou agredida deve estar sempre em condições de garantir sua segurança. Ela é fechada por muros, e dentro dessas muralhas encontram-se granjas, jardins, vinhas, campos cultiváveis e verdadeiros rebanhos, além de um grande contingente populacional. A presença de espaços livres no interior dessas cidades constituiu o principal problema das cidades na idade média, pois estas não possuíam esgoto, sendo o escoamento das águas feito por valas no meio das ruas, em céu aberto. As ruas medievais variavam extremamente sendo elas em geral, tortuosas e estreitas nas cidades mais antigas, podendo ser afirmado que as maiorias das grandes cidades dessa época possuíam pavimentação. A praça principal é a do mercado, sendo ela às vezes um simples alargamento da rua ou às vezes um vasto espaço. Essas praças eram, geralmente, contornadas de casas. 3.1 As Cidades Cristãs Medievais A cidade cristã da idade média ainda que não tenha tido a regularidade das cidades romanas, já não era tão irregular, tão informal quanto as cidades mulçumanas ou, pelo menos, já não tinham aqueles dédalos de vielas em tortuosidades e ziguezagues que desnorteiam o visitante, ao invés disso, procura destacar os quarteirões e diminuir o número de becos sem saídas ou reprimidos. Essas cidades se desenvolveram às margens dos caminhos, das rotas propriamente ditas. A via inicial destas é a própria entrada, ao longo da qual vão ser agrupando as casas, resultando em uma cidade longilínea. Algumas delas, com o passar do tempo tiveram essas vias alargadas, tomando uma forma mais concentrada, na qual essa via principal se agregou às ruas paralelas, como é o caso de Paris. “De fato, o plano de Paris serviu de exemplo para todo o mundo de como resolver os problemas de saneamento e, ao mesmo tempo, organizar o tecido urbano, visando controlar a população. Haussmann, em seu plano, alargou e tornou retilíneas as estreitas ruas da Paris medieval, criando bulevares e levando infra-estrutura às novas vias. È importante destacar que era na estreiteza das ruas que residia a principal arma da população para contestar o regime... O novo desenho implantado não só dificultava o ataque de indivíduos, como também possibilitava a ação dos carros de combate. No caso de Paris, as vias principais foram, inclusive, ligadas aos quartéis, o que tornava mais rápida a ação da repressão”. Luiz Alberto Gouvêa, pg 26, 2008.(Cidade Vida) Quase todas essas cidades eram cercadas de muralhas, muralhas estas, que em alguns casos, pertenciam a épocas distintas, a atestarem a presença do romano, do visigodo, do mulçumano e do cristão. O caráter militar das povoações era predominante que além de permanecer à sombra dos fortes, muitas vezes faziam parte deles, como é o caso do Castelo de Flor da Rosa, situado em uma província portuguesa, fundado no século XIV. As configurações do terreno influenciavam muito nos traçados urbanos dessas cidades, configurando as zonas povoadas por pessoas economicamente mais e menos abastadas, como é o caso da cidade de Salvador, que herdou um pouco deste sistema urbano medieval. O acidentado do solo obrigou as sinuosas ladeiras e determinou a divisão da cidade em cidade alta e cidade baixa, obrigando também a forma irregular das ruas e quarteirões. Além dessa configuração determinada pelo terreno, algumas cidades utilizavam os altos dos morros para se defenderem de ataques externos, o que ocorria com freqüência. Neste período a comunicação entre os habitantes também era favorecida intramuros, como extramuros. Já na idade média européia houve a predominância do sacerdote, e a cidade adaptou a sua forma para esta nova realidade, com a igreja já dominando a paisagem ““. Luiz Alberto Gouvêa, pg 26, 2008.(Cidade Vida) 4. A Cidade Colonial no Brasil O início da colonização do Brasil efetivou-se no século XVI, acampamentos se implantaram em algumas regiões do litoral brasileiro se estendendo de Nordeste à Sudeste do País, com um comércio voltado para as exportações de matérias-primas que a colônia fornecia, tais como a cana de açúcar, o pau Brasil e em segundo estágio, a exportação de minérios preciosos. A exportação se fazia através de portos criados pelos colonos, que até os dias atuais, mantém significativa importância no cenário nacional de exportações, como é o caso do Porto de Santos, fundado pelos Portugueses em meados do século XIX. “Nessa época, as cidades estavam muito voltadas para as atividades do campo, e a vida fora da área do porto resumia-se praticamente às atividades paroquianas. A Igreja Católica aparecia nas cidades, localizadas sempre em pontos estratégicos como marco visual urbano importante”. Luiz Alberto Gouvêa, pg 31, 2008.(Cidade Vida) Nesse período as cidades se formavam espontaneamente, sofrendo fortes influencias da economia agropecuária, até então a principal atividade econômica da Colônia, e logo após pela influencia da Mineração. Essas cidades foram se formando a partir de cenários que favoreciam, principalmente, o comércio local. A Igreja Católica também influenciou de forma significativa na configuração dos centros urbanos coloniais, se posicionando na maioria dos casos, em localização estratégica nas cidades, como é o caso da Matriz Nossa Senhora de Nazaré2, localizada em um dos pontos principais da cidade mineira de Ouro Preto. Também estão datados desse período, séculos XVI e XVII, a construção de fortes em lugares estratégicos da costa brasileira, com a principal finalidade de proteger a colônia de possíveis invasores e fazendo referencia ao autor Luiz Alberto Gouvêa, juntamente com os fortes, a Igreja marcava a paisagem colonial brasileira. 4.1 Traçados Urbanos Colonial A primeira rede de cidades, no entanto, somente aconteceu no final do século XVII, em Minas Gerais, com a descoberta do ouro no interior do País. As formações desses núcleos urbanos foram surgindo de forma espontânea, sendo 2 É uma preciosidade da primeira fase do barroco, uma verdadeira jóia. Foi palco de importantes fatos históricos: a sagração de Manuel Nunes como governador na Guerra dos Emboabas (1709) e a prisão de Felipe dos Santos (1720). A primitiva ermida data de 1700. A construção atual foi concluída por volta de 1725. A ornamentação interna levou mais tempo. O altar de N.SRA. do Rosário é de Manuel de Mattos. Em 1734, foi realizado o douramento por Manuel de Souza e Silva. Em 1755 a pintura do teto da capela-mor foi elaborada por Antônio Rodrigues Bello, com um estilo que inaugurou em Minas a pintura em perspectiva. O impressionante altar-mor abriga a valiosa imagem de N.SRA. de Nazaré, vinda de Braga (Portugal) no começo do séc.XVIII. chamado pelo autor Paulo Santos3, de “cidades naturais” e desenvolveu-se, tipicamente nas cidades coloniais, um traçado de malhas em xadrez e em malha irregular, que podem ser encontrados atualmente, nas cidades que preservaram suas origens coloniais, como é o caso da cidade de Pirenópolis (foto abaixo), situada a leste do Estado de Goiás. Figura 3. Fonte:Luiz Alberto Gouvêa, pg 118, 2008.(Cidade Vida) O traçado colonial no Brasil pode ser caracterizado pela malha irregular, que desenhou boa parte das cidades nesse período. “Na planta das cidades brasileiras desde período colonial até o século XX era basicamente definida pelos traçados espontâneos e variações de malha xadrez, esta muito empregada pelos espanhóis na América. No Brasil, no entanto, o desenho da cidade não era totalmente esquematizado como as Cartas das Índias, utilizadas pelos espanhóis. As Cartas Régias portuguesas definiam algumas normas básicas a serem seguidas, como o alinhamento das edificações, e traziam a localização de alguns equipamentos públicos. Por outro lado, o relevo, particularmente nas áreas de mineração, desenhava, com suas mazelas, o melhor do perfil das ruas”. Luiz Alberto Gouvêa, pg 32, 2008.(Cidade Vida) As cidades do chamado ciclo do ouro, em Minas Gerais e Goiás são bons exemplos desses traçados. A deficiência encontrada nesse tipo de traçado, o de malha irregular, é a dificuldade de adequação às necessidades da contemporânea, que é, por 3 Formação de Cidades, no Brasil colonial. 1. Ed. Rio de Janeiro, 2001. exemplo, o aumento significativo do fluxo de veículos, a colocação de redes de infra-estrutura e dos altos custos de implantação e manutenção. A malha em xadrez (foto abaixo), que outro tipo de traçado existente na tipologia das cidades coloniais, é um traçado mais antigo, com origens gregas e romanas. No Brasil o traçado xadrez concorreu com a malha irregular colonial na estruturação do sistema viário das cidades até o século XX. Figura 4. Fonte: Luiz Alberto Gouvêa, pg 117, 2008.(Cidade Vida) A vantagem principal desse traçado é a flexibilidade que ele proporciona ao facilitar a acomodação dos novos fluxos de veículos e também tem bom desempenho funcional para o escoamento do tráfego e do ar poluído das vias centrais. Porém sua deficiência se mostra nas áreas acidentadas e/ou de solos frágeis, que têm maior tendência a sofrer com as erosões dos solos. Pode-se inferir que os principais tipos de traçados urbanos que predominaram no período em que o Brasil esteve sob jugo da coroa portuguesa são os traçados inteiramente irregulares, que tem como exemplo a antiga Vila de boa de Goiás e o traçado de relativa regularidade, que tem, também, como exemplo as antigas Vilas de Cuiabá e de Manaus. 5. As Cidades nos Séculos XX e XXI Com o passar dos anos no século XX, as novas atividades urbanas, em particular o tráfego de veículos, começam a criar vários tipos de problemas nas cidades tradicionais. Com os surtos e as epidemias, os governantes viam a necessidade de mudança, a começar com a organização das cidades. Com o exemplo de Ouro Preto, a primeira capital do Estado de Minas Gerais, evidencia-se a existência de uma grande necessidade de mudanças na forma de organizar o espaço urbano para as transformações do século XX. Algumas cidades, em meados do século XX, já assimilavam intervenções modernizadoras em sua infra-estrutura, se baseando nos modelos das metrópoles européias. Cidades com o Rio de Janeiro, Manaus e Recife contrataram empresas que prestou serviços de drenagem, abastecimento de água e esgotos urbanos. A adaptação dessas cidades ao novo modo de desenvolvimento adotado pela sociedade, em termos de infra-estrutura técnicas nas cidades consolidadas, configurou medidas que não necessariamente anunciaram a reordenação do tecido urbano, mas acima de tudo, foi feita uma reorganização dos espaços físicos herdados da cidade colonial. A implantação desses melhoramentos apenas complementou a estrutura existente, com poucas modificações. “O sentido de intervenção urbana como produto de uma elaboração ideológica não derivava dos processos de saneamento urbanos desenvolvidos no século XIX, mas adquiria nova condição – como visão racionalizadora integrada de interferência na cidade, numa lógica de modernização das estruturas urbanas – com a codificação de uma disciplina específica: o Urbanismo”. Hugo Segawa, pg. 19, 2002. (Arquiteturas no Brasil 1900 - 1990). De acordo com o autor, Hugo Segawa4, podem-se eleger, simbolicamente quatro eventos representativos na forma de modernização urbana no Brasil, na passagem, do século XIX para o século XX no Brasil. O primeiro evento é a transferência da capital do Estado de Minas Gerais de Ouro Preto para a recém planejada, Belo Horizonte. O segundo é a intervenção urbanística feita na cidade do Rio de Janeiro pelo prefeito Francisco Pereira Passo (1836 – 1913) que a partir de 1904, 4 Arquiteturas no Brasil 1900 1990. 2 . Ed. São Paulo, 2002. proporcionou a criação de novos eixos viários, a uniformização das fachadas dessas avenidas e a implantação de parques públicos mediante a remodelação do tecido urbano colonial da cidade. O terceiro evento não é especificamente umas, mas várias intervenções urbanísticas realizadas nesse período. Na maioria dos casos de intervenções urbanísticas que ocorreram no fim do século XIX e inicio do século XX, essas foram iniciativas que partiram das necessidades que vinham surgindo de adequação dos espaços urbanos aos meios de utilização feita pela sociedade. Embasados em conceitos Europeus de planejamento, os governantes brasileiros tiveram iniciativas de saneamento físico e social e de “embelezamento” da cidade, tentando conciliar a erradicação das epidemias que varreram a cidade ao longo do século XIX, afastar a população pobre dos setores estratégicos para a expansão urbana e conferir à paisagem uma estética arquitetônica de padrão europeu. “As primeiras suas décadas do século XX testemunharam transformações nas cidades brasileiras numa escala e num ritmo até então sem precedentes: altas taxas de crescimento populacional nas principais capitais pressionavam demanda por habitantes e serviços urbanos; a prosperidade proporcionada pelo café trazia benéficos materiais e novos padrões de consumo para alguns segmentos da população, mas a estrutura urbana, em sua maioria herdada do período colonial, não se coadunava com as expectativas de uma sociedade que se urbanizava em passo acelerado, embora sustentada por uma economia agroexportadoras de valores arraigadamente rurais. As cidades transformavam-se nas plataformas rumo ao mundo moderno, isto é, em busca de um nível de vida à maneira das grandes metrópoles européias ou norte-americanas. Alguns esforços convergiam para esse ideal”. Segawa, pg. 22, 2002. (Arquiteturas no Brasil 1900 1990). 5.1 Cidades Jardins Com o findar do século XVII e o inicio da Revolução Industrial, na Europa e nos EUA, houve um intenso deslocamento da população rural para as cidades, atraídas pelas ofertas de emprego e pela crise no setor agrícola, porém as cidades não estavam preparadas para recebê-las. As pessoas que vieram do campo, nao tinham onde morar, pois as cidades não tinham planejamento para esse grande contigente de pessoas, o que contribuiu na formação dos subúrbios e dos cortiços, que não tinham condições de higiêne, de esgoto e o abastecimento de água eram inadequados e precários. A partir desse cenário e das necessidades de mudanças para a adequação da população que as cidades estavam recebendo, foi criado por Ebenezer Howard, o conceito de Garden City (Cidade Jardim), que foi decorrente da publicação de uma de suas obras, em 1902, Garden Cities of Tomorrow (Cidadesjardim de amanhã). Desde então, seu criador, com a ajuda de dois urbanistas da época criaram a Garden City Association, dando então segmento e colocando em prática sua teria. A idéia de comunidades-jardim era uma idéia vitoriana comum. Sua definição segundo RELPH (1990;pg.57) seria:“... uma proposta para resolver simultaneamente o congestionamento das cidades e o isolamento da vida rural, através da combinação das melhores qualidades da cidade e do campo em novas comunidades autônomas, localizadas a alguma distância das cidades existentes: 5000 para terrenos de cultivo e 1000 para a cidade. Cada cidade-jardim podia, pois, ser praticamente auto-suficiente.” Havia avenidas largas e arborizadas que conduziam a um parque central com vários acres e a edifícios públicos. As ruas residências tinham por todos os lados arvores e as casas eram de estilos variados e recuados do passeio. Nas zonas limítrofes da cidade, havia fábricas e armazéns, servidos por um circuito fechado ferroviário. A idéia era que as cidades tivessem um numero limite de habitantes, não passando de 32.000 mil, quando isso acontecesse seria necessário o desenvolvimento de uma nova cidade-jardim noutro lugar e assim sucessivamente, até que os modelos inteiros das cidades existentes fossem reconstruídos. Figura 5: Esquema da Cidade – Jardim de Ebenezer Howard. Fonte: http//google.com Duas cidades inglesas servem de exemplos das Cidades-jardim de Ebenezer, sendo elas Welwyn e Letchworth, que foram planejadas pela Garden City Association. No Brasil, a cidade que teve planejamento embasado nessa teoria de cidade-jardim é a cidade de Goiânia (foto abaixo), capital do Estado de Goiás. Attílio Corrêa e Lima na década de 30 planejou a cidade de Goiânia com os mesmos fundamentos utilizados por Horward, no planejamento das cidades de Welwyn e Letchworth. Com efeito, no caso especifico da Goiânia, a zona residencial com ruas sinuosas e acompanhando a declividade do terreno e com um traçado que sugere a intensa arborização são critérios de desenho urbano extremamente interessante não para regiões planas e de clima frio, como as cidades inglesas, mas para regiões de clima tropical de planalto com forte incidência solar, como é o caso de Goiânia. Os traçados cidades-jardim também foram largamente aplicados na construção de bairros de alta renda em várias cidades brasileiras.” Luiz Alberto Gouvêa, pg 35, 2008.(Cidade Vida) Figura 6. Fonte: Luiz Alberto Gouvêa, pg 119, 2008.(Cidade Vida) O conceito de malha de cidade jardim veio para o Brasil junto com o conceito criado por Howard, das cidades-jardim inglesas. Aliada as malhas de cidades-jardim, tinha-se a opção de integrá-la com a malha xadrez, que são flexíveis para enfrentar o problema do aumento de veículos automotores. Sendo Goiânia um bom exemplo de cidades-jardim, tem como pontos positivos a funcionalidade e a possibilidade de gerar baixos impactos ambientais e tem como pontos negativos os altos custos de implantação, principalmente em virtude da sinuosidade do sistema viário. É um traçado que favoreceu o plantio de vegetação arbórea em toda malha, em particular nas calçadas, fato que, de acordo com o autor Luiz Alberto Gouvêa5 tem grande importância em regiões de clima tropical. 5 Cidade Vida. 1. Ed. Nobel. São Paulo, 2008. 5.2 Cidades Modernistas A partir da década de 20 surgiam no contexto nacional e internacional correntes filosóficas que pregavam a ruptura com os antigos modelos neocoloniais de produção. Lembrando que, as correntes filosóficas de Urbanismo surgiram no pós Revolução Industrial, que, com a super lotação dos centros urbanos, se viu a necessidade de ter espaços planejados para abrigar com qualidade e infra estrutura urbana adequada, a população que nas cidades moravam. Nos campos da Arquitetura e do Urbanismo estavam sendo difundidos os conceitos de criações modernas, que a partir da metade da década de 1930, os arquitetos e urbanistas da época se inspiraram nas idéias propostas no primeiro congresso de arquitetura moderna, o CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), realizado no ano de 1928. Mais tarde, em 1933 foi realizado outro CIAM, na Grécia, onde foi criada a Carta de Atenas, escrita por Lê Corbusier, que passou a nortear as novas propostas de desenho urbano no Brasil e no Mundo. Um dos eventos que marcaram o início e a consolidação da Arquitetura Moderna Brasileira foi à construção do Ministério da Educação e Cultura (19371943), localizado no Rio de Janeiro, projetado por uma equipe composta por Lucio Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira, com a consultoria do arquiteto franco-suíço Lê Corbusier, depois foram as propostas do parque de Guinle da Pampulha (19421944), localizado em Belo Horizonte e finalmente a construção de Brasília. Essas foram as idéias que marcaram a Arquitetura racionalista, vertente do Movimento Moderno, que pregava a racionalização das ações na construção, separando e setorizando as atividades urbanas. Esse modelo de planejar espaços urbanos vizavam, com é o caso da cidade de Brasília, minimizar problemas como o do tráfego de veículos, abolir ornamentação, modular o processo construtivo aplicando materiais industrializados, com a finalidade de adaptar a construção de edifícios e cidades à industrias. “ Brasília, embora não tenha sido planejada para abrigar grandes parques industriais, se constituiu com o modelo mais completo das propostas modernistas, sendo inclusives tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, basicamente por ser o exemplo acabado e vivo do urbanismo moderno.” Luiz Alberto Gouvêa, pg 36, 2008.(Cidade Vida) Se por um lado tal traçado minimiza problemas de tráfego, por outro cria uma malha com alto custo e pouco sustentável econômica e socialmente, que apesar de bem equipada fica ociosa durante praticamente todo o horário noturno, nos fins de semana e feriados, que no caso de Brasília contrasta com as faltas de equipamentos das cidades-satélites. “A rigor, a cidade bem equipada coincide espacialmente com o local em que se instalou o poder central, enquanto as cidades-satélites, como o próprio nome denota, gravitam em torno do Plano Piloto, existindo entre estes núcleos extensos com espaços praticamente vazios, que funcionaram nos últimos 40 anos como “ grandes muralhas horizontais”, que tanto do ponto de vista visual, simbólico, como funcional, dificultaram o acesso do trabalhador às áreas do centro do poder, caracterizando ideologicamente a segregação social aqui referida.” Luiz Alberto Gouvêa, pg 38, 2008.(Cidade Vida) 5.3 Sustentabilidade no meio urbano Como foi visto em capítulos anteriores, foi no século XX que no Brasil, o desenvolvimento econômico foi impulsionado pelo setor automobilístico e as cidades se tornaram grandes centros urbanos com maior contingente populacional. A cidade moderna torna-se um pólo concentrador de comércio, serviços e informações, passando assim, a ser o principal espaço de consumo e circulação de riquezas produzidas no campo e na própria cidade. E sobrevivendo às problemáticas dessas cidades, foi que em frente ás necessidades de uma readequação dos hábitos dos moradores e de uma maior qualidade de vida nas grandes cidades, é que emergiu os novos conceitos sustentabilidade aplicados ao urbanismo contemporâneo. Em 1992, a Conferencia Rio-92 produziu um documento chamado Agenda 21, que selava a indissociabilidade do desenvolvimento econômico em relação à conservação do meio ambiente. Surgindo assim, o conceito de sustentabilidade no ambiente urbano ou de Cidade Sustentável. No ano 2000, surge um documento elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, chamado de “Cidades” onde estão destacados seis temas que se referem à incorporação da dimensão ambiental às políticas públicas. Os temas centrais são: 1. Agricultura Sustentável 2. Cidade Sustentável 3. Infra-estrutura e integração regional 4. Gestão de recursos naturais 5. Redução das desigualdades sociais 6. Tecnologias para o desenvolvimento sustentável A partir dessas diretrizes iniciais traçadas é que se pode conceber um ambiente urbano mais agradável e integrado à natureza que o envolve, sem tamanhos estragos. “Uma cidade sustentável depende da capacidade de reorganizar os espaços, gerir novas economias externas, eliminar as deseconomias de aglomerações, melhorar a qualidade de vida das populações e superar as desigualdades socioeconômica para o crescimento econômico” Eduardo Alva, 1997. Novas práticas dentro do urbanismo estão surgindo para conter o adensamento populacional, o tráfego intenso dos carros que provocam engarrafamentos. E no ramo da arquitetura, as tecnologias alternativas de construção entram e desempenham papel fundamental na estruturação, adequação e realização de edificações que podem ser assim denominadas, sustentáveis. Figuras 7e 8: Fonte: http://www.revistaau.com.br Pode-se assim dizer que a criação de cidades sustentáveis demanda mudanças estruturais e grande articulação entre governantes e cidadãos envolvidos no contexto dessas cidades. Plano traçado para esses ambientes urbanos favorece o surgimento de novo modo de concepção de projetos de execução de obras que aliados ao meio ambiente bem conservado, faz da cidade, um espaços melhor para habitar e conviver em sociedade. 6. Inferências Através de estudos voltados para a estruturação das cidades, desde suas origens até os dias atuais, pode ser feita uma analise voltada para a qualidade de vida dos cidadãos, conseguindo indicar também algumas das características estruturais nas cidades, alguns dos seus problemas e os desafios que foram e devem ser enfrentados para tentar resolve-los. Visto que, com o surgimento dos novos conceitos que servem para arquitetura e para o urbanismo, surgem também idéias que, com o desenvolvimento das tecnologias, torna-se possível uma melhora significativa da qualidade na vida urbana, sendo esta tendência para as futuras gerações, que com o as idéias sustentáveis é torna-se mais saudável e humano integrar homem e meio ambiente, sendo esta notável forma de se viver melhor e de forma mais justa em comunidade. Referencia Bibliográfica BENEVOLO, Leonardo. A História da cidade. 4. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2009. GOUVÊA, Luiz Alberto. Cidade vida. 1. Ed. São Paulo: Nobel, 2008. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900 1990. 2 . Ed. São Paulo, 2002. RELPH, Edward. A paisagem urbana moderna. 70. Ed. LDA, 1990. SITES: http://vitruvius.com.br (acesso em 26 de junho de 2010) http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/176/imprime116364.asp (acesso em 26 de junho de 2010)