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Artigo Para Crescimento E Potencial Genético

Potencial genético

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MANEJO NUTRICIONAL E ALIMENTAÇÃO NAS FASES DE RECRIA E TERMINAÇÃO DE SUÍNOS 1 1 Eduardo Terra Nogueira , Alexandre de Oliveira Teixeira , 2 2 Júlio Maria Ribeiro Pupa e Darci Clementino Lopes Departamento de Zootecnia Universidade Federal de Viçosa 36.570-001 – Viçosa – MG 1. Introdução No Brasil, a melhoria genética dos planteis provocou uma revisão nos níveis nutricionais e no manejo da alimentação, adaptando-os a nova realidade da produção e do mercado, refletindo-se na qualidade do produto final. A sanidade dos rebanhos também melhorou, motivada não só por sua influência sobre a produtividade, mas também pela responsabilização do produtor, após a implantação da tipificação, sobre problemas observados na inspeção das carcaças. Pesquisas recentes mostram que do ponto de vista nutricional o padrão de deposição de gordura e de proteína em programas de alimentação projetados para maximizar a taxa de crescimento em carne magra em suínos nas fases de crescimento e terminação podem ser afetados por vários fatores, inclusive o sexo, capacidade genética, do adequado consumo de energia (restrição alimentar), concentração de energia, nível protéico e perfil aminoacídico da ração, sistemas de alimentação, temperatura ambiental, do uso de repartidores de energia e outros agentes modificadores de carcaça na dieta. 2. Fatores que afetam o desempenho e a qualidade de carcaça de suínos O sistema de produção de suínos têm se intensificado nas últimas décadas, a fim de atender à demanda crescente de produtos pelo mercado consumidor, apresentando continua necessidade de aumentar o volume e a qualidade da produção de carnes, oferecidos ao comércio à preços competitivos. Esta necessidade leva o produtor à intensificação da produção, objetivando reduzir os custos fixos, como por exemplo com instalações com maior número de animais criados por área, através de ciclos de produção cada vez mais rápidos, submetendo os animais a vários fatores de estresse, portanto, sendo crescente a necessidade por melhor nutrição e administração da saúde. 1 2 Doutorando em Zootecnia: [email protected]; [email protected] Professores: [email protected]; [email protected] 35 Tem sido demonstrado que variações na composição de carcaça podem estar relacionadas a alterações metabólicas na partição e utilização da energia e de outros nutrientes, decorrentes de fatores como estação do ano, qualidade, quantidade e forma de fornecimento de dieta, peso e idade ao abate, entre outros. O estresse é entendido como uma reação do animal aos estímulos ou influencias adversas. Estes agentes estressores são de origem física (frio ou calor), social (alteração da hierarquia dentro de um grupo de animais pela introdução de novos animais) ou microbiológica (bactérias, vírus e parasitas). Em situações de estresse, ocorre maior síntese e secreção de esteróides e corticosteróides que afetam o estado imunitário, resultando em menor resistência às infecções, aumentando o catabolismo e interferindo com a utilização de nutrientes e síntese de tecidos. 2.1. Potencial genético Uma retrospectiva da qualidade dos suínos entregues à indústria, nos mostra que na década de 80 o percentual de carne nas carcaças girava em torno de 46,0 a 48,0% e por volta de 1995 alcançava uma média próxima de 50,0%. E a partir de 1996, têm-se observado um incremento de 1 a 1,5% de carne ao ano, atingindo no ano 2000 um percentual médio de carne nas carcaças situado entre 53,5 a 57,5% (FÁVERO 2001). A utilização de suínos híbridos comerciais, de alto potencial genético, é importante para obtenção de progênies que apresentam carcaças magras e com maior quantidade de carne. Pesquisas, como as de WAGNER et al. (1999), entre outras, relataram que suínos de diferentes sexos e provenientes de diferentes grupos genéticos não possuem as mesmas capacidades de deposição de carne e gordura, sendo que, o aumento no nível de proteína na ração acarreta maior acúmulo de tecido muscular e menor deposição de gordura na carcaça. Assim, suínos com alta taxa de ganho protéico exigem maior consumo de aminoácidos, principalmente lisina, para que possam exteriorizar todo seu potencial genético. Portanto, as diversas revisões sobre os fatores que influenciam as exigências nutricionais dos suínos, citam a genética dos animais como uma das principais fontes de variação. Contudo, a maioria das tabelas atualmente disponíveis não fazem distinção entre as genéticas existentes (raças e linhagens) e apresentam valores médios de exigências nutricionais. Entretanto, segundo MIYADA, (1996), todas as tabelas existentes podem ser utilizadas como guias, lembrando que variações relativamente amplas devem existir em razão de novas linhagens e dos híbridos comerciais, altamente especializados para a produção de carne, disponíveis aos suinocultores. Segundo PUPA et al. (2001), linhagem com alta capacidade para a síntese de tecido magro, tem maior requerimento de lisina disponível por kcal de energia digestível que linhagens de menor capacidade de deposição de tecido magro. O genótipo não só afeta a capacidade de deposição de tecido magro, mas também, tem influência na eficiência de deposição de 36 proteína e no peso vivo a que se atinge o platô de deposição de carne magra. Como exemplo temos recomendação de lisina total, digestível e % Mcal/ ED para fêmeas segundo o genótipo e a sua faixa de peso (Tabela 1). Tabela 1. Recomendação de lisina total, digestível e % Mcal/ ED para fêmeas segundo o genótipo e a sua faixa de peso. Potencial genético Baixo Médio Alto % Mcal/ ED % Lisina total % Lisina digestível Fêmeas de15 a 30 kg 0,244 0,84 0,68 0,282 1,08 0,96 0,365 1,26 1,13 Fêmeas de 30 a 60 kg % Mcal/ ED % Lisina total % Lisina digestível 0,218 0,75 0,66 0,300 1,02 0,90 0,347 1,16 1,05 Fêmeas de 60 a 100 kg % Mcal/ ED % Lisina total % Lisina digestível 0,210 0,72 0,58 0,247 0,83 0,73 0,302 1,0 0,90 Adaptado de PUPA et al. (2001). 2.2. Diferenças entre sexos Na produção de suínos, existem três grupos a serem considerados: os machos inteiros, as fêmeas e os machos castrados. Entretanto, os efeitos do sexo não estão evidenciados na primeira fase de crescimento, sendo que as principais diferenças de sexo apresentam-se próximo dos 30 kg de peso vivo e durante a fase de crescimento e terminação. As diferenças são mais marcantes, especialmente nas fêmeas que atingem o platô de sua capacidade de deposição de proteína mais cedo que os machos. Entretanto, machos inteiros apresentam maior taxa de deposição de proteína que as fêmeas, que por sua vez são superiores aos machos castrados. Logo, os machos inteiros e as fêmeas, normalmente, são mais exigentes que os machos castrados, em conseqüência da menor capacidade dos machos castrados de incorporar aminoácidos aos tecidos musculares, em virtude da ausência de hormônios sexuais. De modo geral, machos castrados ganham peso mais rápido e apresentam maior consumo que fêmeas, porém, estas ganham peso mais eficientemente, apresentando melhor conversão alimentar, menos gordura e maior percentagem de músculo na carcaça. Desta forma, fêmeas exigem maior concentração de aminoácidos na ração, para a máxima taxa de deposição de carne magra (BELLAVER E VIOLA, 1997). Logo, a restrição alimentar para machos castrados pode apresentar melhor resultado do que em fêmeas. Durante o período da alimentação controlada, as fêmeas devem ser alojadas separadas dos machos castrados, devido às diferenças de consumo, mantendo-se a uniformidade 37 dos lotes. O acesso ao comedouro deve ser simultâneo a todos os animais da baia, evitando-se competição entre eles. Para padronizar a quantidade de ração, pode-se graduar um recipiente que facilite a distribuição manual da ração ou dispor de um sistema especializado em liberá-la por tempo, peso ou volume determinado (BELLAVER et al., 2000). Do ponto de vista econômico não há o que questionar que machos inteiros apresentam melhor desempenho e melhor carcaça. Na Tabela 2, mostram médias de vários trabalhos científicos que incluem diferentes genótipos, pesos de abate e regimes alimentares. Segundo FÁVERO (2000), a vantagem econômica apurada representa para o produtor um ganho extra por animal terminado equivalente a 6,89%. Tabela 2. Diferença em percentagem entre machos inteiro e castrados. Lange e Squires Fancitano Característica (1995) (1996) Consumo Ganho de peso diário Taxa de deposição de proteína Conversão alimentar Rendimento de carcaça Comprimento de carcaça Espessura de toucinho Área de olho de lombo Produção de carne magra Índice de bonificação Perdas para mortalidade FÁVERO (2000). -12 0 +25 -12 -1.5 +6,5 +4 +0,3 +3,9 -4,6 +1,6 -14,9 +4,6 - Adaptado de Xue et al. (1997) -0,7 -8,1 -1,2 +2,6 -18,2 +9,7 +12,1 - 2.3. Efeito de peso Observa-se que suínos que apresentam crescimento deprimido durante o período inicial de crescimento, devido principalmente à temperatura elevada, nutrição inadequada e/ou superlotação de instalações, podem apresentar crescimento elevado durante a fase final. Nestas situação, o crescimento tardio pode aumentar a quantidade de gordura corporal, visto que a relação deposição de gordura:carne magra está aumentada neste período em comparação com o início do crescimento, reduzindo, deste modo, a qualidade de carcaça ao abate e a rentabilidade da atividade. O programa de melhoramento genético e de nutrição tem sido utilizado pelas indústrias suinícolas, com o fim de atender as exigências tanto da indústria como dos consumidores de carne suína, buscando a máxima produção de carne pelos animais de linhagens especializadas, inclusive para animais pesados, 105 a 115 kg de peso, com características de palatabilidade e aceitação a nível mundial. De acordo com IRGANG e PROTAS (1986) e HACKENHAAR (1997), suínos de boa genética conseguem boa qualificação mesmo dos 110 a 115 kg de peso. Evidentemente, isso vai depender também da premiação pela 38 qualidade de carcaça que ele irá conseguir junto aos frigoríficos. Entretanto, o suinocultor deve tomar o cuidado para não engordar demasiadamente os suínos, a ponto de perder na tipificação o que ganhou no aumento de peso. O plano ou regime nutricional para produção de suínos mais pesados, de forma ótima, depende do potencial biológico do animal para produzir carne magra, que está baseado não somente em suas características genéticas e nos fatores ambientais, mas também, ao nível protéico das rações e a relação entre outros aminoácidos limitante (SHUTTE e VAN WEERDEN, 1985). No entanto, é importante enfatizar que as rações devam conter teores de aminoácidos essenciais em quantidades adequadas como forma de maximizar a utilização da energia digestível, reduzindo consequentemente a deposição de gordura. Todavia, suínos com alta taxa de ganho protéico, exigem um maior consumo de aminoácidos para que possam expressar todo o seu potencial de ganho. Nesse sentido, o uso da proteína ideal impede o excesso ou desbalanceamento de aminoácidos, melhorando, desta forma, a eficiência de utilização, e diminuindo a necessidade metabólica de conversão desses nutrientes em gordura, que são depositadas na carcaça. Desta forma, ocorre uma melhoria nas características metabólicas dos suínos, e em conseqüência, da composição das carcaças (BELLAVER e VIOLA, 1997). Relacionando as exigências de lisina com o consumo de energia e outros aminoácidos, vários trabalhos constataram uma maior exigência de lisina nas linhagens novas e algumas alteração nas relações entre lisina, treonina e triptofano. Observando também uma diminuição da espessura de toucinho e maior velocidade de ganho de tecido muscular com o uso de aminoácidos sintéticos, que por sua vez, permite diminuir o excesso de proteínas nas rações (HAHN e BACKER, 1995; GOERL et AL., 1995; UNRUH et al., 1996; FRIESEN et al., 1995; VANLUNEN e COLE, 1996). Do ponto de vista nutricional, suínos de elevado potencial genético para produção de carne magra, requerem, diariamente, níveis mais elevados de lisina, em relação aos de baixo e médio potencial, para maximizar seu desempenho e taxa de deposição de proteína na carcaça, principalmente, nas fases de crescimento e terminação (STAHLY et al., 1994; FRIESEN et al., 1995; FONTES, 1999). Nesse sentido, OLIVEIRA (2001) trabalhando com machos castrados dos 95 aos 110 kg, com alto potencial genético para deposição de carne magra na carcaça, encontrou uma exigência de lisina total 0,76% (0,226 % de Mcal de ED), correspondente a um consumo médio diário de lisina total de 23,8 g, E, para a faixa de peso superior, ou seja, dos 110 aos 125 kg de peso, o requerimento de lisina total encontrado foi de 0,80% (0,238 % de Mcal de ED), correspondendo a um consumo médio diário de lisina total de 23,9g. Embora, as exigências dos animais, nas diferentes faixas de peso, tenha alterado de 0,76 para 0,80% de lisina total, constatou-se um consumo médio diário de lisina, similar para as duas fases, que foi explicado pela temperatura ambiente mais elevada na realização do segundo ensaio (110 a 125kg). 39 2.3. Temperatura ambiente Mudanças na composição de carcaça ao abate parecem ser mais prováveis como resultado da diferença na ingestão de nutrientes. Isto pode ser o resultado de fatores que influenciam a ingestão de alimento durante um longo período, como temperatura ambiente elevada durante o verão, do desmame até os 50 kg de peso corporal, seguido por um período de crescimento compensatório com temperatura ambiente diminuída no outono, ou, como sugeriu EDWARDS (1999), poderia estar relacionada a flutuações diárias na ingestão de nutriente ao longo de todo o crescimento. Os efeitos da temperatura e da dieta sobre a conversão alimentar foram relatados por SEERLEY et al. (1978), que observaram melhoria na conversão alimentar dos animais submetidos a dietas com maiores níveis de energia durante os períodos quentes. Sabe-se que o consumo voluntário de alimentos é influenciado pela concentração de energia na dieta e que os suínos alimentados com dieta com baixa energia consomem mais alimento. Entretanto, segundo McCONNEL et al. (1982), o consumo extra de alimento é insuficiente para alcançar consumos de energia digestível semelhantes àqueles dos suínos alimentados com dietas com maiores níveis de energia. A ingestão voluntária de alimento é sensível à mudanças estacionais, em particular na temperatura ambiente. Segundo VERSTEGEN E CLOSE (1994), a retenção de energia, proteína e gordura é afetada pelas condições ambientais, indicando que a composição da carcaça pode ser alterada. Temperaturas ambientais acima da temperatura crítica superior reduzirão significativamente o consumo voluntário de alimentos, com subseqüente menor ganho e normalmente reduzida eficiência alimentar (JENSEN, 1991). Acredita-se que a ingestão de nutriente per si pode estar tendo o efeito principal na composição de carcaça ao abate. Carcaças mais magras ao abate são observadas em suínos que apresentam alta taxa de crescimento no início do desenvolvimento, quando a relação gordura: carne magra é baixa. Suínos que apresentam crescimento elevado durante a fase de terminação tendem a apresentar carcaças mais gordas. O período de estresse por calor pode reduzir a ingestão alimentar e tem um impacto no metabolismo de energia e de proteína, e consequentemente na distribuição de gordura corporal. Primeiro, o estresse por calor aumentará a exigência de mantença, quando comparado à temperatura de conforto térmico, visto que mais energia é gasta pelo suínos para eliminar calor, principalmente pelo aumento na freqüência respiratória. Isto significa que menos energia está disponível para crescimento. A temperatura ambiente e o consumo de energia claramente influenciam a quantidade e a distribuição de gordura e proteína no corpo dos suínos em crescimento, o que pôde ser confirmado por DAUNCEY e INGRAM (1983), que observaram mais gordura é depositada em animais mantidos sob condições de ambiente quente ou sob altos consumos de energia. 40 Nutrição, clima e instalações influenciam a distribuição de gordura corporal de acordo com o balanço energético do suíno. Se os suínos são criados sob estresse de calor eles irão depositar a maior parte da gordura internamente e menor parte nos depósitos subcutâneos. A exposição de animais a temperaturas elevadas leva também à redução do peso de órgãos (DAUNCEY et al., 1993), o que pode ser um reflexo do efeito da temperatura sobre o consumo de alimentos. 2.5. Estresse imunológico Nutrientes que seriam destinados às funções produtivas (crescimento de tecido muscular) são desviados destas pela demanda de nutrientes pelo sistema imunológico como um resultado do desafio imunológico, frente a um patógeno, bem como à vacinação. Essas mudanças metabólicas aumentam a taxa de metabolismo basal, que aumenta a utilização de carboidratos e subseqüentemente o requerimento de energia. Glicose é desviada para tecidos periféricos e para tecidos responsáveis pela resposta imunológica. Consequentemente, as taxas de crescimento de tecidos e a síntese de proteína corporal, são diminuídos e então, mais proteína corporal pode ser degradada, contribuindo para a defesa do organismo. O desafio imunológico decresce a síntese de proteínas e aumenta as taxas de degradação de proteínas como um resultado da redução na entrada de alimentos, bem como há um aumento na necessidade de nitrogênio para sintetizar proteínas de fase aguda ou outros produtos imunológicos. CARGILL (1998), conduziu um trabalho comparando três situações distintas para avaliar o desafio imunológico: um sistema de todos dentrotodos fora (TD-TF), onde as instalações eram limpas entre cada lote de animal; um sistema de todos dentro - todos fora (TD-TF-SL), onde as instalações não eram limpas entre cada lote de animal e; um sistema de fluxo contínuo (FC) de animais através das instalações inclusive favorecendo o contato entre animais jovens com animais de maior idade. Os resultados são mostrados na Tabela 3. Tabela 3. O efeito do fluxo de animais e limpeza das instalações sobre a taxa de crescimento Período de TD-TF (g/dia) TD-TF SL (g/dia) FC (g/dia) Crescimento (%aumento / (%aumento/FC) (%diferença (semanas) TD-TF SL) do TD-TF) a b b Desmama/Venda 658 619 610 (19-21sem) (+6,3%) (+1,5%) (-7,9%) a b b Creche 595 515 498 (+15,5%) (+3,4%) (-19,5%) Recria 643 597 589 (+7,7%) (+1,4%) (-9,2%) Crescimento 736 712 692 (+3,4%) (+2,9%) (-6,4%) Terminação 671 621 612 (+8,1%) (+1,5%) (-9,6%) CARGILL (1998). 41 a,b Valores seguidos de diferentes letras são estatisticamente P<0,05. 2.6. Lotação da baia, mistura de animais entre baias e temperatura ambiente Existem vários fatores estressantes que quando atuam isolados causam queda no desempenho dos animais, quando são associados ocorre sinergismo entre eles e a queda se torna ainda maior, conforme dados da Tabela 4. Tabela 4. Efeito de diferentes fatores estressantes no desempenho dos animais de crescimento, com peso inicial de 34 kg, observados durante 4 semanas. Tratamento Desempenho Alta Super Mistura de GPD Consumo G/C Temperatura lotação animais a a a 876 2,18 0,40 ab bc a + 792 1,99 0,40 bc bc abc + 734 2,00 0,37 ab ab ab + 777 2,01 0,39 d d d + + 608 1,80 0,34 cd cd cd + + 676 1,83 0,37 cd bcd bc + + 657 1,88 0,35 d bcd c + + + 606 1,85 0,33 DPM 34,8 0,059 0,015 -: nenhum estresse +: fator estressante. Médias dentro da coluna com letras diferentes, diferem P<0,05. 3. Nutrição e alimentação 3.1. Nutrição O primeiro passo para melhorar o desempenho e a lucratividade no período de crescimento e engorda dos suínos é a adoção do programa de múltiplas dietas, que tem com finalidade de melhor atender os requerimentos nutricionais de cada fase da vida dos suínos. A escolha do número ideal de rações vai depender da capacidade de cada criador em produzir e distribuir as rações na propriedade, estando diretamente relacionado ao grau de automação da granja. Outro ponto chave, é a escolha dos padrões de exigências nutricionais utilizados na formulação das dietas, estas podem ser obtidos em tabela estrangeira (NRC, 1998), ou através das tabelas brasileiras (ROSTAGNO et al., 2000), além de outras recomendações contidas em manuais de alimentação e manejo de linhagens comerciais. Os requerimentos nutricionais, basicamente, tem sido calculados sob os dados de desempenho tais como o ganho de peso diário, consumo médio diário de ração, conversão alimentar, ganho de tecido magro/dia, eficiência de deposição de tecido magro/dia entre outros, em determinadas faixas de peso. Contudo, alguns autores sugerem que os requerimentos de aminoácidos para suínos nas fases de crescimento e terminação, podem ser melhor descritos com o uso de modelos de crescimento, para identificar as 42 fases na curva de crescimento de cada genótipo, para ajustar as necessidades nutricionais e otimizar a deposição de tecido magro. O aumento das concentrações de proteína na dieta e a alimentação diária com altos teores de proteína, aumentaria a porcentagem de carne e diminuiria a porcentagem de gordura na carcaça; porem esta resposta é curvilínea em termos de custo-benefício para a suplementação de altos níveis de proteína. Nos últimos anos, com uso do conceito da proteína ideal na formulação de rações, os requerimentos dos aminoácidos passaram a ser expressos com base no requerimento de lisina, ou seja, as exigências dos outros aminoácidos limitante, mesmo sendo determinada, são relacionadas a lisina. Portanto, a lisina tem sido escolhida como o aminoácido de referência por ser o primeiro aminoácido limitante na maioria das rações de suínos, cuja função principal no organismo é a deposição de proteína, além de que existem muitas informações sob a concentração e a digestibilidade da lisina nos alimentos. A lisina além de ser utilizada para determinar a relação com os outros aminoácidos, pode ser também usada como referência para obter a relação dos aminoácidos com a energia da ração. Então, a relação lisina energia digestível (LIS: ED) pode ser utilizada para formular rações que supram os requerimentos de energia e aminoácidos dos genótipos, ao mesmo tempo minimizando a poluição ambiental produzida pelo nitrogênio excretados nas fezes e urina. O objetivo na formulação de rações é fornecer uma relação energia: proteína que permita uma máxima deposição de tecido magro e mínimo de gordura. Portanto, “essa proteína é a ideal“, ou seja, aquela que tem um arranjo perfeito entre os aminoácidos essenciais e os não essenciais e que atendam o tunover celular sem faltas ou excessos dos aminoácidos requisitados para o instante metabólico. 3.2. Ingestão alimentar Maiores intervalos entre o fornecimento de dieta aumentam a taxa e o tempo de anabolismo pós alimentar e aumentarão a taxa e tempo de catabolismo antes da próxima refeição. Taxas e tempos prolongados de catabolismo podem reduzir a eficiência de retenção de energia e aumentar a gordura corporal. Ingestão alimentar menos freqüente também pode reduzir a retenção de energia por causa da ineficiente utilização de nutrientes. BATTERHAM (1984), mostrou que, quando os suínos foram alimentados uma vez ao dia a utilização da lisina sintética diminuiu à metade se comparado à seis fornecimentos dietéticos diários. A magnitude destas respostas é difícil de predizer mas, se estes fatores operam ao mesmo tempo e durante várias semanas a soma das respostas poderia ser significativa. Além disso, em situações onde o número de suínos por área de comedouro é relativamente grande, pode não haver oportunidade de todos os suínos ingerirem a dieta em seu potencial durante a parte mais fresca do dia. 43 As flutuações diárias na ingestão de nutrientes não têm sido investigadas como uma possível causa de variação na qualidade de carcaça. Existem várias razões que poderiam justificar a variação na ingestão alimentar de um suíno de um dia para o outro, especialmente quando estão sendo criados em grupos maiores. EDWARDS (1999) considerou várias situações utilizando um modelo de simulação de desempenho (AUSPIG simulation model) para considerar o impacto de flutuações na ingestão alimentar sobre a deposição de gordura e de proteína. Nesta situação, a ingestão em um dia foi restrita a 36% da ingestão normal (0,76 e 2,09 kg/d), seguida por um dia de fornecimento à vontade (3,42 kg/d), com este padrão de alimentação repetido diariamente. A deposição de gordura aumentou de 194 para 236 g/d enquanto que a deposição de proteína diminuiu de 155 para 90 g/d, o que aumenta a relação gordura: carne magra ao abate. Mesmo que as diferenças na ingestão diária de alimento não sejam tão drásticas quanto as usadas nesta simulação, o mecanismo pelo qual esta variação influencia a deposição de gordura e de proteína seja o mesmo. Se estes efeitos sobre o desempenho, metabolismo e composição de carcaça puderem ser demonstrados, poderemos entender melhor os programas de alimentação, os dimensionamento dos grupos de suínos e o controle ambiental e seus efeitos sobre o desempenho individual. Acredita-se que examinando a influência de estação (temperatura ambiente) e variação na ingestão de alimento na distribuição de gordura, pode-se começar a entender as razões para algumas das variações na qualidade de carcaça. 3.3. Alimentação controlada Nas fases de crescimento (25 – 50 kg) e início da terminação (50 a 70 kg), os suínos têm uma maior deposição de tecido magro e menor de gordura. Assim, é recomendável que esses animais recebam ração à vontade nessas fases, podendo ser úmida para estimular o consumo. Já na fase final da terminação (70 a 120 kg), a alimentação controlada visa melhorar a eficiência alimentar, reduzir a deposição de gordura na carcaça e redução da quantidade de efluentes/kg de suíno. Para que a alimentação controlada seja bem empregada é necessário o conhecimento do material genético existente em que se deseja aplicar a restrição alimentar. Na Tabela 5 são apresentados consumos, ganhos de peso e conversão alimentar de suínos de acordo com o sexo dos animais e calculados a partir do modelo do NRC (1998), os quais servem de indicação de um bom desempenho. O consumo médio diário de alimento pode ser calculado por amostragem, anotando o consumo de ração à vontade de um lote de 10 animais de peso conhecido no período de uma semana. Esse valor então será comparado com os consumos mostrados na tabela (BELLAVER et al., 2000). 44 1,2 3 Tabela 5. Alguns pontos de planos de alimentação à vontade e controlada para suínos dos 70 aos 120 Kg (Adaptado de BELLAVER et al., 2000). À 10% de 15% de À vontade para À vontade para Peso vontade restrição restrição 1 1 fêmeas (Kg/dia) castrados (Kg/dia) Vivo 2 3 3 kg/dia Kg/dia kg/dia (Kg) C GPD CA C GPD CA 70 2,43 1,00 2,42 2,80 1,12 2,50 2,83 2,55 2,41 80 2,53 1,00 2,53 2,95 1,13 2,60 3,01 2,71 2,56 90 2,62 0,99 2,65 3,05 1,12 2,72 3,17 2,85 2,69 100 2,72 0,98 2,79 3,13 1,10 2,84 3,30 2,97 2,81 110 2,83 0,96 2,95 3,18 1,07 2,96 3,41 3,07 2,90 120 2,95 0,96 3,09 3,22 1,04 3,09 3,51 3,16 2,98 1 Consumo (C), ganho de peso diário (GPD) e conversão alimentar (CA), calculados a partir do NRC (1998), com dietas a base de milho e farelo de soja, contendo 3300 kcal EM/kg, para uma o deposição de 325 g/dia de carne na carcaça dos 20 aos 120 kg, com temperatura de 22 C e na 2 lotação de 1 m /suíno. 2 Consumo à vontade para ambos os sexos calculado pela equação: - 0,0176.peso EM (Mcal/d) = 13,162 . (1 – e ) 3 Exemplos de 10 e 15% de restrição sobre o consumo calculado pela equação citada. É importante também considerar a qualidade da dieta que está sendo utilizada, principalmente em termos de energia, aminoácidos, cálcio e fósforo. As dietas são calculadas para atender as exigências para um dado consumo e se houver redução da quantidade fornecida, deve-se aumentar a concentração de nutrientes na dieta. Em geral, uma restrição de 10% do consumo à vontade pode ser considerada média, podendo ou não ser suficiente para que apareçam os efeitos na eficiência alimentar e nas características de carcaça. A severidade da restrição alimentar a ser imposta, basicamente é uma opção da genética animal existente, do sexo, do peso animal e da fórmula a ser empregada. Animais geneticamente melhorados para deposição de carne tendem a consumir menos ração, o que diminui a importância da restrição para esses animais. Os machos castrados normalmente consomem mais ração do que fêmeas e por isso, a restrição em machos castrados pode apresentar melhor resultado do que em fêmeas. 3.4. Restrição alimentar O principal objetivo da utilização de estratégias de alimentação na engorda de suínos é otimizar a taxa de crescimento e a qualidade da carcaça. Quando se adota a restrição alimentar, em detrimento da alimentação à vontade ou controlada por tempo de arraçoamento, espera-se uma redução na taxa de crescimento e de deposição de gordura ao final do período de restrição, como também menor desenvolvimento dos órgãos envolvidos no metabolismo do alimento (POND e MERSMANN, 1990; STAMATARIST et al., 1991; GOIHL, 1995). 45 3.4.1. Efeito sobre o desempenho Pesquisas têm mostrado que os suínos podem sofrer restrição alimentar de até 28% ou três semanas de restrição severa _ em que há perda de 20% do peso _ apresentando, mesmo assim, ganho compensatório, com peso igual ao dos animais alimentados à vontade. Associado ao ganho compensatório, verifica-se aumento da deposição de gordura, podendo haver melhoria na conversão alimentar nestes animais (BELLAVER, 1992). Em suínos alimentados com dietas de alta fibra o peso das vísceras sofre um aumento, relativo ao peso das vísceras de suínos que recebem dietas com níveis normais de fibra. POND e MERSMANN (1990) propuseram um trabalho para avaliar a resposta de crescimento compensatório dos órgãos específicos e do peso corporal após um período de três semanas de restrição de alimento, contrastando com o efeito da restrição do consumo de energia obtido pelo fornecimento ad libitum de uma dieta com altos níveis de fibra (80% de alfafa) e com o desempenho de animais recebendo ração ad libitum. Não houve evidência de crescimento compensatório para as dietas com restrição de energia, exceto para peso de fígado e rins aos 21 dias, espessura de toucinho dos 21 aos 126 dias e dos componentes do trato gastrointestinal dos 21 aos 35 dias. Os autores concluíram que os órgãos específicos podem apresentar crescimento compensatório em diferentes períodos em suínos em crescimento, porém, sem que ocorra uma compensação significativa no peso corporal total do animal. 3.4.2. Efeito sobre a qualidade de carcaça O conteúdo de carne magra na carcaça de suínos pode ser aumentado por várias estratégias de restrição alimentar, incluindo restrição por um nível baixo contínuo de alimentação, restrição severa durante o período de crescimento e alimentação de mantença ou submantença do peso de mercado em suínos. A restrição contínua ou em intervalos com o fornecimento de 80 a 85% do consumo ad libitum geralmente reduz a taxa de ganho de peso e diminui a espessura de toucinho sem afetar a eficiência do ganho e com efeitos variáveis na percentagem de carne limpa. A restrição severa aumenta muito o número de dias necessários para que o animal alcance o peso de abate. Equações de predição indicam que a restrição de 50% do consumo ad libitum poderia aumentar o conteúdo de carne magra da carcaça, porém, seria necessário cerca de 80 a 100 dias a mais para que os animais atingissem o peso de abate de mercado. A restrição de suínos para manter o peso de mercado por cerca de 30 dias também melhora o conteúdo de carne magra na carcaça (PEKAS, 1993). ELLIS et al. (1996) comparou o desempenho e qualidade de carcaça de suínos que receberam ração à vontade e suínos que sofreram restrição (82% do consumo ad libitum). Os suínos do tratamento ad libitum tiveram 46 maior taxa de ganho de peso, maior espessura de toucinho, menor produção de carcaça e apresentaram carne mais macia e suculenta que os suínos que sofreram restrição. Para explicar a influência do genótipo e regime alimentar sobre o crescimento e características de carcaça, AFFENTRANGER et al. (1996) conduziu um experimento com suínos de três genótipos diferentes (Piétrain x Landrace, Large White x Landrace e Duros x Landrace) submetidos a três diferentes regimes alimentares (ad libitum - de 25 a 103 kg de P.V. ração ad libitum; médio - de 25 a 65 kg de P.V. ração ad libitum e de 65 a 103 kg de P.V. 2,5 kg de ração/dia e baixo - alimentação em escala de acordo com o P.V.). O conteúdo e qualidade de carne foi principalmente determinado pelo genótipo, enquanto o consumo, ganho diário, conteúdo de gordura intramuscular e características de qualidade da gordura foram influenciados pelo regime de alimentação. A produção de suínos com carne de primeira qualidade requer um conteúdo limitado de carne e um aumento no consumo diário. Um aumento no ganho de peso médio diário não parece ter efeito negativo sobre as características de carcaça. 3.5. Dietas líquidas A dieta líquida para suínos é uma alternativa que permite o uso de ingredientes úmidos ou líquidos, em dietas balanceadas nutricionalmente e ainda, reduz o custo da alimentação dos suínos. Há ampla evidência na literatura que a alimentação líquida melhora a utilização dos alimentos e promove condições mais apropriadas para o uso de probióticos e ou a ação das enzimas nas dietas. Entretanto, o processo de fermentação, que é um componente normal no sistema de alimentação líquida, passa a ser um desafio, onde deveremos aprender como controlar e modificar este processo, para obtermos os resultados desejados.(BROOKS et al., 1996) Nas últimas décadas, os subprodutos que se destinariam a dietas líquidas para os suínos foram na maioria afastados das formulações, tais como o melaço, o leite de soja, resíduos de cervejaria, soro de leite, etc. ou processados para “a forma seca” como no caso do soro de leite em pó, para participarem como ingredientes das formulações de dietas secas. O efeito da atividade da água sobre as partículas dos ingredientes solubilizados, em especial o efeito da hidratação, gera condições mais adequadas ao processo de digestão do suíno, principalmente quando há tempo suficiente para que o processo da hidratação ocorra de forma efetiva. Neste aspecto, cada ingrediente utilizado nas dietas tem uma cinética de hidratação característica, dependendo ainda do diâmetro médio das partículas. A utilização de dietas líquidas requerem dois fatores importantes: mecanização e automatização da alimentação, economizando mão de obra e aperfeiçoando o arraçoamento. partes de água e uma parte de matéria seca, e no máximo de três partes de água para uma parte de matéria seca, devido a limitação de ingestão de matéria seca pelos suínos. 47 A limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos da dieta líquida devem ser rigorosamente bem excecutadas, devido ao grande risco de fermentação e putrefação de restos alimentares que ficam nas instalações. Os trabalhos mostram na maioria das vezes vantagens para alimentação líquida e deixam a decisão do emprego da tecnologia, para depois de uma avaliação da relação custo benefício. Entre as vantagens do sistema é possível citar, segundo PENZ Jr. e LÜDKE (1996): 1) permite o fácil arraçoamento duas ou três vezes ao dia; 2) em regiões ou períodos quentes do ano possibilita fornecer o alimento nos horários mais frescos do dia; 3) colabora com a utilização de subprodutos da indústria de transformação de alimentos, evitando eventuais problemas ambientais; 4) pode favorecer a colheita de mais de uma safra por ano, devido a antecipação da colheita; 5) evitam a secagem de alguns ingredientes, reduzindo as perdas de colheita e de armazenamento; 6) armazenamento em silos especiais permitem o tratamento dos grãos úmidos com conservantes orgânicos, em especial aqueles que melhoram a digestibilidade dos nutrientes; 7) possibilita a inclusão de óleos vegetais ou gorduras insaturadas, a uma concentração de 1 a 2%. A miscibilidade do óleo é obtida através dos componentes sólidos em suspensão na mistura. As partículas sólidas apresentam menor velocidade de decantação e a mistura apresentará maior consistência durante o processo de distribuição nos comedouros; e 8) favorece o uso da alimentação restrita. Este procedimento tem sido recomendado para machos castrados, após 65 kg de peso vivo, e que têm a propensão para alto consumo de ração e deposição de gordura na carcaça quando elas passarem a ser remuneradas em função de suas qualidades. Entre as desvantagens do uso de dietas líquidas pode-se destacar: 1) difícil compatibilizar a técnica da alimentação líquida com as reais necessidades nutricionais dos suínos; 2) para cada tipo de dieta existe uma diluição ideal, que depende dos ingredientes utilizados e da participação de cada um deles na inclusão; 3) os subprodutos que não podem incorporar-se a mistura em tempo hábil, podem ocorrer decomposição, perdas de vitaminas e de outros nutrientes desejáveis; 4) velocidade de decantação que pode ser avaliada pela estrutura dos ingredientes. O milho moído e a quirera de arroz apresentam dificuldades de inclusão nas dietas líquidas, devido a rapidez com que se precipitam; a densidade dos minerais deve ser considerada, pois normalmente os minerais sofrem decantação rápida sem solubilização, devido principalmente a granulometria muito grossa, podendo causar desequilíbrio na composição da dieta; 5) problemas podem ser encontrados em sistemas de alimentação líquida para suínos em desenvolvimento, quando não é providenciada qualquer alternativa para fornecer água limpa com temperatura adequada. Altos níveis de potássio podem ocorrer em dietas líquidas com alta concentração de melaço; e 6) fatores que aumentam a demanda por água, além da disposição e da capacidade de ingestão dos suínos, podem afetar o desempenho por uma diminuição na ingestão de ração. 48 3.5. Comedouros e bebedouros O tipo de comedouros, desenhados para fornecer rações seca, úmida, à vontade ou restrita, são de grande importância na produção de suínos, pois, relaciona-se diretamente com o consumo e desperdício de alimentos, sendo que estes representam 2/3 do custo de produção. Recentemente, algumas empresas produtoras de equipamentos para suínos passaram a incluir o bebedouro junto ao comedouro. A razão para tal melhoria nos comedouros, está associada, na prática, ao melhor ganho de peso dos animais, visto que há um aumento do consumo de ração. Além disso, pode haver diminuição da poeira na baia e da quantidade de dejetos produzidos, por redução do desperdício de água dos bebedouros (Tabela 6). Entretanto, para machos castrados de genética melhorada e para animais de genética com menor potencial de deposição de carne é aconselhável o uso de ração seca, quando a tipificação de carcaças estiver sendo usada. Se não houver bonificação de carcaças, o uso de comedouros com bebedouro conjugado é aconselhável para obter-se taxas de ganho de peso maiores (BELLAVER et al., 1998). Tabela 6. Efeitos de bebedouros dentro e (ou) fora do comedouro em machos castrados e fêmeas (Adaptado de BELLAVER et al., 1998). Machos Bebedou- Bebedouro Variáveis ros na dentro do analisadas parede e comedouro no comedouro Peso inicial, kg 22,3 22,3 Peso final, kg 113,7 115,6 1 GPD , g 888 906 CMDR 2 , g 2.524 2.553 Conversão Alimentar 2,84 2,82 Efluentes/kg suíno produzido, L 3,53 2,77 3 ET , mm 18,18 18,37 4 PL , mm 58,19 60,80 Carne na carcaça, % 56,41 56,76 Bonificação no 12,43 12,73 abate, % Reais/animal (preços em 8/98) 107,13 110,01 Margem bruta 21,02 22,65 1 GPD = ganho de peso diário 2 CMDR = consumo médio diário de ração 3 ET = espessura de toucinho 4 PL = profundidade de lombo 49 Bebedouro só na parede Bebedouros na parede e no comedouro 22,1 110,0 853 2.264 2,66 22,5 109,9 848 2.209 2,60 Fêmeas Bebedouro dentro do comedouro 22,8 114,4 889 2.326 2,61 4,30 17,05 60,01 57,35 13,64 3,68 14,56 65,07 60,37 19,64 3,15 15,07 64,82 59,96 18,91 3,62 14,24 59,40 60,07 17,49 107,23 26,21 112,64 32,01 116,17 32,72 102,71 26,03 Bebedouro só na parede 22,6 101,3 764 2.036 2,66 4. Uso de repartidores de energia 4.1. SomatrotofinA (pST) e Agentes β -Adrenérgicos De uma forma geral, a utilização de somatotropina β-adrenérgicos, minimizam eficientemente a deposição de gordura, pela redução da lipogênese e aumento da lipólise. A utilização de pST por implante ou injeções diárias de 100 a 200 µg/Kg de peso vivo/dia, reduz o consumo voluntário dos animais e altera a eficiência de ganho dos suínos. Estimulando o maior crescimento de tecidos protéicos, pele e ossos e diminui a quantidade de tecido adiposo subcutâneo, não sendo este depositado nos tecidos. Entretanto, o seu uso têm limitações práticas as quais devem ser superadas antes que possam ser utilizadas em condições comerciais (RUTZ e XAVIER, 1998). Ao contrário do PST, os beta-agonistas sintéticos (Clembuterol, Cimaterol e Ractopamine) aparentemente aumentam a proporção de nutrientes depositados na carcaça em relação à deposição nos órgãos internos e trato gastrointestinal, o que resulta num maior rendimento de carcaça. Estes também estimulam a deposição de tecido muscular e a redução da deposição de tecido adiposo. Entretanto a utilização destes como promotores de crescimento, não está aprovado no Brasil, pois, podem apresentar resíduos na carne dos animais (RUTZ e XAVIER, 1998). Todas essas alterações metabólicas, sugerem ajustes nos níveis nutricionais das dietas dos suínos tratados com PST ou beta-agonistas, são necessários para produzir ótimo desempenho e qualidade de carcaça dos animais. As informações sobre as ações de agentes como a somatotropina e agonistas β-adrenérgicos têm possibilitado aos pesquisadores a expansão dos conhecimentos e a melhor compreensão da capacidade genética dos suínos em crescimento para deposição de proteína e eficiência de crescimento. Essas informações podem possibilitar aos técnicos desenvolver estratégias na qual os produtores podem utilizar para melhorar a composição de carcaça, eficiência alimentar e taxa de crescimento entre diferentes categorias animal (macho inteiro, castrado e fêmeas) e entre os diferentes genótipos (Tabela 7). Tabela 7 - Influência dos agentes Repartidores de Energia no desempenho de suínos de engorda. Parâmetro Somatotropinas Agonistas Beta Adrenérgicos Ganho de peso (%) + 15 +5 Conversão Alimentar (%) - 25 - 10 Espessura Toucinho (%) - 20 - 10 Consumo Ração (%) - 15 -5 ROPPA (2001). 50 5. Outros agentes modificadores de carcaça 5.1. Cromo orgânico; betaína e carnitina O uso de cromo, principalmente sob a forma de picolinato, na dosagem de 100 a 200, melhora a espessura de toucinho e o percentual de carne magra na carcaça. Porem maioria das pesquisas não têm demonstrado melhora no desempenho dos suínos. A betaína como modificador de carcaças, foi recentemente aprovado para uso na produção animal, os resultados de literatura mostram que a betaína pode ser benéfica ao desempenho de suínos em situações específicas como quando utilizada em dietas deficientes em aminoácidos (ex. metionina), porém os resultados são conflitantes quanto à sua importância em melhorar as características de carcaças de suínos. O uso de carnitina têm sido proposto como potencial modificador de carcaça dos suínos e trabalhos vêm sendo realizados ao longo dos últimos anos, para avaliar esse efeito. SMITH et al. (1994) comparando o efeito da suplementação de carnitina, betaína e picolinato de cromo sobre o desempenho e característica de carcaça de suínos em crescimento e terminação, não foi observado efeito dos tratamentos sobre o desempenho dos animais, entretanto a suplementação de carnitina e cromo resultou em melhora nas características de carcaça dos animais, ao contrário da suplementação de betaína. (Tabela 8). Tabela 8 – Efeito da suplementação de carnitina, betaína e cromo sobre o desempenho e característica de carcaça de suínos em recria-terminação Controle Carnitina Betaína Cromo CV (%) GPD (Kg) 0,92 0,94 0,96 0,94 6,7 CDR (kg) 2,83 2,77 2,83 2,83 5,4 G/C 0,33 0,34 0,34 0,33 5,2 2 b a b ab AML, cm 31,4 35,0 30,9 32,4 9,0 b a ab a ET, cm 3,18 2,89 3,07 2,90 10,2 b a b ab % Músculo 51,56 53,94 51,81 52,96 4,0 GPD (ganho de peso diário), CDR (consumo diário de ração), G/C (eficiência alimentar), AML (área do músculo longissimus), ET (espessura de toucinho). Avaliando os dados de literatura pode-se observar os que efeitos do uso dos modificadores de carcaças, sobre o desempenho e características de carcaça de suínos são contraditórios e podem estar relacionados ao genótipo, sexo e idade dos animais. Nesse sentido a indicação de seu uso deve ser avaliado com cautela, sempre considerando as características de cada granja isoladamente e o custo-benefício do uso desses produtos. 6. Conclusões 51 Os suínos com alto potencial genético para deposição de carne magra na carcaça exigem adequação do plano de nutrição. Para melhorar a carcaça de suínos, recomenda-se a adequação da nutrição à temperatura ambiente, criação de sexos separados em lotes uniformes, evitar a superlotação e o uso de restrição alimentar. Técnicas como o uso de ração líquida e repartidores de nutrientes, ainda carecem de informações. Todas as técnicas para melhora a qualidade de carcaça de suínos só são aplicáveis às regiões nas quais a indústria paga bonificação pela carcaça. 7. Referências Bibliográficas AFFENTRANGER, P., GERWIG, C., SEEWER, G.J.F. et al.. Growth and carcass characteristics as well as meat and fat quality of three types of pigs under different feeding regimens. Livestock Production Science, v.45, n.2-3, p.187-196, may., 1996. BELLAVER, C. ; VIOLA, E.S. Qualidade de carcaça, nutrição e manejo nutricional. In: VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINARIOS ESPECIALISTAS EM SUINOS,1997, Foz do Iguaçu – PR, Anais..., Foz do Iguaçu, ABRAVES, 1997. P. 152-158. BELLAVER, C., GARCEZ, D.C. Comedouros para suínos em crescimento e terminação. Comunicado técnico – EMBRAPA. p.1-7. Junho/2000. BELLAVER, C., GUIDONI, A., LIMA, G.J.M.M., GIOIA, D.L. Fornecimento de água dentro de comedouro e efeitos no desempenho, carcaça e efluentes da produção. Comunicado técnico – EMBRAPA. p.1-3. novembro/1998. 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