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Arquivo Do Prof. Bruno Szpoganicz

Evidências experimentais para o átomo por Marcos Aires de Brito - Tuesday, 15 March 2011, 16:10 Arquivo_do_Prof._Bruno_Szpoganicz.doc Caros alunos. Estamos disponibilizando um arquivo do Prof. Dr. Bruno Szpoganicz, nosso colega no Departamento de Química/CFM da UFSC, que trata de técnicas que evidenciam o átomo. Leiam até a página 10, pois o restante do material não irá interessar para a Química Geral.

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UFSC - QMC 5104 e QMC 5105 Prof. Bruno Szpoganicz Sala 27 (Química) ÁTOMOS E ELÉTRONS Evidência direta dos átomos: Os microscópios de varredura. O compartilhamento ou a transferência de elétrons permite os átomos formarem os diversos materiais que conhecemos e novas formas de matéria são sintetizadas para atender as necessidades da nossa sociedade. Atualmente, com os microscópios de varredura é possível obter uma imagem direta dos átomos na superfície de um material. O microscópio de varredura eletrônica (SEM, scanning electron microscope), o microscópio de varredura de força (SFM, scanning force microscope) e o microscópio de varredura de tunelamento (STM, scanning tunnelling microscope) baseiam-se em princípios diferentes, mas possuem um significado comum. A superfície do material é percorrida com uma ponta tão fina que termina em um átomo como mostra a Figura 1. Trabalhar de modo eficiente no mundo dos átomos, ou seja, na escala "nano", é necessário a mais fina e limpa ponta de prova. O ideal é que a ponta de prova ou "tip" termine num simples átomo. Figura 1 A maioria dos químicos está familiarizada com o microscópio de varredura eletrônica (SEM). Detalhes típicos são mostrados na Figura 2. Numa primeira vista parecem folhas numa superfície rugosa. Na verdade são detritos de zinco formados pela eletrodeposição, cada folha não sendo mais larga do que o cabelo humano. Figura 2 Entretanto, existem sérias desvantagens no SEM: nem todas as amostras sobrevivem a um feixe de elétrons, algumas precisam de uma película de ouro e não funcionam no ar ou em solução, e sua resolução é limitada a um grupamento de poucos átomos. Alguns desses problemas têm sido resolvidos na nova geração de microscópios eletrônicos de varredura, em particular o SFM e o STM. O SFM é o mais simples dos dois. A ponta de prova percorre sistematicamente a superfície e a profundidade ou altura de cada ponto é medida. A Figura 3 mostra uma topografia SFM gerada de uma superfície de grafite com Au(CN)2 absorvido. Esta imagem foi obtida no ar, que é uma enorme vantagem sobre as condições de vácuo da microscopia de varredura eletrônica. SFM (ou AFM, atomic force microscopy) pode ser usado em condutores ou em solução. Com alguma experiência um operador pode normalmente obter uma imagem em 30 minutos. Figura 3. No STM a ponta deve ficar somente alguns ângstrons (1 Å = 10-8 cm) da superfície por causa do fenômeno da mecânica quântica chamado "tunelamento". Os elétrons ao redor do núcleo atômico não estão confinados numa camada fixa, mas sim numa distribuição suave ao redor do núcleo, e isso significa que o limite de um átomo não é bem definido. A probabilidade de encontrar o elétron a uma dada distância r do núcleo é dada pela equação onde A é uma constante e ro é o raio de Bohr. P( r ) = A e-r/ro Essa equação mostra que o elétron fica mais tempo próximo do núcleo do que afastado. A probabilidade de distribuição diminui exponencialmente com a distância do núcleo. Sendo os limites dos átomos não bem definidos, existe uma região entre dois átomos distantes de alguns ângstrons que se entrelaçam. O movimento dos elétrons de um átomo para outro é proibido pela física clássica, porque o elétron não tem energia suficiente para se transferir entre átomos. Entretanto, comportam-se como descritos pela mecânica quântica. Ou seja, um elétron pode passar (tunelamento) de um átomo da ponta de prova para um átomo na superfície que está sendo investigado (ou vice-versa). A Figura 4 ilustra esse fenômeno. Figura 4 Aplicando uma diferença de potencial, um experimento STM leva ao aparecimento de uma corrente contínua entre a ponta de prova e a superfície porque tanto a ponta como o material em estudo são condutores ou semicondutores. A distribuição do elétron no átomo diminui exponencialmente com a distância. Assim, a medida da corrente de tunelamento é uma medida da separação interatômica. A ponta de prova movendo-se pela superfície a uma altura constante, a constante de tunelamento mudará porque o entrelaçamento entre o átomo da ponta e os átomos da superfície irá variar. Quando a ponta de prova estiver diretamente sobre a superfície de um átomo, a corrente de tunelamento será maior do que quando a ponta estiver entre dois átomos. Um problema em estudar a superfície desta maneira é que por causa da ponta estar somente alguns ângstrons da superfície, é fácil quebrar a ponta na superfície, a não ser que a superfície seja uniforme na escala atômica. Para contornar esse problema, o microscópio STM é usualmente operado sob corrente constante. A ponta de prova afasta-se da superfície se a corrente é mais alta do que a desejada ou aproxima-se se a corrente for menor. Desta maneira, o valor da corrente é mantido constante num valor desejado. A mudança da posição da ponta (do "tip") é diretamente proporcional a voltagem aplicada, de modo que as mudanças na voltagem produzida por um controlador é diretamente proporcional às mudanças na altura da superfície. Um computador é utilizado para controlar a posição da ponta, e a cada posição na superfície, o computador mede a altura baseada na voltagem aplicada para manter constante a corrente de tunelamento. Esse arranjo bidimensional de números representando as alturas nas diferentes posições na área investigada da superfície é freqüentemente mostrado através de uma imagem de tonalidade variada: os locais mais altos são representados com a cor branca e os locais mais baixos são pretos, resultando numa figura que é essencialmente o que seria uma fotografia da superfície. O detector para um STM é um arame, tão fino quanto possível. O ideal é a ponta de prova terminar em um átomo. Usualmente são preparados por processo eletroquímico, começando com o fio bem fino. Com tungstênio, W, o fio é segurado verticalmente e parcialmente imerso numa solução aquosa de base. Quando um potencial de 5V é aplicado no fio, a superfície do tungstênio é oxidada a um óxido denso e solúvel. O óxido de tungstênio solubiliza e a eletrólise é interrompida, exceto onde o fio entra na solução. Para Pt e ligas Pt-Ir, uma corrente alternada de desgaste é empregada. Em ambos os casos um desgaste localizado resulta em um pescoço no fio. O fio é desgastado e a parte inferior se solta. A ponta termina freqüentemente em um pequeno cluster de átomos ou num simples e tão desejado átomo. A posição da ponta de prova é controlada com um varredor piezelétrico. Materiais piezelétricos são materiais cerâmicos que se expandem ou se contraem quando uma voltagem é aplicada neles (contrariamente, uma deformação mecânica pode produzir uma voltagem). A maneira mais comum de utilizar materiais piezelétricos para essa finalidade é com um tubo de material piezelétrico, quatro eletrodos metálicos por fora do tubo e um único eletrodo no interior (Figura 5). Figura 5 Combinações apropriadas de voltagens aplicadas a estes eletrodos fazem o tubo estender-se ou contrair-se ao longo do seu comprimento e/ou inclinar-se em qualquer direção. A ponta de prova é montada no final, no eixo do tubo. Quando o tubo se expande ou se contrai, a separação superfície - ponta diminui ou aumenta, respectivamente. Quando o tubo é para inclinar-se, a inclinação é pequena comparada com o seu comprimento. Um varredor típico piezelétrico requer voltagens na ordem de 100V e a ponta pode cobrir uma área de um quadrado com 4(m (0,004mm) de lado. Como a corrente de tunelamento só pode ser detectada quando a amostra e a ponta estão menos que ao redor de 10 Å de separação e o posicionador pode se mover somente alguns micrômetros, outras peças são usadas para trazer a ponta a poucos micrômetros da amostras sem se colidirem. Um instrumento STM deve ser isolado de vibrações e a temperatura da sala onde está o instrumento deve ser mantida constante para evitar a colisão. O STM pode ser utilizado para uma série de problemas em ciências e nas engenharias. Muitos estudos têm-se concentrados nas propriedades de superfícies quimicamente puras ou que tenham sido modificadas de algum modo. Mesmo a uma pressão reduzida de 10-6 torr (10-4 Pa), cada átomo na superfície sofre uma colisão por segundo com uma molécula na fase gasosa e a superfície reagirá ou torna-se contaminada em um segundo. Pressões de 10- 10 torr (10-8 Pa) são necessárias para estudar superfícies por períodos de horas sem contaminação. STMs que funcionam em condições de alto vácuo requerem materiais especiais. O STM também pode ser utilizado para estudar superfícies de eletrodos submersas em eletrólitos líquidos. Neste caso, pode haver correntes de Faraday resultantes de reações em soluções eletroquímicas além das correntes de tunelamento. Para obter-se uma imagem de uma superfície de eletrodo é necessário isolar o tip (ponta de prova) exceto os átomos no final da ponta (Figura 6). Na prática, se o comprimento total da ponta exposta for menor que 1 (m, eletrólitos e voltagens aplicadas típicas produzem correntes de Faraday que podem ser negligenciadas quando comparadas com a corrente de tunelamento. Figura 6 O STM pode ser usado para posicionar átomos. Pesquisadores da IBM manipularam átomos de xenônio numa superfície metálica gravando a inicial "IBM". Isto foi obtido resfriando um cristal de níquel a 4 K sob alto vácuo e condensando alguns átomos de Xe na superfície. Os átomos de Xe estavam inicialmente distribuídos aleatoriamente e foram movidos. Para mover um átomo, a ponta de prova (o tip), foi colocada sobre um átomo e abaixada ficando mais próxima ao átomo do que normalmente num experimento de varredura. O tip foi então movido a uma velocidade de 4 A/s, carregando o átomo de xenônio. A interação entre o tip e o átomo de xenônio é devida às forças de van der Waals. Evidência Indireta dos Átomos: suas Capacidades Térmicas. É bastante curioso que sólidos elementares sendo tão diversos nas suas propriedades apresentem muitos deles um comportamento comum. Em temperaturas suficientemente altas (a temperatura ambiente é geralmente adequada) muitos dos elementos, particularmente os metálicos, têm aproximadamente a mesma capacidade térmica de ( 25J/mol.K. Capacidade térmica deve ser mais fortemente relacionada ao número de átomos de matéria do que a massa. Essa descoberta, denominada lei de Dulong and Petit, serviu como base de um importante método empírico para o cálculo de massas atômicas nos anos 1820. Além disso, a relação capacidade térmica molar pode ser estendida para muitos sólidos iônicos, porque o número total de partículas no sólido, tanto os átomos ou os íons, determina a capacidade térmica. A energia cinética média em um mol de um gás monoatômico é 3/2 RT, onde R é a constante dos gases e T é a temperatura absoluta em Kelvin. No equilíbrio térmico, há em média ½ RT de energia para cada grau de liberdade independente num sistema químico, porque os átomos de um gás podem mover-se livremente em três direções mutualmente perpendiculares (x, y e z); a energia média é 3/2 RT. Uma mudança de temperatura de um grau correspondente então a uma mudança molar em calor ou capacidade térmica molar do gás de 3/2 ou = 12,5 J/mol.K. Para moléculas de um gás poliatômico contribuições adicionais à capacidade térmica podem vir dos movimentos rotacionais e vibracionais. Considere agora um cristal de átomos metálicos. Para a maioria dos elementos metálicos, a temperatura ambiente fornece energia térmica suficiente para que todos os átomos vibrem. A energia total desses átomos vibrando é constituída por atribuições de ambas as energias cinética e potencial que são continuamente interconvertidas. Os seis graus de liberdade (três para as três dimensões do movimento associado com a energia cinética e três para as três dimensões associadas com a energia potencial) conduz a uma energia térmica média de 6 x ½ RT = 3RT, e então uma capacidade térmica molar de 3R, ( 25 J/mol.K. O valor da capacidade térmica de 25 J/mol.K é um limite em temperaturas elevadas que é alcançado somente se todos os modos normais de vibrações do sólido são excitados. Vários elementos mais leves como Be e C (diamante), as freqüências vibracionais são relativamente altas; assim, temperaturas bem acima da temperatura ambiente são necessárias para ativar esses modos e alcançar a capacidade térmica limite. A figura 7 ilustra a dependência com a temperatura da capacidade térmica molar para o alumínio, cobre, chumbo e diamante. Alumínio, cobre e chumbo são elementos metálicos que alcançam o limite na temperatura ambiente. À medida que a temperatura é reduzida, vibrações atômicas e suas contribuições à capacidade térmica não se verificam. Em temperaturas muito baixas, a capacidade térmica bem menor é devido ao movimento livre dos elétrons nos sólidos metálicos (Cap. 7) que passa a ser a contribuição dominante para a capacidade térmica. Figura 7 - Gráfico da capacidade térmica molar versus temperatura para o alumínio, cobre, chumbo e diamante. Sólidos monoatômicos possuem capacidade térmica de 3R, e os sólidos poliatômicos podemos predizer que possuem uma capacidade térmica no limite de 3R.x, onde x é o número de átomos na fórmula química do sólido. Assim, os sólidos NaCl, NaF, Kl, KCl, KF, MgO e CaO devem possuir uma capacidade térmica de 3R x 2= 6R ((50 J/mol.K) porque são dois átomos por fórmula unitária; SiO2 e CaF2 devem possuir 3R x 3 = 9R ((75 J/mol.K), e o BaSO4 deverá ter uma capacidade térmica de 3R x 6 = 18R (150 J/mol.K). Todos esses sólidos tem suas capacidade térmicas medidas na temperatura ambiente e seus valores são pelo menos 85% dos valores previstos (Tabela 1). Tabela 1 - Capacidade Térmica Molar de Alguns Sólidos a 298K "Sólido "Valor Experimental "Valor Teórico " "l "24 " " "Sb "25 " " "Be "16 " " "B "11 " " "Ga "26 "25 " "Mg "25 " " "Pb "26 " " "Te "26 " " "NaF "47 " " "NaC "55 " " "NaBr "52 "50 " "Nal "54 " " "MgO "44 " " "CaO "53 " " "CaF2 "66 " " "SiO2 "73 " " "Na2O "69 "75 " "SrBr2 "75 "75 " "KlO3 "106 "125 " "BaSO4 "128 "150 " "K2SO4 "131 "175 " Todos os valores são dados em Joules/mol.Kelvin. Os Elétrons nos Sólidos Assim como o microscópio de varredura de tunelamento e a capacidade térmica evidenciam a existência dos átomos, as propriedades magnéticas e elétricas dos sólidos evidenciam a existência dos elétrons. Os elétrons podem exibir um comportamento localizado como em um átomo, numa ligação ou em um íon, ou um comportamento deslocalizado, sendo compartilhado entre vários átomos como no benzeno ou através de um no grande de átomos como num cristal inteiro. As propriedades eletromagnéticas de um sólido refletem não somente a ligação que seus elétrons participam, mas também seus spins e cargas. Os elétrons possuem dois estados de spin, correspondendo ao número quântico magnético ms1 + ½ e –½. "( "( " "ms = +1/2 "ms = -1/2 " Um único elétron é denominado elétron não aparelhado e tanto as moléculas como os sólidos podem produzir efeitos magnéticos. Como os elétrons são partículas móveis, carregadas (-), eles podem facilmente serem deslocados por um campo elétrico ou uma deformação mecânica. Isto resulta em efeitos elétricos interessantes, o mais simples é a condutividade elétrica. Paramagnetismo Na maioria das moléculas e sólidos todos os elétrons são emparelhados, e a molécula ou sólido é denominada diamagnética. Vários tipos de comportamento magnético são possíveis, mas o efeito magnético mais forte resulta da existência de elétrons não emparelhados, o paramagnetismo. Por exemplo, analisando o comportamento do oxigênio líquido em um campo magnético, como resultado da presença de dois elétrons desemparelhados na molécula de O2, o líquido é atraído por um ímã forte. A tabela 2 mostra uma relação entre o estado de oxidação dos átomos de manganês nos sólidos, suas configurações eletrônicas e o número de elétrons desemparelhados e suas respostas a um campo magnético. Tabela 2 - Momentos Magnéticos Ferromagnetismo Efeitos cooperativos nos quais muitos elétrons desemparelhados se comunicam e interagem podem levar a um comportamento magnético mais complexo num sólido do que observado para moléculas nos estados gasosos e líquidos. Ferromagnetismo é um exemplo importante e explorado no uso de ímãs permanentes, gravações magnéticas e em transformadores. A diferença entre um simples paramagnetismo e ferromagnetismo é mostrada na Figura 8. (Elétrons desemparelhados ou spins estão representados por setas nesta figura). Num simples sólido paramagnético os spins estão orientados aleatoriamente em ausência de um campo magnético (Figura 8A) por causa do movimento térmico e não interagem. Em presença de um campo magnético ou sólido paramagnético tem seus spins alinhados ao longo do campo magnético ou em oposição, e a magnetização resultante é pequena (Figura 8B). Esta propriedade é devido à ausência de comunicação ou ordem magnética entre os spins e alguma desordem dos spins induzida termicamente. Além disso, voltam a se orientar desordenadamente quando o campo é removido. Num sólido ferromagnético, os elétrons desemparelhados comunicam- se fortemente um com o outro e se alinham (mesmo na ausência de um campo magnético) em regiões largas conhecidas como domínios magnéticos (Figura 8C). O tamanho dos domínios varia com o material, mas enormes quando comparados com o tamanho de um átomo. Na ausência de um campo magnético, os domínios individuais estão ordenados aleatoriamente de modo que a magnetização resultante de uma peça microscópica é pequena ou até mesmo zero. Em presença de um campo magnético (Figura 8D) todos os spins se alinham na direção do campo magnético, resultando numa grande magnetização. Num magneto permanente os domínios não se movem facilmente. Se a orientação dos spins é retida quando o campo aplicado é removido, produz-se um magneto permanente. Figura 8 Materiais ferromagnéticos são a base da tecnologia das fitas cassetes e videocassetes. A fita consiste em um polímero impregnado com cristais de ( - Fe2O3 ou CrO2 ou um composto similar. O gravador consiste de uma cabeça eletromagnética que cria um campo magnético variável a medida que recebe sinais do microfone. A fita é magnetizada à medida que passa pelo campo magnético da cabeça do gravador. A força e a direção da magnetização variam com a freqüência do som a ser gravado. Quando a fita é tocada, a magnetização da fita em movimento induz uma corrente variável cujo sinal é amplificado e enviado para os alto-falantes. Materiais ferromagnéticos formam também a base das gravações digitais como os discos rígidos e disquetes de computadores. Os computadores guardam e manipulam dados usando números binários, consistindo dos dígitos 0 e 1. A vantagem dos números binários é que seus bits podem ser representados por transistores (desl. Representa O; lig. Representa 1) ou armazenados usando uma variedade de meios que contém regiões que podem ter um ou dois estados. Discos de computadores usam regiões muito pequenas para armazenar bits binários. Se a reação é magnetizada, ela representa um 1; se não é magnetizada; representa um 0. Recentemente, materiais magnéticos baseado na estrutura YxGd3-xFe5O12 tem começado a substituir os materiais tradicionais ferromagnéticos. O comportamento de um corpo ferromagnético é dependente da temperatura por causa do papel da energia térmica e a estabilidade ganha pelo alinhamento dos elétrons no estado ferromagnético. Ferromagnetismo é um exemplo de uma transição de fase sólida (capítulo 9) com uma temperatura característica de transição. Acima dessa temperatura, conhecida como temperatura Curie (Tcurie), a energia térmica é suficiente para quebrar o alinhamento dos spins, e o material passa a exibir um simples paramagnetismo. Na ou abaixo da Tcurie, as forças de alinhamento vencem o desalinhamento térmico, os spins são trancados no alinhamento, e o material torna-se ferromagnético. A tabela 3 lista alguns ferromagnetos e suas temperaturas Curie. Tabela 3 - Alguns Ferromagnetos e suas Temperaturas Curie. "Material "Tcurie(K) " "Fe "1043 " "Co "1388 " "Ni "627 " "Gd "293 " "CrBr3 "37 " "EuO "77 " "EuS "16.5 " Ferrofluidos Faz poucos anos, pesquisadores tem começado a preparar ferrofluidos, que apresentam propriedades de um líquido e propriedades magnéticas de um sólido. Os ferrofluidos são partículas muito pequenas (( 100 A de diâmetro) de um sólido magnético suspenso em um líquido. Ferrofluidos foram inicialmente preparados nos anos 1960 no Centro de Pesquisa da NASA, onde cientistas estavam investigando maneiras de controlar líquidos no espaço. Os benefícios de um fluido magnético ficaram imediatamente evidentes. A localização de um fluido pode ser precisamente controlada através da aplicação de um campo magnético, e, variando a força do campo, os fluidos podem ser forçados a fluírem. Pesquisadores têm preparado ferrofluidos contendo pequenas partículas de metais ferromagnéticos, como cobalto, ferro e também compostos magnéticos como ferrito de zinco e manganês. ZnxMn1-xFe2O4. (0( x (1; esta é uma família de soluções sólidas, que são descritas no próximo capítulo). Entretanto, a maioria dos trabalhos é conduzida com ferrofluidos contendo pequenas partículas de magnetita, Fe3O4. Eles podem ser preparados combinando quantidades apropriadas de sais de Fe(II) e Fe(III) em solução básica, precipitando o óxido de valência mista Fe3O4. 2FeCl3 + FeCl2 + 8NH3 + 4H2O ( Fe3O4 + 8NH4Cl Entretanto as partículas de magnetita devem permanecer pequenas para que fiquem em suspensão no meio líquido. Para manté-las pequenas, as interações magnéticas e de Van der Waals devem ser vencidas. O movimento térmico das partículas de magnetita menores que 100A de diâmetro é suficiente para prevenir aglomeração devido à interação magnética. A atração de Van der Waals de duas partículas é mais forte quando as partículas aproximam-se uma da outra a pequenas distâncias. Portanto, um método para prevenir a aglomeração devido a forças de Van Der Waals é manter as partículas bem separadas. Esta separação pode ser conseguida pela adição de um surfactante no meio líquido; por exemplo, ácido oleico pode ser usado para ferrofluidos a base de óleos. O sulfactante é um hidrocarboneto de cadeia longa com uma extremidade polar que é atraída para a superfície da partícula de magnetita; assim uma camada de surfactante forma-se na superfície. As cadeias longas do surfactante atuam como repelentes evitando a aproximação de outra partícula de magnetita (Figura 10). A. 2FeCl3 + FeCl2 + 8NH3 + 4H2O ( Fe3O4 + 8NH4Cl B. Adicione ácido cis-oleico, CH3(CH2)7CH=CH(CH2)7COOH, no óleo. C. Remova a água: Figura 10 - A preparação de ferrofluidos: A) Sínteses do Fe3O4(S); B) Adição do sufactante e C) Remoção de água para formar pequenas partículas de Fe3O4 (bolas pretas) estabilizadas pela interação da extremidade polar das moléculas de ácido oléico com as partículas de magnetita, e pela interação das caudas não-polar das moléculas de ácido oléico com o óleo que serve de meio líquido. Um ferrofluido pode comportar-se como um anel de vedação líquido onde um tubo rotatório entra numa câmara de baixa ou alta pressão. O ferrofluido é mantido no local por ímãs permanentes e forma um selador bem apertado, eliminando quase toda a fricção produzida num selador mecânico tradicional. Estes tubos rotatórios selados são encontrados no ânodo rotatório de geradores de raios-X e em câmaras de vácuo utilizadas na indústria de semicondutores. Seladores de ferrofluidos são usados em leitoras de alta velocidade de discos de computadores para eliminar as partículas de poeira ou outras impurezas, prejudiciais que podem causar a colisão da leitora com discos. Aplicações biomédicas dos ferrofluidos estão sendo desenvolvidas. Pesquisadores estão tentando obter ferrofluidos que possam carregar medicações para locais específicos do corpo humano, através de campos magnéticos aplicados. Fluidos Eletroreológicos Como os ferrofluidos, fluidos eletroreológicos são constituídos de partículas em suspensão em um meio líquido, mas sua operação depende de interações elétricas e não magnéticas. São "materiais inteligentes" cuja viscosidade pode ser controlada por um campo elétrico aplicado. Fluídos ER consistem de uma suspensão coloidal de partículas polarizáveis em um solvente não polar. Estes materiais de alta tecnologia podem ser criados a partir de compostos baratos, como farinha suspendida em óleo vegetal; ou alumina ou sílica suspendida em óleo silicone. O mecanismo pelo qual os fluidos ER operam é mostrado na Figura 11. A presença de um campo elétrico forte entre dois eletrodos induz dipolos nas partículas em suspensão (uma extremidade da partícula fica positiva e a outra negativa) os fazendo alinharem-se um com o outro numa orientação que é paralela ao campo elétrico aplicado. Uma estrutura fibrosa é criada no meio causando um aumento da viscosidade que pode chegar a 105 vezes maior. Os dipolos desaparecem quando o campo elétrico é desligado, e a suspensão adquire a sua natureza líquida. Figura 11 A velocidade com que Fluidos ER respondem ao campo elétrico aplicado é suficientemente rápido que eles estão sendo considerados para uso como amortecedores e como engates para transmissão em automóveis. A Figura 12 ilustra um esquema de um amortecedor que fornece um controle ativo sobre as vibrações no automóvel. Figura 12 Um amortecedor transmite vibrações pelo movimento do pistão através de um líquido compressível. No amortecedor mostrado na figura, variando a voltagem V, varia o fluxo do fluído ER, amortecendo o choque. (B) Um engate de transmissão junta mecanicamente duas partes móveis. No engate mostrado, variando a voltagem V, varia a viscosidade do fluído ER, conectando um prato à outro ou deixando-o girar livremente. Cristais Piezoelétricos Mesmo sabendo que sólidos são eletricamente neutros, eles podem consistir de espécies carregadas eletricamente como ânions e cátions que formam sais (NaCl, por exemplo); ou numerosos momentos dipolares que resultam da presença de ligações polares formadas entre átomos de diferentes eletronegatividades que formam o sólido (quartzo ou SiO2, por exemplo). Freqüentemente o dipolo elétrico resultante é nulo porque o arranjo dos átomos ou íons leva ao cancelamento dos momentos dipolares individuais ou de cargas. Uma analogia molecular poderia ser a natureza não- polar do tetracloreto de sílica, SiCl4. Embora as ligações Si-Cl sejam polares, a geometria tetraédrica causa a anulação dos momentos, tornando o momento dipolar resultante igual a zero. Materiais como quartzo são piezelétricos porque têm a habilidade em desenvolver um momento dipolar resultante quando forem mecanicamente deformados numa direção particular relativo ao arranjo dos átomos no cristal; e ser mecanicamente deformáveis por um campo elétrico numa direção apropriada. Ambos estes efeitos são reversíveis. Um modelo bidimensional de um cristal piezelétrico é mostrado abaixo. a) Os centros das cargas positivas e negativas no cristal coincidem; b) Quando o cristal é comprimido, os íons movem-se como indicado, causando a separação dos centros das cargas positivas e negativas. Esta separação gera um momento dipolar resultante no cristal e um movimento de carga, que é uma corrente. Quando a pressão no cristal é cessada, a corrente movimenta-se na direção oposta. c) Se uma voltagem com a polaridade indicada é aplicada, os átomos movem-se como indicado, e o resultado é uma expansão do cristal. d) Se uma voltagem oposta for aplicada, os átomos movem-se como indicado, e o resultado é uma compressão do cristal. Como vimos, uma voltagem aplicada pode deformar mecanicamente um cristal. Quando uma voltagem é aplicada através das faces opostas, os cátions se movem para o eletrodo negativo e os ânions para o eletrodo positivo. Uma voltagem aplicada faz com que o campo elétrico comprima o cristal, e na direção oposta, expande o cristal. Quartzo é um material piezelétrico que é comumente utilizado em relógios e acendedores elétricos. Nos relógios, um campo elétrico oscilante aplicado a um cristal de quartzo faz o cristal oscilar numa freqüência de ressonância natural que depende do tamanho do cristal. A freqüência dessas vibrações é utilizada para o relógio marcar o tempo. Nos acendedores a criação e o desaparecimento do dipolo elétrico correspondem a uma variação grande no campo elétrico. Assim tanto uma rápida compressão do cristal piezelétrico ou um rápido cessar da pressão aplicada ao cristal, pode causar uma faísca e iniciar a combustão de um combustível gasoso. Referências: 1 – A. B. Ellis, M. J. Geselbracht, G. C. Lisensky, W.R. Rosinson, "Teaching General Chemistry: A Materials Science Companion", American Chemical Society, Washington, DC, 1995. 2 – I.M. Ritchie Fraci, S.M. Thurgate, A Miraculous Microscope, in Minerals Chemistry, Chemistry in Australia 1997, 64, 2-6. 3 – L.V. Interrante, L.A. Gaspar, A. B. Ellis, Editor, Materials Chemistry, Na Emerging Discipline, Advances in Chemistry Series 245, American Chemical Society, Washington, DC, 1995. Exercícios 1. A imagem obtida por STM de um cristal de nióbio é idêntica, em dimensões e arranjo, a obtida de átomos de um cristal de tântalo. Por que a densidade do tântalo é igual a 16,6g/cm3 enquanto que o nióbio é somente 8,57 g/cm3? (Dica: compare as massas atômicas do Nb e Ta). 2. O raio de um átomo de tungstênio é estimado em 137pm. Qual é o diâmetro em metros, centímetros, e Angstroms de uma ponta perfeita para um STM que termina em um simples átomo de tungstênio? (Lembrete: 1 pm = 10-12m, 1 A= 10-10m). 3. Estime a capacidade térmica molar dos seguintes compostos: a) MnO, MgS, RbI, ou qualquer outro sal 1:1.CaCl2, MnCl2, TiO2, K2S ou qualquer outro sal 1:2 ou 2:1. b) AlBr3, FeCl3, Li3P ou qualquer outro sal 1:3 ou 3:1. c) Mg3P2, Al2O3 ou qualquer outro sal 2:3 ou 3:2 4. Estime a capacidade térmica por grama (a quantidade de calor requerida para aumentar 1K a temperatura de 1g de substância, também chamada calor específico) de todas as substâncias na tabela 1. 5. 100g de alumínio é aquecida a 100 oC com água fervendo. A amostra é então colocada em 100,0g de água a 21,5oC. Qual será a temperatura da água e do metal, assumindo não haver perda de calor para o ambiente. 6. Uma peça de metal de 70,0g, a 80,0 oC, é colocada em 100,0g de água a 22,0oC. O metal e a água ficam com a mesma temperatura a 26,4oC. Estime, aproximadamente, o peso atômico do metal, assumindo não haver perda de calor para o meio ambiente. 7. Qual a distância que uma ponta STM percorre numa fileira de 400 átomos de níquel? O raio do átomo de níquel é 1,24 A. 8. Pressões gasosas de 10-10 torr são necessárias no estudo de superfícies metálicas por períodos de horas sem contaminações. Entretanto, gases com esta pressão baixa ainda contêm uma quantidade enorme de moléculas. Calcule o no de moléculas contidas em 1 ml de um gás na pressão de 1,0 x 10-10 torr a uma temperatura de 23oC. 9. Calcule a capacidade térmica molar de um gás monoatômico em Terra plana, um país em um universo hipotético com somente duas dimensões. 10. Se o calor específico do cobre é 0,38J/g.oC, estime o calor específico da prata. 11. Dados os seguintes valores para o calor específico de alguns elementos, calcule e compare as capacidades térmicas molares desses elementos. Au =0,13 J/gK, Fe =0,46 J/gK, Se=0,33 J/gK, Li =3,47 J/gK, U=0,13 J/gK. 12. Ferro elementar é ferromagnético, entretanto, pregos de ferro não atraem limalha de ferro. a) Explique. b) Se um prego é riscado com um ímã numa direção, o prego atrairá limalha de ferro. Por quê? 13. Embora o peso fórmula do óxido de cálcio e o peso atômico do ferro sejam aprox. iguais o calor especifico do óxido de cálcio em J/g.oC é o dobro do calor especifico do ferro. Por quê? 14. Compare os sólidos com relação às suas atrações com um campo magnético. 15. Proponha uma nova utilidade para um fluido eletroreológico.