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Aprenda a fazer uma leitura racional
Nos textos anteriores aqui em nosso site abordamos questões importantes
relacionadas à visão de mundo e de como devemos ser críticos na análise do
mundo que nos cerca. Um dos aspectos importantes na análise dos textos é
compreendermos o que é denotação. Neste artigo vamos aprender um pouco
sobre quais são as etapas essenciais à leitura de um texto. Saindo da busca
por informações sobre o contexto de produção do mesmo, passando pela
crítica, chegaremos à problematização. Esta é uma etapa a que um leitor
maduro consegue chegar e todos aqui poderão se acompanharem nossas dicas.
Denotação é o primeiro nível de leitura racional de um texto. Visa a
compreensão do sentido mais literal, direto e superficial do texto e
envolve as seguintes etapas:
1- Levantamento de aspectos diversos, como:
vocabulário: grifar e procurar no dicionário as palavras desconhecidas
ou cujo sentido não tenha ficado claro;
dados sobre o autor, situação histórica e finalidade para a qual foi
escrito o texto (para uma aula? uma conferência? artigo de jornal?
capítulo de um livro? carta? resposta a alguém?);
autores, teorias, obras, eventos, comentados no texto e que nos são
desconhecidos.
2- Procura da ideia central do texto, respondendo-se às perguntas:
do que trata o texto?
qual é o assunto discutido?
3- Análise do desenvolvimento do raciocínio do autor:
como o autor trata essa ideia central?
se é um ensaio sobre determinado assunto, de onde ele começa e quais
as ideias, argumentos e fatos que usa para sustentar seu raciocínio?
a que conclusão chega?
No momento em que conseguimos perceber como o autor montou seu texto, nós
entramos na posse de sua estrutura lógica, revelada pelo encadeamento das
ideias que devem desembocar na conclusão.
Embora a compreensão de um texto literário (ficcional), por exemplo um
conto ou um romance, seja diferente da compreensão de um ensaio — de um
texto teórico (não-ficcional) —, é possível observar essas mesmas etapas. O
texto literário também apresenta uma ideia central e um encadeamento lógico
detectado através das situações apresentadas que levam a um final (não
necessariamente a uma conclusão). As perguntas que nos orientam permanecem
as mesmas: como foi montada a história? quais os aspectos importantes que
foram mostrados? Respondendo a essas questões, encontramos o enredo, que
corresponde ao nível denotativo do texto ensaístico. O mesmo se aplica a um
filme ou a uma novela de televisão.
A interpretação do texto
É o segundo nível de leitura racional. Procura os significados não
explícitos, escondidos, ou seja, os significados conotativos ou figurados.
Perguntamos: o que o autor quer mostrar ou demonstrar com este texto? quais
os valores que aparecem? como as ideias apresentadas, o ponto de vista
assumido, se ligam à época de produção do texto? qual a relação do texto
com o atual contexto histórico e social?
Enfim, é nesse nível que vamos analisar mais a fundo os diversos elementos
que compõem o texto, examinando as relações que eles mantêm entre si e como
cada um influencia o outro. É nesse nível, também, que cruzamos ideias e
valores presentes no texto com a situação histórica e social da época em
que foi escrito e, às vezes, até com a biografia do autor. Ao fazer isso,
podemos, inclusive, avaliar o significado das ideias apresentadas no texto
na época de sua criação. Avaliamos o grau de novidade que ele apresentou
então.
A crítica
O terceiro nível de leitura racional é o momento da crítica. Não a crítica
gratuita, baseada no gosto e na opinião individual, subjetiva, mas aquela
que surge do nosso entendimento da proposta do próprio texto. Podemos
verificar se o autor atinge ou não os objetivos a que se propõe; se é
claro, coerente; se sua abordagem é original e se traz alguma contribuição
para o assunto tratado.
Trata-se da crítica objetiva, que não depende do nosso gosto? Depende do
gosto?) e que está fundamentada em aspectos do próprio texto. Não é
necessariamente uma crítica negativa, pois permite apontar, também, os
pontos positivos do texto.
Ao chegar a esse ponto da leitura, teremos completado a análise do texto.
Saberemos dizer do que ele trata, quais os pontos enfocados, com que ponto
de vista o assunto foi tratado, se o autor foi coerente ao expor suas
ideias e qual a sua contribuição dentro da área. A partir desse momento,
podemos dizer se o texto é bom, ruim ou médio, independente de termos
gostado dele ou não. É importante frisar que as críticas feitas por pessoas
diferentes podem ser divergentes. Esse fato é positivo, pois a diversidade
aguça a nossa curiosidade e nos permite perceber aspectos do texto que não
tinham sido notados.
A problematização
É o quarto e último nível de leitura racional. Nesse nível nos distanciamos
do texto e pensamos em assuntos ou problemas que, embora levantados a
partir de sua leitura cuidadosa, vão além dele. É quando nos perguntamos:
naquela época, ou sociedade, era assim; e hoje, como é? tal coisa é válida
para x; e para y, como é?
Ao problematizar, estamos indagando sobre outras possibilidades e
exercitamos a imaginação, a coerência, o raciocínio. Abrimos nossos olhos
para novos significados, para novas leituras do mundo.
Concluindo, a necessidade de aprender a ler é muito mais ampla e profunda
do que normalmente se coloca, pois envolve a prática de dar significados ao
mundo que nos cerca e à nossa própria vida. É tarefa que pode ser
conseguida através dos sentimentos e também da razão.
A leitura racional, como vimos, apresenta uma série de etapas que
correspondem ao aprofundamento gradual dos significados presentes no texto,
aprofundamento este que pode nos levar, para além do próprio texto, até os
valores implícitos, escondidos, que presidiram a sua criação. Este é o
caminho crítico que nos permite chegar à problematização da nossa realidade
e que nos leva, portanto, ao filosofar.
É isso. Peço desculpas porque o texto deveria sair sempre aos domingos, mas
estou envolvido em tantos outros projetos anteriores a esse que, prefiro
atrasar a não fazer. Espero que estejam gostando dos temas e da abordagem.
Abraços.